Uma compra prazerosa para todos: visual merchandising aplicado para deficientes auditivos

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UMA COMPRA PRAZEROSA PARA TODOS: VISUAL MERCHANDISING APLICADO PARA DEFICIENTES AUDITIVOS. MOSINHO MAURA1, AZEVEDO LUCYANA2, BASTOS VICTORIA3, ALBUQUERQUE SUELLEN4, NOGUEIRA PABLO5 1

Centro Universitário de João Pessoa, profmauramaldonado@gmail.com

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Centro Universitário de João Pessoa, contato.luazevedo@gmail.com

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Centro Universitário de João Pessoa, vickfb@gmail.com

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Centro Universitário de João Pessoa, suellen.albuquerque@gmail.com

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Centro Universitário de João Pessoa, pablo.nogueira@unipe.br

Resumo: O presente trabalho trata-se de uma investigação sobre o comportamento de compra de deficientes auditivos em lojas de moda, fazendo um cruzamento com o visual merchandising. O estudo volta o olhar à inclusão social e desenvolve soluções primárias para o auxílio do deficiente auditivo na compra de vestuário. Para tanto foi feita uma pesquisa sobre os surdos, através de questionário online, suas dificuldades de compra, bem como foram feitas análises in loco de lojas de moda para avaliação de como esse cruzamento pode ser feito. Por fim, escolheu-se uma empresa de vestuário para desenvolver um protótipo, utilizando novas tecnologias de varejo que deem mais acessibilidade e autonomia para os deficientes auditivos, mas que também agreguem valor à imagem da marca e facilitem a compra de todos os clientes. Palavras chave: visual merchandising; varejo de moda; deficientes auditivos

1. Introdução O presente projeto tem como objetivo desenvolver um estudo de visual merchandising, juntamente com a proposta de adequação de loja para deficientes auditivos. O visual merchandising trata-se de técnicas de organização de loja, visando aumentar a visibilidade do produto, potencializar vendas, gerar informações visuais sobre marca e produto, criar um ambiente agradável de vendas, fidelização de público consumidor/cliente, entre outros. Demetresco (2016) fala sobre o assunto como um grande espetáculo orquestrado pela visualidade, ou seja, já não se trata apenas do trabalho operacional de alocação de produtos, mas algo mais profundo como contar uma estória, firmar a identidade de marca, estimular as compras e trazer conforto e bem-estar aos clientes (Sackrider, et. al, 2009). Esta proposta de trabalho se debruça sobre a questão da inclusão social e do aperfeiçoamento da receptividade em ponto-de-venda para consumidores surdos. O estudo é fruto de uma pesquisa que vem sendo desenvolvida entre professores e alunos no Centro Universitário de João Pessoa - Unipê (João Pessoa/BR). Com abordagens de Design de Moda, Design de Interiores e Arquitetura tomando o desafio de compreender o universo do deficiente auditivo e suas limitações na busca por soluções que lhes possibilitassem maior facilidade e bem estar no ato da compra. Nesse sentido, este artigo tem como objetivo analisar o comportamento do consumidor portador de deficiência auditiva. Este recorte se deu visando estimular os alunos dos cursos de Design de Moda, Design de Interiores e Arquitetura para trabalharem com o desafio de compreender o universo do deficiente auditivo, suas limitações e encontrar soluções possíveis que suprissem suas necessidades ao facilitar o ato da compra tornando este um

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momento prazenteiro/lúdico. Entende-se que este levantamento pode contribuir para desenvolvimento de uma nova linha de visual merchandising voltado para consumidores especiais. Sabe-se que os deficientes auditivos (DA) são aqueles que não contemplam completamente o sentido da audição. É importante explicar que existem vários graus de deficiência auditiva e que o DA e o surdo trazem problemáticas distintas. Deficiência auditiva é considerada como a diferença existente entre o desempenho do indivíduo e a habilidade normal para a detecção sonora de acordo com os padrões estabelecidos pela American National Standards Institute ANSI- 1989. Segundo o Instituto Itard (faculdade especializada em cursos de educação inclusiva) o surdo é aquele que tem total perda de audição. Deste modo, o estudo aprofundou-se em pesquisas sobre as técnicas do visual merchadising, o universo do consumidor DA e a proposição de alternativas de adaptação de ambiente de vendas para uma loja do ramo de vestuário.

2. Metodologia Este estudo foi iniciado através de um exame bibliográfico sobre os temas centrais visual merchandising e DA o que nos levou a definir como metodologia a pesquisa de natureza quali-quantitativa, visando uma maior aproximação do ambiente estudado, observando nuances e permitindo maior interferência e/ou participação do pesquisador. Estudos sobre consumo, em geral, demonstram que há mais elementos a ser estudados do que apenas transação comercial entre fornecedor e cliente com a finalidade de satisfazer necessidades. Há valores simbólicos inerentes ao produto e a marca que influem na tomada de decisão de consumo. A pesquisa qualitativa se deu a partir de encontros e discussões em grupo com professores e fonoaudiólogos da clínica escola da instituição onde o projeto foi realizado. Devido à dificuldade de comunicação com o público alvo em questão, falou-se com especialistas no assunto e que acompanham o desenvolvimento do DA para entender o seu universo, formas de convívio, desenvolvimento dos outros sentidos devido a ausência ou perda de audição, entre outros. Um dos pontos mais destacados pelos profissionais que tratam os distúrbios de audição, foi que os DA são muito ágeis e têm um maior interesse por tecnologias. Fato constatado devido a não necessidade de comunicação auditiva para o manejo das tecnologias em computadores em geral. A partir deste dado decidiu-se continuar a pesquisa com uma etapa quantitativa que se deu a partir da aplicação de um questionário, enviado através da ferramenta WhatsApp com tabulação pelo Google formulário, gerando dados numéricos e porcentagens sobre as perguntas. As técnicas quantitativas aplicadas, permitiram mensurar dados importantes, que deram arcabouço e sustentação às propostas das ações de visual merchandising no ambiente escolhido. Esta investigação objetivou compreender processo de compra, principais dificuldades e desejos sobre a oferta de serviços em lojas de vestuário junto aos DA (grupo de difícil acesso inicial). A escolha da amostra se deu pelo método bola de neve, onde participantes indicam outros participantes, esse método torna-se útil para estudar determinados grupos difíceis de serem acessados (Vinuto, 2014). Após a quantificação e compreensão das necessidades de compra dos deficientes auditivos, foi feita a observação participante em lojas de vestuário para verificar como estes estabelecimentos estão preparados para receber estas pessoas. Visitas in loco, na cidade de João Pessoa (Brasil – PB) permitiram coletar dados sobre o funcionamento de diversas lojas e a verificação das possíveis dificuldades encontradas pelo consumidor surdo. Por fim, foi selecionada uma empresa/loja e desenvolvida uma proposta de alteração do visual merchandising para o atendimento deste público especial.

3. O Surdo e o Varejo O olhar da sociedade para os portadores de deficiências de modo geral tem aumentado, novas políticas de proteção e inserção têm sido consolidadas e novos direitos adquiridos. Um exemplo é a Lei nº 8.213, de 19911 ou a Lei nº8.989/95 que permite a isenção do pagamento do Imposto sobre Produtos

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Lei das Cotas, que obriga empresas de determinado porte a reservarem parte de suas vagas para PPDs.

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Industrializados (IPI) para portadores de deficiência, as cotas de entrada em Universidades, gratuidade em transportes públicos, direito a meia-entrada em eventos culturais e esportivos, entre outros. Diuturnamente observam-se pessoas mais preocupadas com a inclusão social, respeitando mais os cidadãos ditos “especiais”. Contudo o varejo, de modo geral, ainda não é um setor que tenha desenvolvido práticas/estratégias voltadas para o atendimento destes consumidores. Os estímulos à compra são muito visuais e auditivos, nos locais de venda os elementos sonoros são utilizados com frequência, bem como a propaganda e comunicação em televisão e cinema. Assim o varejo apresenta um degrau no diálogo com as pessoas que não podem acompanhar este tipo de informação (Meira, et.al, 2009). Alguns grandes grupos já tomaram partido e se posicionaram favoráveis ao atendimento de pessoas portadoras de deficiências (PPDs) e receberam louros pelas suas ações:

A Rede Pão de Açúcar adaptou uma de suas lojas para atender o público, colocaram rampas de acesso ao supermercado, elevadores e, principalmente, prepararam sua equipe de colaboradores para que estivessem aptos a lidarem com este público especial, o resultado foi o crescimento de 20% no faturamento desta loja, com isso, já pensam em abrir um espaço especial para atender os portadores de deficiência física. Algumas empresas já dispõem de surdos em seus quadros para auxiliarem no atendimento a clientes surdos. A rede gaúcha de farmácias Panvel tem um funcionário surdo que trabalha no estoque e vem atender outros clientes surdos. Paquetá e Gaston (mesmo grupo) também têm funcionários surdos (Meira, et. al, 2009, p.3).

Quando se fala de varejo e nas técnicas de visual merchandising percebe-se que muitas delas se ancoram no estímulo aos 5 sentidos, o que se chama de marketing sensorial. Por marketing sensorial entende-se a exploração dos sentidos como objetivo atingir o subconsciente dos consumidores influenciando no seu comportamento de compra e enviando mensagens que vão além das palavras (Lindstrom, 2011). A ambientação e a tematização das lojas servem como forte estratégia para despertar sensações nesse consumidor, logo, os pontos de venda passaram a ser vistos como um espaço para trabalhar a geração de experiências e assim passaram a receber maior valorização (Morgan, 2011). Para Trierweiller et al., (2011, p. 4) “O marketing sensorial tem como propósito fixar uma marca, produto ou serviço na mente do consumidor criando sensações através dos sentidos, formando assim, um vínculo emocional”. Se pensarmos na quantidade de informações sobre marcas que recebemos por dia, seja nas embalagens, meios de comunicação tradicionais, internet, celulares, no ponto de venda, perceberemos que estamos no meio de uma guerra de varejo na intenção de “capturar” o consumidor (Blessa, 2005). Estudos, livros, artigos, pesquisas acadêmicas ou não, buscam incansavelmente compreender o comportamento de compra para saírem na frente da corrida pela venda. Deste modo encontram-se diversas teorias, estratégias e “armadilhas” na intenção de conquistar o cliente. A preparação do ponto de venda (PDV) tem tentado ser o mais atrativo e lúdico possível para atrair compradores (Sackrider, et. al, 2009). Neste ponto, o marketing de experiências se une ao visual merchandising criando espaços de compra extremamente prazerosos, fazendo com que o consumidor tenha uma interação mais forte com a marca gerando, muitas vezes, boas lembranças e fidelidade de compra. Mas percebe-se que existe uma barreira de comunicação entre o varejo e deficientes auditivos, porque muitos dos estímulos não são absorvidos por eles. Pode-se se pensar que apenas sons não são recebidos por eles, mas por terem uma incapacidade de audição, o cérebro e os outros sentidos também se comportam de forma diferente. Para compreender um pouco deste universo é preciso explanar sobre as diferenças dos tipos de surdez. O departamento de segurança da Instituição Fiocruz (s.d), relata os seguintes tipos de deficiência: Condutiva: Quando ocorre qualquer interferência na transmissão do som desde o conduto auditivo externo até a orelha interna. A grande maioria das deficiências auditivas condutivas pode ser corrigida através de tratamento clínico ou cirúrgico. Esta deficiência pode ter várias causas, entre elas pode-se citar a presença de corpos estranhos no conduto auditivo externo, tampões de cera, otite externa e média, malformação do conduto auditivo, inflamação da membrana timpânica, perfuração do tímpano, obstrução da tuba auditiva, etc.

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Sensório-Neural: Quando há uma impossibilidade de recepção do som por lesão das células ciliadas da orelha interna ou do nervo auditivo. Este tipo de deficiência auditiva é irreversível, pode ser de origem hereditária como problemas da mãe no pré-natal tais como a rubéola, sífilis, herpes, toxoplasmose, alcoolismo, diabetes, traumas físicos, prematuridade, meningite, encefalite, caxumba, sarampo etc. Mista: Quando há uma alteração na condução do som até o órgão terminal sensorial associada à lesão do órgão sensorial ou do nervo auditivo. O audiograma mostra geralmente limiares de condução óssea abaixo dos níveis normais. Central ou Surdez Central: Este tipo de deficiência auditiva não é, necessariamente, acompanhado de diminuição da sensitividade auditiva, mas manifesta-se por diferentes graus de dificuldade na compreensão das informações sonoras. Decorre de alterações nos mecanismos de processamento da informação sonora no tronco cerebral (Sistema Nervoso Central). O cérebro dos surdos usa a parte responsável pela audição para sentir o toque e ver objetos, pesquisas evidenciam o que se chama de “plasticidade” do cérebro humano. Além disso, mostra que eles usam o córtex auditivo para processar tanto toque quanto estímulos visuais muito mais do que os indivíduos que ouvem (Fiocruz). Assim, supõe-se que estas pessoas tenham dificuldades de compra sob o método tradicional de vendas. Por isso, este projeto justifica-se na constatação de que os deficientes auditivos têm dificuldades e percepções diferentes sobre o ambiente de compra no varejo e na confirmação de que, é necessário praticar ações de inclusão social, no sentido de proporcionar o maior prazer e bem-estar no momento da compra, bem como sanar possíveis problemas de consumo deste público consumidor.

4. Visual Merchandising e Tecnologia no Varejo A tecnologia vem aproximando as pessoas e servindo como ferramenta de comunicação, uma realidade que auxilia os indivíduos com deficiência auditiva à inclusão na sociedade. A barreira da comunicação falada faz com que muitos deles optem pelas compras em sites e lojas virtuais. Já que as lojas físicas que não possuem instrumentos de auxílio à compra, deixando assim muitas vezes esse público sem um atendimento apropriado e satisfatório. Nas lojas tradicionais, a maioria das informações dos produtos à venda se dão por uma comunicação não adaptada. Comunicação essa que muitos deficientes auditivos não conseguem interpretar deixando-o dependentes de auxílio na momento da compra. Ronaldo Tenório, estudioso sobre tecnologias de acessibilidade à surdos, recebeu um prêmio da ONU pelo Programa “Mãos que Falam”, que consiste em um aplicativo que traduz sons, textos e até fotos para a Linguagem Brasileira de Sinais. Este, em entrevista ao Portal Terra (tecnologiaterra.com.br), explicou que a Libras é o primeiro idioma aprendido pelos surdos, e que muitos acabam não estudando o português, por falta de acesso ou pelas dificuldades encontradas nos métodos formais de educação, “Queremos fazer com que o surdo entenda conteúdos e tenha acesso ao conhecimento”, afirma. Mas com o uso da tecnologia aplicada nas lojas físicas pode-se adquirir a tão desejada independência e satisfação no atendimento. Alguns aplicativos possuem ferramentas de comunicação como o Hand Talk, Prodeaf, Motion Savvy. A maioria destes aplicativos podem ser utilizados em diversos aparelhos como androides, IOS, Blackberry e computadores. De modo geral são programas que transformam imagens e textos em linguagem de sinais. Há também aqueles que permitem a vídeo conferência e possuem interpretes que podem fazer ligações telefônicas como os programas Fonefacil, ILibras e ViavelBrasil. Essas ferramentas são eficazes e auxiliam muito o processo de comunicação entre surdos e não surdos, apesar de algumas delas serem limitadas e ainda apresentarem poucas palavras no banco de dados. Além da tecnologia específica para o público surdo, temos também as tecnologias de varejo que modernizam o atendimento ao público em geral. Regiane Romano é especialista em estudos e aplicações de novas tecnologias de varejo, em um Boletim de Tendências Sebrae (2015) faz um apanhado das principais ferramentas e as vantagens de utilização. Tabela 1: Tecnologias de Varejo

Ferramenta

Utilização

TELA INTERATIVA

No interior da loja pode ser instalada uma tela interativa que permite a identificação de peças do interesse do consumidor. A ferramenta se parece com as já utilizadas em lojas virtuais e aplicativos, onde o cliente recebe informações sobre o produto como: preço, tamanhos e cores disponíveis, outros produtos complementares, opções de pagamento, bem como poderá colocar o produto no carrinho virtual antes de ir ao caixa. Isto traz

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agilidade e autonomia, principalmente para DA que não precisarão do auxílio de vendedores para a compra. Esta é uma forma mais moderna do chamado cartão fidelidade. A empresa terá um efetivo banco de dados sobre o cliente, que portará um cartão físico com a etiqueta RFID (identificação por rádio frequência). A RECEPÇÃO etiqueta pode ser lida mesmo dentro de uma bolsa ou carteira, no raio de 20 a 100 m de distância em média. INTELIGENTE A identificação permite o reconhecimento da entrada do cliente na loja que receberá as boas vindas através de mensagem de celular. Além de se sentir acolhido o consumidor poderá receber vantagens e descontos na compra, entre outros benefícios como bonificação. Está é uma tecnologia de baixo custo que consiste em uma imagem codificada, colocada em etiquetas, lida QR CODE por um dispositivo móvel. Essa ferramenta pode: dar informações sobre o produto, levar para o site, dar descontos e prêmios e muitas outras janelas que a marca decidir. REALIDADE É um espelho interativo que pode “provar“ a roupa ou acessório no cliente apenas pela imagem refletida e VIRTUAL 3D até mesmo levá-lo a um local fictício para a festa ou ocasião em que ele usaria a peça. Pode ser apresentado ao cliente através de um tablet ou da tela interativa. O catálogo serve como a CATÁLOGO apresentação da peça em um site, vai apresentar ao cliente as informações sobre o produto, preço, ELETRÔNICO disponibilidade de cores e tamanhos. É possível que assim um produto desperte mais a atenção do consumidor do que se estivesse apenas exposto entre as araras. Provadores com sensores que detectam a silhueta do cliente, movimentos e simula a prova da peça de roupa. PROVADOR COM Assim o consumidor pode tirar fotos e até mandar para suas redes sociais para interagir com amigos e pedirKINECT lhes opiniões. Fonte: Boletim de Tendências SEBRAE (nov/2015)

As lojas ditas tecnológicas proporcionam maior envolvimento entre marca e cliente, gerando uma experiência de compra mais dinâmica e divertida. Grandes marcas já adotam o uso das tecnologias de varejo como Adidas, Nike, Gucci, FNAC e a pioneira no Brasil, a loja Billabong em São Paulo. Além destas citadas, existem muitas outras tecnologias aplicadas no varejo que não foram desenvolvidas pensando no consumidor DA, mas que podem facilitar a compra, já que as máquinas disponibilizam todas as informações necessárias para a compra, sem que ele precise se comunicar com os vendedores. Em se tratando do estudo para um projeto de pesquisa, fizemos uma visita informal à Clínica Escola de Fonoaudiologia (UNIPÊ) e conversamos com a coordenadora da clínica para compreender melhor as características deste público. Uma das informações valiosas foi sobre a grande facilidade e interesse que os DA têm no uso das tecnologias, o que fortalece ainda mais a ideia de aplicá-las na loja deste estudo.

5. Coleta e Análise de Dados Como explicado na metodologia, a etapa qualitativa apresentou resultados no sentido do entendimento geral sobre o comportamento e relações sociais do DA. Os profissionais entrevistados apontaram que existe uma tendência em os DA se restringirem aos grupos sociais de semelhantes. Relatou-se ainda um posicionamento de grande aceitação da deficiência, ou seja, eles se manifestam avessos a fazerem acompanhamento vocal e colocarem aparelhos auditivos no sentido de demonstrar orgulho em ser DA. Por fim, os especialistas na área, foram enfáticos na predileção do DA pelo uso de computadores, tecnologia e smartphones, equipamentos estes que podem dispensar o uso da audição. Este contexto levou a condução da segunda etapa da pesquisa do tipo quantitativa. Esta se deu a partir da aplicação, através do celular, de um questionário (11 perguntas) com jovens surdos. Os principais pontos questionados foram sobre: (1) se fazem compras sozinhos ou acompanhados, (2) principais dificuldades de compra, (3) elementos que facilitariam a compra. Foram entrevistados um total de 79 pessoas onde o perfil dos respondentes está na faixa entre 19 e 31 anos, sendo 48% do gênero masculino e 52% do gênero feminino. Destes 54,5% estão concluindo ou possuem grau superior, enquanto outros 34% possuem apenas o ensino médio. Quando questionados sobre a preferência de compra, 64,6% apontaram a necessidade de realizar compras acompanhado enquanto outros 35,4% optam por realizar suas compras sozinhos. Quando perguntado sobre o acompanhante 53,2% afirmaram ser alguém da família, enquanto 26,6% consideram o acompanhante como sendo o (a) namorado ou cônjuge. O restante 20,3% considera ser acompanhado por amigos.

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Figura 1: Gráficos de respostas do questionário.

Contudo, quando questionado se o usuário precisa de auxílio, 62% consideram que não precisa enquanto apenas 38% apontam que sim, necessita de auxílio na compra de artigos. Em comparação com as questões de anteriores voltadas a preferência por acompanhamento observa-se um equilíbrio paradoxal. Contudo, este equilibrio pode indicar uma série de possibilidades como, ou os usuários não gostariam de ser auxiliados no momento da compra, ou que gostariam de ter maior liberdade, ou que sentem insegurança de frequentar um espaço não adaptado as suas necessidades. Mas que acima de tudo demonstram a necessidade de se sentirem autônomos. Esta afirmação pode ser reforçada pela questão que busca detectar a preferência por tipos de atendimento. Quando questionados quanto a preferência por lojas com auxílio de atendentes, ou de lojas de departamento, onde se oportuniza um modelo de autoatendimento, apenas 24,1% afirmam preferir o auxílio de um atendente no momento da compra. Não fica claro o motivo pela qual os repondentes afirmam tal opção. Contudo, o constrangimento no momento da compra parece ser algo ainda muito presente no cotidiano deste usuário que quando questionado sobre sofrer constrangimento no ato da compra, 60,3% dos respondentes afirmam que sim, já sofreram ou sofrem algum tipo de contrangimento enquanto 39,7% consideram que não sofrem constrangimentos. As limitações de comunicação em um ambiente de compra para DAs é algo que deve ser estudado com cautela. Aspectos que envolvem desde o layout até a comunicação detalhada de um produto podem interferir negativamente na percepção deste pelo DA. Quando questinados sobre qual a maior dificuldade de compra apresenta-se aspectos como pedir um tamanho diferente de uma peça de vestuário que foi considerado por 62,3% dos usuários. Perguntar sobre uma peça que não esta exposta foi apontado como um problema por 64,9% dos entrevistados. E, pedir outras cores de um determinado produto foi apontado por 66,2%. Ou seja, para o DA, o ambiente de compra se soma aos obstáculos diários de comunicação em geral. O questionamento específico sobre “quais as principais dificuldades de compra” levaram ao entendimento deste ponto. Deste modo, a compra se faz mais difícil por não poder operar ações simples como apenas perguntar sobre uma peça que não está visivel ou pedir variações de cores e tamanhos.

Figura 2: Gráficos de respostas do questionário.

Não foi detectado algo que de fato aponta-se como o motivo pelo qual esta dificuldade surge. Contudo é possível sugerir que a simplicidade da questão interfere diretamente na complexidade da comunicação. Pedir uma variação de tamanho parace ser uma questão mais simples quando precisamos uma tamanho CIMODE 2018 | ISBN: 978-989-54168-0-6

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maior ou menor do que o que esta exposto ou é oferecido. Entretanto, pedir por outra cor do que a de oferta, ou que é a cor de outra peça sem que o atendente considere que o DA quer outro modelo, parece uma tarefa um tanto mais complicada. As dificuldades do DA em ambiente de compra são muitas e podem estar desde os pequenos detalhes à questões mais óbvias. Dentre os elementos de uma loja que poderiam facilitar a comunicação com o cliente DA, 18,4% apontam que os preços poderiam ser maiores em suas etiquetas. Outros 25% apontam que poderiam haver mais informações nas etiquetas como por exemplo tamanhos ou cores disponíveis. Assim como já existem aplicativos que auxiliam na comunicação entre DAs e não DAs, 35% indicam que um aplicativo que auxilie na compra seria um dispositivo facilitador. Sinalizações e melhoria na comunicação interna dos pontos-de-venda, como provadores, caixa, e setorização dos departamentos são apontados por 42,1% dos usuários DA. Produtos separados por categorias são considerados por 67,1%. As informações coletadas mostram de modo objetivo as dificuldades sentidas pelos DA no momento da compra, principalmente de vestuário, e a necessidade da atualização das estratégias de venda usadas pelo comercio varejista. Isto vem a corroborar a necessidade destes atualizarem-se no uso de novas tecnologicas indispensáveis para a inclusão desse público consumidor, que hoje representam, de acordo com censo realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica –IBGE, 5% da população brasileira, totalizando 2,6 milhões de surdos e 7,2 milhões de DA. Uma fatia de mercado nada despresível em termos financeiros e sobretudo pela demanda da inclusão social deste setor da população brasileira.

6. Discussão de Resultados A partir da análise da pesquisa, foi proposto a título de protótipo o uso de algumas tecnologias de varejo já citadas no texto em uma loja de vestuário local. Escolheu-se a marca Uzzar, uma loja de moda feminina, localizada em um bairro nobre da cidade de João Pessoa – PB/BR. A seleção se deu a partir da disponibilidade dos proprietários para o trabalho, bem como o espaço amplo da loja que permite alterações de VM. Através das pesquisas bibliográficas desenvolvidas para este trabalho identificou-se que as ferramentas que mais se adequam ao público e ao perfil da loja estudada são: recepção Interativa, QR Code, Catálogo Virtual. Essas ferramentas foram escolhidas por serem as que mais facilitam o processo de compra sem o auxílio do vendedores, bem como são economicamente viáveis para a relidade da loja Uzzar. Abaixo apresenta-se uma imagem real da loja do projeto sugerido para este trabalho.

Figura 4: Foto atual da loja e melhorias sugeridas

Figura 5 : Detalhes das melhorias sugeridas

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Como forma de refletir sobre o levantamento realizado propõe-se uma aplicação de novas tecnologias para maior acolhimento de todos os clientes, não apenas os surdos e DAs. A proposta sugere que tecnologias como RFID aplicadas a cartões fidelidade sirvam como banco de dados conduzindo o usuário em sua experiência como saudar o cliente no momento de chegada, dar-lhe vantagens ou brindes em novas compras. A aplicação do QR Code nas etiquetas darão mais informações sobre peças, disponibilidade, cores, tamanho e preço, sem que ele precise do auxílio do vendedor. Como forma complementar, o painel interativo trará informações sobre peças e a visualização da mesma em diferentes formas. Lembrando que isso traz modernidade a imagem da loja e benefício para todos os clientes, DA ou não. Ainda propõe-se a divisão das mercadorias por preços e placas indicativas de locais como provador e caixa.

7. Conclusão Esta investigação contribuiu para entender as limitações de compra dos deficientes auditivos. A inclusão social é uma necessidade real que traz benefícios para este grupo especial de consumidores, mas também para as empresas como um todo. Já que estas aumentariam o número de potenciais clientes, além de fortalecer a imagem de marca como sendo loja inclusiva fidelizando um maior público. As tecnologias de varejo aqui sugeridas não foram desenvolvidas em função do cliente DA, mas, são ferramentas financeiramente acessíveis para pequenos comércios, que auxiliariam o ato de compra do público em questão e por fim agregariam valor à outros clientes também. Sendo este trabalho fruto de um projeto de pesquisa, propõe-se futuramente um aprofundamento no tema, na identificação de novos caminhos para facilitar a compra, bem como torná-la mais prazerosa a este grupo. Também se faz necessária a observação de outros grupos como portadores de deficiências motoras, deficiências visuais, entre outros. Propõe-se também um direcionamento acerca de internet das coisas, buscando um melhor entendimento dos recursos disponíveis e melhores estratégias de aplicação no varejo para atenter estes usuários. Como ganho para as pesquisas em visual merchandising temos o olhar do visual merchandising para grupos especiais e especificamente voltado para a inclusão social, até mesmo desenvolvendo e aplicando tecnologias que atendam aos demais grupos de clientes.

Referências Blessa, R. 2005. Merchandising no Ponto-de-Venda, Atlas, São Paulo, SP. Demetresco, S. 2016. Vitrina: Construção de Encenações, Senac, São Paulo, SP. Fundação Oswaldo Cruz (s.d), 2017. Fundação Oswaldo Cruz website, [Online] Disponível em: http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/deficiencia-auditiva.htm [acesso em 23 Abr. 2017] Instituto Itard, 2017, Instituto Itard website, [Online]. Disponível em: http://institutoitard.com.br/o-que-e-deficienciaauditiva-e-surdez/ [acesso em 12 dez. 2017]. Meira, P, Amaro, L. and Almeida C. 2009, “Ouvindo a voz do mercado: o varejo e os clientes portadores de deficiência auditiva. ”, Revista Gestão Organizacional, Vol. 2, No. 1, pp. 77-86. Morgan, T. 2011. Visual Merchandising: vitrines e interiores comerciais, Gustavo Gili, Barcelona, ES. Portal Terra, Portal Terra, 2017. [Online]. Disponível em : http://tecnologia.terra.com.br/hardware-e-software/onupremia-software-brasileiro-que-traduz-mundo-digital-parasurdos,319d27251c21d310VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html. [acesso em: 17 Abr. 2017] Sackrider, F. , Guidé, G. and Hervé, D. 2009. Entrevitrinas: Distribuição e Visual Merchandising na Moda, Senac, São Paulo, SP. Sebrae, 2017, Inteligência setorial, [Online]. Disponível em: http://vipsystems.com.br/imagens/pdf_destaque/BT_Moda_2015_11_NovasTecnologiaVarejo.pdf [acesso em: 13 Nov., 2017]. Trierweiller, A. 2011. “Diagnóstico de satisfação de clientes como ferramenta para fidelização: um estudo de caso em cinema Cult”, Revista de Administração da UNIMEP, Vol. 9, No 1, pp. 06-07. Vinuto, J. 2014, “A Amostragem em Bolsa de Neve na Pesquisa Quantitativa: um debate em aberto.” Temáticas, Vol. 22, pp. 203-220. CIMODE 2018 | ISBN: 978-989-54168-0-6

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