Sao Felipe II

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Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Padeiros Famosos São Felipe II

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a Igreja Ortodoxa, que é a forma assumida pelo cristianismo nos Oriente Médio e Europa Oriental, as paróquias maiores e as igrejas autônomas são governadas por um arcebispo metropolitano. Um dos mais importantes metropolitanos da história da Igreja russa - e que depois se tornou santo foi um padeiro, São Felipe II. 1


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Ele foi um dos poucos metropolitanos a ser opor à autoridade real, motivo pelo qual o czar o mandou matar. Por isso, é venerado como santo e mártir pela Igreja Ortodoxa.

Ícone russo com imagem de Felipe II

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Felipe nasceu em 1507, em uma família nobre na cidade de Galich (atual Kostroma Oblast). Seu nome de batismo era Feodor Stepanovich Kolychev. Não se sabe ao certo como entrou para a vida religiosa. Uma das versões é que ele se envolveu numa conspiração contra grã-princesa Elena Glinskaya, quando ela assumiu a regência da Rússia em 1533. Quando os planos foram descobertos, Feodor fugiu para o mosteiro Solovetsky, no Mar Branco, na então remota costa noroeste russa. A partir desse momento, tornou-se monge. Outra versão dá conta de que, em vez de conspirar contra a czarina, Feodor ouviu um chamado religioso. Isso aconteceu no dia 5 de junho de 1537, quando assistia à missa. Ele ouviu, segundo disse, Jesus sussurrando as palavras “nenhum homem pode servir a dois mestres” - uma passagem do Evangelho de São Mateus (6:24). De acordo com essa versão, Feodor entendeu que era um chamado para servir ao Senhor e abandonou a vida de nobre, fugindo de Moscou disfarçado de camponês. Durante um tempo, Feodor se escondeu do mundo na pequena aldeia de Khizna, perto do lago Onega, ganhando a vida como pastor. Mais tarde, entrou para o mosteiro de Solovetsky. Um ano e meio depois, aos 31 anos, ele fez seus votos monásticos e recebeu o nome de Felipe. No mosteiro, Felipe começou a trabalhar 3


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como padeiro – a acabou se tornando um dos padeiros mais célebres da história. Onze anos depois de sua ordenação, em 1549, Felipe se tornou abade do mosteiro de Solovetsky. Na nova posição, Felipe não cansou de fazer melhorias na sua paróquia. Enquanto esteve como abade construiu duas catedrais, uma olaria, diversos moinhos d’água e celeiros, além de uma rede de canais que ligava um total de 72 lagos. A maioria dessas obras sobrevive até hoje. Felipe trabalhava pessoalmente nas construções e incentivava outros monges a fazer o mesmo. Como resultado, o mosteiro passou por uma revivificação espiritual, tonando-se um centro religioso importante. O czar Ivan, apelidado de “O Terrível”, ficou sabendo dos trabalhos de Felipe e convidou-o a assumir a Sé Metropolitana de Moscou. Felipe aceitou, mas com a condição de que o czar abolisse a oprichinina, a polícia secreta que emprestou seu nome à política de repressão em massa, execuções públicas e confisco de terras dos aristocratas instituída pelo regente em 1565 e que se estendeu por sete anos. Assim, em 25 de junho de 1566, Felipe foi consagrado bispo e entronado como Metropolitano de Moscou e de toda a Rússia. Contudo, dois anos depois, Ivan, o Terrível, voltou a cometer assassinatos usando sua polícia secreta. Estava 4


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claro que não cumpria a promessa feita a Felipe. Em 1568, no domingo 2 de março, durante a Quaresma, o czar foi à catedral para a Liturgia, mas Felipe se recusou a abençoá-lo e o censurou pelos assassinatos que aterrorizavam a população. O incidente azedou ainda mais os ânimos de Ivan, que sofria de paranoia, levando-o a protagonizar o episódio que passou para a História com o nome de Massacre de Novogorod e também selou o destino de Felipe.

Felipe Confrontando o czar (V. Pukirev, 1875)

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A paranoia de Ivan o levara a acreditar numa suposta traição dos dirigentes de Novogorod, os quais teriam desejado se render à Polônia. Assim, Ivan mandou saquear a cidade. A chacina que se seguiu ao saque foi o ato mais cruel perpetrado pela oprichinina. Os homens da cidade foram torturados e mortos e as mulheres e crianças afogadas no rio congelado. Os camponeses que viviam ao redor da cidade foram expulsos de suas casas e muitos pereceram de fome e de frio durante o inverno.

O povo de Novogorod fugindo da Oprichinina (A. Vasnetsof 1911)

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Então, Ivan dirigiu sua fúria ao antigo padeiro, agora Metropolitano de Moscou. Ivan acusou Felipe de feitiçaria e de levar uma vida devassa - o que não tinha nada a ver com a realidade. O Metropolitano foi, então, aprisionado durante a liturgia, na catedral da Dormição, em Moscou, e encarcerado numa cela imunda, acorrentado à parede por correntes presas nos tornozelos, pulsos e pescoço. Felipe ficou provido de alimentação durante vários dias. Depois foi transferido para o mosteiro de Otroch, onde continuou recluso. Em novembro de 1568, Felipe foi deposto por um sínodo manipulado pelo czar. Um ano depois, Ivan mandou seu guardaSkuratov se aproxima de Felipe para matá-lo costas, Malyuta Skuratov dar cabo de Felipe. Skuratov o estrangulou dois dias antes do natal de 1569. Ciente que seu fim se aproximava, três dias antes de receber a visita do carrasco, Felipe pediu para comungar uma última vez.

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Em 1590, mais de duas décadas depois de seu martírio, monges do mosteiro de Solovki pediram permissão ao czar Feodor, filho de Ivan, o Terrível, para transferir o corpo de Felipe para sua igreja. Quando abriram o túmulo, viram que o corpo do antigo padeiro não tinha marcas de decomposição. A partir de então, reportaram os monges, várias aconteceram várias curas na região.

O czar Alexis orando diante das relíquias de Felipe

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Em 1562, o Patriarca Nikon, uma das personagens mais importantes do cristianismo russo, convenceu o czar Alexis a transferir as relíquias (os restos mortais) de Felipe para Moscou. No final daquele mesmo ano, Felipe for proclamado santo da Igreja Ortodoxa Russa. Ele é um dos dois únicos santos padeiros que a História produziu.

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Direito reservados: Sindicato dos Padeiros de São Paulo, 2012 Este artigo pode ser reproduzido para fins educativos; a fonte deve ser citada

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