Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Memória
Ditadores e Ditaduras
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upressão das liberdades, perseguições, censura, abolição dos direitos civis e muitas vezes assassinatos: ao contrário da democracia, as ditaduras centralizam nas mãos de uma
única pessoa, ou de um grupo de pessoas, os poderes executivo, legislativo e judiciário. O resultado é invariavelmente abuso, opres1
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são, retrocesso. Sem ter quem represente legitimamente seus interesses, o povo fica à mercê dos ditadores.
Hitler e Mussolini, dois dos maiores ditadores do século XX
Há aqueles que justificam as ditaduras afirmando que são necessárias para retomar a ordem política ou econômica quando alguma 2
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delas está ameaçada. No entanto, o que invariavelmente acontece é que os ditadores que assumem o poder para controlar o possível caos acabam governando em proveito próprio, ou em benefício daqueles que os apoiam. Além disso, como concentram em si todo o poder, inclusive o de criar e executar leis, acabam cometendo abusos impensáveis. O saldo em vidas ceifadas pelas ditaduras que surgiram ao longo do século passado e deste século é impensável: milhões e milhões de pessoas foram sequestradas, torturadas e assassinadas por não pensarem como os chefes dos governos ditatoriais exigiam que pensassem. O diálogo com o povo acaba. A população tem de obedecer às novas medidas socioeconômicas sem ter direito a discuti-las ou debatê-las. Algumas vezes os cidadãos acabam escravizados. A ditadura é uma involução, um retrocesso aos tempos despóticos dos imperadores asiáticos e romanos, quando sequer se pensava em direitos humanos. Não há caos político ou econômico que justifique uma ditadura. As ditaduras existem desde a Antiguidade. Durante a República de Roma, em tempos de crise ou emergência eram eleitos ditadores com poder absoluto. Entretanto, seus atos não podiam ser arbitrários e deviam de ser justificados perante a lei. Desde o início do século XX, muitas ditaduras têm surgido no mundo todo. Elas ten3
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dem a repetir um padrão. Quase sempre, acontecem em países onde a monarquia – ou outra forma de governo centralizado nas mãos de um governante – é derrubada, como na Alemanha nazista, na Rússia, na China, no Camboja. Ou tendem a ocorrer igualmente em antigas colônias, onde o poder emanava de uma metrópole, ou ainda em lugares onde disputas internas entre grupos étnicos ameaçam romper a união nacional, como em certos países da África, da Ásia e da Arábia. No século XX, a Revolução Bolchevique deu início a um efeito dominó que instalou ditaduras comunistas na China, antes da Segunda Guerra Mundial, e no resto do mundo, depois da derrota dos nazistas e fascistas. Em contrapartida, o temor dos americanos de que regimes comunistas se fixassem na América Latina – especialmente depois que Fidel Castro instalou um regime marxistaleninista em Cuba – , fomentou o aparecimento de ditaduras militares de extrema direita na América do Sul. Os americanos não poderiam se dar ao luxo de perder sua influência numa zona estratégica como essa. Por isso, não só apoiaram os militares no combate dos grupos de esquerda como sustentaram os golpes de Estado que as Forças Armadas realizaram para tomar o poder e até mesmo financiaram suas ações e treinaram seu pessoal. 4
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Fidel Castro no início dos anos 1950
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Alguns autores definem ditadura como o tipo de governo que rege a nação sem o consentimento daqueles que são governados. Quase todas as ditaduras são totalitaristas, isto é, o Estado regulamente praticamente todos os aspectos da vida pública e privada de seus cidadãos. O que é considerado bom para a população é decidido por decreto. Em algumas ditaduras, por exemplo, toda a população urbana foi obrigada a se mudar para o campo, pois o Estado considerava bom que todas as pessoas se tornassem camponeses; em outras, para o bem do desenvolvimento da nação, milhares morreram de fome para que os grãos que os alimentariam fossem exportados e rendessem dividendos na conquista do progresso planejado; outras, ainda, escravizam o povo para explorar recursos naturais e garantir riqueza para a elite governante. Nas ditaduras, o poder é garantido pela força e pela supressão das liberdades individuais. Através da censura a livros, filmes, peças teatrais e notícias e diversas campanhas de desinformação, o Estado ditatorial busca controlar a mente e a opinião pública. Maquiavel dizia que “a tirania é o regime que tem menor duração”. Embora não sejam exatamente a mesma coisa, a tirania e a ditadura têm o mesmo aspecto totalitário. Maquiavel tem razão em muitos casos. Em outros, porém, os ditadores permanecem mais 6
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tempo. Joseph Stalin ficou quase três décadas à testa da União Soviética; o ditador italiano Benito Mussolini, perto de vinte anos. E enquanto alguns ditadores conseguem realmente promover as mudanças necessárias para colocar seus países no rumo do desenvolvimento, como fizeram Stalin e Mao Tse-tung (a um custo de milhões de vida, vale lembrar), a grande maioria, como a junta militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985, termina por afundar socialmente e economicamente as nações que dominaram.
Mao Tse-Tung e Joseph Stalin, quando jovens
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Vários ditadores veem a si mesmos como portadores de uma missão salvadora e redentora de seu povo. Acreditam ser imbuídos de um poder muitas vezes divino que justifica todos os seus atos. Adolf Hitler era um desses. Seus atos estão além da razão – e muito aquém da civilização. Calcula-se que pouco mais da metade da população mundial vive num regime de liberdade democrática. A outra quase metade é submetida aos mandos e desmandos de algum ditador despótico, às vezes lunático, disposto a separar famílias, a torturar covardemente pessoas de quem apenas suspeita e a assassinar quem quer que questione seu poder. Gozar o direito de escolher a literatura que se quer ler, de se assistir ao filme que se tem vontade, de viver na cidade em que se escolhe e tantas outras liberdades simples são direitos apenas de uma a cada duas pessoas do mundo. Conforme escreveu Ernesto Sabato, chefe da Comissão Nacional de Pessoas Desaparecidas (CONADEP), cuja missão foi levantar evidências sobre as trinta mil pessoas desaparecidas sob o regime militar da Argentina: ditadura “nunca mais”!
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