O Vale do Neiva - edição de outubro

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Propriedade: A MÓ · Associação do Vale do Neiva (Cultural, Património e Ambiente) | Barroselas Outubro 2014 | Mensal · Nº6 · Gratuito · Versão digital

Vila de Punhe inaugura o Moinho do Inácio Barroselas e Carvoeiro Melhoria nas infraestruturas escolares para o novo ano letivo

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Mujães Evento a reverter para a L. P. contra o Cancro

Casos de polícia | bombeiros Incêndio causa dois feridos Página 8 graves e um ligeiro

Saúde Página 8 Informações importantes sobre o teste papanicolau

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Vila de Punhe | Página 5

Opinião Internet: O Lado Mau

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Património Azenha das Poldra Fragoso

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Editorial

Outono, o que nos reservas???? Ana Lima

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ogo após o verão, aquela estação de tempo quente, aberto, de plena luz… chega o outono! As árvores ficam em tons de laranja, vermelho, castanho, amarelo e verde parece que a paleta de um pintor passou pela natureza deixando esta diversidade de cores. Aparecem as primeiras chuvas e os dias começam a arrefecer. As folhas caem formando tapetes coloridos de uma beleza única. É tempo das aves partirem em busca do sol e do alimento noutras paragens. Estes ciclos da Natureza despertam o sentido de mudança e da beleza. É o tempo das colheitas e dos frutos maduros, do vinho novo e das castanhas... O que a princípio pode parecer uma perda é na verdade um ganho: a natureza ganha mais tempo de vida, e chega renovada às próximas estações. Se prestarmos mais atenção aos detalhes

da natureza, perceberemos que cada estação do ano traz mensagens e convites específicos. Muitas vezes não conseguimos perceber esses sinais porque insistimos em

achar que não fazemos parte integrante do meio ambiente. Cada estação do ano convida-nos a novas posturas e oferece-nos conhecimento para a vida.

Património

Memórias do Jornal “O Vale do Neiva” Editorial Ora Viva Amigo

V

iemos hoje ter contigo para te dizer, que tens um jornal. “O Vale Do Neiva”. Vem à luz, em Janeiro de 1984, mas concebido em ideia, há muito tempo. Tivemos várias reuniões no “Retiro do Souto”, agradecemos a simpatia e hospitalidade do Sr.Adelino. Nessas reuniões, discutimos, aclaramos ideias, e conscientes das dificuldades, aqui está o Jornal, que é de todos, pronto a durar, até quando todos quisermos. Como o título indica “ O Vale do Neiva”, será um elo de união, entre as freguesias do Vale: Tregosa, Fragoso, Carvoeiro, Barroselas, Portela de Suzá, e outras que virão a seguir. “ O Vale Do Neiva”, é

um jornal de corpo inteiro, com agressividade da juventude, com vontade de mudar o mundo, e de fazer história de Barroselas, e do nosso Vale. “O Vale Do Neiva”, tem algo de importante a dizer às colectividades e Associações Culturais; Falar de música, de cinema, teatro e desporto, artesanato e de arte, agricultura e defesa do meio ambiente, saúde ensino e literatura, e sobretudo recolher e defender o nosso Património Cultural. Será um jornal aceso e polémico, com diferentes pontos de vista, culturais e ideológicos, e que acima de tudo saiba erguer os ideais do progresso e Liberdade. Queremos dizer não ao comodismo, não

ao obscurantismo, e ser um despertador de iniciativas e realizações. Precisamos de ti, da tua opinião, da tua colaboração, do teu apoio, “sugestões, críticas, contos, poemas, 5 tostões, 10 tostões, 20 escudos, e mais que quiseres dar”. Escreve-nos, vem connosco conhecer o Vale do Neiva, que é belo, carinhoso, fascinante e virgem. Assina o teu Jornal “ O Vale Do Neiva”. O Fundador Manuel Delfim Da Silva Pereira In. Jornal “O Vale Do Neiva” 13 de Janeiro 1984 A Redação

Ficha técnica | Diretora: Ana Patrícia Lima Redação: Domingos Costa · José Miranda · Manuel Lima · José Rafael Soares · Eduarda Alves · Rogério Braga Colaboradores: Elisabete Gonçalves Design e Paginação: Isabel Queiroga Contacto redação: Rua do Sião, Apartado 20 - Barroselas · redajornalvaledoneiva@gmail.com Periodicidade: Mensal Formato: Digital Distribuição: Gratuita Os artigos de opinião são da inteira responsabilidade dos seus autores, podendo ou não estar de acordo com as linhas editoriais deste jornal.


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Barroselas e Carvoeiro

Melhoria nas infraestruturas escolares para o novo ano letivo A Direção e Associação de Encarregados de Educação e Pais do Agrupamento de Escolas contribuíram para a melhoria nas infraestruturas escolares para o novo ano letivo

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Direção do Agrupamento Escolas de Barroselas, Associação de Encarregados de Educação e Pais do Agrupamento de Escolas de Barroselas, funcionários e alunos passaram parte das suas férias na escola sede do agrupamento fazendo melhorias para a qualidade da escola que espera por obras há muitos anos. Assim com pequenas melhorias, mas de muito significado para a melhoria das condições da comunidade escolar foram feitas obras nos balneários masculino e feminino, sala dos professores, sala de reuniões de diretores turma, colocados estores novos em várias salas, e colocação de azulejos no hall da cantina, entre várias pinturas em salas e assim como Presidente da Associação de Encarregamelhoria das condições da sala do giná- dos de Educação e Pais do Agrupamento sio para aulas teóricas. de Escolas Armando Novo

Obras no pavimento da EN 308 atingem Barroselas e Vila de Punhe

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bras de repavimentação da EN 308, atingiram as freguesias de Barroselas e Vila de Punhe. Após grande pressão por parte da Junta de Freguesia junto da Estradas de Portugal foi dado início no mês de setembro as obras de repavimentação da EN 308. As obras provocaram alguns condicionamentos à normal circulação do trânsito.


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Mujães

Mujães organiza evento a reverter para a Liga Portuguesa contra o Cancro Fotografias: Facebook A. C. de Mujães

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o dia 7 de Setembro realizou-se em Mujães o evento “Um dia pela Vida”, a reverter para a Liga Portuguesa contra o Cancro. Organizado pela Associação Cultural de Mujães, teve como pontos

principais uma feira de produtos confecionados pelos elementos da associação e por alguns amigos e uma aula de zumba que reuniu mais de duas dezenas de alunos que assim contribuíram com a sua inscrição para o objetivo deste evento. A associação agradeceu a todos os que passaram pelo lo-

Vila de Punhe

Caminhada solidária Vale do Neiva

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Comissão Social Interfreguesias do Vale do Neiva, em parceria com a Padela Natural Associação Promotora, irá organizar no dia 12 de outubro uma caminhada solidária. A inscrição para esta atividade é um bem alimentar: azeite, óleo, leite ou conservas. A atividade terá início na Quinta da Portela em Vila de Punhe, às 8h00. Será feita uma caminhada pela história. Estão todos convidados a participar, desfrutar de bons momentos e ao mesmo tempo contribuir para uma boa causa.

A organização assegura o transporte de regresso ao ponto de partida. Chama-se a atenção de todos para o uso de vestuário adequado para a atividade. É necessário o preenchimento de uma ficha de inscrição para que possam participar na atividade, para que a organização prepare tudo de forma a proporcionar uma experiência a recordar. Para efetuar a inscrição ou para mais informações podem utilizar o seguinte email: padelanatural@gmail.com

cal neste dia e contribuíram adquirindo os produtos ou participando na aula Estava agendado para o dia 20 do mesmo mês, em Viana do Castelo, uma jornada pela causa. No entanto, pelas previsões meteorológicas, a organização decidiu o seu cancelamento.


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Vila de Punhe inaugura o Moinho do Inácio Manuel Lima

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oncluídas as obras de recuperação do Moinho do Inácio, a sua inauguração foi realizada no dia 4 de outubro de 2014 pelas 17:00. Na cerimónia oficial estiveram presentes o Exmo. Eng.º Vítor Lemos Vice Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, o Vereador do Urbanismo Luís Nobre, o Presidente da Junta de Freguesia de Vila de Punhe António Costa, a Presidente da Assembleia Eulália Castro, outros convidados, associações e público em geral. Tomou a palavra o Presidente António Costa fazendo uma pequena introdução das várias fases do processo da candidatura dos fundos comunitários para a recuperação do moinho. Agradeceu às várias entidades envolvidas e também ao Sr. Manuel Quintas que, num gesto exemplar, ofereceu o moinho à Jun-

ta de Freguesia, tendo sido agraciado com uma medalha que, por sugestão do Presidente António Costa, foi entregue pelo antecessor Presidente o Sr. António Moreira cujo processo foi iniciado no seu mandato.

O Sr. Manuel Quintas ficou bastante emocionado com a surpresa. O representante da Câmara Municipal, Eng.º Vítor Lemos, encerrou a cerimónia oficial expressando que a câmara de Viana do Castelo, preza pela recuperação do património e que as parcerias com as Juntas de Freguesia têm dado muito bons resultados. É intenção da Câmara prosseguir nesse caminho de cooperação estreita com as várias instituições que são uma mais-valia nas comunidades onde estão inseridas frisando que, Vila de Punhe é um bom exemplo! Terminou agradecendo a todos os presentes e felicitando o executivo da Junta de Freguesia de Vila de Punhe pela obra realizada.

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Cidade [Viana do Castelo]

Câmara Municipal atribuiu 105 mil € a Juntas de Freguesia e clubes desportivos Local.pt

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Câmara Municipal de Viana do Castelo vai apoiar as juntas de freguesia e clubes desportivos do concelho para a execução de obras diversas nas freguesias, atividades desportivas e beneficiação de instalações desportivas. Para as juntas de freguesia, a Câmara Mu-

nicipal vai transferir 61.500 euros para obras como a Capela Mortuária de Vilar de Murteda, dois caminhos em Afife, aquisição de sinalética em Mujães, para a primeira fase do Parque de Nossa Senhora da Esperança em Lanheses, para o passeio da estrada nacional em Darque e para equipamentos do parque infantil e passeios da EN 308 em Vila de Punhe.

No que toca a atividades desportivas e beneficiação de instalações desportivas, foi aprovado um valor global de 43.300 euros para publicitação nas camisolas dos clubes, eventos desportivos e para o apoio à remodelação dos balneários do Clube de Ténis de Viana do Castelo e para a requalificação dos espaços envolventes da sede da AD Chafé.

Cidade [Barcelos]

Barcelense eleita Rainha das Vindimas de Portugal www.cm-barcelos.pt

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representante do Município de Barcelos, Raquel Vilas Boas Oliveira, natural e residente em Rio Covo Sta. Eugénia, venceu a sétima edição da Rainha das Vindimas de Portugal, na gala que se realizou no dia 20 de setembro, no Teatro Gil Vicente, em Barcelos, integrada no programa Barcelos Cidade do Vinho 2014. Concorreram 15 candidatas dos municípios de Alenquer, Azambuja, Barcelos, Cadaval, Cartaxo, Coruche, Lagoa, Melgaço, Palmela, Ponte da Barca, Reguengos de Monsaraz, Santa Marta de Penaguião, Torres Vedras, Viana do Castelo e Vidigueira, num espetáculo que voltou a encher o Teatro Gil Vicente, tal como a gala de eleição da Rainha das Vindimas de Barcelos, realizada uma semana antes. O júri distinguiu ainda como primeira dama de honor a candidata de Palmela, Joana Silva, e como segunda dama de honor a representante do Município de Lagoa,

Andreia Silva. O prémio miss fotogenia foi para Bárbara Franco, do Município de Ponte da Barca, e o prémio simpatia para a candidata de Viana do Castelo, Ana Maria Lima. No momento da entrega dos prémios, José Arruda, secretário geral da Associação de Municípios Portugueses de Vinho (AMPV), felicitou a Câmara de Barcelos pelos eventos realizados no âmbito da Cidade do Vinho e agradeceu o trabalho desenvolvido e a participação dos 15 Municípios na Gala da Rainha das Vindimas de Portugal. José Arruda conta com mais municípios na edição de 2015, referindo que, durante o próximo mês de novembro, no decorrer da sessão de encerramento da Cidade do Vinho 2014, será dada a conhecer a Cidade Europeia do Vinho 2015. Por sua vez, Pedro Magalhães Ribeiro, Presidente da AMPV e Presidente da Câmara do Cartaxo, saudou os municípios participantes na gala e agradeceu o empenho de todos na concretização de mais uma edição da Rainha das Vindimas, destacando

a importância da juventude nestas iniciativas. “O vinho é um elemento agregador” destes municípios e destes territórios, disse ainda Pedro Magalhães Ribeiro que reafirmou o propósito da Associação “fazer mais e melhor” pelos municípios. Antes de anunciar a candidata eleita e entregar o prémio de Rainha das Vindimas de Portugal, o Presidente da Câmara Municipal de Barcelos, Miguel Costa Gomes saudou os representantes dos municípios e as candidatas, retomando o tema da importância da participação dos jovens nas atividades da comunidade, referindo que essa participação expressa a vontade dos jovens em criar expectativas e projetos de futuro. O Presidente da Câmara agradeceu a participação dos municípios e o apoio das empresas e das instituições, bem como o difícil trabalho do júri e que tornaram possível a realização da gala. O júri era composto pela stilista Ana Sousa, pelo director do concurso de vinho La Selezione 2015, Mário Louro, por Rosa Abilheira, pelo secretário-geral da AMPV, José Arruda, e pela empresária/ relações publicas de moda, Cristina Gonçalves, que avaliou as modelos em três desfiles: traje tradicional, roupa prática e vestido de noite.


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Desporto Regional

BTT: Nuno Arieira estreia-se com pódio no XCO Escola Desportiva de Viana Nuno Arieira, atleta da EDV-VianaCycles/Entreportas/Bosch estreou-se na 11ª etapa do campeonato regional do Minho em XCO. Na prova que teve lugar no domingo, dia 7, o atleta conseguiu logo na primeira vez em que participa numa prova de XCO um lugar no pódio. Habitualmente, a equipa de BTT da EDV participa nas provas de maratonas em XCM, não estando habituados os atletas ao XCO. Com este resultado alcançado, Nuno Arieira demonstrou a toda a equipa que na próxima época a modalidade de XCO é uma possibilidade para todos.

Hóquei: Escolares e Infantis entram a ganhar

BTT: Carlos Lima vence em todos os campeonatos Escola Desportiva de Viana Carlos Lima, atleta da EDV-VIANACYCLES/ENTREPORTAS/BOSCH, venceu a última etapa da Taça de Portugal de XCM, na categoria Veterano C. O campeão nacional da equipa de Viana do Castelo recebeu também o troféu de vencedor da Taça de Portugal em XCM, conseguindo assim desta forma finalizar a época 2013/2014 no 1.º lugar em todas as provas nacionais, a saber Campeonato Nacional, Campeonato Regional do Minho e Taça de Portugal.

Trail Running: EDV-Viana Trail domina provas nacionais

Escola Desportiva de Viana As equipas de escolares e infantis da secção de hóquei em patins da Escola Desportiva de Viana entraram a ganhar na nova temporada. Defrontando o HC Fão no pavilhão destes, os mais pequenos demonstraram o bom trabalho que tem sido desenvolvido na secção, vencendo por números esclarecedores os jogos. Os escolares venceram por 12-7 enquanto os infantis por 22-1. Escolares:

Infantis:

Escola Desportiva de Viana Após uma época desportiva que se iniciou, no dia 25 de janeiro, com o Ultra Trilhos dos Abutres, a EDV-Viana Trail sagrou-se, este domingo, 28 de setembro, Campeã Nacional de Ultra Trail ATRP, ao vencer, por equipas, o IV Grande Trail Serra D’Arga. Num percurso de elevada exigência técnica, composto essencialmente por maciços graníticos, a equipa manteve-se unida pelo espírito que lhes é singular e encabeçou a prova de 53 km, colocando 3 atletas entre os primeiros. A dureza da prova foi reflectiu-se no número de atletas que a terminaram: 391 em 612 inscritos. Assim, Rui Seixo, após um recobro de 2 meses, conquistou um honroso 2º lugar, Jérôme Rodrigues ficou na 8ª posição, e Gabriel Meira no 11º lugar (3º na categoria M.40). De ressalvar também o 1º lugar de Artur

Matos na categoria M.45. Os atletas e familiares que não puderam participar, por conhecerem a importância e significado desta prova, aplaudiram a passagem dos atletas em diversos spots, procurando dar ânimo aos que participavam no percurso mais emblemático do Circuito Nacional de Ultra Trail ATRP. Esta não foi considerada, pelos atletas, uma prova rotineira, como tem vindo a suceder nos últimos meses, mas sim como o culminar de todo um ano dedicado ao treino e à realização de provas um pouco por todo o país. Com esta vitória a Escola Desportiva de Viana (EDV-Viana Trail) culminou um ano de sonho, onde se afirmou como sendo a melhor equipa do país, com vitórias no Campeonato de Portugal de Ultra Trail (Ultra Trail de S. Mamede – Portalegre), no Circuito Nacional de Trail ATRP e no Circuito Nacional de Ultra Trail ATRP.


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Casos de polícia | bombeiros

Incêndio causa dois feridos graves e um ligeiro Um homem e uma mulher ficaram gravemente feridos na sequência de um incêndio na freguesia do Chafé, em Viana do Castelo. Eduarda Alves

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oi por volta das 21h30 do dia 25 de Setembro, que um incêndio destruiu uma habitação onde se encontravam três pessoas. Segundo o Comando Distrital de Operações de Socorro é desconhecida a identidade e estado de

saúde da terceira vítima, porém, o homem de 52 anos, “sofreu várias queimaduras” e foi transferido para a Unidade de Queimados do Hospital de São João no Porto. Já a segunda vítima, uma mulher, foi transferida para a Unidade Local de Saúde do Alto Minho. Segundo fonte dos Bombeiros Munici-

pais, contactada pela Lusa, são desconhecidas as causas do incêndio que se seguiu de uma explosão que destruiu ‘quase por completo’ a habitação. Além dos Bombeiros Municipais e voluntários de Viana do Castelo, compareceram ao local uma viatura de Suporte Básico de Vida, a Cruz Vermelha e a GNR.

Saúde

Informações importantes sobre o teste papanicolau

Jorge Neves

É

atualmente a principal arma de que dispomos na prevenção do cancro do colo do útero, o terceiro tipo mais comum de cancro na população feminina em todo o mundo. O principal objetivo do exame Papanicolau é detectar precocemente alterações pré-malignas na mucosa do colo do útero, geralmente provocadas pelo vírus HPV, de forma a se poder intervir a tempo, impedindo o aparecimento de uma cancro invasivo. Quando detectado em fases iniciais, o cancro do colo do útero é curável. O Papanicolau é um exame de rastreio, ou seja, ele não faz o diagnóstico do cancro do colo uterino; quem faz o diagnóstico é a biópsia do colo do útero. O papel do Papanicolau é dizer quais são as mulheres que possuem um risco maior de terem lesões pré-malignas e, portanto, precisam ser submetidas a biópsia e eventual tratamento. O colo do útero, também chamado cérvix uterino, é a porção mais inferior e estreita do útero. O colo do útero é um pequeno canal de

2 a 3 cm de diâmetro, com formato cilíndrico, que faz a ligação entre a vagina e o corpo do útero. Na extremidade do colo do útero existe um orifício por onde sai a menstruação e entram os espermatozoides. A região do colo do útero é mais susceptível ao aparecimento de tumores malignos que o resto do útero, pois fica em contacto direto com o canal vaginal, estando, portanto, mais exposta ao pH ácido da vagina, a infecções e traumatismos. Na verdade, não é todo o colo do útero que é susceptível ao aparecimento de cancro, mas sim a região em volta do orifício uterino. O tecido que reveste o colo uterino não é homogéneo O canal interno do colo uterino, chamado endocérvix, é revestido por um epitélio colunar simples, uma única camada de células, que contém algumas glândulas responsáveis pela secreção de muco cervical. A esse tecido chama-se epitélio colunar ou epitélio glandular. A parte externa do colo uterino, que fica em contacto com o canal vaginal, chamase ectocérvix e é revestido por um epitélio escamoso, semelhante ao da vagina. Colo uterino O epitélio colunar da porção interior do colo do útero (endocérvix) é muito mais frágil que o tecido escamoso do ectocérvix, que precisa ser mais resistente, pois fica em contacto direto com o canal vaginal. Até à puberdade, a fronteira entre o epitélio

colunar e o epitélio escamoso fica bem na entrada do orifício, exatamente onde termina o endocérvix e se inicia o ectocérvix. O ponto que divide ambos os tecidos chamase JEC (junção escamo-colunar). Após a puberdade, a anatomia do colo uterino muda; parte do endocérvix exterioriza-se, empurrando a JEC para fora do orifício uterino. Essas alterações anatómicas fazem com que uma parte do frágil tecido colunar, que antes ficava protegido dentro do endocérvix, fique agora exposto ao meio hostil da cavidade vaginal. Como forma de defesa, o tecido colunar sofre uma alteração chamada metaplasia escamosa, que consiste na transformação do epitélio colunar em epitélio escamoso. Toda a região exteriorizada que sofre metaplasia chama-se zona de transição. A metaplasia em si não é considerada uma lesão maligna ou pré-maligna, é apenas um processo fisiológico de defesa da mucosa. Portanto, é perfeitamente normal aparecer no teste Papanicolau a presença de metaplasia escamosa. A zona de transição, ou seja, o local que sofreu metaplasia escamosa, tem grande importância na realização do Papanicolau, pois é este o sítio onde o vírus HPV se costuma fixar, tornando-se, portanto, uma área extremamente susceptível ao aparecimento de tumores malignos. Logo, como o teste de Papanicolau é um exame de rastreio do cancro do colo uterino, é essencial


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que durante o procedimento o médico consiga obter material vindo da JEC e da zona de transição (ZT). Como se faz o teste papanicolau O objetivo do exame Papanicolau é colher algumas amostras de células da região do orifício cervical (endocérvix) e em redor do colo uterino, de forma a obter células da ectocérvix, endocérvix e zona de transição (JEC). Essas células colhidas são enviadas para um laboratório para que possam ser estudadas num microscópio por um patologista. O exame Papanicolau é bastante simples, rápido e praticamente indolor, embora algumas mulheres possam ficar tensas com o exame ginecológico e sentir algum desconforto. Para se obterem amostras do colo uterino, o médico precisa fazer um exame ginecológico com um espéculo, que permite que o canal vaginal e o colo do útero sejam visualizados. Após uma rápida inspeção, o ginecologista irá introduzir uma pequena escova no orifício cervical, conseguindo, assim, obter algumas células desta região. Uma espátula ou uma cotonete também podem ser usadas para obter material ao redor do colo uterino. Se durante a inspeção o médico observar alguma área do colo do útero com alterações suspeitas, pode fazer uma biópsia da lesão e enviar o material juntamente com o material colhido do endocérvix e ectocérvix. O exame de Papanicolau deve ser realizado, de preferência, fora do período menstrual. As mulheres devem evitar relações sexuais, duche vaginal, aplicação de gel ou óvulo vaginal, ou uso de absorvente interno nas 48 horas que precedem o exame. Para que serve o teste papanicolau O material colhido no exame Papanicolau pode ser utilizado para pesquisar não só a existência de alterações celulares malignas ou pré-malignas, mas também para pesquisar a presença do vírus HPV e várias outras infecções ginecológicas, tais como gardnerella , tricomoníase, candidíase, gonorreia, sífilis e clamídia, entre outras.

O Papanicolau apenas orienta os médicos sobre quais são as doentes que precisam ser investigadas com mais cuidado, geralmente através de uma colposcopia e biópsia do colo uterino. A colposcopia é um procedimento diagnóstico no qual um microscópio especial, com várias lentes de aumento, é usado para fornecer uma visão ampliada e bem iluminada do colo do útero e da vagina. A colposcopia permite ver o colo do útero com imagens muito mais nítidas que o simples exame ginecológico, facilitando a identificação de feridas ou anormalidades na mucosa. Durante a colposcopia, o ginecologista realiza biópsias do tecido do colo uterino para pesquisar a existência de lesões malignas. Como na biópsia conseguimos obter uma quantidade muito maior de células que no exame de Papanicolau, os resultados são muito mais precisos e confiáveis. Quando fazer o teste papanicolau Deve ser realizado em todas as mulheres com vida sexual ativa. O tempo de intervalo entre cada exame varia de acordo com as sociedades de Ginecologia de cada país. O habitual é indicar um intervalo de 1 ano entre os exames nos 3 primeiros anos. Se estiver tudo bem, os testes seguintes podem ser feitos com intervalos de 3 anos. Se, entretanto, a mulher tiver um tipo agressivo de vírus HPV, o teste de Papanicolau pode ser feito com intervalos mais curtos, individualizados. Em alguns países, o primeiro teste Papanicolau só é recomendado após os 21 anos de idade, mesmo para mulheres que já inciaram a vida sexual na adolescência. Como o HPV demora vários anos para provocar alterações celulares que possam levar ao desenvolvimento do cancro do colo uterino, alguns médicos argumentam que não há necessidade de começar a testar todas as mulheres nos seus primeiros anos de vida sexual. Resultados do teste papanicolau Após o envio do material colhido no exa-

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me de Papanicolau, o laboratório fornece o resultado do estudo em cerca de 3 a 5 dias. Obs: o laboratório pode fornecer os resultados do Papanicolau sob o nome de colpocitologia oncótica, exame preventivo ou citologia cérvico-vaginal. A forma como cada laboratório fornece o resultado do teste de Papanicolau pode ser diferente. É importante também frisar que a nomenclatura mudou recentemente, por isso, se for comparar um exame atual com outro mais antigo, eles podem ter resultados semelhantes, mas descrições bem diferentes. Antigamente os resultados descreviam assim as classes do teste Papanicolau: Papanicolau classe I – ausência de células anormais. Papanicolau classe II – alterações celulares benignas, geralmente causadas por processo inflamatórios. Papanicolau classe III – Presença de células anormais (incluindo NIC 1, NIC 2 e NIC 3). Papanicolau classe IV – Citologia sugestiva de malignidade. Papanicolau classe V – Citologia indicativa de cancro do colo uterino. Os resultados por classes ainda podem ser encontrados, mas têm sido abandonados em favor de um resultado mais descritivo sobre as alterações celulares. Teste papanicolau normal Em geral, o resultado do Papanicolau descreve primeiro a qualidade da amostra enviada e depois fornece os diagnósticos. Um bom resultado necessita: Dizer que a amostra enviada foi satisfatória para avaliação pelo patologista. Se o resultado apontar uma amostra insatisfatória, a colheita de material deve ser novamente efetuada pelo médico.Indicar que tipos de tecido deram origem às células colhidas, como, por exemplo, células da JEC, células da zona de transição (ZT), ectocérvix ou endocérvix. Se não houver na amostra, pelo menos, células da JEC ou da ZT, a qualidade do exame fica muito comprometida, já que são essas as regiões mais atacadas pelo vírus HPV. Indicar o tipo de células presentes: células escamosas (ectocérvix), metaplasia escamosa, células colunares (endocérvix), células do epitélio glandular (endocérvix), etc. Descrever a flora microbiológica: a flora bacteriana natural da vagina é composta por lactobacilos, portanto, é perfeitamente normal que o Papanicolau identifique essas bactérias. Se houver alguma infecção ginecológica em curso, o resultado pode indicar a presença de leucócitos (células de defesa) e o nome do gérmen invasor, como, por exemplo, Gardnerella ou Candida albicans. Após as descrições acima, se o resultado não indicar a presença de células malignas ou pré-malignas, ele virá com uma


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descrição do tipo: ausência de atipia, ausência de células neoplásicas, negativo para lesão intraepitelial ou negativo para malignidade. Teste papanicolau anormal – ascus e asch ASC-US ou ASCUS O acrónimo ASCUS significa Células Escamosas Atípicas de Significado Indeterminado (Atypical Squamous Cells of Undetermined Significance). De todos os resultados anormais encontrados no Papanicolau, o ASCUS é o mais comum. Ocorre em cerca de 2 a 3% dos exames. O ASCUS indica uma atipia, ou seja, uma alteração nas características normais das células escamosas, sem, porém, apresentar qualquer sinal claro de que possam haver alterações pré-malignas. O ASCUS pode ser provocado, por exemplo, por inflamações, infecções ou atrofia vaginal durante a menopausa. Na grande maioria dos casos, o ASCUS é um achado benigno que desaparece com o tempo. É preciso salientar, porém, que a presença de ASCUS não elimina totalmente o risco dessas células virem a ser uma lesão pré-maligna; ele significa apenas que o risco é muito baixo. Estudos mostram que cerca de 7% das mulheres com HPV e ASCUS desenvolvem cancro do colo uterino no prazo de 5 anos. Entre as mulheres que não têm o HPV, a taxa é de apenas 0,5%. Os médicos podem tomar duas atitudes perante um resultado do teste Papanicolau com ASCUS: ou se repete o exame após 6 a 12 meses (a maioria dos casos de ASCUS desaparece nesse intervalo) ou faz-se a

pesquisa do vírus HPV. Se o HPV for negativo, não é preciso fazer nada, apenas manter a rotina habitual de fazer o exame Papanicolau a cada 3 anos. Se a mulher tiver o vírus HPV, principalmente os subtipos 16 e 18, que são os mais perigosos, o médico costuma realizar uma colposcopia e eventual biópsia para investigar melhor o colo do útero. ASC-H ou ASCH Quando o patologista descreve a presença de ASCH, significa que ele viu células escamosas atípicas, com características mistas, não sendo possível descartar a presença de atipias malignas. É um resultado indeterminado, mas com elevado risco de existirem lesões epiteliais de alto grau (NIC 2 ou NIC 3). A presença de ASCH indica a realização da colposcopia e da biópsia do colo do útero. Lesões pré-malignas no papanicolau – LSIL E HSIL / NIC 1, NIC 2 E NIC 3 As lesões pré-malignas do colo do útero identificadas pelo Papanicolau são atualmente descritas como LSIL (Lesão Intraepitelial escamosa de baixo grau) ou HSIL (Lesão Intraepitelial escamosa de alto grau). Lesão Intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL) A LSIL indica uma displasia discreta, uma lesão pré-maligna com baixo risco de ser cancro. A LSIL pode ser causada por qualquer tipo de HPV, seja ele agressivo ou não, e tende a desaparecer após 1 ou 2 anos, conforme o organismo da mulher consegue eliminar o HPV do seu organismo. Se o teste HPV da mulher for negativo, não é preciso fazer nada, basta repetir o Papanicolau dentro de 6 meses a 1 ano. Nes-

tes casos, o risco de evolução para cancro é praticamente nulo. Se o teste de HPV for positivo, a mulher com LSIL deve ser avaliada com colposcopia e biópsia, pois apesar de baixo, existe um risco da lesão ser, na verdade, um pouco mais agressiva do que aquela identificada no Papanicolau (pode ser um NIC 2 ou NIC 3). A mulher com LSIL no Papanicolau costuma ter NIC 1 (lesão pré-maligna de baixo risco) na biópsia. Porém, cerca de 16% das mulheres têm NIC 2 (lesão pré-maligna moderada) e 5% têm NIC 3 (lesão pré-maligna avançada). O risco de um resultado LSIL indicar um cancro é de apenas 0,1%. Antigamente o LSIL era chamado de NIC 1 (Neoplasia Intraepitelial Cervical grau 1). O termo NIC deixou de ser indicado nos resultados dos testes Papanicolau há bastante tempo, pois, nem todo LSIL corresponde realmente a uma lesão NIC 1 na biópsia. Portanto, NIC 1, NIC 2 e NIC 3 atualmente só devem ser usados para descrever resultados da biópsia feita por colposcopia. No Papanicolau, o correto é usar os termos LSIL ou HSIL. Lesão Intraepitelial escamosa de alto grau (HSIL) O HSIL indica que as células anormais têm grandes alterações no seu tamanho e forma. É um achado que indica grande risco de existirem lesões pré-malignas moderadas/ avançadas (NIC 2 ou 3) ou mesmo cancro já estabelecido. O risco de um resultado HSIL ser NIC 3 na biópsia é de 50%. O risco de um resultado HSIL ser um cancro é de 7%. Portanto, toda a mulher com resultado HSIL no Papanicolau precisa ser investigada através de colposcopia e biópsia.

Especial Saúde | Jorge Neves 35 anos de prática clínica Especialidade Médica: Medicina Geral e Familiar Registado na ordem dos médicos

Orientador de inúmeros médicos do Internato Geral e Complementar, inclusive de outras especialidades médicas. Coordenador distrital e concelhio de diversos programas de saúde, como preMÉDICO NA ULSAM venção oncológica, diabetes, doenças Janeiro de 1983 - Junho de 2011 cardiovasculares/hipertensão, gestão de (28 anos 6 meses). utentes, doenças respiratórias/tuberculose e outros. Desempenho de diversos cargos no dis- Responsável por listas de utentes extentrito de Viana do Castelo a nível de orga- sas (Ponte de Lima=1500 utentes), Viana nização de Serviços desde que terminou do Castelo=2350 utentes, a quem dedicao Internato Complementar de Medicina va sempre o tempo necessário para atenGeral e Familiar. der todos os utentes fazendo os registos Orientador de Formação Específica em Clí- clínicos normais essenciais. nica Geral de todos os cursos (Iº ao VIIIº). Impulsionou a formação das Unidades Coordenador científico e pedagógico em de Saúde Familiar em S. Julião de Freidiversas áreas. xo, Ponte de Lima e Viana do Castelo enPalestrante em diversos Congressos de quanto Director destas instituições. conteúdos e trabalhos relevantes. Cumpriu semanalmente as horas de urElaboração de diversos trabalhos científicos. gência que lhe eram atribuídas para o

bom funcionamento dos Serviços. Prestou sempre provas públicas ao longo da sua carreira médica, tendo chegado a Assistente graduado sénior com nota acima da médica (bastante elevada). Fez Exame de acesso ao Internato Complementar de Medicina Geral e Familiar, tal como exame final do Internato Complementar de Medicina Geral e Familiar pelo Estado e Ordem dos Médicos (este na OM de Coimbra). Trabalhou sempre em exclusividade de funções para poder cumprir todas estas exigências.Fez sempre parte dos órgãos dirigentes da Ordem dos Médicos no distrito médico de Viana do Castelo e continua fazer como delegado da candidatura do distrito médico de Viana do Castelo. Inúmeras actividades relevantes que os cargos que desempenhou lhe exigiam.


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Ambiente

Requalificação da frente marítima de São Bartolomeu do Mar Manuel Lima

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om a demolição de 27 casas como se vê nas fotos o antes e o depois, em São Bartolomeu do mar em Esposende, e um investimento de 2,9 milhões de euros, começaram em Junho de 2014 as obras de requalificação naquela zona marítima, fustigada pelo mar durante muitos anos. A intervenção vai ser efetuada ao longo de 350 metros de frente marítima, inclui a consolidação do muro de contenção existente, requalificação arquitectónica da plataforma e reposicionamento do cruzeiro existente. É junto a este cruzeiro, que todos os anos em Agosto se realiza as festas de São Bartolomeu e também o tradicional “banho santo”. Um ritual muito tradicional onde o “religioso e as crenças populares” se misturam á séculos, o afastar os medos e as más influencias são a essência desse ritual, que se reflete mais nas crianças ao longo de gerações. Os terrenos agrícolas adjacentes em São Bartolomeu, estão sob ameaça eminente da ação do mar, por isso vai ser feita uma intervenção de fundo, visando a proteção e defesa costeira nessa área. O investimento estimado em 2,9 milhões de euros, é financiado em 70% pelo Programa Operacional Temático de Valorização do Território “POVT”. Os restantes 30% são da responsabilidade do Estado e Câmara de Esposende, acionistas da sociedade. A Sociedade Polis do Litoral Norte, espera fazer obras de reabilitação, numa faixa costeira de 50km nos concelhos de Esposende, Viana do Castelo e Caminha, integra também as zonas estuarinas dos rios Minho, Coura, Ancora, Lima, Neiva e Cávado, numa extensão aproximada de 30km. O avanço do mar tem sido uma realidade constante, o inverno aproxima-se a passos largos, trazendo consigo chuvas por vezes diluvianas e ventos ciclónicos, PUB.

têm sido uma constante com a mudança radical no clima a nível global, provocado pelas alterações climáticas. As marés vivas aproximam-se, não será difícil de prever a dificuldade no avanço das obras e sua con-

clusão. Esperemos que o problema fique resolvido, ou se o mar vai levar a melhor sobre a inteligência humana, que o tenta dominar por todos os meios, gastando-se com isso, recursos financeiros consideráveis.


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Opinião

O regresso às aulas

Cristiana Félix

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pós um longo período de férias sem horários, sem aulas e sem trabalhos de casa, chegou a hora de preparar as mochilas dos vossos filhos e voltar às aulas. Deste modo, a família assume aqui um papel fulcral na adaptação das crianças ao novo ano letivo. Existe, assim, um conjunto de estratégias que deve seguir para que esta transição das férias para a escola não seja tão intrusiva e haja uma boa adaptação por parte de ambos (crianças e pais). É normal que no início do ano os pais e as crianças tenham sentimentos contraditórios, por um lado os pais estão orgulhoso com esta nova etapa, por outro lado, podem sentir-se inseguros e culpados com medo que alguma coisa não corra como esperado, para as crianças o medo aqui passa pela ansiedade em relação ao futuro e aos desafios que vão encontrar. Inicialmente deve começar por fazer a

transição para o horário escolar, para que as crianças consigam criar uma rotina e estejam prontos logo no início das aulas, ou seja, é importante deitar-se e levantarse sempre à mesma hora. Ajude as crianças a delinear o que deve fazer logo que se levante (ida à casa de banho, tomar o pequeno almoço, lavar os dentes, vestir-se... etc). Explique sempre à criança com quem vai para a escola, onde vai almoçar, quem o vai buscar à escola, o que tem que fazer antes de ir dormir (preparar mochila, preparar a roupa...) Reveja todo o material escolar do ano anterior para que não hajam gastos desnecessários; Se a criança for para uma escola nova deve certificar-se que a criança conhece a escola, para que assim não se sinta ansiosa nem com medo em relação ao novo ano; Não se esqueça de adquirir uma agenda para anotar as datas mais importantes de forma organizada, para que assim a criança se sinta orientada ao longo do tempo e possa fazer uma gestão organizada do tempo; Incentive a criança a ir para a escola, olhe para este tema como seja uma temática divertida que contribui em larga escala para as pessoas que somos; Evite fazer longas explicações que possam suscitar ainda mais insegurança

Coração e seus impulsos

Domingos Costa

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ste artigo baseia-se no livro “A MORAL nas suas relações com A MEDICINA E A HIGIENE” do Dr. Georges Surbled. Tem, como subtítulo: - “à Medicina e à Moral na vida orgânica das Paixões do Coração, e os meios que a ciência e a Igreja indicam para as combater.” Não é um livro recente, todavia, considero-o, uma suculenta enciclopédia. Com

abrangência, retrata ao pormenor temas importantíssimos para se ter uma vida saudável/digna. Inicia por abordar a paixão, como algo importante na vivência de qualquer ser, colocando-a em expoente elevado da sensibilidade; ou, como a serva carinhosa do desejo. Também ainda, o aparelho singular do nosso aperfeiçoamento cerebral e doutrinal. Abertamente alerta, para nunca abdicar do bem que as paixões oferecem; sem, nunca desprezar o valor religioso “… das almas puras e dos espíritos elevados…” apela a ter firmeza nas convicções, para assim, ter força e vencer as tentações estranhas, fazendo com que, a paixão seja efetivamente “Paixão Amorosa”. Assim, a inteligência não se engana, evita o vício e erro, sem transtornar o ego.

nas crianças e por outro lado gerar ainda mais questões; Leve-a antecipadamente a conhecer a escola, para que não seja um ambiente desconhecido e para que a criança se sinta à vontade; Sinta-se familiarizado com as orientações que são dadas na escola, para que assim não haja informação contraditória; Não olhe para o choro das crianças como um momento único de separação que interfere com o sistema emocional da criança; Evite comentar as atitudes das crianças na sua presença; É importante que vocês pais sejam carinhosos com as crianças e firmes sem se mostrar reticente em relação às pessoas com quem eles vão ficar; Não compare a adaptação de uma das crianças com a do irmão, cada criança é única e especial; Questione sempre o seu filho em relação às novidades escolares ajudando-o a memorizar as informações dadas durante o período escolar. Em suma, tenha em atenção todas as estratégias supra citadas para que a adaptação da criança à escola ocorra de forma natural e saudável. Caso surja alguma dúvida não hesite em entrar em contato comigo.

Cristiana Félix Psicóloga – Formadora cristiana.vanessa.felix@gmail.com

Com subtileza, define, que as paixões são oriundas do mesmo ponto comum: “…o amor. Eis, portanto, a origem de todos os impulsos da nossa sensibilidade, a primeira das paixões e a fonte de todas as outras, incluindo como é óbvio a alegria. Bossuet diz: “Retirai o amor, e desaparecem as paixões; colocai o amor, jazê-las-eis nascer a todas”. Já, sobre a inveja, “…nos seus diferentes graus, é caracterizada pela tristeza que sentimos com a vista do bem alheio, pelo receio de se ficar privado da sua posse, pelo desespero de o adquirir, pelo ódio ao seu detentor.”. Quando desrespeitado o significado da paixão, entra em ação os excessos, os nefastos desejos; promovendo um acentuado desequilíbrio psíquico. Tal, como diz o autor: “…esta cruel e dolorosa partilha do nosso ser entre os impulsos violentos do coração e a voz fria da razão, esta luta perpétua e tantas vezes desigual entre o espírito e o corpo, constitui um grande e temível mistério que a filosofia conhece e tem estudado desde os tempos mais remotos, mas que é incapaz de esclarecer.” Finaliza, dizendo que, “…a chave da razão


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da verdadeira paixão, não é resultado da pouca razão, é, efetivamente da fé cristã. Porque, não podemos ter dúvidas, na diferença entre prazer e dever, e ainda das fraquezas que nos levam a cometer faltas. As quais, eliminam a razão, impedindo o

discernimento espiritual, no encontro da verdade e do bem.” Santo Agostinho diz: “…o homem esse filho do Espírito, devia ser espiritual até na carne, e tornar-se carnal até ao espírito…”. Sublinha: os mestres da fé dizem, que, nós homens, somos

Dança com lobos José Rafael Soares

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númeras dúvidas foram levantadas acerca do antigamente seguro Banco Espírito Santo. Não venho fazer uma análise política da situação, já apressadamente debatida. Importa-me mais um certo desígnio histórico das instituições às mãos de um capitalismo dançante – tão dançante que explica a confusão e, em último caso, o desprezo votado pelo público. O exemplo que irei recordar vai no sentido contrário, aparentemente – em vez de um banco levar à ruína um país ou uma grande parte da população, pode ele elevar uma nação, ou, pelo menos, emprestar a confiança? A História diz-nos vagamente que sim. A grande banca e o poder político precisam um do outro. Daí se percebe a necessidade quase sempre urgente como o Estado tenta resolver os problemas – de uma magnitude preocupante – decorrentes de uma possível saúde débil dos organismos financeiros. Mas o contrário é igualmente verídico: a banca tornou-se, ao longo dos séculos, a cirurgiã do Leviatão. E não nos devemos surpreender ao ver que a mão que pegava no bisturi era uma mão ramificada, pertencente a uma família ou a um clã que, a partir da operação, controlaria os destinos dos poderes centrais, com maior ou menor amplitude, com maior ou menor desafogo. Foram assim os casos dos Médici, dos Fuggers e de tantos outros que, a partir da Idade Moderna, foram consolidando um status cada vez mais difícil de superar. É na Idade Contemporânea que estas operações se complexificam, quer por fraqueza do paciente, quer PUB.

por força do operante. Em Portugal, a situação política do período pós-Pombal permitiu um agravamento das finanças do Reino. Em primeiro lugar, os focos de tensão entre os partidários de Pombal e os que desconfiavam da sua política abriram fendas na celeridade com que certas medidas deveriam ser tomadas. Em segundo lugar, o establishment estrangeiro era já demasiadamente forte para ser evitado, a saber: a situação de permanente choque com Espanha, a vigorosa acção da França Napoleónica, o aproveitamento comercial e financeiro da Inglaterra. Estavam criadas as condições para a entrada em cena do banco inglês Barings & Co, posteriormente agremiado à poderosa holandesa Hope – momento em que se expande colossalmente - e sempre concorrente, amigavelmente concorrente, dos Rothschild. O que a história nos conta é que a salvação de Portugal nos inícios do século XIX – 1802 é a data do primeiro grande empréstimo do Barings – foi feita à revelia dos interesses futuros do país. A solução instintiva dos governantes foi uma hipoteca face aos desafios do grande capitalismo industrial que vinha a crescer nos países mais a norte – e porque não recomendar A Decadência dos Povos Peninsulares, de Antero de Quental, que resume as razões do atraso português? As gerações seguintes às desses fatídicos anos foram absolutamente impedidas de ter peso negocial. Basta reparar na amargura das críticas de Rodrigo de Sousa Coutinho, ou mesmo na simples constatação que faz Almeida Garrett no seu Portugal na Balança da Europa. O Barings foi um autên-

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só carnais, terrenos e animais.” “…não é a carne corruptível que faz a alma pecadora; é, pelo contrário, a alma pecadora que tornou corruptível a carne…” a carne e o espírito não deixam, contudo, de estar em conflito incessante…”.

tico polvo até à crise suscitada numa filial, na América do Sul, em 1890. Controlando os negócios das madeiras, dos diamantes e do tabaco, frutos colhidos facilmente pela independência do Brasil em 1822, a ajuda, de empréstimo em empréstimo, estagnou a possibilidade de regeneração económica credível. O período da Regeneração, a partir da segunda metade do século XIX, foi um esforço tremendo para endireitar uma economia. Dificilmente se voltaria a pôr o país na senda das potências coloniais. O que interessa analisar aqui é a procura insaciável e promíscua entre a política e a finança. Na altura, porém, a procura era feita nessa base salvífica – e irracional em muitos casos - como o poder político via a banca. Via e vê: sejam novos ou velhos, bons ou maus.


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Internet: O Lado Mau

Elisabete Gonçalves

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Internet é um fenómeno que chegou até nós a uma velocidade estonteante: o custo razoável e a qualidade de conexão que, em poucos anos, facilitou-nos o acesso a todo o tipo de informação ilimitada, independentemente da nossa condição social ou faixa etária. Proporcionou-se rapidamente o uso indevido da internet pelos mais maliciosos, caracterizado na forma de spams e de “vírus”, crimes online e quebras de privacidade e, por outro lado, verificou-se o uso desmesurado pelas pessoas que por ingenuidade confiam a sua identidade e liberdade de expressão neste meio de comunicação. Devemos ter especial cuidado com tudo o que fazemos na internet. Precisamos de ponderar seriamente antes de escrever ou publicar alguma fotografia ou outros dados de caráter estritamente pessoal. A propagação destas partilhas é célere e em segundos a nossa fotografia estará disponível às pessoas mais distantes geografi-

camente e poderão manipulá-la da forma que bem entenderem. A nossa informação tem de estar devidamente protegida até mesmo no nosso próprio computador e quanto mais confidencial, mais deve ser assegurada a salvaguarda em unidades de armazenamento que estejam em nossa posse exclusiva, não sendo aconselhado para estes casos a “nuvem”. O crime também existe na Internet e está configurado na lei. Abundam os sites ilícitos: pornográfico, racista, xenófobo, ou de puro incitamento à violência. No entanto, por vezes o perigo pode vir de uma conversa aparentemente inocente tida num programa de conversa à distância, o “chat”. Deve ser apresentada queixa às autoridades, quando tal se justifique. Embora não seja fácil em algumas situações trazer os culpados perante a justiça, cada vez mais vêm a público casos em que os criminosos são efetivamente julgados e condenados (pedofilia, tráfico de crianças, crimes informáticos, etc.) Por todas estas razões, recomenda-se aos pais que conversem abertamente com os seus filhos, alertando-os sobre o lado negativo da Internet e aconselhando-os a reconhecer e evitar os seus perigos. Orientar é sem dúvida o caminho, melhor que proibir. Como tal, existem alguns mecanismos para controlar a “navegação”, restringem o

que a criança pode ter acesso e pode ser evitada a dependência, o vício descontrolado da Internet. Mas, mais importante, é o acompanhamento pessoal e orientação para as boas práticas de segurança, alertando para as seguintes possibilidades: - Criar passwords complexas e nunca as partilhar com terceiros; - Nunca revelar informações sobre a nossa identidade e nossas ações (nome, telefone, morada, onde estamos e para onde vamos, etc.); - Não abrir mails de quem se desconhece ou cujo conteúdo pareça suspeito (pode conter um vírus); - Evitar o envolvimento em discussões desagradáveis ou assuntos polémicos; - Abandonar os “chats” se alguém for rude ou desagradável connosco e seja estranho; - Nunca aceitar encontros com supostos “amigos” conquistados online, muito menos sem a presença dum adulto familiar; - Ser discreto e sempre educado; - Solicitar ajuda aos pais e/ou aos professores quando nos deparamos com algum problema. Adotando estas práticas de segurança no nosso dia-a-dia, garantimos uma navegação na Internet com resultados absolutamente positivos, o Lado Bom! O meio de comunicação mais poderoso e com inúmeras vantagens.

Elisabete Gonçalves Consultora TI e Marketing Digital www.bphlassessoria.com

Cultura

Festival de Teatro no Gil Vicente entre 27 de setembro e 2 de novembro www.cm-barcelos.pt

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mais importante evento de teatro do concelho está de volta com a Festival de Teatro de Barcelos, que decorre entre 27 de setembro e 2 de novembro, no Teatro Gil Vicente. Organizado pela Capoeira – Companhia de Teatro de Barcelos e com o apoio da Câmara Municipal de Barcelos, o Festival vai já na sua 27ª edição, tendo como principal objetivo a troca de experiências entre grupos, o desenvolvimento da arte teatral e a promoção de novos projetos teatrais. O festival de outono da região Minho conta com a presença de 13 companhias de teatro, seis das quais pertencem ao concelho de Barcelos e sete do norte e centro do país.

Os espetáculos de abertura e de encerramento do Festival são duas estreias e estão a cargo da companhia organizadora. No encerramento do festival, serão entregues os prémios de melhor interpretação

(masculina e feminina), melhor cenografia, melhor iluminação, melhores figurinos e melhor espetáculo, atribuídos por um júri constituído por 3 elementos. A entrada é gratuita mas sujeita a marcação.


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Galeria Municipal de Arte recebe obras da Fundação de Serralves www.cm-barcelos.pt

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Câmara Municipal de Barcelos promove, em parceria com a Fundação de Serralves, a Exposição “A Minha Casa é a Tua Casa: Representações do Urbano e do Doméstico na Coleção de Serralves”, que será inaugurada no dia 12 de Setembro, às 21h30, e estará patente na Galeria Municipal de Arte de Barcelos até ao dia 23 de Novembro. Gil Heitor Cortesão, Tony Cragg, Ângela Ferreira, Fernanda Fragateiro, Patrícia Garrido, Gordon Matta-Claark e Bruce Nauman são alguns dos artistas que terão as suas obras expostas na cidade de Barcelos. Quem visitar a exposição terá a oportunidade de percorrer um imaginário em que a casa é o centro das preocupações dos artistas. E as casas deles passam a ser a nossa casa. Trata-se de uma exposição dinâmica, em que os artistas e as obras presentes, desde quadros, mobiliários, fotografias, esculturas ou vídeos, interagem com os PUB.

visitantes ao apresentarem diferentes pontos de vista e espaços imaginários, onde se podem observar diferentes conceitos, como a hospitalidade, a solidão, o conforto ou o abrigo que as “nossas” casas nos proporcionam e onde são vividos, todos os dias, diversos sentimentos. A inauguração inclui ainda o concerto “On Glass”, do Srosh Ensemble (com Ana Luísa Veloso, Gustavo Costa e Henrique Fernandes), um coletivo de músicos e artistas relacionados com a música experimental e a

arte sonora. Este ensemble concentra o seu trabalho na criação de esculturas, instrumentos não convencionais e intervenções em espaços específicos nas áreas da arte sonora. “On Glass” faz parte de um conjunto de performmances sonoras onde são exploradas as potencialidades tímbricas de diversos tipos de materiais. Depois da exploração do metal, da verâmica e do ar, o Srosh Ensemble propõe agora diferentes formas de interação com o vidro para a criação de texturas sonoras de densidade variável.

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Agenda do mĂŞs [Concelho Barcelos]

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Entre em contacto connosco, envie-nos a sua opiniĂŁo ou um artigo que queira ver publicado! redajornalvaledoneiva@gmail.com


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Agenda do mĂŞs [Concelho Viana do Castelo]

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Agenda do mĂŞs [Concelho Ponte de Lima]

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Fotorreportagem

Refúgios José Rafael Soares

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ara que procuramos o refúgio? Sim, o refúgio, dito assim, vagamente. Procuramos abrigo? Eu procuro solidão. A solidão nem sempre é impartilhável – é muito bonito partilhar a solidão, mas nem sempre é possível. Eu procuro a solidão rija das coisas, a solidão negra do descrédito, a solidão que suprime a fé no homem e nas coisas e em tudo. É uma quase-tristeza, um assombro da escuridão – contrário à luz, à luminosidade do sentido do mundo. Quando procuro essa

solidão, portanto, esse refúgio, procuro a visita dos meus deuses impossíveis. São poucos os sítios que deixam que isso aconteça. Um deles é especial, tornou-se especial. É a Serra do Carvalho, na minha cidade natal, Braga. A Serra do Carvalho tem o poder de me devolver aos horrores da cidade, com uma distância incrível. O que eu procuro não é paz, portanto. É guerra, uma guerra interior. Refugiar-me é guerrear-me. E a Serra do Carvalho permite-me ir ao encontro disso, como um romano do século talvez três, ou um soldado francês do século

dezanove. É um teatro de tudo. Lá encontro animais relativamente domesticados, como num neolítico a acontecer. É lá que vejo os intermináveis cabos da civilização, sustentados em postes de eletricidade amadurecidos pela anti-estética humana. Torna-se um exercício simples a verificação da nossa capacidade de moldar o ambiente, o território. A Serra permite, como se fosse um museu aberto, olhar para o antropoceno, devidamente. Mas a Serra também é sinónimo de um certo sentimento bucólico – mas não exageradamente lírico -, longínquo. Vejo o orvalho remanescente às cinco horas da tarde, vejo a fonte com uma água que parece terminável, vejo os trilhos arenosos das motorizadas violentas, vejo os arbustos crescentes e as árvores sobrantes. A Serra olha de soslaio a cidade. Atenta-lhe o movimento. Tem esse poder espiritual sobre o que o homem faz ou constrói: supervisiona, como se exercesse uma chefia inabalável; mas assiste, impávida, ao que lhe fazem, como se lhe exercessem uma chefia abominável. É lá que me guerreio. Vejo a cidade, vejo a tempestade, vejo as coisas a acontecerem. E a Serra segue-me, com um olho em mim e outro na urbe.


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Poesia Anibal Caixeiro

José Serra

O meu jardim

Vento das sensações

Cada instante e momento murmurando só para mim roubaram a mais bonita flor que tinha no meu jardim.

Agora faço poesias surdas, Neste momento igualmente silencioso, Fúnebre, na maneira como contemplo a luminosidade estéril do Sol, E ausente, na virtude distante de uma Lua vagamente cheia. Vejo os rapazes, vejo as raparigas – Reparo na sua juventude verdadeira, porque vivida. Quando reparo em mim, Reparo numa morte antecipada, Numa certa hipótese corrente aos vinte e poucos anos de idade. Vejo como sofro com amores inúteis e não correspondidos, Vejo como lentamente acedo às propostas do mundo, Vejo o que realmente sou, que é isso, E não o que tento ser, que não pode ser o que realmente seja, Porque isso é uma mentira que prego aos existentes, E é um recado, como cumprimento, um Olá talvez, Aos já defuntos.

Tão longe de mim estás pertinho do meu coração destruíste o meu jardim mas gosto de ti ladrão. Eu que tanto te amava outro conseguiu ter mais amor se a pedisse eu não a dava e assim levou-me a flor. Bonita e jovem flor ladrão foi por ti roubada protege-a de todo o mal e não lhe faltes com nada. O ladrão que a levou peço-lhe perdão se ofendo mas a flor que me roubou causou-me um choque tremendo.

Anibal Caixeiro Quando você foi embora nada me deixou até meu amor levou eu estava apaixonado agora vivo com esta paixão terei que me manter calado e calar meu coração que está muito magoado com a sua traição tenho mal a suportar esta dor mesmo lendo poemas de amor neste momento estou sentido como um animal ferido você alimentava minha vida com o seu doce sorriso quantas vezes você jurava que nunca me deixava e de momento me deixou sem me dizer nada você parecia tudo compreender e deixou-me sozinho a sofrer.

Que virtudes espalho? As que são o espelho do que não fiz? Quem apregoa mais do que eu, como sermão debilmente dito, Quem, afinal, fez nesta vida tanto de inconcebível como aquilo que eu concebi erroneamente fazer? Vou à procura desse outro mundo, Nesta poesia austera, nestes versos frios e invernosos Como a gabardina velha que ostenta o símbolo de uma marca do que já foi, E protege, sem sucesso, evidentemente sem sucesso, O abrigado enganado e molhado E tolhido pelo vento das sensações E a chuva das emoções sem sentido. Toda esta poesia é lenta e triste e velha E é isso tudo porque eu permiti que assim fosse, Igual ao ser: lento, triste, velho. Nada tem havido em mim que valha a pena, As pessoas - conhecidos, amigos - para que me procuram? Fracos consolos em mesas de café? Estúpidas conversas à míngua do tempo que não passou ainda? E eu, para que os procuro? Para a satisfação estranha do mundo real e que não satisfaz verdadeiramente? Porque se realmente estiver com eles - comunicando-lhes com uma infrutífera vontade O que importa é que no momento a seguir - e que torna tudo o que passou antes num devaneio incrível de uma mente isoladíssima -Não volto a pensar neles, Penso no que falhei, no que não serei, Em tudo o que vem como um vento velho, Afinal, no vento das sensações.

Nova rúbrica do jornal | Poesia Envie-nos os seus poemas para redajornalvaledoneiva@gmail.com


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Sugestão ao leitor

Sugestão musical

SBTRKT Wonder Where We Land Luís Meira

A música eletrónica é um género de música que não tem de longe o apoio que, não minha opinião, deveria ter. Muito facilmente associada a música muito pesada e sem sentido, e associada igualmente “àquela música que passa nas discotecas”. Essa é uma ideia errada, e o álbum do qual vou falar hoje mostra muito bem isso. Se há artistas que têm fugido a essa pre-concepção da música eletrónica são eles os já muito falados Disclosure, e o SBTRKT. Há outra coisa que liga estes dois grandes nomes, que é a escolha das vozes para as suas músicas, se os Disclosure ja tiveram participações como as de Alunageorge, Sam Smith, e Jessie Ware, o SBTRKT já teve colaborações com Little Dragon, Sampha e Ezra Koenig (Vampire Weekend). Feita esta brevíssima caminhada pelos trilhos mais recentes da música eletrónica, falo agora do caminho de um só artista, chama- se Aaron Jerome, mas é mais conhecido como SBTRKT. Começou a mostrar se ao Mundo em 2009, com o lançamento de dois singles, depois, em 2010 conseguiu chamar a atenção de uma maior massa, mas só em 2011 com o lançamento do seu primeiro álbum, conseguiu a merecida atenção, lançou o álbum “SB-

TRKT” que contou com participações de vozes já conhecidas, mas também contou com algumas menos conhecidas, como o caso de Sampha. Agora em 2014 decidiu lançar o seu mais recente álbum, de nome “Wonder Where We Land”. O primeiro single para este álbum foi o “New Dorp. New York” uma faixa que conta com a participação da voz dos Vampire Weekend, uma música um pouco estranha que custa a entrar e a ser apreciada, mas só depois de digerida se consegue ver que as linhas de baixo e as batidas que por lá andam são sem dúvida de uma qualidade que só SBTRKT nos pode trazer. Com as participações de Sampha, desta vez são 4, faz parecer que o fado entra também um pouco pelo meio daqueles ritmos mais dançáveis, uma voz de soul, que faz com que o “triste” se torne um pouco mais “feliz”. Com este álbum SBTRKT estreia-se

Sugestão cinematográfica

La Vita è Bella (A Vida é Bela) um marco na história do cinema O filme “A Vida é Bela“ conta a história do judeu “Guido” que se muda do campo para a cidade aos 30 anos. Lá, apaixonase por uma professora chamada “Dora”. Depois de cinco anos juntos, casaram e tiveram um filho chamado “Josué”. Toda a sua família e seu tio foram capturados

e levados para um campo de concentração e “Guido” para amenizar o sofrimento do filho faz com que “Josué” acredite que aquilo tudo não passa de uma grande brincadeira no qual se acumulam pontos e quem conseguisse mais pontos ganharia o tanque de guerra.

a fazer o que se chama de “instrumental” para o hip hop, faz isso por duas vezes, para a faixa “Higher” com a voz de Raury, e para a faixa “Voices in My Head” com a voz de A$ap Ferg. Em 2014 SBTRKT mostra que é realmente um nome a ter em conta dentro deste género, e que consegue escolher bem quem dá voz às duas ideias, tendo mesmo lançado alguns nomes para a fama. Melhores músicas: Temporary View, New Dorp. New York, The Light. Outros álbuns de Setembro: Thom Yorke – Tomorrow’s Modern Boxes, Mr. Twin Sister – Mr. Twin Sister, e Aphex Twin – Syro. Destaques para este mês: Jessie Ware – Tough Love, Caribou – Our Love, Foxygen – …And Star Power.


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Passatempos

Sopa de letras Matemática

Sudoku

Culinária

Hambúrgueres de legumes e caril 6 unidades Ingredientes 40ml de azeite 1 cebola bem picada 1 dente de alho esmagado 2 curgetes raladas 1 cenoura ralada 100g de pão integral (só côdea) 1 lata (400g) de grão escorrido 3 colheres de chá de pasta de caril 4 colheres de sopa de manteiga de amendoim 1 gema de ovo 4 colheres de sopa de coentros picados (extra para servir) 6 pães a gosto (para servir) maionese (para servir) chutney (para servir) alface (para servir) tomate (para servir)

Receita 1. Aqueça metade do azeite numa frigideira grande em lume médio alto. Cozinhe a cebola por cinco minutos ou até amolecer. Adicione o alho, a curgete e a cenoura. Cozinhe, mexendo, por três minutos ou até os legumes murcharem. Escorra o líquido se houver. 2. Coloque o pão e o grão num robô e bata até misturar. Adicione os legumes, a pasta de caril, a manteiga de amendoim, a gema e os coentros. Bata até ficar tudo bem misturado. 3. Molde a mistura em seis hambúrgueres. Coloque-os num prato e tape com papel aderente. Guarde no frigorífico no mínimo

por 10 minutos. Quando os for cozinhar, aqueça o restante azeite numa frigideira em lume médio. Cozinhe os hambúrgueres por dois minutos de cada lado ou até ficarem dourados e cozinhados no interior. 4. Sirva no pão com maionese, o chutney, a alface, o tomate e as folhas de coentros. Dicas da mafalda *Pode congelar os hambúrgueres bem embrulhados em papel aderente num recipiente fechado no congelador até três meses. Fonte: www.diascommafalda.com


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Necrologia

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Contactos úteis

Maria Alves Correia Pinto Viúva do Sr. Aleixo Costa Santos 81 anos Sua família cumpre o doloroso dever de participar o seu falecimento e que o funeral se realiza segundafeira, dia 15, pelas 17:00 horas, da Capela da Ascenção, Mujães, onde o féretro se encontra em câmara ardente, para a Igreja Paroquial, seguindo a sepultar no cemitério local, após celebração das exéquias fúnebres. Antecipadamente muito reconhecida, agradece a todas as pessoas que se dignarem assistir a este piedoso ato. A família, Mujães, 14 de setembro de 2014

José Dias de Oliveira Agradecimento e missa do 7º dia Sua família vem por este único meio manifestar a todas as pessoas o seu reconhecimento pelas inúmeras provas de consideração e amizade recebidas aquando do doloroso transe e participam que a Missa de sétimo dia de sufrágio pela alma do saudoso extinto, será celebrada domingo, dia 28, pelas 10:00 horas, na Igreja Paroquial de Vila de Punhe. Do mesmo modo, agradecem a todas as pessoas que se dignarem a esta Santa Eucaristia. A família, Vila de Punhe, 27 de setembro de 2014

José Francisco Rodrigues Miranda Durrães - Barcelos 89 anos Agradecimento Sua Família, profundamente enlutada pela perda do seu ente querido, vem por este meio agradecer a todas as pessoas que se dignaram tomar parte no funeral e missa de 7.º dia, bem como aquelas que de algum modo lhes manifestaram o seu pesar. A família AGÊNCIA FUNERÁRIA TILHEIRO, LDA. Tel: 258971259 Tm: 962903471 - BARROSELAS www.funerariatilheiro.com

Viana do Castelo Camara Municipal de Viana do Castelo - 258 809 300 Bombeiros Voluntários de Viana do Castelo - 258 800 840 Bombeiros Municipais de Viana do Castelo - 258 840 400 Guarda Nacional Republicana - 258 840 470 Polícia de Segurança Pública - 258 809 880 Polícia Marítima - 258 822 168 Unidade de Saúde Local do Alto Minho (ULSAM) - 258 802 100 Cruz Vermelha - 258 821 821 Centro de Saúde - 258 829 398 Hospital Particular de Viana do Castelo - 258 808 030 Unidade de Saúde Familiar Gil Eanes - 258 839 200 Interface de Transportes - 258 809 361 Caminhos de Ferro (CP) - 258 825 001/808208208 Posto de Turismo de Viana do Castelo - 258 822 620 Turismo do Porto e Norte de Portugal, Entidade Regional - 258 820 270 Viana Welcome Center - Posto Municipal de Turismo - 258 098 415 CIAC - Centro de Informação Autárquico ao Consumidor - 258 780 626/2 Linha de Apoio ao Turista - 808 781 212 Serviço de Estrangeiros - 258 824 375 Defesa do Consumidor - 258 821 083 Posto de Fronteiras do SEF - 258 331 311 Arquivo Municipal de Viana do Castelo - 258 809 307 Centro de Estudos Regionais (Livraria Municipal) - 258 828 192 Biblioteca Municipal de Viana do Castelo - 258 809 340 Museu de Artes Decorativas - +351 258 809/305 Museu do traje - +351 258 809/306 Teatro Municipal Sá de Miranda - 258 809 382 VianaFestas - 258 809 39 Barcelos Câmara Municipal de Barcelos - 253 809 600 Bombeiros Voluntários de Barcelos- 253 802 050 Hospital Sta. Maria Maior Barcelos - 253 809 200 Centro de Saúde de Barcelos - 253 808 300 PSP Barcelos -253 823 660 Tribunal Judicial da Comarca de Barcelos - 253 823 773

Farmácias de serviço Outubro 2014 Viana do Castelo

Outubro 2014 Barcelos

F. São Bento - Dias 2/8/14/20/26 F. Moderna - Dias 3/9/15/21/27 F. Simões - Dias 4/10/16/22/28 F. Nelsina - Dias 11/17/23/29 F. Central - Dias 5/18/24/30 F. Manso - Dias 6/12/25/31 F. São Domingos - Dias 1/7/13/19

F. Filipe (Barcelos) - 5/15/25 F. Lamela (Barcelos) - 6/16/26 F. Moderna (Barcelos) - 7/17/27 F. Central (Barcelos) - 8/18/28 F. A minha Farmácia (Barcelos) - 9/19/29 F. Oliveira (Barcelos) - 10/20/30 F. de Barcelinhos (Barcelinhos) - 1/11/21/31 F. de Arcozelo (Arcozelo) - 2/12/22 F. Avenida (Arcozelo) - 3/13/23 F. Cunha (Barcelos) - 4/14/24


OUTUBRO 2014

Crónica/Opinião (frase do mês)

“Verdade, Amor, Razão, Merecimento,/qualquer alma farão segura e forte;/ porém, Fortuna, Caso, Tempo e Sorte,/ têm do confuso mundo o regimento.” Luís de Camões

Património

Memórias do Jornal “O Vale do Neiva” Azenha Das Poldras-Fragoso

E

sta Azenha fica situada a sul do rio Neiva em Fragoso, Concelho de Barcelos. É esta Azenha que serve de cabeçalho há primeira edição do nosso Jornal, funciona actualmente, e o seu estado de conservação é bom. Foi numa manhã cinzenta, 19 de Novembro de 1983, que eu e Aquilino de Almeida fomos encontrar na sua paz idílica, o simpático Sr. José Rodrigues Martins, mais conhecido por “ TiZé Tinente”, sentado a dormir no tremonhado da Azenha, com o seu gato todo enfarinhado, a dormir-lhe no carrulo. Com a nossa presença , o “TiZé Tinente” acordou, e o gato fugiu. O “TiZé Tinente”, figura típica do nosso Neiva, é um dos últimos moleiros do rio Neiva. Estatura baixo franzino, vivo, boina na cabeça. Fato enfarinhado, simpático e falador, responde com lucidez ao “ Vale do Neiva”. VALE DO NEIVA: COMO SE CHAMA E QUANTOS ANOS TEM? JOSÉ RODRIGUES MARTINS: “Zé Tinente” e tenho 88 anos. V. N.: É CASADO ? Sou sim senhor, e pela 2ª vez, da primeira mulher não tive filhos, da segunda tenho cinco, todos estão bem. V.N.: HÁ QUANTOS ANOS É MOLEIRO? Há mais de 60 anos, meu senhor.

V. N.: TEVE MAIS IRMÃOS MOLEIROS? Tive sim senhor, o Artúrio e o Domingos, éramos uma família de moleiros. V. N.: TRABALHOU SEMPRE NESTA AZENHA “POLDRAS” ? Não senhor, trabalhei na Azenha dos “Três” nas Alvas, depois fui para uma Azenha em Alvarães 3 anos, e agora estou aqui há um ror d,anos V. N.: PORQUE CHAMAM POLDRAS? Num sei só se for por ter as passadoiras. V. N.: TEM MUITA MOAGEM? Antigamente havia muita, agora enquanto não matam os porcos ainda vai havendo, moio milho e centeio. V. N.: AQUI NÃO TEM CARRO NEM BURRO, PARA LEVAR AS FORNADAS? Não senhor, quando saí das Alvas, vendi o burro e o carro. Aqui as mulheres levam e trazem os sacos à cabeça. V. N.: NUNCA FOI ASSALTADO ? Fui uma vez, por um home aqui de Fragoso. Veio roubar-me a carteira, tinha cinco contos de rei. Eu disse-lhe, não m,estejas a quilhar o juízo. Vinha com a cara coberta com uma meia, eu rasguei-lha, e conheci-o logo. Deitou a fugir, e eu descalço atrás

dele. Deu-mo era filho d,gente qualquer. V. N.: HOUVE AQUI ALGUM ENGENHO DE LINHO? Houve sim senhor. V. N.: DANTES HAVIA MUITAS AZENHAS A MOER? Havia sim senhor todas moíam. Aquilo era bonito. Isto foi morrendo há cerca de vinte anos. V. N.: DIGA-ME O NOME DE ALGUMAS PEÇAS ? Tremonhado, pé, mó, quelho “caleiro do cereal”, moega, pá de apanhar a farinha, e a vassoira para limpar. V. N.: COMO SE FAZ A MAQUIA, E SE É TODA PARA SI ? É um quilo por cada arroba “ 15 kl”. É a meias c,patrão. V. N.: A AZENHA É DO FÉLIX, O LOCAL É BOM. E QUANDO VOCÊ NÃO PUDER ? A Azenha é pena fechá-la, está em bom ponto. As passadoiras é que estão todas fodicadas, eram cómodas para as leiras, que há em Laceiras. Havia duas pontelhas. A Azenha “toma-se”, muitas vezes, chega a estar meses tomada “parada por excesso água”. V. N.: JÁ MORREU AQUI ALGUÉM? Já sim senhor, dois irmãos e uma mulher. V. N.: TEM PAIXÃO POR SER MOLEIRO? Tenho sim senhor, mas não quero morrer aqui n,Azenha. Oiço mal, vejo mal, já viro a cangalha com facilidade, ainda estes dias caí abaixo dum valado, com duas fornadas ás costas. O “ Vale do Neiva” agradece ao Sr. José Rodrigues, e deseja-lhe longos anos de vida. Reportagem - Manuel Delfim “Necas” Fotografo - Aquilino de Almeida In. Jornal o “Vale do Neiva” 1ª Edição 13 de Junho 1984. A Redação


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