Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória
Padeiros Famosos Saadi Yacef
A
maioria dos padeiros e confeiteiros famosos se destacou não por terem sido profissionais excepcionais, mas pelo seu envolvimento na vida política de seu tempo e país. É o caso do argelino Saadi Yacef. Esse padeiro foi um dos líderes da Frente Nacional de Libertação da Argélia, durante a guerra da independência. 1
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Nascido em 1928, em Argel, a capital argelina, Yacef vinha de uma família muito pobre, de pais analfabetos. Ainda na adolescência, começou a trabalhar como aprendiz de padeiro. Nessa época, passou a se interessar pelo movimento de libertação que começava a movimentar os argelinos.
Vista atual de Argel, a capital e maior cidade da Argélia
Desde 1830, a Argélia era uma colônia francesa. Contudo, depois da Segunda Guerra Mundial, as colônias na 2
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África e na Ásia passaram a reivindicar sua independência das metrópoles europeias. O mesmo aconteceu com a Argélia. Diferentemente da Índia, que obteve sua independência de forma mais ou menos pacífica, sob a liderança do Mahatma Gandhi, a Argélia teve de se engalfinhar numa guerra encarniçada contra a França uma das grandes potências mundiais.
Soldado francês atirando em civil durante a Guerra da Argélia
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Em 1945, ano em que terminou a Segunda Guerra, Saadi Yacef filiou-se ao Partido do Povo Argelino (PPA) um partido nacionalista, logo colocado na ilegalidade pelas autoridades francesas. A atitude da metrópole de colocar o partido na ilegalidade não abalou os ânimos dos argelinos. O PPA se rearticulou como o Movimento pelo Triunfo das Liberdades Democráticas (MTLD). De 1947 a 1949, Yacef serviu na ala paramilitar do MTLD, a Organização Secreta. As autoridades francesas dissolveram, porém, a Organização Secreta e Yacef foi obrigado a fugir. Entre 1949 e 1952, Yacef morou na França, trabalhando como padeiro.
Saadi Yacef quando detido na Suíça, em 1955
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Em 1954, começou a Guerra da Argélia, ou Guerra da Independência, um conflito sangrento marcado por torturas e brutalidades contra civis. O padeiro Saadi Yacef uniu-se à Frente de Libertação Nacional logo no início do conflito e, dois anos depois, em 1956, já era chefe militar da Zona Autônoma de Argel. Por conta disso, Yacef foi um dos três líderes argelinos na Batalha de Argel e o único deles que sobreviveu. A Batalha de Argel No final de 1956, a Frente de Libertação Nacional (FLN) lançou uma campanha de guerrilha contra as autoridades franco-argelinas. A campanha se estendeu por um ano, com um saldo sangrento. No final da Batalha de Argel, como veio a se chamar essa série de escaramuças, cerca de três mil argelinos e trezentos franceses foram mortos. O uso da tortura era prática comum entre os franceses e gerou retaliações no mesmo sentido por parte dos guerrilheiros da FNL. O conflito começou em Argel, com uma série de ataques relâmpagos de grupos da FLN, seguidos de fugas rápidas, contra a polícia francesa. O governo reagiu e empregou o exército francês contra os guerrilheiros. A violência aumentou tremendamente. O general Jacques Massu, chefe das operações francesas, não hesitou em usar tortura para identificar e prender os líde5
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res da FLN. O emprego desse meio acabou, porém, tendo um efeito negativo, pois angariou simpatia internacional para a causa argelina.
Civis argelinos em fuga durante a guerra
Desde 1956, a independência da Argélia estava sendo debatida na Organização das Nações Unidas. A exemplo da Indochina, antiga possessão da França que promovera e vencera uma guerra de independência entre 1946 e 1954, e a Índia, que se libertou da Grã-Bretanha já em 1947, a independência da Argélia era só uma questão de tempo. Contudo, radicais franco-argelinos organizaram grupos paramilitares. Um desses grupos, 6
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liderados por André Achiary, plantou uma bomba na kasbah (cidade antiga) de Argel. A explosão ceifou 73 vidas. Os terroristas revidaram. Antes, porém, foi preciso deter a multidão. Saadi Yacef escreveu em seu livro A Batalha de Argel que “os moradores da Kasbah se dirigiram enraivecidos para o bairro europeu para vingar seus mortos. Tive muita dificuldade para detê-los, falando de uma sacada, para evitar um banho de sangue. Prometi que a FNL os vingaria”.
Vista da Kasbah de Argel
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A violência aumentou ainda mais. Depois que alguns membros da FNL foram capturados e guilhotinados, um dos líderes argelinos, Larbi Ben M’Hidi, ordenou que todos os franceses e franco-árabes do sexo masculino entre 18 e 54 anos fossem executados. Com os atentados promovidos pelos argelinos, o exército francês revidou com brutalidade. Em 24 de setembro de 1957, Saadi Yacef foi capturado pelos franceses e sentenciado à morte. Contudo, quando o general Charles de Gaulle assumiu o governo francês em 1958, Saadi recebeu o indulto do presidente. No final da guerra da independência, de Gaulle estava convencido de que a guerra era insustentável. Em 1961, o governo Charles de Gaulle fez um plebiscito na França e na Argélia. O resultado das urnas, favorável à independência, levou o presidente a declarar um cessar-fogo. Colonos franceses, sentindo-se traídos pelo governo, tentam um golpe de Estado, mas fracassam. Em 1962, de Gaulle realizou novo plebiscito, na metrópole e na colônia. No segundo deles, 90,8% dos eleitores aprovaram o final da guerra com a colônia e a independência desta. Finalmente, depois de 132 anos, a Argélia era livre novamente.
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Mesmo tendo conquistado seu objetivo - a independência de seu país - Saadi Yacef ainda amargou uma acusação perniciosa. O general francês Paul Aussaresses afirmou que o padeiro recebeu o indulto porque, enquanto estava sob custódia, teria delatado a posição de Ali la Pointe, outro líder argelino. A acusação é, porém, tida por diversos historiadores como altamente suspeita. Hoje, Saadi Yacef é considerado um herói do povo argelino. Ainda ativo, é senador no Conselho da Nação.
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