ANO 2, Nº3
junho de 2014
Especial crise política venezuelana Página 4
A EXPRESSÃO INCONSCIENTE Página 13
Para quE perfumar a flor? Página 12
A Corte Infiltrada Página 14
Um Continente de Céus e Silêncios Página 11
/ovistoufsc
EDITORIAL
CORPO EDITORIAL
Pode-se argumentar que uma das frases do brilhante, controverso e vindicado jornalista inglês, George Orwell, continua a ser uma das melhores evocações da função a que se deve propor qualquer jornal decente: “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade.” Ainda, em outra tradução não tão fiel à prosa do escritor, a mesma passagem se estende como: “Jornalismo é tudo aquilo que incomoda alguém. Todo o resto é propaganda.” Embora ambos os tradutores concordem quanto ao “resto”, a maneira como o último coloca a sentença inicial é um tanto mais polêmica, e, se não diz mais que a primeira, também tem seu poder. O segundo tradutor a princípio comete um erro por não se ater estritamente ao significado, mas acaba sendo mais presciente e revelador do que intencionava. Mais revelador porque Orwell sabia da dificuldade que era manter-se fiel aos seus princípios num momento de complacência intelectual e admiração velada que alguns de seus contemporâneos alimentavam pelo stalinismo soviético, e sabia da importância de uma voz dissidente que pudesse mudar o tom do debate em uníssono, assim como da coragem necessária para, dessa forma, “incomodar” os leitores. Assim, deve-se sublinhar que um jornal que nunca incomodou ninguém provavelmente não é digno de leitura. Ora, ler e debater aquilo que a nós já é reiteradamente afirmado por todos é sem dúvida entediante. A presteza do jornal se encontra justamente naquilo que não ressoa como lugar-comum na mente de quem lê, e nas linhas que contrastam com uma visão já arraigada e por vezes arcaica que nutrimos em certas questões. É claro que não se trata de publicar inverdades ou dar vazão a retóricas sem sentido. A dialética que propõe Flaubert ao colocar que “a contradição mantém a sanidade “ não passa pelo bem e o mal, ou pela loucura e a razão, e tampouco descrê uma verdade objetiva, mas é aquela entre um argumento e outro – ambos possivelmente certos, e felizmente nenhum infalível–, que impedem a cegueira intelectual a o fanatismo ideológico. Não é em má companhia, portanto, que O Visto se propõe como um jornal que preza pelo contraponto e pela sobriedade do debate quando sua principal intenção é divulgar o conhecimento e estimular o “discurso interminável entre os homens”, e, não por menos, continuar incomodando.
Carolina Ferrari (12.2) ferrari_carol@hotmail.com Darlan de Souza Borges (12.2) darlanbs@hotmail.com Gabriel Antonio C. Pereira (12.2) gabriel_antonioc@hotmail.com Gabriel Piccinini (12.2) gabrielpiccinini@me.com Gabriel Roberto Dauer (13.1) gabrielrdauer@gmail.com Jonatan Carvalho de Borba (12.2) jcarvalhodeborba@gmail.com Lucas Cidade Garcez (12.2) garcezlc@hotmail.com Maria Luísa Lange (13.1) marialuisalange@gmail.com Mariana Almeida Tavares (12.2) marianatava@yahoo.com.br Mariana Serrano Silvério (12.2) mariana@silverio.net.br Osvaldo Souza (12.2) oqsf@hotmail.com Raquel Lopes de Lima (14.1) raquel10_100@hotmail.com Design por Martina Hotzel (13.1) martina.hotzel@gmail.com
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apoio
nesta edição Tarifas do setor elétrico: equilíbrio econômico-financeiro e qualidade dos serviços Página 3 A lógica dos dois níveis aplicado a Revolução Bolivariana: relações internacionais para além da CNN Página 4 relatos venezuelanos Página 8 Al Shabaad: A nova “franquia” da Al-Qaeda Página 9
Um Continente de Céus e Silêncios Página 11 Para que perfumar a flor? Página 12 a expressão inconsciente Página 13 A Corte Infiltrada Página 14 Siem Página 15 LABCON Página 16
O VISTO
Um mapa político é a forma gráfica de identificar divisões políticas e administrativas de uma determinada região, aqui, ele serve para acabar com as divisões e juntar visões e pensamentos sobre tudo o que você pensa e acha que deve ser dito e debatido acerca do cenário internacional. O que você pensa?
Tarifas do setor elétrico: equilíbrio econômico-financeiro e qualidade dos serviços por Heitor Scalambrini Costa, Professor da Universidade Federal de Pernambuco
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esde os anos 90, o setor elétrico brasileiro vem passando por uma reforma institucional, cujos objetivos seriam o aumento da competição, a melhoria da qualidade dos serviços e maior participação de recursos privados na distribuição e transmissão do setor. No entanto, pode-se afirmar, o maior legado (negativo) deste período (que se convencionou chamar de “Nova República”) foram as mudanças introduzidas na forma de tarifação da energia elétrica. A Lei 8.631, de 4 de março de 1993, promoveu uma profunda modificação na política tarifária, estabelecendo que os parâmetros de preços seriam propostos pelas próprias concessionárias, com a homologação (conivente?) do Poder Concedente. Com a liberalização econômica, a partir de 1995, a tarifação adota a metodologia do “Preço Teto Incentivado” (price cap), que fixa tarifas consideradas “adequadas” para remunerar e amortizar os investimentos, e cobrir os custos operacionais, além de receber o benefício de reajustes e revisões. Na fórmula de cálculo do índice de reajuste, a tarifa está indexada ao IGP-M (índice geral de preços do mercado), cuja evolução é bem superior ao IPC (índice de preços ao consumidor) e ao IPCA (índice geral de preços amplo), que regem os reajustes de salário e de preços ao consumidor. Na prática, enquanto o salário sobe pela escada, as tarifas elétricas sobem pelo elevador. Um “passar de olhos” nos balancetes anuais dessas empresas comprovam que os ganhos extraordinários das concessionárias se devem aos draconianos contratos de privatização – em particular os das distribuidoras. A noção de equilíbrio econômico, introduzida nos contratos de privatização (ou “de concessão”) como mecanismo de proteção ao capital estrangeiro investido no setor elétrico, garante que os investimentos são sempre remunerados. E assim criou-se, no setor elétrico brasileiro, o “capitalismo sem risco”. Na prática, o que acontece, e está previsto em lei, é que as distribuidoras são ressarcidas por qualquer interferência que afete os preços da energia por elas adquirida. O custo é sempre pago pelos consumidores
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(via tarifas), que subsidiam a saúde financeira dessas empresas, garantindo ganhos extraordinários a todas, mesmo quando a qualidade de seus serviços é sofrível. Então, que fique bem claro, a “maracutaia” do famigerado “equilíbrio econômico-financeiro” das empresas está nos contratos de privatização, que desconsidera o equilíbrio do orçamento familiar e a competitividade dos bens e serviços fornecidos pelo setor industrial e comercial, que têm na energia elétrica um insumo importante. Logo, responsabilizar adversários políticos pelas altas tarifas é politicar e camuflar o real problema. A responsabilidade é do governo federal (que criou), que tem mantido a principal causa das tarifas estratosféricas de energia: os contratos de privatização – feitos sob encomenda para que as concessionárias ganhem sempre. Neste inicio de ano (de 2014), a política energética tem contribuído para o aumento da inflação. Com a justificativa de que a energia das termoelétricas é mais cara – mais ainda com a contratação no mercado livre –, os reajustes tarifários chegam a ser de 2 a 5 vezes o IPCA (inflação). E o consumidor deverá perder até 50% do desconto recebido na conta de luz, em 2013. Para 2015 e anos posteriores, antecipam-se mais aumentos significativos na conta de luz. Os aumentos tarifários já autorizados pela ANEEL (Agencia Nacional de Energia Elétrica) refletem os erros cometidos na condução da política energética. Os consumidores atendidos pela AES Sul, do Rio Grande do Sul, tiveram um aumento médio de 29,54%. Os consumidores da CEMIG, em Minas Gerais, foram surpreendidos em abril com um aumento de 14,82% e, em São Paulo, o aumento médio nas tarifas da CPFL Paulista foi de 17,23%. Para quatro distribuidoras no Nordeste os aumentos médios autorizados foram: 16,77% no Ceará; 11,85% em Sergipe; 14,82% na Bahia; e 12,75% no Rio Grande do Norte. Em Pernambuco, o pleito da CELPE junto à ANEEL foi de um aumento médio de 18,13%. A justificativa para este aumento exorbitante, frente a uma inflação de 5,68% no período, foi o mesmo usado por todas as distribuidoras: “pagaram mais caro pela energia comprada”. Todos os pedidos de aumento seguem rigorosamente os
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Todos os pedidos de aumento seguem rigorosamente os contratos, que atendem unicamente aos interesses das empresas, e deixam de lado os interesses do consumidor. No caso da CELPE, o aumento premia uma empresa cujo nível de qualidade e continuidade dos serviços tem despencado no IASC (Índice Anual de Satisfação do Consumidor, ranking divulgado anualmente pela própria ANEEL). Em 2011, a companhia estava em 4º lugar, e em 2013 caiu para o 24º, em uma lista com 35 concessionárias. Também devem ser levadas em conta as multas irrisórias recebidas pelo excesso de interrupções e por mortes por choques elétricos – que chegam a 48 óbitos,
maior numero de mortes, vindo o Ceará, em 3º lugar). Nada disso abalou o lucro líquido da CELPE que, em quatro anos (de 2010 a 2013) somou cerca de R$ 850 milhões. A Celpe foi ainda recompensada com um aumento na tarifa muito superior à inflação, e fica bem fora dos padrões da realidade econômica de seus usuários (mais de 80% são consumidores domiciliares). Ao consumidor restam duas saídas. Reclamar ao Bispo de Itu ou, como cidadão consciente, se insurgir contra mais este descalabro que avilta seus interesses (tudo “legal” e com a conivência dos últimos governos). Basta! Revisão dos contratos já.
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Especial crise política venezuelana A lógica dos dois níveis aplicado a Revolução Bolivariana: relações internacionais para além da CNN por Jefferson Pecori Viana, Doutorando na UFRGS
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Venezuela, país latino-americano encravado no norte da América do Sul e que, ao mesmo tempo, está presente tanto geograficamente (pela existênna região caribenha, é um dos atores mais comentados e pouco compreendidos da política e da economia política internacional. Desde os anos 60 o país sul caribenho é parte importante dos Regimes Internacionais (mesmo que desde os anos 50 a atuação de empresas petroleiras seja de grande destaque na Venezuela), sobretudo devido à ativa participação na criação e estabelecimento da OPEP e também devido às consequências políticas e geoeconômicas da renda petroleira. Ser um dos grandes detentores do principal recurso para a economia capitalista fez da Venezuela um ator cujas ações estiveram sempre monitoradas dentro da órbita da grande potência: os Estados Unidos. A atenção dos Estados Unidos deve-se tanto ao seu histórico de atuação no “pátio” latino-americano – considerado seu espaço “natural” de influência – quanto à busca por assegurar o fornecimento da matéria-prima do progresso material moderno: o petróleo1 .
Para compreender a correlação entre a chegada de Chávez ao poder e a importância geoeconômica do petróleo é preciso compreender o processo político iniciado em 23 de janeiro de 1958, chamado de processo de “punto fijo”. O processo iniciado com o Pacto de “Punto Fijo” foi o resultado de uma ditadura militar. Essa ditadura conseguiu manter-se até 1958 devido ao apoio de setores contrários às reformas “populares” que estabelecessem o marco de direitos trabalhistas (como o fizeram Vargas, Perón). Esse setores apoiaram o processo ditatorial iniciado em 1949. Entretanto, a falta de uma estabilidade favorável à ação das companhias internacionais e a própria insegurança que sentiam as elites nacionais fizeram com as maiores forças políticas pactuassem o retorno a democracia, dentro de certos limites, como por exemplo, a proscrição do Partido Comunista. O pacto fixado em Punto Fijo duraria 40 anos. Entretanto, na esteira dos anos noventa, as forças que conservaram esse pacto foram incapazes de superar ou propor um programa diferente daquele que era recomendado pelas nações ricas e lidar com as consequências que a adoção desse programa trou-
1 Com relação às reservas de petróleo, a Venezuela ocupa o posto número, com uma Participação mundial de 17,8%. As reservas provadas de petróleo chegaram em 2012 a marca de 297.6 bilhões de barris, representando um crescimento em 10 anos: 285% com relação às reservas provadas em 2002: 77.3 bilhões de barris (edição 2013 do relatório estatístico anual da British Petroleum).
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xe para o sistema de proteção social venezuelano. Do mesmo modo, é preciso destacar o mínimo avanço alcançado com relação à diminuição da dependência da renda petrolífera e a exclusão das amplas maiorias subjugadas (trabalhadores assalariados e, principalmente, informais) da participação política. A Venezuela, sob a base do pacto das elites resultantes do acordo de Punto Fijo foi um dos poucos países da América Latina que não sentiu o gosto da intervenção militar (direta ou indireta; com o apoio externo explícito ou implícito). A não ocorrência da ditadura é um dos processos que explica a emergência das transformações realizadas por Chávez: os militares venezuelanos não chegaram a participar ativamente nos treinamentos da “Escuela de las Américas” (ou escola manualesca de golpes em países latino-americanos). Os militares venezuelanos, por não enfrentarem uma ditadura militar, não entraram no “surto psicológico” da criação do inimigo interno. Pelo contrário, a academia militar venezuelana, cujas forças não estavam direcionadas para o combate do fantasma comunista, dedicou grandes esforços em estudos geoestratégicos que, inevitavelmente, tinham que passar pela grande riqueza acumulada pela venda petrolífera e a desastrosa situação social que o país enfrentava. A história concreta venezuelana forçou a geração militar a tentar pensar os problemas venezuelanos, se não de maneira sistematicamente crítica, ao menos com algum grau de pragmatismo com relação à autonomia e soberania nacionais: é a partir dessa escola militar que devemos enxergar a emergência de Hugo Chávez e de toda lealdade militar que o manteve e que, em grande medida, é responsável pelo respeito atual à constituição venezuelana. Desta maneira, essa geração a qual Chávez pertenceu viu a deterioração das condições econômicas como um processo de empobrecimento não apenas do povo, mas da própria pátria venezuelana (é preciso distinguir estes níveis, pois, como se sabe, para a maioria dos presidentes latino-americanos apoiados pela potência hegemônica, povo e pátria não significam necessariamente a mesma coisa: veja, se é para o bem da pátria, vale até algum esforço no qual seja necessário, para o bem da pátria, a fome do seu povo, ou como sugeriu o ditador argentino Videla, se é para o bem da pátria, vale inclusive a extinção de seu povo). É enxergando a pobreza como um desafio
para a pátria que essa geração de militares participa dos protestos sociais de 27 de fevereiro de 1988, conhecido como “Caracazo”. Essa foi a primeira aparição (não protagonista) de Hugo Chávez. A partir de então, o tenente coronel passou a pensar a pátria e o povo como esferas cuja realização seria apenas consagrada quando da atenção às necessidades urgentes das classes subalternas latino-americanas. O pensamento e ação de Chávez se realizam através do Movimento Bolivariano Revolucionário 200 (MBR-200), quando em 04 de fevereiro de 1992 ele liderou uma tentativa de golpe para destituir o presidente Carlos Andrés Pérez. Neste evento, se pode dizer que o fracasso de Chávez foi o seu grande êxito, uma vez que as palavras pronunciadas quando do seu encarceramento ressonaram no imaginário de um povo que convivia diariamente com a pobreza, a marginalização social, o entreguismo nacional. Chávez ficou marcado após a derrota do movimento pela seguinte declaração: “lamentablemente, por ahora, los objetivos que nos planteamos no fueron logrados”. Depois do 04 de fevereiro Chávez passa a ser uma figura conhecida não apenas no plano nacional, mas no plano internacional também, sobretudo com relação ao seu objetivo de integração bolivariana. Chávez é recebido por Fidel Castro em 1994 e articula uma rede de contatos entre os movimentos sociais de vários países (indígenas bolivianos, intelectuais equatorianos, Foro de São Paulo no Brasil: em geral, se articulou com os movimentos antissistêmicos, que resistiam ao neoliberalismo dos anos 80 e 90). Amplamente conhecido, através do Movimento Quinta República (MVR), Chávez articulou sua participação no pleito eleitoral de 6 de dezembro de 1998, no qual sai ganhador com 56,5% dos votos. Assim, o tenente coronel assumiu a presidência no dia 02 de fevereiro de 1999, prometendo e realizando a Assembleia Nacional Constituinte, da qual saiu o projeto de Nova Constituição Venezuela, aprovado em referendo nacional por 71% da votação popular. A eleição de Chávez em 1998 representou uma resposta não somente ao processo neoliberal dos anos 80 e 90, mas a todo processo, desde a instauração do pacto de “Punto Fijo”, que colocava as amplas camadas populares longe da participação no processo político, de maneira que a eleição de Chávez marcou para a América Latina o inicio de um processo real e teórico de discussão de novas possibilidades democráticas. E o fez sobretudo com relação à possibilidade de uma democracia
2 Consulta o trabalho do Álvaro Linera (“A potência plebeia”).
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popular2 (é preciso atento para a diferença entre democracia populista e democracia popular ), ou melhor dizendo, uma democracia popular participativa e revolucionária. A resposta da potência hegemônica, ainda sob as rédeas de Bill Clinton, (o que demonstra a continuidade prática da política externa de governos republicanos e democratas), muito embora tenha ganhado reforço com o governo de Bush filho, foi “a guerra às drogas” dos Estados Unidos na América Latina, sobretudo na Colômbia de Álvaro Uribe. Dotar a Colômbia de uma grande doação orçamentária, de treinamento militar e de instauração de bases militares foi uma resposta rápida de Washington aos discursos de Hugo Chávez, na qual o tenente coronel, com amplo respaldo popular, propunha um enfrentamento das condições de dependência e subdesenvolvimento que o domínio externo da potência hegemônica e o domínio interno das classes dominantes realizam na Venezuela e na América Latina. A resposta geopolítica estadunidense não conseguiu intimidar as ações do governo Chávez que, respaldado pelo voto popular, iniciou a discussão em torno do principal recurso nacional venezuelano: o povo. A pergunta era: como melhorar a qualidade de vida da população, de maneira imediata e, depois, a longo e médio prazo? A resposta para os problemas imediatos estava na discussão da soberania nacional em matéria de recursos naturais: a busca de elevação de preços e a proposição da Lei de Hidrocarburetos (2001) marcam a realização prática deste objetivo. A partir disso, a Empresa PDVSA passa a ter uma participação elevada nos recursos da venda do petróleo e a partir destes recursos Chávez coloca em marcha a Revolução Bolivariana. As primeiras ações do governo Chávez revelam que a existência de uma democracia popular está condicionada à realização dos clamores populares: vejam, isso não é a mesma coisa que populismo – que consagra o exercício dos clamores popular em conchavo com as elites políticas e econômicas (que seguem intocáveis) –, mas sim a resposta aos desejos populares, cujos anseios estão na base da realização da distribuição da renda nacional (excedente nacional da renda petrolífera) e cuja realização esbarra com o exercício do controle político e econômico existente. Portanto, o governo de Chávez é popular, pois é capaz de escutar o povo venezuelano. Escutar o povo na Amé-
rica Latina é um ato político impensável para as elites nacionais latino-americanas – cujos interesses estão intimamente conectados com os interesses das classes dominantes dos países externos, principalmente a partir da conexão de interesses financeiros (capital fictício) e renda do petróleo, processo iniciado nos anos 1970. A resposta às políticas populares de Chávez é a tentativa de golpe em 2002. Nessa tentativa, as empresas que detinham monopólio interno (sobretudo o grupo Polar3), as grandes cadeias de informação (financiadas pelos grupos capitalistas internos e externos) e os governos internacionais apoiam um pequeno setor do exército para dar o golpe em Chávez. Entretanto, os elaboradores do golpe não contavam com a ampla defesa popular em torno do governo Chávez e, principalmente, da lealdade da maior parte do exército ao tenente coronel: o histórico de Chávez, o histórico do exército venezuelano e as características do mesmo (por exemplo, menos importância às hierarquias de carreira) são importantes elementos para entender como, diferentemente da maioria dos países de toda América Latina, na Venezuela o papel do exército não tem sido o de destruir as tentativas de democracia participativa e transformação do subdesenvolvimento, mas sim o de reforçá-las e defendê-las. Ademais do apoio interno dos amplos setores populares e do exército, Chávez elaborou uma estratégia de aprofundamento da integração e confirmação de amplo apoio externo. Conforme apontam os professores Pedro Vieira e Helton Ouriques: “el Presidente Hugo Chávez viene implementando prácticas políticas internas e externas verdaderamente innovadoras y opuestas a lo que se venia asistiendo en la región desde finales de lo años 19804” . A eleição de outros governos de matizes “progressistas” na América latina a partir dos anos 2000 garantiu um apoio (em alguns casos mais contundente e, em outros, pelo menos retórico) às decisões internas venezuelanas e a política externa bolivariana. A criação da ALBA, o interesse em participar do Mercosul, a participação ativa na OPEP e a política externa agressiva contra potência hegemônica são características inegáveis do governo de Chávez, principalmente após a tentativa de golpe de 2002. O pós 2002 é marcado pela radicalização do processo da Revolução Bolivariana, tanto no plano interno quanto no plano externo.
3 Grupo econômico que detém mais da metade da distribuição dos alimentos na Venezuela e quase a totalidade do fornecimento da farinha de arroz, ingrediente essencial para a principal comida nacional: a Arepa. 4 Ver mais no artigo dos referidos professore com o acadêmico Fábio Pádua dos Santos (“Condicionante nacionales, regionales y mundiales del gobierno Hugo Chávez”) .
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Com relação à integração regional, Chávez ma- poderamento das classes pobres venezuelanas. Diterializa a necessidade de se ir “más allá” do nacio- gamos que da eleição de Chávez até o golpe de 2002 nalismo para responder aos problemas históricos da houve a tentativa de realização de um capitalismo naAmérica latina. Ou melhor dizendo, Chávez confirma cional autônomo. Com o golpe Chávez consegue o – como leitor atento da história interestatal capitalis- apoio interno para iniciar o processo de socialismo, no ta – que o nacionalismo é parte necessária para trans- entanto reformista, pois, mesmo se apropriando da formar o subdesenvolvimento nacional, mas apenas o riqueza nacional (excedente econômico proporcionanacionalismo não é suficiente para manter e aprofun- do pela reconquista do petróleo) o processo de Chádar os “cambios” realizados: daí a aposta sem titubear vez não chegou a mexer no processo de exploração na integração regional, sobretudo aquela que permi- do trabalho (ainda que o tenha amortizado): houve te a ressonância das vozes que sempre foram caladas uma reformulação da dependência e a sua superação. pela história oficial (a história dos “vencedores”): as Com a morte de Chávez, a missão recaiu no seu ex-mimaiorias pobres e trabalhadoras da América Latina. nistro de relação exteriores, responsável, dentro outras Para o aprofundamento das várias experiências ações, pelo aprofundamento da integração: Nicolas de integração (Alba, Mercosul, Celac, Unasul, acordos Maduro. A missão de avançar do socialismo reformisbilaterais, empresas Gran-nacionais, etc), outro fator ta rumo ao socialismo revolucionário caiu nas mãos do que influenciou homem que, junto nas ações “inova- “Com relação à integração regional, com Chávez, pendoras” do governo sou as relações inChávez materializa a necessidade Chávez foi o declíternacionais. Sobre nio da hegemonía de se ir “más allá” do nacionalismo Maduro recaiu a estadunidense e missão de enfrenpara responder aos problemas as alterações estar o grupo monotruturais das fon- históricos da América Latina” polístico Polar (e o tes de energía no desabastecimento último século (sobretudo o aumento das reservas pe- provocado no país5); aprofundar a revolução agrária; a trolíferas venezuelanas e mundiais). A multipolaridade revolução urbana; a democracia participativa, em resucrescente e o retorno ao multipolarismo diminuiram mo, a produção e apropriação da mais-valia venezuelaa influência estadunidense na América Latina (assim na. Obviamente, esse panorama não vai ser encontrado como em outras regiões do globo). Esta ausência foi nas telas da CNN, da BBC, da FOX ou das organizações aproveitada pela política externa venezuelana para Globo e muito menos na universidade brasileira, caaproximar-se dos “eventuais” novos concorrentes pela penga de análises holísticas, concretas e críticas. Interhegemonía capitalista: a China, a Rússa e os países nacionalistas, ou recuperais o caminho da autonomia que desafiam a ordem internacional de Washington. intelectual ou estaremos fadados à reprodução das O processo, a despeito de se radicalizar em mentiras massivas e da rasura da discussão intelectual. termos sociais, políticos, culturais e em matéria de política externa, apresenta limitações com relação ao aprofundamento desde o ponto de vista econômico. Inúmeras transformações foram realizadas, entretanto, o enfrentamento ao principal grupo monopolista interno (grupo Polar) não foi realizada. O grupo Polar deu uma trégua ao enfrentamento ao governo Chávez, pois também se beneficiou do processo de distribuição da riqueza nacional e de em5 Atenção internacionalistas: nem toda fila é sinônimo de escassez de alimentos, ou melhor, dizendo, as leis que regem a economia política não funcionam sem independente de atritos (ou pode até funcionar na cabeça do internacionalista bocó). As filas e a suposta escassez de alimentos na Venezuela só pode ser entendida dentro da lógica da resposta capitalista à aprovação em fevereiro da lei de lucros na Venezuela, que reflete tanto a nova distribuição da produção no campo, quanto as medidas tomadas para fiscalização e punição daqueles que manipularem os preços a fim de gerar desestabilização política. Um dado que reflete a falácia da escassez é que, em 1999, a Venezuela produzia 51% dos alimentos que consumia. Em 2012, a produção é de 71%, enquanto que o consumo de alimentos aumentou 81% desde 1999. Se o consumo em 2012 fosse semelhante ao de 1999, a Venezuela produziria 140% dos alimentos consumidos em nível nacional.
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O Visto conversou com dois venezuelanos para entender mais sobre o conflito, sob um ponto de vista diferente. Estes são seus relatos: Relato 1 - por Jose Manuel Padilla, de San Cristóbal, Venezuela Para comprender los sociales del venezolano común hay que empezar por conocer un poco sobre la historia política venezolana y su poco seriedad ante las leyes que el mismo creó en tiempos pasados, si ya que, lamentablemente, en Venezuela nunca se ha respetado la constitución - cada presidente ha hallado la manera de desviarse de la vía constitucional para proteger o llevar a cabo sus propios intereses mirando una posible reelección y buscar la manera de perpetuarse en el poder. Conociendo un poco sobre esto, nos centraremos en la actualidad y los problemas que han aquejado a Venezuela en la presidencia de Hugo Chávez en sus largos 13 años en el poder. El primer paso inconstitucional que dio el entonces presidente Chávez fue comprar conciencias en las cabezas de todos los poderes públicos del país y así en más hacerlos miembros directos del partido de gobierno, permitiendo en muchos casos caprichos e injusticias, como por ejemplo los casos Simonovis, Brito e Afiuni por nombrar los más resultantes. El segundo gran error del presidente fue menospreciar y excluir a la oposición y sus seguidores de todo tipo de participación en el país, yendo contra sus principios ya que él había sido indultado por esos mismos a los que el en esos momentos le dio la espalda. Con estas acciones lamentablemente fue dividiendo poco a poco a los venezolanos, haciendo de ellos o muy de derecha o muy de izquierda, sin encontrar el equilibrio necesario para la convivencia en el país. En los años siguientes de su mandato, Chávez llevó a cabo políticas jamás vistas en Venezuela. Una de las más resonantes fue su propuesta para una elección indefinida que no es más que un desconocimiento a la constitución y nuevamente se repetía la historia. Luego propuso y apoyo las expropiación - que no es más vulgarmente que robarse algo que no se ha conseguido con el esfuerzo de sí mismo -, expropiando importante expresas nacionales e internacionales, quitándole así a los venezolanos diferentes productos de primera, segunda y tercera necesidad que afectaron en primer plano a unos pocos para pasar en años próximos a afectar a todo el país. En el 2010, vendría la crisis eléctrica más grande que había azotado al país en toda su historia, con apagones desde 3 a 5 horas en los 7 días de la semana. Evidenciándose otro de los grandes problemas de la mal llamada revolución del siglo 21, él jamás asume la “mea culpa” cuando algo no se hace bien y échale la culpa a factores externos como “USA” o la “iguana”, que según el mismo no lo querían en el poder. Ya fijándonos más en los últimos años de su gobierno, vimos que como 70% de las promesas de su campaña del 98 no se cumplieron en un plazo muchísimo mayor al que tendría sus antecesores, convirtiéndonos a su vez en personas más pobres y menos educadas, dejando en evidencia que el socialismo era una idea que el mismo no creía ya que vivía como un capitalista. Luego de su polémica muerte - al sol de hoy no se sabe a ciencia cierta qué día falleció exactamente, ni porque fue a los comicios electorales sabiendo de su situación - se llevaron a cabo las elecciones presidenciales el 14 de abril de 2013, resultando ganador Nicolás Maduro con un porcentaje del 50,79 % dentro de una gran polémica, siendo clara la postura de la otra mitad del país en la no confianza en el ente electoral el CNE. Después de grandes protestas y después de un año de mandato de Nicolás Maduro, el país está envuelto en la peor crisis económica de sí historia, con una devaluación del 500%, una inflación de casi el 70% y no suficiente con esto, un índice de escasez del 40% - lo que ha llevado al pueblo venezolano a vivir constantes humillaciones para conseguir productos de primera necesidad, haciendo colas de hasta 5 horas por un kilo de harina pan. A todo esto hay que sumarle la inseguridad que vive el país, siendo Caracas la tercera ciudad más peligrosa del mundo, con una cifra espeluznante de 25.000 muertes violentas en todo el país en el año 2013. A pesar de todo esto, el gobierno no rectifica en su camino de políticas erradas, llevando al país a un abismo en el cual cada día está más abajo. Y todo eso en plena bonanza petrolera, siendo Venezuela el país con más reservas petroleras del mundo, pero tristemente viviendo en el tercer mundo.
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Relato 2 - por Graciela Molina, de Punto Fijo, Venezuela Bueno, la situación empezó por que existe una inflación muy grande, en lo que va de año ya hemos tenido dos devaluaciones de la moneda. La escasez de productos alimenticios es muy grande, a parte no se consiguen muchos más productos de uso diario. La inseguridad es muy fea, no se puede salir a la calle sin temor a que te puedan robar, matar o algún daño. La oposición empezó todo de una manera pacifica - se convocaba para realizar manifestaciones sin provocar daños -, pero el gobierno al ver que todas las protestas estaban sacando al aire toda la situación del país, sacó a la calle a la guardia nacional, los cuales están agrediendo a las personas. La población está dividida. No sé quien tendrá mayoría pero, por lo que está pasando, parece que la mayoría es la oposición. Las cosas siguen ya que no se ha encontrado una solución. El gobierno ha cerrado canales de televisión que estaban trasmitiendo la verdad de lo que está pasando. La radio y televisión venezolana tiene prohibida trasmitir todo lo que está pasando como para esconder todo. De verdad da tristeza, ya que van muertos y hay mucha gente en la cárcel que en verdad no estaban haciendo nada malo - los que están armados son los del gobierno. Todas las armas las poseen es la guardia nacional y ellos lo que dan a saber es que están defendiendo cuando el pueblo empezó fue con marchas pacíficas. El gobierno lo que está buscando es tapar todo lo que está pasando, como para que el pueblo y los demás países no vean la realidad, pero por la redes sociales y CNN se ha logrado por lo menos la comunicación, ya que es lo único que el gobierno no ha cancelado o prohibido.
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Al Shabaad: A nova “franquia” da Al-Qaeda por Weslley da Silva Pereira de Almeida, 3ª fase R.i. ufsc
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e existe um elemento que abala a paz entre os Estados e na comunidade internacional de forma abrupta e violenta, esse elemento é o terrorismo. rismo tem características únicas, que o faz merecer o título de grande perturbador da ordem. Utilizando em geral o uso da força e da violência, o terrorismo busca dar uma mensagem clara ao seu destinatário, sendo utilizado contra civis, militares, instalações governamentais, internacionais, empresas privadas, ou seja, qualquer alvo que resulte conseqüências dramáticas. Essas ações em grande parte são imprevisíveis. Assim, o aspecto do medo, e o temor a um ataque reforçam o fator psicológico entre os Estados que vivem sob essa ameaça. O terrorismo quando aliado ao radicalismo religioso produz consequências dramáticas aos povos, pois todo ato acaba sendo respaldado pela autoridade celestial, seja ela Alá, Jesus ou Jeová. Analisaremos o caso do grupo terrorista Al Shabaad que além, de se auto afirmar terrorista, possui em grande parte os elementos de uma rede terrorista acrescido do fator religioso, causando desordem dentro e fora da Somália, seu local de origem, configurando hoje como uma das novas ameaças à paz. Na linguagem do mundo dos negócios a palavra
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“franquia” designa uma estratégia de venda no qual o franqueador (dono da marca) vende ao franqueado (quem paga para usar a marca) o direito de explorar uma marca, cedendo marketing, know-how, direito de imagem entre outros. É de conhecimento mundial que hoje a rede terrorista Al-Qaeda possui imagem amplamente divulgada entre os Estados como uma das maiores ou uma das mais importantes redes de terror do mundo. Esse título não lhe é atribuído de graça, uma vez que seu histórico de atentados tem como carro chefe a derrubada das Torres Gêmeas no 11 de setembro de 2001, além de diversos ataques a civis e militares pelo mundo, deixando um rastro de sangue de diversas nacionalidades. Outro aspecto importante se encontra no seu ex-garoto propaganda, Osama Bin Laden, seja pelo seu aspecto físico, satirizado mundo a fora, ou por sua inusitada história de vida, que mescla riqueza, poder, esconderijos em montanhas e aviões. Este homem foi considerado até o fim de sua vida a verdadeira personificação do poder da Al-Qaeda. Toda essa introdução se faz necessária para entender o quanto é importante para qualquer célula ou grupo terrorista contar com o know-how e a proteção da Al-Qaeda. Os ganhos nessa parceria são
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benéficos aos dois lados, ao “franqueado”, no caso em análise o Al Shabaad, que ganha acesso a uma rede de informações privilegiadas que vai proporcionar armas e dinheiro, e ao “franqueador”, a Al-Qaeda, que espalha suas ramificações em outros países, podendo contar com mão de obra especializada. Al Shabaad em árabe significa “Juventude”. Sua origem é o estado falido da Somália, assolado por uma guerra civil há décadas, que hoje possui fracas instituições políticas e depende de ajuda financeira e militar internacional. Após cair a última ditadura vigente, em 1991, o estado foi administrado por Tribunais Islâmicos, uma caricatura de senhores feudais que mantinham a ordem no fragilizado contexto. A União dos Tribunais Islâmicos (UTI) lutava para implantar um estado religioso e fundamentalista na Somália. A comunidade internacional alertada pelos consequências da concretização de tal objetivo aprovou uma intervenção no país para a implementação de um governo de transição. A UTI foi em grande parte desarticulada e os “jovens” dessa ala formaram o grupo Al Shabaad. No início, o Al Shabaad queria a volta dos Tribunais Islâmicos, e avançou sobre as principais cidades do país, controlando grande parte de Mogadíscio, a capital. A partir de 2011 as tropas da missão de paz da ONU lideradas pela União Africana deram início ao recuo do grupo. Assim, a capital foi restabelecida no mesmo ano e, em 2012, o importante porto de Kismayo, local vital para a entrada de mantimentos e armas, volta ao comando do frágil governo provisório. Essa pressão faz a organização terrorista migrar para as áreas do interior do estado, onde vão implantar a Sharia (lei islâmica) nas comunidades mais carentes, produzindo um reflexo de mutilados e sequências de apedrejamento de mulheres. Al Shabaad é conhecido por aplicar técnicas extremamente cruéis com mulheres e crianças, valendo-se da máxima do “olho por olho, dente por dente”. Presenciando a redução da sua área de atuação, o grupo dá início a uma parceria com a rede Al-Qaeda em fevereiro de 2012. Vale ressaltar que nessa data o grande vilão Osama Bin Laden já estava morto, e existem rumores de que, quando vivo, não aprovava a ligação entre os grupos por considerar O Al Shabaad fora dos padrões de luta da Jihad (guerra santa). Após essa aliança o Al Shabaad muda sua estratégia de ataque e vai procurar realizar ações contra o Quênia, estado vizinho e líder das forças de paz que pressionaram a saída do grupo de seu estado natal. A mais conhecida foi em 2013, em Nairóbi, num centro
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comercial de luxo frequentado pela elite Queniana e por turistas estrangeiros, onde 68 pessoas morreram e 175 ficaram feridas. Após o atentado, foi divulgado que muitos dos terroristas foram acionados de estados dos EUA e da Europa, reflexo da especialização proporcionada pela Al-Qaeda que tem enorme experiência em realizar ataques através de células terroristas em diversos países. Assim enviaram um aviso claro ao governo do Quênia sobre as consequências de comandar a missão de paz da ONU na Somália. Outra preocupação internacional está na Etiópia, país que faz fronteira com a Somália, onde já ocorre registro de que o grupo terrorista recruta novos combatentes e impõem a Sharia sobre populações de vilarejos locais, além de saquear as produções de cereais e roubar animais. Especula-se que o grupo deva possuir aproximadamente 7 mil homens espalhados na região do Chifre da África.
A grande preocupação que a sociedade internacional deve ter em relação a esse grupo, está no sentido da reprodução das suas forças no estado Somali, uma vez que já demonstraram força suficiente para administrar o caos do estado falido. O papel da missão de paz da ONU é de grande relevância, porém a segurança dos Estados vizinhos não deve ser deixada de lado num momento tão delicado quanto esse. Não sabemos até quando o Quênia terá forças e aguentará o peso das consequências de chefiar essa missão de paz. Outro fator importante para a análise é o papel que a Al-Qaeda exerce no grupo, sua experiência em recrutar terroristas tanto em países do Ocidente e do Oriente, e sua rede de contatos espalhados por diversos pontos do globo, proporcionam a viabilidade de ataques a lugares nunca antes imaginados pelas autoridades. O combate a Al-Qaeda deve levar em tese o combate ao Al-Shabaad. Caberá a missão de paz o papel de combater essa nova força terrorista e assegurar a paz “momentânea” na região, ou a comunidade internacional aguardará mais algum ataque de grande magnitude para tomar alguma posição sobre o caso?
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A bagagem que não é despachada e pode ser mexida a qualquer momento. Tem vezes que só percebemos o tanto de coisas que levamos na bagagem de mão quando já voltamos pra casa. O que você leva com você?
Um Continente de Céus e Silêncios. por Erica Passig Bini, roteirista formada em cinema pela UNISUL
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aseado em obra literária homônima, O Tempo e o Vento já foi série, já foi minissérie, e agora finalmente marca presença no cinema. E que presença! Érico Veríssimo sempre foi e será nome de peso na literatura e, tenho certeza, inspira e rouba suspiros de leitores de todas as idades, gostos e culturas; mas não é leitura fácil nem de interpretação vazia. Poucos se arriscam a encarar sua obra, e apesar de ótimas releituras já feitas, Tabajara Ruas e Letícia Wierzchowski são os que merecem os meus parabéns. Se em A Casa das Sete Mulheres a dupla já conquistou - com louvores - os brasileiros, agora mesmo, mostraram porque estão a frente de uma produção deste calibre. Não conheço a Letícia pessoalmente, mas Tabajara é excepcional - pessoal e profissionalmente, e deixa clara sua participação nessa transformação de dois livros e mais de 150 anos de história em duas horas de imagens. Quem já o conhece de Netto Perde sua Alma - tanto livro, quanto adaptação cinematográfica -, percebe sua sutileza nas cenas de batalha, de nudez aparada, e de estética poética contidas no roteiro. Roteiro este, construído pelos episódios e personagens mais marcantes dO Continente, mantendo com requinte vários diálogos dos livros (para amantes da história e donos de boa memória); resumindo com competência páginas da história de famílias, de um estado; e até de vastos capítulos de libertinagem de “um certo capitão Rodrigo” em uma única e estremecedora sequência. Não fosse o bastante, ainda há a cena de tirar fôlego por sua beleza e simplicidade construídas no olhar de Bibiana (jovem e anciã) em sua lua de mel. E finalmente os silêncios... Ah, os silêncios! Precisos, perfeitos, verdadeiros trunfos nesse cenário brasileiro repleto de diálogos desnecessários. Tão bem dispostos que nem Monjardim conseguiu estragar. Jayme Monjardim é o diretor. Mais focado em novelas e conhecido por seu supervalorizado Olga e também por A Casa das Sete Mulheres, não traz sua linguagem televisiva a tona, mas exagera (novamente) na tentativa de transformar tudo em poesia imagética. Mas, fez um filme no de prêmio e público, e talvez seja isso o que importe. E da fotografia faz-se a construção da poesia. Linda, não há onde pôr defeitos. Foram vários pores-do-sol
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(que são complicadíssimos para filmar), amanheceres e céus desenhados de fazer inveja. Nada inovador quanto a movimentos de câmera, mas ótimos enquadramentos, com destaque à sequência da entrada do Capitão Rodrigo na casa de Bibiana. Que coisa mais linda poder acompanhá-lo daquela maneira! Os ângulos nas cenas da guerra, e o cuidado com a iluminação, tudo muito, muito bem executado. Parabéns ao diretor e equipe de foto. Ótima também ficou a ambientação com as cenografias detalhadas e cuidadosas. Planilha de cores acertadamente equilibrada, figurinos bem escolhidos e maquiagem também - tirando um escorregãozinho ou outro. Mesmo contando com elenco de grande porte, há quem não convença em seu papel, apesar da boa atuação. Há os secundários que se sobressaem, e os que se apequenam diante suas falas. Thiago Lacerda faz um Capitão Rodrigo reluzente, de sorriso maroto (já visto em Tarcísio Meira, que antes também o vestiu com tanta classe), postura de gaúcho que impõe respeito e entrega total ao personagem. Palmas para Fernanda Montenegro, que no balançar de uma cadeira nos guia nessa história de forma convidativa e convincente; (Arrisco-me a dizer que se pode sentir a história em suas falas e no fundo de seus olhos.) E à Marjorie Estiano, que constrói Bibiana como a imagem da delicadeza e da bravura juntas, num tempo sofrido, mas no coração guardado. Fui surpreendida com a escolha do ator que representa Pedro, admito; sorte da Cléo Pires, a fogosa Ana Terra. E ainda tem Danny Gris, Janaína Kremer, José de Abreu, Leonardo Machado, Leonardo Medeiros, Luiz Carlos Vasconcelos, Luiza Ollé, Mayana Moura, Paulo Goulart, Rafael Tombini, Suzana Pires e mais um povaréu representando muito bem. A edição deixou um pouco a desejar. Acho o texto inicial desnecessário. E não entendi o porquê da música dos créditos finais em inglês. Fora isso, espero mesmo que aquele pequeno Rodrigo com seus cabelos cor-de-fogo dizendo “até logo” no fim do filme seja, como penso, uma chamada para O Retrato, sequência de O Tempo e o Vento..
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Para que perfumar a flor? por Ivan Ferraz Lemke, 8ª fase r.i. ufsc
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“Je sais que la poésie est indispensable, mais je ne sais pas à quoi.” (Jean Cocteau)
oão Cabral de Melo Neto não era, definitivamente, alguém que perfumava flores. Sua poesia é seca, sólida, áspera e contida, como uma pedra. O poeta pernambucano, nascido em Recife, no ano de 1920, nada contra a corrente ao desprezar a inspiração como fonte do fazer poético. Para ele, a elaboração de um poema é um trabalho racional, meticuloso e calculado, se opondo, dessa forma, à tradição lírica que tende a envolver a composição poética numa névoa de mistério, intuição e revelações inconscientes. Por essa razão, a poesia cabralina é construída de modo a eliminar quaisquer traços de espontaneidade. Mais do que isso: é a poesia do concreto. Cabral é, por analogia, um engenheiro, um arquiteto, um escultor das palavras. Afinal, o engenheiro é aquele que “sonha coisas claras”, o arquiteto, o que projeta coisas sólidas, e o escultor, o que lapida a pedra bruta, deixando nela apenas o essencial, sem sobras ou arestas. Em essência, o objetivo de João Cabral é dizer coisas abstratas através de palavras concretas, pois, como ele próprio afirmava, “o objeto toca você por todos os sentidos, o abstrato não. Por isso, prefiro sempre uma maçã a uma tristeza”. Em O cão sem plumas, sua obra mais elaborada linguisticamente, é fácil notar a predileção do autor por aquilo que é tangível, visível e real. Logo em suas estrofes iniciais, temos: “A cidade é passada pelo rio/ como uma rua/ é passada por um cachorro;/ uma fruta/ por uma espada./ O rio ora lembrava/ a língua mansa de um cão,/ ora o ventre triste de um cão/ ora o outro rio/ de aquoso pano sujo/ dos olhos de um cão./ Aquele rio/ era como um cão sem plumas”. Outro aspecto que salta aos olhos na poesia cabralina (e que também pode ser apreendido do trecho supracitado) é a sua força imagética, sua capacidade de “desvelar o mundo” ao leitor por meio da linguagem e, mais especificamente, da metáfora. Além disso, não se deve perder de vista a crítica social inerente aos escritos do poeta pernambucano. Sua obra mais conhecida, Morte e vida Severina, é, antes de tudo, uma denúncia da miséria que assola a vida do sertanejo, restando a este, apenas, a alternativa de se tornar um retirante, partindo em busca de uma vida melhor em terras menos áridas, mas, muitas vezes, não menos miseráveis. A cena, que agora reproduzo,
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narra o funeral de um lavrador e assinala a pobreza que acomete o homem do campo: “Essa cova em que estás,/ com palmos medida,/ é a conta menor/ que tiraste em vida./ É de bom tamanho,/ nem largo nem fundo,/ é a parte que te cabe/ deste latifúndio”. E logo mais adiante: “Será de terra/ tua derradeira camisa:/ te veste, como nunca em vida./ Terás de terra/ completo agora o teu fato:/ e pela primeira vez, sapato”. Já em O Rio, – poema em que o rio Capibaribe narra sua própria trajetória da nascente até a foz – o autor relata o avanço das usinas de cana, que acabam por engolir as pequenas propriedades e expulsar os agricultores. Diz ele: “O canavial é a boca/ com que primeiro vão devorando/ matas e capoeiras,/ pastos e cercados;/ com que devoram a terra/ onde um homem plantou seu roçado;/ depois os poucos metros/ onde ele plantou sua casa;/ depois o pouco espaço/ de que precisa um homem sentado;/ depois os sete palmos/ onde ele vai ser enterrado”. Mais uma vez, como se nota, a voz do poeta se dirige ao mundo material com grande objetividade e sem nenhum sentimentalismo.
A esta altura, talvez, alguém pergunte: e por que enxergar o mundo através da poesia, quando é possível fazê-lo in loco, sem a necessidade de um filtro? A resposta, suponho, vem de George Orwell, quando ele diz que “enxergar o que está diante do nosso nariz exige um esforço constante”. Assim, é possível que João Cabral, ao contrário de Jean Cocteau, tivesse alguma ideia da utilidade da poesia, cabendo, pois, à arte poética, a função de descortinar o mundo que escapa, diariamente, aos nossos olhos. Cabral nos ensina, afinal, que não é necessário perfumar a flor, basta, isto sim, revelar o seu perfume.
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A EXPRESSÃO INCONSCIENTE
Por Imanol Matias e Martina hotzel, 2ª e 3ª fase design ufsc
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”O pintor pinta com os olhos, não com as mãos” (Maurice Grosser)
prender a andar de bicicleta é uma conquista que requer muito esforço e prática, prática que deve ser canalizada para uma coordenação motora que antes não se manifestava, mas que sempre esteve escondida dentro da capacidade corporal humana. Uma pessoa que nunca andou de bicicleta não sabe o que fazer para começar a andar, por isso tem que praticar até que o movimento e a sensação de equilíbrio tornem-se naturais. Aprender a desenhar é de certa forma como aprender a andar de bicicleta, porém não é apenas uma habilidade motora, mas mental, subconsciente e consciente, e que requer um olhar mais complexo do que a simples capacidade de enxergar com os olhos. O mundo visual, ou seja, o que todos enxergam, é exatamente igual para cada uma das pessoas. Portanto, o que muda realmente, é como cada mente interpreta e dá sentido para as coisas que são absorvidas, e é exatamente essa interpretação diferente, com diferentes significados, que dá forma às diferentes personalidades existentes. Essa distinção entre as pessoas é a diferença entre os que olham e os que enxergam, entre quem olha e quem vê. Quando uma pessoa pretende fazer um desenho, ela precisa de uma imagem de referência, que pode ser uma imagem flutuante (dentro de nossa cabeça) ou uma imagem já existente (como um quadro ou uma foto). Para o resultado final, temos uma segunda imagem que vai ganhando forma durante o processo do desenho, imagem criada pelo subconsciente da pessoa, imagem que carrega o conteúdo histórico adquirido durante a vida do artista e que vai marcar o estilo e características do desenho. A partir dessas características é possível observar um pedaço da mente da pessoa, como se fosse possível atingir o intangível, que estava trancado dentro do subconsciente do artista. A imagem flutuante é a que passa do mundo ideal, escorrendo através do lápis em direção ao mundo material, e o papel deixa de ser vazio e passa a contar uma história. Para contar ao mundo tudo aquilo que ele viu, o artista precisa organizar seus pensamentos e escolher qual deles passará para o papel e qual deles continuará no silêncio da mente. O único problema é que não é ele quem escolhe realmente quais pensamentos vão moldar o desenho, pois o ser humano é um ser emocional-racional, e não tem controle total sobre os seus próprios pensamentos. Essa dualidade da mente humana é dirigida pelo cérebro, que é dividido em dois hemisférios, o direito e o esquerdo. O lado direito do
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cérebro é o lado criativo-emocional e o esquerdo é o racional-calculista. Essas duas partes do cérebro são ligadas em cruzamento, ou seja, o lado direito do cérebro controla a parte esquerda do corpo e o lado esquerdo do cérebro controla o lado direito do corpo. Isso permite que o artista calcule e raciocine sobre como expressará sua emoção e criatividade, porém isso requer a prática citada no início deste texto.
Praticando o desenho, a pessoa passa a compreender que a percepção própria pode ser adquirida através da percepção do mundo. Aos olhos de um artista, quando ele muda a maneira de ver as coisas ao seu redor, ele pode passar a se ver de uma forma diferente. Essa maneira de ver é muito importante para a prática do desenho, pois com ele o artista pode traduzir os seus pensamentos e ir descobrindo como a sua própria mente interpretou e escolheu desenhar. É por esse motivo que as crianças mais novas gostam de desenhar tanto e com tantas cores. Elas veem e aprendem coisas novas todos os dias, e querem entender como que elas próprias aprenderam tudo aquilo que lhes foi “ensinado” pelo mundo, e o desenho é uma forma muito simples de se autoensinar. Quanto mais a criança desenha mais ela consegue compreender aquilo que está desenhando, afinal ela passa pelo processo de observar o objeto, guardar em sua memória todas as informações que codificam aquela imagem e, muito tempo depois, quando ela chega em casa, ela pode desenhar tranquilamente aquilo que foi visto durante o dia, pois a sua interpretação foi guardada no subconsciente. As lembranças da criança permitem que ela possa entender coisas que não faziam sentido no momento em que foram vistas. Ela passa a pensar sobre o que viu e como ela pode passar para o papel todas aquelas formas, de uma maneira que os pais, por exemplo, entendam. É um exercício mental muito complexo, que
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vai além do lápis e do papel, e que ajuda no desenvolvimento de uma posterior personalidade, quando a criança cresce. É muito importante que as pessoas continuem a desenhar mesmo depois da infância, para que continuem também a aprender, absorver e questionar os seus pensamentos. Quando um desenho passa a evoluir, junto à idade da pessoa,
e se tornar mais completo no sentido de conceito ou ideia, a pessoa que o está desenhando passa a ter noção de todos os elementos que o constroem. Noção que acompanha a personalidade não somente na hora de desenhar, mas também no momento de situar-se no mundo e no momento de observar a beleza que se esconde atrás de sua materialidade.
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A Corte Infiltrada por Andrea Nunes
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“A corte infiltrada”, em vez de romance, não será mesmo um furo jornalístico? Afinal, tem cara de Brasil, tem cheiro de Brasília”. (Marco Túlio Costa, escritor)
narrativa envolve o leitor numa trama que utiliza elementos de ficção científica, baseados em descobertas acadêmicas recentes e surpreendentes no campo da neurologia, e mescla uma história de suspense com fatos reais da cena política e bastidores da justiça brasileira, revelando uma desconcertante promiscuidade entre o crime organizado e o poder, em Brasília. Endossado pelo escritor Raimundo Carrero, que enalteceu a obra, qualificando-a como “muito, muito boa”, o primeiro autor a comentar A Corte Infiltrada foi o escritor Marco Túlio Costa, que a creditou como jogada de mestre de Andrea Fernandes Nunes Padilha pelo cativante enredo, no melhor estilo dos clássicos do gênero policial, sobre cenários já conhecidos. “Ela, caprichosamente, traz para o texto dados sobre tecnologias disponíveis e pesquisas em curso no mundo real e vai tecendo, capítulo por capítulo, uma história para ser lida em um só fôlego. A verossimilhança, o inesperado, o mistério, tudo isso faz fluir a narrativa e cria logo uma empatia com o leitor, quase uma testemunha de uma conspiração que, ao final da história, nos deixa dúvida se “A corte infiltrada”, em vez de romance, não será mesmo um furo jornalístico. Afinal, tem cara de Brasil, tem cheiro de Brasília”, completou Marco Túlio. A Corte Infiltrada - Enquanto o Supremo Tribunal Federal está negociando um contrato milionário para instalar um moderno sistema de telecomunicações, que facilita o diálogo seguro entre os seus ministros e a transmissão de notícias para o mundo, um certo laboratório de pesquisas avançadas em neurociências consegue, com um experimento científico, devassar a últi-
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ma barreira da nossa individualidade: a mente humana. O mestre budista Nobu Kentaro sabe que esse é um segredo, de consequências imprevisíveis, que não poderia cair em mãos erradas. Mas, quando está prestes a falar a verdade e impedir que esse terrível invento seja utilizado para implodir o sistema judicial brasileiro, ele é assassinado. A única pista que deixou foi um gesto misterioso feito na hora da sua morte. Para desvendar o que está por trás desse asassassinato, o jornalista investigativo Edgard Trigueiro e a noviça Taís, monja aprendiz residente de um mosteiro zen budista, precisam somar os conhecimentos que detêm sobre os segredos milenares do Oriente e as corrompidas estruturas de poder, em Brasília. Para vencer a inteligência diabólica que está por trás de tudo isso, eles terão de ser capazes de sobreviver aos perigos que lhes esperam e decifrar enigmas cujas respostas podem estar inclusive no lugar em que menos esperam: dentro de suas próprias mentes.
Com apenas 16 anos, Andrea Nunes estreou como autora do livro “O Diamante Cor-de-Rosa”, premiado pelo Gabinete Paraibano de Cultura como melhor obra literária infantil publicada no Estado da Paraíba em 1990, que arrebatou também o Troféu Baile dos Artistas, como melhor texto infantil adaptado para o teatro naquele mesmo ano. Escreveu ainda o romance épico “Papel Crepom” e, na área jurídica, publicou o livro “Terceiro Setor - Controle e Fiscalização”, obra de referência nacional para os que se dedicam ao estudo de entidades não governamentais. Andrea também é Promotora de Justiça do Estado de Pernambuco, desde 1995, atuando hoje na Defesa do Patrimônio Público. Tornou-se especialista em Gestão Governamental pela Faculdade Católica de Pernambuco e profere frequentemente palestras sobre temas ligados ao combate à corrupção, a convite de universidades e órgãos públicos, além de ocasionalmente publicar artigos em jornais.
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É uma rota conhecida, mas a rotina pode nos fazer esquecer de olhar ao redor para conhecer e saber como interferir no que acontece tão próximo de nós. Sobre o que você quer saber mais?
SIEM ram da Mídia Internacional, responsável por fazer a cobertura jornalística do evento. Os estudantes foram orientados pelo jornalista catarinense Ébano Piancentini, que ministrou alguns workshops sobre jornalismo internacional. As notícias e entrevistas feitas pelos alunos podem ser acessadas no site sieminternacional.wordpress.com.
Fotografia por Martina Hotzel
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o último dia 16, alunos de ensino médio de escolas públicas e privadas de Santa Catarina se reuniram na UFSC para participar da IVª edição edição do SiEM (Simulação de Organizações Internacionais para Alunos de Ensino médio), projeto de extensão do curso de Relações Internacionais da UFSC. Neste ano, cerca de 400 alunos de 14 escolas discutiram questões importantes do cenário político internacional, em simulações de reuniões das principais organizações internacionais da atualidade. Durante a manhã, a Assembleia Geral das Nações Unidas abordou a crise constitucional no Mali, que também foi debatida pelo Conselho de Segurança à tarde, enquanto o Conselho da União Europeia discutia sobre o uso do véu islâmico. Em outra reunião à tarde, a Assembleia Geral tratou das freqüentes violações dos direitos humanos no conflito sírio. Como no ano passado, durante o evento, mais de 30 alunos participa-
Entendendo um pouco mais sobre os temas debatidos
A crise constitucional no Mali: O Mali está localizado na África Ocidental. A situação política e social do país havia melhorado durante a última década, com eleições democráticas realizadas de forma pacífica desde 1992. No entanto, a situação de segurança agora é crítica. O golpe de grupos insurgentes em 2012 e grupos armados controlando regiões mais ao norte do país causaram um grande aumento de movimentos populacionais dentro do Mali e também em direção a países vizinhos. As violações dos Direitos Humanos na Síria: Desde 2011, protestos e conflitos marcam o cenário interno da Síria. As tensões entre grupos insurgentes e o governo do presidente Bashar Al-Assad deixam no caminho milhares de vítimas, situação que preocupa a comunidade internacional. Além disso, em 2013, civis foram alvos de ataque de armas químicas, o que alarmou ainda mais as instituições internacionais de direitos humanos e também a comunidade internacional como um todo. O uso do véu na União Europeia: O uso dos diferentes tipos de véus muçulmanos – hijab, niqab e burca – tem sido assunto recorrente nos países membros da União Europeia. A Europa tem sido palco de discussões acerca da possibilidade, ou não, da proibição integral do uso do véu islâmico. As posturas se dividem: os que defendem o uso da vestimenta argumentam que seu uso é parte da identidade das mulheres muçulmanas e de sua religião; por outro lado, os que são a favor da proibição defendem que o véu impede a identificação pessoal e aumenta a discriminação contra as mulheres.
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Tudo aquilo que se perdeu no caminho, não foi dito, desencaminhou-se, não coube em palavras, mas que, ainda sim, merece espaço. O que você tem a acrescentar?
MILHAS Em um programa de fidelidade, quanto mais milhas acumuladas mais longe você pode ir, sem custo nenhum. Aqui no curso, nossos grupos de estudo são suas possibilidades de ir mais longe acumulando conhecimento da maneira que preferir. A taxa de embarque é escolher sua área de interesse. Sobre qual grupo você quer saber mais?
LABCON Por Bruna Bruscato
O sistema internacional é alimentado pelo dinamismo dos diferentes atores que o compõe. Diariamente vemos as evoluções dos fenômenos internacionais repercutirem de diferentes maneiras e em diferentes níveis, do local ao mundial. Surge daí a necessidade de entender as motivações e consequências de tais fenômenos, buscando um recorte mais detalhado sobre os acontecimentos atuais. O Laboratório de Análise de Conjuntura de Relações Internacionais (LABCON-RI) é um projeto que visa propiciar ao acadêmico de Relações Internacionais da UFSC um espaço de discussão e análise dos episódios que se desenvolvem no panorama contemporâneo. Neste semestre o LABCON irá trabalhar com a temática “Conflitos Internos”, buscando compreender de diferentes ângulos as motivações e repercussões que essas tensões geram no cenário mundial. O projeto conta com participação da Profa. Dra. Graciela de Conti Pagliari e da Profa. Dra. Patrícia Fonseca Ferreira Arienti, que orientarão os graduandos nas pesquisas e na produção dos trabalhos, que serão desenvolvidos em forma de fact sheet. O projeto é uma oportunidade para que o acadêmico de RI coloque em prática as teorias e conceitos estudados em sala de aula. Esta HQ foi retirada do site Zen Pencils. Criado no começo de 2012 pelo cartunista australiano Gavin Aung Than, o Zen Pencils é um blog de cartoons com adaptações de citações de personalidades. Esta tirinha apresenta uma parte do discurso de Theodore Roosevelt feito em 1910, em Paris. O discurso foi impresso no mundo inteiro e, mais tarde, foi nomeado The Man in the Arena e vendido como livro de bolso. Curtiu? Veja mais em zenpencils.com!
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