revista palavbras andantes coordenação editorial érica casado sergio cohn tradutores poetas contemporáneos: teresa arijón, com colaboração de érica casado hilda hilst y stela do patrocínio: andrea sanchez valencia e jerónimo pizarro projeto gráfico sergio cohn foto da capa patricia gouvêa, solo da série imagens posteriores editores locales argentina teresa arijón brasil érica casado, pedro rocha e sergio cohn chile hector hernandes montecinos colombia érica casado [conselho editorial: henry alexander gomez, iván hernández e jerónimo pizarro] costa rica luis chaves e paula piedra ecuador cristóbal zapata guatemala alan mills méxico iván garcía lópes e juan alcántara pohls peru andrea cabel e bruno pollack portugal maria joão cantinho uruguay martín barea mattos venezuela luís delgado arria 2
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editorial traduzirmos para re/conhecermos / traducirnos para re/conocernos notas sobre a poesia brasileira contemporânea/ notas sobre la poesía brasileña contemporánea poetas homenageadas / poetas homenajeadas hilda hilst stela do patrocínio
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poetas contemporâneos / poetas contemporáneos guilherme zarvos renato rezende alberto pucheu angélica freitas sergio cohn beso pedro rocha ana martins marques karina rabinovitz amora pêra nina rizzi guilherme gontijo flores bruna mitrano elizeu braga thiago e. italo diblasi danielle magalhães ana paula simonaci regina azevedo
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sobre os poetas / acerca de los poetas
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EDITORIAL palavbras andantes é uma revista de poesia iberoamericana, com edição e distribuição nos diversos países da região, criando uma rede ampla, descentralizada e afetiva de poetas, tradutores, leitores e editores. Bilíngue e quadrimestral, a cada número traz uma ampla antologia da poesia contemporânea de um dos países da rede, além de um ensaio introdutório. em cada edição teremos em torno de 18 poetas que estrearam em livros nos últimos 25 anos, além de dois poetas especialmente homenageados. palavbras andantes possui também uma plataforma digital, www. palavbrasandantes.com, onde é disponibilizado conteúdo textual e audiovisual sobre essas poesias nacionais e intercontinentais. a proposta de palavbras andantes é, para além de criar um evento circunstancial, estimular uma relação duradoura de encontros e trocas entre essas poesias. desta forma, palavbras andantes, além de ser um veículo de difusão e reflexão sobre a poesia iberoamericana, é uma plataforma que fortalece os tão necessários laços entre os países de língua espanhola e portuguesa e as suas literaturas.
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EDITORIAL palavbras andantes es una revista de poesía contemporánea iberoamericana, editada y distribuida en diversos países de la región, que genera una red descentralizada y afectiva de poetas, traductores, lectores y editores. Bilingüe y cuatrimestral, presenta a cada número una amplia antología de poesía contemporánea en uno de los países integrantes de la red, además de un ensayo introductorio: son cerca de 18 poetas publicados por primera vez en los últimos 25 años, además dos poetas homenajeados. palavbras andantes posee, además, una plataforma digital, www. palavbrasandantes.com, donde están disponibles contenidos textuales y audiovisuales sobre esas poesías nacionales e intercontinentales. La propuesta de palavbras andantes es, más allá de crear un evento circunstancial, estimular una relación duradera de encuentros e intercambios entre esas poéticas. Así, palavbras andantes, además de ser un vehículo de difusión y reflexión sobre la poesía contemporánea, es una plataforma que fortalece los necesarios intercambios entre los países de lengua castellana y portuguesa y sus literaturas.
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TRADUZIRMOS PARA RE/CONHECERMOS Um continente exuberante e magnífico. América. Nossa América Latina. O que significa este nome, o que revelam/ocultam essas duas palavras? Um fluxo incomensurável de línguas, como incomensuráveis são os rios que atravessam o nosso território. Línguas aborígenes que resistem na Amazônia e nos arenais das pampas, no sul mais sul do planeta na beira dos Andes, nas ilhas chicoteadas pelos vendavais dos trópicos. Línguas que até hoje cantam nos quilombos. Línguas que chegam das selvas pelo ar. Línguas que respiramos. Línguas potentes na sua fragilidade. Línguas herdadas de outro continente, Europa, em outros séculos: português e espanhol. Línguas agora e sempre insurretas. Línguas amadas que nos incitan a traducirnos. Estamos na mesma terra polifônica, mas nos conhecemos pouco. A fronteira do idioma tem sido contundente entre os países hispânicos e os lusófonos: vale dizer que entre o Brasil e o resto da América Latina. Mas esta linha fronteiriça, como todas as outras, começa a se quebrar, a se romper. Já dizia o grande poeta Waly Salomão. E palavbras andantes, da poesia e da tradução da poesia, propõe uma nova e esperançosa irmandade: um re/conhecimento. Uma vibração comum. A esta aventura nos lançamos amorosamente. A tradução não é uma ponte: é um salto que cria a ponte. Para lá vamos. Aqui estamos. Teresa Arijón
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TRADUCIRNOS PARA RE/CONOCERNOS Un continente exuberante y magnífico. América. Nuestra América Latina. ¿Qué encierra ese nombre, que revelan/ ocultan esas dos palabras? Un caudal de lenguas inconmensurable, como inconmensurables son los ríos que atraviesan nuestro territorio. Lenguas aborígenes que persisten en la Amazonía y en los arenales de las pampas, en el sur más sur del planeta al pie de los Andes, en las islas azotadas por vendavales de los trópicos. Lenguas que hasta hoy cantan en los quilombos. Lenguas que llegan desde las selvas por el aire. Lenguas que respiramos. Lenguas fuertes en su fragilidad. Lenguas heredadas de otro continente, Europa, en otros siglos: portugués y castellano. Lenguas ahora y siempre insurrectas. Lenguas amadas que nos incitan a traducirnos. Estamos en la misma tierra polifónica, pero nos conocemos poco. La frontera del idioma ha sido contundente entre los países hispanohablantes y los lusófonos: vale decir entre Brasil y el resto de América Latina. Pero esa línea de frontera, como todas las otras, empieza a resquebrajarse, a romperse. Ya lo decía el gran poeta Waly Salomão. Y palavbras andantes, desde la poesía y la traducción de poesía, propone una nueva y novedosa hermandad: un re/conocimiento. Una vibración común. A esa aventura nos lanzamos amorosamente. La traducción no es un puente: es el salto que crea el puente. Allá vamos. Aquí estamos. Teresa Arijón
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NOTAS SOBRE A POESIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA 1. A poesia brasileira contemporânea é marcada pela abertura e pluralidade, absorvendo de forma não dogmática as experiências do século XX. 2. Após o salto revolucionário do modernismo brasileiro dos anos 1922-1930, que trouxe para a poesia a ruptura formal, a irreverência, o verso livre, a linguagem cotidiana e a aproximação com diferentes fontes formadoras da cultura brasileira, com os ameríndios e os afroamericanos, a poesia brasileira, em seu campo predominante, retroagiu nas décadas seguintes para uma aventura construtivista e desenvolvimentista, de apuro de linguagem e busca de adequação à modernidade ocidental. Aventura essa que se inicia com as palavras “em estado de dicionário” de Drummond (“entra surdamente no reino das palavras”), segue pelo “engenheiro” de João Cabral de Melo Neto e vai desembocar nas vanguardas tardias da década de 1950 (poesia concreta, neoconcretismo, poesia processo, poema práxis). 3. Um dos sintomas dessa busca de adequação ao mundo moderno é a transição da atenção ao Brasil “profundo” do modernismo heróico (exatamente aquele que seguiu do diálogo inicial com o futurismo e as outras vanguardas da época para o trato com as matrizes não-europeias da nossa cultura) pelo Brasil urbano, acompanhando o período de fortalecimento das grandes cidades, com uma poesia que adota uma linguagem realista, prosaica e cotidiana. Nas vanguardas tardias dos anos 1950, essa estratégia é radicalizada, adotando elementos publicitários e industriais. 4. Assim, se os espaços de linguagem conquistados neste processo de destilação formal foram importantíssimos para 8
NOTAS SOBRE LA POESÍA BRASILEÑA CONTEMPORÁNEA 1. La poesía brasileña contemporánea está fundada en la amplitud y la diversidad, y abarca de forma no dogmática las experiencias del siglo XX. 2. El modernismo brasileño (1922-1930) trajo una revolución a la poesía del país: ruptura formal, irreverencia, verso libre, lenguaje cotidiano y acercamiento con distintas fuentes que participaron en la formación de la cultura brasileña. Con la influencia amerindia y afroamericana, en las décadas siguientes, regresamos a una aventura constructivista, tendiente al purismo en el lenguaje y a la búsqueda de adecuación a la modernidad occidental. Esta aventura se origina en las palabras en “estado de diccionario” de Drummond («entra sordamente en el reino de las palabras»), sigue con el “ingeniero” de João Cabral de Melo Neto y desemboca en las vanguardias tardías de la década de 1950 (poesía concreta, neoconcretismo, poesía proceso, poema praxis). 3. Uno de los síntomas de esta búsqueda de adecuación al mundo moderno es la transición desde la mirada atenta al Brasil “profundo” del modernismo heroico (que surgió del diálogo inicial con el futurismo y otras vanguardias del período para establecer la relación con las matrices no europeas de nuestra cultura) hacia el Brasil urbano, en un momento de predominio de las grandes ciudades con una poesía más realista, prosaica y cotidiana. En las vanguardias tardías de los años cincuenta, esta estrategia se fortalece e incorpora elementos publicitarios y industriales. 4. Ahora bien: aunque las aperturas de lenguaje conquistadas en este proceso de destilación formal fueron importantes para la constitución de una mayor conciencia ex9
a constituição de uma maior consciência expressiva na poesia e para a atualização em relação às literaturas e os pensamentos internacionais, ao mesmo tempo deixaram de lado importantes possibilidades poéticas, como o diálogo com o modernismo não-construtivista (como o surrealismo e o dadaísmo) e com as fontes não-europeias da cultura brasileira. Essas possibilidades começaram a ser revistas a partir da década de 1960, com o surgimento de uma nova geração de poetas, que buscava um engajamento político-existencial marcado pela volta ao verso, após a ruptura estrutural da década anterior. Essa retomada é aprofundada com o surgimento de uma vertente contracultural, primeiro entre os poetas de influência beat-surrealista de São Paulo (Roberto Piva, Claudio Willer, Jorge Mautner), depois com a Tropicália e finalmente com a poesia marginal carioca. Os dois últimos movimentos fortemente marcados pela obra e pelo pensamento de Oswald de Andrade: a Tropicália pelo Manifesto Antropófago e a poesia marginal pela irreverência modernista, em poemas epigramáticos e bem-humorados que dialogavam diretamente com a poesia do autor de “Pau Brasil”. 5. Com a poesia marginal aparece outro ponto fundamental para a poesia brasileira contemporânea: a poesia falada e performática atualizada, informada mais pela cultura pop do que pela tradição dos cantadores e repentistas regionais. O Brasil, apesar ou por conta dos seus altos índices de analfabetismo, se mantém um país de grande valorização da palavra escrita em detrimento da oral. O importante sociólogo Hélio Jaguaribe já o identificou, por conta disso, como um “país cartorial”. Esta característica se mostrou bastante presente na poesia moderna, que traz poucas experiências orais e performáticas, mantendo-se, apesar da renovação de linguagem, como essencialmente livresca. O que começou a
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presiva en la poesía y para la actualización respecto de “las literaturas” y los pensamientos internacionales, al mismo tiempo dejaron de lado posibilidades poéticas fundamentales, como el diálogo con el modernismo no constructivista (surrealismo, dadaísmo) y con las fuentes no europeas de la cultura brasileña. A partir de la década de 1960, con el surgimiento de una nueva generación de poetas comprometidos con lo político-existencial y el regreso al “verso”, este diálogo se retoma con una vertiente contracultural, primero entre los poetas de influencia beat-surrealista de San Pablo (Roberto Piva, Claudio Willer, Jorge Mautner), después con la Tropicália, y por último con la poesía marginal carioca. Los dos últimos movimientos (Tropicália y Poesía Marginal) estaban fuertemente marcados por la obra y el pensamiento de Oswald de Andrade: la Tropicália por el Manifesto Antropófago y la poesía marginal por la irreverencia modernista, con poemas epigramáticos y anecdóticos que dialogaban con la poesía del autor de “Pau-Brasil”. 5. Con la poesía marginal se revela otro punto fundamental para la poesía brasileña contemporánea: la poesía oral y teatralizada, con mayor influencia de la cultura pop que de la tradición de los cantantes y “repentistas” regionales. Brasil, pese a sus altos índices de analfabetismo, o quizás debido a ellos, sigue siendo un país que valora la palabra escrita en detrimento de la oralidad. El importante sociólogo Hélio Jaguaribe, precisamente por esta razón, dijo que somos un “país de notarios”. Esta característica estuvo muy presente en la poesía moderna, que contiene pocas experiencias orales o teatralizadas y continúa siendo, pese a la renovación del lenguaje, esencialmente “libresca”. El grupo carioca Nuvem Cigana —uno de los más reconocidos de la poesía marginal, integrado por los poetas Chacal, Charles Peixoto, Guilherme
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ser revertido em torno do grupo carioca Nuvem Cigana, um dos mais importantes da poesia marginal, formado pelos poetas Chacal, Charles Peixoto, Guilherme Mandaro, Ronaldo Santos e Bernardo Vilhena. Em plena ditadura civil-militar, pós-Golpe de 1964, estes poetas tiveram a coragem de criar uma série de apresentações públicas, denominadas Artimanhas, que uniram a poesia falada com artes visuais, teatro e música, criando um importante espaço de resistência. A partir deste esforço pioneiro, surgiram diversos eventos continuados de performance poética, como a Arte Pornô de Eduardo Kac e Kairo Trindade, que aproveitaram a abertura política do início dos anos 1980 para criar uma poesia libertária e ligada ao corpo, e os Camaleões, grupo formado por Claufe Rodrigues, Pedro Bial e Luiz Petry que melhor traduziu o espírito de paródia de gêneros clássicos daquela década, trazendo uma poesia fortemente calcada na cultura pop. A poesia oral ganha ainda mais força a partir de 1990, com o CEP 20 mil, evento de poesia e música criado pelo mesmo Chacal e por Guilherme Zarvos, que persiste até hoje atraindo centenas jovens para declamar e ouvir poesia. O CEP 20 mil reafirmou, quinze anos depois, a linguagem irreverente e pop da poesia marginal, se tornando um ponto fundamental para a difusão da cultura no Rio de Janeiro. A partir dos anos 2000, os recitais de poesia se multiplicam e conquistam novos públicos, como as regiões periféricas e pobres das grandes cidades, com os saraus de periferia surgidos em São Paulo (Cooperifa, Sarau do Binho, Sarau do Burro) e o Slam, as batalhas de rimas pelas ruas da cidade. 6. A poesia brasileira possuiu, desde o final do século XIX, uma atuação central na cultura brasileira. Poetas agiram como formuladores e propositores de grandes questões culturais. É o caso, a partir do modernismo, da atuação de Má-
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Mandaro, Ronaldo Santos y Bernardo Vilhena— comenzó a revertir la situación. En el auge de la dictadura civil-militar, luego del golpe de 1964, estos poetas tuvieran el coraje de crear una serie de presentaciones públicas, llamadas Artimanhas, que unían la poesía oral con las artes visuales, el teatro y la música, creando de este modo un importante espacio de resistencia. A partir de este emprendimiento pionero surgieron otros eventos continuos de performance poética, como el Arte Porno de Eduardo Kac y Kairo Trindade, quienes aprovecharon la apertura política de los años ochenta para crear una poesía libertaria y vinculada al cuerpo, y los Camaleões, grupo formado por Claufe Rodrigues, Pedro Bial y Luiz Petry, el que mejor supo traducir el espíritu de parodia de los géneros clásicos de la década, con una poesía fuertemente arraigada en la cultura pop. A partir de 1990, la vertiente oral cobra todavía más fuerza con el CEP 20 mil, evento de poesía y música creado por Chacal y Guilherme Zarvos, que hasta hoy reúne centenares de jóvenes dispuestos a leer y escuchar poesía en voz alta. Este evento reafirmó la cultura pop y la poesía marginal, y es reconocido como un espacio fundamental de difusión cultural en Río de Janeiro. A partir de los años 2000, los recitales de poesía se multiplican y logran encontrar nuevos públicos, como las regiones periféricas y pobres de las grandes ciudades, cómo los saraus de periferia en San Pablo (Cooperifa, Sarau do Binho, Sarau do Burro) y el Slam, verdaderas batallas de rimas por las calles de la ciudad. 6. La poesía brasileña ha tenido, desde fines del siglo XIX, una actuación central en la cultura brasileña. Los poetas siempre han sido formuladores y proponentes de grandes temas culturales. Es el caso de, entre otros, Mário de Andrade —pensador e impulsor de la música y las artes visuales,
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rio de Andrade como pensador e fomentador não apenas da literatura, mas da música e as artes visuais, de Vinicius de Moraes e seu papel central na Bossa Nova nos anos 1950, de Torquato Neto e Capinam e a Tropicália nos anos 1960, de Waly Salomão e o mesmo Torquato Neto e a cultura marginal dos anos 1970, inclusive nas experiências audiovisuais e musicais, de Bernardo Vilhena e Arnaldo Antunes e o movimento entorno do Rock Brasil dos anos 1980. Mas, a partir da segunda metade da década de 1980, a poesia se afastou do pensamento amplo sobre a cultura, focando seus esforços na metalinguagem e no diálogo restrito ao meio literário. Se durante esse período surgiram poetas de grande qualidade expressiva, a sua atuação não conseguiu transcender o público leitor especializado e conquistar a força interventiva da poesia nas outras áreas da cultura e da sociedade. 7. Essa postura fechada dos poetas vem junto com um refluxo formalista, após a liberdade e o despojamento da poesia marginal. Desde a segunda metade da década de 1980, formas clássicas da poesia, como o soneto, são recuperadas pelos poetas mais jovens, como Glauco Mattoso, Antonio Cicero e Paulo Henriques Britto, mesmo que utilizando de uma linguagem contemporânea e irreverente. Esse refluxo é intensificado na virada da década de 1990, com o surgimento de uma geração valorizada por seu rigor estético e conhecimento do campo poético nacional e internacional, com autores como Carlito Azevedo, Claudia Roquette-Pinto e Eucanaã Ferraz. 8. Esse esforço formal surge em paralelo com a abertura de diálogos entre campos expressivos, por conta da morte dos últimos grandes nomes do nosso modernismo (Drummond e João Cabral de Melo Neto) e da perda de força do embate entre diferentes posturas estéticas. A partir dos anos 1990,
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además de la literatura— y Vinícius de Moraes, quien jugó un papel central en la Bossa Nova en los años cincuenta; Torquato Neto y la cultura marginal de los años setenta; e incluso las experiencias audiovisuales y musicales de Bernardo Vilhena y Arnaldo Antunes y el movimiento que se desarrolló alrededor del Rock Brasil de los años ochenta. Sin embargo, a partir de la segunda mitad de la década de 1980, la poesía se aleja de este pensamiento amplio sobre la cultura y enfoca sus esfuerzos en el metalenguaje y en un diálogo restringido al medio literario. Así, aunque en este período surgieron importantes poetas en términos de calidad expresiva, su actuación no logró trascender al público lector especializado ni intervenir en otras áreas de la cultura y la sociedad. 7. Esta postura cerrada de los poetas viene acompañada del regreso formalista, después de haber experimentado la libertad y el despojamiento de la poesía marginal. Desde la segunda mitad de la década de 1980, los poetas más jóvenes, como Glauco Mattoso, Antonio Cicero e Paulo Henriques Britto, comienzan a recuperar formas clásicas de la poesía, como el soneto, aunque utilizando un lenguaje contemporáneo y irreverente. Este regreso se intensifica a fines de la década de 1990, cuando surge una generación valorada por su rigor estético y su conocimiento del panorama poético nacional e internacional, con autores como Carlito Azevedo, Claudia Roquette-Pinto y Eucanaã Ferraz. 8. Este esfuerzo formal surge paralelamente a la apertura del diálogo entre diversos campos expresivos, debido a la muerte de los últimos grandes representantes del modernismo brasileño (Drummond y João Cabral de Melo Neto) y la pérdida de fuerza del combate entre diferentes posturas estéticas. A partir de los años noventa fue posible, e nove-
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foi possível de maneira inédita para os poetas jovens não tomarem posições fechadas e predeterminadas em relação à sua filiação poética. Desta forma, as leituras se ampliam, permitindo um maior contágio de autores com diferentes posturas estéticas – os poetas começam a fluir e se influenciar de vozes até então tidas como contraditórias, como por exemplo a poesia construtivista de Augusto e Haroldo de Campos, a poesia engajada politicamente de Ferreira Gullar, a poesia irreverente e pop de Chacal e Cacaso e a poesia libertária e delirante de Roberto Piva e Hilda Hilst. As linguagens se tornam mais móveis e abertas. 9. O avanço das tecnologias gráficas nos anos 1990, com a ampliação do acesso a impressão de livros em baixa tiragem e sob demanda, permite que pequenas editoras publiquem uma quantidade maior de títulos de poesia contemporânea. Entre 1996 e 1998, centenas de novos títulos são colocados no mercado, contra a média de poucas dezenas dos anos anteriores. Isso possibilita que uma nova geração apareça, com uma produção bem informada e de alta qualidade. Ao mesmo tempo, a avalanche de novos títulos dificulta o mapeamento crítico e o acesso ao público, trazendo vários livros que, a despeito da sua grande qualidade, não conseguiram leitores como merecido. 10. A difusão de poesia, e a consequente multiplicação de novos autores, são intensificadas de forma radical com um novo salto tecnológico, desta vez em contexto digital, através da ampliação do acesso da população brasileira à Internet na primeira década dos anos 2000. Blogs, sites e revistas digitais se difundem, criando espaço para que poetas publiquem seus textos sem a intermediação crítica e o filtro de editores. De forma inovadora, a Internet possibilita que autores baseados em locais distantes dos grandes centros
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doso para los poetas jóvenes, no tener que adoptar posturas cerradas y predeterminadas en relación a su filiación poética. Así, las lecturas se ampliaron y permitieron un mayor diálogo entre autores de diferentes posiciones estéticas: los poetas comienzan a fluir y a dejarse influir por voces hasta el momento consideradas contradictorias, como por ejemplo la poesía constructivista de Augusto y Haroldo de Campos, la poesía políticamente comprometida de Ferreira Gullar, la poesía irreverente y pop de Chacal y Cacaso, y la poesía libertaria y delirante de Roberto Piva e Hilda Hilst. Los lenguajes se vuelven más dinámicos y abiertos. 9. El avance de las tecnologías gráficas en los años noventa, que aumentó el acceso a la impresión de libros con tiradas pequeñas y por demanda, permite que las editoriales independientes publiquen más libros de poesía contemporánea. Entre 1996 y 1998 se distribuyeron centenas de nuevos títulos en el mercado, superando el promedio de años anteriores. Esto ha posibilitado la aparición de una nueva generación de poetas, con una producción bien informada y de alta calidad. Por otro lado, esta avalancha de nuevos títulos dificulta el mapeo crítico y el acceso al público, lo cual hace que muchos de esos libros, pese a su enorme calidad poética, no consigan llegar a los lectores como merecen. 10. La difusión de la poesía y la consecuente multiplicación de nuevos autores, son intensificadas con un nuevo salto tecnológico, ahora en contexto digital, a través de la ampliación del acceso de la población brasileña a la internet en la primera década de los años 2000. Blogs, sitios de internet y revistas digitales se amplifican, generando espacios a los poetas para la publicación de sus textos sin intermediarios críticos o editores. Así, de forma innovadora, la internet permite que autores residentes en localidades alejadas de los
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consigam difundir suas obras, assim como acessar a produção poética de forma imediata. Tudo isso possibilita uma real democratização do fazer poético, que infelizmente não é acompanhada nem de maiores experimentações formais, mantendo em sua maioria o perfil versificado e livresco da poesia corrente, sem aproveitar das possibilidades técnicas do meio digital (interatividade e autoria aberta, por exemplo), nem por uma reflexão crítica externa. 11. A crítica literária, em paralelo, enfrenta uma crise de espaço e representação nas últimas décadas. Entre os fatores constituintes dessa crise está o desaparecimento dos suplementos literários dos jornais e revistas, que não são substituídos por novos suportes em contexto físico e digital; o crescente distanciamento entre a universidade e a sociedade, fazendo com que os pesquisadores de literatura não se atualizem em relação à produção contemporânea, mantendo as suas reflexões restritas a autores consagrados e aos espaços e veículos acadêmicos, sem gerar diálogos para além dos pares; e o afastamento existencial entre os críticos e os artistas. Esta divisão entre produção e crítica é uma ruptura numa trajetória de relação próxima, muitas vezes cotidiana, entre os pensadores críticos e os artistas, que vem desde o simbolismo e passa por grandes poetas-críticos, como Mário Faustino e Cacaso. Como consequência deste afastamento, a crítica deixa de ser propositiva, acompanhando e influindo diretamente na constituição dos movimentos literários, para se tornar apenas reflexiva das obras produzidas. Em outras palavras, deixa de ser contemporânea da produção poética, vindo a reboque desta, até não conseguir mais nem abarcar nem compreender a sua vitalidade expressiva. 12. A partir dos anos 2000, o Brasil entrou numa nova efervescência político-cultural. A poesia de repente se viu impreg-
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grandes centros puedan difundir sus obras y acceder a la producción poética ajena en tiempo real. Este panorama promueve una real democratización del hacer poético, pero que no significa la intensificación de los experimentos formales, manteniendo una producción “versificada y libresca” de la poesía, sin las posibilidades técnicas del medio digital (interactividad y autoría abierta, por ejemplo) o una reflexión crítica externa. 11. La crítica literaria, en este mismo tiempo, enfrenta la crisis de representación y lugar en las últimas décadas. Entre los factores formadores de esta crisis está el desaparecimiento de los periódicos y revistas literarias, que no son sustituidos por nuevos soportes, ni físicos, ni digitales; así mismo, la universidad y la sociedad actúan cada vez más aisladas y los investigadores de literatura cada vez menos se actualizan de la producción contemporánea, restringiendo sus reflexiones a autores reconocidos y los espacios y vehículos académicos, así mismo, a sus ambientes y pares; cada vez más, hay una isla entre críticos y artistas. Esta división, entre producción y crítica rompe una trayectoria de acercamiento, muchas veces rutinera, entre pensadores y artistas, que nace desde el simbolismo y contempla los grandes poetas-críticos, como Mário Faustino y Cacaso. En consecuencia, la crítica deja de ser propositiva, no acompaña o influye directamente los movimientos literarios y se cambia en ser apenas reflexiva de las obras producidas. Mejor dicho, no es más contemporânea a la producción poética, pues la sigue retrasada, hasta no lograr más involucrar o entender su vitalidad expresiva. 12. A partir de los años 2000, Brasil inició un nuevo momento de gran efervescencia político-cultural. La poesía recibió una avalancha de nuevos autores: la red digital y las políticas
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nada de novos autores: a rede digital e as políticas públicas daqueles oito anos em que pareceu que poderíamos mudar os rumos do país, o governo Lula, entre 2003 e 2010, como os Pontos de Cultura, trouxeram para o meio uma maior visibilidade de corpos então marginais, vindos de diferentes regiões e naturezas. E estes corpos trouxeram junto outras questões. Mulheres, LGBTQ+, quilombolas, ribeirinhos, indígenas, jovens periféricos e tantos outros invadiram um espaço antes restrito a garbosos alunos brancos de Direito dos grandes centros – os senhores de campos e espaços que tanto ditavam gestos e gostos. E o horizonte se abriu. 13. Com essa abertura de relação entre poesia, corpo e vida, o rigor expressivo dos anos 1990 vem sendo trocado por uma maior irreverência. Embora ainda muito bem informados, talvez até mais pelos facilitários de acesso do meio digital, os novos poetas não buscavam demonstrar erudição em suas obras, como era tanto de feitio na década anterior. O conhecimento do fazer poético se torna implícito em poemas com uma forma mais livre, que escondem a consciência da linguagem sob um tom de despojamento. Essa irreverência permitiu a entrada de assuntos menores e cotidianos na poesia, assim como a volta de um humor insuspeito. E, aos poucos, os crescentes questionamentos sobre os espaços e as possibilidades dos diferentes corpos e as novas formas políticas foram emergindo na poesia jovem, em diálogo com os movimentos identitários e autonomistas. 14. Em Junho de 2013, um levante inédito aconteceu pelas ruas brasileiras. A inquietação crescente com os rumos políticos, vinda de pessoas de diferentes espectros ideológicos, tomou as cidades. E pela primeira vez em décadas as manifestações foram marcadas não por uma trilha sonora, mas por uma série de cartazes com versos, autorais ou de gran-
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públicas de los ocho años del Gobierno Lula (2003-2010), sumadas a los Pontos de Cultura, otorgaron una mayor visibilidad a cuerpos hasta entonces marginados, provenientes de diferentes regiones y naturalezas. Y estos cuerpos diversos iluminaran otros temas. Mujeres, LGBTQ+, quilombolas, ribeirinhos, indígenas, jóvenes de la periferia y otros grupos invadieron un espacio hasta entonces restringido a los elegantes alumnos blancos de Derecho de los grandes centros urbanos: los señores de campos y espacios que imponían a mansalva gestos y gustos. El horizonte se amplió. 13. Con la apertura de la relación entre poesía, cuerpo y vida, el rigor expresivo de los años noventa está siendo reemplazado por una magnífica irreverencia. Pese a estar muy bien informados, quizás incluso más por las facilidades mismas que brinda el acceso a los medios digitales, los nuevos poetas no buscaban dar muestras de erudición en sus obras, como se estilaba en la década anterior. El conocimiento del hacer poético está implícito en los poemas de forma más libre, que disimulan la conciencia del lenguaje adoptando un tono más fresco. Esta irreverencia permitió la aparición de temas menores y más cotidianos en la poesía, y el regreso de un humor insospechado. Los crecientes cuestionamientos sobre los espacios y las posibilidades de los diferentes cuerpos y formas políticas emergieron poco a poco en la poesía joven, en diálogo con los movimientos identitarios y autonomistas. 14. En junio de 2013, una protesta inédita atravesó las ciudades y calles brasileñas. La inquietud creciente por la política nacional, sentida por personas de diferentes grupos ideológicos, se adueñó del país. Por primera vez en décadas, las manifestaciones no tenían “playlist” pero sí representación estética en carteles con versos, de autoría anónima o de artistas reconocidos. La diversidad del momento no permitía
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des nomes. Em acordo com a pluralidade do momento, não havia coro, mas corpos singularizados. Talvez como consequência da tecnologia daquele momento – o desejo anfíbio dos manifestantes de estarem ao mesmo tempo nas ruas e nas redes, trabalhando com dispositivos móveis digitais que ainda eram, por limitação de dados, mais propícios a imagens estanques do que a vídeos e a áudios. Mas também é preciso ressaltar que não seria possível a força da poesia naquele instante sem a sintonia da juventude que foi para as ruas com a poesia que estava sendo feita e divulgada no Brasil. Lembrando que aquele foi o ano das vendas recordes da obra completa de Paulo Leminski e a poesia estava na ordem do dia. 15. Se a poesia tomou as ruas, as ruas também tomaram a poesia: multiplicaram-se poemas feitos em torno do levante de Junho. Uma reunião destes textos foi organizada e publicada autonomamente por Fabiano Calixto e Eduardo Sterzi, “Vinagre – uma antologia de poetas neo-barraco”. Na apresentação, o poeta e crítico Alberto Pucheu deixava claro o tom descentralizado, plural e horizontal do levante, e avisava: “o que está acontecendo parece ser um berro por mais possibilidade de decisão das pessoas sobre o destino das cidades e do país, sobre seus próprios destinos, para que elas possam viver um pouco mais de acordo com o que desejam para os lugares que habitam e para si mesmas”. 16. Mas, se a repressão violenta do Estado não permitiu a continuidade do Levante de Junho nem o trato das questões complexas que o acompanhavam, a poesia já havia tomado gosto por sua atuação política. Antologias de poemas políticos e temáticos acompanhavam cada novo acontecimento. Algumas mantendo o tom autonomista, como a vinculada às ocupações das escolas pelos estudantes secundaristas
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unificar voces, sino solamente singularizar cuerpos. Tal vez debido a la tecnología del momento: el deseo anfibio de los manifestantes de estar en las calles y en las redes sociales al mismo tiempo, trabajando con los dispositivos móviles digitales que, debido a la limitación de datos, eran más propicios a las imágenes estancadas que a los audios y videos. Sin embargo, es necesario destacar que la fuerza de la poesía no habría sido posible en aquel momento sin la sintonía de la juventud que salió a las calles con la poesía que se estaba haciendo y divulgando en Brasil. No olvidemos que 2013 fue el año del récord de ventas de la obra completa de Paulo Leminski, y que la poesía estaba “a la orden del día”. 15. Si la poesía tomó las calles, las calles también tomaron la poesía: los poemas acerca del levantamiento político de junio se multiplicaron. Fabiano Calixto y Eduardo Sterzi organizaron y publicaron de forma independiente una compilación de esos textos: “Vinagre - uma antologia de poetas neo-barraco”. En la presentación, el poeta y crítico Alberto Pucheu destacó el tono descentralizado, plural y horizontal del levantamiento, con una advertencia: “lo que está pasando se asemeja a una protesta por más autonomía de decisión de las personas sobre el destino de sus ciudades y del país, sobre sus propios destinos, para que puedan vivir un poco más de acuerdo con lo que desean para los lugares que habitan y para sí mismas.” 16. Pero, aunque la represión violenta del Estado impidió la continuidad del Levantamiento de Junio y el debate acerca de las cuestiones complejas que lo acompañaron, la poesía ya le había tomado el gusto a la actuación política. Antologías de poemas políticos y temáticos acompañaron cada nuevo acontecimiento. Algunas de tono apartidario, como las que trataban sobre las ocupaciones de las escuelas en
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em 2015. Mas outras trazendo um tom mais partidário, de adesão a governos e projetos de poder. A relação entre poesia e política, frente a um conturbado momento político, se transformou novamente. E o questionamento sobre a força singular da poesia no trato político também: é possível um poema a favor do poder, qual seja este? Ou o poema, assim como o humor, é uma forma de contraposição? Um poema a favor, assim como o humor, se torna apenas peça publicitária? Seria esse o fim do poema político? Quando perde seu poder de insurreição e resistência e vira um panfleto? Estaríamos voltando aos problemas estruturais da poesia política do século XX? A submissão a projetos políticos pré-concebidos? Aquela que, com raríssimas exceções, se demonstrou inócua para a mudança social e frágil para a literatura? 17. De toda forma, a poesia brasileira contemporânea se manteve, desde então, impregnada de posturas políticas ligadas aos movimentos identitários, com o feminismo, a negritude e o ameríndio. E tem conquistado um público mais amplo que o habitual entre a juventude, especialmente com autoras como Angélica Freitas e Ana Martins Marques. A poesia voltou, de forma inequívoca, a se tornar uma linguagem central na reflexão sobre o Brasil contemporâneo e suas demandas e possibilidades, estabelecendo um diálogo de grande força e qualidade com as outras artes e áreas do conhecimento. Nos dizeres da crítica e poeta Kátia Maciel, estamos vivendo o momento mais extraordinário da poesia brasileira, por conta da grande quantidade de poetas de alto nível, capazes de tratar temas relevantes e de conquistar ressonância na sociedade. 18. É esta poesia que apresentamos aqui, nesta palavbras andantes 1 antologia Brasil, através de 19 poetas contemporâneos e duas poetas homenageadas, Hilda Hilst e Stela
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2015; otras de tono claramente partidario, de adhesión manifiesta a gobiernos y proyectos de poder. La relación entre política y poesía, en este momento político convulsionado, ha vuelto a transformarse. Y también se ha transformado el cuestionamiento sobre la fuerza singular de la poesía en la discusión política: ¿es posible un poema a favor del poder, cualquiera sea este? ¿O el poema, así como el humor, es una forma de contraposición? ¿Un poema a favor de la política, así como el humor, se convierte en publicidad? ¿Esta sería la finalidad del poema político? ¿Cuando pierde su poder de insurrección y resistencia y se transforma en panfleto? ¿Estaríamos volviendo a los problemas estructurales del siglo XX? ¿A la sumisión a proyectos políticos preconcebidos? ¿Aquella que, con rarísimas excepciones, demostró ser inocua para el cambio social y frágil para la literatura? 17. De igual manera, la poesía brasileña contemporánea ha estado, desde entonces, colmada de posturas políticas vinculadas a movimientos identitarios como el feminismo, la negritud y el amerindio. Y cada día que pasa conquista un público más numeroso que el habitual entre los jóvenes, especialmente con autoras cómo Angélica Freitas y Ana Martins Marques. La poesía recuperó, sin equívocos, su lugar como lenguaje central para la reflexión sobre el Brasil contemporáneo y sus demandas y posibilidades, estableciendo un diálogo de gran fuerza y calidad con las otras artes y áreas del conocimiento. Como dijo Kátia Maciel, poeta y crítica, estamos viviendo el momento más extraordinario de la poesía brasileña, por la gran cantidad de poetas de alto nivel, capaces de tratar temas relevantes y hacer que resuenen en la sociedad. 18. Esta es la poesía que presentamos en esta palavbras andantes 1 antología Brasil, a través de 19 poetas contempo-
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do Patrocínio. Hilda está hoje sendo reconhecida como uma das maiores poetas brasileiras, autora de uma obra singular que une lirismo, sexualidade e temas místicos e gnósticos. Stela foi uma interna do hospital psiquiátrico de Engenho de Dentro, o mesmo onde viveu Arthur Bispo do Rosário. Assim como ele, Stela era uma negra pobre, que deixou uma obra original de grande intensidade. Os poetas reunidos nesta antologia percorrem um grande território de origens, temas e expressões. É evidente que não seria possível abarcar a imensa diversidade da poesia brasileira contemporânea em apenas uma antologia, mas alguns dos seus principais campos de força estão presentes aqui, em algumas das suas vozes mais potentes. 19. O que resta é, acima de tudo, a poesia. Sergio Cohn
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ráneos y dos poetas homenajeadas: Hilda Hilst y Stela do Patrocínio. Hilda comienza a ser reconocida como una de las mejores poetas brasileñas, autora de una obra singular que une lirismo, sexualidad y temas metafísicos y gnósticos. Stela fue una interna en el hospital psiquiátrico de Engenho de Dentro, el mismo donde vivió Arthur Bispo do Rosario (uno de los artistas más importantes de Brasil). Stela era una negra pobre, que dejó una obra obra original, inédita e intensa. Los poetas que acompañan a estas dos grandes homenajeadas conforman un vasto territorio de orígenes, temas y expresiones. Es evidente que no podremos abarcar toda la diversidad poética contemporánea de Brasil en una sola antología, pero algunos de sus principales campos de fuerza están presentes aquí, en algunas de sus voces más potentes. 19. Lo que importa, sobre todo, es la poesía. Sergio Cohn
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HILDA HILST (1930-2004) Sendo quem sou, em nada me pareço. Desloco-me no mundo, ando a passos E tenho gestos e olhos convenientes. Sendo quem sou Não seria melhor ser diferente E ter olhos a mais, visíveis, úmidos Ser um pouco de anjo e de duende? Cansam-me estas coisas que vos digo. As paisagens em ti se multiplicam E o sonho nasce e tece ardis tamanhos. Cansam-me as esperanças renovadas E o verso no meu peito repetido. Cansa-me ser assim quem sou agora: Planície, monte, treva, transparência. Cansa-me o amor porque é centelha E exige posse e pranto, sal e adeus. Queres o verso ainda? Assim seja. Mas viverás tua vida nesses breus. * Sobrevivi à morte sucessiva das coisas do teu quarto. Vi pela primeira vez a inútil simetria dos tapetes e o azul diluído Azul-branco das paredes. E uma fissura de um verde anoitecido Na moldura de prata. E nela o meu retrato adolescente e gasto. E as gavetas fechadas. Dentro delas aquele todo silencioso e raro 28
HILDA HIST (1930-2004) Siendo quien soy, en nada me parezco. Me muevo en el mundo, ando a pasos. Y tengo gestos y ojos convenientes. Siendo quien soy No sería mejor ser diferente Y tener demasiados ojos, visibles, húmedos. ¿Ser un poco de ángel y de duende? Me cansan estas cosas que os digo. Los paisajes en ti se multiplican Y el sueño nace y teje magnas artimañas. Me cansan las esperanzas renovadas Y el verso en mi pecho repetido. Me cansa ser quien soy ahora: Planicie, monte, tiniebla, transparencia. Me cansa el amor porque es centella Y exige posesión y llanto, sal y partidas. ¿Todavía quieres el verso? Que así sea. Pero vivirás tu vida en esas breas. * Sobreviví a la muerte sucesiva de las cosas de tu cuarto. Vi por primera vez la inútil simetría de los tapetes y el azul diluído Azul-blanco de las paredes. Y una fisura de un verde anochecido En el marco de plata. Y en ella mi retrato adolescente y gastado. Y los cajones cerrados. Dentro de ellas aquel todo silencioso y raro 29
Como um barco de asas. Que fome de tocar-te nos papéis antigos! Que amor se fez em mim, multiforme e calado! Que faces infinitas eu amei para guardar teu rosto primitivo! Desce da noite um torpor singular, água sob o casco de um velho veleiro Calcinado. Em mim, o grane limbo de lamento, de dor, e o medo de esquecer-te De soltar estas âncoras e depois florir sem ao menos guardar tua ressonância. Abraça-me. Um quase nada de luz pousou na tua mesa E expandiu-se na cor, como um pequeno prisma. * De tanto te pensar, Sem Nome, me veio a ilusão, A mesma ilusão Da égua que sorve a água pensando sorver a lua. De te pensar me deito nas aguadas E acredito luzir e estar atada Ao fulgor do costado de um negro cavalo de cem luas. De te sonhar, Sem Nome, tenho nada Mas acredito em mim o ouro e o mundo. De te amar, possuída de ossos e de abismos Acredito ter carne e vadiar Ao redor dos teus cimos. De nunca te tocar Tocando os outros Acredito ter mãos, acredito ter boca Quando só tenho patas e focinho. Do muito desejar altura e eternidade Me vem a fantasia de que Existo e Sou.
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Como un barco de alas. ¡Qué hambre de tocarte en los papeles antiguos! ¡Qué amor se hizo en mí, multiforme y callado! ¡Qué semblantes infinitos yo amé para guardar tu rostro primitivo! Baja de la noche un letargo singular, agua bajo el casco de un viejo velero Calcinado. En mí, el gran limbo de lamento, de dolor, y el miedo de olvidarte De soltar estas anclas y después florecer sin guardar siquiera tu resonancia. Abrázame. Una gota de luz aterrizó en tu mesa Y se expandió en el color, como un pequeño prisma. * De tanto pensarte, Sin Nombre, me vino la ilusión, La misma ilusión De la yegua que sorbe el agua pensando sorber la luna. De pensarte me tiendo en las aguadas Y creo brillar y estar atada Al fulgor del costado de un negro caballo de cien lunas. De soñarte, Sin Nombre, tengo nada Pero creo tener el oro y el mundo. De amarte, poseída de huesos y de abismos Creo tener carne y errar Alrededor de tus cumbres. De nunca tocarte Tocando a otros Creo tener manos, creo tener boca Cuando sólo tengo patas y hocico. De mucho desear altura y eternidad Me viene la fantasía de que Existo y Soy.
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Quando sou nada: égua fantasmagórica Sorvendo a lua n’água. * alcoolicas
I É crua a vida. Alça de tripa e metal. Nela despenco: pedra mórula ferida. É crua e dura a vida. Como um naco de víbora. Como-a no livor da língua Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me No estreito-pouco Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida Tua unha plúmbea, meu casaco rosso. E perambulamos de coturno pela rua Rubras, góticas, altas de corpo e copos. A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos. E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima Olho d’água, bebida. A vida é líquida. II Também são cruas e duras as palavras e as caras Antes de nos sentarmos à mesa, tu e eu, Vida Diante do coruscante ouro da bebida. Aos poucos Vão se fazendo remansos, lentilhas d’água, diamantes Sobre os insultos do passado e do agora. Aos poucos Somos duas senhoras, encharcadas de riso, rosadas De um amor, um que entrevi no teu hálito, amigo Quando me permitiste o paraíso. O sinistro das horas Vai se fazendo tempo de conquista. Langor e sofrimento
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Cuando soy nada: yegua fantasmagórica Sorbiendo la luna en el agua. * alcohólicas
I Es cruda la vida. Cinturón de tripa y metal. En ella me derrumbo: piedra morosa herida. Es cruda y dura la vida. Como un pedazo de víbora. La como en la lividez de la lengua enrojecida, te lavo los antebrazos, Vida, me lavo En la estrechez-escasa De mi cuerpo, lavo las vigas de los huesos, mi vida Tu uña plúmbea, mi abrigo rosso. Y deambulamos de coturno por la calle Impetuosas, góticas, altas de cuerpo y tragos. La vida es cruda. Hambrienta como el pico de los cuervos. Y puede ser tan generosa y mítica: arroyo, lágrima Manantial, bebida. La vida es líquida. II También son crudas y duras las palabras y las caras Antes de que nos sentemos a la mesa, tú y yo, Vida Frente al ofuscante oro de la bebida. Poco a poco Se van formando remansos, lentejas de agua, diamantes Sobre los insultos del pasado y del ahora. Poco a poco Somos dos señoras, bañadas de risa, rosadas De un amor, uno que vislumbré en tu aliento, amigo Cuando me permitiste el paraíso. Lo siniestro de las horas Se va volviendo tiempo de conquista. Languidez y sufrimiento
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Vão se fazendo olvido. Depois deitadas, a morte É um rei que nos visita e nos cobre de mirra. Sussurras: ah, a vida é líquida. III Alturas, tiras, subo-as, recorto-as E pairamos as duas, eu e a Vida No carmim da borrasca. Embriagadas Mergulhamos nítidas num borraçal que coaxa. Que estilosa galhofa. Que desempenados Serafins. Nós duas nos vapores Lobotômicas líricas, e a gaivagem se transforma em galarim, e é translúcida A lama e é extremoso o Nada. Descasco o dementado cotidiano E seu rito pastoso de parábolas. Pacientes, canonisas, muito bem-educadas Aguardamos o tépido poente, o copo, a casa. Ah, o todo se dignifica quando a vida é líquida IX Se um dia te afastares de mim, Vida — o que não creio Porque algumas intensidades têm a parecença da bebida — Bebe por mim paixão e turbulência, caminha Onde houver uvas e papoulas negras (inventa-as) Recorda-me, Vida: passeia meu casaco, deita-te Com aquele que sem mim há de sentir um prolongado vazio. Empresta-lhe meu coturno e meu casaco rosso: compreenderá O porquê de buscar conhecimento na embriaguês
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Se van volviendo olvido. Ya acostadas, la muerte Será un rey que nos visite y nos cubra de mirra. Susurras: ah, la vida es líquida. III Alturas, tiras, las subo, las corto Y sobrevolamos las dos, yo y la Vida En el carmín de la borrasca. Embriagadas Nos sumergimos nítidas en un pantano que croa. Qué elegante broma. Qué desenvueltos Serafines. Nosotras dos en los vapores Lobotómicas líricas, y la reguera Se corona en cresta, y es traslúcida La lama y es delicada la Nada. Descascaro el desquiciado cotidiano Y su rito pastoso de parábolas. Pacientes, canónigas, muy bien educadas Aguardamos el tibio atardecer, la copa, la casa. Ah, todo se dignifica cuando la vida es líquida IX Si un día te apartaras de mí, Vida – lo cual no creo Porque algunas intensidades tienen el aire de la bebida – Bebe por mí pasión y turbulencia, camina Donde haya uvas y amapolas negras (invéntalas) Recuérdame, Vida: pasea mi abrigo, recuéstate Con quien sin mí ha de sentir un prolongado vacío. Préstale mi coturno y mi abrigo rosso: comprenderá El porqué de buscar conocimiento en la embriaguez
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da via manifesta. Pervaga. Deita-te comigo. Apreende a experiência lésbica: O êxtase de te deitares contigo. Beba. Estilhaça a tua própria medida. * Que este amor não me cegue nem me siga. E de mim mesma nunca se aperceba. Que me exclua do estar sendo perseguida E do tormento De só por ele me saber estar sendo. Que o olhar não se perca nas tulipas Pois formas tão perfeitas de beleza Vêm do fulgor das trevas. E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro. Que este amor só me faça descontente E farta de fadigas. E de fragilidades tantas Eu me faça pequena. E diminuta e tenra Como só soem ser aranhas e formigas. Que este amor só me veja de partida.
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de la vía manifiesta. Vaguea. Acuéstate conmigo. Aprehende la experiencia lésbica: El éxtasis de acostarte contigo. Bebe. Despedaza tu propia medida. * Que este amor no me ciegue ni me siga. Y de mí misma nunca se percate. Que me excluya de estar siendo perseguida Y del tormento De solo por él saberme estar siendo. Que la mirada no se pierda en los tulipanes Pues formas tan perfectas de belleza Vienen del fulgor de las tinieblas. Y mi Señor habita el resplandeciente oscuro De un supuesto de hiedras en alto muro. Que este amor solo me haga infeliz Y harta de fatigas. Y de fragilidades tantas Yo me haga pequeña. Y diminuta y tierna Como solo suelen ser arañas y hormigas. Que este amor solo me vea de partida.
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STELA DO PATROCÍNIO (1941-1992) Eu sou Stela do Patrocínio Bem patrocinada Estou sentada numa cadeira Pegada numa mesa nega preta e crioula Eu sou uma nega preta e crioula Que a Ana me disse * Nasci louca Meus pais queriam que eu fosse louca Os normais tinham inveja de mim Que era louca * Meu passado foi um passado de areia Em mar de Copacabana Cachoeira de Paulo Afonso Bem dentro da Lagoa Rodrigo de Freitas No Rio de Janeiro O futuro eu queria Ser feliz E encontrar a felicidade sempre E não perder nunca o gosto de estar gostando O que eu penso em fazer da minha vida É encontrar a felicidade, ser feliz Ficar gostando e não perder o gosto 38
STELA DO PATROCÍNIO (1941-1992) Yo soy Stela do Patrocínio Bien patrocinada Estoy sentada en una silla Pegada a una mesa negada negra y criolla Yo soy una negada negra y criolla Como Ana me llamó * Nací loca Mis papás querían que yo fuera loca Los normales tenían envidia de mí Por ser loca * Mi pasado fue un pasado de arena En mar de Copacabana Catarata de Paulo Afonso Muy adentro de la Laguna Rodrigo de Freitas En Río de Janeiro El futuro yo quería Que fuera feliz Y encontrar la felicidad siempre Y no perder nunca el gusto de estar gustando Lo que yo pienso hacer de mi vida Es encontrar la felicidad, ser feliz Seguir gustando y no perder el gusto 39
Ser feliz Encontrar a felicidade E não perder o gosto de estar gostando * Eu não queria me formar Não queria nascer Não queria tomar forma humana Carne humana e matéria humana Não queria saber de viver Não queria saber da vida Eu não tive querer Nem vontade pra essas coisas E até hoje eu não tenho querer Nem vontade pra essas coisas * Eu sobrevivi do nada, do nada Eu não existia Não tinha uma existência Não tinha uma matéria Comecei a existir com quinhentos milhões E quinhentos mil anos Logo de uma vez, já velha Eu não nasci criança, nasci já velha Depois é que eu virei criança E agora continuei velha Me transformei novamente numa velha Voltei ao que eu era, uma velha
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Ser feliz Encontrar la felicidad Y no perder el gusto de gustar * Yo no quería formarme No quería nacer No quería tomar forma humana Carne humana y materia humana No quería saber de vivir No quería saber de la vida Yo no tuve querer Ni voluntad para esas cosas Y hasta hoy no tengo querer Ni voluntad para esas cosas * Yo sobreviví de la nada, de la nada Yo no existía No tenía una existencia No tenía una materia Comencé a existir con quinientos millones Y quinientos mil años Así, de una vez, ya vieja Yo no nací niña, nací ya vieja Después fue que me volví niña Y ahora continué vieja Me transformé nuevamente en una vieja Volví a lo que era, una vieja
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* Eu era gases puro, ar, espaço vazio, tempo Eu era ar, espaço vazio, tempo E gases puro, assim, ó, espaço vazio, ó Eu não tinha formação Não tinha formatura Não tinha onde fazer cabeça Fazer braço, fazer corpo Fazer orelha, fazer nariz Fazer céu da boca, fazer falatório Fazer músculo, fazer dente Eu não tinha onde fazer nada dessas coisas Fazer cabeça, pensar em alguma coisa Ser útil, inteligente, ser raciocínio Não tinha onde tirar nada disso Eu era espaço vazio puro * Meu nome verdadeiro é caixão enterro Cemitério defunto cadáver Esqueleto humano asilo de velhos Hospital de tudo quanto é doença Hospício Mundo dos bichos e dos animais Os animais: dinossauro camelo onça Tigre leão dinossauro Macacos girafas tartarugas Reino dos bichos e dos animais é o meu nome Jardim Zoológico Quinta da Boa Vista
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* Yo era puramente gases, aire, espacio vacío, tiempo Yo era aire, espacio vacío, tiempo Y puramente gases, así, oh, espacio vacío, oh Yo no tenía formación No tenía titulación No tenía dónde hacer cabeza Hacer brazo, hacer cuerpo Hacer oreja, hacer nariz Hacer paladar, hacer murmullo Hacer músculo, hacer diente Yo no tenía dónde hacer nada de eso Sentar cabeza, pensar en algo Ser útil, inteligente, ser raciocinio No tenía de dónde sacar nada de eso Yo era espacio vacío y puro * Mi nombre verdadero es ataúd entierro Cementerio difunto cadáver Esqueleto humano asilo de viejos Hospital de todo lo que es enfermedad Hospicio Mundo de los bichos y de los animales Los animales: dinosaurio camello jaguar Tigre león dinosaurio Micos jirafas tortugas Reino de los bichos y de los animales es mi nombre Zoológico Quinta da Boa Vista
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Um verdadeiro jardim zoológico Quinta da Boa Vista * Tô carregada de uma relação total Sexual Fodida Botando o mundo inteiro pra gozar e sem gozo nenhum * Você está me comendo tanto pelos olhos Que já não tenho de onde tirar força Pra te alimentar * É dito: pelo chão você não pode ficar Porque lugar de cabeça é na cabeça Lugar de corpo é no corpo Pelas paredes você também não pode Pelas camas também você não vai poder ficar Pelo espaço vazio você também vai poder ficar Porque lugar de cabeça é na cabeça Lugar de corpo é no corpo
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Um verdadero zoológico Quinta da Boa Vista * Ando cargada de una relación total Sexual Jodida Arrojando el mundo entero para gozar y sin gozo alguno * Tú me estás comiendo tanto por los ojos Que ya no tengo de dónde sacar fuerza Para alimentarte * Está dicho: por el suelo no te puedes quedar Porque el lugar de la cabeza es en la cabeza El lugar del cuerpo es en el cuerpo Por las paredes tampoco puedes Por las camas tampoco te vas a poder quedar Por el espacio vacío tampoco te vas a poder quedar Porque el lugar de la cabeza es en la cabeza Y el lugar del cuerpo es en el cuerpo
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GUILHERME ZARVOS (1957) henrique
Ele era branco. A camada de tinta sobre a tela. A primeira segunda camadas de tinta brancas sobre a tela. Intacta. Ele era branco. O rosto pretensiosamente masculino. Francês pernas finas com músculos de corrida. O short e a camisa brancos. Olhei me olhou. Tantas vezes. O número que supera desculpe-me, ou você está me olhando por que. Ele era francês perdido no vagão do metrô. Eu sou do Rio. Cada um media a liberdade e o espaço. Foram poucas palavras. Não era de palavras. Sem retórica. Eu não falo francês. Seu olhar pretensioso aborrecia-me. O corpo muito belo. Quase todos os machos sabem que os rapazes atraem certos homens. Poucos são inocentes. As mães nunca são inocentes. Os pais raramente são inocentes. Os adultos poucas vezes não sabem que rapazes atraem muitos homens. Isso é repugnante! Os homens riem dos homens que deixam transparecer atração por rapazes. O francês era belo. O buço do francês era belo. Os poucos pelos da coxa do francês de pernas finas e musculosas eram belos. Ele me olhava. Olhava para ele. Deitou na minha cama sem palavras. Seu corpo era magro e musculoso. Intumescido o membro era pequeno. Aparentava fragilidade. Envolto em pelos finos como seu cabelo seus ombros 46
GUILHERME ZARVOS (1957) henrique
Era blanco. La capa de color sobre la tela. La primera segunda capa de color, blancas sobre la tela. Intacta. Era blanco. El rostro pretenciosamente masculino. Francés piernas finas con músculos de correr. El short y la remera blancos. Miré me miró. Tantas veces. La cantidad que supera perdón, me estás mirando por qué. Él era un francés perdido en el vagón del metro. Yo soy de Río. Cada uno medía la libertad y el espacio. Fueron pocas palabras. No era de palabras. Sin retórica. Yo no hablo francés. Su mirada pretenciosa me aburría. El cuerpo muy bello. Casi todos los machos saben que los muchachos atraen a ciertos hombres. Pocos son inocentes. Las madres nunca son inocentes. Los padres rara vez son inocentes. Los adultos pocas veces no saben que los muchachos atraen a muchos hombres. ¡Es repugnante! Los hombres se ríen de los hombres que traslucen su atracción por los muchachos. El francés era bello. El bozo del francés era bello. Los pocos pelos del muslo del francés de piernas finas y musculosas eran bellos. Él me miraba. Yo lo miraba. Se acostó en mi cama sin palabras. Su cuerpo era flaco y musculoso. Entumecido el miembro era pequeño. Aparentaba fragilidad. Envuelto en pelos finos como su cabello sus hombros 47
seus músculos. Branco foi a imagem que restou. O ventre branco espargido de esperma que escorria ou gotejava aqui acolá — o quadro final: o silêncio do branco e o cheiro de homem que enoja ou agrada a muitos homens — quadro insólito. O francês vestiu a camiseta e o calção brancos e apertou minha mão. Saiu em silêncio e o cheiro que impregnava foi pela janela. Como são brancas as nuvens! * carlos
Todo dia um poeta se vai; um se lança. Quem vive pelas palavras, mais precisamente, quem Somente atina na construção de frases Está sempre à beira do vazio mesmo Tendo a palavra um movimento quase físico. Nunca pensei que chegaria à idade da definição Sobre o poeta — ora veja, já estou talhudo! Poeta, mesmo os mesquinhos, são esbanjadores Do tempo impróprio para a fortuna sólida Gaiteiros pouco compreendidos, de melodia complicada. Passei dez anos pensando que não definiria O poeta: mas com tantos infortúnios e tímida Esperança relembro que todos os dias um poeta se vai Um outro se lança. *
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sus músculos. Blanco fue la imagen que quedó. El vientre blanco esparcido de esperma que se escurría o goteaba aquí allá — el cuadro final: el silencio del blanco y el olor a hombre que asquea o agrada a muchos hombres — cuadro insólito. El francés se puso la camiseta y el calzoncillo blancos y me apretó la mano. Salió en silencio y el olor que emanaba se fue por la ventana. ¡Qué blancas son las nubes! * carlos
Todos los días se va un poeta; uno se lanza. Quien vive por las palabras; mejor dicho, quien Solo atina a construir frases Está siempre a la vera del vacío La palabra tiene movimiento casi físico. Nunca pensé que llegaría a la edad de la definición Del poeta: ¡pero fijate, ya estoy crecido! Los poetas, incluso los mezquinos, son derrochadores Del tiempo impropio a la fortuna sólida Gaiteros poco comprendidos, de melodía compleja. Pasé diez años pensando que no definiría Al poeta: pero con tantos infortunios y tímida Esperanza recuerdo que todos los días un poeta se va Otro se lanza. *
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thereza
Visito minha mãe no Jardim Botânico Faz 2 anos que ela morreu Parece que faz uma vida Tenho tanta saudade Das conversas Do uisquinho, até do barulho nervoso do gelo O excesso de uísque ajudou a matá-la Pena que os excessos matem Já conheci quem morreu de amor De excesso e falta A árvore que eu e minha irmã escolhemos para depositar suas Cinzas não tem nada de excepcional É uma Tiliaceae da Malásia Ela me parece velha Foi um descuido espalhar as cinzas numa Árvore que pode tombar logo Mesmo antes da minha morte Me parece um canto agradável Ela deve estar contente no céu Estou aqui na terra Depositar cinzas de cremação no Jardim Botânico É proibido. Tirar fotos de casamento pode Imagino se todos depositassem seus mortos no Jardim Botânico assemelharia-se ao Ganges Todo humano deveria passar uma tarde Olhando uma cremação no Rio Ganges, na Índia Depois de por fogo no morto, com a presença da 50
thereza
Visito a mi madre en el Jardín Botánico Hace 2 años que murió Parece que hace una vida Tengo tanta nostalgia De las conversaciones Del whiskicito, hasta del ruido nervioso del hielo El exceso de whisky ayudó a matarla Pena que los excesos maten Ya conocí gente que murió de amor De exceso y falta El árbol que mi hermana y yo elegimos para depositar sus Cenizas no tiene nada de excepcional Es una Tiliaceae de Malasia Me parece vieja Fue un descuido esparcir las cenizas en un Árbol que puede caer pronto Incluso antes de mi muerte Me parece un rincón agradable Ella debe estar contenta en el cielo Yo estoy aquí en la tierra Depositar cenizas de cremación en el Jardín Botánico Está prohibido. Tomar fotos de casamiento se puede Imagino que si todos depositaran a sus muertos en el Jardín Botánico se asemejaría al Ganges Todo humano debería pasar una tarde Mirando una cremación en el río Ganges, en India Después de prender fuego al muerto, en presencia de la 51
Família, com um pedaço de pau dilaceram-se os Ossos e o crânio que são muito resistentes ao Fogo. Tudo é calmo e sagrado. As cinzas vão para o rio. Minha mãe não sofreu muito ao morrer Eu e minha irmã ficamos contidos. Nossa família é Assim. Fatalista. Já me falaram que é um resquício Aristocrático. Sempre nos orgulhamos da República. Em volta da Tiliaceae nasceram cogumelos Cada vez que visito minha mãe tem novidade Em volta da árvore. Minha mãe está sempre Presente e o chão sempre apresenta surpresas Os cogumelos formam um ajuntamento como uma ninhada Do meio salta uma flor! É da raça das Therezas.
* que me impulsiona a viver desejando a morte – os olhos de Maiakovski tinham a garra e a certeza de um pulso à morte. A elegância de Maiakovski, que se matou manchando com apenas um círculo de sangue, em torno do coração de pura pulsão, sua camisa branca e folgada. Viver sem indagações estéticas é impossível. O belo e o feio oprimindo. O desejo. As impossibilidades. Grita o infantil: — Odeio a beleza. Odeio reverenciar. Odeio me tornar escravo. Odeio não conseguir deixar transbordar a pulsão da plenitude. Estou farto. Porém, ainda não é a hora da flor do peito — a última mancha vermelha produzida por uma bala delicada. essa raiva
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Familia, con un pedazo de palo se rompen los Huesos y el cráneo que son muy resistentes al Fuego. Todo es sereno y sagrado. Las cenizas van al río. Mi madre no sufrió mucho al morir Mi hermana y yo estuvimos contenidos. Nuestra familia es Así. Fatalista. Ya me dijeron que es un resabio Aristocrático. Siempre nos enorgullecimos de la República. Alrededor de la Tiliaceae nacieron cucumelos Cada vez que visito a mi madre hay novedades En torno al árbol. Mi madre está siempre Presente y el suelo siempre presenta sorpresas Los cucumelos forman un montoncito como una nidada ¡Del medio salta una flor! De la raza de las Therezas. * que me impulsa a vivir deseando la muerte – los ojos de Maiakovski tenían la garra y la certeza de una pulseada con la muerte. La elegancia de Maiakovski, que se mató manchando con un pequeño círculo de sangre, en torno al corazón pura pulsión, su camisa blanca y holgada. Vivir sin inquietudes estéticas es imposible. Lo bello y lo feo oprimen. El deseo. Las imposibilidades. Grita lo infantil: — Odio la belleza. Odio reverenciar. Odio volverme esclavo. Odio no conseguir dejar desbordar la pulsión de la plenitud. Estoy harto. Pero aún no llegó la hora de la flor en el pecho — la última mancha roja producida por una bala delicada. esta rabia
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RENATO REZENDE (1964) ] CORPO [ Partindo do princípio, eu desisto dos meus pés, e subindo eu desisto das minhas pernas. Elas latejam e me fazem sentir vivo, mas eu não quero mais sentir-me vivo. Ao cortar o pau, prender nele uma pedra até que penda para sempre, eu só penso nos olhos de todas aquelas mulheres. Eu entrego ao fogo o mel dos olhos. As emoções, eu desisto delas todas, o coração limpo ou não, eu desisto do coração, do umbigo que me ligou à minha mãe, eu desisto da minha mãe e de todas as palavras que usei quando compreendi que era alguém, desisto de ser alguém para ser oco, novo, fogo, ouro: UM CORPO DEVORA O OUTRO *
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RENATO REZENDE (1964) ] CUERPO [ Empezando por el principio, desisto de mis pies, y subiendo desisto de mis piernas. Ellas laten y me hacen sentir vivo, pero ya no quiero sentirme vivo. Al cortar el pene, y prenderle una piedra para que penda para siempre, sólo pienso en los ojos de todas aquellas mujeres. Entrego al fuego la miel de los ojos. Las emociones, de todas desisto, el corazón limpio o no, desisto del corazón, del ombligo que me ligó a mi madre, desisto de mi madre y de todas las palabras que usé cuando comprendí que era alguien, desisto de ser alguien para ser hueco, nuevo, fuego, oro: UN CUERPO DEVORA A OTRO *
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[ABELHAS] Ele pensa que existe, mas no fundo, quem existe sou apenas eu. Sem saber quem é, ele rodopia sem parar pelo mundo. Como uma borboleta, como um beija-flor, sem núcleo, sem centro, vazio-oco. Na caverna dele estou eu, mas ele não me vê, escondida que estou em luz. Por isso ele gira estonteante, amando tudo o que sente, o que vê, o que toca. Eu o fiz para isso mesmo. Para ele me amar. Um dia eu me revelo e ele me descobre. Ele é apenas uma sombra, no fundo, seu medo tem fundamento. Intui que não existe, sabe que vai morrer. Quem existe sou eu: não mais a Morte, mas a Bem-Aventurança. A pessoa viva deseja. A morta ama. Eu sou sempre-viva porque todos os dias me despedaço por ele. Todos os dias bebo meu próprio sangue por ele. Você se sacrificaria por mim? Mais cedo ou mais tarde, tem um dia em que o teto cai, a gente rola para dentro do próprio ralo. Minha amiga: eu fico aqui, de boca aberta, esperando, torcendo. Você terá coragem de passar por esse ralo? Você vem jorrar em minha boca? Eu não escrevo poemas; eu sou um poema. Eu escrevo pessoas. Por exemplo, agora, estou escrevendo você. Enquanto você se transforma em palavras, eu te transformo em pessoa. Sei que é difícil de entender, mas é assim mesmo. Você é como um molde de cera, um equilíbrio de passagem. Assim
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[ABEJAS] Él piensa que existe, pero en el fondo, quien existe soy yo. Sin saber quién es, da vueltas por el mundo sin parar. Como una mariposa, como un picaflor, sin núcleo, sin centro, vacío-hueco. En su caverna estoy yo, pero no me ve, escondida como estoy en luz. Por eso gira atontado, amando todo lo que siente, lo que ve, lo que toca. Yo lo hice para eso. Para que me amara. Un día de estos me revelo y me descubre. Él es apenas una sombra; en el fondo, su miedo tiene fundamento. Intuye que no existe, sabe que va a morir. Quien existe soy yo: ya no la Muerte, sino la Bienaventuranza. La persona viva desea. La muerta ama. Yo soy siempreviva porque todos los días me despedazo por él. Todos los días bebo mi propia sangre por él. ¿Vos te sacrificarías por mí? Tarde o temprano, llega un día en que el techo cae y caemos dentro de la propia rejiilla. Amiga mía: sigo aquí, con la boca abierta, esperando, alentando. ¿Tendrás el coraje de pasar por esa rejilla? ¿Vas a chorrear a borbotones en mi boca? Yo no escribo poemas; soy un poema. Yo escribo personas. Por ejemplo, ahora, te estoy escribiendo a vos. Mientras te transformás en palabras, yo te transformo en persona. Sé que es difícil de entender, pero es así. Sos como un molde de cera, un equilibrio de pasaje. Cuando te vacíes
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que esvaziar-se toda em palavra e seu frágil molde derreter pelo meu fogo, vai perceber surpresa que em seu lugar você agora é: ouro. Vida nova. Vida viva. Ouro aéreo: luz: o universo iluminado. Vai se sentir virada do avesso. Grata: esse trabalho quem faz sou eu. Mas é preciso que você queira. É preciso que você me deseje obscenamente. Venha, minha amiga, sejamos cachorras. Não se assuste. Minha função é pôr a mão na sua caixa de marimbondos. Libertar suas abelhas vermelhas, ferozes. Você multiplicada, dividida, em milhões de abelhas douradas pelo espaço aberto. Você suportará seu próprio zumbir? Eu posso perfeitamente mastigar abelhas vivas. Quer ver? * [CHAMAS] Por que você não começa com os elefantes? Adoro elefantes. Vi certa vez um documentário sobre um lugarejo da Índia no qual eles têm rolos de pergaminhos com a história de todo mundo que já viveu e que viverá na terra. Foi um sábio que escreveu há não sei quantos anos. O cara do documentário foi lá só para checar, todo cético, é claro. Então entrou num lugar que parecia uma lojinha do fim do mundo. O sujeito perguntou o nome dele e disse: Espere um momento. Depois voltou com um rolo... que tinha o nome dele e a história de sua vida até a morte!
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toda en palabra y mi fuego derrita tu frágil molde, vas a percibir sorprendida que en tu lugar ahora sos: oro. Vida nueva. Vida viva. Oro aéreo: luz: universo iluminado. Vas a sentirte dada vuelta. Agradecida: quien hace ese trabajo soy yo. Pero es necesario que quieras. Es necesario que me desees obscenamente. Vení, amiga mía, seamos perras. No te asustes. Mi función es meter la mano en tu avispero. Liberar tus abejas coloradas, feroces. Vos multiplicada, dividida, en millones de abejas doradas en el espacio abierto. ¿Soportarás tu propio zumbido? Yo soy perfectamente capaz de masticar abejas vivas. ¿Querés ver? * [LLAMAS] ¿Por qué no empezás por los elefantes? Adoro a los elefantes. Una vez vi un documental sobre un pueblito en la India donde tienen rollos de pergaminos con la historia de todos los que vivieron y vivirán en la tierra. La escribió un sabio, no sé hace cuántos años. El tipo del documental fue allá para verificar, muy escéptico él, por supuesto. Entonces entró a un lugar que parecía una tiendita del fin del mundo. El sujeto le preguntó cómo se llamaba y dijo: Espere um momento. Después volvió con un rollo... ¡que tenía su nombre y la historia de su vida hasta la muerte!
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será que existe? [será que nós existimos?] será que esse lugar existe mesmo? Sabia que se come mais açúcar no dia de Diwali na Índia do que no resto do mundo o ano todo? E aqueles enormes brigadeirões que eles enfiam na boca dos elefantes? Ladhus. Pura doçura Amor em toneladas! Tudo o que passa e sempre passou pelos meus olhos foram imagens de festa. Tudo o que passa e sempre passou pelos meus ouvidos foram sons de festa. (De paz?) E de dor, de melancolia, de horror, de desespero, especialmente de desespero? Dance com a dor Um tango, uma valsa Gire
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¿será que existe? [¿será que nosotros existimos?] ¿será que ese lugar existe de verdad? ¿Sabías que se come más azúcar el día de Diwali en la India que en el resto del mundo el año entero? ¿Y esos dulces enormes que les meten en la boca a los elefantes? Ladhus. Pura dulzura ¡Toneladas de amor! Todo lo que pasa y siempre pasó por mis ojos fueron imágenes de fiesta. Todo lo que pasa y siempre pasó por mis oídos fueron sonidos de fiesta. (¿De paz?) Y de dolor, de melancolía, de horror, de desesperación, ¿sobre todo desesperación?
Bailá con el dolor Un tango, un vals Girá
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Tudo pelos meus olhos, festa. Tudo pelos meus ouvidos, festa. Festa, frenesi, júbilo, dança de dervixes.
VIDA
Fogo riscado na escuridão. Elefantes em chamas. O castelo em chamas. Bibliotecas em chamas. Todos os peixes. O oceano em chamas
O fogo do Amor: O que não é Amor é contra o amor.
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Todo por mis ojos, fiesta.
Todo por mis oídos, fiesta. Fiesta, frenesí, júbilo, danza de derviches.
VIDA
Fósforo raspado en la oscuridad. Elefantes en llamas.
Castillo en llamas.
Bibliotecas en llamas. Todos los peces. El océano en llamas.
El fuego del Amor: Lo que no es Amor está contra el amor.
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ALBERTO PUCHEU (1966) POEMA EM VÃO (OU POEMA UNGULADO) O que dele me aproxima, me afasta. Anterior a mim e a Adão. Chifres alinhados do mistério perfurando desde o couro até a lua. Saco de cimento. Lama embrutecida. Trator. Tanque de guerra. Navio encalhado em terra seca. Nunca escutei sua voz, que do silêncio anuncia estrondos. Se vós pudésseis me escutar, ó santos, por dentro dos adornos das paredes, pediria a salvação. Não a minha. Não a do amor. Nem a da humanidade: fazei com que os rinocerontes vivam (com sua maravilhosa estranheza) ainda depois de o mundo acabar. * É PRECISO APRENDER A FICAR SUBMERSO É preciso aprender a ficar submerso por algum tempo. É preciso aprender. Há dias de sol por cima da prancha, há outros, em que tudo é caixote, vaca, caldo. É preciso aprender a ficar submerso por algum tempo, é preciso aprender a persistir, a não desistir, é preciso, é preciso aprender a ficar submerso, é preciso aprender a ficar lá embaixo, no círculo sem luz, no furacão de água que o arremessa ainda mais para baixo, onde estão os desafiadores dos limites 64
ALBERTO PUCHEU (1966) POEMA EN VANO (EL POEMA UNGULADO) Lo que me acerca a él, me aleja. Anterior a mí y a Adán. Cuernos alineados del misterio perforan desde el cuero hasta la luna. Bolsa de cemento. Lodo embrutecido. Tractor. Tanque de guerra. Barco encallado en tierra seca. Nunca escuché su voz, que del silencio anuncia estruendos. Si pudiéseis escucharme, oh santos, dentro de las hornacinas en las paredes, pediría la salvación. No la mía.No la del amor. Ni la de la humanidad: haced que los rinocerontes vivan (con su maravillosa extrañeza) cuando el mundo se haya terminado. * ES NECESARIO APRENDER A PERMANECER SUMERGIDO Es necesario aprender a permanecer sumergido por un tiempo. Es necesario aprender. Hay días de sol sobre la tabla, hay otros en que todo es cajón, vaca, caldo. Es necesario aprender a permanecer sumergido por un tiempo, es necesario aprender a persistir, a no desistir, es necesario, es necesario aprender a permanecer sumergido, es necesario aprender a permanecer allá abajo, en el círculo sin luz, el huracán de agua que te arrastra todavía más abajo, donde están los que desafían los límites 65
humanos. É preciso aprender a ficar submerso por algum tempo, a persistir, a não desistir, a não achar que o pulmão vai estourar, a não achar que o estômago vai estourar, que as veias salgadas como charque vão estourar, que um coral vai estourar os miolos — os seus miolos —, que você nunca mais verá o sol por cima da água. É preciso aprender a ficar submerso, a não falar, a não gritar, a não querer gritar quando a areia cuspir navalhas em seu rosto, quando a rocha soltar britadeiras em sua cabeça, quando seu corpo se retorcer feito meia em máquina de lavar, é preciso ser duro, é preciso aguentar, é preciso persistir, é preciso não desistir. É preciso aprender a ficar submerso por algum tempo, é preciso aprender a aguentar, é preciso aguentar esperar, é preciso aguentar esperar até se esquecer do tempo, até se esquecer do que se espera, até se esquecer da espera, é preciso aguentar ficar submerso até se esquecer de que está aguentando, é preciso aguentar ficar submerso até que o voluntarioso vulcão de água arremesse você de volta para fora dele. *
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humanos. Es necesario aprender a permanecer sumergido un tiempo, a persistir, a no desistir, a no pensar que el pulmón va a estallar, a no pensar que el estómago va a estallar, que las venas saladas como charqui van a estallar, que un coral hará estallar los sesos —tus sesos—, que nunca más verás el sol fuera del agua. Es necesario aprender a permanecer sumergido, a no hablar, a no gritar, a no querer gritar cuando la arena escupe navajas en tu cara, cuando la roca suelta trituradoras en tu cabeza, cuando tu cuerpo se retuerce como una lavadora, es necesario ser duro, es necesario aguantar, es necesario persistir, es necesario no desistir. Es necesario aprender a permanecer sumergido un tiempo, es necesario aprender a aguantar, es necesario aguantar esperar, es necesario aguantar esperar hasta olvidarse del tiempo, hasta olvidarse de lo que se espera, hasta olvidar la espera, es necesario aguantar permanecer sumergido hasta olvidar que se está aguantando, es necesario aguantar permanecer sumergido hasta que el voluntarioso volcán de agua te arroje de vuelta hacia afuera. *
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PARA QUE POETAS EM TEMPOS DE TERRORISMOS? na disputa entre o estado e o terrorismo, na conciliação do estado com as empresas pelo lucro do capital acima de tudo, na sobreposição do templo com o banco dispondo a cada momento da fé ou do crédito de todo exército com as armas em sua defesa, na definição do dinheiro (que já foi chamado de homem) como o único animal que bombardeia, fico com as pessoas comuns, quaisquer, com os rios, os bichos e as matas, com os que sentem na pele até não serem mais capazes de sentir. terrorista, hoje, é o outro, o que, coisificado, escapa às diversas escalas, maiores ou menores, da época do pau de selfie que vivemos, terrorista, hoje, repito, é o outro, o inferno do outro, o outro enquanto inferno, terror. abrir as portas para o mais próximo, para o mais parecido, para o semelhante, é um gesto belo e necessário, mas é pouco quando, ao mesmo tempo, o outro, quem quer que seja o outro, o outro mesmo, o tido como o mais distante, é trancafiado do lado de fora, bombardeado, e, antes, fabricado para ser exatamente o outro a ser atacado, para dizer que o ato do outro fabricado é um ato de guerra, un act de guerre, an act of war, contra isso que nós somos, contre ce que nous sommes, sendo que isso que nós somos é imposto como toda humanidade e os valores universais, all humanity and the universal values,
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¿PARA QUÉ POETAS EN TIEMPOS DE TERRORISMOS? en la disputa entre el estado y el terrorismo, en la conciliación del estado con las empresas por el lucro del capital sobre todas las cosas, en la superposición del templo con el banco que en todo instante disponen de la fe o del crédito, del ejército alzado en armas para defenderlos, en la definición del dinero (al que ya han llamado hombre) como el único animal que bombardea, me quedo con las personas comunes, los cualquiera, con los ríos, los animales y las selvas, los que sienten la piel hasta ya no ser capaces de sentir. terrorista, hoy, es el otro, el que, cosificado, elude las diversas escalas, mayores o menores, de la época de palo para selfie que vivimos, terrorista, hoy, repito, es el otro, el infierno del otro, el otro como infierno, terror. abrir las puertas al más cercano, al más parecido, al semejante, es un gesto bello y necesario, pero es poco cuando, al mismo tiempo, el otro, sea quien sea el otro, el otro otro, el que se considera más lejano, es encerrado del lado de afuera, bombardeado, y, antes, fabricado para ser exactamente el otro al que atacar, para decir que el acto de ese otro fabricado es un acto de guerra, un act de guerre, an act of war, contra eso que nosotros somos, contre ce que nous sommes, cuando eso que nosotros somos se impone como la humanidad toda y los valores universales, all humanity and the universal values,
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como eles disseram com cinco anos de intervalo ou ao mesmo tempo na mesma fala ensaiada na mesma língua de guerra, do aniquilamento do outro, que falam. it’s war, baby, c’est la guerre, mon amour, la france est en guerre, america is at war, vamos tomar um champanhe com os diretores da samarco, da billiton, da vale do rio doce, do jornal o globo, comprar todos eles, a maioria dos políticos e sair o quanto antes com a petrobrax (e com o que mais der) debaixo do braço, c’est la guerre, ma cherie, it’s war, darling, nós, os civilizados, declaramos “guerre aux barbares”, gozemos então sinistramente com as mortes dos outros, somos franceses, somos americanos, somos franceses, somos americanos, somos franceses, somos nós, somos... que ninguém pergunte pela porra disso que nós somos porque talvez não sejamos mais porra nenhuma. é guerra. é guerra, declara o estado, no mesmo impulso colonialista de sempre, é guerra, declaram os estados, favorecendo-se irresponsavelmente a si mesmos, forjando um laço interessado com a opinião pública midiática, quando, no fundo, coloca-se, com a mídia, autoritário, entre uma pessoa qualquer e outra, entre uma pessoa qualquer e a vida e o mundo, entre uma pessoa qualquer e si mesma, escondendo-se ali e ali atuando, eis a guerra, o espetáculo de hoje, o rompimento de todos laços sociais e de intimidade. eis a guerra. é guerra por lá, é guerra declarada por aqui,
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como dijeron ellos con cinco años de intervalo o al mismo tiempo en el mismo discurso ensayado en la misma lengua de guerra, de aniquilamiento del otro, que hablan. it’s war, baby, c’est la guerre, mon amour, la france est en guerre, america is at war, vamos a tomar un champagne con los directores de la samarco, de la billiton, de la vale do rio doce, del diario o globo, vamos a comprarlos a todos, a la mayoría de los políticos y a salir cuanto antes con la petrobrax (y con todo lo que podamos) bajo el brazo, c’est la guerre, ma cherie, it’s war, darling, nosotros, los civilizados, les declaramos la “guerre aux barbares”, gocemos entonces siniestramente con las muertes de los otros, somos franceses, somos norteamericanos, somos franceses, somos norteamericanos, somos franceses, somos nosotros, somos... que nadie pregunte por la mierda esa que somos porque tal vez no seamos más ninguna mierda. es la guerra. es la guerra, declara el estado, con el mismo impulso colonialista de siempre, es la guerra, declaran los estados, favoreciéndose irresponsables, forjando un vínculo interesado con la opinión pública mediática, cuando, en el fondo, se interpone, con los medios, autoritario, entre una persona cualquiera y otra, entre una persona cualquiera y la vida y el mundo, entre una persona cualquiera y sí misma, y allí se esconde y allí actúa, he aquí la guerra, el espectáculo de hoy, la ruptura de todos los lazos sociales y de intimidad. he aquí la guerra. es guerra por allá, es guerra declarada por aquí,
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o crápula criminoso do presidente da câmera declara guerra à presidenta da república (e a todos os cidadãos que participaram de sua eleição) aceitando um pedido de impeachment forjado para tentar se livrar das milhares de acusações comprovadas dentro e fora do país contra ele, chantageando-a, chantageando-nos e parando toda movimentação política propositiva, dizendo, ainda, com desfaçatez, que não faço o pedido de impeachment por nenhuma motivação de natureza política, é guerra, eis a guerra, o líder do partido da presidenta na câmera declara em seguida que vamos para a guerra, é guerra, eis a guerra, o presidente de um movimento popular diz que seu exército está pronto para ir às ruas, é guerra, eis a guerra, a polícia executa cinco jovens negros que comemoravam o primeiro emprego de um deles com 111 tiros metralhados, com 111 tiros fuzilados, contra o carro em que estavam, contra seus corpos e contra suas vidas, porque negro jovem não pode viver neste país que mata 84 negros por dia, a maioria jovem, guerre aux barbares. é guerra. é guerre aux barbares. é guerra, eis a guerra, a polícia do governador de são paulo solta bombas, sprays de pimenta, cassetadas, porradas, tiros e o que mais houver de horror nos estudantes adolescentes de escolas públicas (les barbares) que se manifestam contra o fim da escola pública, contra o fechamento de 94 escolas públicas decretado pelo governador
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el crápula criminal del presidente de la cámara le declara la guerra a la presidenta de la república (y a todos los ciudadanos que participaron en su elección) aceptando un pedido de impeachment fraguado para intentar librarse de las miles de acusaciones en su contra comprobadas dentro y fuera del país, la chantajea, nos chantajea e impide toda movilización política proponente, y encima dice, con descaro, no hago el pedido de impeachment por ninguna motivación de naturaleza política, es guerra, he aquí la guerra, el líder del partido de la presidenta en la cámara declara de inmediato que vamos a la guerra, es guerra, he aquí la guerra, el presidente de un movimiento popular dice que su ejército está listo para salir a las calles, es guerra, he aquí la guerra, la policía ejecuta a cinco jóvenes negros que festejaban el primer empleo de uno de ellos con 111 tiros ametrallados, con 111 tiros fusilados, contra el auto donde estaban, contra sus cuerpos y contra sus vidas, porque un negro joven no puede vivir en este país que mata 84 negros por día, la mayoría jóvenes, guerre aux barbares. es guerra. es guerre aux barbares. es guerra, he aquí la guerra, la policía del gobernador de san pablo arroja bombas, gas pimienta, palazos, cachiporrazos, tiros y todo lo horrible que hay contra los estudiantes adolescentes de las escuelas públicas (les barbares) que se manifiestan contra el fin de la escuela pública, contra el cierre de 94 escuelas públicas decretado por el gobernador
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e o governador diz que há motivação política por detrás da ocupação das escolas pelos alunos, mostrando que motivação política não pode mais haver no estado de polícia, no estado de guerra, exatamente a mesma compreensão de política do presidente da câmara, ou seja, de novo, de que não pode haver política, apenas a instauração da era do fim da política, do início da era da era da polícia, é guerra, eis a guerra, o chefe de gabinete da secretaria estadual de educação de são paulo afirma que a situação com os alunos adolescentes é de guerra e que o governo vai desmoralizar e desqualificar o movimento estudantil na base da porrada e da violência generalizada. é guerra. é guerra por lá, por aqui, por aí, por sei lá onde, por toda parte. o oriente é terrorista, a áfrica é terrorista, a natureza é terrorista, manifestantes são terroristas, professores são terroristas, alunos são terroristas, educação é terrorista, bebês são terroristas, negros são terroristas, pobres são terroristas, índios são terroristas, catadores de latas são terroristas, travestis são terroristas, transexuais são terroristas, mulatos, albinos e mosquitos são terroristas, mulheres são terroristas, homens são terroristas, como são terroristas... hoje, em qualquer lugar do mundo, terrorista é o outro, quem quer que seja o outro, você, quem quer que você seja, o outro, mesmo que o outro no meio de nós
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y el gobernador dice que subyacen motivos políticos a la ocupación de las escuelas por los alumnos, y de este modo muestra que motivos políticos ya no puede haber en el estado policial, en el estado de guerra, exactamente la misma comprensión de la política del presidente de la cámara, o sea, una vez más, que no puede haber política, sino sólo instauración de la era del fin de la política, del inicio de la era de la policía, es guerra, he aquí la guerra, el jefe de gabinete de la secretaría estadual de educación de san pablo afirma que la situación con los alumnos adolescentes es de guerra y que el gobierno desmoralizará y descalificará al movimiento estudiantil a base de golpes y violencia generalizada. es guerra. es guerra por allá, por acá, por allí, por no sé dónde, por todas partes. oriente es terrorista, áfrica es terrorista, la naturaleza es terrorista, los manifestantes son terroristas, los maestros son terroristas, los alumnos son terroristas, la educación es terrorista, los bebés son terroristas, los negros son terroristas, los pobres son terroristas, los indios son terroristas, los que juntan latas son terroristas, las travestis son terroristas, los transexuales son terroristas, mulatos, albinos y mosquitos son terroristas, las mujeres son terroristas, los hombres son terroristas, qué terroristas que son... hoy, en cualquier lugar del mundo, terrorista es el otro, sea quien sea el otro, tú, seas quien seas, el otro, incluso el otro en medio de nosotros
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e o outro em cada um de nós. somos todos, as pessoas comuns, quaisquer, terroristas. para que poetas em tempos de terrorismos? para que poetas em tempos de terrorismo religioso de todos os lados do planeta? para que poetas em tempos de terrorismo da verdade plena e integralmente revelada? para que poetas em tempos de terrorismo midiático? para que poetas em tempos de terrorismo econômico? para que poetas em tempos de terrorismos? o último poeta morreu em 1914, ele disse. não há mais poetas, os poetas morreram. sobrevivemos, destroçados, em pequenas comunidades que nem comunidades são, sobrevivemos esquecidos em nossas solidões, sobrevivemos impotentes diante dos terrorismos de todos os dias, diante dos micros e dos macros terrorismos, sobrevivemos, de algum modo (ainda que não nos matem nem nos prendam e que nos deixem ter, ao menos a alguns de nós e por outros motivos que não a poesia, algum dinheiro para sobreviver), sobrevivemos, de algum modo, então, como os índios, como os garotos do tráfico, como os homens-bombas, como os enlameados, como os mortos pelo tráfico, como os mortos pelos homens-bombas, como os mortos e desabrigados pelas mineradoras... mas nunca como os donos do tráfico, das indústrias bélicas, dos estados, dos que levam os homens-bombas a se tornarem homens-bombas (afinal, ninguém nasce homem-bomba como ninguém nasce poeta).
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y el otro en cada uno de nosotros. somos todos, las personas comunes, los cualquiera, terroristas. ¿para qué poetas en tiempos de terrorismos? ¿para qué poetas en tiempos de terrorismo religioso de todos los puntos del planeta? ¿para qué poetas en tiempos de terrorismo de la verdad plena e integralmente revelada? ¿para qué poetas en tiempos de terrorismo mediático? ¿para qué poetas en tiempos de terrorismo económico? ¿para qué poetas en tiempos de terrorismos? el último poeta murió en 1914, dijo. no hay más poetas, los poetas murieron. sobrevivimos, destrozados, en pequeñas comunidades que ni comunidades son, sobrevivimos olvidados en nuestras soledades, sobrevivimos impotentes ante los terrorismos cotidianos, ante los micro y macro terrorismos, sobrevivimos, de algún modo (siempre y cuando no nos maten ni nos arresten y siempre que nos dejen tener, al menos a algunos de nosotros y por motivos ajenos a la poesía, algo de dinero para sobrevivir), sobrevivimos, de algún modo, entonces, como los indios, como los pibes del tráfico, como los hombres-bombas, como los embarrados, como los muertos por el tráfico, como los muertos por los hombres-bombas, como los muertos y desamparados por las mineras... pero nunca como los dueños del tráfico, de las industrias bélicas, de los estados, de los que inducen a los hombres-bombas a convertirse en hombres-bombas (al fin, nadie nace hombre-bomba como nadie nace poeta).
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o que sobrou para nós foi a nossa impotência, o último reduto de uma força — frágil — crítica — que podemos ter, a que pode mostrar como poucas outras os poderes estabelecidos que nos assolam. enquanto nossos fantasmas ainda se fazem, de algum modo, percebidos, ao menos por nós mesmos e por um ou outro que não fazemos ideia de quem seja, seguimos como conseguimos seguir, porque também os fantasmas que somos, que já buscamos algum tipo de pertencimento, buscamos, agora, somente o que fazer com o quase total despertencimento em que nos encontramos no mundo atual.
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Lo que quedó para nosotros fue nuestra impotencia, el último reducto de una fuerza — frágil — crítica — que podemos tener, fuerza que puede mostrar como pocas otras los poderes establecidos que nos asuelan. mientras nuestros fantasmas todavía se hacen, de algún modo, percibir, al menos por nosotros y por algún otro que no tenemos idea de quién es, seguimos como podemos, porque también los fantasmas que somos, que ya buscamos algún tipo de pertenencia, buscamos, ahora, apenas qué hacer con la casi total despertenencia en que nos encontramos en el mundo actual.
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ANGÉLICA FREITAS (1973) NA BANHEIRA COM GERTRUDE STEIN gertrude stein tem um bundão chega pra lá gertude stein e quando ela chega pra lá faz um barulhão como se alguém passasse um pano molhado na vidraça enorme de um edifício público gertrude stein daqui pra cá é você o paninho de lavar atrás da orelha é todo seu daqui pra cá sou eu o patinho de borracha é meu e assim ficamos satisfeitas mas gertrude stein é cabotina acha graça em soltar pum debaixo d’água eu hein gertrude stein? não é possível que alguém goste tanto de fazer bolha e aí como a banheira é dela ela puxa a rolha e me rouba a toalha e sai correndo pelada a bunda enorme descendo a escada e ganhando as ruas de st.-germain-des-prés * A MULHER PENSA a mulher pensa com o coração a mulher pensa de outra maneira a mulher pensa em nada ou em algo muito semelhante a mulher pensa será em compras talvez a mulher pensa por metáforas 80
ANGÉLICA FREITAS (1973) EN LA BAÑERA CON GERTRUDE STEIN gertrude stein tiene un culazo córrete para allá gertrude stein y cuando se corre para allá hace tremendo barullo como si alguien pasara un trapo mojado en la vidriera enorme de un edificio público gertrude stein de aquí para acá eres tú el trapo de lavar detrás de la oreja es todo tuyo de aquí para acá soy yo el patito de goma es mío y así quedamos satisfechas pero gertrude stein es una descarada le divierte tirarse pedos debajo del agua yo ¿eh, gertrude stein? no es posible que a alguien le guste tanto hacer burbujas y ahí como la bañera es suya saca el tapón y me roba la toalla y sale corriendo desnuda el culo enorme baja la escalera y gana las calles de st.-germain-des-prés * LA MUJER PIENSA la mujer piensa con el corazón la mujer piensa de otra manera la mujer piensa en nada o en algo muy semejante la mujer piensa será en compras tal vez la mujer piensa por metáforas 81
a mulher pensa sobre sexo a mulher pensa mais em sexo a mulher pensa: se fizer isso com ele, vai achar que faço com todos a mulher pensa muito antes de fazer besteira a mulher pensa em engravidar a mulher pensa que pode se dedicar integralmente à carreira a mulher pensa nisto, antes de engravidar a mulher pensa imediatamente que pode estar grávida a mulher pensa mais rápido, porém o homem não acredita a mulher pensa que sabe sobre homens a mulher pensa que deve ser uma “supermãe” perfeita a mulher pensa primeiro nos outros a mulher pensa em roupas, crianças, viagens,passeios a mulher pensa não só na roupa, mas no cabelo, na maquiagem a mulher pensa no que poderia ter acontecido a mulher pensa que a culpa foi dela a mulher pensa em tudo isso a mulher pensa emocionalmente * A MULHER É UMA CONSTRUÇÃO a mulher é uma construção deve ser a mulher basicamente é pra ser um conjunto habitacional tudo igual tudo rebocado só muda a cor
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la mujer piensa sobre sexo la mujer piensa más en sexo la mujer piensa: si hago eso con él, pensará que lo hago con todos la mujer piensa mucho antes de meter la pata la mujer piensa en quedar embarazada la mujer piensa que puede dedicarse integralmente a su carrera la mujer piensa en eso, antes de quedar embarazada la mujer piensa inmediatamente que puede estar embarazada la mujer piensa más rápido, pero el hombre no lo cree la mujer piensa que sabe de hombres la mujer piensa que debe ser una “supermadre” perfecta la mujer piensa primero en los otros la mujer piensa en ropa, niños, viajes, paseos la mujer piensa no sólo en la ropa, sino en el pelo, en el maquillaje la mujer piensa en lo que podría haber ocurrido la mujer piensa que la culpa fue suya la mujer piensa en todo eso la mujer piensa emocionalmente * LA MUJER ES UNA CONSTRUCCIÓN la mujer es una construcción debe ser la mujer básicamente es para ser un conjunto habitacional todo igual todo revocado sólo cambia el color
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particularmente sou uma mulher de tijolos à vista nas reuniões sociais tendo a ser a mais mal vestida digo que sou jornalista (a mulher é uma construção com buracos demais vaza a revista nova é o ministério dos assuntos cloacais perdão não se fala em merda na revista nova) você é mulher e se de repente acorda binária e azul e passa o dia ligando e desligando a luz? (você gosta de ser brasileira? de se chamar virginia woolf?) a mulher é uma construção maquiagem é camuflagem toda mulher tem um amigo gay como é bom ter amigos todos os amigos tem um amigo gay que tem uma mulher que o chama de fred astaire neste ponto, já é tarde as psicólogas do café freud
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particularmente soy una mujer de ladrillos a la vista en las reuniones sociales tiendo a ser la peor vestida digo que soy periodista (la mujer es una construcción con demasiados agujeros raja la revista nueva es el ministerio de asuntos cloacales perdón no se habla de mierda en la revista nueva) eres mujer ¿y si de repente despiertas binaria y azul y pasas el día encendiendo y apagando la luz? (¿te gusta ser brasileña? ¿llamarte virginia woolf?) la mujer es una construcción maquillaje es camuflaje toda mujer tiene un amigo gay qué bueno es tener amigos todos los amigos tienen un amigo gay que tiene una mujer que lo llama fred astaire en este punto ya es tarde las psicólogas del café freud
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se olham e sorriem nada vai mudar — nada nunca vai mudar — a mulher é uma construção * EU DURMO COMIGO eu durmo comigo/ deitada de bruços eu durmo comigo/ virada pra direita eu durmo comigo/ eu durmo comigo abraçada comigo/ não há noite tão longa em que não durma comigo/ como um trovador agarrado ao alaúde eu durmo comigo/ eu durmo comigo debaixo da noite estrelada/ eu durmo comigo enquanto os outros fazem aniversário/ eu durmo comigo às vezes de óculos/ e mesmo no escuro sei que estou dormindo comigo/ e quem quiser dormir comigo vai ter que dormir ao lado
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se miran y sonríen nada va a cambiar — nada nunca va a cambiar — la mujer es una construcción * YO DUERMO CONMIGO yo duermo conmigo/ acostada boca abajo duermo conmigo/ girada a la derecha duermo conmigo/ yo duermo conmigo abrazada conmigo/ no hay noche tan larga que no duerma conmigo/ como un trovador aferrado al laúd duermo conmigo/ duermo conmigo bajo la noche estrellada/ yo duermo conmigo mientras los otros cumplen años/ yo duermo conmigo a veces con anteojos/ e incluso en la oscuridad sé que estoy durmiendo conmigo/ y quien quiera dormir conmigo tendrá que dormir al lado
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SERGIO COHN (1974) MNEMO há um resíduo de futuro no vento, fotograma antecipado, montagem de fragmentos induzindo à cena. como aquela árvore se curvando complacente aos invisíveis pesos, como o mormaço predizendo chuva. repito, há um canto anterior a qualquer canto, uma réstia, um eco primeiro, como um som que ressoa por dentro de cada palavra, como todo gesto se desenha e apaga, então novamente. há o revés, o diáfano, o termo, beleza posta e perdida, o desencadeamento, assim como a sede do vapor por uma forma, assim como tudo retorna à imaginação por trás da cortina da memória. *
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SERGIO COHN (1974) MNEMO hay un residuo de futuro en el viento, fotograma anticipado, montaje de fragmentos que inducen la escena. como aquel árbol curvándose complaciente a los invisibles pesos, como el bochorno que anuncia lluvia. repito, hay un canto anterior a cualquier canto, un rastro, un eco primero, como un son que resuena dentro de cada palabra, como todo gesto se dibuja y borra, entonces nuevamente. hay el revés, lo diáfano, el término, belleza plantada y perdida, el desencadenamiento, así como la sed del vapor por una forma, así como todo retorna a la imaginación detrás el telón de la memoria. *
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PASSEIO esta é uma cidade inabitada em suas ruas, pela madrugada, todo passeio é possível: saltar parque lage adentro ou caminhar à sombra dos próprios pensamentos no muro lá fora um mendigo rabiscou mandalas: é possível encontrar as mesmas em quase toda cidade construindo uma geografia outra, íntima uma aventura talvez para o olhar assim também seu corpo para mim: o que se abre,
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PASEO esta es una ciudad deshabitada en sus calles, de madrugada, todo paseo es posible: saltar parque lage adentro o caminar a la sombra de los propios pensamientos en el muro allá afuera un mendigo garabateó mandalas: es posible encontrar las mismas en casi toda la ciudad construyendo una geografía otra, íntima una aventura tal vez para la mirada así también tu cuerpo para mí lo que se abre,
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o que se reflete em sorriso nenhum crime, nenhum castigo. * UM CONTRAPROGRAMA 1 esta montanha invade a cidade e à sua margem penso não no silêncio, na astúcia e no exílio (que já foram tentados a contento) mas do lado de dentro mesmo que impossível extraviar-me no alheio 2 o alheio: não o outro do morro ou o rosto da rua, mas o que ainda despercebido pulsa e sobreviverá ao tempo porque o fim disto — desta cidade — não é o de todas as coisas. *
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lo que se refleja en sonrisa ningún crimen, ningún castigo. * UN CONTRAPROGRAMA 1 esta montaña invade la ciudad y a su vera pienso no en el silencio, en la astucia y en el exilio (que ya fueron debidamente intentados) sino del lado de adentro aunque imposible extraviarme en lo ajeno 2 lo ajeno: no el otro del morro o el rostro en la calle, sino lo que aún inadvertido pulsa y sobrevivirá al tiempo porque el fin de esto — de esta ciudad — no es el de todas las cosas. *
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UM POEMA PARA ESTES TEMPOS (COMEÇANDO COM UM VERSO DE JODOROWSKY) se estamos perdidos, melhor não andarmos tão depressa para não sermos presas dos próprios passos melhor o silêncio, observar a estratégia de quem já conhece esses espaços: pássaros onças outros olhares de soslaio sabendo que alimento e que veneno nos espera na beira desse descaminho não há mais nenhum Virgílio para nos guiar mas veja: nada aqui é novo nem mesmo o labirinto e nunca estivemos realmente sozinhos. * a concha que se agarra à pedra contra a fúria das ondas. o dente que se cerra na carne dura da maçã. o azul que resta entre nuvens, entre folhas, a primeira luz da manhã. o pulsar, gesto e jenipapo, orla de fogo no mato, mancha no dorso da onça. ESTAR EM VOCÊ COMO
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UN POEMA PARA ESTOS TIEMPOS (A PARTIR DE UN VERSO DE JODOROWSKY) si estamos perdidos, mejor no vayamos tan de prisa para no ser presas de los propios pasos mejor el silencio, observar la estrategia de quien ya conoce esos espacios: pájaros jaguares otras miradas de soslayo sabiendo que alimento y veneno nos esperan a orillas de este descamino ya no hay ningún Virgilio que nos guíe pero mira: nada aquí es nuevo ni siquiera el laberinto y nunca estuvimos realmente solos. * la concha que se agarra a la piedra contra la furia de las olas. el diente que se cierra sobre la carne dura de la manzana. el azul que asoma entre nubes, entre hojas, la primera luz de la mañana. el pulsar, gesto y jenipapo, orla de fuego en la selva, mancha en el lomo del jaguar. ESTAR EN TI COMO
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BESO (1974) TENTATIVA DE COROAÇÃO: ROBERTO PIVA IN VITAM
“PER ME SI VA NE LA CITTÀ DOLENTE, PER ME SI VA NE L’ETTERNO DOLORE, PER ME SI VA TRA LA PERDUTA GENTE.” Dante Alighieri, A Divina Comédia - Inferno
No instante em que os ipês amarelos sonham floridos com uma primavera distante & sem volta as pessoas fazem glosas sobre seus sonhos sobre todo o impossível sem sua presença vivendo de realidades autoparalisadas no alcance previsível da próxima propaganda – a Moda agora é a morte enquanto você vivo versava sobre o impossível de não querer viver na luz de leite tomada vinho em Blake soul food diretamente sorvido nos cinco sentidos da vidência infância numa bandeja de prata – generosa reação remando na terceira margem do livro o sexo como bússola & palavras buracos no chão de água embalo necessário pra se sentir o fim sem fundo 96
BESO (1974) TENTATIVA DE CORONACIÓN: ROBERTO PIVA IN VITAM
“PER ME SI VA NE LA CITTÀ DOLENTE, PER ME SI VA NE L’ETTERNO DOLORE, PER ME SI VA TRA LA PERDUTA GENTE.” Dante Alighieri, La Divina Comedia - Infierno
En el instante en que los ipês amarillos sueñan floridos con una primavera distante & sin vuelta la gente hace glosas de sus sueños sobre todo lo imposible sin su presencia vive de realidades autoparalizadas al alcance previsible de la próxima propaganda – la Moda ahora es la muerte mientras tú vivo versabas sobre lo imposible de no querer vivir a la luz de la leche abarcada vino en Blake soul food directamente absorbida por los cinco sentidos de la videncia infancia en bandeja de plata – generosa reacción remar en la tercera margen del libro el sexo como brújula & palabras agujeros en el suelo de agua balanceo necesario para sentirse el fin sin fondo 97
o vento passando rasteira no tempo poder de exaurir sua potencialidade a lavra é feita na flor luxuriosa da idade a letra é de carne com instinto pra prosa selvagem corre caça trepa morde sempre pelo faro pra constelações esquecidas com ganas de cagar confortavelmente na frente de muita gente implacável na fidelidade à família de vagabundos na fraternidade aos amigos do contra aos mais perdidos & aos mais belos esquecidos com seu sorriso místico desafinando a cidade cinza na língua libertando o caos de ser só signo pra que a imagem da morte não fosse o oposto da respiração nem imagem nem símbolo SENSAÇÃO abismo & monstros pra que cada fantasma encontrado de manhã numa esquina de dupla solidão ecoasse mesmo inconsciente o conteúdo doce da noite um odor de rebelião animal física imposta ao brilho das ruas uma aurora sexual na ponte da Liberdade é de dentro das cinzas ativas como avenidas que sua voz de Caesar brota
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el viento que hace zancadillas al tiempo poder de agotar su potencialidad la labranza se hace en la flor lujuriosa de la edad la letra es de carne con instinto de prosa salvaje corre caza coge muerde siempre por el olfato hacia constelaciones olvidadas con ganas de cagar cómodamente delante de mucha gente implacable en la fidelidad a la familia de vagabundos en la fraternidad a los amigos que van contra la corriente a los más perdidos & a los más bellos olvidados con tu sonrisa mística desafinando la ciudad ceniza en la lengua liberando el caos de ser sólo signo para que la imagen de la muerte no fuera lo opuesto a la respiración ni imagen ni símbolo SENSACIÓN abismo & monstruos para que cada fantasma encontrado de mañana en una esquina de doble soledad resonara aun inconsciente el contenido dulce de la noche un olor de rebelión animal física impuesta al brillo de las calles una aurora sexual en el puente de la Libertad es de adentro de las cenizas activas como avenidas que tu voz de Caesar brota
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você um REI instantâneo diferente de ontem em meio ao estupro da natureza — testemunha & vítima é tal uma voz roxa ou coro de sangue seiva ou cores brancas antes sem vozes alimentando aqueles ipês que ainda são estes como você Piva já foi nascido pra tronco & enraizado no estranho amor a uma São Paulo madrasta Santa Cecília pederasta com pesadelos umbilicais até amanhã quando a estrada começasse a andar & agora não parasse de frente pro mar com os pés na areia descalça já mergulhasse naquela onda só sua – VAI! na quebra do momento como poder salgar-se ao sol de um deus Netuno de novo sentindo a primeira Luz a primeira paz primeiro orgasmo — a lição do xamã entregue contemplar seja paisagem & cúmplice do hoje metamorfose revelando-se a crista do impossível dissolva-se no sem sentido — a primeira regra & a última a primeira paixão tudo é ainda conforme não pregastes — teus ídolos inventaram a traição!
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tú un REY instantáneo diferente de ayer en medio del estupro a la naturaleza — testigo & víctima es una voz púrpura o coro de sangre savia o colores blancos antes sin voces alimentando aquellos ipês que aún son estos como tú Piva ya has nacido para tronco & arraigado en el extraño amor a una San Pablo madrastra Santa Cecilia pederasta con pesadillas umbilicales hasta mañana cuando la carretera comienza a andar & ya no se detiene frente al mar con los pies en la arena descalza se zambulle en esa ola solo tuya – ¡VÉ! en la rompiente del momento como poder salarse al sol de un dios Neptuno sentir de nuevo la primera Luz la primera paz primer orgasmo — la lección del chamán entregado contemplar ser paisaje & cómplice del hoy metamorfosis se revela la cresta de lo imposible disuélvete en el sinsentido — la primera regla & la última la primera pasión todo es aún como no predicaste — ¡tus ídolos inventaron la traición!
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Teus seus meus suas do Mal de Baudelaire das Flores de Maldoror Genet acorrentado em SADE até o fim do super-realismo simpatizante foi assim que VOCÊ arrancava emoções iletradas numa única subversão da linguagem órfica – expressando horror à forma que não Dionysos solta sensual cheia de baba & desabafo deboche & mais um gole dos longos… você fez da palavra juventude a adolescente eternidade de suas vantagens da infância madura o esquecimento de toda maturidade adulta uma piada de Rimbaud que não fosse Arte viva nas ruas com um corpo original delicioso escultura prometendo movimentos desconhecidos & músculos a pele apertada na ponta dos papéis dedos ansiando palavras cruas através do tato no tato do olho no outro outra vez no seu no seu SÓ seu ouça meu gosto no SEU AGORA eu grito eu urro jorro pela língua sua coroa fazendo amor com o que você é.
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Tus sus mías tuyas del Mal de Baudelaire de las Flores de Maldoror Genet encadenado a SADE hasta el fin del super-realismo simpatizante era así que TÚ arrancabas emociones iletradas en una única subversión del lenguaje órfico – expresando horror a la forma que no Dionisos suelta sensual llena de baba & desahogo ludibrio & un trago más, de los largos... hiciste de la palabra juventud la adolescente eternidad de sus ventajas de la infancia madura el olvido de toda madurez adulta un chiste de Rimbaud que no fuera Arte vivo en las calles con un cuerpo original delicioso escultura que promete movimientos desconocidos & músculos la piel apretada en la punta de los papeles dedos ansiando palabras crudas a través del tacto en el tacto del ojo en el otro otra vez en tu en tu SÓLO tuyo oye mi gusto en el TUYO AHORA yo grito yo rujo yo chorreo por la lengua tu corona haciendo el amor con lo que eres.
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PEDRO ROCHA (1976) PARA CILDO MAIAKÓVSKI DOMINGOS NADAN E PEDRO MANRIQUES FIGUEROA E ALINE ELIAS Um poema cabe abre invade qualquer plataforma Pois é ele quem se suporta ele se apoia em toda superfície e mesmo em nenhuma Quanto mais estranha o poema aranha tece sua web Quão maior o avesso o poema atravessa como nessa fresta de possível 104
PEDRO ROCHA (1976) PARA CILDO MAIAKÓVSKI DOMINGOS NADAN Y PEDRO MANRIQUES FIGUEROA Y ALINE ELIAS Un poema cabe abre invade cualquier plataforma Porque es él quien se sostiene él se apoya en toda superficie y también en ninguna Cuanto más extraña el poema araña teje su web Cuanto mayor el revés el poema atraviesa como en esta grieta de posible 105
Tá tudo indo do jeito que dá mas ele está sempre ali Ele tá lá Pode ser duro de abrir mas é a única parada que não vale a pena de desistir * TROVOO vou andando maquinalmente em direção ao Parque Lage o olhar parado no espaço os passos vazios executam apenas o trabalho de aparar o tombo o muro do jockey é enorme a grade do Jardim Botânico
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Todo está yendo como puede pero él está siempre allí Él está allá Puede ser duro de abrir pero es la única movida de la que no vale la pena desistir * YOTRUENO camino maquinalmente en dirección al Parque Lage la mirada detenida en el espacio los pasos vacíos ejecutan apenas el trabajo de evitar el tropiezo el muro del jockey es enorme la reja del Jardín Botánico
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se perde num sem fim de indivíduos de ferro cada detalhe do caminho se espanta comigo que não lhes digo nenhum significado o Jacutinga morreu há algumas horas e os carros correm com barulho e os troncos das árvores continuam fazendo seiva sugando o chão em cada homem que passa parece que vai ser então um encontro por acaso mas é muito rápido que o olho fica opaco e isso não é novidade tudo é muito pessoal e a máquina exige seguir a contagem A lama se estende 10km mar adentro no Espírito Santo Muçulmanos no Brasil relatam agressões Colete com explosivo igual ao usado em ataque é achado no lixo em Paris Governo prevê arrecadar menos com CPMF em 2016 Justiça nega reintegração de escolas em São Paulo Rapaz é baleado após briga em estação
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se pierde en un sinfín de individuos de hierro cada detalle del camino se asusta de mí que no les digo ningún significado Jacutinga murió hace unas horas y los autos pasan haciendo ruido y los troncos de los árboles continúan haciendo savia succionan el suelo en cada hombre que pasa parece que será entonces un encuentro por casualidad pero demasiado rápido el ojo queda opaco y esto no es novedad todo es muy personal y la máquina exige seguir contando El barro se extiende 10km mar adentro en Espírito Santo Musulmanes en Brasil relatan agresiones Chaleco con explosivos idéntico al que se usó en el atentado es encontrado en la basura en París Gobierno prevé recaudar menos con el CPMF en 2016 Justicia niega reintegración de escuelas en San Pablo Chico es baleado después de pelea en estación
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Mototaxistas agridem mulher após discussão Gerente é preso por dar bananas a negros no RJ Belga do Estado Islâmico pede que irmãos sigam exemplo de Paris Novo presidente da Argentina quer a suspensão da Venezuela do Mercosul Chipre expulsa seis franceses suspeitos de vínculo terrorista França lança missões no Iraque e na Síria a partir de porta-aviões Na madrugada de Domingo para segunda-feira uma sequência muito incomum de trovões longuíssimos e muito graves me despertou na sala pareciam tambores enormes tocados por mão louca anunciando chamando dizendo “alguém que me conhece ajuda aqui”
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Mototaxistas agreden mujer después de discusión Gerente va preso por dar bananas a negros en RJ Belga del Estado Islámico pide que sus hermanos sigan el ejemplo de París Nuevo presidente de Argentina pide la suspensión de Venezuela del Mercosur Chipre expulsa a seis franceses sospechados de vínculos terroristas Francia lanza misiones en Irak y Siria desde porta-aviones En la madrugada de domingo a lunes una secuencia muy poco común de truenos larguísimos y muy graves me despertó en la sala parecían tambores enormes tocados por una mano loca anunciando llamando diciendo “si hay alguien ahí que venga a ayudarme”
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ANA MARTINS MARQUES (1977) PENÉLOPE I O que o dia tece, a noite esquece. O que o dia traça, a noite esgarça. De dia, tramas, de noite, traças. De dia, sedas, de noite, perdas. De dia, malhas, de noite, falhas. II A trama do dia na urdidura da noite ou a trama da noite na urdidura do dia enquanto teço: a fidelidade por um fio. III De dia dedais. Na noite ninguém. IV E ela não disse já não te pertenço há muito entreguei meu coração ao sossego 112
ANA MARTINS MARQUES (1977) PENÉLOPE I Lo que el día teje, la noche lo olvida. Lo que el día urde, la noche lo rasga. De día, tramas, de noche, trazas. De día, sedas, de noche, pérdidas. De día, mallas, de noche, fallas. II La trama del día en la urdimbre de la noche o la trama de la noche en la urdimbre del día mientras tejo: la fidelidad en un hilo. III De día dedales. En la noche, nadie. IV Y ella no dice ya no te pertenezco hace mucho entregué mi corazón al sosiego 113
enquanto seu coração balançava em viagem enquanto eu me consumia entre os panos da noite você percorria distâncias insuspeitadas corpos encantados de mulheres com cujas línguas estranhas eu poderia tecer uma mortalha da nossa língua comum. E ela não disse no início ainda pensei em você primeiro como quem arde diante de uma fogueira apenas extinta depois como quem visita em lembrança a praia da infância e então como quem recorda o amplo verão e depois como quem esquece. E ela também não disse a solidão pode ter muitas formas, tantas quantas são as terras estrangeiras, e ela é sempre hospitaleira. V A viagem pela espera é sem retorno. Quantas vezes a noite teceu a mortalha do dia. quantas vezes o dia desteceu sua mortalha? Quantas vezes ensaiei o retorno — o rito dos risos, espelho tenro, cabelos trançados, casa salgada, coração veloz? A espera é a flor que eu consigo. Água do mar, vinho tinto — o mesmo copo.
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mientras tu corazón oscilaba en viaje mientras yo me consumía entre las telas de la noche recorrías distancias insospechadas cuerpos encantados de mujeres con cuyas lenguas extrañas yo podría tejer la mortaja de nuestra lengua común. Y ella no dijo al principio todavía pensaba en ti primero como quien arde ante una hoguera recién extinguida después como quien visita en el recuerdo la playa de la infancia y luego como quien recuerda el ancho verano y después como quien olvida. Y ella tampoco dijo la soledad puede tener muchas formas, tantas como son las tierras extranjeras, y siempre es hospitalaria. V El viaje por la espera no tiene retorno. Cuántas veces la noche tejió la mortaja del día. ¿Cuántas veces el día destejió su mortaja? ¿Cuántas veces ensayé el retorno — el rito de las risas, tierno espejo, cabellos trenzados, casa salada, corazón veloz? La espera es la flor que obtengo. Agua de mar, vino tinto — el mismo vaso.
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VI E então se sentam lado a lado para que ela lhe narre a odisseia da espera. * É bom lembrar lembranças dos outros como quem se oferece para carregar as compras de supermercado de outra pessoa é bom usar palavras que nunca usamos, palavras que só conhecemos dos livros de botânica dos anúncios de cruzeiros dos contratos de locação é bom portanto usar palavras emprestadas nem que seja para lembrar que só temos palavras de segunda mão é bom ficar de vez em quando para dormir na casa de um amigo usar uma velha camiseta dele habitar alguns de seus hábitos usar à noite se possível um de seus sonhos recorrentes é bom encontrar uma vez ou outra pessoas que conhecemos na infância é bom nos esforçarmos por um tempo para parecer com a lembrança delas é bom topar de repente com um tanto de areia no bolso de uma calça jeans que há tempos não usamos seguir as instruções do horóscopo de um signo que rege um dia em que não nascemos
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VI Y entonces se sientan lado a lado para que ella le narre la odisea de la espera. * Es bueno recordar recuerdos de otros como quien se ofrece a cargar las compras del supermercado de otra persona es bueno usar palabras que nunca usamos, palabras que sólo conocemos por los libros de botánica por los anuncios de cruceros por los contratos de alquiler es bueno entonces usar palabras prestadas aunque más no sea para recordar que sólo tenemos palabras de segunda mano es bueno quedarse de vez en cuando a dormir en casa de un amigo usar una camiseta vieja del amigo habitar algunos de sus hábitos usar a la noche de ser posible uno de sus sueños recurrentes es bueno encontrar alguna que otra vez personas que conocimos en la infancia es bueno esforzarnos por un tiempo en parecernos a su recuerdo es bueno encontrar de pronto un poco de arena en el bolsillo de un pantalón de jean que hace tiempo no usamos seguir las instrucciones del horóscopo de un signo que rige un día en que no nacimos
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vestir-nos de acordo com a previsão do tempo de uma cidade que nunca pensamos visitar é bom ao menos uma vez na vida fazer uma viagem em companhia de um parente morto é bom escrever de vez em quando poemas com viagens por dentro com cidades e memórias de paisagens por dentro que pareçam escritos por outra pessoa * COLEÇÃO
para Maria Esther Maciel
Colecionamos objetos mas não o espaço entre os objetos fotos mas não o tempo entre as fotos selos mas não viagens lepidópteros mas não seu voo
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vestirnos según la previsión del tiempo de una ciudad que nunca pensamos visitar es bueno al menos una vez en la vida hacer un viaje en compañía de un pariente muerto es bueno escribir de vez en cuando poemas con viajes adentro con ciudades y recuerdos de paisajes interiores que parezcan escritos por otra persona * COLECCIÓN para Maria Esther Maciel Coleccionamos objetos pero no el espacio entre los objetos fotos pero no el tiempo entre las fotos estampillas pero no viajes lepidópteros pero no su vuelo
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garrafas mas não a memória da sede discos mas nunca o pequeno intervalo de silêncio entre duas canções * CAÇADA E o que é o amor senão a pressa da presa em prender-se? A pressa da presa em perder-se
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botellas pero no el recuerdo de la sed discos pero nunca el pequeño intervalo de silencio entre dos canciones * CACERÍA ¿Y qué es el amor sino la prisa de la presa por prenderse? La prisa de la presa por perderse
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KARINA RABINOVITZ (1977) DOS MUROS passeio rua afora estão todos a construir, tijolo por tijolo, suor por suor, novos muros. e quando deitam, à noite a dormir, — todos — não há nada que sonhem mais: derrubar muros. * LIÇÕES DE GERÚNDIO Se engana quem quiser, quando se põe a pensar que é alguma coisa. Eu, por minha vez, escolho como abrigo os braços do seu Gerúndio, no tempo do sendo. É — mais seguro, sendo — mais sábio. 122
KARINA RABINOVITZ (1977) DE LOS MUROS paseo por la calle están todos en construcción, ladrillo por ladrillo, sudor por sudor, nuevos muros. y cuando se acuestan, a la noche a dormir, — todos — no hay nada que sueñen más: derribar muros. * LECCIONES DE GERUNDIO Engáñese quien quiera, cuando se pone a pensar que es algo. Yo, por mi parte, elijo como abrigo los brazos del señor Gerundio, en el tiempo del siendo. Es — más seguro, siendo — más sabio. 123
Vendo minhas relíquias de pensamento e meu baú de vícios, acomodação do que sou, e compro um vestido novo, amarelo, para combinar com o sol que anda fazendo. Amanhã pode até chover, mas eu não serei, nem sou, eu sendo. * FILHA DE DUCHAMP, SOU CÂNONE DO AGORA este meu rap no fundo é um soneto como este agora é branco e também preto yin e yang sou tudo e também nada, navego canoa embriagada. este soneto no fundo é um rap não há conceitos, só um grande gap vou escrevendo meus dias no ar construindo andaimes sobre o mar. sigo amassando a maçã dessa Eva apodrecida, que quase me leva minhas liberdades, as arredias. minha linguagem não instrumental é sim meu instrumento musical. esta é minha colheita desses dias 124
Vendo mis reliquias de pensamiento y mi baúl de vicios, disposición de lo que soy, y compro un vestido nuevo, amarillo, para que combine con el sol que está haciendo. Mañana puede llover, pero yo no seré, ni soy, siendo. * HIJA DE DUCHAMP, SOY CÁNON DEL AHORA este mi rap en el fondo es un soneto como este ahora es blanco y también negro yin y yang soy todo y también nada, navego canoa embriagada. este soneto en el fondo es un rap no hay conceptos, sólo un gran gap mis días en el aire voy escribiendo andamios sobre el mar voy construyendo sigo amasando la manzana de esa Eva podrida, que casi se lleva mis libertades a las lejanías. mi lenguaje no instrumental es sí mi instrumento musical. esta es mi cosecha de estos días 125
* você vai em amanhã, hoje? talvez aos 50, me torne a andarilha errante que não fui aos 20, solta como a menina descalça, com seu violão de brinquedo, perambulando pela rodoviária de Itaberaba, descubra vias cobertas de pó, descanse sob sombras de ipês roxos, jogue totó nos bares de beira de estrada, fazendo gol com os bonecos sem cabeça, vermelhos desbotados, grude os olhos nas nuvens. talvez aos 50 eu faça aquele número de trapézio que sonho desde os 16 e segure com as mãos bem firmes, os pulsos do vento, pra depois reaprender a reviravolta das cambalhotas e então me solte sem lembrar se tem rede ou não. sim, aos 50 talvez eu encha envelopes de depósito de cheques, com pipoca dentro e corra pela rua jogando essas pequenas flores brancas de milho pelo chão, como pistas de algum caminho até lugares
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* ¿te vas a la mañana, hoy? tal vez a los 50, me convierta en la andariega errante que no fui a los 20, suelta como la niña descalza, con su guitarra de juguete, deambulando por la terminal de Itaberaba, descubra vías cubiertas de polvo, descanse a las sombras de ipês púrpuras, juegue metegol en los bares al costado de la ruta, haga goles con los muñecos sin cabeza, rojos descoloridos, clave los ojos en las nubes. Tal vez a los 50 haga ese número de trapecio que sueño desde los 16 y aferre con las manos bien firmes, las muñecas del viento, para después reaprender la voltereta de las piruetas y entonces me suelte sin pensar si hay red o no. Sí, a los 50 tal vez llene sobres de depósito de cheques con pipoca y corra por la calle arrojando esas pequeñas flores blancas de maíz por el suelo, como pistas de algún camino hacia lugares
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inseguros, onde eu possa chorar à vontade sob o sol das duas da tarde, sem me preocupar em seguir ou voltar. aos 50 talvez sim eu vire a surfista com o sol tatuado no corpo todo, que sempre quis ser e leia ondas, enquanto visito o vácuo com braços pássaros e me exiba de cabeça pra baixo, num floater sem plateia, jogando os sacos de areia da matraca do meu pensamento, pra fora, em cada aéreo coreografado com as espumas. talvez aos 50, quando voltar a ler este poema, eu seja tudo isso mais (era) uma vez.
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inseguros, donde pueda llorar a mi antojo bajo el sol de las dos de la tarde, sin preocuparme por seguir o regresar. A los 50 tal vez sí me convierta en esa surfista con el sol tatuado en todo el cuerpo que siempre quise ser y lea las olas, mientras visito el vacío con brazos pájaros y me exhiba cabeza abajo, en un floater sin platea, arrojando las bolsas de arena de la matraca de mi pensamiento, hacia afuera, en cada aéreo coreografiado con la espuma. Tal vez a los 50, cuando vuelva a leer este poema, yo sea todo eso más (era) una vez.
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AMORA PÊRA (1981) PARVO CORPO PROVO CADO POEMA PARA CORPO OCULTO
‘...reconhecemos estar localizados em território indígena não cedido.’
esse corpo (e)migrante só existe quando caminho esse corpo fronteiriço estrangeiro esse corpo meio inteiro em fuga feito saudade constante da vida esse corpo em trânsito sem contato sem pontos sem ponte esses corpos sem terra não são meus são eus esse traço corte na geografia que separa o dinheiro, define as gentes? esse par no mar nunca chega esses corpos sem papel nem passada cheios d’água no pulmão esse corpinho caça carinho quer um ninho emprestado esse corpo ossudo invisível na boca do urubu na beira da praia é ofensa e não oferenda essa ossada sem nome no cais tem traz faz a história esse corpo preto pálido teso flácido luta até o fim anda nada carrega corre naufraga em direção a mim 130
AMORA PÊRA (1981) PARVO CUERPO PROVO CADO POEMA PARA CUERPO OCULTO
‘...reconocemos estar localizados en territorio indígena no cedido.’
ese cuerpo (e)migrante sólo existe cuando camino ese cuerpo fronterizo extranjero ese cuerpo medio entero en fuga como nostalgia constante de la vida ese cuerpo en tránsito sin contacto sin puntos sin puente esos cuerpos sin tierra no son míos son yos ese trazo corte en la geografía que separa el dinero, ¿define a la gente? ese par en el mar nunca llega esos cuerpos sin papel ni paso llenos de agua en los pulmones ese cuerpito caza cariño quiere un nido prestado ese cuerpo huesudo invisible en la boca del buitre en la orilla de la playa es ofensa y no ofrenda esa osamenta sin nombre en el muelle tiene trae hace la historia ese cuerpo negro pálido tieso fláccido lucha hasta el fin camina nada carga corre naufraga en dirección a mí 131
esses corpos distantes me embaraçam, são meus parentes avós pais partos esse corpo guenzo pesa no bolso não reflete d’eu me ver não pode ser ‘obra de ventre de mulher’ esses corpos presos fora não têm porta esses povos se cortam na cerca e correm de um inimigo a outro esses povos apoucados bandeira fincada no meio da garganta esses provos ‘escolheram entre a resistência desesperada ou perecer de forma apática’ esse corpo encrenca enclenque não sabe que língua fala esse corpo uniforme sabe bem onde atira esse corpo patrão tem pouca tinta na pele e na veia não de fraco de oco esses corpos não ecoam sem oca. * temos chorado muito engolindo livros, as estantes ingovernáveis. temos chorado sem medo na vista a presença do futuro bravo que semearam as estatísticas e hoje, seiva, serão campos diversos serão árvore alta;
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esos cuerpos lejanos me embarazan, son mis parientes abuelos padres partos ese cuerpo enteco pesa en el bolsillo no refleja de verme no puede ser ‘obra de vientre de mujer’ esos cuerpos presos afuera no tienen puerta esos pueblos se cortan en el alambrado y corren de un enemigo a otro esos pueblos reducidos bandera clavada en medio de la garganta esos provos ‘eligieron entre la resistencia desesperada o perecer de forma apática’ ese cuerpo confusión enclenque no sabe qué lengua habla ese cuerpo uniforme sabe bien dónde dispara ese cuerpo patrón tiene poca tinta en la piel y en las venas no por débil por vano esos cuerpos no hacen eco sin ruca. * hemos llorado mucho tragando libros, estanterías ingobernables. hemos llorado sin miedo a la vista la presencia del bravo futuro que sembraron las estadísticas y hoy, savia, serán campos diversos serán árbol alto;
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ar, contaminado de ar e água temos chorado maré aperto mormaço com plexo sonhando a praia. e um berro constipado de séculos a murro agora ruge e caga. fede agridoce a merda suja tudo e libera liberta o ventre punho em riste ou não. não há mais porão. temos excretado um sangue veneno moléstia acumulada no prato pasto impossível calar o estômago (todo subjetividade e objetivo); tem pressa. hemos pra(n)teado risas derretidos no álcool de ver a musculatura dos que resistem insistentes, ainda, no chão ou levantados. de sentir o cheiro do que vem lá; linda a próxima estação. plantemos jovens baobás, pra marcar o de vir. que o novo mapa os engorde! e não batiza esse bebê dá-lhe peito dá-lhe a mão na dele ensina a cartilha de seus direitos antes de todos o de sorrir. temos chorado dutos diante da força dos que carregam no goto.
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aire, contaminado de aire y agua hemos llorado marea aprieto bochorno el plexo soñando la playa. y un berrido constipado de siglos a trompadas ahora ruge y caga. hiede agridulce la mierda ensucia todo y libera liberta el vientre puño en ristre o no. no hay más sótanos. hemos excretado una sangre veneno molestia acumulada en el plato pasto imposible callar el estómago (todo subjetividad y objetivo); tiene prisa. hemos llan(te)ado risas derretidos en el alcohol de ver la musculatura de los que resisten insistentes, todavía, en el suelo o levantados. de sentir el olor de lo que viene; linda la próxima estación. plantemos jóvenes baobabs, para marcar lo que vendrá ¡que el nuevo mapa los engorde! y no bautices a ese bebé dale el pecho dale tu mano en la suya enséñale la cartilla de sus derechos ante todo el de sonreir. hemos llorado canales ante la fuerza de los que cargan en la glotis.
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do nó, o canto noutros tons. porta no tronco porta no texto e encorajam na desordem construir maravilhados. temos chorado a água urgente que vem encher os rios de sal; nosso suor imprivatizável, uma gente ágora é nós enchente. * PARÊNTESES PARA ZURITA - INSTRUÇÕES SUGERIDAS INSCREVER A CORAGEM NA CARNE DO TERRITÓRIO GRAVAR A ALEGRIA NO GLOBO TATUAR NA TERRA FORÇAR A AREIA DA MEMÓRIA SEM MEDO ANTES QUE PRESCREVA A VIDA UMA VEZ MAIS VIVER O POEMA HASTA EXPLOTAR EL PODER
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del nudo, el canto en otros tonos. puerta en el tronco puerta en el texto y encorajan en el desorden construir maravillados. hemos llorado el agua urgente que viene a llenar los ríos de sal; nuestro sudor imprivatizable, una gente ágora es nosotros torrente. * PARÉNTESIS PARA ZURITA - INSTRUCCIONES SUGERIDAS INSCRIBIR EL CORAJE EN LA CARNE DEL TERRITORIO GRABAR LA ALEGRÍA EN EL GLOBO TATUAR EN LA TIERRA FORZAR LA ARENA DE LA MEMORIA SIN MIEDO ANTES QUE PRESCRIBA LA VIDA UNA VEZ MÁS VIVIR EL POEMA HASTA EXPLOTAR EL PODER
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NINA RIZZI (1983) UM CAIMENTO PERFEITO minha filha se senta de pernas bem abertas usa uma calcinha infantil que lhe cobre toda quase nada esparrama tinta e grãos no chão se arreganha, se arregala. combina em tudo com a paisagem: meia dúzia de livros que logo serão trocados utensílios de cozinha, duas redes, dois banquinhos em quase nada tudo cabe e cabia ainda numa paisagem tribal cheia de corpos nus brilhantes, suados e lisos nus a natureza pronta. da janela bem aberta um espaço outro paisagem para o nada e sua gente que em tudo não combina dentro — fecha essas pernas, menina! junto ao cimento e caos uma pessoa nua de tão pura exala uma inverdade, um absurdo por isso toda a gente está coberta de peles artificiais incríveis botas de pisar o chão doído. faz sentido. um mundo que se esvazia para o nada. volto dentro a tinta tinge o chão, os grãos, a parede 138
NINA RIZZI (1983) UNA CAÍDA PERFECTA mi hija se sienta las piernas muy abiertas lleva una bombachita que le cubre toda casi nada desparrama tinta y garbanzos en el suelo se despatarra, se desorbita. combina en todo con el paisaje: media docena de libros que luego serán cambiados utensilios de cocina, dos hamacas, dos banquitos en casi nada todo cabe y aun cabía en un paisaje tribal lleno de cuerpos desnudos brillantes, sudados y tersos desnudos la naturaleza pronta. de la ventana muy abierta un espacio otro paisaje hacia la nada y su gente que en todo no combina adentro — ¡cierra esas piernas, niña! junto al cemento y caos una persona desnuda de tan pura exhala una inverdad, un absurdo por eso toda la gente está cubierta de pieles artificiales increíbles botas de pisar el suelo dolido. tiene sentido. un mundo que se vacía hacia la nada. vuelvo adentro la tinta tiñe el suelo, los garbanzos, la pared 139
suas pernas bem abertas — quer dar uma volta lá fora, pequena? não. aqui dentro arde e treme uma outra verdade que lá fora é invasão, atentado, feiura corpos fora da des-paisagem. faz sentido. dentro é tribo, tecido chão macio pra se morar. * UMA DOSE DE RAZÃO, TRÊS DE SENSIBILIDADE um dia beijei as marcas de senilidade nas mãos de eugénio de andrade e nunca mais deixei de amar tais marcas, nos homens e mulheres que a contavam, nas cidades baixias e imaginárias da minha ternura, o que não foi, o que já era, o nunca vir a ser hoje olhei no espelho e não pude mais beijá-lo o espaço estava um andar acima como observatório de mim uma amiga dançava, amparada nas estrelas era manhã e o sol já iluminava as lâmpadas pet, implacável tinha nas mãos as marcas dos móveis antigos que ei de fazer sobre eles, iluminuras, um livro de perguntas
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sus piernas muy abiertas — ¿quieres dar una vuelta allá afuera, pequeña? no. aquí dentro arde y tiembla otra verdad que allá afuera es invasión, atentado, fealdad cuerpos fuera del des-paisaje. tiene sentido. adentro es tribu, tejido suelo suave donde morar * UNA DOSIS DE RAZÓN, TRES DE SENSIBILIDAD un día besé las marcas de senilidad en las manos de eugénio de andrade y nunca más dejé de amar esas marcas, en los hombres y mujeres que la contaban, en las ciudades bajías e imaginarias de mi ternura, lo que no fue, lo que ya era, lo que nunca llegaría a ser hoy miré el espejo y ya no pude besarlo el espacio estaba un piso arriba como observatorio de mí una amiga bailaba, amparada en las estrellas era de mañana y el sol ya iluminaba las lámparas pet, implacable tenía en las manos las marcas de los muebles antiguos que voy a hacer? sobre ellos, manuscritos iluminados, un libro de preguntas
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* CANTATA PRA DELEUZE E BERKELEY quando ontem papai ligou se abatiam meus pés as estradas velhas era dia de véspera, a arder o oco do mundo ainda agora mergulho o nada e a náusea submundos, paraísos artificiais, o terrivelmente real chegar entre * A PEDRA GLÓRIA DE UM DEUS-COYOTE 1. uma pedra e tudo muda, querido não tinha agora essa faca tão bem ajustadinha na garganta e são tantas essas facas que me marcam em aviso eu também sou a outra, eu também do alto dos cinco metros de andaime enferrujado só uma pedra, um elevador, sua mão tremendo na minha e tudo mais, esse silêncio e as frases tão bem arranhadas como o joelho que lambe, lambe esgalamido. não haveria nada a dizer 2. tenho perdido muitos reinos com o se percebe a minha irresponsabilidade com tudo os crisântemos que murcharam, os pescoços que não
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* CANTATA PARA DELEUZE Y BERKELEY cuando ayer papá llamó se abatían mis pies las calles viejas era día de víspera, que arda el hueco del mundo todavía ahora zambullo la nada y la náusea submundos, paraísos artificiales, lo terriblemente real llegar entre * LA PIEDRA GLORIA DE UN DIOS-COYOTE 1. una piedra y todo cambia, querido no tenía ahora ese cuchillo tan pegadito a la garganta y son tantos esos cuchillos que me marcan como aviso yo también soy la otra, yo también de lo alto de los cinco metros de andamio oxidado sólo una piedra, un ascensor, tu mano temblando en la mía y todo lo demás, ese silencio y las frases araadas como la rodilla que lame, lame glotona. no habría nada que decir 2. he perdido muchos reinos con el tal vez se percibe mi irresponsabilidad en todo los crisantemos que se marchitaron, los cuellos que no
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eu não lambi, eu chorava pescoços, amor — porque ele está tão aos longes e também aquela toda outra olho as criancinhas e meu coração se aumenta em batimentos tantos. tenho paúra deste mau-tempo, senhor d 3. rosinhas tão bonitinhas se despetalam enquanto uns putos se desnorteiam essa casa já foi uma teia de pedras e foices e a tina d’água imensa em que me afogar essa casa qualquer coisa de imunda como esses meus lábios que aceito é verdade, nada nada santos, louquíssimos e prontos a próxima hora de abandono. ó. você gostava desse ó tão triste que termina as poemas. como levantar pedras pra u’a casa sem ó? 4. uma cartinha depois e já não era esse tanto. incendiava toda sua quebrada e olha, eu sou só mato, visse, minino? e a palavra escuta. escuta 5. já não perco a respiração enquanto caminho sozinha sinto cheiro de cachimbo e o passado é uma coisa tão inexistente quanto a espera. esperar o quê, querido? quando vieres ver um banzo cor de fogo 6. quebrar co’as unhas estalactites, morder cenouras duas que trazes pra o almoço. brincar y brincar de fazer filhinhos 7.
y já te amo desde sempre. y
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yo no lamí, yo lloraba cuellos, amor — porque él está tan lejos y también aquella toda otra miro a los niños y mi corazón se agranda en latidos tantos. Tengo pavura de este mal tiempo, señor d 3. rositas tan pero tan bonitas se despetalan mientras unos putos se desnortean esta casa ya fue una tela de piedras y hoces y la tina de agua inmensa donde ahogarme esta casa así de inmunda como estos labios míos que acepto es verdad, para nada santos, loquísimos y dispuestos a la próxima hora de abandono. oh. te gustaba ese oh tan triste que termina las poemas. ¿cómo levantar piedras para una casa sin oh? 4. una cartita después, y ya no era para tanto. incendiaba todo su barrio y mira, yo soy apenas mato, ¿viste, nene? y la palabra escucha. escucha 5. ya no se me corta la respiración cuando camino sola siento olor a pipa y el pasado es una cosa tan inexistente como la espera. ¿esperar qué, querido? Cuando vengas verás un banzo color fuego 6. romper estalactitas co´as uñas, morder zanahorias desas que traes para el almuerzo. jugar y jugar a hacer hijitos 7. y ya te amo desde siempre. y
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GUILHERME GONTIJO FLORES (1984) PENSEM NA PLANTA ANTROPOFÁGICA no cauim comercial na planta que consome a pedra consome a água mais dura que a pedra e reverte o verde da carne em muro em pele estanque no não lugar entre a carne e novamente a pedra repleta de um som silente de planta * NÃO BASTA O RIO murmúrio adocicado das águas rumo certeiro transparência do olho d’água desaguar suave sua torrente não adianta fonte pura ou perpétuo devir dos rios como se fosse foz seu único destino não basta o rio — cruzar a vida como esquina 146
GUILHERME GONTIJO FLORES (1984) PIENSEN EN LA PLANTA ANTROPÓFAGA en el cauim comercial en la planta que consume la piedra consume el agua más dura que la piedra y revierte el verde de la carne en muro en piel estanque en el no lugar entre la carne y nuevamente la piedra repleta de un sonido silente de planta * NO BASTA EL RÍO murmullo endulzado de las aguas rumbo certero transparencia del ojo de agua desaguar suave su torrente no sirve fuente pura el perpetuo devenir de los ríos como si desembocar fuese su único destino no basta el río — cruzar la vida como esquina 147
sem banzeiro que revire a via estreita nem sorrir pra cantilena ilusória do mar — carece macaréu em barro e areia arrancado as árvores revendo o próprio rumo estrondo só sal revoluto o corpo inteiro em pororoca * encontrar na carcaça dum pássaro destroçada por dois gatos bem nutridos (gratuidade do ato crueldade — palavra inventada humana demais pra contar esse ato — sem pecado sem perdão) encontrar nesse corpo espalhado pela casa enquanto hesita entre uma pazinha ou um papel higiênico enquanto lembra de pegar um saco plástico não muito grande/não aquele azul enquanto afasta os gatos que teimam em brincar com a comida — aliás nem comida enquanto afasta os gatos que teimam em brincar (ponto)
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sin oleaje que revire la vía estrecha ni sonreirle a la cantilena ilusoria del mar — carece macareo en barro y arena arrancado los árboles reviendo el propio rumbo estruendo sal revuelta el cuerpo entero en pororoca * encontrar en la carcasa de un pájaro destrozada por dos gatos bien alimentados (gratuidad del acto crueldad — palabra inventada demasiado humana para contar ese acto — sin pecado sin perdón) encontrar en ese cuerpo esparcido por la casa mientras vacila entre una palita o un papel higiénico mientras recuerda agarrar una bolsa de plástico no muy grande/no esa azul mientras aparta a los gatos que insisten en jugar con la comida — que además ni es comida mientras aparta a los gatos que insisten en jugar (punto)
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encontrar uma réstia de vida não no pássaro morto/destroçado/espalhado pela casa nem nos gatos que de bem nutridos seguem a vida sem procuras uma réstia de vida um soco na cara um beijo por detrás da orelha uma réstia ainda & sempre por se encontrar * REVER é o cheiro da seca no solo solto de chuva — despétala a vi olência flo rindo sem nome — entre cercas do asfalto violáceo * EMBORA NAS PREGAS PEÇAS da vida um casulo crisálida se faça em cio solitário
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encontrar un rastro de vida no en el pájaro muerto/destrozado/esparcido por la casa ni en los gatos que de tan alimentados viven una vida sin búsquedas un rastro de vida un golpe en la cara un beso atrás de la oreja un rastro ahora & siempre por encontrarse * REVER es el olor de la sequía en el suelo flojo de lluvia — despétala la vi olencia flo reciendo sin nombre — entre cercas de asfalto violáceo * AUNQUE HAGAS TRAMPA a la vida un capullo crisálida se haga en celo solitario
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cercando-se de si enquanto cresce impune turvo belo & gerante — uma lira à guisa de arco semsaber do sensabor diário — embora cada casa abrigue o próprio cerco que nunca se anuncia enquanto sempre está cumprindo diminuída em parte no peso intenso & úmido da sua muralha desgrenhada na fúria gargalhada do mar vida é vinho rubrespumando em cada aurora
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cercándose de sí mientras crece impune turbio bello & generador — una lira a guisa de arco sinsaber del sinsabor diario — aunque cada casa abrigue el propio cerco que nunca se anuncia mientras siempre está cumpliendo disminuída en parte en el peso intenso & húmedo de su muralla desgreñada en la furia carcajada del mar vida es vino rubrespumando en cada aurora
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BRUNA MITRANO (1985) na estrada de terra da cidade vazia a criança preta empunha um pedaço de pau. ela está nua e vê-se um corpo tão prematuro quanto ruínas. a boca intumescida da criança preta gutura morte ao rei! e na aridez inalcançável dos pés descalços resiste a criança tão criança e velha, sozinha e livre — o sino da igreja abandonada toca todo dia na hora errada. * tem espinhos na língua. o encontro é quando lambe o racho da minha sola. até que o primeiro lapso nos levante às pressas — ensacamos entulhos com sutilezas de rancor. nada que despossuímos sobrevive ao que gestamos. é nesse escuro lúcido que soldamos as carnes? sim, estaremos sempre sozinhos — guardo nossos segredos com muitas mãos, seu sangue seco nas minhas coxas. * quando ela fechou as pernas a cigarra estourou de gritar 154
BRUNA MITRANO (1985) en la calle de tierra de la ciudad vacía la niña negra empuña un pedazo de palo. está desnuda y se ve un cuerpo tan prematuro como ruinas. la boca entumecida de la niña negra gutura ¡muerte al rey! y en la aridez inalcanzable de los pies descalzos resiste la niña tan niña es vieja, sola y libre — la campana de la iglesia abandonada tañe todos los días a la hora equivocada. * tiene espinas en la lengua. el encuentro es cuando lame la rajadura de mi suela. hasta que el primer lapso nos levante a las corridas — embolsamos escombros con sutilezas de rencor. nada que desposeímos sobrevive a lo que gestamos. ¿es en ese oscuro lúcido que soldamos las carnes? sí, estaremos siempre solos — guardo nuestros secretos con muchas manos, tu sangre seca en mis muslos. * cuando ella cerró las piernas la cigarra estalló de gritar 155
vinha de dentro um silêncio que não se quisesse ver um cabelo bruto uma coisa boa macassá quero me enfiar nele naquele silêncio — um bicho se olha pro outro enquanto come, é sobrevivência não é competição. * lembra quando eu subi na janela fiquei de pé e chovia eu quis que você tivesse medo e me pegasse por trás como fazem os policiais com os suicidas da golden gate mas você fez o santo de rabo de olho a boca caiu o cabelo cobriu a testa eu não entendo eu quis entender o pau duro na minha bunda criança o que era aquilo os pelos grossos e o hálito pesado do trabalho sujo agora é a fila do mercado e o celular despertando a parte que escapa à rotina: café com leite arroz tipo 1 sexo com o vizinho segredos cimentados nas calçadas dos subúrbios — o homem ainda estava com o rosto deitado nas minhas pernas feto de pele velha ossos largos pelos brancos quando eu disse eu não mais darei nomes aos meus filhos e eles não mais serão escravos. *
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venía de adentro un silencio que no se quería ver un cabello bruto una cosa buena macassá quiero meterme en él en aquel silencio — un animal se mira en el otro mientras come, es supervivencia no competencia. * recuerdas cuando subí a la ventana me quedé parada y llovía yo quería que tuvieras miedo y me agarraras de atrás como hacen los policías con los suicidas del golden gate pero te hiciste el tonto miraste de reojo la boca cayó el cabello cubrió la frente yo no entiendo yo quise entender la pija dura en mi culo de niña qué era eso los pelos gruesos y el aliento pesado del trabajo sucio ahora es la fila del mercado y el celular despertando la parte que escapa a la rutina: café con leche arroz super extra sexo con el vecino secretos cementados en las veredas de los suburbios — el hombre aún estaba con la cara apoyada en mis piernas feto de piel vieja huesos anchos pelos blancos cuando dije ya no daré nombre a mis hijos y ellos no serán más esclavos . *
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POEMA S/ TÍTULO* * com Nick Drake toda noite deus puxa meu cabelo única parte não imersa até arrancar a pele do rosto não tenho mais espelhos please give me a second face a voz engasgada de nick toda noite ouço a louca fugiu e agarrou desconhecidos dizendo olha minha garganta está fechada e meus dentes foram colados eu que não tenho mais dentes como a minha avó chupando ossos de galinha please play me your second game toda noite a menina grita o pai lambeu o lóbulo da minha orelha e a mãe lembra que é preciso esquecer que a louca que o pai que a mãe nunca lembrou de acordar a menina pra escola
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POEMA S/ TÍTULO* * con Nick Drake todas las noches dios me tira del pelo única parte no inmersa hasta arrancar la piel del rostro ya no tengo espejos please give me a second face la voz atragantada de nick todas las noches escucho la loca escapó y agarró a desconocidos y empezó a decirles miren mi garganta está cerrada y me pegaron los dientes a mí, que ya no tengo dientes como mi abuela chupando huesos de gallina please play me your second game toda la noche la niña grita papá me lamió el lóbulo de la oreja y la madre recuerda que es necesario olvidar que la loca que el padre que la madre nunca se acordó de despertar a la niña para la escuela
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please tell me your second name toda noite vem o homem vestido de branco e conto a ele do pintor que disse não gosto de aquarela é impossível domar a água que foi o pintor com quem vivi que foi o pintor que me bateu num hotelzinho na angélica please give me a second grace toda noite vem o homem vestido de branco e digo a ele é impossível domar a água I just sit on the ground in your way o homem vestido de branco anota a minha doença num papel.
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please tell me your second name todas las noches viene el hombre vestido de blanco y le cuento sobre el pintor que dijo no me gusta la acuarela es imposible domar el agua que fue el pintor con quien vivĂ que fue el pintor que me golpeĂł en un hotelito en la angeĚ lica please give me a second grace todas las noches viene el hombre vestido de blanco y le digo es imposible domar el agua I just sit on the ground in your way el hombre vestido de blanco anota mi enfermedad en un papel.
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ELIZEU BRAGA (1985) mormaço na flor na pele no suor dos olhos o corre daquela senhora que anda pra cima e pra baixo com aquela menina escanchada no ombro com a cara aberta num sorriso mormaço na fila dobrando a esquina da caixa econômica o olhar que se perde numa lembrança de não sei o que aqui pro rumo do norte é bem forte o troço dizem que somos terceiro mundo mal educados mal falados esquentados criadores de caso e sem memória dizem que a cidade é de todos só pra gente acreditar que ela é de ninguém mormaço no pneu da bike encostando no asfalto quente mormaço naquele tempo fora do ar do escritório pra pegar a marmita e um suco de graviola mormaço no rosto do pedreiro velho que conhece a cidade como as marcas da mão mormaço no suor escorrendo evaporando um horizonte quente subindo do chão quem escuta a voz da cidade quem ainda acredita nas lendas dos deuses colonizadores quem se senta pra escutar os contadores do desenvolvimento demolidores que confundem lucro com sustento eles que nem vivem aqui que nem moram aqui ficam de longe porque não aguentam o nosso mormaço tomando vinho as nossas custas olha já escuta aqui tá me ouvindo esse corpo aguenta é cachaça 162
ELIZEU BRAGA (1985) calor quemante a flor de piel en el sudor de los ojos a las corridas de esa señora que anda de acá para allá con esa niña montada en los hombros con la cara abierta en una sonrisa calor que quema en la fila doblando la esquina de la Caixa Econômica mirada que se pierde en el recuerdo de no sé qué aquí por el lado del norte la cosa viene pesada dicen que somos tercer mundo maleducados mal hablados recalentados buscapleitos y sin memoria dicen que la ciudad es de todos solo para que creamos que es de nadie calor que quema en la goma de la bike sobre el asfalto caliente calor que quema en ese rato fuera del aire de la oficina para buscar la lonchera y un jugo de graviola calor que quema en el rostro del obrero viejo que conoce la ciudad como las líneas de su mano calor que quema en el sudor que corre se evapora horizonte caliente que sube del suelo quien escucha la voz de la ciudad quien todavía cree en las leyendas de los dioses colonizadores quien se sienta a escuchar a los contadores del desarrollo demoledores que confunden lucro con sustento ellos que ni viven aquí que ni residen aquí miran de lejos porque no aguantan nuestro calor que quema tomando vino a costa nuestra mirá escuchá me estás oyendo este cuerpo aguanta la cachaça 163
minha coragem não fica de ressaca esse calor me leva pra água meus olhos enxergam o rio os ouvidos escutam os pássaros sou bem daqui onde minha memória costura como essa gente acolhedora e cheia de esperança que quando precisa sabe enfrentar o sol * a cidade não tem rima mas tem muro tem promessa de progresso mas nenhuma de futuro a cidade perna aberta pra quem chega de outros mundos a cidade obedece a moda da roda dos imundos que só faz ela apodrecer esconder o que de mais bonito tem potencia no agronegócio arrebentando com a terra e com quem nela se mantêm cidade empresarial corta as árvores nativas planta palmeira imperial trucida os povos indígenas trata o pobre como marginal até ai tudo bem nada de novo no fronte a situação aqui é exemplo para Belo Monte região norte periferia do brasil a amazônia do teu cartão postal já se destruiu felizmente por aqui ainda existem guerreiros e guerreiras que lutam e são tantos quantos os dançarinos de boi bumbar balas lhes perseguem na floresta mas só viram pauta na imprensa popular foi por isso que fiz essa toada pra poder na base da palavra
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mi coraje no queda con resaca este calor que quema me lleva al agua mis ojos avistan el río los oídos escuchan los pájaros soy bien de aquí donde mi memoria zurce como esa gente acogedora y llena de esperanza que cuando es necesario sabe enfrentar el sol * la ciudad no tiene rima pero tiene muro tiene promesa de progreso pero ninguna de futuro la ciudad se abre de piernas al que llega de otros mundos la ciudad obedece la moda de la ronda de los inmundos que solo la lleva a pudrirse a esconder lo más lindo que tiene potencia del agronegocio que revienta la tierra y a quienes de ella se alimentan ciudad empresarial corta árboles nativos planta palmera imperial despedaza a los pueblos indígenas trata al pobre como marginal hasta ahí todo bien nada nuevo en el frente la situación aquí es ejemplo para Belo Monte región norte periferia del brasil la amazonía de tu tarjeta postal ya se destruyó por suerte por aquí todavía existen guerreros y guerreras que luchan y son tantos cuantos los bailarines de Boi Bumba balas los persiguen en la selva pero sólo son primicia en la prensa popular por eso hice esta tonada, para poder en base a la palabra
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a força desses guerreiros chamar e grita lá em corumbiara e no hugo chaves a resistência e a luta guerra contra os latifundiários notícia que os grandes meios de comunicação e o cacique do pmdb oculta porque assim como um marighela um professor do movimento camponês lutou e assim como chico mendes uma bala em seu peito estourou e grita as comunidades na beira do rio madeira que mantiveram sua fé e a tradição da cultura beradeira ficaram em suas casas quando veio a grande alagação os outros prejuízos trazidos pela destruição das irresponsabilidades de projetos que produzem energia pra outra região a cidade segue explorada colonizada anestesiada mas sonha sonha sonha com seus filhos que virão não aqueles que buscam dela a riqueza mas aqueles que por ela lutarão * com quantos paus se faz uma canoa? com quantos ferros se faz um trem? o caminho de quem vai é igual o caminho de quem vem? quem tá embaixo tem o mesmo tanto que o de cima tem? a memória que se assina assassina a memória de alguém? quem tem mais
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la fuerza de esos guerreros convocar y grita allá en corumbiara y en hugo chaves la resistencia y la lucha guerra contra los latifundistas noticia que los grandes medios de comunicación y el cacique del pmdb ocultan porque así como un marighela un maestro del movimiento campesino luchó y así como chico mendes una bala en su pecho estalló y gritan las comunidades a orillas del río madeira que mantuvieron su fe y la tradición de la cultura orillera se quedaron en sus casas cuando vino la gran inundación los otros perjuicios que trajo la destrucción por la irresponsabilidad de los proyectos que producen energía para otra región la ciudad sigue explotada colonizada anestesiada pero sueña sueña sueña con sus hijos que vendrán no aquellos que buscan su riqueza sino los que por ella lucharán. * ¿con cuántos palos se hace una canoa? ¿con cuántos hierros se hace un tren? ¿el camino de quien va es igual al camino de quien viene? ¿el de abajo tiene lo mismo que tiene el de arriba? ¿la memoria que se firma asesina la memoria de alguien? quien tiene más
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vive com menos do que lhe convém a tarrafa vai mas o peixe não tem o rio corre o homem também quem vai não escuta quem diz de onde vem quem sabe não seja por isso que o medo mantém a coragem presa e o sonho também quanto custa a passagem no trem hein a fumaça encobre o rio que sobe a barragem resolve a madeira é nobre o ouro também quem vai e quem vem quem vai ficar com muito quem vai ficar sem nem * é o rio que corta a cidade ou é a cidade que enforca o rio * LISTA DE PEQUENAS COISAS Assistir a chuva como se fosse televisão
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vive con menos de lo que le conviene la red pesquera va pero pez no tiene el río corre el hombre también quien va no escucha a quien dice de dónde viene tal vez sea por eso que el miedo mantiene preso al coraje y al sueño también cuánto cuesta el pasaje de tren eh el humo encubre el río que sube el dique resuelve la madera es noble el oro también quien va y quien viene quien se quedará con mucho quien quedará sin siquiera sin * es el río que corta la ciudad o es la ciudad que ahorca al río * LISTA DE PEQUEÑAS COSAS Ver la lluvia como si fuera televisión
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Conversar como quem tem muitas histórias Olhar cada pessoa como se fosse um livro Olhar nos olhos sem armas nas mãos Dizer que ama sem usar palavras Viajar dentro do bairro conhecer melhor a rua de casa, andar pela cidade como se fosse embora Contar uma história pra uma criança Ouvir uma história de uma criança Ver o amanhecer do dia Pensar no final da tarde Ver o final da tarde Pensar o amanhecer do dia Soltar um pássaro preso em alguma gaiola Segurar com as duas mãos com todo cuidado Abrir as mãos e deixar ele voar Imaginar que poderia ser esse pássaro
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Conversar como quien tiene muchas historias Mirar a cada persona como si fuera un libro Mirar a los ojos sin armas en las manos Decir que ama sin usar palabras Viajar dentro del barrio conocer mejor la calle de casa, andar por la ciudad como si te fueras para siempre Contarle un cuento a un niño Escuchar el cuento que cuenta un niño Ver el amanecer del día Pensar en el final de la tarde Ver el final de la tarde Pensar en el amanecer del día Soltar un pájaro preso en alguna jaula Tomarlo entre las manos con todo cuidado Abrir las manos y dejarlo volar Imaginar que podrías ser ese pájaro
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THIAGO E (1986) PRESSA a pressa traz nos braços sua bagagem de atrasos ; distribui de bom grado relógios enferrujados ; engorda na avenida e ergue novos obstáculos ; a pressa pintou-se moça e diz dar conta do recado ; chegou cedo e abriu a fábrica pro operário ; a mil por hora faz máquinas muito rápido ; a pressa medida com fita métrica tem tamanho de máximo ; corre com as pernas bem abertas empurrada pelo horário ; não descansou com o funcionário e acendeu o asfalto ; a pressa abraça as ruas, os telhados, mas não e vê tentáculos ; ajudou a motorista a jantar, a juntar o salário ; a pressa mostra a pá com a qual enterrará o passado ; acabou com a festa dos pássaros no mato ; não seca o suor na testa do trabalho forçado ; se fez sangue e força destes dias, destes maios ; constrói a época em que mais nada é acabado ; a pressa e trinta inícios por segundo por projetos ávido ; a pressa apenas, e apenas por pressa e princípios tem apreço ; a pressa só, sem limites, sem finais, sem desfecho — só começo: * LÍNGUA a língua é um triste molusco, chora um pranto negro e escuro ( molusco triste é essa língua ) lembra e lambe sua dor fina ; dentro da boca, tal molusco chora a falta do seu casco : quer de volta o tempo justo, voltar pra lenda do passado ; lenda velha, antes da boca, tinha concha e casa escudo e força, mas, num mistério da matéria perdeu a parte mais 172
THIAGO E (1986) PRISA la prisa trae en brazos su bagaje de atrasos ; distribuye de buen grado relojes oxidados ; engorda en la avenida y erige nuevos obstáculos; la prisa se disfrazó de muchacha y dice que va a lograrlo ; llegó temprano y abrió la fábrica para el operario ; a mil por hora hace máquinas muy rápido ; la prisa medida con cinta métrica tiene tamaño máximo ; corre con las piernas muy abiertas empujada por el horario ; no descansó con el empleado y encendió el asfalto ; la prisa abraza las calles, los techos, pero no ve tentáculos ; ayudó al chofer a yantar, a juntar el salario ; la prisa muestra la pala con que enterrará el pasado ; acabó con la fiesta de los pájaros en el mato ; no seca el sudor de la frente del trabajo forzado ; se hizo sangre y fuerza de estos días, de estos mayos ; construye la época en que ya nada se termina ; la prisa y treinta inicios por segundo por proyectos ávido ; la prisa solamente, y solo por prisa y principios tiene aprecio ; la prisa sola, sin límites, sin finales, sin desenlace — puro comienzo: * LENGUA la lengua es un triste molusco, llora un llanto negro y oscuro ( molusco triste es esa lengua ) su dolor fino rememora y lame ; dentro de la boca, ese molusco llora la falta de caparazón : quiere de vuelta el tiempo justo, volver a la leyenda del pasado ; leyenda vieja, antes de la boca, tenía concha y casa escudo y fuerza, pero, en un misterio de la materia per173
eterna — se fez só língua e se desintegra ; a língua é um triste molusco já sem esperança, no escuro, de reaver seu casco, ter futuro, resigna-se com riso de chumbo ; como lhe resta ser mesmo língua, linguagem motor — sempre e ainda — é na boca pá e palavra ( fala igual como quem cava ) cava com o corpo um liso assoalho — chão de carnes gêmeas, molhado, buscando na cabeça o antigo casco : roupa e casa, escudo e agasalho ; a língua é um triste molusco, já não sabe se é carne ou um soluço — sem concha, se reinventa no escuro — sem cara, existe feito um espectro espasmo movimento um obgesto * ORELHA 1. é uma casa na cabeça — encerada e sem madeira não tem porta para entrar: recebe a ressonância e esse som reside lá. 2. clareia o ir do cego — seu sentido mais aberto. e mostra-lhe a cara do barulho ali por perto. 3. maquinaria que me deixa ereto. 4. canteiro de obras — estribo martelo bigorna. 5. Caixa do tímpano aos cuidados do otorrino. 6. vontade não te põe em pé — e sim o interno ouvido. 7. quem tem transtorno de equilíbrio passa a se preocupar com isso. vai aprender palavra nova no hospital: vectonistagmografiadigital. 8. com vertigem e mal estar, suplica algo pra amparar. mas onde? não há nada com o que se pareça: é uma queda dentro da própria cabeça. 9. reabilita o labirinto — deitado, em pé, sentado — com roupas confortáveis — pra cima, pra baixo. 10. você precisará fixar o olhar — é o gancho para agarrar. 11. piracetam e cinarizina ajudam na circulação central três vezes ao dia. 12. sua frequência se distancia da violência
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dió la parte más eterna — se hizo sólo lengua y se desintegra ; la lengua es un triste molusco ya sin esperanza, en lo oscuro, de recuperar su caparazón, tener futuro, se resigna con desazón ; como sólo le resta ser lengua, lenguaje motor — siempre y todavía — es en la boca pala y palabra ( habla como quien cava ) cava con el cuerpo un liso basamento — suelo de carnes gemelas, mojado, buscando en la cabeza el antiguo caparazón : ropa y casa, escudo y abrigo ; la lengua es un triste molusco, ya no sabe si es carne o sollozo — sin concha, se reinventa en lo oscuro — sin cara, existe como un espectro espasmo movimiento un obgesto * OREJA 1. es una casa en la cabeza — encerada y sin madera no tiene puerta para entrar: recibe la resonancia y ese sonido reside allá. 2. clarea el ir del ciego — su sentido más abierto. y le muestra la cara del ruido en el momento. 3. maquinaria que me deja erecto. 4. cantero de obra— estribo martillo bigornia. 5. Caja del tímpano al cuidado del otorrino. 6. la voluntad no te pone en pie — sino el interno oído. 7. quien tiene trastornos del equilibrio empieza a preocuparse con esto. Aprende una palabra nueva en el hospital: vectonistagmografiadigital. 8. con vértigo y malestar, suplica algo que lo sostenga. ¿pero dónde? no hay nada que se le parezca: es una caída dentro de la propia cabeza. 9. rehabilita el laberinto — acostado, parado, sentado — con ropa cómoda — para arriba, para abajo. 10. la mirada tendrás que fijar — es el gancho para agarrar. 11. piracetam y cinarizina ayudan a la circulación central tres veces al día. 12. su frecuencia se
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da microfonia. 13. mora também em página de livro antigo, mas essa não sabe dos brincos. 14. lugar pra compor o segredo de liqüidificador. 15. criança danada tinha a orelha puxada pra lembrar do certo — diz a história: a orelha é da deusa memória. 16. onde começa o saber. 17. ultraleve. 18. é concha sem mar na praia da pele e sob o cabelo espera um gesto que a revele * MAR o mar parece um pano, faz ondas de todo tamanho, tal qual o pano quando está secando ( seria preciso uma multidão para levar o mar para o varal ) o barco passeia no mar, agora a estampa está se mexendo ; nem tudo o que se mexe tem vida — é como o barco — é engraçado : tem pano que só aparece no fim de semana. o mar não liga pra moda, tem pano que tem flores por fora. o mar sempre guarda um jardim dentro do bolso. o mar rumina a terra o tempo todo ; tem muita espuma no mar porque ele está tomando banho ( o pano já banhou ) a chuva molha o mar e o pano : o pano fica mais pesado ; o mar recebe o emprestado — às vezes o sol vem junto e surge um arco-íris : a gente corre para o pano e se cobre com o mar * MURO o que há dentro do muro não é assim tão bruto ; um pensamento sofre na argamassa que lhe cobre ; angústia o muro
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distancia de la violencia de la microfonía. 13. mora también en página de libro antiguo, pero no sabe de aretes. 14. lugar para componer el secreto de la licuadora. 15. a los niños malos se les tiraba de la oreja para escarmentarlos — dice la historia: la oreja es de la diosa memoria. 16. donde comienza el saber. 17. ultraleve. 18. es concha sin mar en la playa de la piel y bajo el cabello espera un gesto que la revele * MAR el mar parece un paño hace ondas de todo tamaño, como el paño cuando se está secando ( se necesitaría una multitud para llevar el mar a la soga de colgar ) el barco pasea en el mar, ahora el estampado se mece ; no todo lo que se mece tiene vida — es como el barco — es gracioso : hay paños que sólo el fin de semana aparecen. al mar no le importa la moda, hay paños que tienen flores por fuera. el mar siempre guarda un jardín en el bolsillo. el mar rumia la tierra todo el tiempo ; hay mucha espuma en el mar porque está tomando baño ( el paño ya se bañó ) la lluvia moja el mar y el paño : el paño queda más pesado ; el mar recibe lo prestado — a veces sale el sol y surge un arcoiris : corremos hacia el paño y nos cubrimos con el mar * MURO lo que hay dentro del muro no es tan bruto como parece ; un pensamiento sufre en la argamasa que lo cubre ; angustia el
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sente, desde antigamente : é cego todo sempre e só sabe apartar gente. há pouco ouviu do chão, com voz de escuridão, que existem as paredes — rijas tal qual ele ; diferença é que elas têm uma janela, e assim, pela janela, a parede enxerga. janela é uma abertura — não dói, não sutura ; buraco sem reboco movendo-se no corpo ( se a obra tem janela, parede é o nome dela ) cimento e cal sem furo julgam ser um muro. o muro, truvo e mudo, pensa e pensa em tudo : sair daquele escuro e ver a luz do mundo, deixar de ser um muro abrindo em si um furo ainda que esse corte lhe tombe à nula sorte — não sabe como, ainda, mudar a sua química ( rejeita a vil certeza de não ter vista acesa ) deseja em seu chapisco, sim! correr o risco de ter a pele aberta e sentir o que é a janela ; e mesmo sem saber como vai ser outro ser, o muro quer saída, mudar, mover a vida — quer nem que seja a ida da simples dobradiça ; ou algo do porvir que lhe tire deste aqui
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muro siente, desde antiguamente : es ciego todo siempre y solo sabe apartar gente. hace poco le oyó decir al suelo, con voz de oscuridad, que existen las paredes — ásperas como él ; la diferencia es que ellas tienen ventana, y por la ventana, la pared mira. la ventana es una abertura — no duele, no sutura ; agujero sin revoque moviéndose en el cuerpo ( si la obra tiene ventana, pared se llama ) cemento y cal sin furo juzgan ser un muro. el muro, lerdo y mudo, piensa y piensa en todo : salir de lo oscuro y ver la luz del mundo, dejar de ser un muro abriendo en sí un furo, aunque ese corte lo aseste a la nula suerte — no sabe cómo, todavía, cambiar su química ( rechaza la vil certeza de no tener vista abierta ) desea en su sesgo, sí, correr el riesgo de que le abran la piel y sentir qué es la ventana ; e incluso sin saber cómo va a ser otro ser, el muro quiere salida, mudar, mover la vida — quiere al menos que se abra una simple bisagra ; ou algo del porvenir que lo saque de este aquí
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ITALO DIBLASI (1988) UM MANIFESTO, NEM ISSO Hoje é o aniversário da execução de García Lorca e se alguma coisa mudou desde então, foi pra pior eu estou na Central do Brasil esperando que alguém me ligue com uma notícia boa não tenho vontade de voltar para casa não tenho vontade de ir trabalhar não tenho vontade de quase nada e espero me apaixonar nos próximos minutos há qualquer coisa de perverso em tudo isso penso em Antônio Conselheiro e em seu cadáver profanado a santidade do mundo é sempre mais perigosa que qualquer diabo uma vez o eremita me sorriu em uma carta de tarô e desde então tenho colecionado abandonos ocorre-me que talvez estejamos 180
ITALO DIBLASI (1988) UN MANIFIESTO, NI ESO Hoy es el aniversario de la ejecución de García Lorca y si algo cambió desde entonces, fue para peor estoy en la Central de Brasil esperando que alguien me llame con una buena noticia no tengo ganas de volver a casa no tengo ganas de ir a trabajar no tengo ganas de casi nada y espero enamorarme en los próximos minutos hay algo de perverso en todo esto pienso en Antônio Conselheiro y en su cadáver profanado la santidad del mundo siempre es más peligrosa que cualquier diablo una vez el ermitaño me sonrió en una carta de tarot y desde entonces colecciono abandonos se me ocurre que tal vez estamos 181
vivendo o apocalipse ocorre-me que talvez sejamos todos o anti-cristo tenho profetizado o fim dos tempos com uma vontade aguda de que o mundo dê merda e quando isso acontece é quando estou mais feliz, eu me digo, basta desse teatro — vamos ver até onde eles estão dispostos a levar isso aqui e eles estão dispostos a levar a coisa bem longe desde que não tenham que fazer acontecer com as próprias mãos quando eu era pequeno a minha avó matou um porco com as próprias mãos a mesma avó que me limpava o rabo e que agora não existe mais admiro o silêncio forçado dos santos o perigo mortal de um pulmão que respira e agora essas crises de riso que me acometem como o chorar mas eu sou mais forte que isso eu lhes digo eu estou estudando a tristeza eu sempre fui bom de estudar
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viviendo el apocalipsis se me ocurre que tal vez seamos todos el anticristo he profetizado el fin de los tiempos con muchísimas ganas de que el mundo termine siendo una mierda y cuando pasa eso es cuando más feliz soy, y me digo, basta de teatro: vamos a ver hasta dónde están dispuestos a llevar las cosas y ellos están dispuestos a llevar las cosas muy lejos siempre que no tengan que hacerlo con sus propias manos cuando era niño mi abuela mató un cerdo con sus propias manos la misma abuela que me limpiaba el culo y que ahora ya no existe admiro el silencio forzado de los santos el peligro mortal del pulmón que respira y ahora estas crisis de risa que me asaltan como el llanto pero yo soy más fuerte les digo estoy estudiando la tristeza siempre fui bueno para estudiar
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eu sempre fui bom em ser triste há dias em que sinto certo nojo de ser homem gostaria que todos menstruassem para variar às vezes recordo as pessoas que amei e me pergunto se elas estão mais felizes que isso preciso logo colocar uma filha no mundo. * MELANCOLINEAR Tenho os dentes amarelados e sempre que posso mantenho-os todos na boca fechada sorrindo sem eles estilo contido e me envaideço de minha proeza porque não sorrir nunca matou ninguém *
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siempre fui bueno para ser triste hay días en que me da un poco de asco ser hombre me gustaría que todos menstruaran para variar a veces recuerdo a las personas que amé y me pregunto si estarán más felices que esto tengo que plantar ya mismo una hija en el mundo. * MELANCOLINEAL Tengo los dientes amarillentos y siempre que puedo los mantengo todos en la boca cerrada sonrío sin ellos estilo contenido y me envanezco de mi proeza porque no sonreir nunca mató a nadie *
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UMA DOSE DE SEROTONINA apenas porque morremos em algum canto da China um filósofo camponês decretou que o sono é obsoleto apenas porque morremos o cinismo o capitalismo o freudoniilismo, as canções de ninar você não acreditaria que a carne em decomposição libera odores que excitam a fome de certas espécies você não acreditaria que eu sigo mentindo e que agora as mentiras são quase bonitas apenas porque morremos: a beleza. apenas porque morremos o sol voltará amanhã exigindo que ao menos um de nós tente de novo você não acreditaria nas coisas que tenho tentado provar — a libido, o corpo, o frio
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UNA DOSIS DE SEROTONINA sólo porque morimos en algún rincón de China un filósofo campesino decretó que el sueño es obsoleto sólo porque morimos el cinismo el capitalismo el freudonihilismo, las canciones de cuna tú no creerías que la carne en descomposición libera olores que excitan el hambre de ciertas especies no creerías que sigo mintiendo y que ahora las mentiras son casi bonitas sólo porque morimos: la belleza. sólo porque morimos el sol volverá mañana y exigirá que al menos uno de nosotros lo intente de nuevo tú no creerías las cosas que he intentado probar — la libido, el cuerpo, el frío
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(sobretudo o frio) você não acreditaria que apenas porque morremos as coisas ainda brilham que apenas porque morremos ainda somos necessários e que novamente e pela última vez (é sempre pela última vez) tornaremos a amar & viver & perder porque estamos sempre perdendo e é exatamente por isso que somos como anjos, querida, somos como anjos que se mijam nas calças e lêem milagres nas castanheiras você não acreditaria, mas você viu o milagre quando se olhou no espelho pela primeira vez e apenas porque morremos não deveríamos nos olhar nos espelhos por mais de uma vez mas você carrega a delicadeza das pedras você jamais acreditaria que nós sequer morremos
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(sobre todo el frío) no creerías que sólo porque morimos las cosas brillan todavía que sólo porque morimos todavía somos necesarios y que nuevamente y por última vez (siempre es por última vez) volveremos a amar & vivir & perder porque siempre estamos perdiendo y es precisamente por eso que somos como ángeles, querida, somos como ángeles que se mean en los calzones y leen milagros en los castaños tú no lo creerías, pero viste el milagro cuando te miraste al espejo por primera vez y sólo porque morimos no deberíamos mirarnos en los espejos más de una vez pero tú cargas la delicadeza de las piedras tú jamás creerías siquiera que morimos
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DANIELLE MAGALHÃES (1990) SALTO NO VAZIO dar um salto um salto do alto dos escarpados e cair em um salto no vazio mais de cento e vinte metros dois dias após a quebra total após a eclosão da casca nas primeiras horas de vida no precipício o ninho em paredes extremamente íngremes o alimento não vem dos pais os pais também caíram um dia sobreviveram todos são incapazes de voar agora uma das táticas de sobrevivência mais extremas um grito lá embaixo um chamado agora dois dias de vida nas primeiras horas após a eclosão um salto no alto dos escarpados cair em um salto de mais de cento e vinte metros mais de uma porrada contra as rochas o corpo ainda vulnerável colidindo em queda livre contra as rochas para só então ser possível começar o restante de sua vida a vida do gansinho filhote de bernaca * A PELO tenho 6 parafusos na coluna sustento uma degeneração 190
DANIELLE MAGALHÃES (1990) SALTO AL VACÍO dar un salto un salto desde lo alto del acantilado y caer en un salto al vacío más de ciento veinte metros dos días después la fractura total después la eclosión del cascarón en las primeras horas de vida en el precipicio el nido en paredes empinadas en extremo el alimento no viene de los padres los padres también cayeron un día sobrevivieron ahora todos son incapaces de volar una de las tácticas de supervivencia más extremas un grito allá abajo un llamado ahora dos días de vida en las primeras horas después de la eclosión un salto en lo alto de los acantilados caer en un salto de más de ciento veinte metros más de un porrazo contra las rocas el cuerpo todavía vulnerable choca en caída libre contra las rocas para que sólo entonces sea posible comenzar el resto de su vida la vida del gansito cría de barnacla * A PELO tengo 6 tornillos en la columna sustento una degeneración 191
precoce e uma queda que poderia ter sido evitada mas na vida caímos inevitavelmente como uma degeneração sem saída mais cedo ou mais tarde viramos pó em direção ao centro da terra sigo com corpos estranhos que me mantêm hoje sem rédeas e se um dia já tive direção não sei se um dia já tive sustentação não sei quando eu tinha 16 minha coluna já soprava 60 parafinas em brasa e debochava do pó das eras geológicas das Idades da gravidade que desmontava mas que ainda deixava parafusos a Torre Eiffel é que é de ferro eu sou de titânio e osso e sobrevivi às voltas do século XX à cartilagem e fôlego e ainda sustento algum afeto porque ainda há heavy metal no século XXI baby tudo é baixo grave e só há fricção em cada passada minha um segundo pesa como toda decisão e se até o pelo pesa e cai no pelo apenas uma letra aponta para além do peso próximo ao chão e além do que seria o paraíso o início da queda o princípio nada além do chão a gravidade de um apelo vamos dançar
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precoz y una caída que pudo haberse evitado pero en la vida caímos inevitablemente como una degeneración sin salida tarde o temprano viramos polvo en dirección al centro de la tierra sigo con cuerpos extraños que me mantienen hoy sin riendas y si alguna vez tuve dirección no sé si alguna vez tuve sustento no sé cuando tenía 16 mi columna ya soplaba 60 velitas ardientes y se burlaba del polvo de las eras geológicas de las Edades de la gravedad que desmontaba pero todavía dejaba tornillos la Torre Eiffel es de hierro yo soy de titanio y hueso y sobreviví a las vueltas del siglo XX al cartílago y el aliento y todavía sustento algún afecto porque todavía hay heavy metal en el siglo XXI baby todo es bajo grave y sólo hay fricción en cada paso mío un segundo pesa como toda decisión y si hasta el pelo pesa y cae en el pelo apenas una letra apunta más allá del peso próximo al suelo y más allá de lo que sería el paraíso el inicio de la caída el principio nada más allá del suelo la gravedad de un llamado vamos a bailar
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no precipício baby vamos em peso no pelo a pé não é que esse mundo é grande mesmo no sustento que pisa em falso eu já vou chegando aos 27 tantos se foram vamos diferente eu já vou chegando à sombra árida dos 27 nervos que falham ao anúncio de sobrevida em 2017 fisgadas elétricas abrindo flancos no peso vamos fazer o céu cair precipitando a curva do peso para além do peso vamos no pelo a pelo direto para o cerne no poema o caminho deve ser insustentável mesmo sem volta nem rédeas onde a vida é grave e inevitável é a queda * depois do fim do poema poderia ser o momento em que finalmente sua voz entraria um sentido articulando a formação de um abraço ainda não totalmente encaixado a iminência de um abraço uma massa de som precipitando o momento pelo qual começaria entrando de qualquer jeito depois do fim a possibilidade da palavra mas se a palavra jamais for dita
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en el precipicio baby vamos en peso en pelo a pie no es que este mundo es grande incluso en el sustento que pisa en falso ya voy llegando a los 27 tantos se fueron vamos diferente yo ya voy llegando a la sombra árida de los 27 nervios que fallan al anuncio de sobrevida en 2017 pinchazos eléctricos abriendo flancos en peso vamos a hacer caer el cielo precipitando la curva del peso más allá del peso vamos pelo a pelo directo al núcleo en el poema el camino debe ser insostenible aun sin vuelta ni riendas donde la vida es grave y la caída, inevitable * después del fin del poema podría ser el momento en que finalmente tu voz entraría un sentido articulando la formación de un abrazo todavía no encajado del todo la inminencia de un abrazo una masa de sonido precipitando el momento por el cual comenzaría entrando de cualquier modo después del fin la posibilidad de la palabra pero si la palabra jamás fuera dicha
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a possibilidade da palavra nunca dita como se nunca tivesse começado como se começasse por uma exigência por onde tudo se dispersa enfim dizer e depois de dizer depois do fim poderia ser o momento eu tento escutar o que poderia estar se precipitando na sua boca as palavras nunca chegam porém não há mais nada a esperar no vazio entre paredes ocas quantas pessoas neste momento quem não diz fala comigo um som qualquer como quem late como quem berra como quem mia até desistir depois do fim o que se precipita no seu corpo por onde lateja a fisgada aguda nos membros que parte se desequilibra insustentável por onde você não diz no fim jamais se termina apenas se abandona é preciso dizer assim como quem desiste começar é um exercício de desistência como quem desiste de desistir vamos como quem desiste
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la posibilidad de la palabra nunca dicha como si nunca hubiera comenzado como si comenzara por una exigencia donde todo se dispersa al fin decir y después de decir después del fin podría ser el momento intento escuchar lo que podría estar precipitándose en tu boca las palabras nunca llegan sin embargo ya no hay nada que esperar en el vacío entre paredes huecas cuántas personas en este momento quién no dice habla conmigo un sonido cualquiera como quien ladra como quien berrea como quien maúlla hasta desistir después del fin lo que se precipita en tu cuerpo por donde late el pinchazo agudo en los miembros qué parte se desequilibra insostenible donde no dices al final jamás se termina sólo se abandona es necesario decir así como quien desiste comenzar es un ejercicio de desistencia como quien desiste de desistir vamos como quien desiste
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ANA PAULA SIMONACI (1990) todos os dias os pássaros. todos os dias voam. da janela vejo os que voam em bando. planando. os que voam sozinhos batem suas asas muito mais vezes. da alvorada ao crepúsculo. onde os pássaros pousam é onde eu queria estar. para o rio del prata eles voam e se misturam com o cinza do rio azul. [quando fui para o uruguai, deixei seu nome em todas as ruas. pouco a pouco me desfiz das suas letras. está tudo lá. nada mais em mim.]
só entende de jornadas quem acredita. tudo ia mudar, tudo. tudo vai mudar.
em colônia, as ruínas e o mar.
os que voam sozinhos batem suas asas muito mais vezes.
todas as cidades desabam, a grama cresce por sobre as pedras, os pássaros se alimentam de passado e depois voam em direção a outros passados. eu encontrei você e todo o seu passado. 198
ANA PAULA SIMONACI (1990) todos los días los pájaros. todos los días vuelan. desde la ventana veo a los que vuelan en bandada. planeando. los que vuelan solos baten las alas muchas más veces. desde el alba al crepúsculo. donde los pájarons se posan es donde yo querría estar. hacia el río de plata vuelan y se mezclan con la ceniza del río azul. [cuando fui a uruguay, dejé tu nombre en todas las calles. poco a poco me deshice de sus letras. está todo allá. nada más en mí.]
solo entiende de jornadas quien cree. todo iba a cambiar, todo. todo va a cambiar.
en colonia, las ruinas y el mar.
los que vuelan solos baten sus alas muchas más veces.
todas las ciudades se desmoronan, el pasto crece sobre las piedras, los pájaros se alimentan de pasado y después vuelan hacia otros pasados. te encontré a ti y a todo tu pasado. 199
você encontrou em mim ruínas e mar. na cafeteria da livraria pedi uma xícara de prata. vi nela meu rosto e pelo vidro das janelas vi os pássaros e os seus peixes no fundo do rio. tudo ia mudar, tudo. os bandos em revoada. os peixes no cardume. e os que voam, nadam, e andam sozinhos em busca de liberdade. * a cobra come o próprio rabo mergulhar dentro de si. ali estava de novo a imagem que vi em transe: um templo, quartzos verdes, a gota de orvalho. foi nesse dia que entendi que a busca era no labirinto dentro de mim mesma. o avesso da vida seria virar-me de dentro pra fora? e eu achava que todos os caminhos levavam aos outros. o caminho em direção a si mesmo, uma tentativa, rastro, sopro que leva ao outro em si. o telefone toca. minha mãe me diz que fez uma bolsa de crochê. achou um nó no meio da tecelagem. desfez toda a bolsa. desfez o nó. refez todo o caminho. 200
encontraste en mí ruinas y mar. en el café de la librería pedí una taza de plata. vi mi rostro en la taza y por el cristal de las ventanas vi los pájaros y sus peces en el fondo del río. todo iba a cambiar, todo. las bandadas en revuelo. los peces en el cardumen. y los que vuelan, nadan, y andan solos en busca de libertad. * la serpiente se muerde la cola zambullirse dentro de sí. allí estaba de nuevo la imagen que vi en trance: un templo, cuarzos verdes, la gota de rocío. ese día entendí que la búsqueda era en el laberinto, dentro de mí. ¿el revés de la vida sería darme vuelta de adentro hacia afuera? y yo que pensaba que todos los caminos llevaban a los otros. el camino hacia uno mismo, una tentativa, rastro, soplo que lleva al otro en sí. suena el teléfono. mi madre me dice que me tejió un bolso de crochet̂. Encontró un nudo en medio del tejido. deshizo el bolso completo. deshizo el nudo. rehizo todo el camino.. 201
* precisamos ir à índia caçar os tigres azuis. [a distância e o tempo são uma coisa só] eu andei três desertos até ver um oasis. eu andei três casas no xadrez. eu perdi minha rainha para um cavalo feroz que veio de dentro do mar. o bispo se ergueu para ouvir as orações que eu fazia quando menina dentro da igreja onde morei nos dias da minha puberdade. o tabuleiro não é apenas um quadrado, ali existe uma montanha. todas as casas da cidade com seus bispos, reis, rainhas e torres um dia caem no chão. minha casa de infância foi demolida. a casa dentro da igreja. isso foi quando comecei a buscar os tigres azuis. chorei quando demoliram deus. me deu esperança e me deu loucura. temi ao olhar diante da cara desse tigre que não é azul, pois está por todos os lados. e não são poucos os relatos selvagens. busquei os tigres azuis. andei quarenta quilômetros até o rio, em nome do amor. e me ergui com asas para caçar a paz, mas a porra da paz não habita no meu coração feroz. são poucos os relatos sobre liberdade. os tigres azuis estão extintos. mas alguns caçadores ainda os vêem, mesmo que em sonho. mel e perdição. * todo dia me sinto um pouco menos eu mesma. as horas deveriam ser curadoras, mas são grandes assassinas.
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* tenemos que ir a la india a cazar los tigres azules. [la distancia y el tiempo son una misma cosa] caminé tres desiertos hasta ver un oasis. avancé tres casilleros en el ajedrez. perdí mi reina contra un caballo feroz que vino de adentro del mar. el obispo se irguió para oíroir las oraciones que hacía cuando era niña dentro de la iglesia donde vivía en los días de mi pubertad. el tablero no es sólo un cuadrado, allí existe una montaña. todas las casas de la ciudad con sus obispos, reyes, reinas y torres un día caen al suelo. mi casa de infancia fue demolida. la casa dentro de la iglesia. eso fue cuando comencé a buscar los tigres azules. lloré cuando demolieron a dios. me dio esperanza y me dio locura. temí al mirar la cara de ese tigre que no es azul, pues está por todos lados. y no son pocos los relatos salvajes. busqué los tigres azules. caminé cuarenta kilómetros hasta el río, en nombre del amor. y me erguí con alas para cazar la paz, pero la mierda esa de la paz no habita en mi corazón feroz. son pocos los relatos sobre la libertad. los tigres azules están extintos. pero algunos cazadores aún los ven, aunque sea en sueños. miel y perdición. * cada día me siento un poco menos yo misma. las horas deberían ser sanadoras, pero son grandes asesinas.
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cada minuto mata o minuto anterior. a pressa, a ansiedade de viver, de acertar os erros do passado, já não tenho mais. a necessidade de ser outra que não eu, já não tenho mais. a arte de perder não é nenhum mistério, sabemos. a grande lição da vida se desfaz no desenrolar do tempo. não há o que aprender, pois a vida não é um aprendizado. a vida é latente. a vida é um coração vivo que bate para circular todos os sangues.
eu sou o meu reinado. coroada por mim mesma, decreto todos os dias
o fim de quem eu fui.
o que tanto há para se fazer nesse mundo? eu busco nas palavras um caminho, como um lasco de sobrevivência, como uma lamparina para saber onde pôr os pés no mundo. o mistério de perder não é algum senão tudo o que parece ser. hoje montei um quebra-cabeça e sobrou uma peça. dei a ela meu nome.
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cada minuto mata al minuto anterior. prisa, ansiedad de vivir, de corregir los errores del pasado, ya no tengo. necesidad de ser otra que no soy, ya no tengo. el arte de perder no es ningún misterio, lo sabemos. la gran lección de la vida se deshace con el correr del tiempo. no hay nada que aprender, porque la vida no es aprendizaje. la vida es latente. la vida es un corazón vivo que late para que circulen todas las sangres.
yo soy mi reino. coronada por mí misma, decreto todos los días el final de quien fui.
¿qué tanto hay para hacer en este mundo? busco en las palabras un camino, como un rastro de supervivencia, como una lámpara para saber dónde poner los pies en el mundo. el misterio de perder no es algo sino todo lo que parece ser. hoy armé un rompecabezas y sobró una pieza. le puse mi nombre.
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REGINA AZEVEDO (2000) carrego sua dor comigo como um casaco de veludo púrpura carrego comigo dor não envelhece virando pó mas tatuagem dor se renova na gente dor é azul calcinha é suave dor às vezes é uma sensação gostosa dor é uma agulha costurando o cérebro no ponto onde se desperta a cócega dor tem o exato tom do rosa dos seus lábios misturado por pincel e tato ao rosa dos meus seios seus porque encarar teu rostinho dourado e pardo me impede de ser satélite mundano pico mais elevado da tentativa de ser feliz sem fantasma carrego sua dor comigo como a senhora que leva o passado nas costas ou fuma palha de milho como quem brinca de boneca tornando impossível olhar pra trás sem lembrar da dor do papel 206
REGINA AZEVEDO (2000) cargo tu dolor conmigo como una chaqueta de terciopelo púrpura lo llevo conmigo el dolor no envejece vuelto polvo sino tatuaje el dolor se renueva en una el dolor es celeste cielo es suave el dolor a veces una sensación placentera el dolor es una aguja que cose el cerebro en el punto donde despiertan las cosquillas el dolor tiene el tono exacto del rosa de tus labios mezclado por pincel y tacto al rosa de mis senos tuyos porque encarar tu carita dorada y parda me impide ser satélite mundano cumbre más alta del intento de ser feliz sin fantasma cargo tu dolor conmigo como la mujer que lleva el pasado en las espaldas o fuma cigarros de hoja como quien juega a las muñecas volviendo imposible mirar atrás sin recordar el dolor del papel 207
do sol queimando a pele como quem diz nunca esqueça de mim * sou um bichinho no meio dos seus dedos bichinho sem saber em que língua se chia mais dizendo eu te amo digo eu te amo e meus pelinhos arrepiados denunciam que sou toda sua mas sou todinha minha às vezes te empresto uma perna te abro um espaço deito no teu peito peludo de bicho de macho mas sou um bichinho da floresta selvagem inexplorada e sagrada sou um bichinho molhado agarrado às costas dum cavalo sou um bichinho esse sorrisinho envenenado sou um bichinho de sangue fervente escaldante balançando pra lá e pra cá num caldeirão que se derrama um bichinho selvagem que dá partida na motocicleta do mundo sem saber se está verde ou vermelho se a pista escorrega só na esperança de ver cavalos sem celas homens sem chicotes e mulheres sem amarras no desejo de costurar o mundo no meu útero e mudar esse jeitinho mal criado just because eu sou um bichinho selvagem *
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del sol quemando la piel como quien dice nunca te olvides de mí * soy un bichito entre tus dedos bichito que no sabe en qué lengua se chifla pero dice yo te amo digo te amo y mis pelitos erizados denuncian que soy toda tuya pero soy todita mía a veces te presto una pierna te abro un espacio acuesto tu pecho peludo de bicho de macho pero soy un bichito de la selva salvaje inexplorada y sagrada soy un bichito mojado agarrado al lomo de un caballo soy un bichito esta sonrisita envenenada soy un bichito de sangre caliente escaldante oscilando para allá para acá en un caldero que se derrama un bichito salvaje que sale disparado en la motocicleta del mundo sin saber si está verde o rojo si la pista resbala sólo con la esperanza de ver caballos sin monturas hombres sin rebenques y mujeres sin amarras en el deseo de coser el mundo en mi útero y cambiar esta cosa que tengo de malcriada just because soy un bichito salvaje *
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minha mãe veio do interior da minha vó vovó veio do interior do interior de caicó eu vim do interior do interior da minha vó * o roxo é uma cor difícil de se produzir pelo peso que condensa em seu raio como se o vermelho e o azul fossem água e óleo e a poeira do mar se juntasse inteira tentando uma matiz jamais vista imagine por exemplo carregar um roxo na pele que desafio que é essa pegada brilhante no escuro vestígio do fracasso do corpo * corro contra o vento vejo um cavalo que se prepara pra atravessar a rua
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mi madre vino del interior de mi abuela abuelita vino del interior del interior de Ceaicó yo vine del interior del interior de mi abuela * el violeta es un color difícil de producir por el peso que condensa en su rayo como si el rojo y el azul fuesen agua y aceite y la polvareda del mar se juntara toda intentando un matiz jamás visto imagina por ejemplo llevar un violeta en la piel qué desafío esa huella brillante en lo oscuro vestigio del fracaso del cuerpo * corro contra el viento veo un caballo que se prepara para cruzar la calle
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paro olho pro cavalo enquanto ele me olha dois homens passam um risco entre nós e gritam “gostosa” eu quase caio o cavalo se assusta e nunca mais volta vou com ele ser acrobata e não gostosa catarata e não gostosa dálmata e não gostosa geneticista e não gostosa gaivota e não gostosa pateta e não gostosa otimista e não gostosa passeata e não gostosa ultravioleta e não gostosa violonista e não gostosa poeta e não gostosa ser cavalo além de gostosa
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paro miro al caballo y el caballo me mira dos hombres pasan un surco entre nosotros y gritan “potra” casi me caigo el caballo se asusta y no vuelve nunca más con él voy a ser acróbata y no potra catarata y no potra dálmata y no potra genetista y no potra gaviota y no potra tonta y no potra optimista y no potra marcha y no potra ultravioleta y no potra violinista y no potra poeta y no potra ser caballo además de potra
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SOBRE OS POETAS HILDA HILST (1930-2004, Jaú SP, Campinas SP). Poeta, contista e dramaturga, é autora de dezenas de livros, entre eles “Ode fragmentária” (1961), “Da morte, odes mínimas” (1980) e “Do desejo” (1992). É considerada uma das mais importante escritoras brasileiras. O sítio onde viveu, Casa do Sol, em Campinas, é hoje um importante centro cultural e literário. A Casa do Sol hoje é Instituto Cultural HIlda Hilst. STELA DO PATROCINIO (1941-1992, Rio de Janeiro RJ). Aos 21 anos, foi internada em um hospital psiquiátrico e, em 1966, transferida para a Colônia Juliano Moreira, a mesma de Arthur Bispo do Rosário, onde passou o resto da vida. Em 2001, a Azougue Editorial publicou “Reino dos bichos e dos animais é o meu nome”, antologia de poemas, entrevistas e fragmentos de Stela, editada por Viviane Mosé, a partir de fitas gravadas por Carla Gagliardi e Neli Gutmarchi entre 1986 e 1988. O livro foi adaptado para o cinema, o teatro e disco. GUILHERME ZARVOS (1957, São Paulo SP). Poeta, mora no Rioe Janeiro, onde em 1990, criou ao lado de Chacal o CEP 20.000, o mais duradouro e importante evento de poesia em atividade no Brasil. É autor de diversos livros, entre eles “Ensaio do povo novo” (1995), “Morrer” (2002), “Zombar” (2004) e “60/70” (2017). RENATO REZENDE (1964, São Paulo SP). Poeta, artista visual e editor da editora Circuito. Atualmente, pesquisa a poesia neoconcreta dos anos 1950-60 e a obra de Flávio de Carvalho. Como poeta, é autor de “Passeio” (2001), “Ímpar” (2005) e “Noiva” (2008), entre outros. 214
SOBRE LOS POETAS HILDA HILST (1930-2004, Jaú SP). Poeta, cuentista y dramaturga, es autora de decenas de libros, entre ellos “Ode fragmentária” (1961), “Da morte, odes mínimas” (1980) y “Do desejo” (1992). Es reconocida como una de las más importantes escritoras brasileñas. La finca donde vivió, “Casa do Sol”, en Campinas, es en la actualidad un importante espacio cultural y literario: el Instituto Cultural Hilda Hilst. STELA DO PATROCINIO (1941-1992, Río de Janeiro RJ). Stela fue internada en un manicomio a los 21 años de edad y, a los 25, ingresa en la Colônia Juliano Moreira, la misma donde vivió Arthur Bispo do Rosário y de donde ella nunca más salió. En 2011, Azougue Editorial, con edición de Viviane Mosé, publicó “Reino dos bichos e dos animais é o meu nome”, antología de poemas, fragmentos y entrevistas grabados en audio por Carla Gagliardi y Neli Gutmarchi , entre 1986 y 1988. El libro fue adaptado para cine, teatro y musicalizado. GUILHERME ZARVOS (1957, San Paulo). Poeta, creó en 1990, en Río de Janeiro, junto al poeta Chacal, CEP 20.000, el más longevo y reconocido evento de poesía en actividad hoy en Brasil. Es autor de muchos libros, entre ellos “Ensaio do povo novo” (1995), “Morrer” (2002), “Zombar” (2004) y “60/70” (2017). RENATO REZENDE (1964, San Paulo SP). Poeta, artista visual y editor de la editorial Circuito. Actualmente investiga poesía neoconcreta de los años 1950-60 y la obra de Flávio de Carvalho. Es autor de “Passeio” (2001), “Ímpar” (2005) y “Noiva” (2008), entre otros libros. 215
ALBERTO PUCHEU (1966, Rio de Janeiro RJ). Poeta, pesquisador e professor de literatura brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Publicou os livros de poesia “Na cidade aberta” (1993), “A fronteira desguarnecida” (1997), “A vida é assim” (2001), “Mais cotidiano que o cotidiano” (2013) e “Para que poetas em tempos de terrorismos?” (2017), entre outros. ANGÉLICA FREITAS (1973, Pelotas RS). É poeta e tradutora. Foi co-editora, com Fabiano Calixto, Marília Garcia e Ricardo Domeneck, da revista Modo Usar & Co. É autora dos livros de poesia “Rilke Shake” (2007) e “Um útero e do tamanho de um punho” (2012). SERGIO COHN (1974, São Paulo SP). É poeta e editor da Azougue (Brasil) e Oca (Portugal). Organizou livros de Hélio Oiticica, Roberto Piva, Torquato Neto e Gary Snyder, entre outros. Como poeta, é autor de “Lábio dos Afogados” (1999), “Horizonte de eventos” (2002) “O sonhador insone” (2006) e ‘Um contraprograma” (2016). BESO (1974, São Paulo SP). É Doutor em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com pesquisa sobre a obra do poeta paulistano Roberto Piva. Publicou três livros de poesia: “Juventude Supersônica” (2008), “Almas Elétricas” (2011) e “Nojo” (2016). PEDRO ROCHA (1976, Rio de Janeiro RJ). Em 1990, foi um dos idealizadores do projeto FalaPalavra, com Guilherme Zarvos, Chacal, Ericson Pires e outros. É um dos editores da Lábia Gentil. Publicou os livros de poesia “11” (2002), “Chão inquieto” (2010) e “Experiência do calor” (2014).
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ALBERTO PUCHEU (1966, Río de Janeiro RJ). Poeta, investigador y profesor de literatura brasileña en la Universidad Federal de Rio de Janeiro (UFRJ). Ha publicado los libros de poesía “Na cidade aberta” (1993), “A fronteira desguarnecida” (1997), “A vida é assim” (2001), “Mais cotidiano que o cotidiano” (2013) y “Para que poetas em tempos de terrorismos?” (2017) entre otros. ANGÉLICA FREITAS (1973, Pelotas RS). Es poeta y traductora. Fue co-editora, con Fabiano Calixto, Marília Garcia y Ricardo Domeneck, de la revista Modo Usar & Co. Es autora de los libros de poesía “Rilke Shake” (2007) y “Um útero e do tamanho de um punho” (2012). SERGIO COHN (1974, San Paulo SP). Es poeta y editor de las editoriales Azougue (Brasil) y Oca (Portugal). Ha organizado los libros de Hélio Oiticica, Roberto Piva, Torquato Neto e Gary Snyder, entre otros. Es autor de los libros de poesía “Lábio dos Afogados” (1999), “Horizonte de eventos” (2002) “O sonhador insone” (2006) y ‘Um contraprograma” (2016). BESO (1974, San Paulo SP). Es doctor en Teoría e Historia Literaria por la Universidad Estadual de Campinas (Unicamp), con investigación sobre la obra poética de Roberto Piva. Ha publicado los libros de poesía “Juventude Supersônica” (2008), “Almas Elétricas” (2010) y “Nojo” (2016). PEDRO ROCHA (1976, Río de Janeiro RJ). En 1990, fue uno de los creadores del proyecto FalaPalavra, con Guilerme Zarvos, Chacal, Ericson Pires y otros. Es uno de los editores de la Lábia Gentil. Ha publicado los libros de poesía “11” (2002), “Chão inquieto” (2010) y “Experiência do calor” (2014).
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ANA MARTINS MARQUES (1977, Belo Horizonte MG.) É uma das mais reconhecidas poetas brasileiras contemporâneas, autora de “A vida submarina” (2009), “A arte das armadilhas” (2011) e o “O livro das semelhanças” (2015). Em 2017, publicou com Eduardo Jorge o livro “Como se fosse a casa”. KARINA RABINOVITZ (1978, Salvador BA). É poeta e performer. Autora de “de tardinha meio azul” (2005), “livro do quase invisível” (2010) e “mas é que eu não sabia que se pode tudo, meu deus!” (2014). AMORA PÊRA (1981, Rio de Janeiro RJ) . É cantora, compositora e poeta. Participou do grupo Chicas. Publicou o livro de poemas “Quando a cavala deita” (2017). NINA RIZZI (1983,Campinas SP).É poeta e tradutora, autora dos livros “Tambores para n’zinga” (2012), “A duração do deserto” (2014) e “Quando vieres ver um banzo cor de fogo” (2016). GUILHERME GONTIJO FLORES ( 1984, Brasília DF). É professor de língua latina na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Como poeta, publicou “Brasa enganosa” (2013), “L’Azur Blasé” (2015) e “carvão : : capim” (2018). BRUNA MITRANO (1985, Rio de Janeiro RJ). Poeta, desenhista e articuladora cultural na periferia carioca, publicou o livro “Não” (2016). ELIZEU BRAGA (1985, Itacoã RO). Poeta, ator e performer, é autor dos livros “Cantigas” (2015) e “Mormaço” (2016).
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ANA MARTINS MARQUES (1977, Belo Horizonte MG). Es una de las más reconocidas poetas brasileñas contemporáneas, autora de “A vida submarina” (2009), “A arte das armadilhas” (2011) y “O livro das semelhanças” (2015). En 2017, ha publicado con Eduardo Jorge el libro “Como se fosse a casa”. KARINA RABINOVITZ (1978, Salvador BA). Es poeta y performer. Ha publicado: “de tardinha meio azul” (2005), “livro do quase invisível” (2010) y “mas é que eu não sabia que se pode tudo, meu deus!” (2014). AMORA PÊRA (1981, Río de Janeiro RJ). Es cantora, compositora y poeta. Ha participado del grupo musical Chicas. Publicó el libro de poesía “Quando a cavala deita” (2017). NINA RIZZI (1983, Campinas SP) Es poeta y traductora, autora de los libros “Tambores para n’zinga” (2012), “A duração do deserto” (2014) y “Quando vieres ver um banzo cor de fogo” (2016). GUILHERME GONTIJO FLORES (1984. Brasília DF). Es profesor de lengua latina en la Universidad Federal del Paraná (UFPR). Ha publicado los libros de poesía “Brasa enganosa” (2013), “L’Azur Blasé” (2015) y “carvão : : capim” (2018). BRUNA MITRANO (1985, Río de Janeiro RJ). Poeta, dibujante y gestora cultural. Ha publicado el libro de poesía “Não” (2016). ELIZEU BRAGA (1985, Itacoã RO). Es poeta, actor y performer, autor de los libros “Cantigas” (2015) y “Mormaço” (2016).
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THIAGO E. (1986,Teresina PI). Poeta e compositor, fez parte do grupo Validuaté. É um dos editores da revista Acrobata, com Demetrius Galvão e Aristides de Oliveira. É autor do livro de poemas “Cabeça de sol em cima de trem” (2014). ITALO DIBLASI (1988,Rio de Janeiro RJ). Poeta e arqueólogo, é autor do livro “O limite da navalha” (2016). DANIELLE MAGALHÃES (1990, Rio de Janeiro RJ). Poeta e pesquisadora, é autora do livro “Quando o céu cair” (2018). ANA PAULA SIMONACI nasceu em Niterói-RJ em 1990. Poeta e produtora cultural, é coordenadora de literatura no SESC-RJ. Autora do livro “Voo” (2018). REGINA AZEVEDO (2000, Natal RN). Poeta, é autora dos livros “Das vezes que morri em você” (2013), “Por isso eu amo em azul intenso” (2015) e “Pirueta” (2017). SOBRE A FOTÓGRAFA DA CAPA PATRICIA GOUVÊA (1973, Rio de Janeiro RJ). Artista visual, trabalha em fotografia, vídeo, instalação e intervenção urbana. Seu trabalho prioriza a fotografia e a imagem em movimento e suas possíveis interfaces, onde a noção de tempo constitui um dos principais eixos de pesquisa. Foi uma das fundadoras da Agência Foto In Cena (1995/98) e do Ateliê da Imagem (1999), espaço cultural dedicado à pesquisa, reflexão e produção da imagem no Rio de Janeiro, no qual atuou como diretora artística até dezembro de 2013. www.patriciagouvea.com.
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THIAGO E. (1986, Teresina PI). Es poeta y compositor, formé parte del grupo musical Validuaté. Es uno de los editores de la revista Acrobata. Ha publicado el libro de poesía “Cabeça de sol em cima de trem” (2014). ITALO DIBLASI (1988, Río de Janeiro RJ). Poeta y arqueólogo, autor del libro “O limite da navalha” (2016). DANIELLE MAGALHÃES (1990, Rio de Janeiro RJ). Poeta e investigadora, autora del libro “Quando o céu cair” (2018). ANA PAULA SIMONACI (1990, Niterói RJ). Poeta y productora cultural, coordina el área de literatura en el Servicio Social del Comercio (SESC) - RJ. Publicó el libro “Voo” (2018). REGINA AZEVEDO (2000, Natal RN). Poeta, ha publicado los libros “Das vezes que morri em você” (2013), “Por isso eu amo em azul intenso” (2015) y “Pirueta” (2017). ACERCA LA FOTÓGRAFA DE LA PORTADA PATRICIA GOUVÊA (1973, Río de Janeiro RJ). Artista visual, trabaja en fotografía, vídeo, instalación e intervención urbana. Su trabajo prioriza la fotografía y la imagen en movimiento y sus posibles interfaces, donde la noción de tiempo constituye uno de los principales ejes de investigación. Fue una de las fundadoras de la Agencia Foto In Cena (1995/98) y del Ateliê da Imagen (1999), un espacio cultural dedicado a la investigación, reflexión y producción de la imagen en Río de Janeiro, donde se desempe como directora artística hasta diciembre de 2013. www.patriciagouvea.com.
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PALABRAS INTRADUCIBLES BOI BUMBA: alusión a bumba-meu-boi ("golpea mi buey"). También llamado boi-bumbá, es un festival tradicional popular que se celebra anualmente en las regiones norte y nordeste de Brasil. BANZO: de origen africano desconocido, “nostalgia de la cultura propia y de la patria”. A diferencia de la saudade, el banzo es un sentimiento que el Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa define como “el proceso psicológico causado por el despojamiento de cultura que puso a los negros esclavizados de África, transportados a tierras lejanas, en un estado inicial de alerta seguido de impulsos de ira y destrucción y después una profunda nostalgia que conllevaba apatía, hambre y muchas veces locura o muerte”. También se utiliza la palabra banzo, en algunas regiones, para las olas del océano, su movimiento y las náuseas que produce. CAUIM: bebida que preparan los indígenas en Brasil con mandioca cocida y fermentada. También se hace con caju y otras frutas, y con maíz y mandioca masticados. MACASSÁ: es una hierba de nombre científico Aeollanthus suaveolens, originaria de África. Sus hojas son muy perfumadas y puede sustituir la vainilla. PIPOCA: palomitas de maíz. POROROCA: ‘gran estruendo’ en tupí, su nombre alude al ruido ensordecedor que anuncia su llegada media hora antes. La pororoca es la gran ola del Amazonas que dos veces al año, en febrero y marzo, inunda las tierras ribereñas arrastrando árboles, rocas, animales y todo lo que encuentra a su paso. La pororoca es imprevisible: nunca se sabe dónde romperá ni qué zona de la cuenca arrasará. Lo único que se sabe es que se extenderá kilómetros río adentro. 222
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ano 1 número 1 julho/julio 2018 poesia brasileira contemporânea poesía brasileña contemporánea poetas homenageadas / poetas homenajeadas hilda hilst * stela do patrocínio poetas contemporâneos / poetas contemporáneos guilherme zarvos * renato rezende * alberto pucheu * angélica freitas * sergio cohn * beso * pedro rocha * ana martins marques * karina rabinovitz * amora pêra * nina rizzi * guilherme gontijo flores * bruna mitrano * elizeu braga * thiago e. * italo diblasi * danielle magalhães * ana paula simonaci * regina azevedo tradução / traducción teresa arijón * andrea sanchez valencia * jerónimo pizarro