Belo Horizonte Domingo, 30.3.2014 www.otempo.com.br
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DIA 11 DE ABRIL Um Congresso Nacional já reduzido com as primeiras cassações do regime militar elege o marechal Castelo Branco presidente da República.
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DIA 4 DE ABRIL Goulart deixa o Brasil e pede asilo no Uruguai.
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O GOLPE DIA 31 DE MARÇO Manhã General Olímpio Mourão Filho, um dos mais exaltados militares e comandante da 4ª Região Militar, em (1) Juiz de Fora, na Zona da Mata, dispara telefonemas para outros militares anunciando que suas tropas estão nas ruas. Um clima de tensão tomava conta do país, e o golpe se anunciava. Noite Mourão Filho ordena que suas tropas sigam para o Estado da Guanabara, atual cidade do (2) Rio de Janeiro, onde estava João Goulart, com o objetivo de depor o presidente. As equipes do general são reforçadas por regimentos que saíram de Belo Horizonte e de São João del Rei. Goulart envia tropas do Rio para deter a revolta comandada por Mourão e tenta articular apoio militar entre os comandantes do Exército, mas a iniciativa não é bem-sucedida.
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DIA 2 DE ABRIL Desrespeitando a Constituição do país na época, já que Goulart se encontrava em território nacional, o presidente do Congresso, senador Auro de Moura Andrade, declara vaga a Presidência e empossa interinamente no cargo o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli. Em Porto Alegre, apesar dos apelos de Brizola, Goulart percebe que não há mais condições para uma reação ao golpe.
URUGUAI João Goulart
O presidente do Congresso, senador Auro de Moura Andrade
DIA 1 DE ABRIL des ida ente o c s ai cialm Sã s m cip rin , espe te e e as rua p s Na leiras rizon para o dos , o a o si çã bra Belo H pas vã a rea querd s e. m o e r u m t à e lo, c ndo os nte Pau spera ligad o aco s ã e ore en set o qu
MÚSICA Em 9 de fevereiro, morre no Rio de Janeiro o músico, locutor esportivo e compositor ARY BARROSO em pleno Carnaval. Mineiro de Ubá, Ary Barroso foi o compositor de grandes sucessos da música brasileira, entre eles “Aquarela do Brasil”.
Após as tropas do Rio de Janeiro aderirem aos militares golpistas, Goulart decide ir para Brasília. Sem condições de organizar uma resistência efetiva, vai para (3) Porto Alegre, onde seu cunhado, o ex-governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola, tentava articular uma reação ao golpe.
POLÍTICA INTERNACIONAL Organiza-se na Colômbia a guerrilha do Exército de Libertação Nacional, que dá origem às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Inicialmente, as Farc eram compostas por famílias camponesas, que passaram a receber crescentemente a influência do Partido Comunista Colombiano.
Leonel Brizola
Belo Horizonte, 30 de março de 2014 •
DOUGLAS MAGNO
Aníbal Teixeira, 81
“Nós voltamos para escolas e faculdades já sabendo que teríamos de resistir à ditadura de forma clandestina.”
LEO FONTES
Gilse Consenza, 70
“Era um silêncio total, ninguém falava nada. A rua ficava deserta.” Waldir Resende, 82
¬ ANA PAULA MOREIRA ¬ No dia 31 de março de 1964, uma terça-
feira, duas sensações claras e distintas podiam ser percebidas no país. Nos quartéis, universidades, sindicatos e veículos de comunicação, a tensão era predominante. Longe da militância política e do ambiente militar, a tranquilidade de um dia como outro qualquer. O acirramento entre o governo de João Goulart e as Forças Armadas era público, e a possibilidade de um golpe era considerada pelos que tinham algum engajamento político ou que já estavam aquartelados, esperando apenas uma ordem superior. “Naquela ocasião, nós estávamos esperando que um golpe político acontecesse no país a qualquer momento. Não havia uma previsão. Sabia-se que alguns militares já estavam se preparando para uma ação de deposição do presidente João Goulart. Não era uma surpresa. A surpresa era apenas o momento em que isso aconteceria”, relembrou Guy de Almeida, 81, jornalista do “Diário de Minas”, do “Jornal do Brasil” e do “Binômio” na época. Ao contrário de Almeida, grande parte da população não sabia o que estava acontecendo e teve no rádio a única fonte de informação sobre o golpe. Enquanto as tropas militares saíam de Minas com destino ao Rio de Janeiro e a Brasília, a dona de casa Maria J. Salles, 88, seguia com sua rotina de uma terça-feira qualquer. “Eu tinha 38 anos, era casada, tinha cinco filhos e morava em São Domingos do Prata (MG). Era dona de casa, ficava arrumando a casa e ouvindo o rádio. Eu me lembro do choque que sentimos com a notícia. Logo que houve o golpe, não tínhamos muitas informações.” Quando a notícia do golpe militar se espalhou em Belo Horizonte, grupos de estudantes, líderes sindicais e religiosos até tentaram resistir, mas foram surpreendidos com a agilidade das tropas, que atuaram durante a madrugada. A reação natural da militância de esquerda foi caminhar para a praça Sete. Mas os militares já ocupavam as ruas enquanto outros seguiam para Juiz de Fora. “Pensamos: ‘Vamos sair da faculdade, vamos para a praça Sete, porque lá deve ter alguém que nos oriente, nos dê armas para nós resistirmos’. E nós fomos em passeata para a praça Sete, encontrando no caminho passeatas e vários grupos de estudantes. Mas, quando chegamos lá, não tinha ninguém para nos dar armas, nem nos orientar para a resistência. O que tinha eram muitos militares, de arma em punho, que nos empurraram com as armas, dizendo: ‘Circular, circular’. Nos tiraram de lá de forma armada”, recorda a ativista dos
MÚSICA Em 11 de dezembro, morre, nos Estados Unidos, SAM COOKE, artista, cantor e empresário norteamericano. Cooke é considerado hoje o pai da soul music, estilo que influenciou inclusive artistas brasileiros, como Tim Maia e Ed Mota.
direitos humanos Gilse Cosenza, 70, que entrou para a resistência no dia seguinte. “Começou o movimento de madrugada, mas, de manhã, nós todos estávamos cientes de que o golpe já havia começado. As prisões tinham começado em Belo Horizonte. Estava criado o clima. As tropas já estavam em movimento, ocupando os espaços que ficariam claramente dominados no dia seguinte”, conta Guy de Almeida. Em Minas Gerais, o então governador Magalhães Pinto apoiou a deposição de João Goulart e permitiu que os militares ocupassem o poder no Estado antes mesmo de irem para as ruas. “Passava caminhão cheio de soldados armados, descendo as ruas do centro de Belo Horizonte na contramão. ‘Quem manda agora somos nós’, eles gritavam nas ruas. A gente ficava com medo”, declarou o aposentado Waldir de Souza Resende, 82, que trabalhava como cobrador de uma loja de tecidos na rua Caetés, esquina com a rua São Paulo, em março de 1964. Deputado estadual pelo Partido Republicano Trabalhista (PRT) em 1964, Aníbal Teixeira apoiou o golpe militar e participou de perto das negociações entre os militares. “No dia D, eu estava dentro do ID4, um comando militar, com o general Guedes. Ele que coordenou toda a operação. Houve um momento decisivo. Os apelos de Castelo Branco para Minas Gerais desistir multiplicavam-se. Eu mesmo presenciei dois telefonemas de Castelo. O apelo era um só: ‘Volte com a tropa, vai ser um massacre. Não estamos preparados’. Eles estavam com medo”, conta Teixeira, que foi cassado em 1968 ao se virar contra a linha-dura do regime e hoje é presidente do Instituto JK. Se Belo Horizonte foi o cerne do movimento militar, logo a divulgação do golpe se espalhou e atingiu todo o país. Em Uruguaiana, na divisa do Rio Grande do Sul com a Argentina, a notícia pegou todos de surpresa. “Eu era capitão e servia em Uruguaiana. Nós fomos surpreendidos com o que aconteceu em Belo Horizonte. Eu fui tomar conhecimento no dia 31, na parte da tarde, pelo rádio. Eu lembro que estava em casa. Já tinha acabado o expediente, e todo mundo voltou para o quartel para ficar de prontidão. Aí que tomamos conhecimento que a tropa de Minas tinha marchado para o Rio e para Brasília. E nós aderimos”, diz o coronel Carlos Claudio Miguez, 80. Os militares efetuaram prisões de “subversivos” durante a madrugada e a manhã. O presidente do “Binômio”, José Maria Rabelo, escapou por sorte, depois de ser alertado pelo seu porteiro. Quem escapou foi para a resistência: desapareceu, foi torturado ou saiu do país. (Com Juliana Baeta)
SAÚDE O bioquímico alemão Konrad Emil Bloch ganha o Prêmio Nobel de Medicina, junto com Feodor Lynen, por descobertas relativas aos mecanismos de regulação do colesterol no organismo humano.
Coronel Miguez, 80
DOUGLAS MAGNO
“No dia 31 mesmo, já estavam disponíveis as 60 carretas que nós conseguimos para o transporte dos militares.”
“Primeiro tomamos a prefeitura e os pontos principais, estação ferroviária. Todo mundo apoiou, e quem não apoiou foi preso.”
“Nós fazíamos a cobertura diária normal, mas já mostrando o clima de tensão que havia, que permitia prever que algo aconteceria.” Guy de Almeida, 81
AMANDA TORRES/DIVULGAÇÃO
REPRODUÇÃO YOUTUBE
s o i r á v s o : D Dia e p l o g o d s o l ângu
MARIELA GUIMARÃES
Comofoio31demarçoparaumpolítico, umjornalista,umadonadecasa,um militar,umamilitanteeumvendedor
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“Por ser uma cidade de interior, muita gente ficou feliz. As pessoas não sabiam direito o que estava acontecendo.” Maria J. Salles, 88
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s a u r s a n s e u q n a t e o s i Improv
¬ RAQUEL GONDIM ¬ “A revolução foi uma coisa im-
petuosa, ninguém esperava por ela. Em Belo Horizonte, um dos quartéis recebeu a ordem para marchar para o Rio, e o outro – que era o meu –, para marchar para Brasília. E assim vencemos, sem resistência”. Quem lembra é o tenente-coronel Pedro Cândido Ferreira Filho, hoje com 80 anos. A “ordem” surgiu em Juiz de Fora e partiu do general Olímpio Mourão Filho. Ele precipitou o golpe ao ordenar que as tropas da IV Região Militar sob seu comando na Zona da Mata seguissem, no dia 31 de março de
1964, para ocupar o Rio de Janeiro. A impetuosidade do golpe, lembrada pelo tenente-coronel mineiro 50 anos depois, está ligada à decisão tomada por Mourão Filho naquela noite que surpreendeu, inclusive, outros atores fundamentais nesse capítulo da história do país. Inicialmente, a intervenção militar ocorreria no dia 4 de abril. A data foi definida em reunião, em Juiz de Fora, com Mourão Filho, o também general Odílio Denys e o então governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto. Esses e outros nomes formaram no Estado o maior polo de oposição aos “ideais comunistas” do en-
tão presidente do Brasil, João Goulart. O acordo, porém, não foi cumprido, e, em 31 de março, Mourão Filho marchou rumo ao Rio disposto a derrubar Jango. “Era uma aventura. Foi uma coisa arriscada. Mas nós conseguimos derrubar o comunismo. A revolução mudou a história do Brasil e, possivelmente, do mundo para melhor. Foi algo fantástico”, recorda Ferreira Filho. Passadas cinco décadas da data histórica, ele fala em “sorte”. De fato, o cenário descrito pelo militar é de total amadorismo do Exército, que usou ônibus e soldados despreparados para mudar os rumos do país. “Naquela época, o Exército não tinha viatu-
ZONA SUL MEMORIAS/FACEBOOK/REPRODUCÃO
Altanainflação e crescimento pífiocomo justificativas O cenário de alta inflacionária e queda de crescimento do país serviu de pretexto para o golpe de 1964. No ano anterior à intervenção militar, a alta dos preços atingiu 80%, enquanto o crescimento do Brasil avançou míseros 0,6%. O professor da PUC-SP Luiz Antônio Dias destaca, porém, que, embora a situação econômica piorasse, o cenário da época não era tão grave como o mostrado pela imprensa. Em 1962 e 1964, por exemplo, o país avançou 6,6% e 3,4% respectivamente. “Hove redução das taxas de crescimento, mas é importante lembrar que o período anterior, do presidente Juscelino Kubitschek, foi de crescimento muito acelerado”, disse. De fato, entre 1956 e o início de 1961, quando JK deixou a Presidência, o país registrou, em média, alta de 8%. “Parte dos empresários e de camadas médias da população achava que a culpa da redução do crescimento era dos aumentos concedidos pelo Goulart, por sua proximidade com os sindicatos etc. Esse cenário acabou servindo como mais um pretexto para o golpe”, destaca o professor da PUC-SP. (RG)
ras, não tinha nada. Chegamos a Brasília em um ônibus da Viação Sandra, cheio de soldados que mal sabiam atirar. Se tivéssemos enfrentado uma tropa preparada, certamente seríamos destruídos”, lembra. “Era uma verdadeira aventura! Porque, para fazer uma guerra de ônibus, não havia a menor condição”. Enquanto o atual tenente-coronel comemorava o sucesso do golpe, do outro lado, a resistência sofria as primeiras consequências da chegada dos militares ao poder. Na época presidente do Sindicato dos Bancários em Minas, Antônio Faria Lopes, hoje com 77 anos, recorda bem a manhã do dia 1° de abril, quando percebeu que já era tarde para resistir.
Chegada. No dia seguinte ao golpe militar, as tropas e tanques que saíram de Minas Gerais chegaram ao Rio de Janeiro
“Quando a ordem de deslocamento chegou, estávamos de prontidão dentro do quartel. Chegamos a Brasília no dia 31 e fomos para uma unidade militar em construção. O presidente Jango se deslocou para o Sul, e a revolução foi vitoriosa. Todo mundo que estava no quartel queria derrubar o comunismo, e isso aconteceu com a nossa revolução. Foi uma aventura! Porque, para fazer uma guerra de ônibus, não havia condição. Hoje, vivemos momentos difíceis, mas nunca seremos um país comunista. Não gostaria de ver os militares de volta ao poder. Não somos bons políticos, somos ditadores por formação. A eleição é importante. O voto é fundamental.”
“Eu era presidente do Sindicato dos Bancários na época, e estávamos ligados a toda agitação que precedeu o golpe. Meu nome estava na lista dos militares. No dia 1º de abril, quando o professor Edgar de Godói da Mata Machado me disse que não era mais hora de conversar, eu fugi para a serra da Piedade. Mais tarde, a polícia chegou ao sindicato. Eles queriam apreender coisas, até a caixa d’água eles olharam. Diziam que tínhamos armas escondidas. Aquele dia foi terrível. As pessoas que não viveram a ditadura não podem imaginar e as palavras não conseguem explicar o sentimento de medo, de revolta. Quando voltei a Belo Horizonte, acabei sendo preso.”
Pedro Cândido Ferreira Filho
Antônio Faria Lopes
TENENTE-CORONEL DO EXÉRCITO
EX-PRESIDENTE DO SINDICATO DOS BANCÁRIOS
ESPORTE Em fevereiro, o boxeador norte-americano Muhammad Ali (nascido Cassius Clay) bate Sonny Liston em Miami Beach e torna-se campeão mundial dos pesos pesados. O pugilista é considerado um dos maiores nomes da história do esporte e foi eleito “O Desportista do Século” pela revista americana “Sports Illustrated” em 1999.
“Por volta das 11h, eu liguei para o professor Edgar de Godói da Mata Machado e disse: ‘Professor, quero conversar com você’. Ele me perguntou: ‘Faria, você acha que ainda é hora de conversar?’”. Àquela altura, segundo Lopes, a polícia estava prestes a invadir o sindicato, e ele, a se tornar um foragido. Sem escolha e sabendo que seu nome estava em evidência, ele fugiu para a serra da Piedade, onde se escondeu, ao lado de dois colegas, por cinco dias. “Achávamos que era algo passageiro, que a ala progressista dos militares ia agir e o golpe ia fracassar”. O retorno a Belo Horizonte, porém, lhe rendeu um período de prisão e humilhação que ainda hoje o emociona.
“Rejeiçãoa Jangonão eratão expressiva” A Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que em 19 de março de 1964 levou cerca de 100 mil pessoas às ruas de São Paulo para protestar contra João Goulart, foi um dos grandes estopins para o golpe militar. Pesquisas de opinião feitas na época, entretanto, mostram que a rejeição a Jango não era tão expressiva e fortalecem a tese de que a marcha serviu para dar legitimidade à intervenção. “As pessoas que saíram às ruas temiam as medidas do governo Jango, mas, pelas pesquisas do Ibope que analisei, a maioria dos entrevistados não tinha esse temor”, disse o professor da PUC-SP Luiz Antônio Dias. Um levantamento feito entre junho e julho de 1963 em 16 cidades mostra que o apoio a Jango era maior do que sua rejeição. Enquanto para 8,9% e 30%, respectivamente, a atuação de Jango era “ótima” e “boa”, somente para 7,9% e 9%, respectivamente, ela era “má” e “péssima”. Outra pesquisa feita em março de 1964, em oito capitais, mostra que a reforma agrária era apoiada pela população, ao contrário do que fez crer o golpe. Para 69% da sociedade, a reforma era “necessária”. (RG)
POLÍTICA INTERNACIONAL Nelson Mandela, líder do Congresso Nacional Africano, então ilegal, e outros sete correligionários são condenados à prisão perpétua na África do Sul. Mandela lutava contra a segregação racial no país.
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s o t a o c n i c m e o ã s s e r p e Ar
¬ GUILHERME REIS ¬ Para se sustentar e sufocar a
contestação política, o governo militar adotou uma série de medidas proibitivas que não se restringiam apenas ao cassetete policial. Os principais símbolos da ditadura foram os Atos Institucionais (AIs), que legalizaram a repressão e a cassação de liberdades individuais. Do conjunto de 17 AIs, o mais lembrado e criticado foi o de número cinco, que deu início ao período mais duro do Estado de exceção. Em busca da legitimidade, o regime militar deu início à dissolução do último refúgio daqueles que buscam os seus direitos: as leis. Os Atos Institucionais modificaram o ordenamento jurídico brasileiro com o intuito de garantir poder absoluto à ditadura e cassar os inimigos “da revolução”. E foi por meio do Ato Institucional cinco que o Brasil destroçou a Carta Magna de 1946 para dar forma a uma Constituição de chumbo. O AI-5, promulgado no dia 13
dezembro de 1968, foi o responsável por instituir a censura prévia aos meios de comunicação e às artes, a suspensão do direito de votar e ser votado nas eleições sindicais, a proibição de manifestação sobre assunto de natureza política, a aplicação da liberdade vigiada e da suspensão de habeas corpus nos casos de crimes políticos. Além disso, no dia da publicação do ato, o Congresso Nacional, as Assembleias estaduais e as Câmaras Municipais, foram fechadas com presença de soldados. No entanto, ele não foi um fato isolado. Desde o dia 9 de abril de 1964, quando o AI-1 foi promulgado, as leis brasileiras foram escalonadamente dando forma a um regime totalitário. Utilizando-se do termo “revolução”, o AI-1 trazia um ponto que expressava o seu peso: “Fica, assim, bem claro que a revolução não procura legitimar-se através do Congresso”. Além de garantir às Forças Armadas o poder de governar o país, a nova lei previa a suspensão dos direitos políticos e a cassação de mandatos legislativos.
ARQUIVO PÚBLICO DO DF
Intimidação. Durante a tomada de poder, em 1964, o Exército voltou suas forças contra o Congresso Nacional
Já a extinção dos registros dos partidos políticos veio em 27 de outubro de 1965, com o AI-2. Ele também garantiu ao Supremo Tribunal Militar a prerrogativa de julgar até governadores e vicegovernadores que participassem de crimes políticos. Mais brando, o terceiro ato, promulgado em fevereiro de 1966,
modificou as regras eleitorais e determinou que a eleição para governador e vice-governador deveriam ser realizadas indiretamente por meio dos votos das Assembleias estaduais. Em dezembro de 1966, o quatro ato foi a convocação do Congresso para aprovar a Constituição de 1967, que garantiu o arcabouço jurídico ao AI-5.
GRUPO TORTURA NUNCA MAIS - RJ / REPRODUCAO
O especialista em direito constitucional Eduardo Martins explica que os AIs representaram um “atentado constitucional”. “O AI-5 subiu o tom, mas os outros atos transformaram o Poder Militar em absoluto e inquestionável, exemplificando um Estado de exceção repressor e desconhecedor dos direitos do cidadão”, destacou. ACERVO / ALMG
Diferentemente do que aconteceu no Rio de Janeiro e em São Paulo, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, apesar dos rumores, não foi fechada em nenhum período do golpe. No entanto, a Casa passou a funcionar com restrições. O ex-deputado estadual Aníbal Teixeira, que foi cassado pelo AI-5, afirma que trabalhar na época era o mesmo que fazer figuração. “Éramos constantemente vigiados pelos militares. No dia do AI-5, nem fui trabalhar. Eu fiquei no meu apartamento com duas saídas para fugir caso a polícia aparecesse para me prender”, disse.
Anunciado na noite de 13 de dezembro de 1968, o AI-5 produziu efeitos instantâneos. Prontamente o Congresso foi fechado, e jornais que estavam sendo rodados pelas gráficas e faziam oposição ao governo foram recolhidos. Após o ato, o trabalho parlamentar se tornou ainda mais tortuoso. O ex-deputado federal Marcus Tito, que teve mandato suspenso em 1977, disse que as cassações eram anunciadas às 18h, no encerramento das sessões, para não dar margem a discursos. “Todos os dias esperávamos ser o último na Casa”. Ao todo, 333 políticos tiveram seus direitos políticos suspensos só em 1969, primeiro ano do AI-5, sendo 78 deputados federais, cinco senadores, 151 deputados estaduais, 22 prefeitos e 23 vereadores.
ESPORTE Em 24 de maio, em Lima, na partida de futebol entre Peru e Argentina, 319 TORCEDORES morrem e mais de 500 ficam feridos durante tumulto e pânico por conta de decisão impopular do árbitro. A tragédia repercute em jornais espalhados pelo mundo inteiro.
DOUGLAS MAGNO / O TEMPO
Assim como a Assembleia de Minas, a Câmara Municipal de Belo Horizonte não foi fechada durante os 21 anos de governo militar, mas, da mesma forma, trabalhou com limitações legislativas. Um dos vereadores daquela época, João Gualberto Teixeira, explicou que a Casa não foi tão vigiada e que os parlamentares não discursavam nem opinavam sobre temas federais. “Como a gente não entrava em assuntos nacionais, não tivemos grandes problemas”, relembra Teixeira.
GUERRA Os Estados Unidos iniciam bombardeio ao Vietnã do Norte. O destróier norte-americano USS Maddox, numa missão de espionagem, dispara e danifica diversos barcos torpedeiros que se aproximavam dele no golfo de Tonkin. Um segundo ataque de lanchas torpedeiras é noticiado dois dias depois na mesma área.
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6 •Belo Horizonte, 30 de março de 2014 EDITORIA DE ARTE / O TEMPO
A RESISTÊNCIA
Política Operária (Polop)
Na clandestinidade, militantes atuavam para driblar a repressão Ação Popular (AP)
1962
1961
Comando de Libertação Nacional (Colina)
1967
INTEGRANTES: Nilmário Miranda
O QUE ERA: Grupo originado em Minas Gerais após um “racha” no Polop
EM AÇÃO: Elaboração de um plano para instalação de uma guerrilha na região do Rio Doce.
INTEGRANTES: Apolo Heringer e Dilma Rousseff
O QUE ERA: Grupo de militantes ligados à esquerda católica e que se espalhou pelo país. INTEGRANTES: Betinho, José Serra, Cristovam Buarque Ação Libertadora e Plínio de Arruda Nacional (ANL) EM AÇÃO: Atentado no O QUE ERA: Grupo de guerrilha urbana aeroporto de Guararapes, fundado por Carlos Marighella em Recife, em 1966, que
1966
INTEGRANTES: Carlos Mariguella EM AÇÃO: Sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em 1969, trocado pela liberdade de 15 presos políticos.
EM AÇÃO: Participação na greve de 1968 em Contagem. Morte de um membro do Exército alemão, confundido com Gary Prado, que havia capturado Che Guevara na Bolívia. Vanguarda Armada Revolução Palmares (VAR-Palmares)
1969
INTEGRANTES: Dilma Rousseff, Carlos Lamarca e Beto EM AÇÃO: Roubo do cofre do ex-governador de São Paulo, Adhemar de Barros.
Militânciadaresistência,formada principalmenteporestudantes, seorganizouemváriascorrentes
o ã n r e v i v , o s i c e r p é r i t s i Res PROJ. REPÚBLICA/UFMG - 1968
Minientrevista
G
¬ LUCAS PAVANELLI ¬ “Foi em Belo Horizonte onde o
movimento estudantil se reorganizou”, recorda Waldo Silva, que foi presidente do Diretório Acadêmico (DA) da Faculdade de Filosofia da UFMG. A capital, no centro do mapa do golpe militar de 1964, teve destaque também na resistência ao regime, sobretudo por parte dos estudantes. Influenciados pela Revolução Cubana, pela revolução sexual e pelos Beatles, o pensamento do jovem dos anos 60 e 70 era, mais do que nunca, o de “mudar o mundo”. Mesmo antes do golpe, os DAs e outras organizações estudantis viviam anos de efervescência política. A consequência foi que um regime de ação repressiva e de liberdade restrita recebeu, como reação, a resistência. Waldo, que foi preso por quatro vezes, recorda momentos pontuais que serviram como catalisadores do sentimento da juventude. Em 1965, o movimento estudantil organizou uma passeata contra a intervenção norte-americana na República Dominicana. Um ano depois, alunos do curso de odontologia da UFMG saíram em passeata com um cartaz irônico: “Abaixo a dentadura”. Em 1968, os estudantes participaram, junto às li-
Anivaldo Padilha INTEGRANTE DA COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE
Como foi a resistência religiosa em Belo Horizonte? Temos que destacar o papel dos dominicanos, do frei Cláudio. A repressão sobre setores da Igreja foi muito forte. Minas foi centro importante de resistência. Invasão. Tropas da Polícia Militar de Minas ocuparam a Escola de Direito da UFMG, considerada foco da resistência
deranças operárias, da famosa greve de Contagem. Foram reprimidos e resistiram. O ano que não acabou, aliás, colaborou para a radicalização do movimento estudantil, principalmente com a promulgação do AI-5. Foi também em 1968 que morreu o líder da Revolução Cubana, Che Guevara, e que os Beatles lançaram “Revolution 1”, no antológico “Álbum Branco”. Quem integrava grupos políticos de resistência à ditadura optou pela luta armada. Em Belo Horizonte ganharam corpo movimen-
tos que se espalharam pelo país, como a Ação Popular (AP), a Política Operária (Polop) e o Comando de Libertação Nacional (Colina). Os DAs eram comandados por alguns desses grupos. “Na UFMG, por exemplo, a turma do direito era mais ligada à AP. Já a arquitetura, filosofia e engenharia, à Polop”, recorda Leovegildo Pereira Leal, que estudou na primeira. Outro foco de resistência na capital mineira foi um grupo de religiosos ligados à Teologia da Libertação, que abrigaram estu-
MÚSICA A música “É Proibido Fumar”, de ROBERTO CARLOS E ERASMO CARLOS, faz sucesso no Brasil. No samba, Jorge Ben subia nas paradas de sucesso com “O Bicho do Mato”. No interior do país e nas áreas rurais, a dupla caipira Tonico e Tinoco completa 20 anos de carreira, fazendo sucesso nos rincões do Brasil.
dantes e militantes de esquerda. “Aqui, no Carmo, nós abríamos espaço para acolher movimentos e pessoas que careciam de espaço para reuniões e, às vezes, até hospedagem para fugitivos. Razão por que éramos chamados pelos homens do poder de freis comunistas”, recorda frei Cláudio van Balen, cujo nome esteve em uma lista de 30 religiosos processados pelo regime. Foi absolvido em uma ação que durou quatro anos. “Gloriamo-nos de ter resistido criativa e corajosamente às violências da ditadura”, conclui.
De modo geral, houve também papel importante dos protestantes... Aqui e também no exterior. O Conselho Mundial de Igrejas, protestante, ajudou na divulgação de torturas e crimes cometidos pela ditadura. Protestantes e católicos estiveram juntos na elaboração do “Brasil: Nunca Mais”, que foi o primeiro esforço de resgate da verdade. Qual o saldo da repressão aos religiosos? Ainda estamos fazendo esse levantamento, mas chegam a mais de cem os padres que foram expulsos do país. Entre os protestantes, quatro foram mortos, três estão desaparecidos e, entre os católicos, foram vários.
EVOLUÇÃO Durante o mês de outubro, o Japão inaugura o primeiro trem-bala do mundo, que atingia a velocidade máxima de 220 km/h. O transporte se tornaria popular no país e nos continentes asiático e europeu.
Belo Horizonte, 30 de março de 2014 •
Sigilosignificavaadiferença entreavidaeamortedejovens militantesduranteaditadura
e d a d r e b i l : e m Codino dição. Em Minas, 58 foram mortos ou “desaparecidos” pelo regime (veja lista ao lado). Há ainda os que sobreviveram às torturas, agressões e prisão e continuaram a militar pelo Brasil. Cada um à sua maneira. Entre eles, há três mineiros que ocupam e já ocuparam cargos de destaque no comando do país. A presidente Dilma Rousseff, o ex-prefeito e ex-ministro Fernando Pimentel e o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, contam parte de suas histórias. Estudantes do Colégio Estadual Central, Dilma e Pimentel iniciaram lá a participação contra o regime. Os
¬ HUMBERTO SANTOS ¬ Na luta contra o regime militar,
encobrir a identidade era fundamental para garantir a sobrevivência. Usar nomes e documentos falsos, codinomes, códigos para conversas fazia parte do cotidiano de estudantes e trabalhadores que encaravam o enfrentamento da ditadura como a única opção para garantir o futuro do país. Muitos pagaram com a própria vida. Outros “desapareceram”, deixando suas famílias desoladas. Até hoje, já foram reconhecidas as histórias de 362 militantes nessa con-
‘Estela’
PAULA HUVEN/REPRODUÇÃO
ROBERTO STUCKERT FILHO/DIVULGAÇÃO
“Vivia meus 13 anos no dia em que os militares derrubaram o presidente João Goulart. Quatro anos depois, entrei para a militância no movimento estudantil. Após o decreto do Ato Institucional número 5, a barra pesou. Consegui escapar, mas tive que passar à clandestinidade. Um ano depois, acabei sendo preso em Porto Alegre. Minhas lembranças estão matizadas pelas cores mais sombrias daqueles anos terríveis. Só nos anos Médici, foram 155 mortos e desaparecidos. Todos esses dolorosos fatos eu acompanhei da prisão. Ali, a realidade cotidiana é o poder absoluto do inimigo, o poder de vida e morte.” Fernando Damata Pimentel, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e ex-prefeito de Belo Horizonte
dois militaram no Comando de Libertação Nacional (Colina), que mais tarde se fundiria com a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), dando origem à VAR-Palmares. Pimentel foi preso em 1970 e solto três anos depois. Dilma também foi presa em 1970. A militante de codinome “Estela” ou “Vanda” foi torturada nos calabouços da ditadura em Juiz de Fora, Rio de Janeiro e São Paulo. Foi solta em 1972. Aluno de administração na UFMG durante a ditadura, Lacerda militou no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e na Aliança Libertadora Nacional (ALN). Em 1969 foi preso e ficou encarcerado por quatro anos.
“Algumas características da tortura. No início, não tinha rotina. Não se distinguia se era dia ou noite. O interrogatório começava. Geralmente, o básico era choque. Se o interrogatório é de longa duração, com interrogador ‘experiente’, ele te bota no pau de arara alguns momentos e depois leva para o choque, uma dor que não deixa rastro, só te mina. Muitas vezes também usava palmatória; usava em mim muita palmatória. Emagreci muito, pois não me alimentava direito. Fiquei presa três anos. O estresse é feroz, inimaginável. Descobri, pela primeira vez, que estava sozinha. Encarei a morte e a solidão. Tem um lado que marca a gente o resto da vida.” Dilma Rousseff, em depoimento para o Conselho de Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh-MG) em 2001
‘Chico’
PAULA HUVEN/REPRODUÇÃO
LEONARDO LARA - 1.1.2011
‘Gringo’ “O golpe militar de 64 representou uma ruptura política nas instituições e na estrutura da sociedade brasileira. Deixou, além de marcas profundas em milhares de famílias, um alerta para que o radicalismo não se sobreponha ao diálogo, e que as diferenças, não importa quais sejam, não alimentem a intolerância”. Marcio Araújo de Lacerda, prefeito de Belo Horizonte
ARQUIVO PESSOAL/REPRODUÇÃO
Presente! Militantes políticos mineiros mortos e desaparecidos durante a ditadura militar NOME
DATA E LOCAL PRESUMIDOS DA MORTE
Abelardo Rausch Alcântara
12/2/1970 - BRASÍLIA
Adriano Fonseca Filho
28/11/1973 - ARAGUAIA
Alberto Aleixo
7/8/1975 - RIO DE JANEIRO
Antônio Carlos Bicalho Lana
30/11/1973 - SÃO PAULO
Antônio Joaquim de Souza Machado
15/2/1971- RIO DE JANEIRO
Antônio dos Três Reis de Oliveira
17/5/1970 - PARANÁ
Arnaldo Cardoso Rocha
15/3/1973 - SÃO PAULO
Augusto Soares da Cunha
1/4/1964 - GOV. VALADARES
Áurea Elisa Pereira Valadão
13/6/1974 - ARAGUAIA
Benedito Gonçalves
20/8/1979
Carlos Alberto Soares de Freitas
15/2/1971 - RIO DE JANEIRO
Carlos Antunes da Silva
16/1/1970 - BELO HORIZONTE
Carlos Schirmer
1/5/1964 - DIVINÓPOLIS
Ciro Flávio Salazar Oliveira
30/9/1972 - ARAGUAIA
Daniel José de Carvalho
13/7/1974 - PARANÁ
David de Souza Meira
1/4/1968 - RIO DE JANEIRO
Devanir José de Carvalho
7/4/1971 - SÃO PAULO
Eduardo Antônio da Fonseca
23/12/1971 - SÃO PAULO
Eduardo Collen Leite
8/12/1970 - SÃO PAULO
Elson Costa
15/1/1975 - SÃO PAULO
Feliciano Eugênio Neto
29/9/1976 - SÃO PAULO
Geraldo Bernardo da Silva
17/7/1969 - RIO DE JANEIRO
Getúlio de Oliveira Cabral
29/12/1972 - RIO DE JANEIRO
Gildo Macedo Lacerda
28/10/1973 - RECIFE
Guido Leão
Setembro de 1979 - BETIM
Hamilton Pereira Damasceno
Fevereiro de 1972 - RIO DE JANEIRO
Helber José Gomes Goulart
16/7/1973 - SÃO PAULO
Hélcio Pereira Fortes
28/1/1972 - SÃO PAULO
Idalísio Soares Aranha Filho
12/7/1972 - ARAGUAIA
Itair José Veloso
25/5/1975 - SÃO PAULO
Ivan Mota Dias
15/5/1971- RIO DE JANEIRO
Jeová Assis Gomes
9/1/1972 - GOIÁS
João Batista Franco Drummond
16/10/1976 - SÃO PAULO
João Bosco Penido Burnier
11/10/1976 - GOIÂNIA
Joel José de Carvalho
13/7/1974
José Carlos Novaes da Mata Machado
28/10/1973 - RECIFE
José Júlio de Araújo
18/8/1972 - SÃO PAULO
José Maximino de Andrade Netto
18/8/1975 - SÃO PAULO
José Toledo de Oliveira
21/9/1972 - ARAGUAIA
Juarez Guimarães de Brito
18/4/1970 - RIO DE JANEIRO
Lucimar Brandão Guimarães
31/7/1970 - BELO HORIZONTE
Maria Auxiliadora Lara Barcelos
1/6/1976 - ALEMANHA
Nativo Natividade de Oliveira
23/10/1985 - GOIÁS
Nelson José de Almeida
11/4/1969 - TEÓFILO OTONI
Oracílio Martins Gonçalves
30/7/1979
Orlando da Silva Rosa Bomfim Júnior
8/10/1975 - SÃO PAULO
Osvaldo Orlando da Costa
Abril de 1974 - ARAGUAIA
Otávio Soares Ferreira da Cunha
4/4/1964
Paschoal Souza Lima
30/3/1964 - GOV. VALADARES
Paulo Costa Ribeiro Bastos
11/7/1972 - RIO DE JANEIRO
Paulo Roberto Pereira Marques
Dezembro 1973 - ARAGUAIA
Pedro Alexandrino Oliveira Filho
4/8/1974 - ARAGUAIA
Raimundo Eduardo da Silva
5/1/1971 - SÃO PAULO
Raimundo Gonçalves de Figueiredo
28/4/1971 - RECIFE
Rodolfo de Carvalho Troiano
12/1/1974 - ARAGUAIA
Walquíria Afonso Costa
25/12/1974 - ARAGUAIA
Walter de Souza Ribeiro
3/4/1974 - ARAGUAIA
Zuleika Angel Jones (Zuzu Angel)
14/4/1976 - RIO DE JANEIRO
ALEXANDRE GUZANSHE - 29.4.2010
POLÍTICA INTERNACIONAL Em novembro, é a vez da Bolívia de sofrer um golpe militar. RENÉ BARRIENTOS ORTUÑO assume a Presidência do país e dá início a uma ditadura que duraria até o ano de 1982.
EDITORIA DE ARTE O TEMPO
COMPORTAMENTO Em 25 de junho, a a Igreja Católica condena o uso da pílula anticoncepcional, que vinha ganhando público entre os mais jovens e as mulheres que pregavam a liberação sexual.
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8 •Belo Horizonte, 30 de março de 2014 OTEMPOlocalizouos“jovens”da fotohistóricade1967naescolade direito;elesaindalutampelopaís
o ã m a n a i r ó t s i h a e s a r d Pe ACERVO/UFMG
¬ ISABELLA LACERDA ¬ Por trás da improvisada inva-
são do prédio da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1967, no auge da ditadura militar, estão cinco estudantes – quatro deles vindos de Teófilo Otoni para Belo Horizonte – com o sonho comum de lutar por um país melhor. Mais do que líderes dos movimentos estudantis ocorridos naquele período – e colegas da hoje presidente da República, Dilma Rousseff –, Nilmário Miranda, Leovegildo Pereira Leal, Carlos Augusto de Morais, Edson Gonçalves Soares e Oldack de Miranda protagonizaram uma das fotos-símbolo da resistência ao golpe militar. A partir da imagem histórica – hoje estampada em um mural da mesma Faculdade de Direito – a reportagem de O TEMPO localizou e reuniu os militantes no mesmo local onde no passado eles se tornaram “heróis da resistência”. Apesar de o fato ter sido registrado há quase 50 anos, os hoje “sessentões” de cabeça branca ainda guardam os detalhes do episódio que acabou marcando a vida de cada um deles. Quem passa hoje pelo prédio da escola encontra um cenário diferente do visto há 47 anos pelo grupo de estudantes. No local onde se vê um grande edifício, naquele ano havia pedras e britas. O pilotis, que agora conta com árvores e grades, era apenas um canteiro de obras de uma reforma na escola. Naquele dia, a invasão do edifício, na avenida João Pinheiro (centro), não foi planejada, como conta o hoje deputado federal Nilmário Miranda. A ocupação da sede da escola de direito foi a forma encontrada por quase 400 estudantes para escapar da prisão após participarem de uma manifestação na praça Afonso Arinos. “Naquele dia tinha mais uma passeata de protesto contra a ditadura. Na época havia várias por semana. Eram 11h quando fomos surpreendidos pelo cerco policial. Por isso corremos todos para a faculdade”, relembra Nilmário. Para evitar a prisão em massa, os estudantes usaram os materiais de construção que encontraram comoarmas. “Quando a repressão decidiu invadir, choveram pedras”, ressalta o ex-integrante da Polop. Com o cerco dos militares, nin-
Nilmário, Leô, Carlos, Edson e Oldack: universitários, em 1967 viveram intensamente a luta contra a ditadura, e não se arrependem dos seus atos
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“
“Aocupaçãonão haviasido planejada. Asprivadas viraramo caosdefedentina. Nãohavia comida, nemáguapara beber, anão serpoucas garrafasencontradas norestaurante daescola.” Oldack de Miranda guém podia entrar nem sair. E, como a manifestação ocorreu sem planejamento, horas após a entrada no prédio começaram os problemas. Para tentar acabar logo com o ato, a resistência deu início a uma “estratégia de guerra”, segundo os próprios estudantes. Começaram cortando a luz e, em seguida, acabaram com a água. “O que pouca gente sabe é que o edifício tinha uma entrada secreta. Vendo a nossa situação, algumas pessoas, mães mesmo, levaram escondido para a gente água e comida, o que permitiu que a gen-
te resistisse por mais tempo”, relembra Leovegildo. Em um ato um tanto ousado, Leô, como é conhecido, diz que chegou a sair escondido do local para buscar “armamento”. “Saímos para buscar coquetelmolotov. Não tínhamos levado porque não planejávamos usar. Mas os militares estavam preparados para um enfrentamento”, explica. Não por acaso, na imagem histórica, o jornalista aparece com as mãos para trás. “Eu pedi aos meus amigos que se afastassem dali, pois vi um militar usando arma de fogo. Me lembro até hoje da aparência dele”. A polícia respondeu com bombas de gás. E, para evitar a invasão, os estudantes fizeram barricada nas portas com móveis e carteiras das salas de aula. Diferentementedoque foi registrado em outros momentos históricos de resistência, na Faculdade de Direito ninguém foi preso nem saiu machucado. Tudo graças à participação direta da reitoria da universidade na negociação com os militares. “Delegamos a alguns companheiros a negociação com a reitoria. Eles ficavam conversando enquanto a gente fazia a guarda. Deixamos o local por volta de três horas damanhã, e todo mundo estava a salvo”, ressalta Edson Gonçalves. Uma barreira foi montada para a desocupação do prédio. Dali, já de madrugada, os cinco amigos se dispersaram pela avenida Afonso
POLÍTICA INTERNACIONAL O ex-presidente da Argentina Juan Perón, que havia governado o país entre 1946 e 1955, deixa a Espanha, onde vivia exilado, e voa para a Argentina. Ao fazer escala no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, é barrado e obrigado a voltar à Espanha.
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Pena. “Nos espalhamos pela noite adentro”, relembra Oldack. Dali em diante, os amigos seguiram na luta, juntos, por mais um ano. Depois, começaram as prisões e a clandestinidade os afastou. A foto histórica, porém, só seria descoberta quase 40 anos mais tarde. “Soube que entramos para a históriaquandoa viestampadanacarteirinha de estudante da UNE. Nos sentimos heroicos, como se tivéssemos salvando o Brasil”, lembra Leô, emocionado. A reportagem não localizou Carlos Augusto de Morais.
“
“Comofim da invasão,tínhamos quedarcabodos coquetéis-molotov. Quebramosas garrafaseacabamos colocandofogo no banheiro.Deram altaschamas.Quase queimamosa faculdade.” Edson Gonçalves Soares
CINEMA Em janeiro, é lançado o filme 007 contra Goldfinger, o terceiro da série 007 com SEAN CONNERY no papel do agente secreto James Bond. Produzido por Albert Broccoli e Harry Saltzman e realizado por Guy Hamilton, Goldfinger é baseado no livro homônimo de Ian Fleming.
CasadeDilma sedioureunião dosestudantes As primeiras reuniões de Nilmário Miranda, Leovegildo Pereira Leal, Carlos Augusto de Morais e Edson Gonçalves Soares como militantes políticos em Belo Horizonte ocorreram na casa da hoje presidente da República, Dilma Rousseff. A residência da petista, próxima à Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, servia como QG do grupo na articulação das manifestações e das ações clandestinas contra a ditadura na capital mineira. Os quatro estudantes, que deixaram o interior para estudar na capital mineira, eram, até 1967, do mesmo grupo de Dilma: a Organização Revolucionária Marxista Política Operária (Polop). O único que não integrava a Polop era Oldack de Miranda, membro da Ação Popular (AP). A amizade do passado com Dilma, porém, já não é mais a mesma. Um dos assuntos que mais gera polêmica entre os amigos é a análise do governo da petista. “Tínhamos como companheira a senhora Dilma, que já era tão brava e autoritária como hoje”, brinca Leovegildo. (IL)
Belo Horizonte, 30 de março de 2014 •
Quase50anosdepoisdaqueledia, apesardedivergênciaspolíticas, sessentõesmilitamativamente
s a v o n s a i e d i , s o h l e v s o t Ros
¬ ISABELLA LACERDA ¬ O tempo na prisão, os anos de clandestinidade, a distância da família e as agressões físicas não roubaram a ternura nem afastaram da luta os estudantes “rebeldes” que aparecem na histórica foto de 1967 na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Todos eles, mesmo 50 anos após o golpe militar, mantiveram-se engajados politicamente e militando por um país menos desigual. Uns se tornaram ainda mais radicais, enquanto outros, menos revolucionários. E, além dos cabelos brancos, hoje eles guardam em comum as lembranças de um passado que prefeririam que não tivesse existido. O mais popular entre os “sessentões” é o deputado federal Nilmário Miranda (PT). Hoje, o petista “passou para o outro lado” e, agora, ajuda a esclarecer os crimes ocorridos nos anos de chumbo como parte da Comissão da Anistia, do Ministério da Justiça. Já seu irmão, o jornalista, escritor e ex-integrante da Ação Popular (AP), Oldack de Miranda, resolveu contar a história de um dos mais importantes nomes da resistência: Carlos Lamarca. Os anos de clandestinidade fizeram o jornalista Leovegildo Pereira Leal deixar Minas em direção ao Rio de Janeiro. E a sua história na Política Operária (Polop) o levou ao marxismo e às salas de aula. Hoje, porém, entre os cinco amigos, Leô é o que menos crê em um país verdadeiramente melhor. “Entraram e saíram governos, e tudo ficou como antes”, critica.
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“Durante os 21 anos de ditadura militar no país eu me opus a ela. Durante todos os dias da minha vida participei de alguma forma da resistência. Acho que a luta foi bem-sucedida. A ditadura não terminaria por conta própria.”
FOTOS: MARIELAS GUIMARÃES
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Verdade. Há 50 anos, o militante político Nilmário Miranda não podia imaginar que anos mais tarde seria eleito pelo povo para um mandato parlamentar na Câmara dos Deputados. Ele também não imaginava que um dia faria parte da Comissão da Anistia, analisando fatos e histórias de companheiros que sofreram nos anos de chumbo. Após se engajar na militância política a partir de 1962, o hoje filiado ao PT viu de perto a ditadura no país. Precisou viver na clandestinidade de 1969 até 1975, morou na Bahia e em São Paulo fugindo da polícia e ainda foi preso em duas ocasiões. Mesmo assim, anos mais tarde, retornou à luta. E garante: tudo valeu a pena. “Ainda temos muito o que fazer. A tortura permanece até hoje nas prisões. Mas é inegável que avançamos.”
Nilmário, 66. Cursava economia; entrou na militância política antes de completar a maioridade, em Teófilo Otoni. É deputado e membro da Comissão da Anistia
Ideal marxista. “Os milicos tomaram o Brasil e ainda brindaram o meu aniversário de 18 anos”. O jornalista e escritor Leovegildo Pereira Leal viveu quase dez anos na clandestinidade, precisou mudar o nome para Paulo, mas ainda mantém o bom humor ao se lembrar do golpe militar. Hoje, com 68 anos, Leô, como ainda é conhecido pelos companheiros de militância, se mantém engajado. Ele se dedica ao Movimento Marxista 5 de Maio, no Rio e em Minas, herança da Organização Revolucionária Marxista Política Operária (Polop), e faz críticas aos governos da chamada redemocratização. “A enorme desigualdade social entre as classes nunca foi tocada”.
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Leô, 68. Cursava direito em 1967; foi preso e depois ficou na clandestinidade por dez anos. É jornalista, professor e escritor
Edson, 68. Cursava engenharia, foi vice-presidente da UNE. Após a ditadura, foi prefeito de Teófilo Otoni e deputado
“Se alguém que passou “Precisei rasgar e comer a minha carteira de identidade para não revelar pelos porões quem eu era. Mas tudo valeu a pena.” da ditadura disser que Clandestinidade. A primeira eleição de que Edson Gonçalves Soares participou foi clandestina: ocorreu em um porão no Rio não sente de Janeiro, ocasião em que foi eleito vice-presidente da União nada, está Nacional dos Estudantes (UNE). Anos mais tarde, já sendo a ditadura militar, o mineiro de Teófilo Otoni acabou eleito mentindo. prefeito e deputado federal. Foi a militância política, iniciada Impossível há 50 anos, que o fez permanecer na vida pública. Nos anos de chumbo, foi preso, viveu na clandestinidade e durante quatro sair ileso da anos foi impedido de manter contato com a família. Também tortura.” teve todos os documentos queimados. “Meu irmão foi orientado pela Polop a dar fim aos registros”, conta. Hoje, aos 68 anos, ensaia um retorno à política como deputado federal.
RELIGIÃO No dia 5 de janeiro, o PAPA PAULO VI se encontra com o líder patriarcal ortodoxo de Constantinopla, Atenágoras. O abraço entre os líderes religiosos é considerado um marco por restaurar o bom relacionamento entre as igrejas de Roma e de Constantinopla.
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“Saímos da ditadura sem tocar as demandas do povo. Veio a democracia, e ficou tudo a mesma coisa. É necessário mudar.”
Sob tortura. Quando estourou o golpe, o jornalista Oldack de Miranda prestava serviço militar e não podia fugir, pois seria considerado desertor. Um ano depois, porém, já estava em Belo Horizonte, vinculado à Ação Popular (AP). Após liderar movimentos contra o modelo ditatorial, também precisou ir para a clandestinidade. Acabou sendo preso em Juiz de Fora, Salvador e Recife, onde não escapou da tortura. “Passei pelo pau de arara e todo aquele terror. O que ficou na memória nesses 50 anos, enraizados nas entranhas, foram os assassinatos e esse sentimento corrosivo de impunidade”. Hoje, assim como o irmão, é ligado ao PT. Oldack, porém, precisou buscar a terapia para se recuperar dos traumas. “Está dando certo. Não estou devorando ninguém”. Oldack, 69. Cursou direito até 1968, mas, após entrar na clandestinidade, largou o curso para fazer trabalho político no campo. É jornalista e escritor
CELEBRIDADES Em 7 de janeiro, a atriz francesa Brigitte Bardot chega ao Rio de Janeiro causando grande alvoroço, e passa o verão no balneário de Búzios, chamando a atenção da imprensa nacional e internacional para o local.
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10 •Belo Horizonte, 30 de março de 2014 Resistênciaeraarticuladaem apartamentosdisfarçados derepúblicadeestudantes
o l i g i s e o ã ç i r c s i d : s o h l e Apar
¬ ALINE LABBATE
A RESISTÊNCIA
TÂMARA TEIXEIRA
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Sede do DCE da UFMG Rua Guajajaras, 694
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Faculdade de Direito da UFMG Avenida Álvares Cabral, 211
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DA da Faculdade de Medicina da UFMG Avenida Alfredo Balena, 190
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Centro Cultural do DCE da UFMG Rua Gonçalves Dias, 1.581 (onde hoje funciona o Cine Belas Artes)
Aparelho da Colina – rua Itacarambi, 120 (Na casa no bairro São Geraldo, dois policiais morreram após trocarem tiros com militantes do grupo do qual a presidente Dilma Rousseff fez parte) SÃO FRANCISCO
SÃO GERALDO
Casa do Jornalista – sede do Sindicato dos Jornalistas de Minas - avenida Álvares Cabral, 400 (Foi atacada por bomba em junho de 1980. A parede foi pichada com uma ameaça à "imprensa comunista")
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Teatro Francisco Nunes Dentro do Parque Municipal
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Igreja São José Rua dos Tupis, 164
SANTA EFIGÊNIA CENTRO
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Av. do Contorno
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s na azo Am
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l bra Ca res a v Ál
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Av .A fon so
Pe na
na ale oB red f l .A Av il ras .B Av
Antiga Fafich e Teatro Universitário (TU) – rua Carangola, 288 (O prédio foi tombado pelo Patrimônio Histórico em 2009 e hoje abriga a sede da Secretaria de Educação de Belo Horizonte. O local será transformado no Memorial da Anistia de Minas)
JOSE
Av . .B Av ias Fo rte s
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ACERVO DAAB /DIVULGA CAO
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BLICA/UFMG ACERVO PROJETO REPÚ
Pontos de resistência à ditadura militar na capital mineira
ARQUIVO DA IGREJA SAO
ro residencial ou um apartamento modesto no centro da capital mineira. Jovens estudantes, com calça jeans e camiseta, entram e saem, com mochilas nas costas. O cenário é a segunda metade da década de 1960. Nas ruas, o Exército cuida para que a cidade funcione conforme os conceitos de “normalidade” e “tranquilidade”. No interior das tais residências, os jovens são militantes que tramam seus planos para restabelecer a liberdade e a democracia. Não é fácil ser oposição a um regime ditatorial. Tudo precisa ser meticulosamente planejado para funcionar perfeitamente. Daí o nome “aparelho”. Assim eram chamados os locais onde os militantes se organizavam. Discrição e sigilo eram as principais regras e sinônimos de sobrevivência. Para manter as aparências, lembra Maurício Paiva, 69, ex-integrante de um dos principais grupos de resistência, o Colina, um casal do grupo costumava alugar a casa como morador. “Assim era mais fácil montar uma história em uma situação difícil. Mas se não tinha um casal, era a fachada para uma república de jovens estudantes. Um colega não conhecia o outro. Jamais saíamos com os nomes verdadeiros, sempre nos tratamos por codinomes. Isso para evitar o risco de algum colega torturado ‘abrir’ os demais. As reuniões eram sempre à noite porque as pessoas tinham seus compromissos. De dia, tínhamos uma vida acima de qualquer suspeita para o regime e a família”, lembra. Antônio Faria Lopes, 77, conta que os vizinhos dos aparelhos não suspeitavam de nada. “Não podíamos dizer a verdade até pela segurança deles. Sempre que encontrávamos alguém na rua, tínhamos uma senha que pudesse nos identificar”, lembra o jornalista, que chegou a ser torturado e condenado a 18 anos por ser “agente da União Soviética, que queria impedir o avanço das tropas do Exército no Brasil”. Dentro dos aparelhos, os jovens planejavam sequestros de autoridades, resgates de presos
MMONS ANDRE V RUAS/CO
¬ Uma casa simples em um bair-
(*) Farão parte de um circuito turístico elaborado pela Belotur
FONTE: BELOTUR E SITE DESAPARECIDOS.ORG
políticos, enfrentamentos armados e assaltos a bancos para financiar a resistência. “Cada um pertencia a um setor e só sabia o necessário para militar”, conta Paiva, que pertencia à logística. “Tínhamos a missão de levantar dinheiro com assaltos a banco ou contribuições. Queríamos instalar uma guerrilha no campo
e, além disso, manter os colegas na clandestinidade era dispendioso”, conta Paiva, que foi preso e torturado por um ano e meio. À medida que o tempo passava, os opositores aos militares se avolumavam, e o cerco se fechava. Não dava paCERCO FECHADO.
LITERATURA Em 9 de novembro, morre a poetisa, pintora, professora e jornalista Cecília Meireles. Clarice Lispector lança o livro “A Paixão Segundo GH” e a coletânea de contos “A Legião Estrangeira”. José Cândido de Carvalho estreia o romance “O Coronel e o Lobisomem”.
ra fixar raízes, e a vida era nômade. A ex-militante Gilse Cosenza, 70, cunhada do cartunista Henfil, lembra que as pessoas não andavam em grupo, chegavam sozinhas aos aparelhos, e que o local era automaticamente trocado quando um colega era capturado pelo regime. “Se ele não resistisse à tortu-
ra, poderia ‘abrir’ o endereço. Quando alguém sumia por um tempo, trocávamos de casa. O tempo de permanência podia ser uma semana ou um ano”, conta Gilse. Paiva revela que, em 1964, o Colina ocupou três endereços diferentes nos bairros São Geraldo, Santa Efigênia e Santa Inês.
MÚSICA OS BEATLES se transformavam em mania mundial. Em 7 de fevereiro, a banda desembarca pela primeira vez nos Estados Unidos. Dois dias depois, bateriam todos os recordes de audiência da TV norte-americana durante uma apresentação. Em 16 de abril, os Rolling Stones lançam seu primeiro disco.
Belo Horizonte, 30 de março de 2014 •
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EDITORIA DE ARTE / O TEMPO
O MAPA DA REPRESSÃO EM MINAS 1
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LOCAL Delegacia de Vigilância Social, no Departamento de Ordem Política e Social (Dops) – Afonso Pena, 2.351, Funcionários. O QUE É HOJE Atualmente, no local funciona o Departamento de Investigação Antidrogas da Polícia Civil. Em outubro de 2013, o prédio foi tombado como Patrimônio Cultural de Belo Horizonte local e será transformado em um Memorial dos Direitos Humanos
LOCAL 12º Regimento de Infantaria, rua Tenente Brito Melo, s/n, Barro Preto O QUE É HOJE Continua abrigando o 12º Regimento de Infantaria do Exército
LOCAL Colégio Militar, avenida Marechal Espiridião Rosas, 400, Bairro São Francisco O QUE É HOJE Continua funcionando como escola de níveis fundamental e médio
Local: Sítio clandestino em Ribeirao das Neves
BH
3 SÃO FRANCISCO
Local Sítio clandestino no Triângulo Mineiro
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Local: Presídio de Linhares, rua Diva Garcia, 3.351, bairro Linhares, Juiz de Fora
RENASCENÇA
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O que é hoje: No local funcionam duas penitenciárias e um hospital de toxicômano
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LOCAL Delegacia de Furtos e Roubos – rua Uberaba, 175, Barro Preto O QUE É HOJE Prédio permanece como Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos LOCAL Casa no bairro Renascença
CENTRO
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Socos e chutes Prisão na solitária Tortura psicológica
Pau de arara Palmatória Choques elétricos
FONTES: SITE DESAPARECIDOS.ORG
Regimeusavacasasabandonadas esítiosemlocaisremotospara prenderetorturarmilitantes
o n r e f n i o a r a p s o d a d n e Olhos v
¬ ALINE LABBATE ¬ Para além das delegacias, dos
regimentos militares, dos departamentos de operações especiais, quando o assunto era tortura de presos políticos, o aparato do regime militar se ramificava em porões desconhecidos, casas abandonadas, sítios em locais remotos. Levantamento do projeto Brasil Nunca Mais aponta pelo menos 246 pontos clandestinos de tortura no país. Mas a quantidade pode ser ainda maior. A identificação dos lugares se torna um desafio, já que os militantes eram levados para os locais com os olhos vendados e, na maioria das vezes, a tortura tinha um objetivo: a morte. Uma casa no bairro Renascença, região Nordeste da capital, é apontada por ex-presos políticos ao Projeto República como um destes locais. O bairro é daqueles em que ainda se usa colocar a cadeira no passeio para conversar com os vizinhos. Bem ali, na rua Borbore-
ma, um conjunto de prédios recém-construídos pode esconder o que cerca de 40 anos atrás foi um dos porões da ditadura. Nos anos de chumbo, uma casa abandonada construída num terreno íngreme, cercada por um muro de pedras, teria sido palco de cenas aterrorizantes de tortura. Para lá, militares e outros agentes da ditadura levariam os opositores ao governo. Na maioria das vezes, o objetivo era “desaparecer” com o “comunista subversivo”. Do centro clandestino, pouca coisa se sabe hoje. Os vizinhos mais antigos puxam os boatos pe-
lo fio da memória. “Eu ouvia as pessoas dizerem que lá era lugar de tortura”, garante o corretor de imóveis Nilton Magalhães Filho, 46, que morou em frente à tal casa na década de 1990. Outro vizinho conta que o dono do imóvel era um “delegado de polícia” e que a casa era a única da região que possuía um telefone no início da década de 1960. “Ele deixava as pessoas usarem o telefone. Era solteiro, meio excêntrico”, conta o morador, que prefere não se identificar. Soldado do Exército em 1964 e morador do bairro na época, o instrutor de trânsito Antônio Ma-
“Eu servia no Exército na época e nunca vi nenhuma movimentação na tal casa. Mas as pessoas falavam que essa casa, no alto do morro, era ponto de tortura, de prisão de elementos.” Antônio Manini Teixeira, 69 INSTRUTOR DE TRÂNSITO
ESPAÇO Em 12 de outubro de 1964, em meio à Guerra Fria, a União Soviética lança o foguete Voskhod 1. Foi o primeiro voo de uma nave espacial soviética a transportar mais de um cosmonauta ao espaço, o primeiro sem o uso de trajes espaciais pela tripulação.
nini Teixeira, 69, diz que oficialmente nunca soube da casa, mas ouviu os boatos. “As pessoas falavam que essa casa, no alto do morro, era ponto de tortura, de prisão de elementos”, lembra. Moradora do bairro desde os 2 anos de idade, a jornalista Neide Pessoa Couto, hoje com 77, representou o Sindicato dos Jornalistas por 12 anos no Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos. Pelas mãos dela, passaram dezenas de processos de presos do regime. “Eu nunca vi referência a essa casa. Mas li inúmeros relatos de pessoas que foram levadas vendadas para locais de tortura”, conta. A casa faz parte de um relatório do Projeto República, da UFMG, que será encaminhado à Comissão Nacional da Verdade (CNV). Segundo a coordenadora da pesquisa, professora Heloísa Starling, o documento vai apontar outros locais de tortura clandestinos na capital. Os números finais serão apresentados em audiência pública da CNV, provavelmente no próximo dia 7.
FUTEBOL Em 19 de dezembro, o Santos conquista aTaça Brasil, e, ccom PELÉ, mantinha sua hegemonia no futebol. Em Minas, o Siderúrgica, de Sabará, deixa Atlético, Cruzeiro e América para trás e fatura o Campeonato Mineiro em 13 de dezembro.
A própria equipe do Projeto República não conseguiu obter o endereço do imóvel no Renascença. A reportagem de O TEMPO percorreu o bairro procurando informações que pudessem levar à tal casa. Fomos atrás de um dos moradores mais antigos: Jadir Ambrósio, sambista da velha guarda e autor do hino do Cruzeiro. Como ele está hospitalizado há três meses, quem nos atendeu foi o filho, que indicou um jornalista responsável pela revista mensal do bairro. Na casa de Carlos Virgílio, encontramos Emerson, que se lembrou de uma antiga delegacia no bairro. Era a tal casa que hoje dá lugar a um conjunto de prédios. Os vizinhos garantem que lá nunca funcionou delegacia, mas os boatos de tortura existiram. O aspecto lúgubre da residência abandonada com muro alto de pedra e cheia de grandes árvores povoou as brincadeiras infantis nas décadas seguintes à redemocratização. Já na segunda metade dos anos 1980, os moleques se arriscavam na “casa mal-assombrada”, de onde se ouviam “barulhos de correntes”.
12 •Belo Horizonte, 30 de março de 2014 LP&M / REPRODUCAO
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¬ DANIEL OLIVEIRA ¬ O brasileiro não lê história. Ele
não reflete sobre o passado. E, quando o faz, é para justificar suas falhas do presente ou sua recusa em construir um futuro. Um dos sintomas mais claros dessa trifeta cultural é o senso comum de que a produção artística era “melhor, mais politizada, mais relevante ou mais pungente” durante a ditadura militar. “Os anos 1960 e 1970 são de uma reduzida oxigenação política, e o discurso artístico se politizou muito, mas isso não tem uma conotação qualitativa”, opina o professor de história da UFMG João Pinto Furtado. Para ele, esse saudosismo é uma criação mistificadora produzida por um senso inflado de autovalorização dos próprios elaboradores dessa cultura. O “Pasquim” se satirizava muito dizendo que era o melhor jornal da zonal Sul carioca. O resto do país lia porque queria estar em Ipanema, no Leblon, que é onde essa geração estava. Essa nostalgia por uma arte melhor é, na verdade, os caras
sentindo falta dessa juventude”, provoca. Partidário de que toda arte é engajada, mas nem sempre da mesma maneira, Furtado acredita que a cultura hoje é muito “mais aberta, menos machista, mais anti-homofóbica” que a da década de 60. “O próprio Caetano hoje é visto como um grande opositor do regime, quando o que ele estava questionando, na verdade, eram a moral e os valores da época”, afirma a professora de história da PUC Minas Natália Barud. Segundo ela, é a estética que vai dar o tom da obra, com o tropicalismo incomodando muito mais que artistas mais vinculados à esquerda. “O Caetano cantando e dançando de forma feminina é muito mais chocante que o Chico e seu violão, que era bem mais politizado, mas não foi mandado para fora do Brasil”, analisa. Ela acrescenta que muitas vezes a resposta ao artista ultrapassa seu objetivo “e é interessante como essas questões não estritamente políticas dialogam com o regime”. Barud, que pesquisou no mestrado a montagem da peça “Liberdade, Liberdade” pelo grupo Opinião, que ficou em
NEGÓCIO DA CULTURA.
cartaz entre 1965 e 1967, afirma ainda que é importante ressaltar que a ditadura não cria nada inovador. “Muito do que foi feito em termos de teatro de resistência já existia desde a década de 50. O que o golpe faz é mudar o foco para o enfrentamento ao regime”, explica. De acordo com a pesquisadora, porém, isso só é possível porque já havia vários artistas de esquerda. “Existem inclusive dúvidas se as peças que conhecemos hoje eram de fato de seus autores, ou se a censura não tinha ali uma autoria compartilhada”, questiona. Outro elemento relativizador destacado pela professora é a valorização das questões de esquerda entre a classe média estudantil que consumia cultura na época. “Paulo Autran já era o grande ator do teatro brasileiro quando faz ‘Liberdade, Liberdade’. E ele afirma o quanto era importante resistir à ditadura e o quanto ele se sentiu humano. Mas não se pode perder de vista que era um grande negócio”, problematiza, acrescentando que um dos motivos pelos quais a peça ficou em cartaz por dois anos foi porque o general Castelo Branco era fã de Autran e receava a reação da opinião pública. Ela explica que a “esquerda festiva” se tornou um termo pejorativo, mas o fato é que se trata de uma época em que os artistas
WILSON SANTOS/CPDOC JB
tinham que viver sem leis de incentivo. Era uma outra lógica, em que o público financiava o espetáculo. “Tinha que pensar na censura, em ser politicamente engajado e em sobreviver. Se uma peça não fosse viável financeiramente, ela não seria feita. Ninguém fez teatro de resistência gratuito, nem o Paulo Autran. Isso não tira o mérito, nem a importância, só problematiza o sujeito histórico”, analisa. A importância desse lado econômico explica ainda por que, apesar de ter sido a arte mais engajada, o teatro da época não tem o mesmo reconhecimento que a música. “Boa parte das canções consideradas ícones são músicas de festival. E o sucesso que elas fizeram não é por acaso, mas porque foram amplificadas numa escala que até então não se conhecia, com a consolidação da televisão”, avalia Pinto Furtado. “Imagina o que seria de Elis Regina sem a TV para transmitir a performance dela para “Arrastão” no festival de 1965”, provoca Barud. A pesquisadora ressalta também que quem a TV atingiu nos anos 1970 foi a classe média. “Ao mesmo tempo em que isso significa uma perda brusca de público para o teatro e o cinema, ela alavanca essas músicas”, pondera. Além disso, a pesquisadora considera a tradição brasileira. “Na França, o que se sobrepõe é a literatura. No
FUNARTE/ACERVO
Brasil, há um grande número de analfabetos, ainda maior naquela época. Não sei se a música foi mais combativa, mas foi a manifestação artística mais democrática, que chegou mais ao público”, reflete. Para Furtado e Barud, porém, o principal legado desses artistas foi produzir uma agenda política relevante para o indivíduo – para sua sexualidade, intimidade e subjetividade. “Foi uma certa revisitação do 68 francês sob uma ótica brasileira. Um movimento que colocou em pauta a questão do indivíduo, portador de direitos e necessidades que precisam ser consideradas no discurso político”, argumenta Furtado. “Em 1968, Chico escreve ‘Ela Desatinou’, que é pura subjetividade. ‘Eles não Usam Black-Tie’ não é a luta de classes, é o sujeito: a esposa grávida, a briga com o pai. ‘Liberdade, Liberdade’ não falava da ditadura, mas sim de liberdade. Existia um universalismo nessas temáticas que permitiam atingir o regime, assim como o espectador no que ele tinha de sensível, na experiência de estar vivo”, sintetiza Barud.
WILSON SANTOS/CPDOC JB
TELEVISÃO Em 7 de dezembro, estreia, na TV Tupi e na TV Rio, a novela O DIREITO DE NASCER, escrita por Thalma de Oliveira e Teixeira Filho. O folhetim é considerado o primeiro grande clássico da teledramaturgia brasileira e tinha no elenco nomes como Nathalia Timberg e Luis Gustavo.
MUNDO Em 26 de junho, é criada a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Trata-se de uma organização política e paramilitar tida pela Liga Árabe desde outubro de 1974 como a única representante legítima do povo palestino. Sua meta era a liberação da Palestina através da luta armada.
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DepoimentosdadosàComissão NacionaldaVerdadeajudama esclarecercrimesdaditadura
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¬ CARLA ALVES ¬ “Você não tem mais o que te-
mer. Sua missão está cumprida. Você venceu”. Com essas palavras a dona de casa Celina Romeu encerrou um emocionado depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV), na última semana. Ela se referia à irmã, Inês Etienne Romeu, que, sentada ao lado dela, viu um pouco do seu martírio ser contado por testemunhos, vídeos e relatos da investigação policial. Única sobrevivente do local que ganhou o nome de Casa da Morte, em Petrópolis, no Rio de Janeiro, Inês foi a última, entre todos os presos políticos, a ser libertada. Hoje, aos 69 anos, anda e fala com dificuldades, fruto de um ataque, ainda não esclarecido, em 2003. Na juventude, como bancária, foi capturada por militares da ditadura. Surrada quase diariamente nos 96 dias em que foi mantida em cárcere na casa, Inês por pouco não chegou à morte. Apanhou, foi estuprada, levou choques. Limpava a cozinha completamente nua, enquanto ouvia gracejos dos homens que a torturavam. Até ser deixada aos trapos, em 1971, na porta da casa da irmã, na Pampulha, em Belo Horizonte, Inês viu vários amigos chegarem à Casa da Morte e saírem mortos. A ex-bancária, que mais tarde se dedicou ao curso de história, só conseguiu ser retirada da casa
após convencer seus torturadores de que se tornaria uma informante do Exército. Oito anos se passaram como presa política, no Rio de Janeiro, até que Inês conseguiu a anistia e pôde finalmente revelar, num depoimento histórico, o que passou. “A Casa da Morte elevou os desaparecimentos a uma política de Estado, operada pelo Exército”, concluiu o coordenador da comissão, Pedro Dallari. A comissão relacionou 27 nomes de desaparecidos políticos que podem ter passado pelo local e, agora, tenta descobrir outros pontos clandestinos de tortura, inclusive em Minas. Com base no depoimento de Inês, a comissão identificou torturadores e saiu em diligências. Há 15 dias, ao receber em sua casa o delegado Daniel Lerner, cedido pela Polícia Federal à CNV, Inês deu mais uma demonstração de ter preservado uma invejável memória. A mulher que conseguiu levar a polícia à Casa da Morte, dez anos após ter vivido no lugar – ela guardou na mente o número da casa, nome do caseiro e até do cachorro mantido pelos militares – , identificou no meio de uma pilha de fotos antigas, um a um, seis homens que a submeteram a rotinas impressionantes de espancamentos. Assim como Inês, outras vítimas das atrocidades praticadas na ditadura encontram na comissão o respaldo para revelarem o que sofreram. Criada em maio de
Sobrevivente. Torturada na Casa da Morte, Inês Etienne teve seu martírio investigado pela Comissão Nacional da Verdade
Reparação moraléfruto detrabalho daComissão deAnistia 2012, a CNV realizou até a última terçafeira 61 audiências públicas, com pelo menos 450 pessoas ouvidas. Só em Minas, foram três eventos públicos. Dos encontros e de depoimentos tomados em sigilo, a comissão tem conseguido importantes avanços na apuração das graves violações dos direitos humanos cometidas no Brasil entre 1946 e 1988. O relatório final, que é um documento público, está marcado para ser concluído em dezembro deste ano. Na prática, algumas medidas já foram possíveis como a definida pela Justiça de São Paulo, que, após recomendação do grupo, determinou a mudança do registro de
TÂNIA RÊGO/ AGÊNCIA BRASIL
óbito do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, com a confirmação de que ele não resistiu aos maus-tratos sofridos nas dependências do Exército. Para Pedro Dallari, o principal desafio à conclusão do relatório é em relação à liberação de documentos secretos das Forças Armadas, que têm a memória dos 21 anos de repressão política. Na semana passada, quando a história da ex-militante Inês Etienne foi mostrada, muitos choraram. Aos responsáveis pela crueldade, mais que revelar seus mistérios, por enquanto, só resta a vergonha.
Com a ação do Estado, que se encarregou de esconder os abusos cometidos na ditadura, desde 2007 a Comissão de Anistia, com atuação nacional, ampliou o trabalho que começou, em 2002, com a missão de atuar na política de reparação moral das vítimas, inclusive com as indenizações necessárias. As Caravanas da Anistia, sessões públicas itinerantes de apreciação de requerimentos de anistia e homenagens a quem lutou contra a ditadura, são um exemplo. “Acontece de ser a primeira vez que a pessoa escuta um pedido de desculpa. É muito emocionante. Tem uma geração nova que precisa ser estimulada para o debate”, explica Amarílis Busch Tavares, diretora na comissão. MEMORIAL. Outro projeto emblemá-
DENILTON DIAS
Minassem avanços Composta por sete membros, a Comissão da Verdade em Minas tem tido uma atuação bastante tímida, segundo seu presidente, o ex-exilado político Antônio Ribeiro Romanelli, 86. O principal problema, segundo ele, é a burocracia. “Temos esbarrado em muitas burocracias, como orçamento e a falta de assessores que poderiam ajudar em pesquisas”, explicou. O entrosamento entre os membros do grupo, segundo o presidente, é outro empecilho. (CA)
O memorial 0Acervo. O espaço contará com uma exposição que combinará imagens, fotos, filmes e cenários das instalações para mostrar a ‘materialidade’ do regime. 0Nomes. No leito de um rio, que passa pelo terreno, serão esculpidos, em pedra-sabão, os nomes dos mortos e desaparecidos. 0Relatos. Todos os 73.000 pedidos de anistia, com relatos de perseguidos políticos, poderão ser consultados. Membros da comissão em Minas se reúnem semanalmente, mas falta avançar
PAZ Em 14 de outubro, o Prêmio Nobel da Paz é concedido ao líder antirracista norteamericano MARTIN LUTHER KING JR., por sua atuação pacifista em favor da extensão dos direitos civis a todos os norte-americanos, sem distinção de raça, cor, sexo ou religião.
RELIGIÃO Em 10 de agosto, o papa Paulo VI publica sua primeira Carta Encíclica. No comunicado, o pontífice se oferece para intervir pela paz em conflitos internacionais e mostrou a intenção de colocar a Igeja em contato com o mundo inteiro.
tico é o Memorial de Anistia Política que será inaugurado até 2016 no antigo prédio da Fafich, no bairro Santo Antônio, importante palco da resistência em Belo Horizonte. “É o primeiro instrumento federal, com abrangência internacional, que vai contar a história do período de ditadura a partir das perspectivas das vítimas”. No acervo estarão todos os 73 mil processos de anistia digitalizados, além de fotos, cartas e vídeos que irão mostrar as formas de repressão e resistência ocorridas entre 1964 e 1985. “A memória é parte da reparação”, explica a diretora. Amanhã, o secretário nacional de Justiça e presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, irá participar de um evento no espaço onde o memorial será instalado. Algumas vítimas serão homenageadas. (CA)
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? o ã ç u l o v e r u o e p l o g , a l Na esco DENILTON DIAS
¬ RODRIGO FREITAS JULIANA BAETA
¬ Entre os estudiosos da ditadu-
ra, há uma espécie de consenso de que os acontecimentos que marcaram a noite de 31 de março de 1964 constituíram um golpe militar. Do outro lado, porém, muitos militares consideram o movimento que resultou na ditadura como uma revolução. No ensino, a divergência permanece viva: nas escolas da rede pública estadual de Minas Gerais, os professores de história trabalham 31 de março sob a perspectiva de golpe. Já no Colégio Militar, alunos ouvidos pela reportagem afirmam que os docentes trabalham o conteúdo sob o ponto de vista de uma revolução. O conteúdo programático preconizado pela Secretaria de Estado de Educação para a ditadura privilegia a construção de uma consciência crítica sobre o período por parte do aluno. E a orientação aos docentes é clara: houve um golpe, não uma revolução. “Nos meios acadêmicos, não se usa a perspectiva de revolução. Nenhum grande historiador defi-
ne como golpe”, afirma Paulo Henrique Rodrigues, analista educacional da área de história da secretaria. Ele diz ainda que as novas perspectivas do ensino já apontam para o conceito de um “golpe civil-militar”. “Havia um setor da sociedade civil que apoiava esse golpe – setores conservadores, classe média e até setores da igreja. Havia ainda apoio dos empresários mineiros”, diz o especialista em educação. Professora de história dos ensinos fundamental e médio nas redes municipal de Contagem e estadual, Clarissa Couto de Souza Bacelete reforça que a chegada dos militares ao poder não pode ser vista como um processo natural ou até mesmo revolucionário. “Nós, professores de história, que tivemos uma base esquerdista e marxista na nossa formação, analisamos e reiteramos essa visão de que houve um golpe em 1964”, explica. O também professor de história Rodrigo César Faria Gomes, que leciona nas redes estadual e municipal de Ribeirão das Neves, trabalha com docentes do Colégio Militar que, segundo ele,
Aprendizado. A professora Clarissa Bacelete ensina aos seus alunos o conceito de golpe militar ocorrido em 1964
são obrigados a tratar o assunto como uma revolução. “A ditadura ainda vive até hoje no Colégio Militar. Os profissionais de lá têm salários diferenciados. São tratados como um pessoal civilmilitar. Devido a essa série de benesses, eles se sujeitam aos mandos do comandante do Colégio Militar”, reclama o professor.
A reportagem procurou o Colégio Militar para esclarecer as diretrizes do ensino sobre a ditadura, mas a escola preferiu não se manifestar. A diretoria também não permitiu que alunos da instituição fossem entrevistados sob o pretexto de que o assunto poderia criar um “sentimento de revanchismo” nos estudantes. RESPOSTA.
Ouvidos por O TEMPO, alunos de uma escola estadual e de uma particular da capital, que estudaram recentemente a ditadura, mostraram que, de forma geral, conseguem conceituar o período, mas não conseguem discernir o contexto do golpe. “Vargas foi um dos presidentes da ditadura, né?”, questiona uma aluna. ALUNOS.
GUSTAVO BAXTER
Minientrevista
G
GabrielPascoaldeCarvalhoFilho Jornalista nascido na noite de 31 de março de 1964
Alguma curiosidade cerca o dia do seu nascimento, além da coincidência de datas? Sim. Meus pais moravam no Lourdes e eu nasceria no Santa Efigênia. Na noite em que nasci, a praça da Liberdade foi tomada pelas Forças Armadas. Com isso, meu pai não conseguiu passar por lá e fui nascer no hospital São José, no Barro Preto, aonde ainda era possível chegar de carro.
do preso. Mas era uma coisa distante de uma criança.
Quando é que você se deu conta de que o país vivia uma ditadura? Quando o golpe tinha dez anos, eu era um garoto. Eu me preocupava em andar de carrinho de rolimã e em jogar futebol na rua. Eu não tinha uma ideia do que acontecia de verdade no país porque, na minha família, não havia políticos. Éramos vizinhos da sogra do deputado federal Genival Tourinho. Eu me lembro dos meus pais comentando que ele tinha sido cassado, que ele tinha si-
Como foi a primeira vez em que você votou? Votei pela primeira vez para governador. E votei em Tancredo Neves. Isso me marcou muito. Ele, para mim, é o maior ícone. Eu fico até emocionado...
ESPORTES Entre 10 e 24 de outubro, a Olímpiada é realizada em Tóquio, no Japão. Em meio à Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética protagonizam uma acirrada disputa por medalhas. Os norte-americanos sagram-se vencedores por causa do maior número de ouro, mas os soviéticos conquistam mais medalhas no cômputo geral.
Como era o ensino? Na escola, não se falava nisso. Os conteúdos de livros didáticos eram totalmente diferentes. Não se falava de revolução nenhuma – não se falava de revolução cubana, de revolução comunista. A gente tinha aula de estudos sociais, que ensinava a gente a moral e cívica.
O que você sentiu quando Tancredo foi eleito presidente, mesmo de forma indireta? Era a vontade do povo que estava sendo seguida. Só aí é que eu tive noção de que a gente não vivia numa democracia. (RF)
CINEMA O diretor Glauber Rocha lança o filme DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL, considerado um marco do cinema novo. A produção conta a história de um casal de sertanejos e tem a participação de nomes como Othon Bastos e Yoná Magalhães.
Ensino Veja o que a Secretaria de Estado de Educação prioriza na formação de alunos sobre a ditadura: 0 Analisar a implantação da ditadura. 0 Identificar as bases jurídicas e institucionais do período. 0 Analisar o aparato repressivo instituído pela ditadura, com apoio da sociedade civil. 0 Analisar os principais movimentos de resistência. 0 Identificar e analisar as restrições à cidadania. 0 Analisar as mudanças no contexto econômico. 0 Analisar o contexto cultural brasileiro antes do golpe. 0 Analisar a implantação dos governos autoritários e da luta armada na América Latina.
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Militaresacreditamqueprogramas comooBolsaFamíliasãobasesde umgolpedeesquerdanoBrasil
o m s i n u m o c o d s í a p o ’ r e d ‘Defen FORO DE SÃO PAULO/DIVULGAÇÃO
¬ CARLA KREEFFT ¬ Ditadura nunca mais! Essa é a
frase mais dita durante os atos que relembram o golpe de 1964. Mas será que o risco de reprise de um golpe e do restabelecimento do regime militar está mesmo afastado? Para algumas lideranças das Forças Armadas, sempre que o “terror do comunismo” rondar o país, cabe aos militares “proteger a nação”. Parte dos militares acredita que está em curso um movimento para implantar o comunismo no Brasil e em toda a América Latina. “Eu não posso prever em quanto tempo. O que eu posso te dizer é que eles já estão no processo revolucionário, e, nesse processo, a primeira coisa que
ocorre é a conquista do governo”, disse o general da reserva Marco Antônio Felício da Silva em palestra realizada no Círculo Militar, em 2013, falando sobre a possibilidade de um golpe comunista no Brasil. Dezenas de sites, de autoria de militares ou não, falam de uma tentativa das esquerdas, especialmente o PT, de estabelecer governos ditatoriais baseados no comunismo. Alguns desses sites não passam de brincadeiras de pessoas que têm como objetivo apenas testar a possível adesão à proposta. Já outros, especialmente os ligados aos militares, falam de uma iniciativa, que começou com a criação do Foro de São Paulo, para implantação do comunismo a partir dos governos considerados populares, como o do Bra-
ASSISTENCIALISMO. Segundo o general Felício, programas sociais como o Bolsa Família têm como objetivo garantir as bases do golpe. Ele ainda afirma que a mídia, que, na opinião dele, é composta por “esquerdistas”, corrobora a intenção de efetivar o golpe. Ele ainda fala de mensagens subliminares que visam criar vínculos diretos entre a população e as lideranças de esquerda. Mas o principal argumento dos que defendem a reorganização das forças militares para “defender” o país de um golpe comunista é a corrupção. Com esse mote, os militares tentam atrair o apoio das famílias brasileiras.
Foro. Para militares e direitistas, governo do PT articula um golpe comunista REPRODUÇÃO/YOUTUBE
ForodeSão Pauloé visto comoameaça pormilitares Em 1990, pelas mãos de Luiz Inácio Lula da Silva, em nome do PT, e de Fidel Castro, foi criado o Foro de São Paulo – uma união de partidos de orientação de esquerda, movimentos populares e sindicatos. O objetivo do colegiado é unir forças políticas consideradas progressistas para fazer frente às políticas neoliberais e à influência dos Estados Unidos sobre os países da América Latina e Caribe. Em documentos do próprio foro, a intenção descrita é assegurar os “alicerces de uma América Latina livre, justa e soberana”. Na visão dos militares, entretanto, o objetivo do Foro de São Paulo não é outro senão a criação de uma frente socialista que quer garantir o comando das nações da América Latina e do Caribe. De acordo com documentos do chamado “Fora, Foro de São Paulo”, movimento realizado no ano passado para alertar a sociedade sobre o risco da volta do comunismo, todos os esforços precisam ser feitos para evitar a ditadura do proletariado. (CK)
sil e o da Venezuela, além da Cuba castrista.
1964. Centenas de milhares vão para as ruas do Rio marchar contra a “ameaça comunista” que rondava o Brasil, governado, na época, por João Goulart
GUSTAVO BAXTER - 22.3.2014
2014. Em Belo Horizonte, a reedição da Marcha da Família com Deus não atrai muitos adeptos; defensores do protesto pedem intervenção militar
POLÍTICA INTERNACIONAL Em 3 de novembro, Lyndon B. Johnson se elege presidente dos Estados Unidos com 61,1% dos votos populares, o maior ganho por um candidato desde 1820. Johnson era vice de John F. Kennedy, assassinado no ano anterior, e já havia assumido a Presidência do país em função da morte do titular.
MERCADO O carismático FUSCA é o carro mais vendido do Brasil, com cerca de 30 mil unidades ao longo do ano, consolidando uma liderança que duraria 23 anos 0 entre 1959 e 1982. Para comparação, o atual líder de vendas, o Volkswagen Gol, vende essa quantidade em pouco mais de um mês.
Depoisde50 anos,famílias serecusama irpara ruas Em março de 1964, depois de um discurso inflamado do presidente João Goulart, em que foram anunciadas medidas como a estatização de refinarias de petróleo e a desapropriação de terras localizadas às margens de rodovias e ferrovias, os setores conservadores e as Forças Armadas se viram munidos de argumentos para justificar o “terror comunista”. A partir de 13 de março, data do discurso, iniciou-se uma campanha, movida por mulheres de militares, setores da igreja e movimentos em defesa da família, que culminou com grandes manifestações nas principais capitais do país, como São Paulo e Rio de Janeiro. Em Belo Horizonte, uma missa realizada na praça Raul Soares, no centro da capital, reuniu milhares de pessoas para pedir proteção contra os comunistas. Enquanto a missa acontecia, as duas rádios locais chamavam os fiéis para participar. Neste ano, tentaram reeditar a marcha, mas, praticamente, não houve adesão. (CK)
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a as ou lítilhcães nema ee revolt o P ria ga Ipa o s m u o móilvia Maa entrea quanpdegou qeuestro, e M S i i a : e r d s a m id Ver e div cono milita cos e balea e s i n e o Ela as de golp ou ba A. F a. aul tra o ssalt os EU banid con as, a dor d da e arm baixa rtura em sa, to pre
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O site da TV Câmara (www.camara.leg.br/ internet/tvcamara) tem alguns documentários sobre o período ditatorial que podem ser baixados gratuitamente