Idi Amin Dada

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Idi Amin Dada

Claudio Blanc


Projeto Mem贸ria Sindicato dos Padeiros de S茫o Paulo

Presidente: Francisco Pereira de Sousa Filho (Chiquinho Pereira) Coordenador: Aparecido Alves Ten贸rio (Cid茫o) Curador: Claudio Blanc www.padeirosspmemoria.com.br


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Idi Amin Dada Qualquer ditador que assumiu o controle de uma nação acaba inexoravelmente fundindo sua biografia à história do país (ou países) que governou. As medidas que toma são imbuídas de convicções e interpretações pessoais que levam invariavelmente à arbitrariedade. Os piores consideram ainda seus desejos e fraquezas nas decisões que afetam todas as pessoas que dependem das regras que eles estabelecem para regular o funcionamento nacional. Um dos ditadores que mais associou seu estilo de governo às próprias excentricidades foi o ugandense Idi Amin Dada (1925? – 2003). Notório pela extravagância e crueldade de seus atos, considerado um dos mais sanguinários dirigentes africanos, foi figura notória dos noticiários da década de 1970 – época em que estabeleceu sua ditadura em Uganda –, que o caricaturizavam. Amin Dada chegou até mesmo a ser tema de escola de samba no carnaval carioca. O Ocidente observava entre assombrado e curioso o exótico ditador, casado com cinco mulheres e pai de cerca de cinquenta 3


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filhos. Vaidoso, mesmo sob o calor escaldante o autoproclamado Conquistador do Império Britânico trajava seu uniforme de marechal de campo, com sua túnica longa, quase na altura dos joelhos, para ter espaço para todas as medalhas que ele concedeu a si mesmo. O ditador africano dedicava sua energia à preservação de sua própria tirania, à destruição de seus inimigos e também daqueles que tinham algo que ele cobiçava, como uma esposa atraente.

Idi Amin Dada assegurou o poder por meio da força.

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Ao contrário dos estrangeiros, os ugandenses guardam uma lembrança mais profunda dessa época sinistra. Sentiram a perversidade de Amin Dada na pele. Estima-se que entre 100 e 500 mil pessoas tenham sido torturadas e mortas durante os oito anos que Amim Dada liderou Uganda. Entre 1971 e 1979, dezenas de milhares de refugiados deixaram do país. A economia ruiu. A recémindependente ex-colônia inglesa perdeu o bonde da História.

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O pesadelo começou em 25 de janeiro de 1971, quando o ex-cozinheiro,ex-pugilista e então chefe do exército, Idi Amin Dada, derrubou o presidente Milton Obote. A partir de então, movido puramente pelas ambições pessoais, o ditador conspirou e agiu contra o futuro de seu país e de seu povo. Para reprimir os opositores, o ditador promoveu uma chacina. Os corpos das vítimas, assassinadas por razões étnicas, políticas, financeiras, ou simplesmente porque o dirigente assim o desejava, eram jogados no rio Nilo. Em certas ocasiões a quantidade de cadáveres chegava a ser enorme. Uma vez, os corpos chegaram a entupir as turbinas da usina hidrelétrica de Owen Falls, em Jinja, impedindo seu funcionamento.

Culto pessoal: Idi Amin, em cédula ugandense.

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Suas relações internacionais foram – para dizer o mínimo – desastrosas. Amin Dada era muçulmano. Por conta disso, no final de março de 1972, Uganda rompeu relações diplomáticas com Israel. Em outro lance arbitrário, ocorrido em agosto de 1972, o presidente vitalício ugandense ordenou a expulsão de 90 mil asiáticos, a maioria comerciantes indianos e paquistaneses, além de vários judeus. A decisão levou a Índia a protestar, mas o ditador simplesmente ignorou o repúdio. Pior: a expulsão dos comerciantes, os quais eram responsáveis por uma fatia da significativa da produção econômica, abalou seriamente a saúde financeira do país.

Idi Amin: sem nenhum preparo, passou de cozinheiro a general.

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Em 1976, apoiando ostensivamente o terrorismo árabe, Amin Dada concedeu asilo a um comando palestino que sequestrou um avião da Air France em 4 de julho daquele ano. Os sequestradores receberam permissão para pousar no aeroporto de Entebe, a 37 quilômetros da capital Campala, onde permaneceram. Os terroristas libertaram todos os reféns, exceto os judeus, num ataque aberto ao Estado de Israel. Numa brilhante manobra militar, que ficou conhecida como Operação Entebe, a força aérea israelense atacou o aeroporto e resgatou as vítimas. O ataque deixa 31 mortos, entre eles 20 ugandenses. Foi uma humilhação pessoal a Amin Dada. Ainda sob a ressaca da Operação Entebe, poucos dias depois, em 28 daquele mesmo julho, Uganda rompeu relações diplomáticas com o Reino Unido.

Armado e perigoso.

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Enquanto isso, líderes ugandenses organizavam a resistência a partir do exílio. Uganda parecia uma panela de pressão, pronta a explodir. E como sempre que um conflito interno está iminente, os dirigentes tendem dirigir a tensão para o exterior, Amin Dada resolveu anexar o território de Kagera, uma província da vizinha Tanzânia. Em 31 de outubro de 1978, forças ugandenses invadiram territórios tanzanianos. Amin Dada estava brincando com fogo. A resposta veio na forma da união entre o exército da Tanzânia e da Frente Nacional de Libertação de Uganda (FNLU), composta de exilados ugandenses. Como resultado, em 11 de abril de 1979, Amin Dada caiu. O ex-ditador tratou então de salvar-se. Primeiro, fugiu para a Líbia, mas teve de buscar um novo refúgio quando o ditador líbio Muammar Gaddafi o expulsou do país. Acabou obtendo asilo em Jeddah, na Arábia Saudita, onde terminou tranquilamente seus dias, em 16 de agosto de 2003, rodeado por grande parte de seus quase 50 filhos, sem nunca ter enfrentado nenhuma ação judicial.

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Sindicato dos Padeiros de São Paulo Direito reservados: Sindicato dos Padeiros de São Paulo, 2014 Este artigo pode ser reproduzido para fins educativos

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