CAMPOS, ESTÁDIOS E ARENAS
DE FUTEBOL...
COMEÇA O ESPETÁCULO! FIELDS, STADIUMS AND FOOTBALL ARENAS... the show begins!
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Paulo Cezar Alves Goulart
CAMPOS, ESTÁDIOS E ARENAS
DE FUTEBOL...
COMEÇA O ESPETÁCULO! FIELDS, STADIUMS AND FOOTBALL ARENAS... THE SHOW BEGINS!
A9 Editora Vargem Grande Paulista 2015 - 1a edição
Agradecimentos aos colaboradores Ademir Takara · Museu do Futebol / Estádio do Pacaembu Ádia Borges · Arena Pantanal Aira Bonfim · Museu do Futebol / Estádio do Pacaembu Alan Roger · Coritiba Foot Ball Club Afonso Celso Raso · Estádio do Independência Antonio Fiaschi · Estádio do Pacaembu Bruna Habinoski · Vila Capanema Bruno Alexandre Elias · Sociedade Esportiva Palmeiras Bruno Campos · BCMF Arquitetura · Arena Mineirão Camila Aderaldo · Museu do Futebol / Estádio do Pacaembu Carlos Eduardo Moll dos Santos · Grêmio Foot Ball Porto Alegrense Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite · Estádio dos Eucaliptos Dhaniel Cohen · Fluminense Football Club Douglas Trevisan · Vila Capanema Eduardo Castro Mello · Castro Mello Arquitetura / Estádio Nacional de Brasília Eliane Lóss · Jornal do Brasil Elizabeth Aparecida Ekizian · Museu da Cidade / Pacaembu Fernando Balvedi, Gabriel Garcia e Maurício Santos · Hype Studio Arquitetura / Estádio Beira-Rio Gilmar Medeiros · Coordenador Ascom - Fonte Nova Governo do Estado da Bahia, Secretaria de Cultura, Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, Diretoria de Museus, Museu Tempostal · Fonte Nova Salvador Henrique Sena · Ingresso para o Campo da Graça Jackson Matos · Arena da Baixada João Paulo França Streapco · Velódromo Jonny Paradocz · Arena da Baixada Jorge Magyar · Vila Euclides São Bernardo do Campo Juliana Corbari · Arena das Dunas Marcus Vinicius Carneiro · Ingresso para o Campo da Graça Mariana Mota · Arena Pernambuco Michael Magalhães Serra · Estádio do Morumbi Nixon Marques Chaves Vieira da Silva · Club de Regatas Vasco da Gama Paulo Augusto Mendes · Campo da Vila Martin Smith, Paranapiacaba Rivelle Nunes Carlos · Assessor de Imprensa / Minas Arena Rosilene Oliveira Flud · Alto-falante Sylvia da Costa Facciolla · Cia. City / Pacaembu Silvério Rocha · Arenas Wagner Augusto Álvares de Freitas · Estádio do Independência Wagner de Ávila Barcelos · Sport Club Internacional / Estádio dos Eucaliptos Zilá Ponzoni · Arquivo Histórico de São Paulo / Pacaembu
PROPONENTE Grazieadio Social Club Eventos e Produções Ltda. PATROCINADOR Panini Group – Brasil COORDENAÇÃO GERAL Eliane Machado Monac – Centro de Negócios da Economia Criativa PRODUÇÃO EXECUTIVA Eliane Machado Monac – Centro de Negócios da Economia Criativa Paulo Zaidan Brancaleone Social Club Produções Ltda. COORDENAÇÃO EDITORIAL Paulo Cezar Alves Goulart A9 Editora Ltda.
FIELDS, STADIUMS AND FOOTBALL ARENAS... the show begins!
Assistente editorial Marisa de Paula Souza Pesquisa Paulo Cezar Alves Goulart Textos Paulo Cezar Alves Goulart (Dos campos aos estádios) Rachel Soares (Dos estádios às arenas) Otávia Scharlack (Dos estádios às arenas) Pesquisa auxiliar e Texto de apoio Mônica Krausz (Dos estádios às arenas) Revisão de texto Cleusa Machado Conte Rosani Andreani Versão Fátima de Oliveira Slobodien Holoedro Serviços Editoriais Paulo Nunes de Oliveira Pesquisa iconográfica Otávia Scharlack Sandra Castellano Éden Luiz Pires Design gráfico e diagramação Pedro Caetano de Paula e Goulart Assistente de diagramação Adriana Azevedo Natalia Neris Otávia Scharlack Foto de capa Estádio Getúlio Vargas, c. 1940 - Arquivo Nirez © A9 Editora Ltda-ME Todos os direitos reservados.
Estádio Joaquim Américo, 1949. Acervo Histórico do Clube Atlético Paranaense
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“Pensam que era um campo gramado, com dimensões regulares, com rêde no goal, bandeirinhas nos corners? Nada disso. O terreno era anfractuoso. Havia um buraco que mettia medo! Os paus de goals fizeram-se de bambús, sendo amarrada, a trave de cima, com barbantes. A bola, nesses tempos ditosos, “não se aninhava na rede”... Os torcedores, coitados, estavam para nascer.” Antonio Figueiredo
Memória dos estádios A PARTIR DESTE PROJETO, Campos, estádios e arenas de futebol... começa o espetáculo!, aprovado pelo Ministério da Cultura, a PANINI Group – Brasil cria um novo marco em sua história, contribuindo, efetivamente, para as políticas públicas nacionais, democratizando o acesso aos bens históricos e culturais, especialmente este que expressa uma forte vocação deste país verde e amarelo – o futebol.
Após criteriosa análise da proposta, nos dispusemos a ampliar o universo de atuação em benefício da sociedade brasileira, assinando produtos culturais que não apenas disponibilizem uma publicação literária, fonte eterna de consulta, mas também envolvam exposições iconográficas, proporcionando ao público em geral momentos de grande alegria e de acesso a informações importantes, muitas delas ainda inéditas, favorecendo a difusão da cultura com registros históricos de relevância. Com esse novo caminho, além de sermos lembrados como o líder dos álbuns de figurinhas e cards, nossa marca estará associada, de forma substancial, a uma organização que investe forte para a melhoria constante da qualidade de vida dos cidadãos brasileiros, tornando-se Empresa Amiga da Cultura Nacional. Temos a convicção de que a opção por um projeto de resgate e disseminação da memória desse componente característico do futebol – o campo – e seus principais desdobramentos na linha do tempo – estádios e arenas – irá se revelar um importante contributo para a melhor compreensão desse lugar onde os jogos são realizados e onde se encontra o grande propulsor do esporte: a torcida. É nesse contexto de total conexão entre a prática do esporte, o espaço onde se realiza e o seu imprescindível público que se forma o espetáculo futebolístico. Sua presença na vida do brasileiro, desde as circunstâncias mais informais do seu cotidiano até os jogos dos mais importantes campeonatos disputados nas atuais arenas, ao lado dos estádios e miríades de campos de futebol pulverizados em todos os cantos das cidades e por todo o país, potencializa o centenário fascínio que exerce em todos os segmentos e diferentes faixas etárias. Assim, a PANINI tem o prazer de integrar-se a esse empenho de tantos especialistas e instituições na realização de pesquisas e produções dedicadas a tornar públicas novas referências sobre este vasto território que constitui o futebol. E, em especial, através dessas singularidades resultantes do constante aprimoramento das ideias que são os campos, os estádios e as arenas de futebol. É a forma de a empresa demonstrar seu orgulho em apoiar conteúdos em que o brasileiro possa saber um pouco mais sobre si e seu país, por meio de uma obra pioneira que, consideramos, há de se tornar referência obrigatória em tudo o que ainda está por ser feito sobre o tema. José Eduardo Severo Martins Presidente & CEO PANINI Group – Brasil
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Memories of Football Stadiums *
FROM THE PROJECT, Fields, stadiums and football arenas... the show begins!, approved by the Ministry
of Culture, the Panini Group – Brasil creates a new benchmark in its history, contributing effectively to national policies, democratizing the access to historical and cultural assets, especially this one asset that shows a strong expression of this green and yellow country: football. After careful examination of the proposal, we set ourselves out to expand the universe of action for the benefit of the Brazilian society, endorsing cultural products that not only make available a literary publication, eternal source of information, but also involving iconographic exhibitions, providing the general public moments of great joy and access to important information; many of them unpublished, favoring the dissemination of culture with historical records of relevance. With this new way of doing business, besides being remembered as the leader of the sticker albums, our brand will be substantially associated to an organization that strongly invests in the constant improvement of the Brazilian citizens’ quality of life, becoming the Company Friend of the National Culture. We are convinced that the choice of a project that will rescue and spread the memory of this characteristic component of football – the field – and its major developments in the timeline – stadiums and arenas – will prove to be a major contribution to a better understanding of this place where the games are held and where we will find the great propellant of the sport: the fans. It is in this context of overall connection between the practice, the space where it is held and its imperative exuberant audience that the football spectacle is created. Its presence in the lives of Brazilians, from the least important circumstances of their daily lives to the games of the most important championships – played in the current arenas, stadiums and all kinds of myriad of football fields in every corner of cities and throughout the country, enhances the centenary fascination held in all segments and different age groups. Thus, Panini is delighted to be part of this commitment of so many experts and institutions engaged in conducting research and evaluation dedicated to making public new understanding of this vast universe that is football, particularly, through these specific aspects of the constant excitement and improvement of the ideas that are the fields, stadiums and football arenas. It is a way for our company to demonstrate our pride in supporting fundamental path ways enabling Brazilians to learn more about themselves and their country, through the pioneer work that we consider, will become a very important cornerstone for all that is still to be unlocked on the subject. *The word “football”, used in the following texts, means “soccer”.
José Eduardo Severo Martins President & CEO PANINI Group – Brasil
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Apresentação O LIVRO Campos, estádios e arenas de futebol... começa o espetáculo! nos traz as origens dos campos e estádios no Brasil, historiando como foram modernizados, e conclui com a história das atuais arenas.
Através da narração da história do futebol brasileiro, conhecemos como foram construídos nossos campos e estádios, em uma viagem por diferentes períodos da história do nosso país. De forma inteligente, aborda-se bem a polêmica, no início de tudo, sobre quem introduziu o futebol no Brasil. A obra analisa a questão da criação do futebol no mundo, permitindo deduzir que o esporte, se não foi inventado pelos ingleses, deve a eles a glória de sua organização e divulgação, assim como cabe a Charles Miller tê-lo introduzido de forma organizada no Brasil. O livro conta a história do futebol brasileiro através dos estádios, desde o “bate-bolão” do Colégio São Luís em Itu, até o Maracanã de hoje, que já foi o “maior do mundo” e, depois de consumir, em três reformas, 2 bilhões de reais, é uma arena. Afinal o que era um campo de futebol, um ground ou um field? O primeiro livro que trata da linguagem do futebol é o Diccionario do Futebol1, escrito por um misterioso GuyGay. Em sua primeira edição pela Monteiro Lobato & Cia., em 1922, traduz o que seria um ”GROUND” ou “FIELD”: “FIELD – Pr. ‘fild’– CAMPO, gramado, arena, liça, área de jogo, lugar onde se disputa uma partida de futebol, tendo a forma de um rectangulo. Ninguem poderá entrar no campo, durante um embate, sem permissão do juiz [...]. Os melhores campos de futebol de São Paulo são: Parque Antarctica, Floresta, Jardim América. Um bom campo de futebol deve ser composto de seis camadas distinctas, de baixo para cima: 1.ª cascalho contendo drenos de 15 a 25 cms.; 2.ª argila; 3.ª terra; 4.ª adubo salino e cinzas; 5.ª areia misturada com terra e 6.ª grama. Tornando-se permeável e secco pelo escoamento rápido das chuvas”. “GROUND – Pr. ‘gráum’ – CAMPO. O mesmo que FIELD.” Em sua segunda edição pela Civilização Brasileira, em 1932, tem frases grafadas ao pé das páginas como: “Talvez haja no Brasil uma villa sem escola, mas não há uma sem um ou dois campos de futebol”. Se fossemos “dividir” a história do nosso futebol em “eras”, com base nos estádios que têm as suas histórias contadas aqui neste livro, teríamos: antes e depois do Velódromo, antes e depois do Estádio das Laranjeiras, antes e depois de São Januário, antes e depois do Pacaembu e antes e depois do Maracanã. O livro aborda importantes aspectos históricos, mas tem também curiosidades que fazem parte dessa história, entre outras, o primeiro espetáculo musical em 1920, o início de ações de publicidade, a dúvida do primeiro jogo noturno e as entradas polêmicas do rádio e posteriormente da televisão em estádios no Brasil.
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Eduardo Galeano² escreveu: “Você já entrou, alguma vez, num estádio vazio? Experimente. Pare no meio do campo, e escute. Não há nada menos vazio que um estádio vazio. Não há nada menos mudo que as arquibancadas sem ninguém”. Entretanto, o campo/estádio ou arena, cheio de gente, é antes de tudo o lugar onde todos se igualam. Pobres e ricos, analfabetos e cultos se misturam, às vezes se abraçam. Pena que tenham acabado com a “geral” do Maracanã, onde o espetáculo da igualdade mais se materializou. Quem “definiu” o que é o clima de um estádio foi Nelson Rodrigues³: “No Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio e, se quiserem acreditar, vaia-se até mulher nua”. O livro demonstra que a primeira e principal matriz para a expansão do futebol em São Paulo foi a várzea, por ser um local onde qualquer um pode “jogar bola”. A bola, que é o início de tudo, o que dizer dela? “Uma jornalista perguntou à teóloga alemã Dorothee Sölle: – Como a senhora explicaria a um menino o que é a felicidade? – Não explicaria – respondeu. – Daria uma bola para que jogasse”4. Confesso que, após algumas décadas bem vividas, ficaria muito feliz se alguém me oferecesse uma bola de futebol! Pesquisa séria! Texto agradável! Fotografias e ilustrações ótimas! A obra resgata importantes momentos da história dos campos, estádios e arenas do futebol brasileiro e com certeza enriquecerá aqueles que a lerem.
Domingos Antonio D’Angelo Junior
Administrador de Empresas, é Assessor de Recursos Humanos do Sindicato Patronal das Indústrias de Cacau e Balas de São Paulo. Conselheiro Vitalício do São Paulo Futebol Clube. Tem como hobby o estudo da literatura no futebol, possuindo uma biblioteca com 2.220 livros com o tema futebol.
1 - A obra traz uma abrangente tradução de toda a terminologia inglesa (a esmagadora maioria) ou francesa do tempo da criação do futebol, além de suas 17 regras originais com 36 diagramas de situações de impedimento e uma completa ilustração de um campo de futebol oficial. 2 - Eduardo Galeano, Futebol ao sol e à sombra, edição da L&PM Editores, 1995, atualizada em 2004. 3 - Nelson Rodrigues, Flor de obsessão, Ruy Castro (org.), Companhia das Letras, 1997. 4 - Eduardo Galeano, op. cit.
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Presentation THE BOOK Fields, stadiums and football arenas... the show begins! brings us the origins of fields and stadiums in Brazil and tells the stories as they were updated and concludes with the stories of today’s arenas.
By telling stories about the Brazilian football, on a trip through different periods in the history of our country, we learn how our stadiums and fields were built. Intelligently, we discuss the controversy about who firstly introduced football to Brazil. The book analyzes the question of the appearance of football in the world, allowing us to assume that if this sport was not invented by the English, it owes them the glory of its compilation and distribution as well as the credit to Charles Miller for having introduced it, in an organized way, to Brazil. The book tells the history of Brazilian football through the stadiums from the “kick on the ball” at St. Louis High School in Itu-SP, to the Maracanã today, once was the “world’s largest” and after consuming 2 billion Reais during three remodeling became an arena. After all, was it a football field, a ground or field? The first book that deals with the language of football is the “Diccionario Football”1, written by a mysterious GuyGay. . In its first edition by Monteiro Lobato & Cia Press House in 1922 it explains what would be a “GROUND” or “FIELD”: “FIELD - Pr ‘FIELD fild’ - lawn, arena, play area, place to dispute a football game, having the shape of a rectangle. No one may enter the field during the match, without the referee’s permission [...]. The best of São Paulo football fields are: Parque Antarctica, Floresta, Jardim America. A good football field should be made up of six distinct layers, from bottom to top: 1st gravel drains containing 15 to 25 cm; 2nd clay; 3rd land; 4th saline manure and ashes; 5th sand mixed with earth and grass 6th. It becomes permeable and dry by the rapid flow of rain.” “GROUND - Pr ‘gráum’ - FIELD. Same as FIELD.” In its second edition by the Brazilian Civilization Press House in 1932, it has some foot notes like this one: “There might exist in Brazil a village without school, but there is not one without one or two football fields.” If we were to divide the history of our football in ages, based on the stadiums that have their stories in this book, we would have: before and after the Velodrome, before and after the Stadium of Laranjeiras, before and after São Januário, before and after Pacaembu and finally before and after Maracanã. The book addresses important historical aspects, but also has particular aspects that are part of this story, such as: the first musical show in 1920, the beginning of advertising, the debate about the first evening game and the controversial introduction of radio stations and later television in the stadiums in Brazil.
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Eduardo Galeano2 wrote: “Have you ever entered an empty stadium? Try it. When you do, please stop in the middle of the field for a moment and listen. There is nothing but an empty stadium. There is nothing but mute stands with no one.” However, the field, stadium or arena, full of people is, above all, the place where all are equal. Rich and poor, illiterate and educated, get mixed and sometimes hug each other. What a shame they got rid of the general stands in Maracanã, where the great show of equality truly happens. Nelson Rodrigues “defined” the energy or main feeling of a stadium3: “In Maracanã, they boo even minute of silence and you’d better believe, they even boo-up a naked woman.” The book shows that the first and primary place for the expansion of football in São Paulo was the “varzea” (empty piece of land used by the neighborhood people to play football), being a place where anyone can “play ball.” The ball, which is the beginning of all, what about it? “A journalist asked the German theologian Dorothee Sölle: - How do you explain to a child what happiness is? - I would not explain – she responded. – I would throw him/her a ball.”-I confess that after some decades of experience in life, I would be very happy if someone offered me a football ball! Serious research! Nice text! Photos and great illustrations! The work rescues important moments in the history of the fields, stadiums and arenas of Brazilian football and certainly will bring joy and learning to those who read it.
Domingos Antonio D’Angelo Junior
Business Administrator, Human Resources Advisor for the Union of workers of Industries of cocoa and candies. Mr. D’Ângelo is a lifetime advisor for São Paulo Futebol Clube (one of the biggest football teams in the state of Sao Paulo). His hobby is to study football literature and he has a library with 2220 books about football. .
1 - The work brings a comprehensive translation of all English terminology (the overwhelming majority) or French, the time of the creation of football as well as its 17 original rules with 36 diagrams of offside situations and a complete illustration of an official football field. 2 - Eduardo Galeano, Football in the sun and the shade, edition of L & PM Editores, 1995, updated in 2004. 3 - Nelson Rodrigues, Obsession Flower, Ruy Castro (ed.), Companhia das Letras, 1997. 4 - Eduardo Galeano, op. cit.
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Sumário
Para as imagens reproduzidas neste livro foram fornecidas à A9 Editora as autorizações específicas, exceto as imagens para as quais, mesmo após diligente pesquisa e inúmeros contatos, não foi possível chegar a indícios que possibilitassem localizar os responsáveis pelos direitos sobre a reprodução dos documentos visando à obtenção de autorização para seu uso nesta publicação. Campo do Prado, Fortaleza (CE), c. 1940. Arquivo Nirez
Este livro tem fins exclusivamente institucionais.
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O lugar de onde o futebol é visto The place from where football is seen Fields, stadiums and football arenas... the show begins! A brief story Dos campos aos estádios O futebol chegou... ... aos poucos nos colégios A primeira planta de um ground Que joguinho bom! Archibancadas Ligas, campeonatos e ingressos Do remo para o futebol Preparando o campo Nas várzeas, nos bairros Futebol em notícias Um estádio para o Sul-Americano Mais lugares para um esporte popular Chutes à luz de lâmpadas O rádio entra em campo Uma praça de esportes no vale
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Dos estádios às arenas Maracanã: é a Copa de 1950 Ainda os grandes estádios Mundial de 1958 e a presença da TV Ditadura e multiplicação de estádios Das torcidas à nova gestão dos clubes 2014: a Copa mais uma vez no Brasil Arena da Amazônia Arena da Baixada Estádio Beira-Rio Arena Castelão Arena Corinthians Arena das Dunas Arena Fonte Nova Maracanã Minas Arena Estádio Nacional de Brasília Arena Pantanal Arena Pernambuco E o espetáculo vai continuar... And the show will go on... Bibliografia
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O lugar de onde o futebol é visto Duas pedras, e o gol estava pronto. Que venham as jogadas, os dribles, os chutes, as cabeçadas. Os gols.
FUTEBOL. Tão bom... e pode ser praticado em quase todo lugar. Assim começou, e se mantém até hoje. Essencialmente é um esporte. Apesar de poder ser jogado em qualquer lugar, há também o lugar próprio, especial: o campo feito para se jogar futebol, com suas regras, o modo correto de ser jogado: tem os dois lados, tem duas equipes, uma de cada lado; tem a bola de futebol, que deve chegar dentro do gol; e outras tantas regras mais. Mas é mais que um esporte. É também para ser visto. Tem algo nas jogadas, nos lances, que torna o esporte tão atraente. E o gol? Ah, o gol... Às vezes, o melhor dos lances, tanto para quem joga como para quem está assistindo. No começo do século XX a pugna, o match, o encontro de eleven, era, não sem razão, conhecido pelos espectadores e cronistas como “futebol-espetáculo”. Momento especial em que se parava para ver cada jogada em cada canto do campo onde os jogadores estavam em busca da tal vitória. Aquilo que conferia à equipe uma condição especial: sair-se vencedora. Aquele que assistia ao jogo demonstrava seu apreço pelo time, pelo jogador e suas incríveis jogadas. E assim ia nascendo o torcedor. Cada espectador ou grupo de espectadores estava ali para vibrar com o que via acontecer dentro do campo. E o adversário que se cuidasse: senão teria apupos, caçoadas, xingamentos ou mesmo invasão do campo, como faria o repórter e locutor Ary Barroso no jogo do Brasil contra os argentinos, em 1937. Mas, vaia, o campo do Velódromo ainda no início do século deixava claro: não podia. Alguém obedecia? Quem, entre aqueles que estavam à beira do campo, naquele entorno demarcado com cal ou cerca, resistia a deixar escapar um “uuhhhh”, um “vai!”, um “chuta!”, ou um grito “de guerra”, como fariam os torcedores do Paulistano no início do século XX, com seu “ale-guá-guá-guá hurrah”? Mas o modo de torcer começava a mudar. Já não bastava o espaço para a torcida à volta do campo – que já se via apinhada em pé. Oriunda direta das “archibancadas” construídas originalmente para o entusiasmado público das disputas ciclísticas, a cidade de São Paulo vê nascer a primeira arquibancada, erguida em um só lado do campo, destinada à plateia futebolística: era o campo implantado no Velódromo, em 1901. Ali 2.000 espectadores poderiam sentar-se – a grande novidade! – nos degraus de madeira, sob a proteção de uma cobertura. E ver o campo e os jogadores por ângulo inusitado: a 1, 2, 5 metros acima do nível do chão. Tornou-se modelo seguido, com variantes, por tantos outros campos durante décadas. Mas o gosto pelo futebol – ao lado das disputas esportivas, políticas e sociais dentro e fora do campo – registrava um crescimento exponencial. E, ao encontro dessa ascensão, o país é escolhido para receber seu primeiro torneio
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internacional: o Campeonato Sul-Americano de 1919. A ocasião acabou ensejando a construção do primeiro estádio brasileiro: uma moderna obra de concreto, que abraçava o campo em seus quatro lados. Para 18 mil pessoas, que era a capacidade do Estádio do Fluminense, ou das Laranjeiras, expandia-se a arquibancada, o sentido da grandeza dos espetáculos futebolísticos e a visibilidade do apreço que milhares e milhares de torcedores, dentro e fora do campo, demonstravam pelo esporte. O país havia construído o maior estádio da América Latina. Um estádio dessa magnitude e o fascínio pelo esporte contribuíram para que o futebol emergisse como importante fator de identidade nacional, questão que se acentuaria nas décadas posteriores. Num momento seguinte, a arquibancada começa a se distanciar dos jogadores pelo recuo em relação ao campo e por sua altura, devido ao crescente número de degraus. No Estádio de São Januário, entre os espectadores e o campo de futebol, implanta-se uma pista de atletismo. Arquitetos e engenheiros desenvolvem grandes projetos de estádios, que passam a servir, simultânea e crescentemente, para comemorações cívicas, bem como apresentações desportivas e artísticas. Iluminação para jogos noturnos e enormes arquibancadas são uma solução que antecederia o projeto mais ousado da primeira metade do século XX: o Estádio do Pacaembu. Trazendo conceitos de estádios alemães, feito para abrigar 70 mil pessoas, não só era o maior e mais moderno da América Latina, mas, também, destacava-se por fortalecer a inserção de outras construções esportivas no mesmo complexo: piscina, ginásio de esportes, quadra coberta de tênis. Do lado de fora do Estádio do Pacaembu – dos quintais das casas próximas (como desde o início do século, árvores, morros e mesas próximas ao campo serviam para os espectadores se posicionarem e assistirem ao jogo) –, discretos aglomerados se espreitavam, buscando o melhor ângulo que a distante e improvisada arquibancada permitia. Mas ainda estava por vir o mais imponente de todos. Escolhido pela FIFA para ser a sede da Copa do Mundo em 1950, o país organiza seu primeiro Mundial comprometendo-se a erguer aquele que seria o maior estádio do mundo. Inaugurado no dia 16 de junho, o Maracanã, construído para 155 mil pessoas, recebeu quase 200 mil na final da Copa entre Brasil e Uruguai. Do imenso canteiro de obras, desde o lançamento da pedra fundamental, em 20 de janeiro de 1948, à abertura do campeonato, com o Maracanã ainda inconcluso, uma imensa mobilização. Disputas políticas sobre a localização do estádio retardaram o início da construção: entre Jacarepaguá e o terreno do antigo Derby Club, este foi o escolhido. Com formato elíptico, o projeto circunda todo o campo de futebol. Para os espectadores, são destinados três lances: geral, cadeiras e arquibancadas, que são cobertas parcialmente por uma marquise em todo o estádio.
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O modelo elíptico instituído para o Maracanã iria se replicar em outros estádios nas décadas seguintes, tanto aqueles construídos por clubes particulares, ainda nas décadas de 1950 e 1960, e voltados à construção de imponentes praças esportivas, quanto aqueles erigidos durante o período da ditadura militar, até meados da década de 1980, com recursos públicos, destinados a uma função política e estratégica. Se até a construção do Maracanã destacavam-se aspectos quantitativos dos estádios – a obra monumental, a capacidade de abrigar um número imenso de torcedores –, as torcidas, motivo das pioneiras “archibancadas”, nas décadas de 1980 e 1990, fazem emergir questões de segurança as quais, aliadas a outros aspectos, modificaram o cenário do esporte, ensejando reformulações nos projetos arquitetônicos. Decorrente de novas concepções construtivas, estéticas, funcionais e empresariais, o ponto culminante dos novos projetos estaria presente nas arenas para a Copa do Mundo da FIFA 2014 no Brasil. Conceitos como multiúso, soluções ambientalmente corretas, tecnologia de ponta, estrutura de serviços, espaço para eventos, com implantação de equipamentos que privilegiam a segurança e o conforto, entre outros, constituem a base para a renovação, incluindo-se aí uma capacidade ideal de espectadores. É no contexto dessa sintética trajetória que Campos, estádios, arenas de futebol... começa o espetáculo! traz um panorama, desde as origens, da evolução desse lugar onde se pratica o futebol no Brasil – para além dos infinitos lugares onde a modalidade se manifesta de modo informal e espontâneo no dia a dia. Com uma interface com o ambiente sociopolítico dos diferentes períodos históricos no país, o lugar da prática do futebol está associado a uma multifacetada complexidade do próprio futebol, em uma síntese desse movimento que entrelaça a sociedade e os distintos mecanismos que estruturam o esporte. Esta breve trajetória registrada no livro procura resgatar conteúdos de interesse para o tema e contribuir para a compreensão do lugar onde o futebol se manifesta e de onde é visto, registrando as diferentes formas de organização de setores relacionados ao esporte e os modos como lidaram com os desafios inerentes às singularidades de campos, estádios e arenas ao longo da história do futebol brasileiro.
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The place from where football is seen Two stones and the goal is ready. Bring on the moves, the dribbles, the shots, the goals.
FOOTBALL. So good... and it can be practiced almost anywhere. Thus began, and continues today. Essentially it is a sport. Although it can be played anywhere there is also its own special place: the field made to play football with its rules, the correct way to be played: it has two sides, two teams, one on each side; it has the ball, which should reach into the goal; and so many more rules. But it is more than a sport. It is also to be watched. There’s something in the team, in the throws which makes the sport so appealing. What about the goal? Ah, the goal… sometimes the best part for those who play as for those who watch. In the early twentieth century the struggle, the match, the meeting of eleven was known to viewers and chroniclers, not without a reason, as “football spectacle.” This was the special moment when one would stop to see every play in every corner of the field where the players were in search of such a victory. It would give the team a special reward: be the winner. The one who watched the game showed appreciation for the team, the player and his incredible moves. And so, the fan was born. Every viewer or group of viewers was there to vibrate with what he saw happening on the field. And the opponent had to be careful. It could face jeers, teasing, name-calling or even invasion of the field as it actually happened with the reporter and announcer Ary Barroso in the game Brazil versus Argentina in 1937. But booing, at the Velodrome Field in Sao Paulo, at the beginning of the century, was definitely forbidden. Did anyone obey? Who among those who were on the edge of the field in that environment marked with lime or fencing, would resist letting out a “uuhhhh”, a “go”, one “kick”, or a “cheer call”, as the Paulistano’s fans used to do in the beginning of the twentieth century, with their “ale-gua-gua-gua hurray”? But the way of cheering began to change. There was not enough space for fans around the country – already being a standing room only crowd. Coming direct from “stands” originally built for the enthusiastic audience of cycling disputes, the city of São Paulo sees the birth of the first grandstand, erected on one side of the field for the football crowd at the Velodrome field in 1900. There, 2,000 spectators could sit – the big news! – on wooden steps, under the protection of a cover. And see the field and players from an unusual angle: 1, 2, 5 meters above ground level. It became a model followed with variations incorporated into many other fields and stands for decades. But the taste and love for football – alongside sporting competitions, political and social events, in and off the fields – recorded exponential growth. And to meet this rise, the country was chosen to host its first international tournament in 1919: the South American Championship. The occasion resulted in the construction of the first Brazilian stadium: a modern work of concrete, which embraced the whole field.
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To 18,000 people which was the capacity of the stadium, the expansive stands, the sense of the greatness of football shows and the great appreciation for the sport was visible from thousands and thousands of fans, in and off the field. The country had built the largest stadium in Latin America. A stadium of this magnitude and the admiration for the sport contributed to intensify the role of football as an important factor of national identity, and this would be even more evident in later decades. A moment later, the stands were built further from the field due to its height and the number of steps. At the Stadium of São Januário, an athletic track is placed between the spectators and the football field. Architects and engineers are now signing contracts for large stadium projects which are used simultaneously and increasingly for civic celebrations as well as sports and artistic presentations. Lighting for night play and huge grandstands is the solution that precedes the most daring project of the first half of the twentieth century: the Pacaembu Stadium. Bringing concepts from German stadiums, it was made to house 70,000 people and it was not only the largest and most modern in Latin America, but also stood out include (to strengthen the inclusion of) other sports in the same complex: swimming, basketball, etc. Outside the Pacaembu Stadium – the yards of nearby houses (as from the beginning of the century, trees, hills and seating next to the field served to allow the spectators position themselves and watch the game) – discrete clusters are gathering, as it used to be done at the beginning of the century by searching for the best angle that the distant and makeshift bleachers allowed. But the most imposing of all was yet to come… Chosen by FIFA to host the World Cup in 1950, the country organized its first world cup pledging to erect what would be, at the time, the largest stadium in the world. Opened on June 16, the Maracanã, built for 155,000 people, received nearly 200,000 in the World Cup final between Brazil and Uruguay. There it was the huge construction site, from the laying of the foundation stone on 20 January 1948, to the opening of the championship, with the still unfinished work, a huge project. Political disputes about the location of the stadium delayed the start of work: between Jacarepaguá and the location of the former Derby Club, the Derby was the one. With its elliptical shape, the project encompasses the whole football field. For viewers, three areas are designated: general stands, and designated seats which are partially covered by a canopy type of roof around the stadium. One of the stand out characteristics of the Maracanã was the adoption of the elliptical shape in the stadium. This model, the elliptical shape, has become a standard used in the construction of other stadiums in the following decades. So it was, with private clubs, in the 1950s and 1960s, when the projects also contemplated this imposing ballpark configuration. The same happened during the military dictatorship era between the 1960s and 1980s when public funds multiplied the stadiums, with the purpose to fulfill, through football, a political and strategic role.
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Up to the construction of Maracanã the quantitative aspects of the stadiums stood out – a monumental work, the ability to accommodate a huge number of fans – the fans, the most fundamental reason: “the stands” in the 1980s and 1990s begin to witness other issues like safety, combined with other aspects that changed the sport setting, allowing the restructuring of the stadiums. Resulting from new construction concepts, aesthetic, functional and business, the culminating point of the new projects would be present in the arenas for the FIFA World Cup 2014 in Brazil. Concepts such as multi-purpose, environmental friendly solutions, technology, infrastructure, functional space with deployment of equipment that focused on safety and comfort, among others, form the basis for the renovations/ remodeling including therein an ideal capacity for spectators. It is in the context of this complex history of Fields, stadiums and football arenas... that the show begins! It brings a panorama, from its origins, the evolution of this place where you see football being played on official venues – in addition to the endless places where the sport is manifested informally and spontaneously in everyday life. With the inherent interface with the socio-political environment of different historical periods in the country, the place where football is practiced is associated with a multifaceted complexity of football itself in a summary of this movement that weaves society and the different mechanisms that structure the sport. The brief history recorded in this book seeks to inspire interest in its theme and contributes to the understanding of the place where football is seen by recording the different ways of organizing aspects related to sports; the ways they handled the challenges inherent to the uniqueness of fields, stadiums and arenas.
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FIELDS, STADIUMS
When did football arrive in Brazil? How did the new sport arrive in the Brazilian territory? Where did the first matches happen?
AMIDST THOSE and other questions, one thing is certain. Although
AND FOOTBALL
people of different origins participated in the initial moments of football in Brazil, the origins of the sport are directly related to the English presence in commercial, technical, financial and pedagogic activities of the country. The people involved in those areas would become the main protagonists of the arrival and expansion of football through the Brazilian territory during the 19th century.
ARENAS...
THE SHOW BEGINS!
British sailors, in their free time during their stay in the capitals of the provinces, had played with a ball on beaches and areas close to the Brazilian coast since the 1860s. Delegates of local schools and Brazilian students found out about the sport through English schools and brought football balls and the rules to the yards of the local schools, our first football pitches in the 1880s. As for the English technicians, employees and railway workers who came to work here, they cultivated the sport in their clubs and within their communities.
A brief history
But the starting kick for the football organization came with Charles Miller, who was from the city of São Paulo. After studying in England, he brought two leather balls, a pair of football boots, an air pump and two shirts from there. He motivated the colleagues and employees of English companies in São Paulo to play the first football match in Brazil using the official rules of the Football Association on April 14, 1895. Shortly after the addition of cricket clubs in the formation of their football teams that started training in two places, at improvised pitches in the neighborhood known as Bom Retiro: Dulley and Witte Farms. Until the end of the 19th century five teams played friendly matches on those pitches in São Paulo and a few other clubs appeared in other Brazilian states.
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Velódromo Pitch in 1902. J.R.Mills/Collection from Clube Atlético São Paulo - SPAC
In 1901 the sport received its first pitch with bleachers. The old Cycle Track from São Paulo was adapted and changed. The garden at the center of the track was replaced by a lawn, which became a football pitch. The bleachers were expanded from 800 to 2,000 seats. Traditional São Paulo families and its elite now had a comfortable, safe place to watch with good visibility of the football matches. The first match at the Cycle Track took place on October 19, 1901 between teams from the cities of Rio de Janeiro and São Paulo. The installation of bleachers on both sides of the pitch was the solution found for the Cycle Track and would be the standard used by other clubs until the end of the 1910s.
The gradual creation of football leagues in the Brazilian states, the organization of championships which sold tickets for the matches, and the formation of new clubs necessarily meant an increase in the number of football pitches, some of which already had bleachers. While that football organization was limited to the clubs of the elites, in the meadows or the rivers that cut through the cities, in the outskirts, in wastelands or in front of factories, football pitches multiplied so the population that was excluded from the official championships, in other words, the blacks, the immigrants and the blue collar workers could play football. The seductive sport became popular in several cities of the country, in spite of people initially being segregated. And new pitches, many of which were improvised, received the numerous popular teams.
The following year after its opening São Paulo Football League was founded and it organized the first football championship in Brazil. The dispute for a cup would not just excite the public – as much as the final match, between the teams of Paulistano and SPAC which attracted 4,000 people – but it would make it possible to obtain funds for clubs and for the League through the sale of tickets. Starting from that 1902 championship, anyone who wanted to watch the matches had to pay $2000 (two thousand Réis).
The popularization of football did not only occur on the pitches. It found a very important ally in the press. Little by little, since the first decade of the 20th century, with the presence of journalists, the description of matches gained increasingly more space in the newspapers. And it would gain a form of official record in
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magazines: photography. Through the images, the players, the teams, the football pitch and the bleachers gained special status compared to other sports.
original capacity for 18,000 spectators on the four sides of the pitch. It was also the first South American stadium to use cement in its construction. In 1922, for the celebration of the Centennial of the Independence of Brazil, the stadium was expanded to accommodate 25,000 people.
As a source of income, due to the sale of tickets and of its lease to other teams, the football pitches of the clubs had a new function since the 1910s: they served as advertising space as panels installed around the pitches were rented for the advertisement of products.
While new clubs appeared and the sport reached the most distant corners of the country, the great names of football strengthened its role both locally and abroad. In a successful tour in Europe in 1925, the Clube Athletic Palulistano from São Paulo became an example of the excellent football played in the country. Internally, the Club de Regatas Vasco da Gama would become the symbol of a great change: the formation of a team with players chosen because of their abilities as sportsmen, regardless of their social origin. So, in an internal process of democratization, the blacks, the mulattos and lower class merchants were accepted in the team. Additionally, the club started paying the players. Those two attitudes – which confronted the elitist vision of the clubs that monopolized the sport – would be the base for the immense acceptance and growth of the club. The great increase in the number of members was responsible
The visible growth of the sport – which led to the creation of an organization at national level, the Brazilian Confederation of Sports, in 1916 – had its great first international challenge in 1919, when the South American Championship was held in Brazil. Since the country did not have an appropriate place to hold such an event, just pitches with a set of bleachers on each side, it was necessary to build its first stadium. The Fluminense Football Club accepted the challenge of the initiative with funds from the Banco do Brasil worth two Contos de Réis. Built in a record period of one year, from the project of Catalan architect Hypolito Gustavo Pujol Júnior, for one decade the Laranjeiras Stadium would be the biggest in the country, with an
To the left, Fluminense’s Stadium, 1922. Flu-Memória Collection Next page, Pacaembu Stadium, 1943. Cia City Collection
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for bringing funds for the construction of the São Januário Stadium. Opened in 1927, it had capacity for more than 30,000 people. With São Januário, the stadiums started being used for civic celebrations more regularly, some with the presence of President Getúlio Vargas, as well as shows and several kinds of events.
This would become even more evident with the appearance of the radio. First with the support of the information provided by telephone, starting in 1927, and later through direct broadcasts from the stadiums, in the 1930s the radio, with the incredible narration of its sportscasters, would take the emotions of each player of the game to those outside the stadium. It was, without a doubt, a huge multiplier of the interest in football.
The incorporation of new technical resources allowed the stadiums to expand the hours matches could be played. With the installation of reflectors, the Laranjeiras and São Januário stadiums played a fundamental role in permitting football matches to be played at night.
These were ways to access football. The fan – on the field or listening to the sportscaster on the radio – needed space effectively. And a stadium in São Paulo would give the fans more room. In an initiative of the city administration of the city of São Paulo, with the support of a company of urban development, the Companhia City, the stadium of Pacaembu was projected. With an architectural style influenced by Fascism, it represented the first effort of the public power to have its own football stadium, until 1940 when the main stadiums were privately owned. With a capacity for 70,000 spectators, and a structure for other sports, it was the biggest stadium in South America for a decade.
Such an expansion of the playing hours into the night allowed the growth of the presence of the public in the stadiums. However, that intensification also happened outside the stadiums. Since the 1919 South American Championship in Rio de Janeiro, loudspeakers installed in places that permitted a concentration of the public, such as the Anhangabaú Valley in São Paulo increased the number of fans that could follow the matches outside the stadiums, even from a distance. On countless occasions, starting in the 1920s, the loudspeakers became a direct extension of what happened on the pitches.
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Maracanã Stadium, no date. Collection of the State of São Paulo
The 1950 FIFA Football World Cup and the Maracanã Stadium
The construction time for Maracanã was short. Built in only two years, it was opened one week before the World Cup. There were fierce disputes about its location. A famous journalist, Mário Filho, defended the Derby Clube, the old race track, while councilor Carlos Lacerda was in favor of the area of Jacarepaguá. The Derby Clube was chosen. Homage to the journalist would come later, when it was named Stadium Journalist Mário Filho.
In the middle of the 20th century Brazil was chosen to host the 4th Fifa Football World Cup, of 1950. To receive teams from around the world the country built two stadiums, the giant Maracanã in Rio de Janeiro; and the Independência in Belo Horizonte, in the state of Minas Gerais. Four stadiums were adapted: Pacaembu (São Paulo), Vila Capanema (in Curitiba, the state of Paraná), Ilha do Retiro (in Recife, the state of Pernambuco), Eucaliptos (in Porto Alegre, the state of Rio Grande do Sul). Except for the Eucaliptos stadium, with a capacity for 30,000 people, and Pacaembu with a capacity for 70,000 people, the others had a capacity for 20,000 spectators. The biggest stadium in the world at that time and the biggest legacy of the 1950 World Cup, the Maracanã stadium was also the stage of the most unbelievable defeat for the Brazilians, who saw Uruguay raise the champions’ cup in front of nearly 200,000 spectators, in spite of having been originally projected for a capacity of 155,000 people.
Conceived in an elliptic shape, the Maracanã excited then Fifa president Jules Rimet, who visited the worksite in 1949 and compared it to the Coliseum of Rome. In its 65 years, the stadium witnessed king Pelé’s greatest moves, such as his thousandth goal, in 1969; and the one that guaranteed Brazil’s place in the 1970 World Cup in Mexico. It also witnessed memorable play from unforgettable stars, such as Mané Garrincha. Listed as a protected site by the National Historic and Artistic Heritage Institute (IPHAN), the giant would experience a tragedy in 1992, when a guard of the bleachers broke loose, killing 3 fans and hurting another 87. In less than 10 years it would be necessary to choose: from 155,000 places, it would get to little more than 100.000 in 2000; 89,000 for the 15th Pan-American Games of 2007; and 76,000 places for the 2014 World Cup. The giant became smaller but kept its charm. In Maracanã’s Hall of Fame, which opened in 2000, glorious feet are eternalized in the cement. The 1950s were marked by intense transformations. While Brazilian families discovered the television, the directors of the clubs began negotiating to build private stadiums. In September of 1950, communications businessman Assis Chateaubriand, President of the Diários Associados (national network of newspapers and magazines) opened the Tupi TV network in São Paulo. One month later there was the first transmission of a football game on Brazilian television. In the same period, directors of important national clubs, such as Grêmio from Porto Alegre and São Paulo Futebol
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Clube, worked to make the dream of the construction of their own stadiums a reality.
The Brazilian team, having Didi and Nilton Santos as its leaders, demonstrated competence and surprised the world when it raised the World Cup Trophy for the first time. As recognition, in 1961, councilor Ari Silva proposed renaming the Pacaembu Stadium to Paulo Machado de Carvalho. Together with the victory, there came clashes between the new television media and the directors of the clubs. The fear was that the broadcast of the matches would empty the stadiums.
Among the articulators of the enterprises, the name Cícero Pompeu de Toledo stood out in São Paulo, especially in 1952, when the search for an area for the construction of São Paulo Futebol Clube’s stadium began. There was a great deal of choice for the Aricanduva Realtors, in an area of the old Morumbi farm. With its own funds, the three-colored club, as it is called due to its officials colors being red, black and white, acquired an area of approximately 100,000 m² in the area.
The success of the1958 Rio de Janeiro Championship, with the Maracanã full despite the broadcasting of the matches on TV drew the fear of the media away temporarily. But the feat would not be repeated the following year, when attendance dropped by half. TV was blamed and was forbidden from entering the stadiums. For this reason numerous star players like Pele historical dribbles were only recorded in the memories of those who saw them, since TV crew were denied access to the stadium.
Architect Vilanova Artigas won the public bid in 1953, with the project for a stadium for 120,000 people. He looked for solutions in the vanguard of brutalism, which is characterized by the use of bare concrete. To obtain funds to build the stadium innovations the owners used: a contract of exclusive rights for the sale of products of the Companhia Antárctica Paulista inside of the stadium; the availability of the sale of 12,000 private seats; a souvenir campaign; cement donation; exchanges of a player for a tractor. Morumbi was opened in 1960, still incomplete, with a capacity for 70,000 people. The fans would have to wait until January 25, 1970 to celebrate the full delivery of the Cícero Pompeu of Toledo Stadium, which was expanded to a capacity of 147,000 people and was then the largest private stadium of Brazil.
With President Juscelino Kubitschek at the helm, the federal capital Brasília was built in the central area of the country and was inaugurated in 1960. Two years later, in 1962, the Brazilian team won the World Cup for the second time in Chile, bringing a new era for the sport and for Brazil. The euphoria of the years 1962 and 1963 took the public back to the stadiums. In politics, the situation was also intense: President Jânio Quadros’s election and resignation, Vice-President João Goulart’s removal and the military coup of 1964. In the same year, in the month of September, was the reopening of the Palestra Itália Stadium, known as Parque Antarctica, house of the Sociedade Esportiva Palmeiras, with a capacity for more than 30,000 people.
Also at the end of the fifties, when Brazil had President Juscelino Kubitschek at the helm, other stadiums were built and renovated. In that same period the press began demonstrating its power. The influence of the media was so strong that, in 1958, João Havelange, President of the Brazilian Confederation of Sports (CBD), was forced to invite Paulo Machado de Carvalho, Director of the São Paulo Futebol Clube and radio and TV businessman, to lead the Brazilian delegation that would participate in the Football World Cup in Sweden.
In 1970, the Brazilian team won the World Cup for the third time, in Mexico. In the period Brazil was under the military regime, between 1964 and 1985, more than 50 stadiums were built or renovated in the country, following the elliptic model of the architecture of
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Maracanã. Those were the years of many homages to the military and to politicians when baptizing the stadiums. In Belo Horizonte, the state of Minas Gerais, the Governador Magalhães Pinto Stadium, known as Mineirão (Big Person from Minas Gerais), began being built in 1959 and was opened in 1965, at a match with an attendance of 73,000 people.
modalities of business administration were introduced, as happened starting in 2005 with the Club Atlético Paranaense that sold the naming rights of its stadium, which was renamed Kyocera Arena. In 2007, the Nilton Santos Stadium, which belongs to Botafogo de Futebol e Regatas, carried out the commercial exploration of the internal spaces of the clubs and pitches, such as food courts and parking lots, besides publicity contracts, among other, which started to generate new funds.
The same is true for the Vivaldão, in Manaus, the state of Amazonas, which construction started in 1955 and was opened in 1970. As for the Governador Plácido Castelo Stadium, or Castelão (Big Castelo), in Fortaleza, Ceará, its gates opened in 1974. The city of Teresina, in the state of Piauí, received the opening match of the Governador Alberto Tavares da Silva Stadium, the Albertão (Big Alberto), in 1973.
To bring the public back to the stadiums, in 2004 the Federal Government enacted the Fan’s Statute, which foresees, among other things, surveillance images that are capable of identifying violent fans. In the first decades of the 21st century modern concepts of safety, access, comfort and professional administration started being part of the new stadiums.
Football in the middle of the 20th century and of the first decades of the 21st century would witness the appearance of another show in the bleachers of the stadiums. This one was in defiance to the healthy competition among the fans of rival teams. At the beginning, still in the 1940s, those that became known as organized fan clubs just wanted to stimulate the performance of their clubs. In the sixties, besides motivating them, the organized fan clubs started to protest when the teams played badly. In the two following decades, the 1970s and 1980s, violence started to enter the stadiums together with the organized fan clubs. At the turn of the century, the situation of violent disputes increased and the performance of the teams became crucial.
The challenge of the business administration of the stadiums – the transformation of the clubs into companies is a law in Brazil – is to add professionalism to the “beautiful game” of football to attract fans to the party of dribbling and live goals, with the emotion of watching the ball roll on the grass of the pitches.
To face the situation, the location of the supporters in the bleachers in the stadium was separated and there were also different gates to access and exit the stadiums for the supporters of rival teams. Not even the increase in the presence of the police in the stadiums solved the problem. Exalted members of fan clubs started fighting each other in different places such as train and subway stations. With the disappearance of fans from the stadiums the clubs started to sell the broadcasting rights of the matches to TV networks. New
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Previous page, Nilton Santos Stadium, 2010. Daniel Nunes - GEMG Below, Arena da Amazônia. GMP - von Gerkan, Marg and Partners Architects
Brazil’s football arenas go the 2014 FIFA Football World Cup
Fifa’s standards.
After 64 years, Brazil once again hosted the Football World Cup. Between 2007 and 2014, the country got ready for the big event, living with numerous challenges in this trajectory. Beside the arenas, it was necessary to improve the urban infrastructure, public transportation and mobility, build new hotels, and increase safety among other areas. It was necessary that the government, institutions and companies worked closely, bearing in mind fundamental aspects such as the economy and planning. There were important advances until the start of the World Cup, but other projects are yet to be concluded by the 2016 Summer Olympics in Rio de Janeiro.
Overcoming the financial, structural and organizational restrictions of the Brazilian reality, the country overcame the limitations and, with R$ 7.99 billion in public and/or private investments, made the projects viable. Among the return to investment indicators is the LEED certification. Until early 2015, nine arenas had been certified by the standard of recognition of buildings that adopt sustainability concepts, the Certification of Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), awarded by the US Green Building Council (USGBC). The choice of cities that would host the matches took into consideration the country’s different regions. The geographic diversity and the cultural singularities of each one of them, which is reflected in the territorial size of Brazil, gave every arena a differentiated system of values in their conception, as can be seen below, where each arena is presented individually.
For the World Cup, a series of Fifa demands would also require major effort: indoor arenas, numbered seats and good visibility in all sectors, hospitality areas, lighting technology, conditions for the public to leave the stadium within up to eight minutes, etc. Measures related to sustainability in the buildings, a self-cleaning roof, folding seats fitted with backrests, increased ventilation, standardization of the dimensions of the pitch (105m x 68m) and operations command centers, among other things, contributed to making the effective modernization of the arenas possible.
After the end of the World Cup, the arenas continued to receive football matches of different scales - from the championships of their respective states to the matches of the Brazilian Championship, as well as other official games and other events. Six of them will receive football matches of the 2016 Olympic Games.
And what were the Brazilian stadiums like that wanted to be on the list of the 12 host cities? Some were very old (built between the 1950s and the 1970s), in aprecarious condition and with restrictions due to having been listed as historical heritage sites. Despite that, it is possible to say that the arenas have become the symbol of a significant victory that involved the boldness and quality of the projects, which resulted in works that can be compared to the international arenas. In this context, architecture firms played a major role. The five stadium renovation projects and the construction of seven new arenas comprised issues of architectural, technological, constructive, environmental, commercial and social relevance, in order to meet
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From left to right. Arena da Amazônia. Alex Pazuello - Secom Arena da Baixada. Jaelson Lucas - SMCS Beira-Rio Stadium. Gabriel Heusi - World Cup Portal/ME
Arena Amazônia
occurred naturally because of its position near the main roads and due to there being several points of community interest around it. The semi-transparency of the facade stresses this interaction between the outside and the inside. From the outside one can see the internal activities. The Arena has several commercial spaces that are accessible for shopping and leisure activities. Its main gate is opposite to a square that serves as a transition element where people can meet and go to the Arena. It was one of the first stadiums to implement the biometric system of internal access.
The Vivaldo Lima stadium, which opened in 1970 in Manaus, in the state of Amazonas, was replaced by the Arena da Amazônia in 2014. Due to the proximity to the Amazon Forest, the lung of the world and an exponential source of fresh water, issues related to sustainability were paramount, receiving even more attention than the requirements of the Fifa, through a structure that provides for water and energy saving. The shape of the Arena resembles an indigenous straw basket that makes a reference to the responsible use of the natural resources around it. With a capacity for 44,500 spectators, it has yellow, orange and red seats that resemble the colors of the fruits of the region. The Arena will stage football matches of the 2016 Olympic Games.
Beira-Rio Stadium Built with the help of its fans, who not only donated materials but also participated in the works, it was opened in 1969 and reopened in 2014. During the renovation for the World Cup, the architects, who were also fans of the team and traditional stadium goers, took on the task with fans point of view. It was for a reason that the received the colors of the Sport Club Internacional, which is the club that owns the Stadium. Among other things, the Beira-Rio gained a new roof – with 65 modules shaped as sheets -and the capacity to receive 50,000 people was comfortably accommodated. Currently, the place continues to receive a large number of spectators, both for sporting events and for shows. Open to tourist visits, it is praised because of
Arena da Baixada The renovation of the Arena, originally opened in 1914 and reopened 100 years later, prioritized integration with the urban environment, easy access, a modern structure and comfortable facilities for 43,000 people, making it a multi-event space that includes the commercial, economic, recreational and social dimensions of the area where it is situated. This interface with the city of Curitiba, state of Paraná,
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Arena Castelão. Fabio Lima-Faquini - World Cup Portal Arena Corinthians. Paulo Pinto - Fotos Públicas Arena das Dunas. Publicity Arena das Dunas
the natural beauty of its surroundings since it sits on the banks of the Guaiba Lake in Porto Alegre, state of Rio Grande do Sul, as well as for its beautiful and unique facade.
the World Cup and will host football matches of the 2016 Olympic Games. The highlights of the works are the vault of the 245.75-meter roof, in the North and South sectors of the stadium, and a facade of LED panels that made it a huge 170-meter by 22-meter screen. The artificial lighting is comparable in quality or even better than that of the best sports arenas in the world. Its grass is one of the most modern ones today. With ryegrass, it required the unprecedented installation of a refrigeration system below the plant roots.
Arena Castelão The former Castelão stadium, opened in 1973 in Fortaleza, in the state of Ceará, became a new Arena in 2012, with the capacity to receive 63,900 fans. Its facade with a glass ‘skin’ to reflect the sun’s rays and a large terrace of 55,000 square meters stand out. The Arena has a modern penthouse with a translucent thermal-acoustic roof, which provides adequate ventilation and thermal comfort in addition to its beauty. This solution resulted in a lighter new look. However, inside, the previous stadium is recognized. In 2016 it will be the Northeast training center of the Olympics.
Arena Dunas The light color of the sand, the constant wind, the softness of the coastal topography and the idea of movement are represented in the Arena located in the city of Natal, Rio Grande do Norte, which is known for its dunes. The whole facade is made of 20 metal ‘petals’, which have been designed to be taller on one side than on the other of the stadium, suggesting the movement of sand dunes. This appearance is in dialogue with the image of the city and overcomes the climatic problems. Even if the external heat is intense, internally there is notable thermal comfort due to materials that prevent overheating and openings which provide cross ventilation. Opened in 2014, it replaced the old Machadão stadium and has the capacity for 42,000 people.
Arena Corinthians An imposing stadium, marked by innovation, quality, state-of-the-art technology and unique architecture, striving for sustainability. These are the characteristics of the Arena Corinthians, which has a capacity for to up to 68,000 people, built in the city of São Paulo, in the state of the same name. Opened in 2014, it hosted the opening match of
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Arena Fonte Nova David Campbell - Faquini - World Cup Portal Maracanã. Daniel Basil - Faquini - World Cup Portal Minas Arena. Renato Cobucci - Press - MG
Arena Fonte Nova
Besides the aesthetic factor, the pillars support the frame of the roof. With this shading and ventilation that permeates the vaults the internal temperature is reduced by up to 7 degrees. Around the Arena a 617,870 m² terrace which gives access to the different levels of bleachers through 19 gates and 158 turnstiles stands out.
The original project of the Fonte Nova stadium, which opened in 1951 in Salvador and reopened in 2013 served as a starting point for the reconstruction of the biggest stadium in the state of Bahia. Built with state-of-the-art technology, the current Fonte Nova has the capacity for 55,000 people and is in the shape of a horseshoe - a tribute to the fiftieth anniversary of the old stadium. It is also a technical resource for temperature control, from which good ventilation and a higher incidence of natural light are obtained. The opening resulting from its horseshoe shape allows the space to be used for shows without using the pitch or disassembling the stands. The Arena will receive football matches of the 2016 Olympic Games.
Maracanã The Maracanã Stadium in the city of Rio de Janeiro, in the state of the same name, has become an icon in Brazil as the biggest football temple, reflecting the nation’s passion for the sport. Due to having been listed by the IPHAN (Institute of Historical and Artistic Heritage), the renovation had limitations, but without losing its identity, it has been modernized to the level of the best arenas in the world. For such, having adaptations to the bleachers as its starting point, a project that changed the internal part more widely and then moved out to the external needs was developed. The stadium, which opened in 1950, when Brazil hosted the World Cup, and reopened in 2013, received a new roof. It has 17 elevators, 8 of which are panoramic. It has the capacity to receive 76,000 people, with seating in the colors blue, yellow and white. It is currently the most used arena after the World Cup in 2104. And in 2016 it will receive football matches of the Olympic Games.
National Stadium in Brasilia With capacity for up to 72,800 people, the National Stadium of Brasília, also known as Mané Garrincha, opened in 1974 and was completely torn down for its reopening in 2013. The building has a facade formed by a ‘forest of pillars’ comprising 288 pillars, which is a reference to the works of architect Oscar Niemeyer. Building an arena using the principles of Brazilian architecture was the solution found to enhance the technical and creative wealth of the country.
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Brasília National Stadium. Andre Borges - Press Department Arena Pantanal. José Medeiros Arena Pernambuco. Ana Araújo Faquini - World Cup Portal
Minas Arena (Mineirão)
of stands. Part of its stands can be disassembled, which allows its capacity to be reduced to 30,000 seats, allowing them to be used in other buildings. Standing out for its sustainability actions, its project included the implementation of a skate track, leisure areas and the planting of 2,500 trees nearby, in an aim for the space to be used for other purposes.
Opened in 1965 in Belo Horizonte, the state of Minas Gerais, the Minas Arena kept its original facade, which had already been listed by the Historical Heritage of Belo Horizonte. It became a multifunctional stadium, offering a large array of services for sports, culture and leisure. The bleachers, now for 64,000 people, received ergonomic seats. Its partially translucent roof won seven thousand photovoltaic panels, making it the biggest solar photovoltaic plant of its kind in Brazil. It produces energy that is equivalent to the consumption of 1,200 homes, which is injected into the public grid by a substation located inside the stadium. Reopened in 2012 as Minas Arena, it is part of a leisure compound and is widely used for shows, and it is the main stage for football matches in the state. It will be one of the arenas to receive football matches in the 2016 Olympic Games.
Arena Pernambuco Opened in 2013 in São Lourenço da Mata, in the state of Pernambuco, the arena seems to naturally rise from the ground. With the capacity for 46,000 fans, its roof was made in a metallic structure, the function of which is to provide a thermo acoustic comfort to the public, as well as to provide protection against the rain. Another ring of its roof, made in glass, prevents the formation of large shadowed areas on the pitch. It has two large screens of 77 m², and it also stands out because of its excellent sound system. The only arena to be built far from the city center, it was concerned with minimizing the negative impacts on the environment. It was conceived as the starting point for the implementation of a new community around it, the Cidade da Copa (World Cup City). The Arena Pernambuco has a strategic position in this compound, which implementation is about to begin.
Arena Pantanal The former Governador José Fragelli Stadium of Cuiabá, in the state of Mato Grosso, popularly known as the ‘Verdão’, opened in 1976 but was completely demolished, giving way to the Pantanal Arena, which opened in 2014, with the capacity for 44,000 people. The four corners of the Arena are not closed, giving way only to one continuous ring
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Parque Antarctica em 12/12/1920. Paulistano 1 x 0 Palestra Itália. Acervo Histórico do Centro Pró-Memória do Club Athletico Paulistano
DOS CAMPOS AOS ESTÁDIOS Paulo Cezar Alves Goulart
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O futebol chegou... ONDE E QUANDO ocorreram as primeiras partidas de futebol no
“Comerciantes, engenheiros de estradas de ferro, instaladores de linhas de telégrafo, estudantes ou educadores, marinheiros ou soldados, todos eram jogadores em potencial, fazendo demonstração em cidades portuárias (Hamburgo, Gênova, Rio de Janeiro, Buenos Aires), centros econômicos (Paris, Milão, Viena) ou qualquer outra área onde a modernidade se fazia sentir” (Agostino, 2002).
Brasil? Em que circunstância isso se deu?
A resposta exata a esses questionamentos é improvável. As dimensões continentais e a carência documental sobre os primórdios do futebol no Brasil fomentaram a ausência de sinais sobre quando e onde a bola rolou pela primeira vez em território brasileiro. A prática de jogar com uma bola utilizando pés, mãos e outras partes do corpo – uma invenção cujas várias possíveis origens se espalham por tempos e lugares – é registrada desde a Antiguidade e encontra raízes até na cultura local (entre os índios guaranis). Contudo, o modo de praticar o esporte e as regras que definiram o modelo moderno do futebol foram gradualmente forjados somente a partir do século XIX. É através da fundação da entidade inglesa Football Association, em 1863, que se estabeleceria como deveria ser praticado aquele novo esporte: football (Os Índios..., 2014).
Os modos de o futebol chegar ao Brasil se inserem nessa dinâmica comercial, militar, industrial, financeira e educacional, entre outras, promovida pelo capitalismo e imperialismo britânico do período. Sob qualquer circunstância, o certo é que o futebol atravessou o Atlântico, desde a Inglaterra, em inúmeras viagens de navio, e foi sendo trazido ao solo brasileiro por um time de disseminadores informais do esporte. De diversas origens, em diferentes datas, locais e oportunidades, esses disseminadores revelaram, ao longo da segunda metade do século XIX, um jogo até então totalmente desconhecido em quaisquer vilas e províncias brasileiras.
É desse tempo e da Inglaterra que se irradia o esporte, em distintas circunstâncias e através de diversos agentes, que replicaram aquilo que viram ser jogado em cidades britânicas, vindo a formar um lastro de países pelo mundo que adotaram o esporte, inclusive o Brasil.
Sem considerar as possíveis ilações relativas a uma rua em São Paulo denominada “Rua do Jogo da Bolla” (atual Benjamin Constant), citada em jornais de meados do século XIX, as mais recorrentes hipóteses sobre as manifestações pioneiras do esporte convergem, assim, para o papel de navegantes e marinheiros em suas passagens pelo litoral brasileiro.
A marinha de países europeus, especialmente da Inglaterra, em áureos períodos do “Império onde o sol nunca se põe”, transitava por inúmeros territórios ao redor do mundo. Nas paragens, marinheiros, em seus momentos de descanso, desciam dos navios para aproveitar o tempo no local. E, no meio da bagagem, levavam uma bola de capotão para uma diversão que eles denominavam football. Marinheiros e outros já aficionados:
Bola, bomba de ar, chuteiras e regras. Era o essencial do futebol atravessando o Atlântico para chegar ao Brasil durante o século XIX. Ball, air pump, football shoes and rules to play the game. It was the essence of football crossing the Atlantic to arrive in Brazil during the 19th century.
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A Inglaterra era, no século XIX, o principal centro irradiador do futebol. E de lá vinha também o apetrecho essencial: a bola de capotão. Ilustração: Marco Antônio Lane Valiengo
Nesse cenário, consta que marinheiros ingleses (e, posteriormente, franceses e holandeses) dedicavam-se ao esporte, desde 1864, nas ocasiões em que seus navios atracavam nos portos do país (Becker, 2010).
Evento efêmero, em que o registro tornava-se improvável – seja fotográfico, seja pela imprensa ou outra forma documental –, se verdadeiro, pode ter ocorrido em outras tantas situações e praias do litoral brasileiro. O futebol teria sido, assim, algo que aqui chegou de forma incidental, em que a ocasião ensejou sua prática.
Marinheiros de navios ingleses teriam estado em praias do Nordeste e, mais especificamente, em 1874, na praia da Glória, na Corte, província do Rio de Janeiro, jogando futebol. Tripulantes do navio inglês Crimeia teriam jogado futebol em Laranjeiras, em frente à residência imperial da Princesa Isabel, em 1878 (Becker, 2010).
Essa hipótese é reforçada pelo fato de esse modo de entretenimento dos marinheiros estar presente na história do futebol de inúmeros outros países: Gana, Portugal, Honduras, Croácia, Espanha, França, Uruguai – entre outros. Na Argentina, inclusive, a data comemorativa
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Abaixo, as praias brasileiras e áreas próximas se tornaram locais dos primeiros passos do futebol no país. Ilustração: Marco Antônio Lane Valiengo Página ao lado. O amor pelo foot-ball aprendido na Inglaterra é registrado em artigo sobre Henrique Oswald, assinado por Alfredo Camarate. Correio Paulistano, 10/6/1898. Arquivo Público do Estado de São Paulo Na Rua do Jogo da Bolla não se jogava futebol. O Compilador Paulistano, 24/11/1852. Arquivo Público do Estado de São Paulo O “jogo de bola” teria sido o mais remoto esporte a despertar o interesse do paulistano. A prática era designada “[...] pela, ou pelota, originária do País Basco, também chamado de jai-alai, frontón, paleta, cesta-punta e trinquete. Esse esporte causou furor na época, e os jogadores, chamados de pelotaris, abundavam. Qualquer parede era usada como frontis (parede para o arremesso de bola)” (Mills, 2005, p. 64).
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de origem do futebol no país, 1867, ano em que ocorreu a primeira partida, tem suas raízes na presença dos marinheiros ingleses que mantinham atividade comercial com Buenos Aires e Rosario. Assim, marinheiros teriam sido os responsáveis por trazerem espontaneamente o futebol para o Brasil, sem que tivessem deixado, no entanto, algo residual ou desdobramento do jogo praticado. Eram eventos pioneiros, todavia fugazes, sem continuidade. Era mais uma forma de entretenimento – tanto para praticantes quanto para eventuais curiosos – que se encerrava quando os marinheiros partiam (Becker, 2010). Além dos marinheiros, em suas passagens pelas cidades litorâneas, havia trabalhadores e técnicos ingleses que atuavam em diferentes segmentos em várias cidades do país. Funcionários da Leopoldina Railway e de bancos ingleses teriam disputado jogos de futebol, entre 1875 e 1876, na rua Paissandu, no bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro. O campo? Um capinzal que se espraiava pela rua (História do Futebol do Rio de Janeiro, 2012; Becker, 2010). Referências diversas ao esporte em seus primórdios no Brasil fazem parte de uma história ainda por ser mais bem investigada: em Petrópolis teria ocorrido, em 1882, uma partida de futebol com a participação de latino-americanos, segundo o jornal Correio da Noite (História do Futebol do Rio de Janeiro, 2012).
o esporte ali ocorreu. Para além dessa característica, nenhuma evidência de como seria esse campo: é muito provável que não houvesse dimensões, delimitação, áreas. Gol? Talvez dois elementos quaisquer (pedra, estaca ou galho fincado no chão, etc.) entre os quais a bola deveria ser chutada.
Partidas de futebol teriam sido jogadas, entre 1889 e 1890, na cidade de Santana do Livramento (RS). Funcionários ingleses da Amazon Steam Navigation Company Ltd., da Parah Gaz Company e da Western Telegraph teriam jogado futebol, em Belém, em 1890. E, da mesma forma, sócios do Club Esgryma, em Belém do Pará, em 1892.
E mais, era um esporte para poucos: basicamente para seus praticantes, naquele momento, e algum descuidado espectador que por ali estivesse passando...
Durante esse período, no entanto, fica evidente que o lugar do jogo de futebol era fortuito. Foi em praias e logradouros – ruas, praças, áreas abertas – que por apenas uma partida, ou algumas poucas,
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... aos poucos nos colégios SE OS MARINHEIROS, bem como técnicos e trabalhadores
Pública. Solicitou, em 1882, ao então deputado do Partido Liberal, Rui Barbosa, que emitisse um parecer. O jurista defendeu, entre outros pontos, que as escolas passassem a praticar exercícios ao ar livre.
ingleses, representaram, nos primórdios da história do futebol no Brasil, a realização de partidas eventuais em que a aplicação das regras definidas pela Football Association não pode ser comprovada, pois não se dispõe de correspondente documentação, a presença do esporte em colégios locais tem uma história mais consistente.
Uma das mais antigas referências sobre futebol em escolas vem do Colégio Paixão: “Gabriel Kopke Fróes (apud Paulo Ferreira) dizia que, em 1882, já se jogava futebol no Colégio Paixão, de Petrópolis (RJ).” (Becker, 2010)
Em dinâmica distinta da dos marinheiros que vinham e jogavam bola durante seu tempo de permanência em cidades litorâneas, o segundo momento desse período inicial do futebol, em que os colégios entram em cena, traz algo novo: a inserção do futebol nas escolas passou a ser resultante de um efetivo propósito pedagógico.
“Mister Alexandre”, um professor de inglês, teria se tornado o responsável pela introdução do esporte na escola.
Essa iniciativa, mais visível em escolas religiosas, deu-se de duas formas: 1) através da inserção do esporte a partir da iniciativa de educadores que em sua formação no continente europeu puderam vivenciar o esporte e aqui implantaram a modalidade; 2) em função de um processo de atualização pedagógica de educadores que viajaram, especialmente a partir do início da década de 1880, por países europeus em busca de soluções para atividades de recreação e de educação física dos alunos.
Em Nova Friburgo (RJ), teria sido praticado no Colégio Anchieta a partir de 1886 (Mércio apud Becker, 2010). O regulamento do Gymnasio Mineiro de 1891, ao tratar “Da disciplina escolar”, é claro: “Art. 77. São permittidos como jogos escolares: a barra, foot ball, a petéca, o jogo da bolla, o crichet, as corridas, saltos e outros que, a juízo do reitor, concorram para desenvolver a força e destreza dos alumnos, sem pôr em risco a sua saúde” (O Estado de Minas Geraes, Orgão Official, Ouro Preto, 16/7/1891).
Com os colégios entrando em campo, o futebol local passa a ter maior consistência: 1) as regras do futebol passaram a ser gradualmente incorporadas; 2) constituindo prática esportiva integrante do quadro de atividades da escola, sua continuidade ao longo dos anos se tornou mais efetiva. Dessa forma, as instituições de ensino incorporaram o futebol às atividades pedagógicas de forma planejada, continuada e com fins específicos para o ambiente escolar.
O esporte bretão consta do regulamento do Ginásio Nacional (atual D. Pedro II, RJ) em 1892 (Santos Neto apud Becker, 2010). Em colégio de frades capuchinhos, de Nova Friburgo, em 1893, jogava-se futebol (Loena apud Becker, 2010), assim como no Instituto Granbery de Juiz de Fora (MG). Nesse mesmo ano, foi inaugurado no Instituto o: “[…] Foot-ball and Tennis. O primeiro field Day realizou-se em 24 de junho de 1893, com saltos, corridas, indianclubs, tennis, football entre gregos e troianos” (Primeiro Livro de
A inserção do futebol nas escolas decorreu do contexto educacional no Brasil na última década do Império, quando o índice de analfabetismo era preocupante: 84%. O imperador D. Pedro II, visando criar perspectivas para mudança dessa situação, instituiu a Reforma do Ensino Primário e das Instituições Complementares de Instrução
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Pátio do Colégio São Luís, em Itu (SP), onde, a partir da década de 1880, os alunos aprenderam a jogar futebol. Foto de 1903. Acervo do Colégio São Luís
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Atas do Granbery apud Soares & Mororó, 2011; Toledo e DaCosta, 1999).
que se tornaria reitor do Colégio em 1879, mesmo ano em que, antecedendo a recomendação do deputado, empreenderia viagem ao continente europeu, trouxe em sua bagagem duas bolas de capotão – couro que revestia uma câmara de ar, posteriormente substituída, provisoriamente, por bexigas de boi. Ao longo da década de 1880, o futebol, a partir de suas características mais elementares, integrou as modalidades recreativas e esportivas oferecidas aos estudantes.
Também em colégios maristas do Rio Grande do Sul, o futebol fazia parte das atividades escolares (Baena apud Becker, 2010). E no Colégio São Vicente de Paula, em Petrópolis, o esporte é introduzido pelo padre Gonzales, em 1896.
Mas, nesse período, o futebol não era praticado com a formação de dois times nem havia regras. Havia, sim, unicamente, um “batebolão” nas paredes do pátio do Colégio – chutes na pelota em direção às muretas do pátio. Segundo Santos Neto (2002), “isso fazia parte de uma estratégia gradual de apresentação do esporte aos alunos”.
Contudo, entre os vários colégios que efetiva ou presumivelmente adotaram o futebol no meio escolar, o mais representativo foi, sem dúvida, o Colégio São Luís (SP). A instituição de ensino, antecipando-se às recomendações de 1882 de Rui Barbosa, enviou delegações ao velho continente (especialmente França, Alemanha e Inglaterra) para lá verificarem as novidades relativas aos exercícios físicos em outros colégios jesuítas. Descobriram e de lá trouxeram o futebol para o Colégio São Luís de Itu, destino de filhos da elite paulista. O padre José Mantero,
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Não havia competição, mas um exercício visando ao desenvolvimento físico dos alunos. Assim, as mais remotas notícias documentadas através dos anais do Colégio sobre os primórdios do futebol no Brasil apontam para o fato de que o pátio do Colégio São Luís, em Itu,
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Na página anterior, a mais antiga foto a registrar uma bola de futebol (1897). Acervo do Colégio São Luís Ao lado. O Gymnasio Mineiro, em 1891, torna-se pioneiro em divulgar o futebol em um regulamento escolar. O Estado de Minas Geraes, 16/7/1891. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil Aos poucos, o campo foi ganhando componentes como as traves. Colégio São Luís, início do século XX. Acervo do Colégio São Luís
Alunos jogavam bola nos pátios dos colégios, transformados em nossos primeiros campos de futebol (déc. 1880). Students played ball in the years of the schools, transformed into our first football pitches (1880’s).
foi nosso primeiro campo onde foi se desenvolvendo regularmente o futebol. O esporte ainda era jogado com características bastante simplificadas, mas que foram progressivamente modificadas.
Estava se delineando, dessa forma, o campo de futebol. Havia um lugar para praticá-lo com elementos imprescindíveis: traves e delimitação do campo.
Ainda na década de 1880, foram introduzidas duas marcas em paredes opostas do pátio, correspondentes provavelmente ao que viriam a ser as traves, sendo formados dois times: um de camisas verdes, outro de camisas vermelhas. E, então, à prática foi instituído um objetivo claro, palpável: cada time deveria fazer a bola chegar até a parede da equipe adversária, entre as duas marcas, a fim de “lavrar um tento”.
Os estudantes do Colégio São Luís, ao se formarem, retornavam aos seus locais de origem, ou mesmo em direção a outras cidades e estados, tornando-se, vários deles, divulgadores da modalidade. Assim, diversas localidades do Brasil passaram a conhecer, por meio de estudantes oriundos do São Luís e de outros colégios, locais ou do exterior, o então desconhecido futebol. Esse fato coincidiu com um cenário social e econômico mais estrutural no país: o crescimento do movimento imigratório e expansão das ferrovias, que passaram a constituir mecanismos complementares de difusão do esporte (Santos Neto, 2002; Goulart, 2014).
Em 1894, ano em que Charles Miller (o nome mais expressivo na difusão do futebol local) retorna ao Brasil, novo reitor assume o Colégio São Luís: o padre espanhol Luiz Yabar. Com ele, são formadas equipes com 11 jogadores dentre os alunos do Colégio, as marcas na parede são substituídas por um par de traves e o campo é definido, demarcando-se o perímetro em que o jogo deveria ocorrer.
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A primeira planta de um ground OS PÁTIOS das escolas se tornaram a primeira versão de lugar
O grupo mais ativo na irradiação informal do futebol pelo país era formado por técnicos e trabalhadores ingleses atuantes na construção de ferrovias e, posteriormente, por ferroviários em geral. Desde a década de 1880 até a primeira metade do século XX, os ferroviários formariam uma extensa malha de iniciativas, levando pelos trilhos o futebol, artigos para o jogo, propósito de preparar campos para sua prática além de fundar clubes. Na esteira da expansão ferroviária, se dá a multiplicação do futebol.
específico e relativamente duradouro para se jogar futebol. Ainda que esse espaço precisasse abrigar simultaneamente, durante alguns anos, outras atividades recreativas e esportivas, o futebol passava a dispor de local próprio para ser jogado: os pátios, nas mais diversas dimensões, especialmente durante o horário do recreio escolar. Entre as décadas de 1880 e 1890 essa situação prevaleceu em escolas, apesar de as dimensões do campo já estarem definidas oficialmente (no máximo, 183 m por 91 m) pela Football Association. Nem toda escola dispunha de área destinada somente ao futebol, nem tinha isso como prioridade. As experiências que vinham ocorrendo com o futebol apontavam para um fato: o esporte, ainda em gestação no país, começava a gerar um ambiente propício para sua incipiente porém gradual aceitação, de modo mais perceptível ainda dentro do espaço escolar. Até então jogado em locais transitórios ou inapropriados, o futebol conquista certo status quando ganha um lugar previamente definido na planta de uma vila que estava por ser construída.
A contribuição dos que trabalhavam na construção de ferrovias à expansão do futebol foi muito maior do que a de qualquer outro segmento no Brasil. A referência mais antiga remete a 1882, ano em que, em Jundiaí (SP), houve a primeira partida entre ferroviários da companhia SPR – São Paulo Railway Company: de um lado, os brasileiros, e, de outro, os ingleses (Buchmann, 2002; Nascimento, 2013).
Ali, naquele lugar indicado na planta, seria o local destinado para se jogar bola. E o futebol conheceu o primeiro local previamente definido para sua prática (1895) That place indicated in the village plan was the first one to be previously defined as a place to play ball (1895)
Mais antigo documento a constar um campo de futebol. Planta de Estudos Preliminares da Vila Martin Smith (déc. 1890) Paulo Augusto Mendes
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“Estive recentemente em Paranapiacaba para fotografar o campo e fiquei surpreso em ver que, apesar do mato alto do lado de fora, ele ainda está lá firme e forte, com mais de 115 anos, na mesma posição original da planta da Vila” (Paulo Mendes Campos, por email em 8 de janeiro de 2015)
O início desse processo de implantação de uma rede ferroviária se dá em 1856, quando um decreto imperial confere uma concessão para a construção de uma ferrovia ligando Santos a Jundiaí (SP). Sua inauguração ocorre em 1867, constituindo uma das inúmeras iniciativas associadas à presença de empresas inglesas no país, e um dos pilares do desenvolvimento ferroviário no Brasil. Afinal, estava se tornando imprescindível uma estrutura para escoamento da produção em que o Porto de Santos era o destino final do café proveniente das regiões da província paulista. E, alinhando-se nessa dinâmica, o emergente processo de industrialização beneficiava-se dessa expansão ferroviária.
Os idealizadores da Vila Martin Smith, alinhados a uma então recente tradição de ingleses representarem a principal comunidade praticante do futebol no país, durante a elaboração da planta destinaram uma área para os trabalhadores da empresa poderem se dedicar ao seu esporte favorito: o football. Era o primeiro registro em papel de um campo de futebol: uma área delimitada e, em seu centro, a inscrição Foot Ball Ground. Não se sabe ao certo quando o campo foi inaugurado. Presume-se que tenha sido em data próxima à passagem do século. A inserção de uma área destinada a campo de futebol denota a assunção, por parte de seus idealizadores, de que a modalidade era parte integrante de um projeto comunitário em que essa solução de lazer era conhecida e almejada. Para estar inserida no projeto urbanístico da vila, pode-se presumir que o futebol já era praticado entre os ferroviários e tinha sua importância no dia a dia da comunidade, especialmente dos técnicos e ferroviários de Paranapiacaba.
Ponto estratégico no percurso Santos-Jundiaí, Paranapiacaba, ou Vila Inglesa, era uma das diversas obras ferroviárias em que ingleses tinham presença destacada e primordial. O desafio da empreitada: transpor centenas de metros de desnível entre o planalto paulista e o nível do mar (Santos). Foi aí que Paranapiacaba, núcleo catalisador da logística dessa operação, viu nascer o primeiro projeto de implantação de um campo de futebol no Brasil. A mais antiga referência a campo de futebol no espaço urbano consta de uma Planta de Estudos Preliminares da Vila Martin Smith, que viria a ser conhecida como Vila Nova, em Paranapiacaba. Elaborada na década de 1890 para ser ocupada pelos funcionários da São Paulo Railway, começou a ser construída em 1895, durante as obras de duplicação da ferrovia.
Nascia o campo de futebol. Só faltava ser praticado conforme as regras oficiais da Football Association.
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Os bois foram enxotados do capinzal. E aí se jogou a primeira partida oficial de futebol (1895) The oxen was driven off the grass! And there the first official football match was played (1895).
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Que joguinho bom! ENTRE AQUELES que trabalhavam na São Paulo Railway, um
um par de chuteiras e uma bomba de ar – apetrechos suficientes para causar uma mudança radical na história dos esportes na capital paulista e no país.
teria destaque especial: Charles William Miller, funcionário da empresa entre 1895 e 1899. Porém, sua singularidade para o futebol brasileiro começou um pouco antes, em 1894, quando retornou a São Paulo após um período de estudos na Inglaterra.
Em São Paulo encontra um ambiente favorável para divulgar o novo esporte. Afinal, desde a chegada de funcionários da SPR, modalidades esportivas tornaram-se conhecidas, especialmente o críquete, a partir da década de 1870. O críquete levaria à fundação, no dia 13 de maio de 1888, mesma data da assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, do SPAC – São Paulo Athletic Club, um clube social e esportivo composto basicamente por funcionários britânicos residentes em São Paulo.
Filho de um escocês, que veio trabalhar na SPR, e uma brasileira com ascendência inglesa, nasceu em 24 de novembro de 1874. Aos 10 anos parte para a Inglaterra para completar seus estudos, em Southampton. Para além dos estudos, seu interesse voltou-se para o futebol jogado na escola. Interesse que foi acompanhado por seu desempenho no esporte. Tanto que, ao assistir a um jogo em que Miller atuava, em 18 de abril de 1892, um professor comentou: “Temos aqui na escola vários bons garotos que levam jeito para o futebol, especialmente um [chamado Charles Miller], que veio do Brasil e parece ter nascido para esse jogo” (Mills, 2005, p. 37).
No mesmo ano em que retorna, Charles Miller associa-se ao SPAC. E aí tinha um objetivo claro: difundir o futebol. Não demorou muito para que conseguisse seu primeiro resultado: no dia 14 de abril de 1895 reúne amigos para disputarem uma partida de futebol. E o local? Várzea do Carmo. O campo ficava não muito distante do local onde Charles Miller trabalhava na SPR, o almoxarifado de carga da empresa no Pari, e onde ele tinha nascido em 1874. “Realizamos o primeiro ensaio em terras brasileiras no ano de 1895, precisamente na Várzea do Carmo, nas proximidades
Esse entusiasmo pelo futebol ficou patente no seu retorno ao Brasil, em outubro de 1894. As principais lembranças que ele trouxe em sua bagagem pelo período em que passou na escola foram: um livro de regras da Football Association, duas camisas, duas bolas de capotão,
Na página ao lado, Planta da Cidade de São Paulo em 1890, com indicação da região onde ocorreu a primeira partida de futebol promovida por Charles Miller, a partir de informação de John R. Mills. Arquivo Público do Estado de São Paulo Na foto ao lado, Charles Miller em 1905. J. R. Mills/Acervo Clube Atlético São Paulo – SPAC
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da rua do Gasômetro e da rua Santa Rosa. Para isso reuni um grupo de britânicos da Companhia de Gás [The Gas Works Team], London Bank e São Paulo Railway [The São Paulo Railway Team]. [...] Ao chegar ao capinzal, a primeira tarefa que realizamos foi enxotar os bois da Cia. Viação Paulista, que tosavam a relva pacificamente. [...] A exclamação geral dos que tinham disputado esse jogo histórico [...] foi esta: ‘Que ótimo esporte, que joguinho bom’ ” (depoimento de Charles Miller ao jornalista Thomaz Mazzoni apud Mills, 2005, p. 74).
No início, a busca por novos interessados estava focada na elite esportiva da cidade. Porém, o interesse despertado pela nova modalidade ia mobilizando distintos públicos.
A várzea, área que recebeu esse “primeiro ensaio”, iria se tornar – especialmente ao longo do rio Tietê – um dos palcos intensamente utilizados para se jogar futebol no início do século XX.
Por outro lado, o trabalho de divulgação do futebol que Charles Miller vinha realizando mostrava resultados. Em 1898, dia 18 de agosto, é fundada a Associação Atlética Mackenzie College, primeira criada por brasileiros: Belfort Duarte, José Sampaio, Carlos da Silveira, Augusto Shaw e outros. O Hans Nobiling Team, fundado também em 1898, e o SPAC disputam o primeiro jogo interclubes em 1899. Em outra partida entre ambos, em 29 de junho de 1899, um recorde de público: sessenta pessoas. Os torcedores entram em cena. Nesse ano, são fundados: o Sport Club Internacional, que teve um rápido crescimento por não ter restrições a sócios, e o Sport Club Germânia (atual Esporte Clube Pinheiros), cujos campos ficavam, respectivamente, na Chácara Dulley e Chácara Witte.
De um lado, garotos e adultos, presenciando britânicos correrem atrás de uma bola, passaram a imitar aqueles movimentos cujo objetivo era fazer a bola chegar entre duas pedras distantes até quatro metros entre si. O campo de futebol era improvisado em ruas, quintais, terrenos baldios.
Após esse jogo inicial, o primeiro a aplicar as regras oficiais da Football Association, com a vitória da SPR por 4 a 2, os associados do SPAC passaram a apreciar cada vez mais o esporte. E, paralelamente, a assistência foi aumentando. Juntamente com outros companheiros, Charles Miller reservava sábados e feriados para treinos e amistosos. Ano seguinte, os jogos já eram disputados na Chácara Dulley, onde foi preparado um campo especialmente para o novo esporte. Charles Miller empenhou-se para difundir o futebol nos clubes e nas equipes de críquete – funcionários da Cia. de Gás, do Banco de Londres e da São Paulo Railway –, conseguindo uma rápida aceitação.
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As formas embrionárias de organização de times para disputarem jogos de futebol entre si vieram através desses
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No Rio de Janeiro começavam a se formar clubes de regatas, que posteriormente implantariam o futebol. Assim, em 1894, surge o Club de Regatas Botafogo, voltado apenas para o remo. Ano seguinte, 1895, é fundado o Clube de Regatas Flamengo, clube poliesportivo; três anos depois, em 1898, o Club de Regatas Vasco da Gama, por um grupo de remadores. A notícia mais remota sobre futebol referese, no entanto, à Fábrica Bangu, no ano de 1894, onde o esporte foi introduzido pelo escocês Thomas Donohoe. É no Rio Grande do Sul, porém, que surge a primeira agremiação a fazer o registro como clube de futebol no país: o Sport Clube Rio Grande, em 1900, dia 19 de julho. Essa data foi escolhida pela CBF como o Dia do Futebol, em homenagem ao clube, atualmente o mais antigo em atividade no Brasil. As partidas de futebol do Sport já ocorriam desde 1898 na rua, passando posteriormente para onde ficavam as oficinas da Viação Férrea.
clubes, cujos amistosos ocorrem entre 1899 e 1900. Enquanto isso, apostando no crescimento do esporte, o SPAC arrenda um terreno na rua da Consolação pertencente a Dona Veridiana Prado. Nivelado, o lugar está pronto para receber um campo de futebol.
E a Associação Atlética Ponte Preta (SP) surge logo depois, 11 de agosto de 1900, o primeiro time de futebol a ser formado por brancos, negros e mulatos – num momento em que grassavam teorias raciais sobre a superioridade branca. Introduzindo o futebol em 1899 em Campinas, bairro da Ponte Preta, Thomaz Scott, engenheiro ferroviário escocês naturalizado brasileiro, trouxe bolas da Escócia e começou a divulgar o esporte entre jovens e meninos do bairro. Com o apoio de famílias, o grupo começou a preparar um campo em chácara que pertencia ao Capitão João Vieira da Silva.
Além de responsável por trazer o esporte a São Paulo, ser seu principal dinamizador, ter atuado como jogador (inclusive goleiro), juiz, integrante da Liga Paulista de Futebol etc., o talento de Charles fez surgir, em 1902, uma jogada que acabaria incorporando parte de seu nome: chaleira – uma das mais antigas jogadas características do futebol.
Em 1900 nasce o Sport Club Savoia, em Sorocaba.
É importante ressaltar que por determinado período, desde seus primórdios no Brasil, o futebol esteve restrito à elite, tanto de São Paulo quanto do Rio de Janeiro e outros estados. Justificava-se: foi introduzido predominantemente por ingleses ou alunos de famílias abastadas que estudaram na Inglaterra. Além disso, havia a questão da compra de todo material, que deveria ser importado da Europa.
Na página anterior, Chácara Dulley, cerca de 1896. Do lado direito da foto, após a cerca, ficava o primeiro campo em que se jogou regularmente o futebol. J. R. Mills/Acervo Clube Atlético São Paulo – SPAC
Se na cidade de São Paulo o futebol começava a dar sinais de expansão, ainda que numericamente bastante discreta, outras cidades iam também revelando, no mesmo período, o surgimento autóctone do esporte decorrente, inclusive, de uma precária articulação entre as capitais e principais cidades nessa primeira década da República.
Foto presumivelmente mais antiga de um jogo de futebol no Brasil. “Pateo do Bom Retiro”, em partida entre o Internacional e o Germânia, 1899 (SP).
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Archibancadas UM DOS PRIMEIROS esportes preferidos do paulistano, a pelota –
O Club Athletico Paulistano, agremiação aristocrática idealizada por Antonio Prado Junior e outros, fundada em 29 de dezembro de 1900, originalmente destinava-se a várias modalidades esportivas, com ênfase no futebol. Não dispondo de campo para a disputa dos jogos, aluga o Velódromo.
jogo em que a bola era arremessada em direção à parede – viria a dar lugar à predileção pelo ciclismo. Porém, nas décadas finais do século XIX, as ruas da cidade eram feitas de macadame, mais apropriado para meios de transporte como tílburis, charretes, carroças e bondes puxados a burro.
Quando o Paulistano assume o local, partidas de futebol já eram aí disputadas. Um dos mais antigos registros em jornais informa que Internacional e Germânia, em meados de 1900, iriam jogar no intervalo de uma competição ciclística.
Não havia ainda um lugar adequado para o ciclismo. Até que Dona Veridiana Prado, destacada personalidade da elite paulistana, decide construir, em 1892, um local próprio para a modalidade, a partir de projeto desenvolvido em 1886 por Tommaso Gaudencio Bezzi, também autor do projeto do Museu do Ipiranga. Construído por Giuseppe Valori no início da rua da Consolação, o Velódromo, cuja capacidade era de 800 pessoas, tornou-se a primeira praça destinada aos esportes em São Paulo. Os espectadores já podiam contar com um lugar seguro e confortável de onde acompanhariam as disputas entre ciclistas. Dez anos depois, teria um papel fundamental para o futebol paulistano (Cavalcante, 2008).
O Paulistano passou a fazer aí seus primeiros treinos. Consta que o clube teria começado com algo bem improvisado: cal e barbantes seriam os responsáveis pela demarcação do campo. Mas pouco demorou para que essas características precárias mudassem. Com a sede esportiva do Paulistano instalada no local, o Velódromo passou por modificações e adaptações em 1901. O centro da pista de ciclismo, um jardim, dá lugar a um gramado, transformado em campo de futebol. A arquibancada é ampliada para comportar duas mil pessoas, além de dispor de tribunas para que as famílias tradicionais assistissem aos jogos. Dois mil lugares: o futebol dava sinais de ser um forte motivador para o paulistano ir ao Velódromo. E mais: sinal de que os esportes individualizados, associados a apostas, estavam dando lugar às pugnas entre equipes cujo mérito dos atletas seria o destaque.
Em pista de terra, numa extensão de 380 metros, mais de 30 ciclistas participaram da primeira prova, que ocorreu em 1895. A partir desse ano, competições começam a ser promovidas no local pelo Veloce Clube Olimpic Paulista. Reformado em 1896, ganha pista de cimento armado, por iniciativa do conselheiro Antonio Prado. Novas provas vão se sucedendo (Primeiro Clube de Ciclismo..., 2014). Com suas bicicletas importadas, que faziam o trajeto entre Campos Elíseos e o Velódromo, membros da elite paulistana promoviam passeios. E o ponto de encontro para acompanhar as corridas era o Velódromo.
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O local iria se tornar, assim, ponto de reunião, um espaço de sociabilidade para integrantes da sociedade paulistana, especialmente nos dias de jogos de futebol. Tornava-se o primeiro campo de futebol no Brasil dotado de arquibancada específica para se assistir às
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Cartão-postal de 1896, reproduzindo o Velódromo Paulista, que iria se transformar no primeiro campo de futebol dotado de arquibancada, em 1901. João Streapco Cego é aquele que só vê a bola - Edusp
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disputas entre os clubes. O Velódromo seria também um símbolo da passagem do ciclismo para o futebol na preferência dos paulistanos, em um período em que havia um intenso desenvolvimento dos esportes, dentro de um processo de modernização de ideias e de costumes no contexto da vida urbana.
Homens e mulheres da elite paulistana assistem da arquibancada à mais nova atração dos intervalos das disputas ciclísticas: um jogo chamado foot-ball (1900). Men and women of the São Paulo elite watch the new attraction from the stands in the break of the cycling races: a game called foot-ball (1900).
Apesar da importância que o Velódromo teria para o futebol paulistano, os dois jogos mais importantes desse início do século XX seriam disputados no campo do SPAC. Pela primeira vez paulistas e cariocas se enfrentam, representados por dois combinados: o São Paulo Team e o Rio Scratch Team. O desconhecimento mútuo da realidade dos campos de futebol ensejou situações peculiares. Durante as tratativas para a vinda da seleção carioca, Oscar Alfredo Cox, um dos fundadores do Fluminense, através de uma carta, questiona René Vanorden “se os cariocas deveriam levar para São Paulo as barras, ou as traves para gol, com as respectivas redes” (Mills, 2005, p. 100). A partida – sem que fosse necessário aceitar a oferta carioca – ocorre dia 19 de outubro de 1901. Nas arquibancadas, o grande número de interessados em assistir à partida já indicava um horizonte promissor para o esporte. O primeiro jogo, iniciado às 4h55 da manhã, terminou empatado: 2 a 2. No dia seguinte, novo empate: 1 x 1. Após o segundo jogo, durante a confraternização entre as equipes, Vanorden pergunta, então, aos cariocas se “seria necessário levar um campo ao Rio de Janeiro para o jogo seguinte” (Mills, 2005, p. 102). Esse pioneirismo do SPAC não tirou o brilho do Velódromo cujo campo receberia a maioria dos jogos do primeiro Campeonato Paulista de Futebol e a primeira final de campeonato, dia 3 de maio de 1902, quando o SPAC venceu o Paulistano por 2 a 1, gols de Miller. Outros jogos históricos ali ocorrem: em 1903, o Fluminense realiza as primeiras partidas interestaduais, contra o Internacional (0 a 0), vence o Paulistano (2 a 1) e, por 3 a 0, o SPAC. O público paulistano acompanha a primeira partida internacional no país, em 31 de julho de 1906, quando a Seleção Paulista perdeu por 6 a 0 para a Seleção da África do Sul. E foi onde cinco operários viram o Corinthian-
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Página anterior. O futebol, quando era jogado no intervalo entre duas competições ciclísticas, conforme notícia da Seção Sportiva do Correio Paulistano, de 3/6/1900. Arquivo Público do Estado de São Paulo Charles Miller, ao centro, em jogo no campo do SPAC, em 1901, entre paulistas e cariocas. J. R. Mills. Acervo Clube Atlético São Paulo – SPAC Ao lado, Velódromo constante da Planta Geral da Capital de São Paulo, 1897. Arquivo Público do Estado de São Paulo Arquibancada do Velódromo, 1902. Acervo Histórico do Centro Pró-Memória do Club Athletico Paulistano Equipes do Fluminense, Mackenzie, Internacional, Paulistano, SPAC e Germânia que realizaram um torneio interestadual em 1905 no campo do Velódromo. Arquivo Hugo Maroni Corrêa
Casuals Football Club da Inglaterra vencer a Associação Atlética das Palmeiras. Após o jogo, saíram do campo determinados a fundar um novo clube ao qual deram o nome de Corinthians. O projeto arquitetônico do Velódromo contemplava uma construção destinada à acomodação de assistentes do evento. A arquibancada (também denominada pavilhão) era formada por uma única estrutura, em madeira, com variável número de degraus, dotada de cobertura de toda a área construída. Posicionada ao lado de uma das laterais do campo, sua extensão era menor do que a lateral. Nesse período, atrás dos gols e no lado oposto à arquibancada, a maioria da assistência permanecia em pé durante a partida. Nessa mudança pela qual havia passado o Velódromo revelava-se uma solução embrionária dos futuros estádios, constituindo, ao mesmo tempo, o único padrão de arquibancada, com eventuais variações, utilizado em outros campos de futebol durante as duas primeiras décadas. Porém, manteve-se como um modelo bastante comum durante largo período. Assim, inúmeros outros clubes mantiveram a mesma concepção de arquibancada nas mais diferentes cidades do país. Nesse início de século, conforto (poder assistir ao jogo sentado), proteção e visibilidade eram privilégios restritos a um público composto primordialmente pela elite local (Gambeta, 2013).
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E surge o ingresso para poder se assistir às partidas de futebol (1902). And the ticket to watch the football matches appears (1902).
Planta de um campo de futebol, reproduzida no Guia de Football de 1906. Edições Ludens/Attar Editorial. Acervo Biblioteca Mario de Andrade
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Ligas, campeonatos e ingressos A CIDADE DE SÃO PAULO contava, no final de 1900, com cinco
amadora, passaria a ser conduzido como um negócio pelos clubes, já que geraria receita.
clubes de futebol: SPAC, Mackenzie, Internacional, Germânia e o mais recente, Paulistano. As disputas de partidas entre essas equipes, até 1901, davam-se sob a forma de amistosos. Até então não havia um mecanismo de aproximação entre os clubes locais que organizasse os jogos de um modo mais estruturado e que tivesse como horizonte a conquista de um título, a disputa por um prêmio.
Dois mil réis era o valor a ser cobrado pela Liga para o ingresso aos campos de futebol para se assistir a cada jogo. Da receita auferida, o clube ficaria com cinquenta por cento, e a Liga, com os outros cinquenta por cento. Os estatutos da Liga são aprovados, e Antônio Casemiro da Costa introduz outra novidade: idealiza a entrega de uma taça, que levava seu nome, ao clube vencedor do primeiro Campeonato Paulista.
É aí que surge a figura central de Antônio Casemiro da Costa. Ao lado de Charles Miller e Hans Nobiling, formaria a base para a organização do futebol paulista. Tendo realizado seus estudos na Europa, no colégio La Chatelaine, Suíça, destacou-se também como jogador e pôde tomar contato com o modo de organização do futebol nos países europeus. Essa questão tanto o interessou que ao retornar a São Paulo, em 1900, trouxe consigo uma cópia dos estatutos da Liga Helvética.
No dia 3 de maio de 1902, às 15h, acontece o primeiro jogo do Campeonato no campo do Parque Antarctica. Com a Liga, as disputas de futebol passam a ter um calendário, datas prévias em que os jogos seriam disputados. E como as partidas tinham como objetivo primordial uma equipe tornar-se campeã, com a consequente conquista do troféu, isso incentivou não só os competidores mas também a presença de associados, simpatizantes, curiosos, etc. – enfim, todo aquele aglomerado de pessoas que iriam se transformar, em pouco tempo, em torcedores. Nessa época, o acesso ao campo, inclusive em função do custo do ingresso – 2$000 (dois mil réis) –, estava relativamente restrito aos associados e à elite paulistana. Era uma forma de impedir ou restringir o acesso tanto daqueles que não pertenciam ao círculo dos clubes quanto das camadas socialmente mais simples da população.
Associou-se ao Internacional e, com o propósito de promover uma aproximação com as demais equipes, começou a ter uma participação ativa no meio futebolístico paulistano. Seu objetivo principal: fundar uma liga nos moldes das que existiam na Europa, de modo a realizar torneios e campeonatos. A primeira reunião com os dirigentes para discutir o assunto ocorre em 13 de dezembro de 1901. Em nova reunião, no dia seguinte, ficou definida a fundação da Liga Paulista de Football, a primeira do país. Começava a se organizar o primeiro campeonato de futebol. A diretoria da nova Liga ficou assim composta: presidente, Antônio Casemiro da Costa; vice-presidente, Hans Nobiling; secretário, Arthur Ravache; tesoureiro, Tancredo do Amaral.
A receita decorrente do ingresso cobrado para os jogos dos integrantes da Liga – uma novidade para os clubes –, que reforçava o caixa, poderia ser ampliada aumentando-se a capacidade de público pagante no campo de futebol. É nessa perspectiva que as arquibancadas poderiam desempenhar um papel financeiro relevante. Quanto maior o número de pessoas que pudessem ficar acomodadas para assistir aos jogos – afinal de contas, aí poderiam ficar sentadas, protegidas do sol e da chuva, com grupos passíveis de
Para o funcionamento da Liga, qual seria a fonte de receita? Antônio Casemiro da Costa, tendo acompanhado de perto as ligas europeias, apresentou sua proposta: os recursos viriam da instituição da cobrança de ingresso, ou seja, da renda dos jogos – até então o acesso aos jogos era gratuito. O futebol, apesar da condição de prática
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ficarem mais próximos uns dos outros devido à pequena distância entre os degraus –, maior a receita.
Abaixo, nota sobre o primeiro jogo do I Campeonato da Liga Paulista. Correio Paulistano, 2/5/1902. Arquivo Público do Estado de São Paulo
A cobrança do ingresso foi um “pulo do gato” que desencadeou uma série de questões na trajetória do futebol paulista e brasileiro.
Ingresso da partida entre Vitória e Santos Dumont, em 1907, no campo da Graça (BA) Arquivo Haroldo Maia - Sudesb Na página seguinte, o desempate da Taça “Casemiro Leite”, em 1904, entre o SPAC e o Paulistano, disputado no Velódromo. Um gol feito por Ibanez Salles, do Paulistano, anulado pelo juiz. Arquivo Histórico do Centro Pró-Memória do Club Athletico Paulistano
Nesse primeiro Campeonato, ocorrido entre maio e outubro de 1902, de modo a se evitar o calor, as partidas foram disputadas em três locais: campo do Parque Antarctica, de propriedade da Cia. Cervejaria Antarctica Paulista, oficializado junto à Liga Paulista de Football como campo do Germânia; o campo do SPAC, na rua da Consolação; e o Velódromo, do Paulistano. Cada equipe disputou oito jogos (turno e returno). O Parque Antarctica, criado no final do século XIX, era destinado aos funcionários da fábrica. Uma ampla área de lazer, com 300 mil m², lago, bosques, coreto, parque infantil, restaurantes. E também pistas de atletismo, quadra de tênis e campo de futebol – um dos mais antigos da cidade. Para o Campeonato, as equipes foram identificadas pela cor do uniforme: SPAC (com uniforme azul e branco), Paulistano (uniforme branco e vermelho), Germânia (azul e preto), Mackenzie (vermelho e branco) e Internacional (vermelho e preto) iriam jogar entre si. John Mills (2005, p. 108), em seu livro Charles Miller: o pai do futebol brasileiro, registra aspectos da dinâmica do público que presenciava os jogos: “Plateias vibrantes e entusiasmadas compareceram para assistir a todos os jogos realizados nos três campos oficiais [...]. Sempre em número crescente, o público era formado, em boa parte, por senhoras e senhoritas que, com suas belas toilettes, a maioria importada de Paris, enfeitavam as tribunas. Os homens ostentavam elegantes chapéus-coco e palheta. E todos viajavam de tílburis até os campos de jogo. Foi nesse tempo que surgiu o primeiro canto de guerra dos torcedores, uma iniciativa dos seguidores do Paulistano – Aleguá, aleguá!”. O SPAC, time de Charles Miller, autor de 10 gols, conquistou o primeiro campeonato, com uma vitória de 2 a 1 sobre o Paulistano. Longo artigo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo, de 27 de outubro de 1902, descreve o clima do jogo final:
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“A concorrência, como prevíamos, foi extraordinária, podendo-se calcular em quatro mil pessoas que enthusiasticamente não se cansaram de applaudir os temíveis jogadores. As gentis senhoritas, que davam a festa o máximo encanto, mostravam-se visivelmente comovidas quando a bola se approximava de qualquer goal, comoção que se traduzia em estrondosos applausos a ser a bola bem rebatida. As elegantes archibancadas tremiam sob o barulho que faziam os innúmeros espectadores”. Para os organizadores e participantes do Campeonato, era sobre o público que recaíam as maiores expectativas: ele seria a medida do sucesso da competição. Efetivamente, o futebol atraía e causava, cada vez mais, entusiasmo na elite paulistana.
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Instituída na capital paulista a cobrança de ingressos para os jogos de futebol entre os clubes, a solução passa a ser adotada – em distintos momentos – em outros estados. Seja pela comunicação entre clubes ou organizações, por acompanhamento das informações que chegavam do exterior, seja por um desenvolvimento inevitável das relações entre clubes e o meio em que se inseriam, a instituição de pagamento para presenciar jogos ganha adesões, ainda que de forma descontinuada e pulverizada no território nacional, porém de modo irreversível. Estava nascendo, dentro do contexto que iria torná-lo a “paixão nacional”, um importante vetor da futura indústria do entretenimento, com diferentes impactos na relação dos agentes do futebol com outros segmentos da sociedade. Assim, a necessidade de o futebol organizar-se nas cidades ou em regiões, para além de uma sequência de jogos amistosos, ia se tornando evidente. Ligas de futebol vão surgindo nessa primeira década.
Acima, à esquerda. O transporte através de bonds já fazia parte da rotina do torcedor. Guia de Football de 1906. Edições Ludens/Attar Editorial. Acervo Biblioteca Mário de Andrade Na foto ao lado, em outubro de 1902, na Estação da Luz, jogadores paulistanos despedem-se dos cariocas. J. R. Mills. Acervo Clube Atlético São Paulo – SPAC
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Fundada por quatro clubes, de 1904 é a Liga Bahiana de Sports Terrestres. No Rio Grande do Sul, a Liga Pelotense de Futebol, fundada em 1907, é a primeira do estado; em 1910 organiza-se o Campeonato Citadino de Porto Alegre.
para dar exposição ao esporte (futebol), seu agente (o clube), seus praticantes (os jogadores) e à atividade (afinal, era um negócio). Paradoxalmente, esse movimento ensejava uma ampliação do público potencial – que estava para bem além dos círculos restritos da elite.
A fundação de ligas teria como uma das consequências, imediatas ou não, a cobrança de ingressos. Mas alguns clubes se antecipavam a essa forma de organização para estabelecer a cobrança. É o caso do Fluminense. Para o jogo que seria realizado contra o Paulistano, no dia 14 de agosto de 1904, foi construída, em madeira, uma discreta arquibancada. Era o primeiro jogo interestadual do clube, o qual iria inaugurar a nova praça de esportes. Pela primeira vez em território carioca, seriam cobrados ingressos para se assistir a uma partida. Vendidos a 2$000, “foram 806 cartões passados pelos sócios e 190 entradas vendidas a não sócios na bilheteria, [...] uma renda apurada de 1:992$000” (Fluminense..., 2009).
O futebol começava a formar um discreto universo de questões que iriam permear a criação de clubes e alavancar o desenvolvimento do esporte em cada localidade em que se instalava.
Mesmo com a cobrança, houve, para a época, uma expressiva adesão do público. O sucesso dos jogos se tornou uma alavanca para que novos clubes cariocas fossem criados a partir de 1904. Dois anos depois, realiza-se o primeiro campeonato carioca de futebol (Jesus, 1998). Na Bahia, ingressos passam a ser cobrados a partir de 1907. O Grêmio de Foot-Ball Porto-Alegrense, um ano após inaugurar seu campo, em 1904, cerca o terreno, instala dois portões e passa a vender ingressos para os jogos. Ligas, campeonatos, ingressos, receitas, multiplicação de campos e construção ou ampliação das arquibancadas. Afinal, para que arquibancadas? Várias as funções: para acomodar com conforto e segurança a assistência dos jogos; para proporcionar melhor visibilidade do jogo; para evitar o acesso da população de menor poder aquisitivo, já que a cobrança praticamente excluía, ou pelo menos restringia, a possibilidade de acesso aos jogos; para reforçar a justificativa de cobrança de ingresso (o clube estava oferecendo um lugar com conforto, segurança e visibilidade ao espectador); para, com a venda do ingresso, gerar uma receita para a Liga e/ou clubes, bem como levantar recursos aos clubes para eventual construção ou ampliação de arquibancadas;
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Do remo para o futebol DE MODO IDÊNTICO ao que ocorreu em São Paulo, o Rio de
Inglaterra, encomendadas pelo mesmo Donohoe. Nesse ano tentou formar um clube, sem sucesso. Em 1901 uma área próxima às salas de trabalho seria cedida para os praticantes construírem um campo de futebol, que existiu até 1906.
Janeiro encontrou um cenário facilitador para a inserção do futebol entre as atividades esportivas: a prévia existência de clubes que praticavam outros esportes.
No Rio de Janeiro, os primeiros clubes esportivos datam de 1872: nesse ano foram criados o Paysandu Cricket Club e o Rio Cricket and Athletic Association, fundado pelo inglês George Emmanuel Cox. Iniciativas de famílias de imigrantes, formariam uma base para o crescente interesse por esportes: inicialmente foi o críquete e, depois, as corridas de cavalos. Já o remo, na década de 1890, com a fundação do Club de Regatas Botafogo e do Club de Regatas Vasco da Gama, clubes dirigidos à modalidade, iria se tornar a preferência carioca.
No entanto, a experiência mais bem-sucedida para a efetiva implantação do futebol no Rio de Janeiro viria através de Oscar Alfredo Cox. Filho de George Emmanuel Cox e da carioca Minervina Dutra Cox, Oscar Cox, em fins da década de 1890 retorna da Suíça, onde estudou no Colégio de La Ville, Lausanne, e teve a oportunidade de conhecer o esporte. Após sua chegada, em 1897, trazendo material para que o futebol pudesse ser jogado, empolgado com as perspectivas que então vislumbrou, idealizou a formação de um time. Apesar dos treinos que realizou no campo de críquete do Paysandu Cricket Club, sua iniciativa praticamente não teve repercussão. Em 1901, retornando de Londres, Cox trouxe bolas de futebol e uma novidade no desenho do campo: a grande área, idealizada e incorporada nesse mesmo ano.
No Rio, as notícias mais antigas sobre o esporte remetem a 1894. Nesse ano, cinco jogadores de cada lado jogaram bola no Bangu, subúrbio carioca, onde seria construída uma indústria têxtil, a Companhia Progresso Industrial do Brasil. No bairro concentravamse fábricas de tecido cuja mão de obra especializada provinha, predominantemente, da Inglaterra. O responsável pela realização da partida, Thomas Donohoe, havia chegado ao Brasil em 1893. Escocês, tendo atuado pelo Southampton Football Club, Donohoe observou que o futebol era desconhecido no Rio. Com autorização dos diretores da fábrica, Donohoe vai a trabalho à Inglaterra, de onde traz uma bola de couro, uma bomba de ar e pares de chuteiras. Era abril de 1894. Em pouco tempo lá estava Donohoe preparando uma área, razoavelmente nivelada, onde pudesse fincar duas estacas de cada lado do terreno, que serviriam de traves. Conseguiu arrebanhar dez homens interessados em jogar bola. A diversão foi incorporada à agenda semanal de funcionários e operários, que ainda estavam se adaptando às regras do esporte. Outras bolas chegaram, em 1897, da
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Acima, a divulgação do football chega à imprensa carioca. Correio da Manhã, 9/10/1901. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional - Brasil Na página ao lado, jogo no campo do Fluminense, início do século XX. Acervo Flu-Memória
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A preferência nas cidades litorâneas passou dos esportes aquáticos para os terrestres: era a primeira vitória do futebol (déc. 1900). The preference in the coastal cities went from water sports to terrestrial ones: it was football’s first victory (1900’s).
Por sua iniciativa, ainda em 1901, deu-se aquela que é considerada a primeira partida oficial de futebol no Rio de Janeiro, no campo do Rio Cricket and Athletic Associaton, em Niterói. A disputa foi entre uma equipe que ele havia criado, o Rio Team, e o time de Niterói, integrado por ingleses praticantes de críquete e tênis. Seu caráter oficial deveu-se ao fato de a partida seguir as regras do jogo, praticado em campo com tamanho oficial e os times jogarem uniformizados. Quinze pessoas estiveram presentes e viram as equipes empatarem em 1 gol. Em dois jogos posteriores, realizados no campo do Paysandu Cricket Club, outros dois empates. Cox estava bastante entusiasmado com os resultados obtidos. Em outra iniciativa mais ousada, organizou uma excursão para São Paulo, visando promover, conforme já visto, um encontro inédito entre dois combinados: paulistanos e cariocas, então representados pelo Rio Team. Foram dois jogos e dois empates. No retorno de São Paulo, foi aventada a possibilidade de fundarem um clube especialmente para se jogar futebol. Após duas novas partidas na capital paulista, em 1902, a ideia se consolidou. Dia 21 de julho de 1902 é fundado o Fluminense Football Club, tornandose Oscar Cox seu primeiro presidente (21/7/1902 a 31/12/1904) e o principal incentivador do futebol no Rio de Janeiro. Em sua gestão inicia-se o intercâmbio entre a equipe carioca e times paulistas. Como jogador do clube, foi campeão carioca em 1906 e 1908. Fundado o clube, onde seriam os treinos e os jogos? A Assembleia Geral do Clube, ocorrida dia 17 de outubro de 1902, decidiu pela locação de uma chácara situada na então rua Guanabara (atual Pinheiro Machado), cujo terreno seria, no ano seguinte, nivelado e transformado em um gramado de futebol. Os cuidados com a grama mereciam atenção especial: uma máquina niveladora além de outra de cortar grama eram puxadas por um burro, “Faísca”, cujas patas eram enluvadas para que o campo não fosse danificado. Por vários anos, a grama foi assim tratada.
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Na página seguinte, primeiro jogo no campo do Fluminense (RJ), 1904. Acervo Flu-Memória
Por ocasião da inauguração da nova praça de esportes do Fluminense, o campo da rua Guanabara, o time da casa enfrenta o Paulistano, dia 14 de agosto de 1904. Para essa ocasião, o campo de futebol ganha uma discreta arquibancada de madeira, ao custo de 330$000 (trezentos e trinta mil réis), para que cerca de 1.000 pessoas, a maior parte pagante, pudessem assistir ao jogo. Uma corda isolava o público do campo. A primeira estrutura considerada como arquibancada, construída em campo de futebol do Rio de Janeiro, foi feita com investimento de Eduardo Guinle, em 1905.
“A presença de operários no time criava, junto ao público, uma imagem simpática da Cia. Progresso Industrial. [...] Havia operários que jogavam melhor que os ingleses e por isso poderiam contribuir mais para as vitórias do Bangu. É precisamente nesse momento, me parece, que realmente inicia a democratização do nosso futebol.” (Caldas, 1990, p. 30-31). Essa presença também repercutia no fato de que operários de outras fábricas que desejassem formar um clube viam no Bangu um modelo de que era possível a formação de equipes oriundas do chão de fábrica.
A iniciativa do Fluminense serviu como estímulo para o surgimento de outros clubes. Bangu, Botafogo e América Football Club são fundados em 1904, além do São Christóvão Athletic Club, em 1909.
O nome Botafogo era uma homenagem do novo Club de Regatas à enseada do bairro carioca. Afinal, ali aconteciam as competições com barcos. Era 1o de julho de 1894. Dez anos depois, surgia o Botafogo Football Club (originalmente, Electro Club, denominação que durou pouco mais que um mês) –, agremiação distinta daquela que praticava remo. A fusão entre ambas ocorreria em 1932. Dia 2 de outubro de 1906 o Botafogo realiza na Tijuca o primeiro amistoso contra o Football and Athletic Club: perde por 3 a 0. No ano seguinte conhece sua primeira vitória: 1 a 0 sobre o Petropolitano. No primeiro ano do Campeonato Carioca, 1906, a equipe se faz presente (Tradição..., 2014).
The Bangu Athletic Club foi fundado dia 17 de abril de 1904 por altos funcionários da Companhia Progresso Industrial do Brasil, o que facilitou a obtenção do material para a prática do esporte. Como o número de técnicos para a formação de dois times era insuficiente, operários foram convidados, através de um processo interno de seleção, a integrarem as equipes de futebol. Essa formação original e inédita trouxe alguns benefícios para a equipe e para o futebol brasileiro:
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Arquibancada do campo do Fluminense, 1905. Acervo Flu-Memória.
O América nasceu alvinegro (e assim se manteve até 1908) em 18 de setembro de 1904. Seu primeiro jogo foi na rua Ferrer: 6 a 1 para o adversário, o Bangu.
Novos clubes e gradual sucesso do futebol fazem com que haja uma mobilização para a criação de uma liga de futebol similar às de São Paulo e Bahia. Surge em 1905 a Liga Metropolitana de Football, denominação alterada para Liga Metropolitana de Esportes Terrestres e extinta em 1906. Dia 29 de fevereiro de 1909 é fundada a Liga Metropolitana de Sports Athleticos por Fluminense, Botafogo, América, Paysandu, Rio-Cricket e Riachuelo. Em 1911, o Club de Regatas Flamengo, até então voltado ao remo, cria um departamento de esportes terrestres, com o objetivo de jogar futebol. Os primeiros treinos foram na Praia do Russel. Se Rio e São Paulo revelavam uma firme movimentação visando organizar e expandir o esporte, nos demais estados também se registrava um anseio pelo futebol.
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Preparando o campo DIVERSOS ESTADOS brasileiros deram seu pontapé inicial para
inicia campanha para erradicação da febre amarela e epidemias de varíola. Em Paris, 23 de outubro de 1906, Santos Dumont realiza uma exibição de um voo do 14-Bis.
a criação de clubes, organização de torneios e campeonatos, bem como fundação de ligas durante a primeira década do século XX. Era um período em que o futebol continuava a descobrir o Brasil por diferentes agentes difusores.
Nesse cenário, de forma discreta, porém contundente, àquela dinâmica de um futebol ainda incipiente, mas revelando um vigor irreversível, corresponderia a ampliação do número de locais onde o jogo era disputado: ruas, áreas com usos preexistentes (derbys, praças, velódromos, etc.), terrenos baldios, várzeas e até campos preparados, com maior ou menor adequação, especialmente para esse fim.
Sob a influência dos ingleses dos mais distintos segmentos, dos estudantes ou de pessoas que, após passagem por São Paulo ou Rio de Janeiro, além de outros centros urbanos, levavam uma bola de futebol e noções do jogo com o intuito de divulgar e estimular a nova prática, vários foram os caminhos que fizeram com que a bola chegasse e rolasse por toda a orla e país adentro.
Em decorrência, crescia a visibilidade do futebol, irradiando-se o assunto, que passava também a se tornar notícia de jornal. Fortaleciase a estrutura física em torno da qual o futebol se apoiava: campo (e suas distintas configurações e delimitações) e arquibancadas construídas especialmente para o crescente número de espectadores; características da área em que foi implantado o campo e as formas de acesso físico ao local.
O futebol alastrava-se por intermédio de diferentes agentes que promoviam o contato entre cidades brasileiras, com a consequente multiplicação espontânea e informal do esporte. Como pano de fundo, imigrantes europeus e japoneses, estes a partir de 1908, afluíam ao país. Período de recuperação econômica, o país fortalece seu modelo agrário: exportação de café, borracha, algodão e cacau. A mão de obra estrangeira que se dirigia à agricultura – latifúndios sob o domínio de coronéis, figuras decisivas na configuração do poder político e econômico do período –, ou às pequenas atividades urbanas, ou mesmo à nascente indústria, vinha fortalecer a capacidade produtiva interna, atendendo tanto à importação quanto à criação de indústrias locais. Os trabalhadores estrangeiros tiveram um papel crucial no desenvolvimento da sociedade brasileira. Traziam, além de traços culturais, experiências políticas como o sindicalismo, o socialismo e o anarquismo.
Além de São Paulo e Rio de Janeiro, outros estados vão descobrindo e incorporando a modalidade durante a primeira década do século XX: Rio Grande do Sul (com os clubes 14 de Julho e Santana do Livramento, 1902; Sport Club Bagé, 1906; Guarany Futebol Clube, 1907; São Paulo do Rio Grande, 1908; Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e Fuss-Ball Club Porto Alegre, 1903; Sport Club Internacional, 1909), Santa Catarina, Paraná, Bahia (Club de Cricket Victoria; Club Internacional de Cricket; Sport Club Bahiano, 1903); Alagoas (Alagoano Foot Ball Club, 1908), Pernambuco (Clube Náutico Capibaribe, 1901, com futebol a partir de 1905; Sport Club do Recife, 1905); Paraíba (Club de Foot Ball Parahyba, de 1908), Ceará, Maranhão, Pará, Amazonas, Minas Gerais (Sport Club Foot-Ball, 1904; Plínio Foot-Ball Club, 1904; Mineiro Foot-Ball Club, 1904; Clube Atlético Mineiro, 1908), entre outros.
Rodrigues Alves torna-se presidente da República em 1902. No ano seguinte, o Acre é incorporado ao país com o pagamento de 2 milhões de libras esterlinas e a construção da Estrada de Ferro MadeiraMamoré. Em meio a grande polêmica, o sanitarista Oswaldo Cruz
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As agremiações, ainda que procurassem prover seus próprios campos de melhorias e das condições de uso – como preparo do gramado, delimitação e formas de isolamento do campo, marcação das áreas, colocação de traves, etc. –, encontravam-se em uma etapa inicial. E os campos, improvisados ou não, iam se implantando por municípios brasileiros.
O Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense teve seu primeiro campo no Bairro Moinhos de Vento, no local conhecido como Schützenverein Platz, um recanto bucólico de Porto Alegre adquirido em 1904. Após a terraplenagem, os arredores do campo ganharam plátanos. E um pavilhão foi construído para autoridades. No dia 4 de agosto de 1904 o campo foi inaugurado.
Da mesma forma que para chegar ao estágio de um Velódromo do Paulistano ou ao campo da rua Guanabara do Fluminense, em meados da primeira década do século XX, um sem-número de campos, incidentalmente efêmeros ou mais duradouros, foi ajudando a construir, com sua história, a história do futebol.
Dez metros era a distância que separava duas pedras que serviram de gol no Campo dos Mártires, na partida inaugural do futebol na Bahia, em 28 de outubro de 1901, em iniciativa de José Ferreira Júnior, o Zuza Ferreira, após seu retorno dos estudos na Inglaterra. Uma equipe alvirrubra formada por ingleses, que constituiu a primeira formação do Clube Náutico Capibaribe, nos anos 1905 e 1906, praticava o esporte no Campo de Santana ou, então, na campina do Derby.
Em 1901, o Parque Pelotense (RS) transformou-se em ground para a exibição de futebol de marinheiros ingleses. Como o Sport Club Bagé (RS) não tinha, em 1906, campo para a prática do futebol, nem o Sport Club Rio Grande, ambos obtiveram a autorização do presidente da Associação Rural de Bagé para que pudessem realizar uma partida na sede da associação, em seu parque de exposições. Com gramado improvisado, a demarcação do campo foi feita e, formando o gol, duas traves, sem travessão.
No dia 23 de fevereiro de 1908, duas equipes do Club de Football Parahyba disputam o segundo jogo no estado. Demarcadas as linhas que definiam o espaço para a disputa do jogo, várias cadeiras cedidas pelo Teatro Santa Rosa foram colocadas ao redor do campo (Futebol da Paraíba, 2009).
Em diferentes locais e circunstâncias, clubes são fundados e campos vão sendo preparados para o futebol. In different places and conditions, clubs are founded and the pitches are being prepared for football (1900’s).
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Nas várzeas, nos bairros UMA CIDADE INTENSA, muito intensa. Era São Paulo nas duas
“(Foot-ball) O campeão da Varzea”, no traço de Voltolino. A Cigarra, 31/10/1917, Ano IV, n. 78. Arquivo Público do Estado de São Paulo
décadas finais do século XIX. E assim continuou século XX adentro. Centro catalisador dos negócios da cafeicultura, do transporte ferroviário e dos investimentos de capital estrangeiro, principal destino, ou ponto de passagem, de imigrantes, a cidade foi se expandindo, com o crescimento urbano acompanhando sua vocação comercial e industrial. A cidade exalava e respirava a modernidade. E lá estava, entre suas preferências, uma atenção às práticas esportivas que intensamente permeava os vários setores da comunidade.
Vão surgindo mais e mais campos para os jogos de várzea. Mas, ao mesmo tempo, leis para inibir a popularização do futebol (déc. 1900). More and more pitches appear in the meadows. But, at the same time, laws to inhibit football’s popularization (1900’s).
Foi aí que o futebol encontrou um propício espaço para se instalar entre os clubes esportivos que dispunham de uma estrutura que atendia às especificações oficiais, ou algo próximo disso, fossem as dimensões do campo, o gramado, as traves, a bola, a demarcação do campo, além de arquibancadas. Se a prática desse futebol oficial ainda permanecia restrita a determinados locais e segmentos sociais, isso não impediu sua inevitável exposição e visibilidade aliadas ao apelo de uma grande identificação com a população. Em consequência tornou-se irrefreável uma ampla propagação do futebol. Era só uma questão de tempo. De muito pouco tempo e de muitas bolas de futebol. Charles Miller, em carta ao reverendo Ellaby, do colégio onde estudou na Inglaterra, comenta: “Nada menos que 2 mil bolas de futebol já foram vendidas nos últimos 12 meses, e cada aldeia ou cidadezinha tem agora um clube” (Mills, 2005, p. 122).
de diversos modos se aproximando do esporte: nas disputas que espontaneamente ocorriam nas ruas e nos terrenos baldios, nos jogos que ocorriam entre os trabalhadores de fábricas, etc. Ex-alunos do Colégio São Luís (SP) divulgaram o esporte em estabelecimentos fabris da capital bem como peregrinando pelo interior do estado: “[...] Proprietários de pequenos estabelecimentos e operários imigrantes – destacando-se os alemães e italianos – tornaramse o público preferencial da atenção de Otho Behmer e João de Almeida na divulgação e promoção que ambos passaram a fazer do futebol na cidade de São Paulo, aproximadamente no ano de 1898” (Goulart, 2014, p. 51).
A tensão decorrente de o meio elitista não aceitar jogadores oriundos das camadas populares não impediu que fossem encontradas soluções para que o futebol encontrasse terreno fértil entre os diferentes segmentos da população urbana.
Ou, em outra dimensão: “Desde os primeiros anos deste século [XX], uma febre invadiu todas as ruas, quintais, portas de fábrica, terrenos baldios, e o que mais houvesse. Era o futebol. Essa foi a primeira grande festa do povo, fora da perspectiva da igreja.
Apesar das restrições de acesso ao futebol nos clubes, seja para praticar ou assistir aos jogos, operários, imigrantes e negros foram
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[...] A sociabilidade de bairro foi enormemente enriquecida com o futebol” (Seabra, 2000, p. 14).
de 20 metros das casas, jardins, propriedades de terceiros, ruas e praças publicas, e será separado do resto do terreno por uma téla de arame pelo menos, construída á custa das pessoas ou associações que mantiverem o divertimento. Art. 3o – Quando os limites do campo de foot ball forem um outro campo ou quando ficarem á distancia maior de 30 metros das propriedades de terceiros e ruas ou praças, será dispensada a cerca por meio de téla de arame” (Lei no 702 de 5 de Janeiro de 1904).
Esse levar o esporte a novos locais, esse multiplicar de interessados e a facilidade com que poderia ser praticado, tudo isso tinha uma razão essencial – o jogo de futebol, dissociado de seu caráter oficial, dependia de muito pouco para ser praticado: um lugar qualquer (“ruas, quintais, portas de fábricas, terrenos baldios, e o que mais houvesse”), dois objetos quaisquer adotados como traves, uma bola e uns tantos aficionados que a disputavam com o objetivo central de marcar o gol.
Mais restritiva, uma determinação da Intendência Municipal de Salvador estabelece os locais onde as partidas seriam permitidas. “FUTEBOL – Resolvendo o pedido feito pela Secretaria da Polícia sobre Pontos onde possa ser efetuado jogo de futebol sem prejuízo da propriedade particular, conforme reclamações levantadas, a Intendência Municipal designou os seguintes pontos para realizar-se aquela diversão: Campo dos Mártires, no distrito de Nazaré; Quinta da Barra, no distrito da Vitória; Fonte do Boi, no distrito de Brotas; Largo do Barbalho, no distrito de Santo Antônio; e Largo do Papagaio, no distrito da Penha” (Maia, 1944, p. 8-9 apud Santos, 2011).
A primeira e principal matriz territorial do futebol popular foi a várzea paulistana. No mesmo ano em que é disputado o primeiro campeonato de futebol no Brasil, 1902, o paulistano começa a conviver com um tipo de campo de fundamental importância para o esporte: o campo de várzea. Logo são os bairros operários, como aqueles que foram criados ao longo das estradas de ferro, a ancorarem dezenas de campos. Até campeonatos são organizados com o futebol ali praticado. Operários, muitos incentivados e cooptados por suas empresas, e imigrantes são os principais responsáveis pela expressiva adesão ao esporte.
Eram resoluções que visavam criar obstáculos à proliferação informal e generalizada do futebol. Mas não se pôde impedir um novo horizonte para o esporte, cujo símbolo mais notório foi a fundação do S. C. Corinthians Paulista, em 1910, dia 1o de setembro, quando cinco operários do bairro do Bom Retiro decidem fundar o time após assistirem a uma partida da equipe inglesa CorinthianCasuals Football Club, então excursionando pelo Brasil. Conseguem recursos para a compra de uma bola de futebol e alugam um terreno na rua José Paulino que, aplainado, torna-se um campo de futebol para ali realizarem seu primeiro treino, dia 14 do mesmo mês.
Dispondo a cidade de São Paulo de vastas áreas de várzeas, que se espalhavam por seus rios, especialmente o Tietê, por longo tempo assim mantidas por ainda não constituírem objeto de especulação imobiliária, os campos desse futebol considerado “não oficial” foram se espalhando por inúmeros bairros. Tornou-se, em pouco tempo, o mais popular entre os esportes. Essa proliferação teve consequências de toda ordem. Entre outras, o futebol jogado em espaços abertos ensejou, inclusive, a primeira regulamentação relativa ao uso de áreas como campo, que, a pretexto da segurança de transeuntes e propriedades, restringia sua multiplicação: “Art. 1o – Fica o Prefeito [de São Paulo] auctorizado a regulamentar o divertimento de foot ball, de maneira a serem resguardadas as pessoas e propriedades de quaesquer offensas ou damnos. Art. 2o – O campo de foot ball será estabelecido de maneira a seus limites guardarem sempre uma distancia nunca menor
Em outras capitais e cidades, a popularização do esporte e a consequente multiplicação de locais para praticá-lo – geralmente improvisados –, vão-se tornando crescentes, em um movimento inapelavelmente irradiador que estabelece um novo parâmetro para a presença do futebol na cidade e na sociedade.
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Futebol em notícias O FUTEBOL BRASILEIRO praticamente nasceu sob o embate de duas concepções: constituir uma prática exclusiva da elite x uma prática acessível a diferentes níveis sociais; um esporte praticado somente por amadores x atividade remunerada.
Em seu período inicial, desde sua mais remota citação em jornais no Brasil, em 1884, até as revistas ilustradas da década de 1910, o futebol vai revelando a evolução de suas conexões com o interesse dos diferentes grupos sociais com os quais dialogava.
Ainda que os primeiros clubes e ligas que o representavam estivessem predominantemente associados à manutenção do statu quo original (elitista e amador), em pouco tempo o quadro começou a se reverter, de forma gradual e irreversível, como já foi visto.
E nessa evolução, os meios de comunicação vão apresentando e detalhando o esporte, os jogos, os espectadores, o campo de futebol, as arquibancadas, bem como os diferentes agentes que vão construindo a dinâmica da modalidade.
Desde a primeira década, alguns jogadores já recebiam dinheiro de seus clubes para participarem das partidas. Eram estimulados financeiramente a marcar gols e vencer os jogos. A questão da remuneração aparecia sob diversas formas: inicialmente bancada sob a forma de um incentivo pessoal, posteriormente através do que seria arrecadado pelo clube em função da cobrança de ingressos, mas incluiria também transferências ilegais, aliciamento de craques, etc. E seria um dos pilares de disputas, cisões, gestões, jogos de interesse, reformulações entre equipes, ligas e outros protagonistas do esporte, que levaria a impulsionar a popularização do futebol. E exigiria mais lugares para que no campo se pudesse assistir às partidas.
O país, através da expansão e modernização de seus veículos de comunicação – conteúdo, linguagem, recursos técnicos, quadro de profissionais, inovações formais e estilísticas –, vai tomando conhecimento do universo futebolístico, reforçando o interesse sobre o assunto. Década antes de Charles Miller retornar a São Paulo, o futebol começava a marcar presença em jornais. No artigo “Cartas Portuguezas”, publicado no jornal Gazeta de Notícias, de 6 de novembro de 1884, o escritor português Ramalho Ortigão descreve trajes (“costumes”) de homens europeus: “Blusas de velludo e calções largos, em todos os tons do castanho, do cinzento e do verde, as polainas altas de couro, de velludo ou de brim, as jaquetas de flanella branca, communs a todos os pintores e guarnecidas de debruns azues e escarlates, os costumes de viagem, os de caça, os de pesca, o de regata, o de crickett, o do foot-ball, lawn-tennis, etc. etc. etc.”.
A cobrança de ingressos, instituída na capital paulista e gradualmente adotada a partir de 1902 em outros locais, também contribuiria para essa valorização dos jogadores. Afinal, passou-se a exigir das equipes algo além de um belo espetáculo. Era preciso vencer. Com a crescente popularidade, e as torcidas pressionando por bons resultados, o futebol exigia das agremiações a presença de bons jogadores que ampliassem a possibilidade de vitórias. Os clubes começam a aceitar bons jogadores de distintos níveis sociais. Esse processo iria restringir, ao longo de três décadas, a margem de ação dos clubes elitistas.
Foi a observação de um europeu que fez com que a palavra foot-ball aportasse no Brasil através da imprensa. O que seria isto, foot-ball?
Esse é o cenário que seria acompanhado de perto por jornais e revistas. Nas páginas dessas publicações seriam registradas as diferentes fases da inserção do esporte na própria sociedade.
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A rara ocorrência da palavra em jornais era um indicador de que se tratava de algo distante do dia a dia do cidadão comum. Ainda não era um esporte conhecido, ainda não era notícia.
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A imprensa começa a ser convidada para assistir aos matchs paulistanos. Correio Paulistano, 14/7/1899. Arquivo Público do Estado de São Paulo As partidas de futebol ganham espaço e detalhada descrição nos jornais. Correio Paulistano, 2/6/1904. Arquivo Público do Estado de São Paulo
Uma nota publicada em 1891, com o título “Educação Physica”, informa: “No anno passado, por esta época a Union des Sociétés des sports athlétiques organizou um desafio de foot-ball para o Lyceu de Pariz. [...] Ganha pois terreno em França a magna questão dos exercicios physicos da mocidade” (Gazeta de Notícias, 23/3/1891, p. 1). O redator encerra a nota com uma pergunta-chave: “Quando os teremos n’este nosso caro Brazil?” Referindo-se aos esportes em geral e também, ou mesmo mais especialmente, ao foot-ball, revela-se um hipotético conhecimento do esporte. E o redator apela por sua introdução nas escolas locais, sem saber que isso já acontecia em alguns colégios brasileiros. Antes de o futebol se tornar notícia regular nos jornais, a década de 1890 traria ainda informações isoladas sobre o assunto, duas citando o foot-ball em ambiente escolar. No artigo “As festas do Porto”, sobre o Centenário do Infante D. Henrique, publicado na Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, no dia 2 de maio de 1892, o articulista comenta a hospitalidade portuense em se deixar vencer na byciclette, no foot ball e no tiro aos pombos. Já em “Historias a vapor”, artigo publicado na Gazeta de Notícias de 28 de fevereiro de 1892, o articulista anota: “Depois de haver residido cinco annos na Irlanda, onde em Dublin, aprendi a estropiar a língua ingleza a todos os segredos do cricket, do foot-ball e do cornish-hug [...]”.
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Com as arquibancadas lotadas, o jeito era subir em árvores, no morro, em mesas ou telefonar para o jornal (déc. 1910) With the stands packed, the way was to climb the trees, in the hill, or on top of tables, or call the newspaper (1910’s)
Notícia concreta pela imprensa sobre o futebol jogado em terras brasileiras, somente a partir de 1898: “Esteve muito animada a interessante reunião athletica realisada ante-hontem na Chacara Dulley, na qual foi disputada uma valente partida de foot-ball entre o S. P. A. C. [São Paulo Athletic Club] e a São Paulo Railway Association. Depois de uma lucta renhidíssima, de parte a parte, sahiuse vencedor o S. P. A. C. por pequena diferença” (Correio Paulistano, 12/7/1898).
estar muito mais preocupado em registrar a presença e as vestimentas de nobres senhores e senhoras do que propriamente o jogo. O tema futebol servia como manobra para cronistas imporem sua visão ideal de sociedade” (Ribeiro, 2007, p. 27). A primeira decisão do campeonato paulista, entre SPAC e Paulistano, levou ao Velódromo cerca de 4 mil pessoas e tornou-se motivo da primeira reportagem repleta de detalhes do jogo, publicada em O Estado de S. Paulo no dia 27 de outubro de 1902.
Para alguns leitores, a palavra foot-ball talvez continuasse no imponderável; para outros, começava a tomar alguma forma por já terem ouvido falar ou até presenciado o evento em algum campo da cidade de São Paulo. Para os praticantes, uma boa notícia de época: em 1898 a loja Victoria Store vendia bolas de futebol.
A partir do ano seguinte, o futebol da várzea paulistana passa a ser assunto do jornal Fanfulla. Mário Cardim, jornalista e um dos importantes incentivadores do esporte em São Paulo, publicou o Guia de Football, que se tornaria referência para redatores na cobertura das partidas. O jornal Gazeta de Notícias cria a seção Gazeta dos Sports, lugar para as notícias sobre o futebol. Afinal, ilustres membros da sociedade carioca ocupam as arquibancadas do estádio do Fluminense: Arthur de Azevedo, Barão do Rio Branco, Pereira Passos, prefeito do Rio, e Afonso Penna, presidente da República.
Quinze anos após a primeira referência ao foot-ball em jornais, a imprensa é formalmente convidada para assistir a uma partida: “Da Diretoria do Internacional Foot-Ball Club, recebemos delicado convite para assistirmos ao match que se realiza hoje, ás 4 horas da tarde, na chácara Dulley (Bom Retiro), entre aquelle club e o Mackenzie College” (Correio Paulistano, 14/9/1899). Na década seguinte, o assunto mostraria especial vigor. Surgem mais e mais clubes, joga-se mais, e mais campos para se jogar são preparados, com os torcedores marcando inevitável presença. O futebol vira notícia, com detalhes, muitos termos em inglês e um modo próprio de descrever o que cada eleven fazia dentro das quatro linhas do ground.
Na página ao lado, o presidente Nilo Peçanha, entre os demais espectadores da arquibancada, acompanha o jogo entre brasileiros e ingleses. Careta 3/9/1910. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional - Brasil Quando não tem arquibancada... Jogo entre paulistas e cariocas no Parque Antarctica é visto dos galhos de árvore. A Cigarra, 10/8/1917. Arquivo Público do Estado de São Paulo
De um lado, o repórter/redator. Do outro, o fotógrafo. Os campos de futebol, especialmente aqueles de clubes dotados de arquibancada, eram motivo de posicionamento da imprensa: “[...] um fotógrafo escalado para a cobertura deveria
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Uma partida de futebol feminino. Careta,6/9/1913. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional - Brasil
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Com a vinda da seleção argentina, em 1908, para a disputa de três partidas no Rio e três em São Paulo, foi preciso criar um mecanismo especial de informação sobre o jogo – para além daquilo que era divulgado pela imprensa –, já que muitos não conseguiam entrar no estádio. “Os estádios ficaram lotados, com média de 5 mil pessoas, fora as que não conseguiram lugar na festa. Tudo virou notícia, ingressos, confusões nas ruas, protestos. No Rio de Janeiro, até mesmo um serviço especial de boletins telefônicos foi instalado pelo jornal Gazeta de Notícias para atender ao enorme número de pessoas que ligavam querendo saber o resultado das partidas” (Ribeiro, 2007, p. 36). Nesse contexto de comunicação associado ao futebol (que se inicia pelo trabalho das redações de jornais, estendendo-se, no final da primeira década do século XX, ao fotojornalismo futebolístico das revistas, além da exploração comercial do campo como local de publicidade), o esporte, a partir de suas notícias mais remotas e no decorrer da década de 1910, iria mostrar que essa maior visibilidade tinha fundamento. Fundavam-se novos clubes, abriamse novos campos com arquibancadas, (re)organizavam-se torneios, campeonatos e ligas (locais, regionais, estaduais), surgiam entidades representativas, em âmbito nacional, do futebol. Tudo era passível de tornar-se notícia. A maioridade organizacional viria 21 anos depois do primeiro jogo oficial, em 1895: no ano de 1916 é fundada a Confederação Brasileira de Desportos. Enquanto os jornais criam um estilo próprio para a descrição dos jogos e desempenho de cada jogador, as revistas concentram-se especialmente naquilo que o registro fotográfico poderia obter. Apesar de revistas ilustradas terem circulado no Brasil durante o século XIX, somente a partir do século XX – em sintonia com as mudanças da cultura e da sociedade brasileira, bem como com a modernização da imprensa, incluindo o estilo jornalístico e os recursos gráficos, em especial a possibilidade de reprodução fotográfica em publicações periódicas –, elas ganham efetivo destaque social. Um gênero de publicação “[...] que se destaca entre o final do século XIX e início do século XX são as chamadas ‘galantes’, revistas totalmente voltadas para o público masculino que mesclavam política,
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sociedade, piadas, caricaturas, desenhos, contos e fotos eróticas. A publicação pioneira foi O Rio Nu, lançada em 1898” (Baptista & Abreu, 2010, p. 3).
o alto do morro lindeiro ao campo era o melhor lugar, ou mais acessível. “Em registros fotográficos e artigos escritos na época, pode-se notar a diferença entre a elegância do público das arquibancadas e a ‘gente pobre’ amontoada pelos morros e telhados que cercavam o estádio do Fluminense” (Ribeiro, 2007, p. 32).
Nesse gênero, O Malho, Fon-Fon e Careta vão se tornar as expoentes desse novo modo de comunicação com o leitor. Entre as novidades, as revistas começam a cobrir regularmente eventos futebolísticos. As partidas passam a fazer parte da pauta dessas publicações: e lá vão os fotógrafos para o campo.
Para ficar um pouco acima do chão e ter melhor visibilidade, toda tentativa era válida. Subir em cima de uma mesa tornou-se a solução para três mulheres, durante jogo no Parque Antarctica, em 1919.
A cobertura jornalística do período consistia basicamente em reproduzir fotos da partida, acompanhadas das respectivas legendas. Era uma das características das revistas inclusive para outros assuntos: cidade, lojas, eventos, personalidades, etc.
Como o futebol começava a ter uma presença marcante na vida urbana e a fazer parte das referências esportivas e sociais das pessoas, especialmente nas capitais – como fica evidente nas reportagens fotográficas das revistas –, pouco demorou para que as ilustrações veiculadas em revistas utilizassem elementos inerentes ao esporte para registrar com humor as questões candentes do período. Em ilustração de J. Carlos, publicada na revista Careta de 31/10/1909, o Barão do Rio Branco e Rui Barbosa jogam futebol com a cabeça de Zeballos, ministro argentino, notório rival do Barão e caracterizado como inimigo do Brasil. É plausível supor que o campo de futebol, aí representado e definido pelas cercas, tenha sido utilizado como metáfora do campo das disputas políticas entre os dois países. O mesmo J. Carlos, em perspicaz e inusitado desenho, registra um “match importante visto pelas costas”.
Uma das mais antigas fotos de uma partida de futebol publicada em periódico foi veiculada na revista Careta, no 7, de 1908. Uma montagem de nove fotos reproduz os aspectos que serão mais recorrentes na cobertura dos jogos: lances (“instantâneos”) da partida em que se pode observar diversos ângulos e panorâmicas do campo; torcedores em pé, posicionados ao largo do campo; arquibancadas repletas de espectadores e detalhes da torcida. Era o início da divulgação fotográfica do esporte por meio da mídia, em seu multiplicado número de leitores, tanto para os que já conheciam como para aqueles que teriam ouvido falar do jogo ou mesmo nem isso. O campo de futebol, a arquibancada e torcedores no entorno da partida começariam a se tornar referências visuais constantes para o leitor e, especialmente, para torcedores e outros amantéticos dos esportes.
Se as revistas da época começavam a colocar o futebol em evidência, o campo de futebol tornou-se um local adequado para, em contrapartida, evidenciar outro tipo de mídia. Na carona do espetáculo do futebol, empresas de diversos segmentos perceberam que ali seria um ótimo lugar para fazer a publicidade de seus produtos. Afinal, no estádio, e para quem estava lá, tudo acontecia no tempo do jogo, enquanto os times estivessem disputando uma partida. Era um lugar para equipes, torcedores, imprensa, vendedores e publicidade.
Em caso raro, o fotógrafo, em sua busca de imagens para a revista, flagrou “alguns enthusiastas desajeitados” jogando bola na praia – um feliz, inusual e inédito registro do futebol no período. Décadas depois de marinheiros ingleses terem disputado partidas pelo litoral brasileiro, finalmente uma câmera documentava, em 1911, a praia como improvisado campo para se jogar futebol.
É no início da década de 1910 que surgem os mais antigos painéis publicitários instalados em campos de futebol, conferindo-lhes um novo status – espaço para publicidade – e meio de o clube aumentar seu faturamento.
Com arquibancadas cheias, entorno do campo lotado de torcedores e preço do ingresso inacessível para muitos, qual era a alternativa? Dependendo do campo, do que havia à sua volta, não havia dúvidas:
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Rui Barbosa e Barão do Rio Branco jogam bola contendo a imagem do rosto de Estanislau Zeballos, ministro argentino, então representado como inimigo do Brasil. Careta, 31/10/1909. Arquivo Público do Estado de São Paulo Abaixo, “Grupo de senhoritas torcendo em cima de uma mesa durante o emocionante match entre o Palestra e o Corinthians, no Parque Antarctica.“ A Cigarra, 11/1919. Arquivo Público do Estado de São Paulo “Um match importante visto pelas costas”, ilustração de J. Carlos. Careta, 1917, ed. 474. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional - Brasil
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Em 1913, os scratchs brasileiro e chileno enfrentaram-se para um amistoso no campo do São Christóvão, do Rio de Janeiro, na antiga rua Figueira de Melo. Resultado: vitória brasileira por 3 a 0. Nessa ocasião, o fotógrafo registrou a formação das duas equipes. Ao fotografar a equipe chilena, faria um dos mais antigos registros da publicidade em campos de futebol: ao fundo da foto, em uma placa, pode-se ler com destaque “Hanseatica”, marca de cerveja.
Em torno do campo, torcedores e uma novidade: as placas de publicidade (1913). Around the pitch fans and an innovation: advertisement boards (1913).
No mesmo campo, em 1914, nova mensagem publicitária: “Salitre do Chile”: fertilizante ou o sal para preservar a cor das carnes? O painel, uma estrutura de cerca de 5 metros de altura, ficava acima da altura das pessoas em pé na lateral do campo e, acima do painel, uma parte da assistência posicionava-se no morro lindeiro ao campo, transformado em local de onde se poderia ter a visão do jogo. A instalação de uma longa estrutura de madeira denotava um propósito comercial: explorar a locação do painel para fins publicitários – a nova função do espaço limítrofe ao campo de futebol, que levava em conta a presença da assistência, de ambos os lados do campo, de onde se poderia ver a propaganda. Fotografias do mesmo campo em 1919, registrando os painéis, indicam a permanência da solução. Registro fotográfico de gol de Friedenreich, em 1923, pelo Paulistano, revela que, atrás do gol de sua equipe, ao fundo da foto, estava uma placa da fábrica Falchi. Futebol e chocolate... A diversidade de produtos cujos fabricantes estavam interessados no espaço publicitário só iria aumentar.
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Na página anterior, publicidade em painéis no campo de futebol do São Cristóvão. Careta, 29/8/1914, Ano VII, ed. 323. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional - Brasil Arthur Friedenreich fazendo o gol e, ao fundo, placa dos chocolates Falchi. Arquivo Histórico do Centro Pró-Memória do Club Athletico Paulistano Abaixo, arquibancada do campo Joaquim Américo, em Curitiba, 1915 (PR). Acervo Histórico do Clube Atlético Paranaense Arquibancada do Paulistano no Jardim América, 1917. Centro Pró-Memória CAP
O painel publicitário passaria a fazer parte da paisagem dos campos de futebol, vindo a constituir complementarmente, depois da cobrança de ingresso e locação do espaço para a disputa de partidas, uma fonte de receita suplementar para os clubes. A dinâmica do futebol – nesse recorte retratado especialmente pela imprensa, cuja ativa participação nas coisas do futebol teria papel cada vez mais relevante – ia apontando para a necessidade de o país preparar-se mais adequadamente para a dimensão que o esporte estava assumindo, social, econômica e politicamente. A partir de 1919 seria dado um salto significativo em relação à construção de seu primeiro estádio de futebol, com a realização do primeiro grande evento esportivo internacional no país.
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Um estádio para o Sul-Americano EM UM AMBIENTE de uma política “café com leite” pouco
Em torno de um campo circunda, integralmente ou sob a forma da letra “U”, uma arquibancada para o público, estrutura erguida especialmente para se assistir à competição ou ao espetáculo.
favorável, com paralisações de trabalhadores e uma gripe espanhola devastadora, o futebol viria proporcionar novos ares à nação no fim da década de 1910.
Para a construção do estádio brasileiro, dirigentes esportivos procuraram convencer o governo a assumir a empreitada. Mas as gestões realizadas se mostraram infrutíferas. O Fluminense, consultado sobre a assunção da obra, aceitou o desafio. Os recursos vieram, então, de empréstimo de 2.000.000$000 (dois mil contos de réis) feito pelo Fluminense junto ao Banco do Brasil.
Formada em 1914, a seleção brasileira de futebol conquistaria, cinco anos depois, seu primeiro título no 3o Campeonato Sul-Americano de Futebol, dando novo impulso ao esporte no país. Após os três primeiros amistosos de 1914, a seleção fez sua estreia em 1916 em um campeonato oficial: o 1o Campeonato Sul-Americano de Futebol. Realizado na Argentina, e vencido pelo Uruguai, o evento integrava as comemorações do centenário da independência argentina. No ano seguinte, o Uruguai organiza o 2o Campeonato, tornando-se bicampeão (Todos os Jogos..., 2014).
O projeto, em pomposo estilo eclético, foi elaborado pelo arquiteto catalão Hypolito Gustavo Pujol Júnior, “[...] importante arquiteto em São Paulo durante as primeiras décadas do século XX. Foi professor da Escola Politécnica e teve prolífica atuação profissional como arquiteto, sendo um dos pioneiros na utilização do concreto armado no Brasil. Entre suas principais realizações se destaca o Ed. Guinle, de 1913, ‘torre’ de sete andares que chamou muita atenção quando inaugurada” (Hereñu, 2007, p. 131).
A Confederação Sul-Americana de Football definiu, no dia 2 de outubro de 1917, que o 3o Campeonato seria realizado em 1918 no Brasil. Mas o Campeonato precisou ser adiado para 1919 em função da gripe espanhola, que inviabilizou a competição. Para receber o Sul-Americano, o país ainda não dispunha de estádio compatível com o porte do evento. Havia o Parque Antarctica (onde, em1917, o Palestra Italia realiza seu primeiro jogo, mas como visitante) e o Estádio das Laranjeiras, do Fluminense, cuja primeira arquibancada havia sido construída em 1905 e reformada em 1915, passando a comportar cinco mil pessoas, com setor destinado especialmente aos sócios. E também o campo da Chácara da Floresta, localizado em São Paulo. Remodelado em 1915, após receber as arquibancadas do Velódromo, passa a comportar 15.000 pessoas, sendo 2.000 sentadas. Aí se realiza a maioria dos jogos do Campeonato da Apea de 1917. Qualquer que fosse a decisão, para acolher a competição seria preciso um novo estádio, o primeiro no Brasil a, efetivamente, comportar esse nome. A designação estádio tem suas raízes na arquitetura do stadium grego, e do qual derivariam o circo e o anfiteatro romanos.
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Na página anterior, Estádio do Fluminense em construção, 1919. Acervo Flu-Memória
Os diferentes componentes representados por processos construtivos, matéria-prima, durabilidade da edificação e segurança da obra já eram fatores que entravam na pauta das decisões dos clubes. A esses fatores alinhava-se a opção pela contratação de um arquiteto consagrado, cuja assinatura atenderia às necessidades de modernização de concepção e de construção de uma obra que, além de tudo, iria se tornar uma referência tanto arquitetônica quanto urbana. A partir dessa experiência do Fluminense, os principais estádios do país passariam a ser projetados por especialistas. Com a nova construção, nada restou da antiga arquibancada do Fluminense.
Ao lado, lance do jogo brasileiros versus argentinos na capa da revista Fon-Fon, 24/5/1919, ed. 21. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil
Finalizadas as obras em um prazo recorde (um ano) para o campeonato de 1919, o estádio tornava-se o maior do país, com capacidade para 18 mil espectadores. À finalidade precípua de abrigar o evento, tornando-se o primeiro estádio no Brasil erigido especialmente para grandes competições, somava-se um efetivo caráter de modernidade ao futebol naquilo que o tornava apreciado como um espetáculo: a presença do público, agora acomodado em novíssimas instalações. Inaugura-se, assim, uma nova fase para o futebol: grandes estádios para grandes espetáculos. Nas arquibancadas, um público cada vez mais ávido para assistir aos jogos e seus ídolos.
Considerado o primeiro “arranha-céu” de São Paulo, a “torre” destinava-se à empresa Guinle & Cia., da família carioca Guinle. Dessa forma, a relação comercial entre o clube, através de Arnaldo Guinle, presidente do clube entre 1916 e 1930, e Hypolito Pujol estava inserida em uma trajetória que incluía uma importante obra civil já realizada. A contratação do arquiteto tinha o efetivo objetivo de trazer uma nova concepção na construção do estádio que, independente do resultado do Campeonato, já faria história no futebol brasileiro.
A intensa mobilização da população carioca, dos setores esportivos, de autoridades e do Fluminense mostrava os frutos: ergueu-se o primeiro estádio do país. E, além disso, havia uma expectativa de que mais de 30 mil pessoas acorressem às arquibancadas, tribunas e demais lugares de onde se pudesse ver os jogos.
Iniciada no dia 22 de maio de 1918, a obra incorpora uma novidade técnica em edificação esportiva. Torna-se o primeiro estádio sulamericano a utilizar cimento em sua construção. Eram, à época, as maiores arquibancadas em campos brasileiros e ocupavam os quatro lados do campo, que media 117 m de comprimento por 80 m de largura. Entre outras inovações, estavam também os camarotes, locais destinados exclusivamente a autoridades e convidados. A cobertura da arquibancada antiga, feita com folhas de zinco, foi reaproveitada pelo Sport Club do Recife, que a adquiriu para instalar em sua arquibancada.
Em clima de euforia e expectativa, especialmente no Rio de Janeiro, após uma cerimônia de inauguração ocorre o jogo inaugural entre Brasil e Chile. Participavam também do campeonato as seleções da Argentina e do Uruguai. No dia 11 de maio de 1919, estádio totalmente lotado, o Brasil vence o Chile por 6 a 0, com o primeiro gol assinalado pelo mulato Arthur Friedenreich, do Paulistano. Espetacular vitória na estreia brasileira no Estádio de Álvaro Chaves, o Estádio das Laranjeiras, do Fluminense. Do lado de fora, milhares de pessoas, não conseguindo entrar, subiram no morro das Laranjeiras para poder ter visão do jogo; árvores e muros também acabaram se tornando improvisadas arquibancadas: “[...] o torcedor não se fez de rogado. Escalou o morro vizinho e, do alto, com uma vista panorâmica do gramado,
Entre outras características do projeto, tratava-se de “[...] uma obra de arquitetura europeia de grande beleza [...] adornada por elegantes vitrais belgas [art nouveau] que se destacam em sua fachada” (O Estádio..., 2014; Coelho, 2014).
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pôde acompanhar a todos os movimentos da partida. Pôde apreciar, por exemplo, as defesas de Marcos Carneiro de Mendonça, os rechaços do full-back Píndaro, as arrancadas do extrema-direita Millon e as tabelas entre o meia-direita Neco e o center-forward Friedenreich, este o grande astro do time” (Sander, 2009, p. 14). Outros iam em direção à redação do Jornal do Brasil, no centro do Rio, aguardando notícias (Cardoso, 2009). Seguem-se os dois outros jogos e uma decisão contra o Uruguai: após um empate na disputa inicial, o Brasil conquista, com uma vitória por 1 a 0, seu primeiro título internacional, fato inédito e de grande repercussão no país. O Rio de Janeiro viveu um período de êxtase com uma conquista que a imprensa ajudava a promover. E a música também registrou a euforia: Pixinguinha e Benedito Lacerda compuseram o choro Um a zero – homenagem à vitória do Brasil. Tudo convergia para que o futebol, manifestação catalisadora de multidões, se tornasse fator de promoção de uma identidade
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Em vez de madeira, concreto. Erguia-se, assim, o primeiro estádio brasileiro, que além do futebol, iria se tornar palco para apresentações de teatro e música, como a ópera Aída, de Verdi (1920).
Na página ao lado, lance do jogo brasileiros versus argentinos. Fon Fon, 24/5/1919, ed. 21. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil
Instead of wood, concrete. Thus, the first Brazilian stadium was built which, in addition to football, would serve to theater and music presentation, such as Verdi’s opera Aida (1920).
Estádio do Fluminense, 1919. Acervo Flu-Memória. Abaixo, vista geral do Estádio do Fluminense, 1922. Acervo Flu-Memória
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nacional, patrimônio que permeava dos mais simples estratos da população aos políticos das três esferas de atuação.
A nova configuração do Laranjeiras permitiria a acomodação de 25 mil pessoas – sem perder as características originais do projeto, e reforçando ainda mais sua importância no cenário futebolístico brasileiro.
A importância social e política do Estádio fica reforçada com o fato de ter-se tornado, logo após o campeonato, também palco de apresentações de música e teatro: em 1920, um público entusiasmado assistiu à ópera Aída, de Verdi.
O local também sediou o Campeonato Sul-Americano de Seleções, em que a seleção brasileira obteve seu segundo título internacional. Clássico do futebol carioca e brasileiro, Flamengo e Fluminense se enfrentaram dia 14 de junho de 1925, quando o Estádio recebeu 25.718 espectadores, recorde oficial de público no período.
Novas mudanças no Estádio das Laranjeiras ocorrem em 1922. Ano do Centenário da Independência do Brasil, em que foi organizado um grande evento, com exposição e apresentações, constatou-se a necessidade de um local para acolher os países que iriam participar dos Jogos Olímpicos Latino-Americanos.
Para o jogo entre Fluminense e Sporting Clube de Portugal, dia 15 de julho de 1928, duas mil cadeiras foram posicionadas na pista de atletismo, visando alojar o público excedente. Consta que 40 mil pessoas teriam assistido ao jogo (Coelho, 2014).
Gestões foram realizadas e o governo obteve nova adesão do Fluminense visando à reforma e ampliação das instalações, como o prolongamento das arquibancadas laterais e a construção de dois pavimentos na arquibancada dos fundos. Haveria um recuo das gerais, possibilitando a instalação de uma pista para provas de atletismo.
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O maior estádio do Brasil dava sinais de que num futuro não muito distante seria preciso repensar as dimensões dos espaços destinados a espectadores e jogadores que se debruçavam sobre aquele que já era o esporte preferido pelo brasileiro: o futebol.
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Na página anterior, vista geral do Estádio do Fluminense, 1927. Acervo Flu-Memória Abaixo, arquibancada do Estádio do Fluminense lotada durante o Campeonato Sul-Americano, 1927. Acervo Flu-Memória
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Inauguração do Estádio do Vasco da Gama. Fon-Fon, 30/4/1927, ed. 18. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil
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Mais lugares para um esporte popular COMO JÁ FOI VISTO, desde sua origem, e mantendo-se por quase
Algo similar ocorria em relação à remuneração dos jogadores de futebol, originariamente um esporte amador, em que seus integrantes não deveriam ter ganho algum por participar de uma equipe ou por ter vencido uma partida. Deveriam, enfim, jogar por diletantismo. Gradualmente diversas formas de remuneração passaram a fazer parte do nascente negócio em que se transformava. Afinal, o esporte, que implicava disputa entre times, passou a exigir mais dos jogadores para que conseguissem a vitória. A contrapartida a essa exigência aos jogadores passou a ser uma compensação financeira, negada pelos clubes amadores e cada vez mais adotada por outros clubes. Nesse período – do início do século até a década de 1930 – expandiu-se o designado “amadorismo marrom”, somente resolvido na década de 1930 com a profissionalização do futebol.
quatro décadas, o futebol foi permeado por duas questões basilares e que definiriam o rumo de sua evolução no Brasil: 1) ser ou não ser um esporte exclusivo da elite; 2) remunerar ou não seus praticantes. Ambas as polaridades moveram muitas das transformações que ocorreram no meio esportivo local. A elite que introduziu o esporte no país, predominantemente branca e muitas vezes associada a círculos da comunidade inglesa, desejava que o esporte fosse praticado, para além dos regulamentos da Football Association, somente no interior de clubes organizados e constituídos por integrantes provenientes “de boa família”, brancos e alinhados com determinados padrões de comportamento dentro do campo.
E a esse contexto – complexo, pleno de tensões, cisões, jogos de interesses e discussões dos clubes entre si e destes com as ligas – some-se paradoxalmente uma euforia em torno das conquistas dos clubes e seleções que iam revelando a força do futebol tanto como manifestação cada vez mais popular quanto por sua importância política.
Assim, recusar um jogador que não se enquadrasse nessas características, impor condições nos critérios de aceitação de equipes para a disputa de campeonatos, influenciar em ações restritivas à formação ou prática do esporte fora de seus núcleos, exigir que a equipe tivesse campo próprio, alinhar-se à imprensa para disseminar e fazer valer seus conceitos e pontos de vista, organizar-se em ligas para defender seu ideário, entre outros mecanismos de restrição ao futebol que não fosse o “seu futebol”, eram recursos constantes e que demonstravam poder dos clubes de elite para se fazer prevalecer. Mas não eram suficientes para impedir que surgissem jogadores, equipes, jogos, campeonatos, organizações e porta-vozes que preconizavam que o futebol deveria estar acessível a qualquer um que quisesse praticá-lo – incluindo aí, especialmente, operários, mulatos, negros, pequenos comerciantes, imigrantes e pessoas de quaisquer estratos sociais.
É nesse cenário que desponta o Clube de Regatas Vasco da Gama, com desdobramentos que levariam à construção do Estádio de São Januário. “A própria construção do Estádio foi parte integrante do movimento, capitaneado pelo clube nos anos 20, que quebrou a estrutura elitista e racista que dominara o futebol brasileiro nos seus primórdios. Sobre as fundações de São Januário ergueu-se muito mais do que um estádio de futebol. Ergueu-se um palco esportivo em que atletas negros, mulatos e de origem humilde podiam enfrentar, de igual para igual, os rapazes brancos, de ‘boa família’, que monopolizavam o futebol através dos tradicionais clubes de elite” (Malhano & Malhano, 2002, p. 10).
Fato que reforça esse antagonismo pode ser observado em jogo entre Fluminense e América, de 1914, quando um torcedor deste, em tom exaltado, alegava que o meia-esquerda Carlos Alberto, do Fluminense, estava usando pó de arroz para disfarçar a cor da pele.
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iniciam-se as obras: “No projeto um espírito eclético predomina sobre a composição forma/estrutura do conjunto esportivo, cuja responsabilidade de elaboração e construção coube à firma Cristiani-Nielsen. Este seria o maior estádio particular do Rio de Janeiro, do País e da América do Sul, durante 15 anos, com capacidade para abrigar entre 35.000 e 40.000 espectadores” (Malhano & Malhano, 2002, p. 98-102).
Filiando-se à Liga Metropolitana de Futebol em 1916, o Vasco da Gama em pouco tempo ascende à 1a divisão, conquistando, em 1922, a Taça Constantino, ano em que nasce a ideia da construção da sua praça de esportes. Em 1923, através de um processo interno de democratização, negros, mulatos e comerciantes passam a integrar a equipe de futebol que a levaria a conquistar a Taça do Campeonato de Futebol do Rio de Janeiro. Mas o clube ainda não era inscrito na Liga Metropolitana de Futebol – que organizava o campeonato carioca e cujos integrantes considerados os grandes da época (Flamengo, Fluminense, Botafogo e América) admitiam somente jogadores brancos. Visando impedir o acesso de clubes que julgavam indesejáveis, esses quatro fundaram a Associação Metropolitana de Esportes Amadores – Amea. Entre outras restrições, impunham a condição de que o clube dispusesse de campo adequado (o Vasco não tinha) e que os jogadores não ganhassem para jogar. Assim, houve dois campeonatos em 1924: um pela Amea e outro pela Liga Metropolitana de Desportos Terrestres, pela qual o Vasco tornou-se campeão.
A assimilação de conceitos de modernidade estava presente na elaboração do projeto. Sua fachada foi projetada por Ricardo Severo (o mesmo que faria o projeto do Estádio do Pacaembu), arquiteto português radicado em São Paulo, muito solicitado para projetos arquitetônicos pela colônia portuguesa espalhada pelo Brasil. Pautando-se pelas orientações da Federação Alemã de Esportes, foi feito um gramado elíptico regular para a implantação do campo de futebol (de 105 m x 70 m), circundado por pistas de atletismo. Para os camarotes, dispostos na Tribuna de Honra, foram projetadas cadeiras especiais de madeira. As arquibancadas tinham dois setores: um coberto e outro descoberto. A colocação dos assentos de forma alternada nos degraus permitiu melhor visibilidade para o espectador. O estádio foi construído conforme o sistema em “U” cujo complemento, que faria o fechamento da elipse, foi idealizado por Adolfo Morales de Los Rios, ainda em 1927, mas não foi implantado.
Um dos pontos marcantes desse processo foi quando o Vasco da Gama, em 1923, em seu primeiro ano na primeira divisão, admitiu negros em seu time. “Quanto mais o Vasco vencia, mais os campos se enchiam. Até o estádio do Fluminense ficou pequeno. Gente que nunca tinha assistido a uma partida de futebol deu para comprar a sua arquibancada” (Mário Filho, 1964, p. 122).
Diversas outras características especiais tornavam o estádio, na época, uma obra monumental única no país e na América Latina. Aspectos como conforto, segurança, iluminação, salubridade e zoneamento dos setores eram visivelmente inovadores na obra.
Nesse mesmo ano o clube inicia uma campanha para captação de recursos destinados à construção do seu estádio de futebol. Inserida em um momento de expressiva popularização do esporte e forte presença do Vasco em jogos, a campanha iria tornar-se um sucesso. O clube alcança 7.189 novos sócios em 1926, ano em que é adquirido o terreno na Colina de São Januário (antiga Chacrinha do Imperador), com 65.445 m2, pelo qual pagou 665:895$000 (seiscentos e sessenta e cinco contos e oitocentos e noventa e cinco mil réis).
No dia 27 de abril de 1927, o Estádio de São Januário é entregue. Na inauguração, à qual estiveram presentes o presidente da República, Washington Luiz, alguns ministros de Estado bem como o presidente
O projeto do estádio seria desenvolvido pela Christiani-Nielsen, empresa que prestava serviços em projetos de urbanização, e iria construir, entre outros, o Elevador Lacerda e o Estádio do Maracanã. Com o lançamento da pedra fundamental, em 6 de junho de 1926,
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Foto aérea do Estádio do Vasco da Gama. Arquivo Images2You
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da então Confederação Brasileira de Desportos – CBD, Oscar Costa, o Vasco, em jogo amistoso, venceu o Santos por 5 a 3. Além dos aspectos formais e funcionais da construção, outro fato deve ser destacado no São Januário: sua localização. “Os clubes de regatas ocupavam a orla marítima e, na medida em que a camada mais pobre da população foi se apropriando do futebol, uma prática esportiva até então da elite, deu-se início à construção dos estádios que, cada vez mais, foram ocupando bairros mais residenciais e/ou mais populares da cidade, afastando-se do Centro” (Malhano & Malhano, 2002, p. 104) Era o caso do Bangu no início do século XX, cujo campo ficava próximo à Cia. Progresso Industrial do Brasil, em Bangu, bairro distante do centro do Rio. O Vasco, fazendo prevalecer a escolha do jogador por suas qualidades em campo, para além de sua cor ou origem, e introduzindo o pagamento do “bicho” aos jogadores – quando a equipe se saísse vitoriosa –, quebrava dois paradigmas históricos no futebol brasileiro e instituía um modelo cuja representação maior foi a construção do Estádio de São Januário, uma conquista intrinsecamente associada às posturas adotadas pelo clube.
Do futebol jogado por negros, operários e atletas de origem humilde nasceu o grande estádio de São Januário (déc. 1920).
As características do Estádio, especialmente em relação à segurança, aliadas ao fato de ser então o maior do país, o que tornava um local privilegiado e potencial catalisador de diversificado público, transformaram-se em fatores fundamentais para ser utilizado como espaço de comemorações dos poderes públicos, cooperação essa que se estendeu por anos.
From the football played by the black, by blue collar workers and by athletes of humble origins, the big stadium of São Januário appeared (1920).
Em 1935, o evento de encerramento do Primeiro Congresso de Educação trouxe 40 mil pessoas, grande parte de normalistas. Foi em São Januário que, em 1940, o presidente Getúlio Vargas
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anunciou a criação do salário mínimo e das leis trabalhistas. Outras comemorações, como a do Dia do Trabalho e a do Dia da Independência, também transcorreram no local, acompanhadas de apresentações militares e civis: desfiles, exibições atléticas, esportivas, formaturas, juramento à bandeira, eventos beneficentes. O compositor e maestro Heitor Villa-Lobos regeu um coro de aproximadamente 40 mil estudantes presentes ao São Januário, em uma demonstração de canto orfeônico.
No Estádio da Graça, em Salvador, inaugurado em 1920, novos costumes são instaurados na rotina dos “[...] torcedores de futebol, além do conforto. Antes, as pessoas assistiam aos jogos em pé, ao lado da linha lateral, isoladas por uma corda de sisal. E as mulheres e os mais idosos usavam pesadas cadeiras de madeira, naquele tempo não existia o mobiliário de plástico, ou fibra. Os assentos eram transportados em carroças de jegue, já que o serviço de bonde não aceitava carregar equipamentos daquele porte e peso. No Estádio da Graça a maioria assistia ao jogo sentada sobre a madeira de lei da arquibancada ou em almofadas trazidas de casa. A arquibancada era de madeira, mas muito bem construída e com manutenção em dia, tanto que nunca despencou” (Cadena, 2012).
As grandes concentrações de cunho cívico tornaram-se, involuntariamente, uma extensão ampliada da grande mobilização que o clube promoveu para erguer o São Januário, estádio que por pouco mais que uma década se manteve como o maior do Brasil. Outros estádios inaugurados ou reformados/ampliados na década de 1920 reforçavam o espaço que o futebol conquistava. Mas na maioria prevalecia a solução convencional: uma arquibancada em uma das laterais do campo.
Na página anterior, assistência presente ao jogo entre Vasco da Gama e Santos. Fon Fon, 30/4/1927, ed. 18. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil Ministro Gustavo Capanema, presidente Getúlio Vargas e outros por ocasião do Desfile da Juventude, realizado no campo do Vasco da Gama. Rio de Janeiro, 7/9/1943. Acervo CPDOC/GC MGC foto 297-3. Ao lado, arquibancada do campo do Coritiba Foot Ball Club, década de 1920. Coritiba Foot Ball Club/Acervo
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Chutes à luz de lâmpadas OS
NOVOS E MAIS expressivos estádios da década de 1920 – como o São Januário e o Fluminense, ambos no Rio – acrescentariam, em 1928, mais um componente de modernidade às suas instalações: refletores para que o futebol pudesse ser jogado no período noturno. Para os espectadores que foram ao Estádio de São Januário na noite do dia 31 de março de 1928 assistir ao jogo entre o Wanderers de Montevidéu e o Vasco da Gama, era uma grande novidade. Mas esse teria sido o primeiro jogo noturno no Brasil? Segundo Efegê (1970), Thomaz Mazzoni se equivocou quando afirmou que essa foi a primeira competição noturna realizada em campo iluminado, mas coube, sim, ao clube “dar projeção aos jogos noturnos em campos oficiais”.
As primeiras lâmpadas a serem acesas para uma disputa de futebol brilharam no dia 5 de setembro de 1914, na Vila Isabel, campo do antigo Jardim Zoológico. A equipe do Villa Izabel Football Club, fundado em 2 de maio de 1912, e uma seleção de Campos dos Goytacazes, do Rio de Janeiro, disputaram, para espanto de muitos, um amistoso em um horário até então improvável: 21 horas. Foram instaladas especialmente para o jogo 12 lâmpadas de 3 mil velas, uma parca luz com a qual mal se podia ver o posicionamento dos jogadores. Além de torcedores e curiosos – muitos deles talvez estimulados pelo anúncio em jornal local –, estiveram presentes o senador Nilo Peçanha e outras autoridades. O jornal O Imparcial registra a realização do inédito embate: “Sabbado passado teve logar no field do Villa Isabel a inauguração do football nocturno, que, digamos de passagem, não pode absolutamente ter o mesmo brilhantismo que o praticado sob os causticantes raios solares. Á noite, quem quizer obter uma certa vantagem, não tem mais do que impulsionar a esphera de grande distância e com violento shoot sobre as barras antagonistas” (O Imparcial, 7/9/1914).
Desde o final do século XIX, as partidas de futebol aconteciam exclusivamente no período diurno. Era ali, sob sol, à luz do dia, que jogadores e espectadores podiam acompanhar, com a claridade necessária, ainda que em dias nublados ou chuvosos, a movimentação das equipes. Essa prática, de jogos serem realizados somente durante o dia, conciliava uma agenda já estabelecida – dos organizadores, clubes, ligas e assistentes – com a questão da disponibilidade de transportes e da segurança dos que estavam presentes ao campo de futebol.
Terá sido, possivelmente, o primeiro jogo noturno no Brasil e na América do Sul (Becker, 2010a).
Assim, para que cogitar a possibilidade de serem disputadas partidas no período noturno? Para que jogos noturnos?
A experiência pioneira, um tanto precária, parece não ter deixado rastros de continuidade na década, nem despertado interesse de outros clubes ou ligas de futebol. Ou, simplesmente, o evento não teria extrapolado o campo onde o jogo ocorreu.
Essa questão ganha novas luzes em 1914, data em que se registram as informações mais remotas sobre jogos à noite. “Pela primeira vez no Brasil, e cremos que na America do Sul, vae o publico carioca ter a satisfação de assistir ao seu sport predilecto á noite” (O Imparcial, 5/9/14).
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Somente no início da década de 1920 surgem novas notícias. Consta que as equipes do XV de Novembro e da Academia de Comércio se confrontaram, na noite da passagem do ano de 1921 para 1922, no antigo Seminário São Luiz Gonzaga, em Guaxupé (MG). Levou a melhor o XV: 2 a 1 (Becker, 2010a).
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Um treino noturno entre as equipes da Sociedade Esportiva Linhas e Cabos, formadas por funcionários da Light & Power, em seu campo, à rua Glicério, em São Paulo, foi o palco para a aplicação de uma ideia do presidente do clube, Severino Rômolo Gragnani, “para compensar a imprevisibilidade dos horários de trabalho, que dependiam de turnos ininterruptos de revezamento” (Becker, 2010a). O primeiro jogo, no entanto, de acordo com Luiz Fernando Bindi (apud Becker, 2010a), teria ocorrido em 1926, nesse mesmo campo, entre a Light & Power e a Associação Atlética República. Em seu livro História do Futebol no Brasil, o jornalista Thomaz Mazzoni transcreve artigo sobre o treino. “Na noite de 24 de junho de 1923, uma equipe de funcionários da Light entrou em campo para disputar com um time local, sob a luz de vinte refletores e dez projetores, a primeira partida de futebol artificialmente iluminada. Novos jogos seriam realizados na véspera de Natal do mesmo ano e nas noites de 12 e 19 de janeiro de 1924, com grande sucesso. Após a realização das duas partidas iniciais, os organizadores tiveram a feliz ideia de pintar a bola de branco, o que melhorou bastante a visão de jogadores e torcedores. A Light se orgulhava tanto de seu pioneirismo que, em 2 de fevereiro de 1924, o superintendente Edgard de Souza escreveu ao editor da revista norte-americana Electrical World, informando que o ‘primeiro jogo de futebol noturno disputado no mundo’ não foi realizado em Lynn, no Estado de Massachussets, em 21 de novembro de 1923, como a revista noticiava, mas sim em São Paulo, alguns meses antes, numa festiva noite de São João” (Boletim Histórico no 5 da Eletropaulo S/A, fevereiro de 1986 apud Caldas, 1990, p. 90).
“O football será jogado à noite”. O Imparcial, 5/9/1914. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil Nota sobre o primeiro jogo noturno, ocorrido em Vila Isabel (RJ). O Imparcial, 7/9/1914. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil Foto do team do Vila Isabel no artigo “Feras enjauladas no primeiro jogo noturno”, de Jota Efegê. Jornal do Brasil, 2/4/1970. Arquivo Jornal do Brasil
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E chegam os refletores nos estádios: o futebol começa a ser jogado à noite (1928).
O presumido pioneirismo, como se viu, não se confirmaria. Mas uma coisa é certa: a bola de couro, cuja cor tradicionalmente se assemelhava a um marrom-alaranjado, ainda um tanto ineficaz para uma condição adequada do jogo à noite, pintada de branco mudaria o rumo dos chutes. Se a ideia era fazer com que se enxergasse a bola, a escolha da cor acertou em cheio...
And the reflectors get to the stadiums: football started being played at night (1928).
Passadas essas experiências sem efetiva continuidade e pulverizadas geograficamente, é somente através do Vasco da Gama que em 1928, em continuidade ao conjunto de modernizações que vinha realizando em seu estádio, a iluminação chega, de forma irreversível, aos campos de futebol. “O Estádio de São Januário, no entanto, só estaria disponível para competições noturnas ao completar seu sistema de iluminação artificial da arena. As normas internacionais exigiam a maior uniformidade possível na iluminação do terreno [...]. Convinha um forte sombreado no espaço destinado aos espectadores, que deveria ser pouco iluminado para que estes pudessem distinguir, perfeitamente, o campo de jogo” (Malhano & Malhano, 2002, p. 168). O maior estádio particular do país passava a atender, regularmente, tanto aos jogos disputados durante o dia, quanto aos noturnos. Privilégio para o público carioca até então, a instalação de refletores do São Januário inaugurava, efetivamente, um período de gradual processo de iluminação dos estádios.
Acima, vista geral do Estádio do Pacaembu, na zona oeste da capital paulista, na década de 1940. Alex Silva/Estadão
No dia 31 de março de 1928, 65 refletores fixos iluminam aquele que é considerado o primeiro jogo oficial noturno no Brasil. Com um gol olímpico de Santana, ponta-esquerda do time, o Vasco vence o Wanderers, de Montevidéu (Caldas, 1990, p. 90; Becker, 2010a).
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Na página ao lado, Estádio do Fluminense, em partida à noite, 1928. Acervo Flu-Memória Jogo noturno no Estádio de São Januário, em que o Vasco venceu os uruguaios. O Malho, 7/4/1928. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil
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A possibilidade de estádios serem iluminados para a disputa de jogos noturnos, especialmente a partir de fins da década de 1920 e início da década de 1930, vinha atender às demandas de um processo de popularização do futebol, com a alternativa de jogos à noite durante a semana. E também: maior amplitude de horários, possibilidade de mais jogos, mais oportunidades para o público estar presente, mais público, mais receita, atendendo a conveniências tanto de clubes, quanto de ligas e torcidas. Meses depois é a vez do Fluminense: a Seleção Carioca de Futebol e o Motherwell Football Club, da Escócia, jogam sob as luzes dos refletores do Estádio das Laranjeiras dia 21 de junho de 1928 (O Estádio..., 2014).
Pouco demorou para que o espetáculo de futebol noturno fosse clicado e transformado em postal. Com os refletores acesos exatamente às 20 horas, no dia 21 de março de 1931, o Estádio Urbano Caldeira recebe a Seleção da Cidade, que venceu o Santos por 1 a 0 – em sua primeira partida com o estádio iluminado. No postal, com imagem feita pelo fotógrafo Wessel, destacam-se os majestosos portões através dos quais se podia acessar as arquibancadas de madeira. O propósito – talvez já quase uma necessidade – de ter o campo do estádio iluminado fez com que os jogadores do Palestra Itália participassem desse processo: “[...] em 1936 os próprios jogadores fizeram a campanha da iluminação e o clube passou a ter a primeira praça esportiva com iluminação definitiva da cidade” (Christianini, 2008).
O campo da Cia. City Atlético Clube, equipe formada por operários dessa concessionária de serviços urbanos e transporte na cidade de Santos (SP), dia 12 de outubro 1929, em jogo contra o Bahia Futebol Clube, recebeu refletores para seu primeiro jogo noturno: “A instalação, se bem que deficiente pelo modo como foram colocados os postes, muitos metros separados, não deixou de constituir agradável surpresa a todos aqueles que nunca haviam assistido a um jogo noturno” (A Tribuna apud Histórias e lendas de Santos..., 2003).
Novas luzes para um esporte que precisava ampliar locais e horários de realização. E mais: um esporte que precisava criar novas possibilidades de acompanhamento das partidas para quem não pudesse ir ao estádio. Surgem as transmissões por meio de altofalantes e do rádio, responsáveis por uma radical ampliação do número de torcedores fora do estádio.
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O rádio entra em campo MULTIDÕES FORAM presença constante e marcante nos anos
Apesar de os ingressos subirem de preço, em decorrência do profissionalismo, o público dos estádios não parava de aumentar.
1930. Em função dos turbulentos momentos políticos e sociais, as aglomerações estavam ali presentes: nos discursos políticos, nas manifestações operárias, nas apresentações de cantores ou para acompanhar o Brasil na Copa do Mundo de 1938. De um cenário que requeria mudanças (dificuldades financeiras decorrentes da crise de 1929, incipiente industrialização, crescente urbanização, demanda de trabalhadores e profissionais liberais) associado a movimentos que exigiam alteração do paradigma político do país – fim da aliança política “café com leite”, em que São Paulo e Minas Gerais se alternavam no poder, sempre sob a suspeita de fraude –, emerge a Revolução de 1930, com a assunção de Getúlio Vargas à presidência.
Não havia, entretanto, uma imediata contrapartida de clubes e instituições a essa demanda. Thomaz Mazzoni aponta a questão: “O grave problema das acomodações em campos paulistas – Desde 1933 que se tornaram de vez insuficientes nossos campos em vista da crescente atração das partidas, mas pouco ou nada se fez em favor do público, com prejuízo naturalmente à própria economia e popularidade do futebol local e consequentemente um grande mal ao ‘association’ profissional” (Mazzoni, Problemas e aspectos do nosso futebol. Edições A Gazeta, 1939, São Paulo, p.33 apud Caldas,1990, p. 204).
O governo, caracterizado por um regime autoritário (supressão das eleições e órgãos legislativos, nomeação de interventores, etc.) e ditatorial, a partir de 1937, quando a censura passa a vigorar nos meios de comunicação e a atividade política é reprimida, paradoxalmente introduz algumas linhas de modernização institucional no país como uma perspectiva predominante de desenvolvimento urbano (em oposição ao agrário-exportador).
Enquanto o Rio dispunha de amplos estádios, em São Paulo a melhor iniciativa havia sido a do Palestra, que ergueu novo estádio, em 1933, em que 30 mil pessoas chegaram a ocupá-lo, 10 mil acima de sua capacidade. Era o dia 13 de agosto, com vitória de 6 a 0 sobre o Bangu, quando se inaugurava o Stadium Palestra Itália, em que foram construídas arquibancadas de concreto – transformando-o, então, no maior e mais moderno da cidade.
Com a formação de uma classe urbana, a criação de base para legislação trabalhista, a publicação do Código Penal, a instituição do voto secreto e do voto da mulher, bem como a abertura do país para as relações internacionais, o governo deu início a uma estratégia de comunicação de massa por intermédio do rádio como instrumento político e social.
Mas, para além dessas questões, havia outras para o torcedor. O que fazer quando, apesar de ter o maior interesse, não pudesse ir ao estádio? Seu time, seu ídolo, a seleção, talvez uma grande final – muitos eram os motivos para estar lá. Mas, e se não pudesse estar? Desde o início do século XX, jornais e revistas traziam notícias, no dia seguinte ou dias depois, sobre os jogos realizados.
Paralelamente, o futebol ganha novos e importantes contornos no período: a implantação do profissionalismo em 1933, o rádio como dinamizador do esporte e a participação do Brasil na Copa do Mundo de 1938. Fortalecem-se as iniciativas para erguer o maior estádio brasileiro no período.
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A expectativa de poder, de alguma forma, saber algo sobre a partida no momento em que ela estivesse acontecendo, acompanhá-la, ainda que não estando presente no estádio – este anseio do torcedor passou a ter solução no fim da década de 1910.
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Um imenso contingente de pessoas que desembocavam no Vale do Anhangabaú, torcendo pela seleção brasileira na final contra o Uruguai, em 1919, pelo Campeonato Sul-Americano, acompanhava atentamente a fachada do prédio em que o jornal O Estado de S. Paulo retransmitia notícias. Era como se estivessem olhando para um simulacro de campo de futebol. Era quase isso. Por meio de placares informativos, notícias sobre o jogo – obtidas por meio do telefone diretamente do Rio de Janeiro, onde se realizava a partida – podiam ser lidas pelos torcedores. De modo sintético, palavras escritas, como ataque, defesa, impedimento, escanteio... e gol “mostravam” o espetáculo esportivo que acontecia a pouco mais de 400 km da capital paulista, causando um frenesi na torcida. Era um “desejo de estádio” – nas palavras de José Miguel Wisnik, no livro Museu do Futebol –, manifesto ali no Anhangabaú, “[...] enquanto inusitado palco de partidas jogadas a distância, anfiteatro em que multidões se reuniam para receber notícias de jogos em andamento remoto” (Wenzel & Munhoz, 2012, p. 23).
Distantes dos estádios, alto-falantes e rádios levam o futebol até o torcedor (déc. 1920/1930). Far from the stadiums, loadspeakers and radios take football to the fan (1920’s/1930’s).
O telefone e a mudança de placares com palavras indicando situações do jogo davam sinais de uma busca de solução que suprisse, ainda que precariamente, o interesse pelo acompanhamento de um evento esportivo que estava acontecendo naquele momento longe desse núcleo torcedor. Nesse sentido, um passo importante para aproximar o espectador do distante campo de futebol é dado em 1922, durante nova edição do Campeonato Sul-Americano. E, em São Paulo, o Anhangabaú é novamente o palco privilegiado para a torcida vibrar com o que ouvia através dos alto-falantes instalados pelo jornal A Gazeta. Em uma iniciativa de Cásper Líbero, proprietário do jornal, os paulistanos podiam ouvir, pela primeira vez, uma transmissão de futebol feita por telefone (Wenzel & Munhoz, 2012; FCL, 2014). Ali, mirando o alto-falante como se estivessem presenciando as jogadas, atentos a cada detalhe sonoro, os torcedores podiam acompanhar o desenrolar do jogo e experimentar as sensações da partida. Enquanto, nesse mesmo ano, as primeiras experiências com o rádio ocorriam na Exposição Comemorativa do Centenário da Independência, o alto-falante dava mostras de que era um aglutinador de multidões, especialmente nos eventos futebolísticos.
Alto-falante utilizado pelo jornal A Tribuna de Santos para irradiar, pela primeira vez na cidade, uma partida de futebol, entre paulistas e cariocas, transmitida do Rio de Janeiro por telefone em 1927. Arquivo jornal A Tribuna de Santos
As mais antigas informações sobre a transmissão pelo rádio de um jogo de futebol remetem a um domingo de abril de 1925 quando,
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Para o radiouvinte visualizar melhor o campo e o jogo, o speaker sugere ao torcedor imaginar a disposição das equipes em uma caixa de fósforos. Ilustração: Marco Antônio Lane Valiengo
pela Rádio Educadora Paulista, o locutor lia os telegramas que traziam os resultados dos mais importantes jogos da cidade de São Paulo, do interior paulista e do estrangeiro. Era só um prenúncio de uma vigorosa aproximação que aconteceria entre rádio e futebol. Enquanto isso, um alto-falante era instalado no campo do Palestra para que os torcedores pudessem acompanhar as notícias do jogo entre Rio e São Paulo, final do III Campeonato Brasileiro, no dia 13 de setembro de 1925 (Correio Paulistano, 12/9/1925).
Filmando “oralmente” o jogo Nicolau Tuma – um dos nomes mais importantes da história das transmissões esportivas no Brasil – no dia 19 de julho de 1931 realiza, diretamente do campo da Chácara da Floresta, aquela que é considerada a primeira transmissão ao vivo. Como as camisas do uniforme dos jogadores não traziam o número nas costas, ele foi ao vestiário das seleções de São Paulo e do Paraná visando identificar cada jogador. E como também não havia comentarista ou repórter, nem comerciais, o narrador, e só ele, irradiava ininterruptamente e com muitos detalhes – motivo para Tuma ganhar o apelido de “speaker metralhadora”. E, novamente, o Anhangabaú, na Confeitaria Mimi, trazia o campo da Chácara da Floresta para os alto-falantes.
Mesmo quando o rádio passou a transmitir partidas – a primeira teria sido através da Rádio Educadora Paulista, cobrindo um jogo entre paulistas e cariocas, no Rio de Janeiro, no ano de 1927 –, os alto-falantes não foram dispensados. Para essa ocasião, alto-falantes foram instalados em alguns pontos da cidade: estavam, além de novamente na sede do jornal A Gazeta, também na Sorveteria Meia Noite e na Leiteria Brilhante, permitindo que um grande número de aficionados pudesse acompanhar os lances da partida (Calabre apud Bezerra, 2008).
Em um período em que não havia espaço próprio para as cabines de rádio, o locutor, do espaço na arquibancada que ele próprio denomina de “reservado de imprensa”, “ [...] estabelece um contrato com seus ouvintes: ‘Eu estou aqui no reservado da imprensa do campo, contemplando as arquibancadas. Estou ao lado das gerais e vou tentar transmitir para vocês que me ouvem um relato fiel do que irá acontecer em campo’. [...] A primeira imagem usada por ele para incentivar a criação, na imaginação do receptor, do espaço físico onde irá se desenrolar a competição [foi sugerindo o ouvinte a pensar] [...] num retângulo na sua frente ou então para pegar uma caixa de fósforos e visualizar o campo. [...] ‘Do lado direito estão os paulistas e, do lado esquerdo, estão os paranaenses’” (Soares, 1994, p. 29-30).
Nesse final de década de 1920, ainda era bem discreto o número de aparelhos de rádio – importados, em sua a maioria, e restritos a poucas famílias. Os alto-falantes instalados em locais públicos em festivas datas esportivas tinham o efetivo poder de multiplicar, às centenas ou milhares, o número de ouvintes-torcedores. Em torno deles se reuniam pequenas ou grandes multidões para ouvir a partida. O que, complementarmente, era um meio de divulgar as próprias rádios, as quais iriam contribuir para a popularização do futebol (Calabre apud Bezerra, 2008). As mudanças mais substanciais nas transmissões de partidas de futebol ocorreriam na década de 1930. Além da imprensa esportiva – Jornal dos Sports, no Rio de Janeiro, e Gazeta Esportiva, editada primeiramente como suplemento de A Gazeta, em 1928 –, mais emissoras, transmissões mais regulares, o advento dos speakers que moldariam singulares padrões de locução e também a formação de audiências, tudo isso agiria diretamente na dinâmica do radiouvinte torcedor e seu anseio pelo esporte. Ouvindo pelo rádio ou presente no estádio.
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Além do pioneirismo nas características da transmissão, deve-se também a Nicolau Tuma as primeiras tensões entre rádio e estádio, em decorrência de presumido poder de uma transmissão esportiva afastar o torcedor de assistir ao jogo: “Suas transmissões ganharam tantos ouvintes que, em 1937, ele foi proibido de entrar no estádio para narrar um jogo entre
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Palestra e DCB porque temia-se perder público. Transmitiu o jogo de cima de uma escada de 14 metros, fora do estádio” (Madrigal, 2009, p. 20). Era notória a importância do rádio na transformação do jogo de futebol, através da locução do speaker, em um espetáculo narrativo, cuja sonoridade e potencial visualidade tornavam tão próximo e presente o ambiente do campo de futebol para o ouvinte. O jogo que ali se realizava, o rumor e a vibração dos torcedores, ensejou Edileuza Soares, autora do livro A bola no ar: o rádio esportivo em São Paulo, a designar um dos subcapítulos sintomaticamente como “O estádio dentro de casa”. Ary Barroso e a transmissão em cima de um telhado Ary Barroso tornou-se um dos ícones da locução esportiva a partir da década de 1930. Suas características singulares – locutor carismático que recheava suas transmissões de opiniões pessoais, polêmicas, irreverência e frases de efeito, além de tornar-se conhecido como o “speaker da gaitinha”, instrumento que soprava quando havia um gol – contribuíram para atitudes inusitadas nos campos de futebol. Em programa de sua criação, Esportes na Batata, lançou um personagem, Aílton Flores, que: “[...] foi o primeiro a trabalhar como repórter de campo nos jogos de futebol” (Bezerra, 2008).
Vasco e Fluminense. Ary Barroso, então locutor da Rádio Tupi, não teve dúvidas: ele ia transmitir, sim, o jogo. E o que fez? Com o auxílio de binóculos, de cima de um telhado de casa próxima ao Estádio de onde poderia ver todo o campo, de lá, clandestina e acrobaticamente, transmitiu o jogo para seus ouvintes, até vascaínos descobrirem seu ardil e impedirem sua visão com faixas. Mas não desanimou, e foi transmitir de um ginásio mais distante (As Lutas e..., 2014; Kfouri, 2003).
Por necessidade de ofício, as transmissões passavam a promover maior interação entre o rádio, por seus locutores e repórteres, e o local onde o jogo estava sendo disputado: era preciso estar no campo, próximo do jogo, do jogador e, às vezes... do juiz. Em partida realizada em 1937, na Argentina, com microfone em punho invadiu o campo, protestando contra o árbitro (Bezerra, 2008).
A Copa de 1938 e os “microestádios”
Espaço exclusivo de jogadores e arbitragem, dentro das normas que o definiam para a prática do futebol, o campo era assim, ao mesmo tempo, limite a partir do qual, ultrapassado, seria caracterizada uma invasão: e o repórter Ary assim o fez – e o campo foi invadido.
Realizada na França, a Copa do Mundo de 1938 tornou-se oportunidade para o Brasil internacionalizar suas transmissões esportivas, ainda que precárias tecnicamente. Pela primeira vez, a começar pela partida entre Brasil e Polônia, dia 5 de junho, transmitiase um Campeonato Mundial de Futebol. Leonardo Gagliano Neto
Sua assertiva presença nos campos teve como contraponto uma proibição de entrar no Estádio de São Januário para o jogo entre
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narrou as partidas em cadeia nacional, sob o comando da Rádio Clube do Brasil, do Rio de Janeiro. E, como já ocorria havia quase duas décadas, os alto-falantes, instalados em praças de municípios brasileiros, foram os responsáveis – juntamente com o rádio – pela imensa difusão da transmissão. A população podia acompanhar e vibrar com o desenrolar das partidas que tão longe aconteciam (Madrigal, 2009, p. 24).
Essa aproximação era também reforçada por discretas mudanças que ocorriam na imprensa. Em função de uma ação do jornalista Mário Filho, os clubes cariocas, até então referidos em sua denominação completa, passaram a ser chamados de forma simplificada. Assim, o Fluminense Football Clube passou a, simplesmente, Fluminense. E, da mesma forma, os demais: Bangu, Flamengo, Botafogo, América, etc.
Como se fossem “microestádios” reunindo um grande público de torcedores, os bares, as casas, os restaurantes e tantos outros lugares em que um rádio estivesse ligado, sintonizado nos jogos, transformavam-se em ilhas de arquibancadas, reforçando ainda mais a popularização do futebol e seu papel na identidade cultural brasileira (Madrigal, 2009, p. 25). As transmissões esportivas através do rádio acabaram por reforçar uma intimidade entre o ouvinte e jogadores, equipes, campo, torcedores e estádio através do locutor. Esse levar (ou trazer) um pouco mais para perto era, de certa forma, também uma aproximação simbólica do espectador em relação ao jogador e ao espaço onde o jogo se realizava. O jogo podia ser visualizado através das ondas sonoras. Era trazer o campo e o estádio, e o espetáculo que ali acontecia, para perto dos ouvidos e da imaginação do torcedor-radiouvinte. E mais: como ele estava vendo ali um espetáculo, sua locução, a partir da dinâmica daquilo que ocorria no campo e no estádio, poderia ir ensejando as reações dos torcedores, que vibravam, comemoravam, xingavam, se desesperavam ou exprimiam alívio.
Na página anterior, anúncio dos cigarros Leônidas. Correio Paulistano, 28/7/1938. Arquivo Público do Estado de São Paulo Figurinha contendo a representação da sequência de lances no gol contra os tchecos, para melhor visualizar a movimentação dos jogadores em campo. Correio Paulistano, 23/8/1938. Arquivo Público do Estado de São Paulo Ao lado, em cima, tribuna social coberta do Parque Antarctica, 1933. Acervo Histórico SEP Estádio do Coritiba, 1931. Acervo Coritiba Foot Ball Club
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Uma praça de esportes no vale A CONSTRUÇÃO DE estádios, para além das obras resultantes da
Pacaembu: futebol, crescimento urbano e política construindo o primeiro estádio municipal (1940).
ação direta dos clubes, alinhava-se, de modo cada vez mais visível, a um contexto que extrapolava as questões específicas do esporte.
Pacaembu: football, urban growth and politics building the first municipal stadium (1940).
Tornavam-se mais evidentes as tensões e a intrincada articulação entre grupos e valores sociais, futebol, política e questões como urbanização ou identidade nacional. A complexa trama que permeava as discussões sobre conceituação, localização, projeto e construção – e os percalços inerentes a todo esse processo – representava também uma modernização da abordagem do tema. É o caso do Estádio do Pacaembu, que por anos representaria o espaço privilegiado para o futebol em São Paulo. Encravado em um fundo de vale do ribeirão Pacaembu, o Estádio do Pacaembu é um marco na cena arquitetônica paulistana e símbolo de uma dinâmica que reuniu futebol, política e crescimento urbano. Desde que a capital paulista deu sinais da necessidade de um novo estádio, pouco antes de 1920, alguns locais haviam sido aventados, como o Parque Antarctica, a Várzea do Carmo e o Vale do Anhangabaú. Havia um desejo dos paulistanos de que a cidade fosse dotada de um estádio que atendesse às demandas de torcedores, clubes e demais agentes ligados ao esporte, bem como de outras modalidades de um modo mais amplo. A imprensa traduzia esse anseio em notícias sobre o grande número de torcedores que acorriam aos jogos, incompatível com a capacidade dos estádios: “O domingo que passou serviu para nos provar que o maior estádio da cidade, o Parque Antarctica, não é mais capaz de suportar a grande leva de torcedores. O embate entre Palestra e Corinthians levou mais de 35 mil espectadores ao estádio. Quando as autoridades vão olhar mais diretamente para isso? O futebol é o mais popular esporte da cidade, e ainda não temos um estádio compatível com essa popularidade
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Artigo sobre a necessidade de a cidade de São Paulo ter o seu estádio. Correio Paulistano, 29/7/1920. Arquivo Público do Estado de São Paulo Na página ao lado, “Perspectiva do Projeto Definitivo do Estádio do Pacaembu – Escritório Severo & Villares, projeto e construção”. Acervo permanente do Arquivo de São Paulo
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(‘Superlotação’ in: A Gazeta, 15/5/1929, p. 9)” (apud Gessi, 2013, p. 22).
compatível com sua importância nos cenários esportivo, social e político nacional, além de símbolo de um país que se modernizava.
O atendimento a essa expectativa iria se tornar possível graças a dois importantes vetores da dinâmica paulistana: 1) A expansão urbana – A Cia. City*, empresa responsável por loteamentos de alto padrão, em função de ter doado à municipalidade uma área situada naquele que seria o futuro bairro do Pacaembu, tinha um efetivo interesse em que nesse local se erigisse um estádio, já que o empreendimento seria um fator de atração e incentivo às vendas dos terrenos dos quais era proprietária. 2) Um estádio municipal – A assunção por parte do governo municipal da construção de um estádio de futebol nessa área doada pela Cia. City promoveria uma projeção do futebol paulista,
A empresa City of São Paulo Improvements and Freehold Land Company Limited, ou mais simplesmente Cia. City, foi fundada em 1911 por iniciativa de um banqueiro francês, Edouard Fontaine de Laveleye, associado a investidores franceses e ingleses. Quando São Paulo contava com cerca de 1 milhão de habitantes, em 1912, a empresa adquiriu o equivalente a 37% da área urbanizada da cidade e implantou um modelo urbanístico com arruamentos sinuosos, em vez do traçado reto: eram os bairros-jardins, como seriam conhecidos o bairros Jardim América, Alto da Lapa, Pacaembu e parte do Butantã. *A Companhia City de Desenvolvimento é a única titular do direito de uso e propriedade das marcas compostas pelas expressões CITY e CIA. CITY.
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Abaixo, vista geral da implantação do Estádio do Pacaembu, 1939/1940. Secretaria de Planejamento e Gestão Governo do Estado de São Paulo
As vendas dos terrenos do Pacaembu tiveram início em 1913, mas foram suspensas, sendo retomadas em 1925. Nessa época, a Cia. City já havia identificado na possibilidade de construção de um estádio nesse loteamento um potencial elemento de atração de vendas dos terrenos – afinal, tratava-se do esporte mais popular da cidade.
Na página ao lado, área onde seria implantado o Estádio do Pacaembu, 1937, e a futura Praça Charles Miller. Acervo Cia. City Estádio do Pacaembu, 1939. Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo / Benedito Junqueira Duarte
Para esse fim, a empresa fez a doação de 50 mil m², acrescentados, em 1936, de outros 25.598 m², por solicitação da Prefeitura. A área doada ao poder municipal, um fundo de vale do ribeirão Pacaembu, era um local impróprio para a construção de residências. Naquele ano, foram iniciadas as obras, três anos após a elaboração do primeiro projeto.
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Fachada do Estádio do Pacaembu, 1941. Acervo Cia. City
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Idealizado por Mário de Andrade e Paulo Duarte, com projeto e construção do Escritório Técnico Severo Villares, concebia-se um local que “[...] funcionaria como um complemento aos campos de atletismo, dentro de um amplo programa social de educação de menores sem acesso a clubes privados. Além da crescente e inquestionável paixão pelo futebol por parte dos torcedores, o programa do complexo esportivo tinha, portanto, maiores pretensões. Desenvolveu-se dentro do contexto de um programa social em que se incluíam o espírito de valorização das atividades físicas, a introdução de novas modalidades, as conquistas de medalhas por atletas locais e o reconhecimento do potencial educativo dos esportes” (Wenzel & Munhoz, 2012, p. 55). Fato de outra natureza reafirma a crescente necessidade de um novo estádio. Em seu retorno de vitoriosa excursão pela Europa em 1925, o Clube Atlético Paulistano tornou-se alvo de demonstrações que evidenciavam a intensa mobilização que o futebol gerava em distintas instâncias sociais. População, torcedores, agentes esportivos e políticos faziam parte de um contexto em que ficava evidente o potencial integrador do futebol. E mais: “[...] as fanfarras militares e a recepção presidencial retratam o envolvimento político no cenário futebolístico, parceria que seria cada vez mais explorada pelo governo brasileiro que passou a enxergar o esporte como um instrumento de manipulação de massas e de exaltação nacionalista” (Gessi, 2013, p. 22). O projeto desenvolvido pelo Escritório Técnico identifica-se, esteticamente, com possíveis classificações de correntes de arquitetura: art déco ou fascista – pois, iniciado em 1936, ano em que ocorre a Olimpíada de Berlim, traz semelhanças com o estádio alemão. “A escala monumental marcantemente presente no Estádio do Pacaembu é um atributo da arquitetura pública que se manifesta no gigantismo das colunas do acesso principal, no portal bem demarcado por duas colunas que o delimitam lateralmente, ao mesmo tempo em que se elevam em altura superior à de todo o conjunto, exatamente como no estádio de Berlim” (Wenzel & Munhoz, 2012, p. 75).
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As características topográficas da área acabaram por ser determinantes na definição do projeto das grandes arquibancadas, que se amoldaram, por meio de uma implantação perspicaz e natural, ao declive do terreno. Os três lados da arquibancada, interligados, formavam uma ferradura; no lado sul, em vez de arquibancada, construiu-se a concha acústica cujo espaço era destinado a apresentações, como eventos cívicos e artísticos. Três torres com refletores, erguidas em cada lado das arquibancadas, destinavam-se aos jogos noturnos.
arquitetônico, buscando, assim, trazer um caráter monumental à obra, utilizando como principal elemento o concreto armado” (Ferreira, 2008, p. 64 apud Gessi, 2012, p. 30). O Pacaembu acabou se tornando uma construção catalisadora no bairro que ia se formando ao seu redor, além de trazer um potencial de efetivação de melhorias urbanas (pavimentação, transportes, etc.). Para comodidade daqueles que utilizariam veículos próprios, o projeto contemplou uma então espaçosa praça frontal destinada a servir para estacionamento nos dias de jogos.
Alterações no projeto acompanham as mudanças de gestões públicas: “O primeiro plano feito na gestão Fábio da Silva Prado, em 1936, previa a existência de duas arquibancadas laterais e portões monumentais à frente, como um gigantesco muro ornamental. Esse plano foi substituído com a chegada de Prestes Maia ao poder em 1938, que trouxe consigo um novo conceito
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Maior estádio brasileiro na década de 1940, o Pacaembu iria constituir um palco de momentos memoráveis em sua história, para além dos inúmeros e inesquecíveis jogos de futebol: cerca de 100 mil pessoas estiveram dia 15 de julho de 1945 no estádio acompanhando o discurso de Luís Carlos Prestes, após a anistia geral de abril de 1945;
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Na página anterior, Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, 1953. Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo/Gabriel Zellaui
tornou-se uma das sedes da Copa do Mundo de 1950; durante as festividades do quarto centenário da cidade de São Paulo, em 1954, recebeu “O Grande Circo”, evento organizado pela Associação das Emissoras de Rádio de São Paulo; recebeu os Jogos Pan-Americanos, em 1963; além de tantas concentrações para manifestações cívicas, desde sua inauguração, em 27 de abril de 1940. Nesse dia deu-se um grande evento. Afinal, estava pronto o Estádio do Pacaembu, com capacidade para 70 mil pessoas. Nenhum outro estádio brasileiro, ou mesmo sul-americano, era tão moderno ou tinha tal porte.
Abaixo, Estádio Joaquim Américo, 1949. Acervo Histórico do Clube Atlético Paranaense Campo do Prado (CE), c. 1940. Arquivo Nirez
O presidente da República, Getúlio Vargas, o interventor Ademar de Barros e o prefeito Prestes Maia estiveram presentes. Um extenso programa de apresentações e competições deu o tom do evento. A primeira partida de futebol ocorre no dia seguinte com uma vitória do Palestra Itália por 6 a 2 diante do Coritiba. Na segunda partida, o Corinthians vence o Clube Atlético Mineiro por 4 a 2. Pouco tempo depois, maio de 1942, o Pacaembu recebe seu maior público para jogos: 71.281 torcedores, para assistirem a São Paulo (com a estreia de Leônidas da Silva) e Corinthians empatarem em 3 gols. Ambas as partidas foram as primeiras a serem transmitidas pelo rádio. Se o Pacaembu simbolizou, sob uma ótica diversa, uma atenção às torcidas, podendo comportar em suas arquibancadas dezenas de milhares de torcedores, é no Rio de Janeiro que elas vão inovar sua forma de presença e manifestação nos estádios. A Charanga, criada em 1942 por Jaime de Carvalho, tornou-se a primeira torcida organizada no Brasil. E o Flamengo era o clube pelo qual torciam. “Foi ele quem trouxe para as torcidas os instrumentos rítmicos e de sopro, os metais. Ele carnavalizou a arquibancada. E o Mário Filho estimulava isso, criou um concurso de torcidas, que tocavam marchinhas e jogavam confete e serpentina. [...]” (Lemle, 2008). Nessa época, outros estádios foram inaugurados: dia 13 de junho de 1940, o Estádio Ítalo Del Cima, do Campo Grande Atlético Clube (RJ), com capacidade para 10 mil espectadores; o Estádio Aniceto Moscoso, em 15 de junho de 1941, do Madureira Atlético Clube (RJ), também para 10 mil pessoas.
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Nulpa doluptur? Igenis everecus s
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Arena Amazônia. Alexandre Pazzuelo
DOS ESTÁDIOS ÀS ARENAS Otávia Scharlack Rosani Andreani
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Maracanã: é a Copa de 1950 A
III COPA DO MUNDO DA FIFA, sediada na França, chegava ao final em 1938. Antes mesmo de a Itália comemorar seu bicampeonato, um congresso em Paris apontava os candidatos para a sede da Copa de 1942. O nome do Brasil figurava ao lado da Inglaterra, Alemanha e Argentina. Um trágico conflito adiou os planos esportivos: a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Depois de mais de uma década, a disputa internacional de futebol acabou acontecendo em 1950. Como os países europeus se recuperavam da destruição da guerra, o Brasil foi o escolhido para sediar a IV Copa. As disputas políticas aqui também eram acirradas. Enquanto a presidência da República estava a cargo do general Eurico Gaspar Dutra, Getúlio Vargas sonhava em voltar ao poder. Em meio aos embates, dois estádios foram inaugurados no país. O Independência, em Belo Horizonte, e o Maracanã, no Rio de Janeiro. O maior estádio do mundo na época e também o grande legado da Copa de 1950 seria palco da derrota mais inacreditável para os brasileiros. O Uruguai ergueria a taça, vencendo o Brasil por 2 a 1, em uma disputa que contou com um público de 199.854 espectadores, sendo 173.850 pagantes, segundo dados oficiais, em um estádio projetado para que 155 mil pessoas tivessem visibilidade. As partidas da Copa aconteceram também em mais cinco estádios, além do Rio de Janeiro: São Paulo, Porto Alegre, Recife, Curitiba e Belo Horizonte. A história do Maracanã começa nos fatídicos anos da Segunda Guerra Mundial, em 1941, no governo Getúlio Vargas. O controvertido presidente queria erguer um grande estádio na então capital federal, Rio de Janeiro, e chegou a organizar um concurso federal para escolher o projeto arquitetônico do gigante. Mas foi preciso esperar o cenário pós-guerra. Somente em 1948, quando todas as atenções se voltavam para a Copa de 1950, o Maracanã começou a ser construído. O tempo era exíguo. Ainda em obras, foi inaugurado com um jogo entre os selecionados de São Paulo e Rio Janeiro, apenas uma semana antes do início da Copa. Os paulistas venceram os anfitriões por 3 a 1, e a honra do primeiro gol coube a Didi.
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Estádio do Maracanã, 1950. Arquivo Images2You
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Abaixo, permanente para o Campeonato Mundial de Futebol de 1950. Acervo Museu do Futebol/ Marcelo Monteiro Na página seguinte, anel superior do Maracanã lotado por operários do estádio, já em sua fase final, 1950. Acervo Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro
O gigantesco Estádio, conhecido como templo do futebol, foi palco de alegrias e tristezas, vitórias e derrotas, emoções e fé. Um amplo local para o encontro não apenas de torcedores fanáticos pelo futebol, mas de brasileiros e estrangeiros, que lotaram suas arquibancadas para assistir, entre outros eventos, à missa campal do Papa João Paulo II, shows de Frank Sinatra, Paul McCartney, Madonna, além das inúmeras celebridades do Rock in Rio. A lista é longa. Seus 65 anos de vida contêm parte importante da história do país. Foi ali que o rei Pelé fez seu milésimo gol em 1969, mesmo ano em que o Estádio recebeu seu maior público pagante: 183.341 torcedores que acompanharam o gol do rei contra o Uruguai, o que garantiu a vaga do Brasil na Copa do México, em 1970. E ainda, onde o inesquecível Mané Garrincha se despediu do futebol em 1973. Para celebrar sua trajetória, o Maracanã foi tombado como Patrimônio Histórico e Cultural do país. “E agora o Maracanã é também cartão de visitas da cidade, tão válido quanto o Pão de Açúcar ou o Corcovado. E é obra do homem. Privilégio da nossa geração, mas motivo de júbilo para todos os patrícios de todas as épocas. No fundo uma prova da capacidade realizadora do brasileiro, o estádio inaugura uma nova era no futebol deste país” (Mário Filho, em Jornal dos Sports, 1950).
Torcedores deixam o Maracanã após partida, 1950. Acervo Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro
As palavras premonitórias de um dos mais importantes jornalistas esportivos naqueles idos de 1950 seriam comprovadas nas décadas seguintes. Dono do Jornal dos Sports, Mário Filho defendeu de forma incondicional a construção de um estádio municipal monumental. Como forma de comprovar o apoio da população, realizou uma pesquisa em seu jornal para saber a opinião do torcedor brasileiro. “O resultado foi esmagador, 79% do povo carioca apoiou a iniciativa” (Ribeiro, 2007, p. 124).
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A homenagem ao grande entusiasta veio logo depois, com o local recebendo o nome oficial de Estádio Jornalista Mário Filho, que ficou popularmente conhecido como Maracanã. Nome de um pássaro considerado um dos símbolos do Brasil, o papagaio maracanãguaçu era encontrado em grandes bandos na região do Derby, onde o Estádio foi construído. Na língua tupi significa “chocalho” (maracá) e “semelhante” (nã), por seu chilrear semelhante a um chocalho. Houve disputas acirradas quanto ao local onde seria construído. O jornalista Mário Filho defendia o antigo Derby Clube, onde antes a elite se reunia para acompanhar as corridas de cavalo. Já o vereador Carlos Lacerda era ferrenho defensor da construção na região de Jacarepaguá. A escolha recaiu sobre o Derby. Com a pedra fundamental lançada em 1948, foi aberto o processo de concorrência pública para a escolha do projeto. Na disputa, o já renomado arquiteto Oscar Niemeyer foi derrotado. A equipe vencedora era formada pelos arquitetos Waldir Ramos, Raphael Galvão, Miguel Feldman, Oscar Valdetaro, Orlando Azevedo, Pedro Paulo Bernardes Bastos e Antônio Dias Carneiro. O grande trunfo dos escolhidos foi conceber um estádio elíptico, quase circular, como as antigas arenas gregas e romanas. Definido o projeto, no mês de junho do mesmo ano começou o recrutamento de trabalhadores e, em julho, a maquete do “Gigante do Derby” era apresentada na Exposição Internacional que acontecia em Petrópolis. As obras tiveram início em agosto, e em setembro do ano seguinte, 1949, Jules Rimet visitou o canteiro. Empolgado com a concepção arquitetônica do estádio, o então presidente da Fifa comparou a construção ao Coliseu de Roma.
Para provar que não iria desabar, 3.000 operários são chamados para pular nas arquibancadas do Maracanã.
Sua imponência pode ser verificada pelos números sempre grandiosos: o eixo maior, com 317 m, e o menor, 279 m. A área total de 1.186.638,56 m² inclui o Ginásio Gilberto Cardoso (Maracanãzinho), a Pista de Atletismo Célio de Barros e o Parque
To prove that it would not collapse, 3000 workers were called to jump on the stands of Maracanã.
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Aquático Júlio de Lamare. O gramado do Estádio Mário Filho, projetado com dimensões de 108 m x 72 m, foi ampliado em 1963, atendendo ao padrão internacional, de 110 m x 75 m. E para o público o espaço se agigantava: na geral, 30 mil espectadores de pé; nas cadeiras, 30 mil pessoas; nos 300 camarotes, cinco pessoas em cada; e nas arquibancadas, acima das cadeiras, 100 mil espectadores sentados. As tribunas de Imprensa e Desportiva e as cadeiras especiais, incluindo as perpétuas, foram localizadas em um ponto estratégico, no centro do eixo menor, onde também foram implantadas as 20 cabines refrigeradas das emissoras de rádio e televisão. Tudo pensado para o grande público. O prazo para a construção, no entanto, era escasso. O número inicial de 1.500 homens trabalhando durante 24 horas por dia foi elevado para 4.500. Mais braços foram recrutados, soldados do Exército reforçaram as equipes. Com o acelerado das obras, pouco antes da inauguração, surgiu o boato de que poderia desabar quando estivesse lotado. Para comprovar a segurança, 3.000 operários foram chamados para pular nas arquibancadas, que resistiram bravamente. Os portões foram abertos ao público em 16 de junho de 1950. A partida inaugural contou com a presença de autoridades, entre elas, o então presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, que pôde conferir o alto investimento na construção do Maracanã. O gigantismo do Maracanã gerou polêmica. Na época, ele desbancou os grandes do mundo, cuja capacidade era de 120 mil pessoas: o River Plate, em Buenos Aires, Argentina; e o Empire Stadium, em Wembley, Inglaterra. No Brasil, o maior era o Pacaembu, em São Paulo. Entre os críticos do majestoso estádio, estava um dos mais revolucionários e controvertidos escritores brasileiros, Nelson Rodrigues, irmão de Mário Filho. Em suas famosas crônicas esportivas ele alertava: “[...] Um paralelo entre Laranjeiras [campo Álvaro Chaves] e o Maracanã ensinará muita coisa. No Maracanã há entre nós e o
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Vista interna do Estádio do Maracanã, sem data. Acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo
jogo uma distância irredutível. Todas as nossas relações com a partida são modificadas. [...] a distância desumaniza os fatos, retira das criaturas todo o seu conteúdo poético e dramático. Já no campo pequeno, todos os caminhos estão abertos para a emoção direta e integral” (Rodrigues, 1994, p. 9). O tempo provou que os críticos do gigantismo tinham lá suas razões. A segurança foi garantida por bom período. Mas uma tragédia aconteceu no final do Campeonato Brasileiro de 1992. Três torcedores morreram e 87 ficaram feridos quando parte da grade da arquibancada desabou 20 minutos antes da partida entre Flamengo e Botafogo. Em menos de dez anos começaria a fase do encolhimento. Na virada do século XXI, em janeiro de 2000, quando o Maracanã se preparava para o I Campeonato Mundial de Clubes da Fifa, sua capacidade foi reduzida para um público de 103.022 pessoas. Deixou de ser o maior do mundo, mas ganhou em conforto e segurança. A capacidade foi diminuída com a divisão das arquibancadas em cinco setores, com os degraus recebendo assentos individuais, e a instalação de camarotes nos lances superiores. Com o passar dos anos, o Maracanã foi encolhendo cada vez mais. Os XV Jogos Pan-Americanos de 2007 exigiram ampla reforma que atingiu todos os setores. O gramado foi rebaixado em um metro e meio, e a antiga geral foi substituída por cadeiras. Para atender o público disposto a pagar somente preços populares, foram criados setores atrás dos gols. Com as reformas, o Estádio Mário Filho teve sua capacidade reduzida para 89 mil lugares. As obras incluíram novidades como a implantação de dois telões atrás das balizas, em substituição aos três placares eletrônicos, e a ampliação e modernização das cabines de rádio. A reforma atingiu também os vestiários, banheiros e bares. Recentemente, ainda seria preciso encolher mais. A confirmação do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014 exigiu a reconstrução do Estádio do Maracanã. Para se adequar às exigências da Fifa, sua capacidade chegaria então aos atuais 78.800 lugares.
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O gigante, que ficou pequeno, manteve seu carisma. Ao completar meio século de existência, em 16 de junho de 2000, logo após a primeira reforma, recebeu uma seleção de ilustres representantes do setor. A inauguração do Hall da Fama do Maracanã homenageou os dez maiores artilheiros dos 50 anos do Estádio e mais 40 notáveis, eleitos por jornalistas esportivos. Pelé, Garrincha, Zagallo e João Havelange estão entre os nomes inesquecíveis. Nesse dia, pés gloriosos ficaram eternizados no cimento.
capacidade atual para 37.952 espectadores (veja mais no capítulo anterior). Vila Capanema, Curitiba (PR) – Estádio Durival Britto e Silva ou Vila Capanema. Tem capacidade para 20.083 espectadores e é a casa do Paraná Clube. Inaugurado em 1947, seu nome homenageia aquele que colaborou financeiramente com a obra, o superintendente da Rede de Viação Paraná-Santa Catarina. O nome popular vem da origem do terreno, parte da chácara do Marquês de Capanema. Marco na história do Clube Atlético Ferroviário e na própria trajetória do futebol paranaense, o Capanema, na época da inauguração, era o terceiro maior estádio do país, inferior apenas ao Pacaembu, em São Paulo, e ao São Januário, no Rio de Janeiro. O local, com 58 mil m², passou a ser um verdadeiro templo para o futebol paranaense.
Sedes da Copa de 1950 Para receber a Copa do Mundo de 1950 em gramados brasileiros, foi necessário construir mais um e adaptar outros quatro estádios, além do Maracanã. Houve críticas acirradas devido à grande distância e diferença de temperatura entre as sedes dos jogos. A seleção francesa desistiu de participar por ter que jogar em Porto Alegre e quatro dias depois no Recife.
Ilha do Retiro, Recife (PE) – Dois meses antes do início da Copa de 1950, Recife foi selecionada como uma das sedes. Pela primeira vez um estádio do Nordeste receberia um jogo da Copa do Mundo, e o Estádio Adelmar da Costa Carvalho, inaugurado em 1937, foi o escolhido. Mais conhecido como Estádio Ilha do Retiro, por sua localização no bairro com o mesmo nome, passou pela sua primeira reforma para receber os jogos da Copa. A empolgação era tamanha que sócios e torcedores rubro-negros participaram de mutirões para preparar o Estádio. Novas arquibancadas foram levantadas, e a capacidade, em 1950, passou a ser de 20 mil pessoas. Depois das ampliações, foi reinaugurado em 1995 com outro lance de arquibancada, que ficou conhecida como Curva do Wanderson. Sua capacidade foi ampliada para 35 mil pessoas. A casa do Sport Clube do Recife conta com a forte torcida rubro-negra pernambucana.
Independência, Belo Horizonte (MG) – Estádio Raimundo Sampaio, ou Gigante do Horto. As obras tiveram início em 1947, e a inauguração se deu em 25 de junho de 1950, com o jogo Iugoslávia 3 e Suíça 0, válido pela Copa do Mundo. Sua história inclui como proprietário inicial o Governo do Estado de Minas Gerais. Na sequência, em 1965, após a inauguração do Mineirão, o Clube Sete de Setembro assume o Estádio. Depois de um contrato de comodato em 1989 e da fusão do América com o Sete, em 1997, passou a ser propriedade do América. Sua história ainda inclui uma reforma entre 2008 e 2012, em parceria com o Governo do Estado. Com capacidade para 23 mil espectadores, o Estádio, conhecido como Caldeirão, por propiciar um clima intimista e incentivar a vitória do time da casa, atualmente é administrado pelo consórcio BWA em parceria com o Clube Atlético Mineiro.
Eucaliptos, Porto Alegre (RS) – Definido como sede da Copa de 1950 também dois meses antes do início das competições, o Estádio dos Eucaliptos, ou Ildo Meneghetti, inaugurado em 1931, era a casa do Internacional. Precisou passar por uma profunda remodelação, que incluiu melhorias nos vestiários, na iluminação e
Pacaembu, São Paulo (SP) – Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, inaugurado em 1940, mais conhecido por Pacaembu, tem
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arquibancadas, no campo e no gramado, ampliado nos dois sentidos. Com as reformas, a capacidade passou para 30 mil espectadores. Eucaliptos, trazidos de Viamão pelo ex-presidente do Internacional, Oscar Borba, cercavam o Estádio. Em 2012 foi demolido para a construção de um condomínio de luxo.
Vista aérea do Estádio do Pacaembu, 1950. Acervo Cia. City Estádio dos Eucaliptos, 1950. Hemeroteca do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa (Musecom) / Setor de Imprensa. Secretaria do Estado da Cultura do RS
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MORUMBI: No começo, um estádio no meio do nada. morumbi: At first, a stadium in the middle of nothing.
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Ainda os grandes estádios OS ANOS DE 1950 DEIXARAM marcas indeléveis não só no
cada lance dos jogos. Entre os articuladores e incentivadores dos empreendimentos, o nome de Cícero Pompeu de Toledo, do São Paulo, se destacava. A materialização do sonho tricolor tem início em 1952: encontrar uma área para a construção do grande estádio.
esporte brasileiro, como na imprensa e na política. A inusitada derrota no final da Copa de 1950 no Maracanã serviu para alavancar patamares e conquistas para o futebol. Na década das transformações no Brasil e no mundo, um novo instrumento surgiria para conquistar e influenciar um público cada vez maior. A mídia televisiva começava a entrar nos lares brasileiros e, assim, viria somar forças para tornar o futebol o esporte nacional, dos grandes times e clubes, das torcidas apaixonadas.
A busca começa por uma região pantanosa, ao lado de onde posteriormente seria inaugurado o Parque do Ibirapuera. Com a negativa da Prefeitura em aprovar o local, a opção recaiu sobre um loteamento da Imobiliária Aricanduva em terras que pertenciam à antiga Fazenda Morumbi. O novo lugar, no meio do nada, foi aprovado pela Prefeitura. Em um local com 99.873 m², decorrente de doação de terreno pela imobiliária, acrescido de área adquirida pelo São Paulo, foi dado o pontapé inicial. Os administradores e políticos da época perceberam que a construção do estádio serviria para impulsionar a expansão da cidade naquela região, da mesma forma que o Pacaembu, nos anos 1930, ajudou a urbanizar seus arredores.
Mário Filho, idealizador do Maracanã e proprietário do Jornal dos Sports, no ano seguinte à derrota no Mundial, organizou a Copa Rio, torneio internacional entre clubes, para “resgatar o orgulho nacional”. Era a mídia escrita garantindo seu poder com comentaristas e cronistas esportivos criativos, da mesma forma que os programas de rádio continuavam a entusiasmar o público. Naqueles idos de 1950, algo de novo surgiria no cenário da imprensa. Assis Chateaubriand, o maior empresário das comunicações do país, presidente dos Diários Associados, inaugura em 18 de setembro de 1950, a TV Tupi, canal 3 de São Paulo. Um mês depois, em outubro, acontecia a primeira transmissão de um jogo de futebol pela televisão brasileira. A telinha começaria tímida, mas viria com força e, nas últimas décadas do século XX, comprovaria sua influência e poder. Ainda assim não desbancaria a emoção do futebol ao vivo. “O público presente ao Estádio do Pacaembu para assistir à partida entre Palmeiras e São Paulo era milhares de vezes superior ao número de aparelhos receptores. Duzentos privilegiados, no máximo, conseguiram acompanhar depois, em casa, as primeiras imagens de uma partida de futebol pela televisão” (Ribeiro, 2007, p. 135).
Vista aérea do Estádio do Morumbi, anterior a 1960. Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube
No mesmo ritmo em que o futebol crescia e se popularizava no país, os dirigentes de importantes clubes, como o Grêmio e o São Paulo, sonhavam com a construção de seus próprios estádios. Afinal, era nas arquibancadas que as torcidas se reuniam e comemoravam
Maquete do Estádio do Morumbi, 1970. Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube
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Próximo passo: erguer a almejada obra. Grandes nomes da arquitetura participaram da concorrência pública para a escolha do projeto: o arquiteto Vilanova Artigas, a empresa soviética Antonov & Zolnerkevic e o escritório de Gilberto Junqueira Caldas. O projeto vencedor, anunciado em 1953, trazia a assinatura daquele que anos mais tarde projetaria também o prédio da Faculdade de Arquitetura da USP (FAU-USP), inaugurado em 1969. O arquiteto Vilanova Artigas ousou em sua proposta de um estádio com capacidade de público para 120 mil pessoas, na época superada apenas pelo Maracanã. Ele soube utilizar as soluções da vanguarda artística em voga do brutalismo, com concreto aparente, capaz de aliviar os custos de manutenção das construções.
Todo o esforço para a construção do Morumbi começava a ser recompensado com a beleza do gramado inaugurado no mês de agosto. Sempre em busca de verbas, patrocínios e permutas, a manutenção do gramado foi garantida com o uso de um trator conseguido através de troca pelo passe de um jogador. Em 1957 finalmente as fundações estavam concluídas. Três anos depois, em 1960, a Comissão Pró-Estádio resolve inaugurar o Morumbi, mesmo incompleto, pois, mesmo com capacidade para receber apenas 70 mil pessoas, poderia, ao sediar os jogos, gerar recursos através da bilheteria e de ações publicitárias e promocionais. Na festa de inauguração, dia 2 de outubro de 1960, o São Paulo venceu por 1 a 0 o convidado Sporting de Lisboa, com gol de Arnaldo Poffo Garcia, o famoso Peixinho, que marcou aos 12 minutos do primeiro tempo. A precariedade ainda era grande, e o acesso do público, difícil. A primeira linha de ônibus, ligando o Largo de Pinheiros ao Morumbi, seria inaugurada quase um ano depois, em 21 de setembro de 1961. A torcida tricolor comemoraria a entrega definitiva do Estádio Cícero Pompeu de Toledo, com capacidade para 147 mil lugares, em 25 de janeiro de 1970, com um amistoso contra outro time português, o Porto.
O público pôde conhecer a maquete do futuro Estádio do Morumbi em 10 de março de 1953. Em julho do mesmo ano, iniciam-se as obras. Os recursos iniciais vieram de um empréstimo de Cr$ 5.000.000,00 (cinco milhões de cruzeiros) junto à Caixa Econômica Estadual. Para levantar novos valores, Amador Aguiar, do Banco Bradesco, intermediou um contrato de direitos exclusivos para a venda de produtos da Companhia Antarctica Paulista dentro do futuro estádio, por um período de dez anos, no valor de Cr$ 5 milhões. Enquanto os contornos do empreendimento se delineavam naqueles idos de 1953, o São Paulo criava mecanismos para obter mais recursos, com a venda de 12 mil cadeiras cativas, o que gerou uma receita de Cr$ 240 milhões. Houve também campanha de venda de souvenirs, de doação de cimento e, ainda, de exploração de propaganda no canteiro de obras. A adaptação da área ao projeto exigiu a canalização do Córrego do Antonico, que corta os subterrâneos do Morumbi. A empolgação dos torcedores e sócios ante o andamento das obras levou o clube a alterar a proposta original de Artigas, aumentando em 30% a capacidade de público no futuro estádio, que passaria a comportar 156 mil pessoas.
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A história da construção de estádios no Brasil perpassa as inúmeras mudanças e interferências nos setores governamentais. Nos anos de 1954 e 1956, a instabilidade estava no ar, tanto na política, depois da morte do presidente Getúlio Vargas, quanto na Seleção Brasileira, que tentava se reerguer após a derrota na Copa. O período registra sucessivas mudanças na cadeira presidencial, como assinala Hilário Franco Júnior (2007). Em apenas dois anos, foram presidentes do Brasil: Getúlio Vargas, Café Filho, Carlos Luz, Nereu Ramos e Juscelino Kubitschek. “A seleção brasileira teve, no mesmo período, cinco treinadores diferentes: Zezé Moreira, Vicente Feola, Flávio Costa, Oswaldo Brandão e Teté (José Francisco Duarte Filho)”
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Com a entrada de Juscelino, comenta Hilário Franco Júnior, o jogo começou a mudar. “(...) o período de Juscelino Kubitschek foi marcado por otimismo jamais visto no Brasil, sintetizado na promessa do presidente de obter cinquenta anos de desenvolvimento em cinco anos de governo”. O Brasil entra em nova fase e contagia todos os setores. Os clubes esportivos, que já trabalhavam para construir estádios próprios, aproveitam o novo momento para acompanhar a modernização. O Grêmio é um dos que saíram em busca de erguer sua casa. No ano de 1950, na gestão de Saturnino Vanzelotti, o clube começou a vislumbrar o novo estádio após adquirir um terreno no Bairro Azenha. O arquiteto contratado foi Plínio Oliveira Almeida, e o Estádio, com 38 mil lugares, foi inaugurado em 19 de setembro de 1954, data em que o Grêmio venceu o Nacional de Montevidéu por 2 a 0. Anos depois, como o clube queria melhorar as condições de preparo de seus jogadores, apostou em uma novidade. A meta era ter um campo suplementar para treinamento com as mesmas dimensões do campo principal. Em janeiro de 1968, ao inaugurar o novo gramado com um amistoso entre o tricolor e a Seleção da Romênia, o Grêmio passou a ser o primeiro do mundo a possuir essa estrutura adicional. O Estádio Olímpico Monumental, como a casa do Grêmio ficou conhecida, teria suas obras finalizadas somente na metade de 1980, quando foi concluído o fechamento da última parte do anel superior. Era o dia 21 de junho de 1980. E para comemorar a inauguração do Olímpico, com seus 45 mil lugares, o Grêmio venceu por 1 a 0 o Vasco da Gama. Estádio do Morumbi, 1960. Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube
Outros clubes também se empenharam em construir ou ampliar seus estádios no período. Entre eles, cabe destacar o Fonte Nova e o “Jardim Suspenso” do Palmeiras.
Estádio do Morumbi concluído, 1970. Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube
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O Estádio Octávio Mangabeira, inaugurado logo depois da Copa de 1950, em 28 de janeiro de 1951, veio atender ao anseio do futebol baiano, que não pôde receber as seleções mundiais por falta de local adequado. O Estádio demorou mais de uma década para poder ser entregue ao público. Iniciado em 1940, só pôde receber sua primeira partida em 1951, em jogo entre o Botafogo (BA) e o Guarani (BA), com apenas um anel de arquibancada. O antigo Campo da Graça, utilizado nos anos anteriores, não tinha mais condições de receber em suas arquibancadas de madeira um número cada vez maior de espectadores. O segundo anel de arquibancada seria entregue somente duas décadas depois, em 1971, no governo de Luiz Vianna Filho, quando foi reinaugurado. Em 2007 foi palco de um grave acidente e em 2010 teve sua construção implodida para dar lugar à Arena Fonte Nova, mais moderna e segura (veja capítulos referentes às arenas).
práticas esportivas, tinha parque infantil, restaurante e choperia. No começo do século XX, a empresa passou a alugar o campo para pequenos clubes de futebol, e já em 1918 o Palestra Itália conquista o poder de mando no Parque Antarctica. A compra do campo de futebol e de grande parte do terreno ocorre em 1920. Nos anos seguintes, o clube começa a investir em obras, como a construção da arquibancada geral e da tribuna social. A inauguração do Stadium Palestra Itália acontece em 13 de agosto de 1933. Quase três décadas depois, em 1961, tem início uma nova reforma. O nome “Jardim Suspenso” vem dessa época, quando o campo foi suspenso devido às constantes enchentes na região, e no subsolo foram construídos os novos vestiários. Nesta nova fase, o estádio passa a dispor de uma arquibancada extra, interligando as outras duas, que eram paralelas. Assim, o campo do alviverde passa a ter o formato de ferradura. Em 1976, na decisão do Paulistão, recebeu mais de 40.000 pessoas. Na festa de reinauguração, dia 7 de setembro de 1964, jogam Palmeiras e Guaratinguetá, pelo Campeonato Paulista.
As origens do Estádio Palestra Itália, em São Paulo, remontam ao final do século XIX, quando a Companhia Antarctica Paulista resolveu oferecer aos seus funcionários um espaço de lazer de 300 mil m², próximo à fábrica. A ampla área verde, além de espaços para
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Na página anterior, vistas do Estádio da Fonte Nova, Salvador, Bahia, sem data. Reprod. Lázaro Menezes. Acervo Museu Tempostal/Dimus/Ipac/ Secult- BA Ao lado e abaixo, festa de inauguração do Estádio do Grêmio, 1954. Museu do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense/Hermínio Bittencourt
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Mundial de 1958 e a presença da TV OS
APARELHOS DE TELEVISÃO, que se popularizaram e ganharam o mundo como instrumento de entretenimento na virada do século XX para o XXI, já em meados dos anos 1950 começavam a demonstrar o poder que teriam no futuro próximo. A telinha, ao se somar à imprensa falada e escrita, passaria a exercer sua forte influência também no mundo dos esportes. A mídia já incomodava em 1958, quando o jovem João Havelange, presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), foi forçado a convidar Paulo Machado de Carvalho, dirigente do SPFC e empresário de rádio e TV, para chefiar a delegação brasileira que disputaria a Copa na Suécia.
do trabalho preparatório como a definição de táticas eficientes na defesa e ousadas na ofensiva. Hilário Franco Júnior (2007, p. 133) cita ainda a observação do jogo dos adversários, o estabelecimento de normas de disciplina do grupo e o planejamento antecipado das viagens e hospedagens. “Nem mesmo na Copa de 1950, disputada no Brasil, a imprensa esportiva teve tanto espaço. A euforia com a seleção que disputava o Mundial da Suécia agitou 64 milhões de habitantes do país. Veículos para divulgar o que acontecia nas distantes cidades de Gotemburgo e Estocolmo era o que não faltava. Em 1958 existiam 708 estações de rádio, oito de televisão e mais 252 jornais diários” (Ribeiro, 2007, p. 165).
André Ribeiro, no livro Os donos do espetáculo (2007, p. 162), comenta: “O dono das Emissoras Unidas teria carta branca para organizar a seleção da maneira que achasse melhor”.
Jogadores e comissão técnica foram recebidos como heróis no regresso ao Brasil. A seleção vitoriosa, que derrotou a Suécia por 5 a 2, tinha Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nilton Santos; Zito, Didi e Pelé; Garrincha, Vavá e Zagallo. Paulo Machado de Carvalho ganhou apelidos como “Marechal da Vitória” e “Homem do Ano”. Uma grande festa lotou o Estádio do Pacaembu. O reconhecimento viria em 1961, quando Ari Silva, vereador por São Paulo, propôs rebatizar o Estádio do Pacaembu com o nome de Paulo Machado de Carvalho. O empresário que virou nome de estádio também ficou conhecido por boicotar a construção de outra sede de clube. Ele lutou bravamente contra o Morumbi, cujo nome era proibido mencionar em suas mídias. “Apesar de ter sido dirigente do clube paulista, durante vários anos, Paulo era totalmente contrário à construção do estádio, que considerava um sonho de loucos pelo dinheiro que teria de ser gasto em uma obra distante do centro da cidade, quase no interior” (Ribeiro, 2007, p. 178).
Paulo Machado foi ousado ao criar o projeto para a Copa do Mundo que ganharia o nome de “Plano da Vitória”. E para integrar a equipe de coordenação, o empresário convocou três jornalistas esportivos: Paulo Planet Buarque (rádios Record, Panamericana e Bandeirantes), Ary Silva (Rádio Bandeirantes e TV Tupi) e Flávio Iazetti (Rádio Panamericana e TV Record). O que parecia fadado ao fracasso comprovou o acerto das decisões quando a seleção brasileira, com Didi e Nilton Santos à frente, para orgulho da nação, ergueu pela primeira vez a taça da Copa do Mundo Fifa de Futebol. Conquista merecida, já que o “Plano da Vitória” incluía, além dos melhores jogadores do Rio de Janeiro e São Paulo, o técnico Vicente Feola e o psicólogo João Carvalhaes (ambos do SPFC), o supervisor Carlos Nascimento, o observador Ernesto Santos, o preparador físico Paulo Amaral, o médico Hilton Gosling, o dentista Mário Trigo e o massagista Mário Américo. Segundo estudiosos do assunto, inúmeros fatores fizeram a diferença na seleção de 1958, como a inclusão pela primeira vez de profissionais de diferentes setores na área de apoio: dentista e psicólogo – além
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Deixar ou não transmitir os jogos pela TV? Era a questão. To let or not to let games to be broadcasted by TV? That was the question.
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A glória da seleção, em seu retorno após a Copa, motivaria embates entre as novas mídias, TV Tupi e TV Rio, que planejavam transmitir os jogos do Campeonato Carioca de 1958, e os dirigentes dos clubes, reticentes em permitir a entrada das equipes de TV. Eles temiam o esvaziamento dos estádios, da mesma forma como nos anos 30 o rádio também havia enfrentado oposição. Muitos dos jogadores da seleção vitoriosa iriam entrar em campo, e todos queriam ver os dribles que encantaram o mundo. Depois de discussões e duelos, as TVs obtiveram permissão para transmitir as partidas. No final todos saíram ganhando, os jogos foram um sucesso e, mesmo com a transmissão, o Maracanã recebeu um público de mais de 2 milhões de torcedores durante o Campeonato.
Paulo Machado de Carvalho, foi proibida de transmitir qualquer jogo ao vivo em seu canal. A polêmica foi parar em Brasília. Os empresários de televisão fizeram um lobby forte no Congresso pela aprovação de uma lei que permitiria as transmissões ao vivo com o pagamento irrisório de no máximo 50 salários mínimos aos clubes. A lei não vingou, mas em São Paulo os empresários descobriram uma brecha em uma lei municipal, que permitia as transmissões em estádios municipais. Revoltados, os dirigentes de clubes passaram a realizar os jogos somente no estádio do Morumbi, pertencente ao São Paulo Futebol Clube e onde as televisões seriam proibidas de entrar. [...] A briga entre cartolas e empresários era a gota d’água que faltava para a implosão da TV Paulista, uma das emissoras proibidas de transmitir os jogos. Atolado em dívidas, o canal acabou vendido para a TV Globo. Era o veículo que faltava para o império de Roberto Marinho consolidar-se no mercado das comunicações” (Ribeiro, 2007, p. 195).
A façanha não se repetiu em 1959, quando o Campeonato Carioca teve metade do público do ano anterior. A culpa recaiu sobre o fantasma da TV, que ameaçava esvaziar arquibancadas. Afinal, os lares brasileiros começavam a posicionar com destaque esses modernos aparelhos em suas salas. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica (Abinee), o número de aparelhos havia saltado de no máximo 1.000 em 1958 para 621.919 unidades em 1960. Com o vertiginoso aumento na venda de aparelhos receptores, a publicidade entrou com força na programação televisiva, especialmente durante as partidas de futebol, líderes de audiência. “Record e TV Rio, por exemplo, passaram a utilizar lentes de zoom especiais para conseguirem ângulos mais próximos às estrelas do espetáculo. Outro equipamento importante passou a ser o videoteipe, que, embora já existisse no Brasil desde 1959, só começou a ser usado regularmente em 1961 [...]” (Ribeiro, 2007, p. 170).
O embate resultou em perdas irrecuperáveis para a história do futebol no Brasil, com cenas que não puderam ser registradas pelas câmeras de TV. Como os dirigentes de clubes não queriam permitir a entrada das equipes nos campos, aquele que ficou conhecido como “gol de placa” do Pelé seria imortalizado apenas na memória de quem presenciou a cena no dia 5 de março de 1961, no Maracanã. No jogo entre Fluminense e Santos, Pelé encantou com seus dribles, venceu a defesa tricolor até superar o goleiro Castilho. Batizado como “gol de placa” pelos jornalistas Joelmir Beting e Walter Lacerda, foi recuperado através de computação gráfica com base em depoimentos pelo produtor Aníbal Massaini para o filme Pelé eterno. O gol, que não foi eternizado pela telinha, está presente para sempre no hall de elevadores do Maracanã em uma placa de bronze.
Era impossível deter o avanço tecnológico. Nas transmissões ao vivo, os jornalistas saíam das cabines, instalando-se em pontos estratégicos nos campos. O repórter Silvio Luiz é citado como um dos precursores do novo estilo na TV Paulista, ao percorrer as laterais com o equipamento nos ombros. Mesmo com os inúmeros tombos, fez história como o primeiro repórter de campo. O mundo mudava, e os conflitos aumentavam entre os donos da mídia e os dirigentes de clubes proprietários de estádios. A polêmica teria, inclusive, sido responsável pelo fim da já reconhecida TV Paulista e pelo nascimento da Globo. “Em junho de 1965, a TV Record, pertencente ao empresário
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A Copa do Mundo no Chile de 1962 estava próxima, e o Brasil caminhava para outros momentos tanto no esporte quanto na política.
Página anterior. A TV dava seus primeiros sinais e já mostrava seu poder de atração. Acervo Pró-TV Ao lado, as câmeras invadem o campo nos anos 50. Acervo Pró-TV
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Ditadura e multiplicação de estádios OS ANOS DE CONQUISTAS para o futebol brasileiro começam
Preto, recebeu o nome como homenagem ao engenheiro Francisco de Palma Travassos, que doou o terreno em 1961. As obras tiveram início no mesmo ano com base em projeto de 1958. A capacidade de 34.400 pessoas foi posteriormente reduzida para um público de 17.775.
em 1958, quando a seleção, ao erguer pela primeira vez a taça da Copa do Mundo da Fifa, inaugura uma sequência de vitórias. O cenário era propício no país de Juscelino Kubitschek, que erigia na região central do Brasil a nova Capital Federal. Brasília é inaugurada dois anos depois, em 1960. Mais dois anos, em 1962, e a Seleção Brasileira de futebol conquista no Chile o bicampeonato mundial. O time era praticamente o mesmo de 1958 e o comando estava a cargo de Paulo Machado de Carvalho. O técnico Feola, por motivos de saúde, é substituído por Aymoré Moreira. Pelé, contundido, sai, e entra Amarildo, mas o time não se abala, garante a força e se mantém imbatível com: Gilmar, Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nilton Santos; Zito, Didi e Amarildo; Garrincha, Vavá e Zagallo. O resultado de 3 a 1 contra a Tchecoslováquia garante a taça.
Os anos 60 e 70 foram tempos de aumentativos e de muitas homenagens a militares e políticos na escolha dos nomes para as praças de esporte. É dessa época o Estádio Governador Magalhães Pinto em Belo Horizonte (MG), o Mineirão, que propiciou uma dupla homenagem ao governador e ministro das Relações Exteriores do governo Costa e Silva e um dos signatários do AI-5, decreto que conferiu ao regime militar poderes quase absolutos. Inaugurado em 1965, conhecido também como Gigante da Pampulha, teve sua capacidade reduzida de 76 mil para 62 mil lugares para a Copa de 2014.
O futebol continua em alta nos anos de 1962 e 1963, quando o Santos vence a Libertadores da América e o Mundial Interclubes. A dose é repetida em 1963. Fácil entender as razões que levaram o Brasil a ser considerado como o país do futebol. A euforia pode ser percebida com o público de 177.020 pagantes no final do Campeonato Carioca de 1963 no Maracanã. Na política, o ritmo também era intenso. Eleição e renúncia de Jânio Quadros, destituição do vice João Goulart, golpe militar de 1964.
O Mineirão começou a ser idealizado na década de 40 por empresários, atletas e jornalistas, que planejavam construir um estádio capaz de suprir a carência no estado de locais para grandes públicos. Uma década depois, o Independência, inaugurado para a Copa de 1950 com seus 30 mil lugares, logo ficou pequeno. O sonho do Mineirão foi retomado. Os arquitetos Eduardo Mendes Guimarães e Gaspar Garreto alteraram o projeto do antigo Estádio Universitário que, dos 30 mil lugares iniciais, passou a prever uma capacidade para até 100 mil pessoas.
Nos tempos da ditadura militar (1964-1985), o futebol continuou crescendo. Tem início o Campeonato Nacional, a Seleção Brasileira conquista o tricampeonato em 1970 no México, e mais de 50 estádios são erguidos ou reformados em todo o país entre 1964 e 1983. Os investimentos contemplaram 20 estados, embora quase metade dos valores tenha sido aplicada em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Novos estádios foram construídos em praticamente todas as cidades médias do estado de São Paulo.
Em um terreno na Pampulha, em área pertencente à Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, as obras foram iniciadas em 1959. Mas os trabalhos quase foram paralisados quando o primeiro empréstimo de 100 milhões de cruzeiros foi consumido já nos primeiros serviços de fundação. Mesmo sendo erguida de forma lenta e enfrentando crises financeiras, a obra é considerada um símbolo da evolução na construção civil. Seus engenheiros, além de fazerem uma verdadeira radiografia no Maracanã, para evitar a repetição de possíveis deficiências, em 1964 foram conhecer as novidades desenvolvidas em Tóquio para a construção dos grandes
Ribeirão Preto foi uma delas. O Estádio Palma Travassos, inaugurado em outubro de 1964, com jogo entre Santos e Comercial de Ribeirão
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Mineirão, 1965. ADEMG/Minas Arena Pedra fundamental do Estádio do Albertão, 1972. Acervo Cid de Castro Dias – Engenheiro fiscal do Albertão Inauguração do Estádio do Albertão, 1973. Acervo Severino Filho
ginásios projetados para as Olimpíadas daquele ano. A inauguração aconteceu em 1965, com a Seleção Mineira vencendo por 1 a 0 o River Plate, da Argentina, para um público de 73.201 torcedores. A história de construções realizadas durante anos da ditadura e inaugurações com projetos inacabados se repete com a maioria dos estádios brasileiros. É o caso do Vivaldão, em Manaus (AM), idealizado por Plínio Ramos Coelho e Vivaldo Palma Lima, que teve a pedra fundamental lançada em 1955. Erguido a partir de 1958, teve as obras paralisadas na sequência, sendo reiniciado em 1964. A inauguração do local parcialmente construído aconteceu em 1970. Três anos depois, em novembro de 1973, foi aberto aos torcedores o Estádio Governador Plácido Castelo ou Castelão, em Fortaleza (CE), também incompleto, com apenas dois lances de arquibancadas. Um público de 70 mil torcedores acompanhou o Clássico-Rei, jogo entre Ceará e Fortaleza. O Vivaldão, o Castelão e o Estádio Mané Garrincha, este último inaugurado em 1974, em Brasília (DF), com capacidade para 45 mil pessoas, foram reformados e ampliados, posteriormente, para as arenas da Copa de 2014 no Brasil. A cidade de Teresina, capital do Piauí, festejou em 1973 a inauguração do Estádio Governador Alberto Tavares da Silva, conhecido como Albertão, com capacidade para 60 mil pessoas. Registros jornalísticos da época indicam que o Estádio começou a nascer a partir de um diálogo entre o governador Alberto Tavares da Silva e João Havelange, presidente da CBD – Confederação Brasileira de Desportos, em 1970. Ante a insistência para que o Piauí fizesse parte do Campeonato Nacional de Futebol, Havelange teria dito que, para isso acontecer, era preciso que o estado primeiro tivesse um estádio. O governador, sentindo-se desafiado, seguiu a orientação, e o estádio foi construído. A partida inaugural, entre o time local,
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Tiradentes, e o Fluminense, pelo Campeonato Brasileiro de 1973, recebeu 30 mil torcedores. Um acidente nesse dia teria ocasionado morte e ferimentos em número desconhecido de pessoas.
Adenildo Chirol e Carlos Alberto Parreira, contaria ainda com os capitães Kléber Camerino e Benedito José Benétti. Tudo para que o controle também fosse exercido sobre os jogadores.
Outro estádio marcado por um grave acidente é o Octávio Mangabeira ou Fonte Nova, em Salvador. Inaugurado em 1951 e, depois, novamente em 4 de março de 1971, quando foi ampliado com a conclusão de um anel superior de arquibancada, teria recebido mais de 100 mil pessoas para duas partidas realizadas no mesmo dia, Bahia x Flamengo e Vitória x Grêmio. Notícias da época registram que a arquibancada teria balançado já no primeiro jogo e, no segundo, desabou em virtude do estouro de um refletor que teria provocado pânico e correria nas arquibancadas. Números oficiais indicam dois mortos e 2.086 feridos. Demolido em 2010, deu lugar à Arena Fonte Nova, um complexo esportivo multiúso.
“A Copa do Mundo de 1970 demarcou a história do futebol graças aos lançamentos de Gerson, aos chutes de Rivelino, à inteligência tática de Tostão, às arrancadas de Jairzinho, aos gols e quase gols de Pelé, ao ritmo ruidoso de um futebol elevado à categoria de arte, ainda que proveniente de um país rebaixado à condição de ditadura militar” (Franco Júnior, 2007, p. 143). Na partida final, o Brasil venceu a Itália por 4 a 1. A seleção, que entrou para a história, contava com os chutes, dribles e defesa de nomes como Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson e Pelé; Jairzinho, Tostão e Rivelino, e o técnico Mario Jorge Lobo Zagallo.
Os estádios de futebol no Brasil guardam histórias que vão além dos jogos do esporte mais popular no país, passam por eventos, entretenimentos e shows, e ainda contêm parte da memória do período mais obscuro da ditadura. Foi no Maracanã, na saída do jogo entre Cruzeiro e Fluminense, que, em meio aos 30 mil torcedores, foi libertado o embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick. Numa tarde do dia 7 de setembro de 1969, após negociações entre a Dissidência Comunista da Guanabara e a Ação Libertadora Nacional (ALN), com os militares no poder, chegou ao fim o sequestro do embaixador pelos militantes de esquerda em troca da libertação de 15 presos políticos, entre eles, Fernando Gabeira.
Durante o período da ditadura foram também construídos, entre outros, os seguintes estádios: Parque do Sabiá, em Uberlândia (MG), inaugurado em 1982 com um jogo entre Brasil 7 x 0 Irlanda, tendo um público recorde: 80 mil pessoas; Estádio Alacid Nunes (atual Edgard Proença), o popular Mangueirão, 1978, Belém (PA), projetado pelo arquiteto Alcyr Meira em 1969, com capacidade de 45 mil pessoas; Estádio do Café, de 1976, em Londrina (PR), capacidade de 36 mil pessoas, projetado no formato de ferradura com abertura para o centro da cidade; Centenário, em Caxias do Sul (RS), de 1976, com capacidade para 22 mil pessoas, foi construído em apenas sete meses, para poder participar do Campeonato Nacional. E ainda: JK, de 1976, em Itumbiara (MG); Olímpico Regional, 1982, Cascavel (PR); Boca do Jacaré, 1978, Taguatinga (DF); Almeidão, 1975, João Pessoa (PB).
A década dos extremos terminaria com a festa da conquista do tricampeonato de futebol em 1970 pela Seleção Brasileira no México. Naqueles anos de ditadura, os militares também estavam presentes na comissão técnica: o chefe da delegação era o brigadeiro Jerônimo Bastos; o segurança, o major Roberto Guarany; e a supervisão, de Claudio Coutinho. A equipe de preparação física, dirigida por
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Alguns estádios inaugurados no período da ditadura incorporaram novidades em seus projetos arquitetônicos. É o caso do Serra Dourada, em Goiânia (GO), de autoria do arquiteto Paulo Mendes
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Muitos estádios. Muitas inaugurações com projetos inacabados. Era o futebol em tempos de ditadura. Many stadium. Many opening with unfinished projects. That was football in the times of dictatorship.
da Rocha. Considerado um estádio modelo e ícone na cidade, foi inaugurado em 31 de março de 1973. Construído em concreto aparente, com capacidade para 50 mil espectadores, o Serra Dourada revela simetria, funcionalidade, simplicidade e racionalidade. Ao lado desse cenário de estádios construídos pela ditadura militar, alguns clubes destacaram-se pela capacidade de realização. É o caso do Internacional, em Porto Alegre (RS). A construção começou depois da Copa de 1950 e de o Grêmio já ter erguido, em 1954, seu Olímpico. Em 1956, o Internacional recebeu como doação uma área que seria aterrada no lago Guaíba. Ali, nasceu o desafio de construir seu grande estádio. Com o apoio e a participação incondicional da torcida, somados à doação de materiais, venda de títulos patrimoniais e o projeto de Rui Tedesco, o Internacional inaugura seu Gigante do Beira-Rio em 6 de abril de 1969, com vitória de 2 a 1 contra o Benfica, diante de 100 mil torcedores. A história de amor ao clube ficou marcada através de gerações. No final dos anos 70, em período de turbulência política no país, o Estádio Vila Euclides, atual Primeiro de Maio, em São Bernardo do Campo, tornou-se palco de manifestação de mais de 70 mil metalúrgicos, na maior greve do país à época, em função de campanha salarial. Nos anos de 1980, o Brasil entraria em nova fase.
Fotos acima, à esquerda, Estádio Vila Euclides durante greve e protesto de 1979-80. Acervo Seção de Pesquisa e Documentação – PMSBC. Vista geral do Estádio Primeiro de Maio (antigo Vila Euclides), 2014. Wilson Magão/ PMSBC.
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Das torcidas à nova gestão dos clubes TIMES, TORCIDAS E CONFLITOS. Em meados do século
havia um setor, ao lado das cadeiras especiais, onde as torcidas se encontravam e podiam misturar bandeiras e cores em alegres e descontraídas comemorações. Isso até os anos 70. Na década de 1980 a disputa ganharia ares de verdadeira batalha, exigindo a presença de policiais enfileirados verticalmente de alto a baixo na arquibancada. Nos anos 90 e na virada do século XX para o XXI, a situação chegaria ao extremo. As torcidas não mais poderiam se encontrar nem nas arquibancadas e muito menos na saída dos estádios. “No final dos anos 80, se deu o caldeirão de onde emergiram as primeiras mudanças do clima do estádio que marcariam para sempre a ida a um jogo de futebol e as formas de torcer pelo clube do coração” (Pereira, 2010, p. 150-152).
passado, a paz nos estádios já parecia algo que se tornava cada vez mais inacessível. Nos anos 40, quando o mundo se digladiava nos campos da Segunda Guerra Mundial, começavam a surgir em São Paulo e no Rio de Janeiro as torcidas organizadas, inicialmente apenas para estimular a atuação de seus clubes durante as partidas. Na década de 1960, mais do que incentivar os jogadores, as torcidas organizadas começaram a mostrar a força da união também no momento de protestar quando os times jogavam mal. Os anos 70 e 80 foram marcados por um poder ainda maior, e a agressividade entrou nos estádios junto com as organizadas. Nos anos que se aproximam do final do século XX, o futebol passa a percorrer trilhas de distanciamento entre os diferentes públicos que acompanham o desempenho de seus times. Por um lado, o esporte mantém suas torcidas do coração, que encaram o futebol como motivo de união e de saudáveis brincadeiras diante de vitórias e derrotas; por outro, constata o crescimento acentuado das acirradas e violentas brigas das ditas organizadas, que transformam o desempenho dos times em questão de vida ou de morte. A disputa, que deveria acontecer somente nos gramados por ágeis pés em busca do gol, invade as arquibancadas com tons violentos capazes de passar rapidamente das agressões verbais para as físicas. Como forma de enfrentar a situação, antes do final da virada do século, os estádios precisaram definir entradas e saídas separadas para torcedores de times rivais.
Crianças, adolescentes e jovens já foram vítimas de enfrentamentos entre torcedores nos inúmeros estádios espalhados pelo país. Entre 1980 e 1999, segundo dados não oficiais, houve 29 vítimas fatais, na faixa que vai dos 10 aos 22 anos. O resultado das agressões foi o aumento do policiamento nos estádios, medida que também não resolveu o problema. Perto da virada do século, torcedores exaltados passaram a se enfrentar fora dos estádios, em estações de trem, metrô e terminais de ônibus. O espetáculo proporcionado pelo esporte sai de cena e entra a violência gratuita, com encontros marcados pelas redes sociais, com data e hora para acontecer. “O torcedor passou, então, a ser ameaçado, a se sentir acuado e convidado a não sair de casa. O estádio passou a ser um lugar de ameaça, medo de ações marginais, afastando a família, as crianças ou apenas os amantes do futebol sem objetivos maiores que não a diversão” (La Corte, 2007, p. 168).
Parece que para uma parcela considerável de torcedores o mundo está fadado a ficar dividido, como se o simples fato de alguém vestir a camisa do time rival fosse uma declaração de guerra. A divisão começou a ser colocada em prática, com a separação das torcidas, já na construção do Maracanã, para a Copa de 50. Assim, a área à esquerda das cabines de rádio era reservada para as torcidas do Flamengo e do Fluminense. Mas, em dia de Fla-Flu, os tricolores passariam a ocupar o lado direito das cabines. Naquela época ainda
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Como consequência, nos anos seguintes começa a haver uma fuga dos estádios. Para o torcedor, segundo La Corte, vestir a camisa ou carregar a bandeira do clube passa a ser encarado como uma provocação e um risco. A opção acaba sendo assistir aos jogos no conforto e segurança das residências, especialmente na era das TVs a cabo.
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O abandono dos estádios pelo torcedor desencantado e desestimulado acontece ao mesmo tempo em que os clubes experimentam as compensações financeiras de vender direitos de transmissão para TVs. A polêmica sobre a venda das transmissões ao vivo, que começou em 1987, continuou esvaziando os estádios. A renda conseguida nas bilheterias passou a ser bem menor que a obtida através dos contratos de cessão de direitos de imagens. Em alguns casos, segundo Santos (2014), metade da receita dos principais clubes brasileiros é resultante da venda de direitos televisivos.
dos novos estádios, desde o início do século XXI, mas com especial destaque para as arenas construídas ou reformadas para a Copa. Nesse novo cenário, a gestão empresarial tornou-se o caminho encontrado por clubes brasileiros para resgatar a razão de ser dos estádios: o torcedor, novamente atraído para o futebol-arte capaz de somar talento com profissionalismo. E a conhecida Lei Pelé, Lei n. 9.615 de março de 1998, veio colaborar nesse sentido, obrigando os clubes a se tornarem empresas. O esporte das emoções passou a ganhar tons empresariais. Entre outras ações implementadas desde as últimas décadas do século passado, a publicidade entrou em campo – das placas estrategicamente colocadas em volta do gramado aos uniformes dos jogadores e painéis com nomes de patrocinadores (backdrop), posicionados logo atrás dos microfones nas salas de entrevistas coletivas para a imprensa. Ponto crucial para a sustentabilidade dos negócios, a ampliação das fontes de captação de recursos tornou-se imprescindível para a promoção da organização financeira dos clubes transformados em empresa.
Países do primeiro mundo têm conseguido manter o interesse do público em assistir ao espetáculo do futebol ao vivo. Na Inglaterra, por exemplo, os estádios garantem uma média de 91% de ocupação da capacidade por jogo, e a venda da transmissão de imagens representa 25% da receita dos clubes. A Europa, mesmo em crise, valoriza o bom futebol e evita a evasão de seus craques. Não é por acaso que muitos dos melhores jogadores brasileiros estão lá, em campos europeus, defendendo as cores de times com sotaques bem distantes do português. Segundo pesquisas do setor, mais de 7 mil jogadores de inúmeros países, inclusive do Brasil, desembarcaram nos times europeus entre 2003 e 2010. Para o jornalista Juca Kfouri (2009), só chegaremos lá quando vendermos o espetáculo e não o artista. Nas primeiras décadas do século XXI, a tecnologia vem ajudar a apontar novas perspectivas para o futebol, especialmente em função da possibilidade de reavivar no torcedor seu interesse em retornar aos estádios. No próprio Estatuto do Torcedor, sancionado pelo Governo Federal em 2004, e criado para tentar garantir maior segurança e levar o público de volta ao estádio, recomenda-se, entre outras medidas, que os locais com capacidade acima de 20 mil lugares tenham controle por monitoramento de imagens, capazes de identificar torcedores violentos. Assim, modernos conceitos de segurança, associados a acesso, conforto e gestão profissional, passam a fazer parte dos projetos
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Arena da Baixada
muito comum nos Estados Unidos e Europa. A visão empresarial tem conseguido conciliar projetos inovadores com o bom desempenho do time nos campeonatos nacionais e também com a formação e venda de atletas. Por esse motivo, o Atlético tem servido como referência para outros clubes brasileiros.
No Brasil do futebol, cada clube busca resolver suas questões financeiras e de gestão de modo inovado. O Estádio Joaquim Américo Guimarães, ou Arena da Baixada, do Clube Atlético Paranaense, construído entre 1997 e 1999 para substituir o antigo Baixada da Água Verde, ficou também conhecido como Kyocera Arena. Foi nos anos de 2005 a 2008 que o clube vendeu por US$ 10 milhões o direito de uso do nome ou naming rights ao Kyocera Mita América. Os japoneses, a partir da consolidação do negócio, também passaram a patrocinar a camisa do time.
Com capacidade para um público de 22 mil espectadores, quando de sua inauguração, em 1999, foi considerado o mais moderno no Brasil, até surgir o Engenhão, no Rio de Janeiro. A então Kyocera Arena incluiu em sua construção conceitos como integração com a comunidade próxima. Para atender ao público, a atual Arena da Baixada possui academia de ginástica, restaurante e lojas. Uma das sedes da Copa de 2014, o estádio foi reformado e ampliado, atendendo às exigências da Fifa, para uma capacidade de 43 mil lugares.
O Estádio, localizado próximo ao centro de Curitiba, capital do Paraná, foi o primeiro no Brasil a realizar a prática dos naming rights,
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Estádio Nilton Santos
Além dessas modificações, pode-se perceber o quanto as exigências referentes aos itens relativos ao conforto e segurança têm sido cada vez mais completas. O Estádio vai precisar se adequar às mais modernas normas de segurança para receber os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Sua capacidade de 46 mil torcedores, que alcançará após a conclusão das obras, deverá ser ampliada para 60 mil, em função das Olimpíadas.
O antigo Estádio Olímpico João Havelange, inaugurado dia 30 de junho de 2007 com Botafogo 2 x 1 Fluminense, por ter sido erguido no bairro Engenho de Dentro, passou a ser também conhecido como Engenhão. Arrendado pelo Botafogo assim que inaugurado, foi considerado o mais moderno da América Latina e o quinto do mundo. O projeto, assinado pelos arquitetos Carlos Porto, Gilson Santos, Geraldo Lopes e José Raimundo Ferreira Gomes, tem como inspiração a proposta de Oscar Niemeyer para o concurso do Maracanã, em 1946. Hoje, conta com campo de futebol medindo 105 m x 68 m, pista de atletismo, raias no padrão standard da International Association of Athletics Federations – IAAF, dois setores para salto triplo e em distância, um para salto com vara, outro para salto em altura e uma pista de dardo. O Nilton Santos ainda possui campo anexo para treinamentos e pista de atletismo interna para aquecimento. Sustentabilidade e acessibilidade também foram pontos considerados na reforma: possui sistema de reaproveitamento de águas pluviais e 250 lugares para cadeirantes.
A Prefeitura do Rio de Janeiro também está realizando obras no entorno do Estádio, iniciadas em junho de 2014. Para evitar os congestionamentos, causados pela proximidade com uma estação de trem, foi preciso planejar medidas que facilitassem o acesso de veículos e pessoas à região. As obras incluem alargamento de calçadas, drenagem de águas pluviais, cabeamento subterrâneo, paisagismo e restauro da Praça do Trem. E mais, reforma de galpões para utilização em atividades culturais, iluminação com lâmpadas LED e plantio de 90 árvores.
O Estádio Nilton Santos incluiu em seu processo de renovação a exploração dos espaços comerciais, que vai das redes e praças de alimentação, comercialização de produtos, estacionamento, venda de ingressos para eventos, aos contratos de publicidade, entre outras modalidades. E também ampliou seu horizonte de negócios abrindo seus espaços para grandes espetáculos musicais, prática consolidada principalmente a partir de 2008.
Arena da Baixada em 1999, ano de sua inauguração. Acervo Histórico do Clube Atlético Paranaense Estádio João Havelange, 2007, posteriormente denominado Estádio Nilton Santos. Genilson Araújo/ Agência O Globo
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Arena Multiúso do Grêmio A Arena Multiúso do Grêmio Porto Alegrense se destaca entre os clubes-empresas no país. Inaugurada em 8 de dezembro de 2012, recebeu investimentos de R$ 540 milhões, fruto de parceria privada com o grupo OAS. Com capacidade para 60 mil pessoas, a Arena do Grêmio começou a ser planejada em 2006 e a parceria com a OAS foi oficializada em 2008. Seus idealizadores buscaram inspiração e soluções arquitetônicas nos mais modernos estádios construídos para a Copa do Mundo da Alemanha, em 2006. O resultado foi um espaço multiúso preparado para abrigar complexo esportivo, com completa área comercial, além de locais para convívio e eventos. A estrutura disponibiliza cadeiras confortáveis, cobertura, camarotes, corredores amplos e infraestrutura para pessoas com necessidades especiais. Exatamente por suas modernas concepções, a Arena do Grêmio foi classificada pela revista Exame, em 2015, como aquela que se destaca por proporcionar conforto aos seus visitantes. A recente pesquisa da revista avaliou os estádios privados a partir de perspectivas como estrutura física e rentabilidade. O levantamento apontou que a Arena do Grêmio distingue-se por possuir amplitude de espaços internos e externos, conforto, segurança, qualidade dos equipamentos e dos serviços, além da funcionalidade dos espaços.
Enfrentamento entre torcedores. EM VIRTUDE Da violência dentro e fora dos estádios, tem início uma reformulação de conceitos e projetos arquitetônicos. Fight among fans. From the violence inside and outside the stadium a reformulation of architectural concepts and projects began.
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Na página anterior, Arena do Grêmio. Lucas Uebel/Grêmio FBPA Allianz Parque. Divulgação WTorre
Allianz Parque O velho Palestra Itália ficou novo, maior, moderno. Foram quatro anos com as portas fechadas, de julho de 2010 a novembro de 2014. A nova Arena Allianz Parque, localizada no mesmo endereço da rua Turiaçu, é considerada uma das mais modernas do mundo, segundo os requisitos da Fifa. Foi uma megatransformação, que contou apenas com uma parceria privada, sem deixar dívidas para o clube e sem precisar de verbas públicas. A empresa WTorre Properties administrará o local por 30 anos, período em que o Palmeiras terá participação integral nas receitas das partidas. O mundo dos grandes negócios entrou no Palestra em 24 de abril de 2013, quando a WTorre anunciou a venda dos naming rights para a Allianz, a mesma que detém os direitos de nome de outras cinco arenas esportivas: a Allianz Arena, na Alemanha; o Allianz Stadium, na Austrália; a Allianz Park, na Inglaterra; a Allianz Riviera, na França; e a Allianz Stadion, em fase de construção, na Áustria. Reinaugurada com partida contra o Sport Clube do Recife (PE), em jogo válido pelo Campeonato Brasileiro, também já teve sua estreia com grandes eventos, como o show de Paul McCartney, em novembro de 2014. O Allianz Parque tem capacidade para 43.600 lugares cobertos, 174 camarotes privativos de 12 a 18 lugares, além de restaurante panorâmico, lanchonetes, lojas, centro de convenções e de mídia, espaço multimídia com a história do clube, estacionamento e bicicletário. Para shows e concertos a capacidade é de até 55 mil espectadores. Ao ingressar no século XXI os estádios de futebol inauguraram nova formatação, novos negócios e muitos projetos internacionais. Os torcedores de coração, apaixonados pelo esporte e não pela violência, esperam que tudo seja contemplado nesse novo tempo, inclusive, os dribles inesquecíveis, a bola rolando nos pés e a emoção espontânea dos verdadeiros craques.
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2014: a Copa mais uma vez no Brasil A COPA DO MUNDO voltaria a ser disputada em campos
Ao percorrer o país de norte a sul, a Copa acabou deixando como saldo positivo a modernização dos estádios localizados nas cidades que sediaram os jogos das seleções mundiais. Muitos dos estádios, em precárias situações, foram totalmente transformados, entre os quais, alguns bem antigos, construídos entre as décadas de 1950 e 1970. Sem contar aqueles que, por terem importante significado para o país, haviam sido tombados pelo patrimônio histórico.
brasileiros 64 anos depois daquele distante ano de 1950.
No período de 2007 a 2014, o país preparou-se para a Copa do Mundo de 2014. Foram sete anos para que as 12 arenas pudessem receber os jogos da competição bem como se promovessem melhorias na infraestrutura urbana, transporte e mobilidade, na rede hoteleira e setores de segurança, além do treinamento de funcionários e voluntários para receberem turistas do mundo todo. Os trabalhos envolveram ações do governo, de instituições e empresas voltadas para o planejamento e execução de novos cenários em diversas capitais brasileiras.
Apesar dos imensos desafios, surgiram as arenas – estruturas esportivas que, incorporando novos conceitos, não se destinavam exclusivamente ao futebol, tornando-se um espaço multiúso, projetado para diferentes tipos de eventos (shows, convenções, feiras, etc.), além de dispor de uma pluralidade de serviços e lojas. Essa estrutura física, acrescida de aspectos como funcionalidade, tecnologia, segurança, qualidade dos materiais, não só reforça o conceito de arena como, quando associada a outros recursos (como naming rights e outras ações), compõe uma ferramenta de renovação das fontes de receita visando à sustentabilidade do negócio.
O país do futebol precisou cumprir uma série de exigências da Fifa para sediar os jogos da Copa do Mundo: arenas cobertas, assentos numerados e com boa visibilidade em todos os setores, áreas de hospitalidade, tecnologia de iluminação, condições para que o público pudesse deixar o estádio em até oito minutos, entre inúmeras outras. Mas não só. Em pleno século XXI, quando questões ambientais se mostram urgentes nos mais diferentes setores, foi necessário incluir nas construções para a Copa medidas relativas à sustentabilidade, como aquelas capazes de transformar o entulho de demolição em material reaproveitável e o uso racional da água, além de outras soluções, como coberturas autolimpantes, sistemas de geração de energia, entre outros itens.
As arenas edificadas para a Copa do Mundo tornaram-se, assim, símbolo do arrojo e da qualidade dos projetos, que resultaram em obras equiparadas às de nível internacional em quesitos como inovações tecnológicas, ambientais e construtivas.
Tudo contribuiu para que se tornasse possível uma efetiva modernização das estruturas destinadas ao evento – dos antigos estádios às novas arenas – distribuídas pelas cinco regiões do país: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Das 18 cidades candidatas, optou-se por aquelas que tivessem as melhores condições estruturais, bem como a melhor capacidade de recepcionar os turistas: Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, num total de 12 cidades.
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Além dos investimentos financeiros, foi primordial o talento dos profissionais dos escritórios de arquitetura, que buscaram soluções capazes de atender às exigências da Fifa e do mundo contemporâneo. Os projetos de reforma de cinco estádios e de construção de sete novas arenas contemplaram quesitos de relevância arquitetônica, tecnológica, construtiva, ambiental, comercial e social.
Novos conceitos e estruturas: as novas arenas trazem conforto, tecnologia, segurança e opções de serviços para o torcedor, em um espaço multiúso. New concepts and structures: the new arenas bring comfort, technology, safety and options of services to the fan in a multiuse space.
Contornando desafios financeiros, estruturais e organizacionais da realidade brasileira, o país superou as limitações e, com R$ 7,99 bilhões em investimentos públicos e/ou privados, viabilizou os projetos. Entre os indicadores da contrapartida aos investimentos está a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design). Até o início de 2015, nove arenas haviam obtido a certificação concedida pelo US Green Building Council (USGBC), que constitui o parâmetro de reconhecimento de edificações que adotam conceitos de sustentabilidade.
Na página anterior, Estádio Beira-Rio. Hype Studio Acima, Arena Mineirão. BCMF Arquitetos Abaixo, Estádio Nacional de Brasília. Eduardo Bjzek Barbosa
A diversidade geográfica, que se reflete na amplitude territorial do Brasil, e as singularidades culturais conferiram a cada arena um sistema de valor diferenciado em sua concepção, como se poderá ver adiante, em que cada uma é apresentada individualmente, conforme denominação original para a Copa do Mundo. Finalizada a Copa, e apesar dos inesperados 7 a 1 para a Alemanha, as arenas continuam recebendo, em diferentes escalas, jogos de futebol – de campeonatos de seus respectivos estados a partidas pelo Campeonato Brasileiro, além de outros jogos oficiais – e também eventos diversos. Em seis delas serão disputadas partidas de futebol dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.
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Arena da Amazônia Manaus – AM / Inauguração: 2014
O PROJETO DA ARENA DA AMAZÔNIA foi concebido de
Esse edifício destaca-se como uma das primeiras arenas do mundo a receber a certificação LEED, conferida pelo U.S. Green Building Council, que analisa desde o modo como foi construída até a gestão da água, do lixo, do transporte e diversos outros fatores relacionados. Isso implicou na escolha minuciosa de material e execução de instalações que permitem ventilação e sombreamentos naturais. Procurou-se o aproveitamento máximo da luz natural, através da instalação em sua fachada de uma membrana translúcida de fibra de vidro revestida de teflon, com aberturas específicas que levam em conta o posicionamento solar, gerando uma temperatura agradável no ambiente interno, relevante preocupação no projeto diante do clima quente e úmido, característico do norte do país. Instalada em um destacado centro de ecoturismo, a Arena remete ao uso responsável dos fascinantes recursos naturais de seu entorno.
modo a render uma homenagem à maior floresta tropical do mundo: a Amazônica. Vários de seus elementos fazem alusão a esse ecossistema, desde os relacionados à sustentabilidade, como economia e aproveitamento consciente dos recursos naturais envolvidos em sua edificação, até aqueles relativos ao design e à estrutura, como seu formato, que lembra uma cesta indígena, bem como a cor das cadeiras, semelhante à das frutas da região. O antigo Estádio Vivaldo Lima, inaugurado em 1970, foi demolido, dando lugar à construção da Arena. Mais de dois mil trabalhadores foram envolvidos diretamente na obra. De seu custo total, R$ 669,5 milhões de reais, R$ 400 milhões advieram de financiamento federal, através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Resultado: uma Arena eficiente, de visual arrojado, cuja estrutura simples dialoga com o local em que está inserida. Com capacidade para 44.500 espectadores, contém, entre outros itens, 61 camarotes, 98 banheiros, 264 vagas de estacionamento, além de vagas para motos, idosos e veículos ecoeficientes. Isso possibilita conforto tanto para o espectador assíduo das partidas quanto para pessoas com deficiência, vips, desportistas e profissionais da comunicação, que encontram sinalização adequada e recursos que facilitam o acesso ao local dos jogos. O sistema de segurança é formado por 85 câmeras que permitem o reconhecimento facial. A iluminação do Estádio conta com 420 refletores, que produzem luz sem sombreamentos, própria para transmissões em alta definição.
O escritório de arquitetura responsável pelo projeto foi o alemão GMP (Von Gerkan, Marg und Partner), que também participou dos projetos do Minas Arena e do Estádio Nacional de Brasília. O GMP já havia projetado estádios para as copas da Alemanha, em 2006, e da África do Sul, em 2010, possuindo, assim, vasta experiência na construção e no planejamento de estruturas de acordo com as normas da Fifa. Foram mais de 20 estádios com sua assinatura, tornando-o um dos mais conceituados escritórios de edificações esportivas em âmbito mundial. Participaram também do projeto a empresa SBP (Schlaich Bergermann und Partner) e o Grupo Stavia. No empreendimento, as questões relacionadas à sustentabilidade e à proteção ao meio ambiente tiveram uma atenção especial em relação às exigências da Fifa, em itens como captação da água da chuva e reúso, tratamento de esgoto e redução do consumo de energia na iluminação. Priorizou-se o reaproveitamento dos materiais gerados pela demolição do Estádio Vivaldo Lima. Contudo, algumas peças, como os elementos em “x” da cobertura, que remetem à fibra vegetal, precisaram ser importadas da Europa.
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Para todas as fotos reproduzidas nos textos a seguir sobre as arenas, consta somente o crédito do fotógrafo, da empresa, do clube ou da instituição que forneceu a imagem. Foto: Miinistério do Esporte
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Próxima de hotéis, hospitais, shopping centers, bancos, supermercados e restaurantes, a Arena da Amazônia está localizada a uma distância aproximada de 6 km do centro histórico de Manaus e da orla do Rio Negro. Está integrada, no meio do trajeto que liga o aeroporto à cidade, a um parque esportivo onde se encontram áreas destinadas a outros esportes, como natação e atletismo, bem como sambódromo, centro de convenções e ginásio multiúso. Esse conjunto ampliou o usufruto da Arena para além da Copa, conferindo-lhe maior valor comercial e tornando o local polivalente, recebendo grandes eventos. A inauguração, liberada para apenas 20 mil torcedores, aconteceu no dia 9 de março de 2014, nas quartas de final da Copa Verde, em um jogo entre o Nacional (AM) e o Remo (PA), cujo resultado foi um empate de 2 a 2. Já o evento teste da Fifa ocorreu com a partida entre o Resende (RJ) e o Vasco (RJ) pela Copa do Brasil. Mais de 40 mil pessoas assistiram a um empate de 0 a 0. No período pós-Copa, estendendo-se até janeiro de 2015, a Arena da Amazônia recebeu 20 eventos (incluindo vários jogos de futebol). Sua utilização contempla ainda a realização de jogos pelo Campeonato Brasileiro. Para as Olimpíadas de 2016, a Arena receberá seis jogos de futebol.
Ministério do Esporte (à esquerda) Alexandre Pazzuelo (página ao lado)
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Arena da Baixada Estádio Joaquim Américo Guimarães / Curitiba – PR / Inauguração: 1914 / Reinauguração: 2014
COM A ESCOLHA DA Arena da Baixada para a Copa, surgiu
Não somente o aspecto visual se coaduna com o entorno, mas seu funcionamento está diretamente comprometido a ser um local aprazível, de uso coletivo, para receber shows, eventos religiosos, festas e demais atividades. Dentro da Arena, há a possibilidade de delimitação de lugares conforme as dimensões do evento realizado, ou seja, uma outra arena indoor. Do lado externo, há áreas comerciais, tanto internas, voltadas para dentro do ambiente, quanto externas, voltadas para as ruas que a circundam e que podem ser acessadas para compras e lazer a qualquer momento. A fachada semitransparente reforça a interatividade entre os ambientes interno e externo. Do lado de fora, pode-se observar as atividades no interior iluminado do Estádio.
a necessidade de adaptá-la aos padrões da Fifa, mesmo sendo a mais adequada de que o Brasil dispunha na época e situada numa cidade com boa infraestrutura e transporte público, considerado um dos mais eficientes do país. Foi preciso ampliar a arquibancada da Arena para 43 mil assentos, pois, até então, sua capacidade era de 30 mil pessoas. A ocasião foi oportuna para a criação de novas vagas de estacionamento e para a reforma de setores existentes, como os camarotes. Dirigida pela equipe da Carlos Arcos Arquite(c)tura, com projeto básico do escritório Vigliecca & Associados, a reforma da Arena priorizou a interação de sua arquitetura com a cidade. Rodeada de casas e pequenos edifícios, sua estrutura ergue-se oito metros acima da linha da paisagem, tornando-a bastante visível e, ao mesmo tempo, alinhada ao meio em que está inserida.
A facilidade de acesso destaca-se na Arena da Baixada, uma vez que está situada em uma área próxima às principais vias de circulação, que contam com sistema rápido de ônibus e, futuramente, com o metrô curitibano. Circundada por diversos pontos de interesse geral, está a apenas 2 km do centro e a 18 km do aeroporto Afonso Pena, o que possibilita o acesso por diversos meios: carro, transporte coletivo, bicicleta, etc. Sua entrada principal está em frente a uma praça que funciona como elemento de transição, um local onde as pessoas podem se encontrar, conversar e se dirigir para a Arena. Como não havia espaço suficiente para a ampliação necessária da arquibancada, foi fechado um fosso que havia ao redor de todo o perímetro do campo. Isso possibilitou o aumento de três degraus, que, somados a outros espaços, formaram os 43 mil lugares necessários. E o fosso foi transformado em um reservatório com capacidade para um milhão de litros de águas pluviais para a irrigação e sanitários.
Fotos: Ministério do Esporte
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O Estádio, a arena indoor e a praça são monitorados por um eficiente sistema de segurança, composto por 180 câmeras espalhadas dentro e fora do espaço. O Estádio conta ainda com 308 refletores, dois telões de 77 m² cada, dispostos atrás de cada gol, e 1.572 alto-falantes, além de estacionamento com 884 vagas cobertas, 40 quiosques de alimentação e 155 banheiros.
No início de abril de 2015, a Arena inaugura o teto retrátil: dois módulos de 76 m de largura por 49,7 m de comprimento, executado em aço galvanizado e cobertura de policarbonato, tornando-se o primeiro estádio da América Latina a dispor dessa tecnologia. Integração com o meio urbano, fácil acesso, estrutura moderna e instalações confortáveis, mais do que somente outra arena para a Copa, a Arena da Baixada constitui um espaço multieventos para toda a Região Sul do país, contemplando as dimensões comerciais, econômicas, recreativas e sociais do meio em que está inserida.
No quesito sustentabilidade, optou-se por aproveitar 85% dos serviços e materiais usados na obra com os recursos locais, implicando menor emissão de carbono em transportes. Deu-se prioridade para empresas paranaenses, como a Brafer, de Araucária, e a Andrade Rezende, de Curitiba, uma das maiores em projetos metálicos no país. A economia foi pensada em todos os aspectos, já que os materiais geram impacto e, se importados, as implicações são ambientais, econômicas e sociais. O custo social da obra foi a primeira questão a ser analisada na edificação do estádio. O orçamento inicial foi de R$ 184,6 milhões, em 2012, com um investimento do próprio clube, o Atlético Paranaense. Posteriormente, parte dos recursos foi obtida junto à Agência Estadual de Fomento. Porém, em 2014, por interferência da Fifa, houve a necessidade de mais investimentos, obtendo-se o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o que elevou o orçamento total para R$ 330 milhões. Sua estreia aconteceu no dia 29 de março com um jogo amistoso entre os donos da casa e o J. Malucelli (PR), que resultou em 0 a 0. O evento teste da Fifa foi realizado com um jogo entre o Atlético e o Corinthians, cujo placar fechou em 2 a 1 para os paulistas. Menos de um ano após a Copa, a Arena começou a sofrer outras intervenções no anel superior. Foram solicitadas alterações com o intuito de garantir maior segurança e conforto.
Carlos Arcos Arquite(c)tura (foto superior) Maurilio Cheli / Prefeitura de Curitiba (foto inferior) Ministério do Esporte (página seguinte)
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Estádio Beira-Rio Estádio José Pinheiro Borda / Porto Alegre – RS / Inauguração: 1969 / Reinauguração: 2014
UM ESTÁDIO QUE TEM ALMA! Assim se diz do gigante Beira-
Rio, construído com a ajuda dos próprios torcedores, que não somente doaram materiais, mas colocaram a “mão na massa”. Foi inaugurado pela primeira vez em 1969, às margens do lago Guaíba, compondo uma paisagem exuberante. De lá para cá, surgiram necessidades de adaptações e reformas para atender a população e os desportistas. Uma delas, ainda antes de ser definido como um dos estádios a receber os jogos da Copa, foi a cobertura. Três sócios de um escritório de arquitetura de Porto Alegre, fãs do time colorado e frequentadores tradicionais do Estádio, Fernando Balvedi, Gabriel Garcia e Maurício Santos, assumiram a tarefa, com o olhar não somente de arquitetos, mas de usuários e torcedores que sabiam exatamente o quanto o Beira-Rio estava se tornando obsoleto para a época. As análises começaram a ser feitas em 2006 e a proposta era apenas a reformulação do Estádio, momento em que ainda não havia um grande projeto para transformá-lo em um estádio em condições de sediar jogos da Copa do Mundo. Logo o projeto estendeu-se para além da cobertura, englobando uma reforma completa, com aumento das arquibancadas, melhoria da visibilidade, novos camarotes, entre outros ajustes. Mas a principal preocupação foi preservar as características e a essência do Estádio, que carrega toda a energia e o orgulho dos torcedores, ampliando a capacidade e garantindo conforto para os usuários. O investimento nas obras de reforma totalizou R$ 330 milhões, com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no valor de R$ 275,1 milhões. A nova cobertura, em formato de folhas, é feita com material autolimpante, leve e muito resistente, que reduz a absorção do calor, bloqueia o vento frio e ainda colabora para o aproveitamento máximo da luz natural. A capacidade do Beira-Rio foi aumentada para 50 mil pessoas por meio da reconstrução da arquibancada inferior e da aproximação do campo de futebol, que ficou a uma
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Fotos: Ministério do Esporte
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distância de 9,7 m do público. O anel intermediário foi fechado e reservado para os camarotes, e o superior foi alocado para lounges de apoio. A marquise deu lugar aos Skyboxes, que possuem uma visão panorâmica do campo. Essa nova estrutura resultou na construção de novos acessos para circulação interna dos torcedores.
Os cuidados com o meio ambiente tiveram importante papel na pauta da modernização do Estádio. A cobertura foi projetada para a captação de água da chuva com vistas ao reaproveitamento e para possibilitar o máximo de iluminação solar. Foram instalados banheiros a seco, além de haver um sistema de controle de vazão em todos os sanitários.
Depois da reforma, o Estádio passou a contar com novas instalações hidráulicas e elétricas, modernos camarotes, rampas de acesso, 130 catracas para a entrada, museu, restaurante, bares e lojas, cinco mil vagas de estacionamento, 81 banheiros, substituição do gramado, que agora é mais resistente a baixas temperaturas e pisoteio, além de possuir sistema de drenagem a vácuo. Não somente o torcedor e os desportistas ganharam mais conforto, mas também a imprensa recebeu novas instalações com avançados equipamentos. Tudo isso considerando o melhor aproveitamento da estrutura original e preservando as características do antigo Beira-Rio.
Durante as obras foram tomados os devidos cuidados com a poluição do solo e do ar, evitando erosão do solo e assoreamento dos cursos d´água da região. Também se optou pelo uso de materiais de construção cuja emissão de compostos orgânicos voláteis fosse diminuta e pelo aproveitamento e reciclagem de 75% dos resíduos. A bola rolou no gigante renovado, pela primeira vez, dia 15 de fevereiro de 2014, numa partida integrante do campeonato estadual do Rio Grande do Sul, entre o Internacional e o Caxias, que terminou em 4 a 0 para o time da casa. Havia apenas 10 mil torcedores. Antecedendo o grande espetáculo de inauguração, o Beira-Rio recebeu a visita da presidente Dilma Rousseff. E no dia 5 de abril, data da inauguração oficial, foi contada a história do clube por meio das partidas disputadas ao longo dos anos. Além disso, apresentações de dança e teatro, bem como da banda Blitz e do DJ inglês Fatboy Slim acrescentaram música ao evento. Em seguida o Estádio recebeu cinco jogos da Copa, com uma concepção diferente do dia de jogo (match day). O Beira-Rio proporciona um ambiente seguro para que toda a família possa desfrutar de todos os momentos de um jogo, pois conta com áreas comerciais, praças de alimentação, museus, facilidade de acesso a pé, de carro e de ônibus. É também aberto à visitação turística e agrada a todos em virtude da beleza natural de seu entorno às margens do lago Guaíba, bem como por sua bela e singular fachada. Hoje o local é palco de grandes jogos dos campeonatos Gaúcho e Brasileiro, e também está preparado para receber shows e eventos de diferentes portes. O Sport Clube Internacional, que administra o Beira-Rio, tem conseguido um volume significativo de torcedores no Estádio, chegando a mais de 40 mil, em horários atípicos, e atingindo o esgotamento de ingressos antes de jogos em horários normais.
Alexandre Sperb (à esquerda) Camila Domingues / Palácio Piratini (acima)
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Arena Castelão Estádio Governador Plácido Castelo / Fortaleza – CE / Inauguração: 1973 / Reinauguração: 2012
POR FORA, nova roupagem; por dentro, o mesmo Castelão. Com
o intuito de preparar essa Arena para os jogos da Copa de 2014, optou-se por reformá-la visando sua adaptação aos padrões Fifa. Para tanto, preservou-se as características do antigo Estádio, mantendose 70% das arquibancadas superiores. Inseriu-se apenas um novo setor, correspondente a 1/5 do Estádio, no qual foram concentradas as áreas que demandam maior tecnologia: sala de controle, lounges, vestiários, restaurante, camarotes e salas vips. A fachada do Castelão foi totalmente revestida por uma “pele de vidro” de 2.800 m², que encobre o concreto da arquibancada. Possuindo propriedades termoacústicas, essa instalação recebeu uma manta térmica, com o intuito de amenizar o calor da região, e uma abertura na parte traseira, para que pudesse dar passagem à constante brisa presente na cidade, climatizando agradavelmente a área interna. Essa estrutura resultou em um novo visual. Contudo, por dentro, reconhece-se o mesmo Estádio. Uma cobertura de 36 mil m², mesclada por telhas de alumínio e policarbonato, evita sombreamentos e contrastes nas transmissões televisivas. O reaproveitamento dos equipamentos já existentes e a adoção de ações sustentáveis, como economia energética e hídrica, uso de tintas à base de água, madeiras certificadas e materiais que pouco ou quase nada agrediam o meio ambiente, renderam à obra a certificação LEED. Atualmente, o local retém a água da chuva para uso interno, utiliza sanitários a vácuo e ar-condicionado sem gases nocivos. Internamente, além do acréscimo do novo setor, houve melhorias no campo: ele foi rebaixado, resultando em um avanço de 30 m da arquibancada inferior e deixando uma distância de 10 m entre público e jogador. Houve também intervenções nas arquibancadas, as quais melhoraram a visibilidade, materiais que não propagam chamas e identidade visual renovada com assentos rebatíveis na cor verde, em referência à bandeira do Ceará.
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Danilo Borges / Portal da Copa (acima) Ministério do Esporte (à direita)
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Agora, o local conta com 332 refletores para iluminação noturna, que garantem boa visibilidade em todo o gramado; dois placares nas extremidades do campo com telas em LED de 90 m², por onde são transmitidos os melhores lances e informações ao torcedor; sistema de segurança com 240 câmeras e sala de controle, onde é feito o monitoramento do acesso das pessoas. Desse local também é possível operar o sistema de som, de informação e de temperatura. São disponibilizadas 1.900 vagas de estacionamento coberto, 85 banheiros, 44 quiosques para alimentação e 53 camarotes, incluindo o presidencial, com capacidade para 80 pessoas e cozinha própria.
em quarto lugar, sendo a maior de toda a região Norte e Nordeste, com capacidade para 63.900 pessoas. Foram seis partidas da Copa do Mundo no Castelão, que também recebeu três jogos da Copa das Confederações. A presidente Dilma Rousseff esteve na cerimônia de inauguração, em dezembro de 2012, quando o cantor cearense Raimundo Fagner realizou o show para o evento. E, no dia 27 de janeiro de 2013, o público assiste aos dois primeiros jogos no Estádio: Fortaleza (CE) 0 x 0 Sport (PE) e Ceará (CE) 0 x 1 Bahia (BA). Em 2016, será o centro de treinamento para as Olimpíadas na Região Nordeste. Tem abrigado jogos do Campeonato Cearense, Copa Nordeste e Copa do Brasil 2015.
Os gastos com a obra foram da ordem de R$ 518,6 milhões. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiou R$ 351,5 milhões. Mas o reaproveitamento das estruturas existentes, como a arquibancada, por exemplo, gerou uma economia de R$ 104 milhões em relação ao orçamento original. O escritório de arquitetura Vigliecca & Associados foi o autor do projeto. Em conjunto com as construtoras Andrade Mendonça e Galvão Engenharia, conseguiram concluir as obras em apenas 20 meses. Foi a primeira arena a ser concluída. Todas essas ações resultaram em uma arena apta a receber a Copa do Mundo de 2014, com conforto e segurança para torcedores, desportistas e profissionais da comunicação. E, alinhando-se à cultura local, preservou-se uma obra integrante do imaginário social. A Arena está entre as 60 maiores do mundo. No Brasil, está
Ministério do Esporte
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Arena Corinthians São Paulo – SP / Inauguração: 2014
MARCADA
PELA INOVAÇÃO, qualidade, tecnologia e arquitetura diferenciada, a Arena Corinthians, construída no bairro de Itaquera, na cidade de São Paulo, foi palco da abertura da Copa do Mundo e ainda recebeu mais cinco jogos, incluindo a semifinal. O primeiro desses jogos, entre o Brasil e a Croácia, com resultado de 3 a 1 para o time da casa, foi em sua inauguração, no dia 12 de junho de 2014. Atualmente, a Arena recebe grandes clássicos dos campeonatos Paulista e Brasileiro e abrigará partidas de futebol do Jogos Olímpicos de 2016. Tem uma expressiva frequência de torcedores, que muitas vezes atingem a lotação máxima, como no jogo entre Corinthians 0 x 0 San Lorenzo (ARG), em uma partida pela Copa Bridgestone Libertadores, que recebeu 40.744 pessoas pagantes. Entre os jogos que mais geraram públicos pagantes no Brasil em 2015, quatro foram realizados na Arena Corinthians, sendo superada apenas pelo Maracanã, cuja capacidade é maior.
Em um dos prédios há 11 pavimentos, com 59 lojas, restaurantes, auditórios, 89 camarotes e, nos três pavimentos subterrâneos, estão os vestiários e o estacionamento, com acesso via elevadores e 10 escadas rolantes. Do outro lado, a leste, o prédio com três andares destaca-se por ter uma fachada com painéis de LED que se transformam em um imenso telão, com dimensões de 170 m de largura x 20 m de altura. Além da alta incidência de luz natural, a iluminação artificial, desenvolvida pela Osram, é de extrema eficiência e qualidade, equiparável aos maiores palcos esportivos do mundo, com consumo semelhante à média dos estádios brasileiros. Internamente são usadas lâmpadas fluorescentes T5, por serem mais econômicas. Para o campo são usados 352 projetores desenvolvidos especialmente para esse tipo de uso. Parte da energia é gerada por fontes renováveis no próprio estádio, através de células fotovoltaicas, instaladas na cobertura em uma área de 4.500 m².
O responsável pelo projeto foi o escritório de arquitetura carioca CDC Arquitetos em parceria com a DDG Arquitetura. Aníbal Coutinho e Paulo Cordeiro, da CDC, estiveram à frente dessa empreitada iniciada em 2011 em um terreno de 198 mil m², com grandes desníveis, que ainda era cortado por dutos da Transpetro, empresa ligada à Petrobras. Além dessas dificuldades, algumas outras ocorreram, entre as quais a morte de dois operários. Mas, contornados os obstáculos e superado o atraso na finalização da obra, concluiu-se uma das mais modernas arenas do país.
A Arena Corinthians possui um dos melhores gramados. Com a grama Ryegrass, espécie que cresce bem no inverno, tem boa
Para sua edificação foram gastos mais de R$ 900 milhões, convertidos em um espaço com capacidade para 40 mil pessoas, podendo ser expandido para até 68 mil. Constituída de dois prédios intercalados pelo campo, com arquibancadas nas laterais, é aberta nas extremidades, possibilitando a passagem de vento local e colaborando com a acústica do ambiente. Também possui uma estrutura subterrânea que liga as duas unidades, e sua cobertura conta com placas que proporcionam isolamento térmico e acústico.
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Fotos: Ministério do Esporte
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tolerância para luz artificial, sendo a mais usada nos estádios da Europa. Importada dos Estados Unidos e geralmente usada para climas amenos, é uma espécie resistente e com menos talos. Mas, como no clima paulista há uma alternância entre as estações quentes e frias, foi implantado, pela primeira vez no mundo, um sistema de refrigeração, por baixo das raízes da grama, que opera com ar e água a uma temperatura independente da temperatura da superfície e mantém a planta entre 15 e 22 graus, além de possibilitar maior oxigenação nas raízes. Para a irrigação da planta foram instalados 48 aspersores, 18 a mais do que o exigido pela Fifa, todos automáticos
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e não interligados, para que se possa irrigar partes do gramado independentemente. O sistema de drenagem de água do campo, em caso de chuva, por exemplo, utiliza sistema a vácuo. Há também um duplo sistema de abastecimento de água, um para água potável e outro para água da chuva, captada pela cobertura, que é destinada para o combate a incêndios, mictórios, bacias, irrigação do campo e outros locais que não requerem água potável. O sistema de ar-condicionado abrange todas as áreas internas do local.
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Paulo Pinto / Fotos Públicas (página ao lado) Lauro Rocha (abaixo)
Situada na Zona Leste de São Paulo, está bem próxima à estação Corinthians-Itaquera do Metrô. Em seu entorno há extensa área urbana, com complexos habitacionais, escolas e shoppings. O acesso para pedestre se dá por duas avenidas, a Radial Leste e a Miguel Ignácio Curi, e sua localização facilita a chegada através do transporte público.
outros, com tecnologia de ponta e os melhores recursos existentes no mundo, até solucionar questões relacionadas à sustentabilidade e meio ambiente através do aproveitamento de água da chuva, redução e reciclagem do lixo, etc. Um obra moderna e inovadora, que permite que os jogos realizados sejam aproveitados com o máximo de visibilidade.
A construção primou pela modernidade em todos os sentidos: desde prover uma infraestrutura interna para usufruto confortável por parte de espectadores, equipe técnica, desportistas, imprensa, entre
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Arena das Dunas Natal – RN / Inauguração: 2014
A COR CLARA DA AREIA, o vento sempre presente, a forma
obra. Parte do concreto da demolição foi reaproveitada, mas ainda assim foram investidos R$ 400 milhões para a construção da Arena das Dunas. Sua inauguração ocorreu dia 22 de janeiro de 2014, com a presença da presidente Dilma Rousseff, do então secretárioexecutivo do Ministério do Esporte, Luis Fernandes, e da então governadora do Rio Grande do Norte (RN), Rosalba Ciarlini.
suave das dunas, a ideia de movimento constante, todos esses elementos foram representados na arquitetura da Arena das Dunas, situada na cidade de Natal, conhecida pelas dunas que atraem muitos turistas. Mas sua arquitetura não somente fez alusão ao cartão-postal da cidade, como também abrigou recursos para driblar o clima quente e aproveitar os bons ventos. Mesmo que o calor seja intenso, internamente há um conforto térmico notável devido a materiais que filtram o calor, aberturas nas partes norte e sul e vãos que propiciam uma ventilação cruzada, amenizando as altas temperaturas.
Atualmente, a Arena é intensamente utilizada, acolhendo jogos da Copa Nordeste e do Campeonato Potiguar. Em abril de 2015, foi palco do Festival Groove, um grande evento que reuniu diversas bandas, o XIV Festival Imobiliário do RN e o festival de cultura pop SAGA, mostrando-se um eficiente local multiúso para os mais diversos tipos de espetáculos.
A Arena das Dunas foi edificada em substituição ao antigo Estádio João Cláudio de Vasconcelos Machado, inaugurado em 1972. Optou-se pela demolição em função do barateamento dos custos, uma vez que a reforma sairia mais cara e demandaria mais tempo de
Fotos: Divulgação Arena das Dunas
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Para tanto, conta com um campo de 105 m de comprimento x 68 m de largura, a apenas 15 m da arquibancada. Não foi preciso instalar sistema de drenagem a vácuo, uma vez que o terreno é bastante arenoso e possibilita uma boa absorção de águas pluviais. A iluminação é constituída de 306 refletores que evitam sombras, contribuindo positivamente para transmissões televisivas na tecnologia Full HD. O sistema de sonorização é eficiente e há telões na área interna para transmissão das informações com qualidade de imagem. No quesito segurança, todas as áreas críticas são monitoradas por um centro de controle que garante a prevenção de atitudes que possam gerar riscos.
A Arena soube substituir o antigo Machado, conciliando uma arquitetura inovadora que dialoga com o imaginário da cidade e ao mesmo tempo contorna as características climáticas do local, abrigando um complexo sistema interno que atende às necessidades de segurança e eficiência dos eventos realizados.
O Grupo Stadia, tendo Danilo Carvalho encabeçando a condução do trabalho da Arena, fez uma parceria com o escritório de arquitetura Populous para a conceituação do projeto. Para cada especialidade foram realizadas parcerias específicas com empresas como a SDG, por exemplo, oriunda da Inglaterra, que realizou um estudo dos fluxos do estádio em conjunto com a empresa de paisagismo. No total foram mais de 15 subcontratadas para os serviços de iluminação e segurança, entre outros. A construção, iniciada somente em agosto de 2011, ficou a cargo da OAS, através de uma parceria público-privada (PPP). Os 42 mil torcedores podem contar com uma grande praça que permite fácil acesso aos 21 pontos de entrada e saída do estádio. Essa praça, que engloba todo o perímetro da Arena, tem 22 mil m² e pode abrigar diversos tipos de eventos ao ar livre, como shows e exposições. Além disso, há toda a infraestrutura necessária para proporcionar conforto a espectadores, esportistas e profissionais, bem como suporte para o trabalho de comunicação, dos técnicos, etc. Conta com sala de conferências, estúdio de imprensa e áreas para a mídia situadas nas arquibancadas, além de um moderno centro de TV. Há também bares, restaurantes, espaços comerciais, lounges de hospitalidade, estacionamento interno e externo, vestiários e 39 camarotes.
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Danilo Borges / Portal da Copa (acima) Divulgação Arena das Dunas (ao lado)
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Arena Fonte Nova Salvador – BA / Inauguração: 1951 / Reinauguração: 2013
O MESMO PROJETO que originou o Estádio Fonte Nova na década
Ulisses Dimas - Agência Bapress (abaixo) Camila Souza - GOVBA (página ao lado)
de 1950 serviu de base para sua reconstrução com a finalidade de receber a Copa de 2014. Implodido em 2010, o antigo Estádio marcou presença na cultura futebolística do estado, sendo palco de mais de 300 clássicos entre Bahia e Vitória, além das competições oficiais da Seleção Brasileira. Para os fiéis torcedores baianos, a demolição do Fonte Nova só foi aceita depois de considerados os graves danos de estrutura que ocasionaram um desabamento em que sete pessoas morreram. A nova Arena, construída no mesmo local, teve o projeto original preservado, inclusive o formato de ferradura. Todo o material foi reaproveitado. Entretanto, a atual Arena Fonte Nova apresenta uma série de soluções modernas e tecnológicas que condizem com a época em que foi edificada. Tornou-se a primeira arena construída para a Copa a adotar o sistema de naming rights, passando a assinar Itaipava Arena Fonte Nova. Marc Duwe, do escritório Tetra Arquitetura, em parceria com a Schulitz Architekten, tendo como representante o arquiteto alemão Claas Schulitz, e a Setepla Tecnometal estiveram à frente da reconstrução do Estádio. Com experiência na construção de estádios na Alemanha, a Schulitz trouxe uma efetiva contribuição ao escritório Tetra, cujos projetos predominantes destinavam-se à área de transporte. O formato de ferradura, com abertura para o Dique de Tororó, situado em frente ao Estádio, é a grande homenagem aos 50 anos do Fonte Nova, de modo a valorizar sua importância histórica para o futebol brasileiro. Trata-se de uma questão relacionada à identidade entre estádio e torcedor. Mas também é um recurso técnico para o controle de temperatura, pois, por meio dessa abertura é possível obter boa ventilação, tanto para o espectador quanto para o gramado, e maior incidência de luz natural, o que garante a iluminação interna. A “abertura da ferradura”, no lado sul da Arena, é um espaço ideal para shows ou outros programas, sem precisar usar o campo nem desmontar a arquibancada.
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Porém, alguns itens que estavam presentes no antigo Fonte Nova foram excluídos. A pista de atletismo, pista olímpica baiana ainda em funcionamento regular, foi uma delas. Atendendo à orientação da Fifa, optou-se por extingui-la. Considerava-se que eventos de atletismo não atraíam o público e, além do mais, com sua eliminação a torcida poderia ficar mais próxima do campo de futebol. Essa alteração provocou desajustes geométricos entre o antigo e o novo estádio, o que colaborou com a difícil decisão de demolir completamente o Fonte Nova para dar lugar à Arena.
Para isso, houve a reutilização de todo o concreto do estádio demolido, captação de água da chuva para reúso nos banheiros e na irrigação, sistemas de ventilação e iluminação natural, além de lâmpadas de baixo consumo energético. O investimento na obra foi de R$ 591,7 milhões.
Dentre as melhorias, notam-se números expressivos que representam a infraestrutura adequada para se desfrutar dos jogos e demais eventos. Na arquibancada para 48 mil pessoas, há espaço para pessoas com deficiência física e acompanhantes. Os modernos assentos são da cor verde, em referência ao Dique do Tororó, e oferecem conforto em todos os setores. Há 70 camarotes decorados e mobiliados para 1.250 pessoas, 94 sanitários, 40 quiosques de alimentação, 10 elevadores, 2.450 vagas de estacionamento, além de um centro cultural e museu. A segurança conta com 227 câmeras de vigilância de alta definição e alcance que transmitem imagens para uma sala de controle, dotada de tecnologia de ponta. E para a iluminação, 376 refletores evitam o sombreamento no gramado, proporcionando luz de emergência. A cobertura, composta por material translúcido, impermeável e autolimpante, tem como objetivo, além da devida proteção às variações climáticas, evitar as ilhas de calor, dar passagem à luz, contribuir para a redução da energia e coletar as águas da chuva. O local conta com reservatório capaz de armazenar até 698 mil litros de água, representando uma economia significativa do líquido. Através dessa infraestrutura, o Estádio foi o primeiro do mundo a obter a Certificação Internacional de Qualidade ISO 9001 do Sistema de Gestão de Qualidade para o Escopo de Construções de Arena Multiúso e o primeiro do Brasil a se enquadrar na categoria prata no reconhecido sistema internacional de certificação LEED.
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Maracanã Estádio Jornalista Mário Filho / Rio de Janeiro – RJ / Inauguração: 1950 / Reinauguração: 2013
DONO DE UMA história com marcas profundas na alma do brasileiro, o Maracanã é o segundo estádio do mundo a abrigar duas finais da Copa: a primeira em 1950, para a qual foi construído, e a segunda em 2014. Mais do que um local para os jogos, o Maraca, como também é conhecido, tornou-se um ícone no imaginário dos brasileiros como o templo do futebol, refletindo a paixão do país pelo esporte.
Patrimônio tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), as reformas no Estádio sempre geraram acalorados debates desde o Mundial de Clubes da Fifa em 2000, com a extinção da arquibancada geral. O Estádio tem um valor simbólico muito forte na sociedade brasileira, com contribuições expressivas no desenvolvimento do futebol e das torcidas do país. Além disso, sua inconfundível vista aérea tem valor artístico em cartõespostais da cidade, em camisetas e inúmeros objetos, o que o tornou conhecido em todo o mundo e alvo de constantes visitas turísticas, mesmo quando não há jogos. Com a escolha do Brasil como sede da Copa, adequar o Maracanã às exigências da Fifa levantou a grande questão: preservar ou renovar? Entre as duas vertentes, o Maracanã, intensamente associado à história do futebol no país, justamente num momento em que os olhares do mundo se voltavam para o Brasil, foi preservado o máximo possível, colocando-o, ao mesmo tempo, no nível dos melhores estádios do mundo nos quesitos modernidade, segurança e conforto, sem dissociá-lo de sua identidade. O ponto de partida das adaptações foram as arquibancas, para as quais se desenvolveu um projeto que modificou mais solidamente a parte interna e se ramificou para as necessidades externas. Entre as diversas intervenções, alguns setores foram acrescentados, outros foram apenas modificados, como sanitários e bares. Contudo, os pontos mais polêmicos foram a demolição da marquise e a nova cobertura.
Alexandre Macieira / Riotur (foto superior) Ministério do Esporte (acima e ao lado) Érica Ramalho / Governo do Estado do Rio de Janeiro (página seguinte)
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Ainda que o Estádio permaneça com a mesma e intacta fachada, toda a sua estrutura interna, tão conhecida dos torcedores e carregando um valor simbólico de tantas partidas, vitórias e derrotas, foi alterada. A famosa vista aérea destaca a nova cobertura. Assim como a sociedade não é mais a mesma de 1950, ela se adapta com o decorrer do tempo, o futebol também sofreu modificações, e o Estádio, local de encontro do esporte e da comunidade, precisou acompanhar essas mudanças.
os quais foram liberados 30% da sua capacidade. O jogo terminou em 8 a 5 para o time de Ronaldo, que fez dois gols. Posteriormente, foi palco de três jogos da Copa das Confederações, inclusive o jogo final, e sediou sete jogos da Copa de 2014, contando com a grande final, jogo entre Alemanha e Argentina, no dia 13 de julho. Readaptado para as finais da Copa, atualmente é o estádio brasileiro mais utilizado. Em 2016 o Maracanã, além de receber partidas de futebol olímpico, será o local onde ocorrerão as cerimônias de abertura e também de encerramento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
Com R$ 1,05 bilhão investido, o Maracanã agora tem capacidade para 78.800 pessoas, conta com arquibancada que oferece ótima visibilidade, lounges de convivência, mais acessos através de quatro novas rampas, 17 elevadores, sendo oito panorâmicos, e 12 escadas rolantes. Há também quatro telões com 98 m², e os sistemas de som e iluminação possuem 78 alto-falantes e 396 refletores, permitindo transmissões televisivas com qualidade. A segurança monitora todas as áreas por 360 câmeras. E o sistema de manutenção do clima interno incorporou novas passagens de ar, possibilitando mais ventilação, bem como o sombreamento da cobertura, o que ameniza o calor. A reforma priorizou também questões relacionadas à sustentabilidade, como reaproveitamento do concreto das demolições, instalação de painéis fotovoltaicos que produzem cerca de 9% da energia consumida pelo local, além de diversas outras ações em prol da redução do uso de energia. Quem esteve à frente dessa obra foi o escritório Fernandes Arquitetos, representado por Daniel Fernandes, com destacada atuação na elaboração de estruturas de grande porte, responsável também pelo projeto da Arena Pernambuco. A modernização do Maracanã rendeu ao escritório o prêmio Mipim Architectural Review Future Project Awards, que foi outorgado em Cannes, na França. A reinauguração do Estádio marcou pela originalidade: um jogo entre os amigos de Ronaldo e os amigos de Bebeto, assistido pelos 8 mil operários que trabalharam na reforma e seus familiares, para
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Minas Arena Mineirão / Belo Horizonte – MG / Inauguração: 1965 / Reinauguração: 2013
INAUGURADO EM 1965, o tradicional Mineirão – atual Minas
A fim de possibilitar a incorporação de novas atividades ao Mineirão, tomou-se uma série de medidas que englobaram praças de uso semipúblico em continuação com o terreno urbano localizado no entorno da Arena. No subsolo abrigam-se áreas de serviços, comerciais e institucionais, o Museu do Futebol, posto de saúde e o Tribunal de Pequenas Causas. Assim, criam-se condições para a realização de eventos públicos e demais atividades. Em função das lojas, o movimento de pessoas é contínuo durante a semana, colaborando também para a rentabilidade do local.
Arena – faz parte de um complexo de lazer localizado na região da Lagoa da Pampulha, ladeado por outros edifícios projetados pelo arquiteto Oscar Niemeyer e tombado pelo Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte. Foi palco de inúmeros jogos importantes e tornou-se um ícone do futebol mineiro, um cartão-postal da cidade em conjunto com o privilegiado local em que está inserido. Com a Copa do Mundo de 2014, houve a necessidade de adaptação para atender às exigências da Fifa, surgindo a questão da viabilidade comercial, social e ambiental, o que incorporou novos conceitos ao Mineirão. Considerou-se, então, a possibilidade de um complexo esportivo multifuncional, que oferecesse um leque de serviços capaz de atrair a população, tornando-o um local, ao lado do esporte, voltado também para cultura e lazer bem como viável economicamente. Tudo isso sem descaracterizá-lo fisicamente e tendo como perspectiva a redução de impactos ambientais negativos. O projeto da Arena foi baseado em duas premissas: de um lado, o grande evento da Copa, a realização de shows e a possibilidade de o Mineirão fazer parte das arenas escolhidas para receberem partidas de futebol dos Jogos Olímpicos de 2016, o que de fato se confirmou; de outro, seu usufruto no dia a dia por parte da comunidade do bairro e da cidade.
A Esplanada da Arena foi completamente renovada, incluindo uma diversificação de serviços em todo o entorno do Estádio. Além de proporcionar uma visão agradável da Lagoa da Pampulha e estar ligada ao Mineirinho (Ginásio Jornalista Felipe Drummond), funciona como uma praça gigante de acesso público, podendo sediar grande variedade de eventos relacionados ao lazer, ao comércio, à cultura ou ao entretenimento, favorecendo a movimentação no local, independentemente dos dias de jogo. Formada por 80.000 m², apresenta características de um parque suspenso, permitindo a livre circulação dos pedestres bem como o acesso ao Estádio. Todo o entorno foi contemplado com o projeto paisagístico composto por mais de 900 árvores nativas e fontes ornamentais, proporcionando sombreamento natural e preservando o meio ambiente.
A estratégia para esse objetivo foi a PPP (parceria público-privada), que contou com o consórcio Minas Arena – Gestão de Instalações Esportivas S.A. Modificações internas e externas foram realizadas, conferindo ao Mineirão características muito agradáveis para uso diário e também apto a receber grandes eventos não esportivos.
O restaurante panorâmico também é outro atrativo para o público, cuja capacidade é de 370 pessoas em um espaço de 1.160 m². Televisores foram instalados nas proximidades dos 58 bares e lanchonetes de modo que o torcedor não perca detalhe algum das partidas enquanto usufrui dos serviços oferecidos. Outro item de comodidade dos usuários são as 2.925 vagas de estacionamento, mais da metade cobertas, 79 banheiros e dois telões de LED de 98 m² acima dos gols.
Sem permissão para alterar a fachada, com seus 88 pórticos, nem a cobertura, ambos tombados, a solução implicou na preservação dessa estrutura original. Internamente o local sofreu diversas modificações no que se refere a acesso, segurança, conforto, visibilidade, entre outros, proporcionando total adequação da Arena aos requisitos da Fifa.
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Na parte estrutural interna, a cobertura do equipamento foi expandida, o que possibilitou maior proteção contra as variações climáticas e contribuiu para as transmissões televisivas. O campo foi
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Ministério do Esporte (página 169 e 170) Acima, Agência I7/Minas Arena
rebaixado em 3,40 m, o que aumentou a visibilidade dos espectadores. A arquibancada, com capacidade para 62.160 mil lugares, recebeu assentos ergonômicos numerados. A sustentabilidade ambiental foi uma questão primordial. Sua cobertura ganhou seis mil placas fotovoltaicas, o que faz do Mineirão a maior usina solar fotovoltaica desse tipo no Brasil. É produzida energia para consumo equivalente a 1.200 residências, a qual é injetada na rede pública através de uma subestação localizada dentro da Arena, à qual retorna 10% dessa energia.
A Copa do Mundo deixou uma herança positiva para a cidade, através da criação, na Arena, de espaços que respondem às demandas da comunidade. O local já recebeu um marcante show da banda norteamericana Foo Fighters, além de diversos eventos musicais. Abriga os jogos dos campeonatos Brasileiro e Mineiro e, em 2016, receberá dez partidas de futebol dos Jogos Olímpicos. Em 2014, o Mineirão alcançou as melhores médias de público dos últimos dez anos e foi palco dos principais jogos do Campeonato Brasileiro, reforçando que a reforma proporcionou mais qualidade no recebimento de eventos esportivos, trazendo mais torcedores e cidadãos interessados em lazer, cultura e entretenimento na cidade de Belo Horizonte.
O Museu do Futebol Brasileiro também está localizado no interior do Minas Arena. Possui vasto acervo admirado pelos visitantes, especialmente durante a Copa, numa oportunidade de mostrar a história do futebol do país para turistas estrangeiros e locais.
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Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha / Brasília – DF / Inauguração: 1974 / Reinauguração: 2013
PROJETADO POR Ícaro de Castro Mello e inaugurado em 1974,
Acrescidos ao conteúdo estético, esses pilares também fazem parte do esqueleto do Estádio, amparando a armação da cobertura, cujo sistema de tensão é inspirado em uma roda de bicicleta. Como no Mineirão e no Maracanã, a cobertura do Mané Garrincha conta com células fotovoltaicas, produzindo 2,5 megawatts de energia, suficiente para o consumo próprio e ainda para alimentar a rede pública. A ventilação proporcionada pelos vãos dos pilares, acrescida do sombreamento feito pela cobertura, reduz a temperatura interna.
o Estádio Nacional de Brasília, ou Estádio Mané Garrincha, foi completamente demolido para a Copa de 2014. O novo projeto foi elaborado pelo escritório Castro Mello Arquitetos, tendo à frente Eduardo de Castro Mello, filho do autor do projeto original. No lugar do antigo Estádio Nacional de Brasília surgiu uma nova Arena, com capacidade para 72.800 pessoas. O conceito arquitetônico que norteou o projeto do Estádio baseouse no traço do arquiteto Oscar Niemeyer, responsável pela criação de diversos edifícios de Brasília e marca indelével da capital brasileira.
A cobertura, formada por uma tela de fibra de vidro revestida por teflon, desempenha papel determinante em relação à sustentabilidade, especialmente nos aspectos energético e climático. Ela é autolimpante, ou seja, não tem aderência de partículas trazidas pelo ar, já que são recolhidas com a água pluvial, colaborando para a diminuição da poluição da atmosfera.
Com uma singular fachada, fugindo do modelo tradicional de obras similares, a “floresta de pilares”, composta por 288 pilares de 1,20 m de diâmetro, com 36 m de altura, remete às obras de Oscar Niemeyer, criando uma grande varanda, como no Palácio do Planalto, do Itamaraty e da Alvorada.
O consumo sustentável de água também foi considerado. A captação da água da chuva, feita por pisos drenantes, biovaletas e pela cobertura, se dá em cinco cisternas localizadas no interior do Estádio, destinando-se à lavagem de pisos, sanitários e irrigação do campo. E o local foi beneficiado, complementarmente, com um projeto paisagístico que incorporou a vegetação típica do cerrado com espécies que florescem em diversas épocas do ano e são identificadas com placas, assemelhando-se a um grande museu verde, a céu aberto. Internamente, o destaque da arquitetura é a acessibilidade. A grande varanda que abriga os pilares possui rampas cuja declividade possibilita o movimento de pessoas com mobilidade reduzida. Essa esplanada possui área de 617,87 mil m² e acesso a todos os níveis de arquibancada através de 19 portões e 158 catracas. Internamente, para a circulação, há 50 rampas, 20 elevadores, quatro escadas rolantes e 60 escadas normais.
Paula Fróes
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Além disso, o estádio oferece toda a estrutura necessária para a realização dos mais diversos eventos, com 74 camarotes, setores vips, diversas lojas, quiosques, departamento médico, estacionamento, banheiros, saídas de emergência, salas para imprensa, proporcionando conforto e comodidade para espectadores, desportistas e profissionais da comunicação. Tudo com sistemas de iluminação e sonorização adequados para usufruto ao vivo ou retransmitido. Sua localização é privilegiada: em um raio de 3 km a partir do Estádio encontram-se os setores hoteleiros Norte e Sul da cidade, setor hospitalar, centro de convenções bem como pontos turísticos, como o Memorial JK e a Torre de TV, além de ficar muito próximo ao Eixo Monumental, que é uma das principais vias da cidade e possibilita o fácil acesso tanto a moradores quanto a turistas. Design diferenciado, eficiência energética e hidráulica e acessibilidade são as principais características do Estádio Mané Garrincha, que teve um investimento de R$ 1,4 bilhão, sendo uma das poucas a não utilizar recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. A empresa estatal Terracap viabilizou a verba por meio da venda de terrenos do governo. Inaugurado em 2013, até dezembro de 2014 o Estádio havia recebido 83 eventos, sendo 53 jogos, entre os quais sete partidas da Copa do Mundo, e tem acolhido os campeonatos da Copa Verde, além de ser palco dos jogos da Copa do Brasil. Tem sido requisitado para grandes eventos tanto em seu espaço interno, como o show de Paul McCartney, quanto externo, como o da Banda Kiss e o Festival Villa Mix Brasília.
Paula Fróes (acima) Ministério do Esporte (ao lado)
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Arena Pantanal Arena Multiúso Governador José Fragelli / Cuiabá – MT / Inauguração: 1975 / Reinauguração: 2014
O ANTIGO ESTÁDIO Governador José Fragelli, conhecido como
Internamente, a solução foi construir um estádio de acordo com as exigências da Fifa, mas que pudesse abrigar outros eventos menores. A Arena, cuja capacidade é de 44 mil pessoas, tem as arquibancadas dos setores Norte e Sul desmontáveis, liberando o material para uso em outros locais. A estrutura oferece a possibilidade de adaptar os módulos para outros fins, por exemplo: os setores Norte e Sul podem se transformar em uma escola de educação física, uma academia ou um centro de convenções. Os camarotes podem se tornar salas de reuniões ou salas de aula para um programa universitário. O Estádio conta com um arcabouço pronto que possibilita ampla utilização.
Verdão, em Cuiabá, inaugurado em 1975, já havia sofrido interdições e foi demolido em 2010 por problemas estruturais. Nesse local seria erguida a Arena Pantanal. Para se empreender a Arena em Cuiabá, cidade cujo volume de torcedores locais não era suficiente para lotar um estádio com capacidade para 44 mil pessoas (de acordo com o que a Fifa pedia em relação ao tamanho da nova Arena), procurou-se conciliar as exigências da Fifa com a utilização do Estádio depois de pronto, de forma que ele não ficasse ocioso e ainda deixasse um legado positivo para a cidade.
Outro destaque da Arena é a atenção com o meio ambiente: o projeto contemplou uma estação de tratamento de esgoto, aproveitamento de ventilação e iluminação natural, piso que não absorve calor excessivo e colabora com a manutenção de um microclima ameno dentro do Estádio, além do reúso da água.
O arquiteto Sérgio Coelho, diretor do Escritório GCP Arquitetos, autor do projeto da Arena, teve como ponto de partida para esse desafio a arquitetura responsável: foi concebido um estádio que pudesse abrigar um complexo esportivo e também receber outros eventos. A Arena Pantanal foi construída em substituição ao antigo Verdão e incluiu em seu projeto uma espécie de “pacote da Copa”, uma série de medidas que extrapolam os usos durante a Copa, tais como: implantação de pista de skate, restaurantes, áreas de lazer, bosques, projeto paisagístico, com o intuito de proporcionar diversificado uso para o espaço. Foram plantadas mais de 2.000 árvores, revitalizando um bosque que havia nas proximidades, e implantada uma lagoa artificial, favorecendo o uso do local para o lazer e a cultura, tornando-o um espaço independente do futebol e servindo, simultaneamente, de reservatório de água.
Fotos: Ministério do Esporte
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Sua arquitetura tornou-se uma marca da cidade de Cuiabá. Com formato retangular, possui os quatro cantos livres. São quatro arquibancadas sem ligação, exceto por um anel de arquibancada contínuo, e o gramado avança por esses cantos até a fachada, que envolve todo o equipamento.
Seu entorno tem sido apropriado pela comunidade local como um ponto de encontro entre skatistas da cidade, ciclistas, patinadores e pessoas que praticam exercícios físicos como corrida e caminhada. Mas, ao mesmo tempo, reparos passaram a ser feitos visando à revitalização da área para melhor uso e promoção da segurança da população.
O espaço também oferece eficiente sistema de iluminação e sonorização. Há 32 quiosques de alimentação, quatro restaurantes, 66 banheiros, 97 camarotes, espaço vip e vvips, 79 catracas, 12 elevadores, além de escadas e passarelas para acesso interno. Há um centro de comando que controla todo o sistema de segurança da Arena, que conta com 330 câmeras de reconhecimento facial. Nesse local, monitora-se também o sistema de ar-condicionado, iluminação LED e irrigação do gramado. O investimento na construção da Arena foi de R$ 570 milhões.
O principal desafio da Arena Pantanal é desenvolver alternativas para torná-la viável economicamente, como incrementar o número de eventos não esportivos, alinhados com a expectativa da comunidade, além da possibilidade de receber maior número de jogos do Campeonato Brasileiro.
Inaugurada em abril de 2014, com um jogo entre Mixto (MT) e Santos (SP), que empataram em 0 a 0, a Arena recebeu mais quatro jogos da Copa. Sete meses após a inauguração, o local foi interditado para reparos e voltou a abrigar os jogos do Campeonato Matogrossense e do Brasileirão.
Ministério do Esporte (à esquerda) Leonardo Finotti (página à direita)
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Arena Pernambuco Inauguração: 2013
ÚNICO EMPREENDIMENTO a ser construído em um local
exibindo boa eficiência na manutenção da temperatura interna e da acústica do ambiente. A cobertura parece um prolongamento da fachada, com área de aproximadamente 22 mil m². Possui telhas de vidros, que tornam possível a iluminação natural e uma transição delicada da área interna para a externa. Ela fornece condições para o bom trabalho das transmissões televisivas, bem como mais conforto aos setores vips e de imprensa.
distante do centro urbano, a Arena Pernambuco – denominação utilizada até a Copa, passando posteriormente para Itaipava Arena Pernambuco em decorrência de contrato de naming rights com o Grupo Petrópolis – teve como ponto de partida a geração de uma nova comunidade em torno dela: a Cidade da Copa, empreendimento projetado para ser implantado às margens do Rio Capibaribe, Zona Oeste da Região Metropolitana de Recife.
Com amplo estacionamento, os acessos se dão a partir de uma grande praça de dispersão, que auxilia na integração com o meio através de sua conexão com área de paisagismo, propiciando entretenimento e lazer. Para a circulação interna, há oito rampas, nove elevadores, 13 escadas rolantes, 42 quiosques de alimentação, 84 sanitários, além de 32 cabines destinadas às pessoas com necessidades especiais, e 4.700 vagas de estacionamento.
Para a concepção da Arena Pernambuco, o arquiteto Daniel Fernandes, do escritório Fernandes Arquitetos Associados, o mesmo que trabalhou no projeto de reforma do Maracanã, procurou minimizar os impactos negativos no meio ambiente. Com o intuito de obter a certificação LEED, foram providenciadas soluções de armazenamento e uso de águas pluviais para irrigação e sanitários, foram instalados painéis fotovoltaicos que fornecem energia equivalente ao consumo de 6 mil pessoas, implantou-se sistema de aquecimento solar de águas, optou-se por materiais recicláveis, etc. As obras começaram em 2010, mas, com a possibilidade de o local sediar a Copa das Confederações em 2012, foi necessário acelerar o projeto, o que implicou modificações estruturais a fim de cumprir os prazos restritos. Nessa época as obras ainda não tinham chegado à metade. Foram substituídos materiais por outros com características que possibilitaram mais agilidade, e que apresentavam mais qualidade acústica e melhores propriedades térmicas, embora de custo mais alto. Apesar dos percalços, foi possível, 30 meses depois, entregar a Arena. Pensada em conjunto com o viés sustentável, a edificação também implantou um sistema de tratamento de resíduos sólidos. A fachada se ergue mansamente, sem bruscos cortes verticais, mesclando-se com a topografia ao redor. De aspecto translúcido e com aberturas, permite a passagem de luz e também de ventilação,
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Fotos: Eduardo Martino
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O acesso dos 46 mil torcedores que a Arena comporta se dá por catracas eletrônicas. O sistema de iluminação é dotado de alta tecnologia, há um excelente isolamento acústico e dois telões com 77 m², além de lounges e bares climatizados. O espaço é apropriado para acolher diversas atividades e tem um apelo muito forte em relação ao caráter multiúso da Arena. Desde sua inauguração o local já recebeu um dos maiores eventos de turismo internacional, a 23a edição da Brasilian National Tourism Mart. Outras ocorrências de destaque foram o Showroom da Volvo, realizado nas praças externas, o Encontro de Funcionários da Gerdau e o Open House Amcham, que se deu no Lounge Premium, além do 1o Encontro de Segurança em Eventos Desportivos, realizado no auditório. Em seu site oficial, divulga-se o espaço para a realização de diversas atividades, desde as sociais, como festas de formatura e aniversário de 15 anos, eventos corporativos, como feira de negócios, lançamento de produtos, convenções e treinamentos, eventos de cunho comercial, como exposições e feiras, eventos de oportunidade, como desfiles de moda, exposições de arte e artesanato, esportes radicais, até os tradicionais musicais, como shows, prévias carnavalescas e atividades religiosas. A Arena Pernambuco, que teve um investimento de R$ 529,5 milhões, recebeu três jogos da Copa das Confederações e cinco partidas da Copa do Mundo, além de outras competições esportivas. O empreendimento ainda necessita de investimentos externos para sua manutenção e, complementarmente, aguarda solução para o acesso, uma vez que se encontra a uma distância de cerca de 19 km do Recife.
Ministério do Esporte (página ao lado) Glauber Queiroz Portal da Copa / ME (foto superior) Inês Campelo (foto inferior)
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E o espetáculo vai continuar... A TRAJETÓRIA HISTÓRICA de campos, estádios e arenas de
3) Esse crescimento quantitativo de lugares para se assistir aos jogos foi acompanhado pela incorporação de elementos modernizantes na concepção e na construção dos estádios. A expansão física da área de arquibancadas, inicialmente de madeira, tornou necessária, em certo momento (1919), a utilização de concreto. Tratava-se de novidade técnica nesse tipo de obra, para suportar o peso das estruturas que iriam acolher as duas dezenas de milhares de torcedores, ou mais, do Estádio das Laranjeiras e construções posteriores. Profissionais e escritórios especializados passam a assinar os projetos. Iluminação para jogos à noite, áreas reservadas às autoridades e à imprensa, distanciamento entre público e campo e inúmeros outros conceitos e soluções técnicas passam a fazer parte dos projetos e da construção de novos estádios. Ainda que essa modernização tenha sido mais efetiva em estádios de maior porte, ela passou a fazer parte, de distintos modos e em diferentes tempos, de diversos estádios.
futebol no Brasil, desde o século XIX até o início de 2015, destacou, neste estudo, singularidades que podem ser observadas através de dois momentos distintos. O primeiro, desde os mais remotos locais utilizados para jogar futebol até o Estádio do Maracanã, em 1950, aponta para três aspectos significativos: 1) Ao surgimento de novos clubes e à disseminação informal do esporte, desvinculada da formação de agremiações, correspondeu a expansão quantitativa de novos campos para jogar bola. Esse fator constituiu o pano de fundo para a aceitação e a irradiação do futebol, tornando-o, em pouco tempo, o esporte mais popular do país. Em paralelo à sua gradual popularização – num primeiro momento restrita a grupos da elite esportiva e posteriormente integrando jogadores operários, imigrantes e negros –, os mecanismos corporativos de sua prática foram se organizando: dos simples amistosos surgem os torneios e, posteriormente, os campeonatos, já sob a coordenação das ligas de futebol regionais ou estaduais.
O segundo momento corresponde ao período pós-Maracanã, estendendo-se até as arenas da Copa. Nesse período destacam-se também três aspectos: 1) Se o interesse pelo futebol encontrou a contrapartida em estádios com capacidade cada vez maior, a possibilidade de acompanhar as partidas não se restringiu à presença do torcedor nas arquibancadas. Com os altofalantes instalados em lugares públicos e com as transmissões esportivas pelo rádio, as partidas multiplicavam o número de torcedores no momento do jogo. Com o advento da TV, na década de 1950, o constante crescimento do número de aparelhos bem como com o surgimento da TV por assinatura, a transmissão de partidas iria ampliar ainda mais o número daqueles que assistiam aos jogos sem precisar ir ao estádio. Esse fato, no final do século XX, ao lado de questões diversas como o papel das torcidas, iria constituir importante vetor na reformulação da concepção de estádios.
2) A presença de ligas de futebol e as disputas a elas relacionadas (que iam além das quatro linhas do campo) encontram rebatimento no campo de jogo, na necessidade de clubes construírem espaços apropriados para receberem públicos cada vez maiores, seja nas arquibancadas destinadas a seletos grupos ou no entorno do campo, que podia acolher até milhares de pessoas em pé. Um esporte que crescia vigorosamente – e com ele interesses econômicos e políticos associados a questões como, por exemplo, o embate pelo profissionalismo no futebol – não podia prescindir da construção de espaços cada vez mais amplos em que multidões pudessem estar presentes e pagando para ver seu esporte, seu clube e seu ídolo. Dos dois mil lugares nas arquibancadas do Velódromo às cerca de 200 mil pessoas no Maracanã, na final entre Brasil e Uruguai, 50 anos depois, multiplicamos por 100 a capacidade de público dentro de um estádio.
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2) A relação entre futebol e política, cujas origens remontam à presença de presidentes do país em partidas desde a primeira década do século
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XX, intensificando-se especialmente na era Vargas (anos 1930 e 1940), em que os estádios passam a receber eventos cívicos, ganha um novo contorno durante o período da ditadura militar (1964 a 1985), em que os estádios tiveram papel singular. A popularidade do futebol e o momento político do país em que o governo precisava se fazer presente em áreas estratégicas fizeram com que dezenas de novos estádios fossem construídos com recursos públicos. Paralelamente refluiu a construção ou reforma de estádios particulares, até então predominantes.
tomados em contextos específicos de cada estádio abordado, apontam para a inevitável necessidade de um considerável aprofundamento das pesquisas e das interpretações. Tal como num estádio, este estudo sobre Campos, estádios e arenas de futebol... começa o espetáculo! é apenas um entre tantos modos de olhar para o que acontece no campo. Ou mais: para o que acontece naquele lugar onde a torcida fica e de onde vê o futebol acontecer.
3) Passados os anos da ditadura, adveio a estagnação na construção de estádios. Com o incremento da violência nesses espaços, o avanço da TV, a abertura para shows e outros eventos e o surgimento dos clubesempresa, há uma reformulação na concepção dos palcos esportivos. Entre o final dos anos 1990 e a Copa de 2014 surgem as arenas, em que uma das características primordiais é a multifuncionalidade, além de, arquitetonicamente, serem necessariamente cobertas. Com foco em segurança e conforto do público, as soluções relacionadas ao projeto deram especial ênfase à diversidade de aspectos relacionados à sustentabilidade (como captação e reúso de água; iluminação e ventilação naturais; células fotovoltaicas; lâmpadas de alta eficiência energética; reaproveitamento de materiais; etc.) e à inclusão de pessoas com mobilidade reduzida. Apesar de esses dois momentos e suas singularidades na trajetória de campos, estádios e arenas de futebol no Brasil constituírem um esboço de compreensão de quase 150 anos a respeito do lugar onde o futebol acontece, este estudo, em que alguns momentos e algumas questões significativas foram abordados, constitui apenas uma contribuição ao pontapé inicial para a questão. A imensidão de campos e estádios existentes no país e os multifacetados aspectos intrinsecamente relacionados ao tema (histórico, político, econômico, social, esportivo, construtivo, urbanístico, tecnológico, comportamental, empresarial, legislação, entidades, imprensa, torcidas, clubes, jogos, jogadores, fatos e histórias, etc.), aqui circunstancialmente
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And the show will go on... THE HISTORICAL RECORD of fields, stadiums and football arenas
innovation that supports the weight of the structures and accommodates tens of thousands of fans, or more, at the Laranjeiras Stadium and later constructions.
in Brazil since the nineteenth century until the beginning of 2015 has highlighted, in this study, some unique characteristics that can be observed through two distinct periods.
The second period corresponds to post-Maracanã up to the construction of the arenas for the World Cup. During this period, three aspects deserve special attention:
The first period pertains to characteristics of remote places used to play football to the creation of football arenas such as Maracanã Stadium in 1950. The creation of football arenas points to three significant aspects:
1) The original interest in football found a counterpart in the interest in football stadiums with increasing capacity. It was the ability to follow the matches not restricted to the fans in the stands. Speakers were installed in public places and the sport started to be broadcast by radio in1920. This allowed many more fans to enjoy the game. With the advent of TV in the 1950s, the steady growth in the number of media outlets as well as the appearance of Cable TV broadcasting the matches would further increase the number of those who watched the games without having to go to the stadium. This fact, in the late twentieth century, alongside with issues such as the role of fans would be an important ingredient in reshaping the design of the stadiums.
1) The appearance of new club organizations, not associated with training, contributed to the growth of the sports resulting in the effective expansion of new fields to play ball. This factor was the backdrop for the acceptance and phenomenal growth of football, making it, in a short time, the most popular sport in the country. Although the sport was initially restricted to elite groups, the popularity of football opened the door to allow other people such as factory workers, immigrants and people of color to play. The sport ultimately became organized by corporations were the simple friendly competitions began and later championships that where under the coordination of the regional or state football leagues were developed. 2) The presence of football leagues and their quest for titles are unfolding on the playing field. It became obvious that team clubs needed to build facilities to receive the growing numbers of fans. A sport that grew vigorously, bringing with it economic and political interests associated with issues such as the struggle for professionalism in football, could not succeed without the construction of even larger spaces where crowds could pay to attend to see their sport, support their club and see their idols. The 2,000 people in the Velodrome stands compared to the 200,000 people at the Maracanã, during the final between Brazil and Uruguay 50 years later, had multiplied 100 times. Stadium sizes grew exponentially!
2) The relationship between football and politics started when the presence of Brazil’s Presidents at matches occurred regularly especially in the Getulio Vargas era (1930 and 1940). At this point, the stadiums became the stage for civic events, and took on a new role during the period of military dictatorship (1964-1985). The popularity of football and the political situation of the country where the government needed to be present in strategic areas caused dozens of new stadiums to be built and remodeled with public funds. 3) After years of dictatorship came the recession in the construction of stadiums. With the increase in violence in these stadiums, the advancement of TV, the opening for concerts, and other events and the appearance of club corporations, an overhaul in the design of sports venues is now in place. Between the late 1990s and the 2014 World Cup we see arenas in which one of the key features is multi-functionality. New architectural style
3) Growth in the number of places to watch the games also incorporated modern elements in the design and the construction of stadiums. The physical expansion of the stands that were initially made of wood brought the need, at one point (1919), to use concrete. This was a technical
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demands it to be covered. In addition, they started to focus on safety and comfort of the public. The solutions related to the project placed special emphasis on a diversity of issues related to sustainability, such as collection and reuse of water, natural lighting and ventilation, photovoltaic cells, energy-efficient lamps, reuse of materials, as well as accessibility. Although the history of fields, stadiums and football arenas in Brazil constitute an important outline of nearly 150 years about the place where football happens, this study, which sometimes addressed some significant issues, is only a contribution to the kickoff for the conversation on the subject. The great number of existing fields and stadiums in the country and the multifaceted aspects intrinsically related to the topic herein (historical, political, economic, social, sports, constructive, urban, technological, behavioral, business, law, authorities, press, fans, clubs, games, players, etc.), are taken in specific context of each covered stadium and, points to the inevitable need for considerable further research and explanations. As a stand-alone topic, this study presented in the book “Fields, stadiums and football arenas: ... the show begins!” is just one of many ways of looking at what happens in the field and even more, at what happens in the place where the crowd is and where they see football happening.
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Estádio BeiraRio – S.C.Internacional – BRIO – Construtora Andrade Gutierrez – Hype Studio Arquitetura · Estádio BeiraRio Hemeroteca do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa (Musecom) – Setor de Imprensa – Secretaria do Estado de Cultura do RS · Estádio dos Eucaliptos Instituto Geográfico e Cartográfico Secretaria de Planejamento e Gestão – Governo do Estado de São Paulo · Estádio do Pacaembu Ministério do Esporte · Arenas do Brasil Portal da Copa Ministério do Esporte · Arenas do Brasil www.fotospublicas.com.br · Arenas do Brasil ACERVOS PESSOAIS Acervo Antonio Fiaschi Acervo Cid de Castro Dias (engenheiro fiscal) · Estádio Albertão Acervo Hugo Maroni · Velódromo Acervo John Mills · Velódromo e SPAC Acervo João Paulo Streapco · Maracanã Acervo Marcelo Monteiro Acervo Moacir Peres FOTÓGRAFOS Alex Silva/Estadão Conteúdo · Estádio do Pacaembu AlexandreMacieira Riotur · Maracanã Alexandre Pazzuelo · Arena da Amazônia Alexandre Sperb · Estádio BeiraRio Ana Araújo Faquini/ Portal da Copa (www.fotospublicas.com.br) · Arena Pernambuco Andréa Borges · Estádio Nacional de Brasília Ângelo Binder/ Portal da Copa (www.fotospublicas.com.br) · Arena da Baixada Benedito Junqueira Duarte/ Museu da Cidade · Estádio do Pacaembu Daniel Brasil/ Portal da Copa (www.fotospublicas.com.br) · Maracanã Danilo Borges e Gabriel Fialho/ Portal da Copa/ ME (www.fotospublicas.com.br) · Arena Corinthians Eduardo Martino · Arena Pernambuco Everson Bressan/SMCS (www.fotospublicas.com.br) · Arena da Baixada Fabio LimaFaquini/ Portal da Copa (www.fotospublicas.com.br) · Estádio Castelão Gabriel Heusi/ Portal da Copa/ ME (www.fotospublicas.com.br) · Estádio BeiraRio Gabriel Zellaui/ Museu da Cidade · Estádio do Pacaembu Genilson Araujo · Estádio João Havelange Glauber Queiroz/ ME/ Portal da Copa (www.fotospublicas.com.br) · Arena Pernambuco Inês Campelo · Arena Pernambuco Jobson Galdino/ Portal da Copa/ ME (www.fotospublicas.com.br) · Arena das Dunas José Medeiros/ ME/Portal da Copa (www.fotospublicas.com.br) · Arena Pantanal José Zamith/ ME/ Portal da Copa (www.fotospublicas.com.br) · Arena da Amazônia Lauro Rocha · Arena Corinthians Lucas Uebel/ Grêmio FBPA (www.fotospublicas.com.br) · Arena do Grêmio Leonardo Finotti · Arena das Dunas e Arena Pantanal Marcelo Reis/ Instituto Casa da Photographia · Arena Fonte Nova Maurílio Cheli/ SMCS (www.fotospublicas.com.br) · Arena da Baixada Paula Fróes · Estádio Nacional de Brasília Paulo Pinto (www.fotospublicas.com.br) · Arena Corinthians Rui Faquini/ ME/ Portal da Copa (www.fotospublicas.com.br) · Estádio Nacional de Brasília Severino Filho (Buim) · Estádio Albertão Wilson Magão/PMSBC · Estádio Vila Euclides São Bernardo do Campo
ARQUIVOS E ACERVOS Acervo Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro · Maracanã Acervo Biblioteca Mario de Andrade · Guia de Football Acervo Cia. City · Estádio do Pacaembu Acervo Clube Athletico São Paulo · SPAC Acervo Coritiba Foot Ball Club · Coritiba Foot Ball Club Acervo CPDOC/GCFGV · Clube de Regatas Vasco da Gama Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil · Imagens de revistas e jornais Acervo do Arquivo Histórico do Estado de São Paulo · Maracanã Acervo do Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube · Morumbi Acervo do Instituto Moreira Salles · Estádio do Pacaembu Acervo do Museu do Futebol · Estádio do Pacaembu Acervo do “Museu do Grêmio FootBall Porto Alegrense – Hermínio Bittencourt” · Grêmio Porto Alegrense Acervo FluMemória · Fluminense Football Club Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo · Estádio do Pacaembu Acervo Haroldo Maia – Sudesb ··Ingresso Acervo Histórico do Clube Atlético Paranaense · Arena da Baixada Acervo Jornal Estado de Minas/Revista O Cruzeiro · Mineirão Acervo Jornal do Brasil – CPDoc JB · Notícias sobre o futebol à noite Acervo Museu Tempostal – Governo do Estado, da Secretaria de Cultura, do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, da Diretoria de Museus, do Museu Tempostal · Fonte Nova, Salvador Acervo Permanente do Arquivo Histórico de São Paulo · Estádio do Pacaembu Acervo PróTV/ Museu da TV · Imagens da TV Acervo SEP · Parque Antarctica Acervo Seção de Pesquisa e Documentação – PMSBC · Vila Euclides, São Bernardo do Campo Ademg/Minas Arena · Minas Arena Agência I7/Minas Arena · Minas Arena Agência O Globo · EstádioJoão Havelange Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro · Maracanã Arquivo Histórico de São Paulo · Estádio do Pacaembu Arquivo Histórico do Centro PróMemória do Club Athletico Paulistano · Club Atlético Paulistano Arquivo Images2You · Club de Regatas Vasco da Gama Arquivo Jornal A Tribuna de Santos · Altofalante Arquivo Nirez · Estádio Getúlio Vargas/ Campo do Prado Arquivo Público do Estado de São Paulo · Revista A Cigarra/Maracanã Carlos Arcos Arquitetura · Arena da Baixada Casa da Imagem · Estádio do Pacaembu Divulgação WTorre · Allianz Parque Edições Ludens / Attar Editorial · Guia do Football Estadão Conteúdo · Estádio do Pacaembu
ILUSTRADORES Marco Antonio Lane Valiengo ESCRITÓRIOS DE ARQUITETURA BCMF Arquitetos · Minas Arena Eduardo Bajzek Barbosa/ Castro Mello Arquitetos · Estádio Nacional de Brasília Fernandes Arquitetura · Arena Pernambuco Hype Studio · Estádio BeiraRio GCP Arquitetos · Arena Pantanal
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Goulart, Paulo Cezar Alves Campos, estádios e arenas de futebol -- : começa o espetáculo! = From the project, fields, stadiums and soccer arenas -- : the show begins! / Paulo Cezar Alves Goulart ; [versão para o inglês Fátima de Oliveira Slobodien]. -- 1. ed. -- Vargem Grande Paulista, SP : A9 Editora, 2015. Edição bilíngue: português/inglês. Bibliografia 1. Estádios - Futebol - História 2. Fotografias 3. Futebol - Brasil - História I. Título. II. Título: From the project, fields, stadiums and soccer arenas -- : the show begin. 15-04405
CDD-796.3340981
Índices para catálogo sistemático: 1. Brasil : Futebol : História 796.3340981
Campos, estádios e arenas de futebol... começa o espetáculo! foi editado em São Paulo (SP), inverno de 2015, utilizando as fontes Minion e DIN e impresso em papel couchê fosco 150g, na Ipsis Gráfica e Editora.
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