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Projeto combate vícios entre recuperandos da Apac Betim
Ação tem reduzido crimes, diz prefeito
José Vítor Camilo
Especial para O Tempo Betim
Com pouco mais de um ano de criação, a Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) Betim acaba de ganhar um aliado na ressocialização dos 132 recuperandos da unidade. Na última terça-feira (4), foi realizada a primeira palestra do projeto Supod Itinerante, da Superintendência de Políticas Públicas sobre Drogas (Supod) de Betim. O projeto pretende levar informações sobre o abuso de álcool e outras drogas aos condenados com o objetivo de evitar que, no futuro, o vício seja um “caminho” para a reincidência no crime.
O chefe de Divisão de Tratamento da Supod, Walter Barbosa, foi o responsável por ministrar a primeira das muitas palestras interativas que serão realizadas na unidade. Ele explica que o programa surgiu em 2017, levando palestras sobre álcool e outras drogas às escolas da cidade, às associações comunitárias, às igrejas, às empresas e ao sistema prisional.
“Conversando com a equipe, achamos que estava na hora de começar com esse trabalho também na Apac Betim. Lá, vamos trabalhar com os recuperandos no viés da perspectiva da ressocialização, vamos levar palestras pontuais, rodas de conversa, para falar sobre a prevenção à recaída, sobre a dependência familiar, sobre os prejuízos que são causados pelo uso abusivo e problemático de qualquer substância”, diz.
Barbosa conta que, durante o primeiro encontro, foi estipulado que os próprios internos iriam conversar com as equipes da Apac para determinar quais serão os temas das próximas palestras. A partir daí, a equipe da Supod, formada por psicólogos, assistentes sociais e advogados, vai preparar a próxima palestra.
Com histórico de quatro fugas do sistema prisional comum entre 2007 e 2019, Gilson Lopes dos Santos, de 37 anos, é um dos recuperandos que participaram da palestra. Tendo perdido o pai aos 11 anos, assassinado, e a mãe, aos 12, para uma cirrose causada pelo alcoolismo, ele conta que o álcool entrou em sua vida muito cedo, apesar de nunca ter bebido. “As palestras nos ajudam a tomar novas atitudes, a mudar nossa mentalidade”, afirma.
A palestra também agradou a Thiago Santana, de 33 anos, que cumpre pena há oito meses na Apac Betim. Vindo de uma família estruturada, ele conta que entrou para o crime aos 22 anos. Agora, 11 anos depois, está em busca de sua recuperação total para poder voltar a ajudar a família. “É algo que vai nos preparando para o futuro”, diz.
O prefeito de Betim, Vittorio Medioli (sem partido), destacou que ver os resultados da Apac Betim “enche o coração”. “Eu fico muito satisfeito. Com esse ‘motorzinho’ de recuperar essas pessoas, estamos tendo uma redução nos crimes. A Apac me enche o coração, ao ver o que está acontecendo, pois já vislumbro os resultados em médio e longo prazo para nossa cidade”, salienta Medioli.
“A primeira (palestra) foi sobre o álcool e, agora, vamos ouvir deles o que é mais importante de ser apresentado primeiro. A palestra é voltada para reinseri-los na sociedade, para que possam seguir suas vidas.”
Walter Barbosa, chefe de Divisão da Supod
Apesar
Inaugurada oficialmente em março de 2022, a Apac Betim recebeu o seu primeiro recuperando em dezembro de 2021. Mesmo tendo acabado de completar o seu primeiro ano de existência, ela já inspira outras Apacs do Brasil, segundo a presidente da diretoria executiva da Apac Betim, Renata Rachid.
“Fomos escolhidos pela Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (Febac), que coordena e fiscaliza todas as Apacs do país, para recebermos o projeto-piloto da Escolinha do Método. Todos que passam por aqui estudam a metodologia, mas, agora, ela vem com uma nova dinâmica. Tivemos a formatura da primeira turma no dia 14 de março, e, como tem dado muito certo, agora a escolinha-piloto já está se expandindo para outras Apacs”.
O curso, que tem quatro meses de duração, analisa o manual administrativo e de segurança da unidade, contemplando tudo que pode ou não ser feito dentro da Apac. Lá, os recuperandos são os responsáveis pela
A presidente da diretoria executiva da Apac Betim, Renata Rachid, conta que a unidade foi constituída em 2008, mas, até 2017, as promessas dos governantes da cidade nunca se cumpriam.
“Somente quando apresentamos o projeto ao prefeito Vittorio Medioli a coisa andou. Ele abraçou o projeto e doou o espaço. A construção começou em 2019, e, em 2021, já recebíamos o primeiro recuperando. Temos 132 pessoas a caminho da ressocialização”, pontua. (JVC) maior parte dos trabalhos, desde a cozinha até a segurança.
A juíza Simone Torres Pedroso, da Vara da Infância e da Juventude e de Execuções Penais da Comarca de Betim, reforça a importância do reconhecimento à Escolinha do Método, desenvolvida logo no primeiro ano da Apac. “Criaram apostilas que orientam aqueles que chegam à unidade. A maioria vem do sistema prisional comum, está acostumada com superlotação, não tem oportunidade de trabalhar. E, de repente, chegam à Apac, onde eles mesmos se vigiam e gerenciam, cada um tem sua função”, diz.
A juíza destaca a importância da Apac no que chamou de “promoção do acesso aos direitos sociais básicos” dos condenados. “Eles precisam ter acesso a esses direitos para podermos capacitá-los, dando alternativas para que, quando terminarem as penas, possam voltar para a sociedade totalmente recuperados. Isso é primordial para reduzirmos a incidência criminal”. (JVC)