Os EUA e o Golpe Militar

Page 1

Claudio Blanc

Os EUA e o Golpe Militar

Uma seleção comentada de documentos secretos liberados pelo Ato de Liberdade de Informação que comprovam o envolvimento do Departamento de Estado Americano e da CIA no Golpe de 1964


Projeto Cultura e Mem贸ria do Sindicato dos Padeiros de S茫o Paulo

Presidente: Francisco Pereira de Sousa Filho (Chiquinho Pereira) Coordenador: Aparecido Alves Ten贸rio (Cid茫o) Curador: Claudio Blanc

www.padeirosspmemoria.com.br


Sumário Os EUA e o Golpe Militar........................................................................4 Médici e Nixon .......................................................................................39 A Operação Condor..............................................................................94 Sobre o Autor.........................................................................................108


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Os EUA e o Golpe Militar

Em sua análise sobre a ditadura militar brasileira, o professor de Estudos Brasileiros da Temple University, de Filadélfia, EUA, Philip N. Evanson é cirurgicamente preciso. Evanson afirma que os ditadores empossados pelas Forças Armadas promoveram “um aumento significativo de crimes contra os direitos humanos, [foram] socialmente irresponsáveis, contraíram empréstimos excessivos no exterior, promoveram concentração de renda e o aumento da pobreza, implicando no dramático crescimento da criminalidade nos grandes centros urbanos”. Além disso, a ditadura militar repercutiu de forma tremendamente negativa para seus próprios protagonistas. A Revolução de 1964 “enfraqueceu seriamente as instituições militares, as quais perderam prestígio e tiveram o orçamento reduzido”, conclui o professor. No início da década de 1960, o Brasil enfrentava instabilidades econômicas e políticas. Com a justificativa de ordenar o cenário nacional, em 1964, os militares deram um golpe e tomaram o po-

4


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

der. Os membros das Forças Armadas sustentavam que o golpe era legal, pois visava tirar do poder o presidente João “Jango” Goulart, de orientação de esquerda e que, de acordo com os golpistas, estaria comento abusos. No primeiro momento, os militares tinham o apoio da sociedade civil. No entanto, o regime militar imposto em 1964 acabou tomando a terrível feição de ditadura, a qual foi responsável pelo pior período da história brasileira recente. Milhares foram torturados; outros tantos, mortos. A pobreza e a disparidade social aumentaram. No final da ditadura, o país tinha contraído uma dívida externa meteórica, e a inflação galopante era retratada como um dragão enfurecido a destruir a economia. Como resultado, na década de 1980, o Brasil enfrentou uma das piores crises econômicas de sua existência. Uma série de documentos secretos1 foi liberada ao público pelo Ato de Liberdade de Informação por ocasião do 40º aniversário do golpe militar de 1964. Os memorandos, telegramas e memorandos comprovam que, por trás dos militares, apoiando o golpe, estava o Departamento de Estado americano e seu braço ativo, a CIA. Os documentos a seguir revelam passo a passo como esse apoio foi dado. Inicialmente, o embaixador americano no Rio de Janeiro Lincoln Gordon promove uma campanha para o Departamento de Estado apoiar os revolucionários com combustíveis, munições e o 1

Os documentos originais podem ser acessados no site do The National Security Archive, em http://www2.gwu.edu/~nsarchiv/NSAEBB/NSAEBB118

5


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

reforço de uma força-tarefa naval. A campanha de Gordon foi, então, endossada pela CIA, e o apoio americano aos militares foi concedido conforme as requisições iniciais.

Documento 1 Em 27 de março de 1964, o embaixador Lincoln Gordon escreveu o telegrama a seguir aos principais funcionários de segurança nacional do governo dos Estados Unidos. A lista de receptores inclui o diretor da CIA John McCone e os secretários de defesa e de Estado, Robert McNamara e Dean Rusk. No documento, Gordon informa que o presidente Goulart estava trabalhando com o Partido Comunista para “estabelecer poder ditatorial” e conclama os Estados Unidos a apoiar as forças do general Castello Branco. Gordon recomenda “envio clandestino de armas de origem outra que a americana” para Castello Branco, bem como gasolina e combustível para apoiar os militares no golpe e sugere também que a assistência seja implementada pela CIA através de operações secretas. O embaixador propõe que para tanto seja usado um submarino clandestino e, para “demonstrar apoio e força”, aconselha que uma força-tarefa naval seja enviada ao Atlântico Sul para “manobras”. Para garantir forte impacto psicológico, a força-tarefa deveria incluir porta-aviões.

6


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

27 de março de 1964 Pessoal do embaixador Gordon. Favor passar imediatamente ao secretário de Estado Rusk, ao secretário assistente Mann, Ralph Burton, ao secretário de defesa McNamara, ao secretário assistente de defesa McNaughton, ao general Maxwell Taylor, ao diretor da CIA John McCone, ao coronel J.C. King, Desmond Fitzgerald, à Casa Branca para Bundy e Dungan, à zona do canal para o general O’Meara. Outra distribuição somente através de aprovação dos acima mencionados. 1. Desde que voltei ao Rio em 22 de março, tenho analisado a situação brasileira minuciosamente junto a civis e membros das Forças Armadas de destaque aqui (no Rio), convocando também chefes de postos em São Paulo e em Brasília para ajudar e também para fazer contato seletivo com alguns brasileiros bem informados. 2. Minha conclusão é que Goulart está agora definitivamente engajado em estabelecer poder ditatorial, aceitando a colaboração ativa do Partido Comunista do Brasil e de outros revolucionários radicais de esquerda para conquistar esse fim. Se ele tiver sucesso, é mais do que provável que o Brasil venha a ficar intei-

7


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

ramente sob controle dos comunistas, mesmo apesar de que Goulart espera se voltar contra seus aliados comunistas e estabelecer um regime conforme o modelo peronista, o qual, creio, é sua preferência pessoal. 3. As táticas dos guardas do palácio de Goulart estão concentradas em fazer pressão para assegurar que o Congresso aprove reformas constitucionais que não seriam conseguidas por meios normais, usando uma combinação de passeatas urbanas, ameaça de greve, ou mesmo greves reais, violência rural esporádica e abuso de modo pensado do enorme poder financeiro do governo federal. Isso está sendo combinado com uma série de decretos executivos populistas de legalidade dúbia e uma campanha de boatos calculados para assustar elementos da resistência. A capacidade do presidente de enfraquecer a resistência no Estado segurando financiamento federal essencial é especialmente importante nessa conexão. O governo também está submetendo o rádio e a televisão a uma censura parcial, aumentando o uso da agência de noticiais nacional e requisitando horário de transmissão para sua própria propaganda reformista, bem como para fazer sutis ameaças veladas contra a imprensa de oposição. O propósito não é, de fato, assegurar reformas sociais e econômicas

8


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

construtivas, mas desacreditar a constituição existente e o Congresso, abrindo terreno para um golpe de cima para baixo que pode, então, ser ratificado por um plebiscito manipulado e a promulgação de uma nova Constituição por uma assembleia constituinte controlada por ele. 4. Não descarto completamente a hipótese de que Goulart possa desistir dessa campanha e cumprir seu mandato normal (até 31 de janeiro de 1966), com eleições presidenciais apropriadas acontecendo em outubro de 1965. Esse seria o melhor resultado para o Brasil e para os Estados Unidos, se puder acontecer. No entanto, Os compromissos de Goulart com a esquerda revolucionária são tão abrangentes que as chances de se atingir esse resultado pacífico através da normalidade constitucional parecem ser de menos de 50 contra 50. Ele poderá fazer recuos táticos para tranquilizar a oposição novamente, como fez no passado. Há alguns sinais de que isso aconteceu nos últimos dias, como resultado da passeata de oposição feita em 19 de março em São Paulo, a hostilidade declarada dos governadores dos maiores estados e das reclamações e avisos feitos pelas Forças Armadas, especialmente pelo exército. Mas experiências passadas mostram que cada recuo mantém consideráveis terrenos ganhos, e o a-

9


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

vanço seguinte vai além do anterior. Com seu tempo acabando e com os candidatos à sucessão entrando ativamente em campo, Goulart está sob pressão e deve agir rapidamente e calcular menos os riscos. O desgoverno também está acelerando a taxa de inflação a ponto de ameaçar causar um colapso econômico e desordem social. O ILEGÍVEL desesperado para estabelecer um regime totalitário poderá ser feito a qualquer momento. 5. O movimento de Goulart, o qual inclui afiliados comunistas, representa uma pequena minoria – não mais do que 15 a 20% do povo ou do Congresso. Apesar disso, o movimento tem tomado sistematicamente controle de muitos pontos estratégicos, notadamente a Petrobras (a qual sob o decreto de 13 de março está agora assumindo o controle das cinco refinarias de petróleo particulares que ainda não estavam sob seu controle), o Departamento de Correios e Telégrafos, a liderança do sindicato dos comerciantes de petróleo, estradas, portos, a navegação mercante, as recém-formadas associações de trabalhadores rurais e algumas outras indústrias chave, os familiares e associados civis e militares da presidência, importantes unidades dos ministérios da justiça e da educação e elementos de muitas outras agências

10


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

governamentais. Nas Forças Armadas, há diversos oficiais de esquerda, aos quais Goulart deu preferência e nomeou para funções-chave, mas a vasta maioria é legalista e anticomunista e há uma minoria de antigos direitistas que apoiam um golpe. A esquerda buscou enfraquecer as Forças Armadas, através de organizações subversivas de oficiais não comissionados e de pessoal alistado com resultado significativo na Força Aérea e na Marinha. 6. Em 21 de março, conversei com o secretário Rusk para avaliar a força e o espírito das forças de resistência e as circunstâncias que poderiam detonar violência interna e mostra de força. Creio que desde a passeata promovida por Goulart e os sindicalistas em 13 de março houve uma radicalização radical nas atitudes – tanto públicas como políticas. A liderança no apoio visível à constituição e ao Congresso, às reformas feitas constitucionalmente e à rejeição do comunismo veio de um grupo de governadores: Lacerda, da Guanabara, Adhemar de Barros, de São Paulo, Meneghetti, do Rio Grande do Sul, Braga, do Paraná, e (para minha surpresa) Magalhães Pinto, de Minas Gerais. Eles se fortaleceram com a declaração clara do ex-presidente marechal Dutra e com o discurso de aceitação de Kubitschek. A enorme passeata

11


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

pró-democracia de 19 de março em São Paulo, organizada na sua maior parte por grupos de mulheres, forneceu um importante elemento de demonstração popular, que influencia de maneira favorável o Congresso e as Forças Armadas. 7. Há uma interdependência recíproca entre as ações do Congresso e das Forças Armadas. A resistência do Congresso às ações executivas ilegais e às exigência presidenciais sem fundamento de mudança na constituição depende da convicção que seus membros serão apoiados pelos militares no caso de tomarem a iniciativa. A tradição legalista das Forças Armadas é tão forte que eles desejam, se possível, o apoio do Congresso para qualquer ação contra Goulart. A ação do Congresso é, portanto, uma das principais chaves para essa situação. 8. Embora a franca maioria do(s membros do) Congresso não confie nas propostas de Goulart e despreza sua incompetência evidente, o atual consenso dos líderes anti-Goulart no Congresso é de que não conseguiriam, hoje, que a maioria absoluta da Câmara dos Deputados apoiasse o impeachment. Eles também se opõem a mudar o Congresso de Brasília, pois isso tende a prejudicar ainda mais seu já maculado prestígio. Apesar de que irão manter em aberto uma reti-

12


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

rada dramática para São Paulo ou outro lugar como recurso em uma situação de quase guerra civil ou de guerra civil aberta. Eles estão, no momento, colocando seus esforços na aprovação de algumas reformas brandas como forma de conter a campanha anticongresso de Goulart e considerando outras maneiras mais afirmativas de mostrar resistência. Eles não devem votar uma lei de plebiscito, uma delegação de poderes, legalização do partido comunista, do voto para analfabetos e outras mudanças políticas propostas por Goulart. 9. Apesar das dificuldades, o desenvolvimento mais significativo é a cristalização do grupo de resistência militar sob a liderança do general Humberto Castello Branco, chefe do staff do exército. Castello Branco é muito competente, discreto, honesto, além de ser um oficial profundamente respeitado com forte lealdade aos princípios legais e constitucionais e, até recentemente, evitou qualquer abordagem dos conspiradores contrários a Goulart. A ele está associado um grupo de oficiais veteranos bem posicionados que agora está assumindo direção e controle sistemático da ampla, porém pouco organizada, resistência organizada civil e militar em todas as áreas do país.

13


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

10. Castello Branco prefere agir apenas em caso de provocação anticonstitucional óbvia, por exemplo, um movimento goularista para fechar o Congresso ou no sentido de intervir em algum dos estados opositores (Guanabara ou São Paulo seriam os mais prováveis). Ele reconhece, porém, (como eu) que Goulart deve evitar uma provocação tão óbvia, embora continue movendose na direção desse fato ao manipular greves, minando financeiramente os estados e um plebiscito executivo que incluiria votos de analfabetos para reforçar uma tomada de poder do tipo bonapartista ou gaullista. Castelo Branco está, portanto, preparando-se para uma ação causada pela convocação pelos comunistas de uma greve geral, outra rebelião de sargentos, uma convocação de plebiscito contra à qual o Congresso se opõe ou mesmo um maior contraataque do governo contra a liderança democrática militar ou civil. Nesses casos, o apoio político terá de vir em primeira instância de um grupo de governadores estaduais que deverão se declarar como o governo legítimo do Brasil e que receberão, em seguida, endosso do Congresso (se o Congresso ainda estiver funcionando). Também é possível que, sob pressão de forte oposição militar, Goulart renuncie e fuja do país ou lidere um movimento revolucionário “populista”. As possibilidades claramente

14


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

incluem guerra civil, com algumas divisões horizontais e verticais dentro das Forças Armadas, agravada pela ampla posse de armas dos dois lados. 11. Ao contrário dos muitos grupos golpistas anti-Goulart anteriores que nos abordaram durante os dois últimos anos e meio, o movimento de Castello Branco mostra perspectivas de amplo apoio e de liderança competente. Se for para usarmos nossa influência para evitar um grande desastre por aqui – que pode tornar o Brasil a China dos anos 1960 – é a eles (o grupo de Castello Branco) que eu e meus assessores mais experientes acreditamos que devemos apoiar. (Os secretários Rusk e Mann devem notar que Alberto Byington2 está trabalhando com esse grupo) Sustentamos esta opinião mesmo que Castello Branco seja afastado de sua posição no exército. 12. Apesar de sua força entre os oficiais da corporação, o grupo de resistência está preocupado com a adequação das armas e a possível sabotagem de suprimentos. Na próxima semana, seremos informados sobre suas necessidades de armas através de contatos com o general (Ulho2

Alberto Byngton – industrial paulista que apoiou os militares no golpe.

15


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

a) Cintra, o braço-direito de Castello Branco. Esses suprimentos incluem combustível para a marinha, que Byington tem estado procurando, e mais combustível para motores e para aviões. 13. Devido a absoluta incerteza sobre quando ocorrerá um possível incidente-gatilho (o qual pode ocorrer amanhã ou qualquer outro dia), recomendamos (a) que sejam tomadas medidas o mais rapidamente possível para um envio clandestino de armas de origem outra que a americana que deverá estar disponível para os aliados de Castello Branco em São Paulo logo que as necessidades logísticas sejam conhecidas e que os arranjos possam ser efetivados. A nosso ver, a melhor forma de entregar (as armas e o combustível) é através de submarino sem marcações a ser descarregado à noite em locais isolados no estado de São Paulo, ao sul de Santos, provavelmente perto de Iguape ou Gananeia (sic – Cananeia). (b) os materiais entregues devem ser embalados de forma a camuflá-los e também deve ser evitadas identificações do governo dos Estados Unidos. Essas ações devem ser executadas imediatamente. 14. As duas ações acima devem bastar para assegurar a vitória para forças amigas sem revelara participação logística ou militar dos Es-

16


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

tados Unidos, especialmente se politicamente coberta, uma vez que dessa forma permitirá que o reconhecimento do nosso partido é legítimo. Devemos, porém, preparar igualmente sem perda de tempo contra a contingência de intervenção adicional necessária em uma segunda fase e também contra a possibilidade de uma ação de apoio aos comunistas por parte dos soviéticos. Para minimizar as possibilidades de uma guerra civil prolongada e para assegurar o apoio dos indecisos, nossa capacidade de demonstrar rapidamente apoio e força pode ser crucial. Com esse propósito e de acordo com as conversações em Washington de 21 de março, uma possibilidade é o envio de uma força-tarefa naval para realizar manobras no Atlântico Sul, posicionando-a a uma distância de poucos dias de Santos. Suprimentos logísticos devem obedecer aos requerimentos especificados no Plano de Contingência CINC Sul-Brasil (USSCJTFP-BRASIL) revisado aqui em 9 de março. O envio de portaaviões seria muito importante por conta do efeito psicológico. O contingente da marinha poderia realizar tarefas de segurança logística estabelecidas no Plano CINC Sul. Agradecemos orientação o quanto antes sobre este ou outros métodos alternativos que cumpram os objetivos acima descritos.

17


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

15. Reconhecemos o problema de não reconhecer o tempo necessário que essas forças deverão permanecer na área. Com crises quase diárias de intensidade variável acontecendo por aqui e com a violência pronta a se tornar epidêmica através de invasões de terras, embates de grupos comunistas e democráticos rivais pelas ruas, com esforços para promover greves gerais e com o crescimento programado das ações de Goulart visando “realizar reformas básicas” até 24 de agosto (décimo aniversario do suicídio de Vargas) há perigo real de que a guerra civil se inicie a qualquer momento. Apenas um sinal convincente deste último seria o bastante para os extremistas militares e a guarda civil do palácio. O episódio recente dos marinheiros rebeldes demonstra a fragilidade da situação e a possível iminência de confronto. 16. Estamos, enquanto isso, tomando medidas complementares com nossos recursos para fortalecer as forças da resistência. Isso inclui apoio clandestino a manifestações de rua pródemocracia (o próximo grande evento será no dia 2 de abril, no Rio, com outros ainda sendo programados), a difusão discreta de que o governo dos Estados Unidos está profundamente preocupado com os acontecimentos e o encorajamento de sentimento democrático e anticomunis-

18


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

ta no Congresso, nas Forças Armadas, grupos amigáveis de estudantes e sindicalistas, igreja e empresas. Poderemos requisitar modestos fundos suplementares para outros projetos de ações clandestinas em futuro próximo. 17. Também acredito que seria útil, sem entrar em detalhes, uma resposta em entrevista coletiva do secretário de Estado ou do presidente indicando preocupação com informações sobre a deterioração econômica e a inquietude política no Brasil e a importância para o futuro do Hemisfério de que o Brasil, comprometido com suas raízes democráticas e tradições constitucionais, vai continuar seu progresso social e econômico sob a democracia representativa. Recomendamos que isso seja feito nos próximos dias. 18. Essa mensagem não é alarmista ou reação temerosa a um único incidente. Reflete as conclusões conjuntas da equipe da embaixada baseadas em uma longa corrente de ações e informação de inteligência que nos convenceram de que existe um perigo real e presente para a democracia e a liberdade no Brasil, que poderia conduzir esta nação enorme ao campo comunista. Se este fosse um país de menos importância estratégica para os Estados Unidos - tanto dire-

19


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

tamente quanto no impacto que tem na América Latina - poderíamos sugerir um período de acompanhamento esperando que a resistência brasileira, sem ajuda, cuidasse do problema. Nós acreditamos que há uma grande possibilidade de que ela consiga fazer isso, dados os sentimentos básicos e as atitudes da maioria das pessoas e a força da democracia organizada, especialmente na metade Sul do país. O poder de Goulart e da presidência de enfraquecer e abalar a resistência é tão grande, no entanto, que nosso apoio manifesto, tanto moral quanto material e até a um custo substancial, pode ser essencial para manter a coluna da resistência brasileira. Não podemos perder tempo nos preparativos para tal ação. A alternativa de arriscar um Brasil comunista parece inaceitável, causando custos potencialmente muito maiores tanto em dinheiro quanto em vidas.

Documento 2 O telegrama a seguir é parte da campanha do embaixador Lincoln Gordon para envio de armas e combustível para apoiar as “unidades paramilitares que estão trabalhando junto com os grupos democráticos militares”. Nele, Gordon adverte altos funcionários do governo americano, entre os quais o diretor da CIA John McCone, sobre a

20


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

rápida deterioração da estabilidade política no Brasil e reitera a urgência do envio secreto de suprimentos.

29 de março de 1964 Pessoal do embaixador Gordon. Favor passar imediatamente ao secretário de Estado Rusk, ao secretário-assistente Mann, Ralph Burton, secretário de defesa McNaughton, general Maxwell Taylor, ao diretor da CIA John McCone, ao coronel L.C. King, Desmond Fitzgerald, à Casa Branca para Bundy e Dungan e passar para a Zona do Canal para o general O’Meara. Outra distribuição apenas com aprovação dos acima citados. 1. Desde minha mensagem de sexta-feira, a crise da marinha piorou de modo substancial a situação geral e possivelmente diminuiu ainda mais o fator tempo. A substituição do ministro da marinha Silvio Mota por um almirante de esquerda, Paulo Mario Cunha Rodrigues, o qual foi indicado, segundo informação confiável pelos líderes comunistas e pela CGT, a permanência de Aragão como comandante da marinha e a anistia total para os marinheiros rebeldes e fuzileiros são golpes na moral dos oficiais das três armas e estão aparentemente assustan-

21


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

do muitos congressistas. (Esperamos mais informações de Brasília na segunda-feira) O pior componente do episodio é que os movimentos táticos feitos pelo palácio na sexta-feira à tarde foram dirigidos o tempo todo por um grupo composto principalmente por comunistas. O grupo de esquerda agora fala abertamente sobre os novos avanços, que começaram com “uma limpeza no exército”. Forças de resistência, tanto civis como militares, buscando recuperação de um impedimento e consultando sobre o curso de ação futura. 2. Re parágrafo 2 da referência: lista de bens será enviada assim que estiver disponível. Não tive contato direto com os conspiradores militares. Minha opinião definitiva é de que a ARMA deve continuar com os contatos de inteligência pelos quais ele é muito qualificado, mas quaisquer contatos operacionais serão responsabilidade de CENSURADO. 3. Re parágrafo 3 da mensagem de sábado – armas não identificadas disponibilizadas o quanto antes e se possível pré-posicionadas antes de a violência irromper e se multiplicar, dependendo do desenvolvimento de eventos não previstos. (as armas e suprimentos)Poderiam ser usadas por unidades paramilitares traba-

22


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

lhando junto com grupos militares democráticos ou por militares aliados contra militares hostis. O efeito imediato, o qual eu enfatizo, seria o de diminuir a vontade de resistir e facilitar o sucesso inicial. Devido à predileção dos brasileiros de aderir a causas vitoriosas, o sucesso inicial poderia ser chave para atrair as forças indecisas e, portanto, seria crucial para garantir a vitória com um mínimo de violência. O risco posterior de relacionar o golpe a uma operação secreta do governo dos Estados Unidos nos parece pequena em vista dos efeitos positivos, se a operação for conduzida com habilidade, tendo em mente que muitas coisas que não fazemos nos serão atribuídas. 4. Re parágrafo 4 da mensagem de sábado – meu propósito nos parágrafos 14 e 18 da mensagem de sexta-feira era deixar claro que em uma situação de guerra civil nossa capacidade de mostrar força prontamente em resposta ao apelo de um lado politicamente reconhecido como democrático é um fator crucial na determinação da vitória desse lado. Entendo bem que uma decisão grave está implicada nesse compromisso de contingência com a intervenção militar aqui (no Brasil). Mas também devemos pesar seriamente a alternativa possível, a qual eu não estou prevendo, mas que pode ser vista como o

23


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

perigo real de derrotar resistência democrática e de que o Brasil se torne um Estado comunista. Não temos a intenção de que a operação naval seja secreta; manobras feitas às claras no Atlântico Sul poderiam ser uma influência saudável. 5. Re parágrafo 5 da mensagem de sábado – recente relatório de Arma CENSURADO cobre essa área. Continuaremos estudando e relatando regularmente sobre essas questões, especialmente sobre as possibilidades e consequências das iniciativas do grupo de governadores sem prévia cobertura do Congresso. 6. Re parágrafo 6 da mensagem de sábado – não vejo sentido, hoje, de arrastar as negociações da dívida externa ou suprimir ação de empréstimo de auxílio via programa AID, a não ser que precedido por alguma indicação clara da preocupação do governo dos Estados Unidos com o problema básico do regime político brasileiro. Ninguém espera ação com relação à divida em menos de um mês. Em caso de projetos do AID de interesse direto para elementos claramente democráticos, como Cemat, acreditamos que as aprovações e anúncios devem continuar. Iremos avaliar cada caso conforme ele surgir à luz dos efeitos políticos na ocasião. Se posteri-

24


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

ormente atingirmos o ponto de querer suspender a ajuda publicamente, o que seria especialmente dramático se o trigo fosse incluído, precisaríamos de mais tempo em resposta a desenvolvimentos políticos mais óbvios dos que já aconteceram e que provavelmente incluiriam ataques diretos em nossos interesses econômicos. Sobre esse assunto, espero ansiosamente sua orientação em 1 de abril sobre as penalidades ao café. 7. O que se faz necessário agora é um indicação suficientemente clara da preocupação do governo dos Estados Unidos no sentido de assegurar ao grande número de democratas no Brasil que não estamos indiferentes ao perigo de uma revolução comunista por aqui, mas feita em termos que não possam ser rejeitados por Goulart como intervenção indevida. Estou cancelando minha viagem programada para Alagoas e Bahia de segunda a quarta-feira enviando Kubish para me representar. O cancelamento mostrará certa preocupação. Nossos discretos contatos informais com brasileiros simpáticos aos nossos interesses também ajudam. Nada, porém, do que fizermos aqui será nem de perto tão influente quanto uma declaração de alto-nível vinda de Washington. Jornalistas americanos

25


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

cobrindo a crise naval certamente poderiam servir de gancho para tal declaração. 8. Reitero, portanto, a recomendação feita no parágrafo 17 da mensagem de sexta-feira. À luz dos desenvolvimentos descritos no parágrafo 1 desta mensagem, a ação mais urgente traria resultados ótimos.

Documento 3 A CIA teve papel relevante do desenvolvimento da situação no Brasil ao fazer eco à campanha do embaixador Gordon no sentido de obter apoio do Departamento de Estado dos EUA aos golpistas. A estação da CIA no Brasil transmitiu em 30 de março de 1964 o telegrama a seguir relatando fontes de inteligência de Belo Horizonte, as quais informam que a “revolução contra Goulart começará definitivamente esta semana”. A “revolução”, prevista pela CIA, “não se resolverá rapidamente e será sangrenta”.

Agência Central de Inteligência Telegrama de Informação de inteligência País:

Brasil

26


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Data da informação:

30 de março de 1964 Assunto

Plano de conspiradores revolucionários em Minas Gerais 1. Em 30 de março de 1964, CENSURADO fez as seguintes afirmações significativas em Belo Horizonte: A. Uma revolução promovida por forças anti-Goulart começará definitivamente nesta semana, provavelmente nos próximos dias. Negociações de último minuto estão acontecendo neste momento entre os estados sob controle de governadores democráticos. São Paulo e Minas Gerais já chegaram a um acordo. CENSURADO (duas linhas e meia). São Paulo seguirá Minas Gerais se a revolução começar em Minas Gerais B. Depois que a revolução tiver começado, tropas de São Paulo e Minas Gerais marcharão até o Rio de Janeiro para se juntar às tropas que a apoiará naquela cidade. Não se prevê problemas em minas Gerais. Alguns elementos suspeitos nas Forças Armadas serão detidos. O coronel Afrânio Aguiar, comandante da base da Força Aérea em Belo Horizonte tende a favorecer Goulart. A base da Força Aérea

27


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

em Belo Horizonte tem pouco a oferecer em termos de resistência e será tomada pelos revolucionários sem derramamento de sangue. C. No entanto, espera-se problemas em São Paulo, e os estabelecimentos militares terão de ser atacados rapidamente, pois sabe-se que são leais ao presidente Goulart. D. CENSURADO (duas linhas e meia) E. A revolução não se resolverá rapidamente e será sangrenta. No Norte, As lutas poderão continuar por um longo período. A posição da marinha é incerta e pode somar às dificuldades das forças contrárias a Goulart. A Força Aérea está tão dividida que não será um problema nos estágios iniciais. No final, deverá pender para o lado das forças contrárias a Goulart.

Documento 4 O documento a seguir é uma lista de decisões da Casa Banca no sentido de “assistir no momento apropriado as forças contrárias a Goulart” enviado pelo secretário de Estado Dean Rusk ao embaixador Gordon. Entre as medidas de apoio estão o envio de naviostanques carregados com combustíveis de Aruba a Santos, o forne-

28


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

cimento de 110 toneladas de munição e outros equipamentos para os golpistas e o despacho de uma brigada naval, a qual inclui um porta-aviões e vários destróieres e que seria posicionada no litoral brasileiro. Algumas horas depois, outro telegrama (anexo) foi enviado corrigindo o número de navios e as datas em que chegariam à posição determinada.

Ação: Embaixada Americana do Rio de Janeiro 31 de março (1964) 14:29 Para o embaixador Gordon Para sua informação pessoa apenas, as seguintes decisões foram tomadas a fim de que estejamos em posição de prestar assistência no tempo apropriado às forças contrárias a Goulart, se assim for decidido. 1. Despacho de navios-tanques da marinha dos EUA levando petróleo, óleo e lubrificantes de Aruba; primeiro navio-tanque esperado na costa de Santos entre 8 e 13 de abril; a seguir chegarão três tanques em intervalos de um dia. 2. Despacho imediato de força-tarefa naval para exercícios visíveis na costa do

29


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Brasil. A força consistirá de portaaviões (esperado para chegar à área em 10 de abril), quatro destróieres, dois destróieres de escolta, navios-tanque da força-tarefa (todos esperados para chegar quatro dias depois). 3. Embarque de cerca de 110 toneladas de munição e outros equipamentos leves, inclusive gás lacrimogêneo a serem enviados de avião para São Paulo (Campinas). O despacho aéreo para Campinas será feito dentro de 24 a 36 horas após a emissão das ordens finais e envolverão 10 aviões de carga, 6 aviões-tanque e 6 caças. A descarga do petróleo, óleo e lubrificantes dos navios-tanques da marinha dos EUA (item 1) e o despacho aéreo (item 3) irão requerer desenvolvimento político-militar da situação, definindo que grupos têm direito razoável de legitimidade para requerer nosso reconhecimento e ajuda, bem como, se possível, de outras repúblicas americanas. O despacho de naviostanque de Aruba e da força-tarefa naval não nos envolvem imediatamente na situação brasileira e são por nós considerados como exercícios navais normais. FIM

30


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Ação:

Embaixada Americana Rio de Janeiro

31 de março (de 1964) 17:53 Info:

Defesa para McNamara e Taylor CIA para McCone

Telegrama para embaixador Gordon As seguintes correções devem ser feitas no telegrama anterior (Deptel 1301) 1) Parágrafo um, leia-se: “despacho de navios-tanques da marinha dos EUA levando petróleo, óleo e lubrificantes de Aruba; primeiro navio-tanque esperado na costa de Santos em 13 de abril; a seguir chegarão três tanques em intervalos de um dia. 2) Segunda sentença no segundo parágrafo, leia-se: “A força consistirá de portaaviões (esperado para chegar na área em 10 de abril), dos destróieres com mísseis teleguiados, quatro destróieres, navios-tanque da força-tarefa (todos esperados para chegar quatro dias depois). 3) Riscar palavra “gás lacrimogêneo” da primeira sentença do parágrafo 3 e substituir por “agente CS”. 4) A referência a “10 aviões de carga” na segunda sentença do parágrafo três deve

31


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

ser corrigida para “seis aviões de carga”.

Documento 5 Este memorando emitido pelo vice-chefe de Operações do Hemisfério Ocidental, Desmond Fitzgerald, registra a reunião de cúpula feita na Casa Branca entre as principais autoridades de segurança americana e o presidente Lyndon Johnson. Fitzgerald dá conta da informação passada ao presidente e das decisões sobre o que os americanos deveriam fazer conforme o progresso do golpe, inclusive o envio de mais munição. O memorando também documenta a discussão do presidente Lyndon Johnson sobre a questão cubana, na qual o famoso discurso de Che Guevara na ONU é citado com preocupação.

1 de abril de 1964 MEMORANDO PARA O ARQUIVO ASSUNTO: abril de 1964

Reunião na Casa Branca em 1 de

32


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

PRESENTES: O presidente Departamento de Estado: secretário Rusk, sub-secretário Ball, vice-sub-secretário Johnson e sr. Ralph Burton Departamento de Defesa: secretário McNamara, vicesecretário Vance, general Taylor e general O’Meara Staff da Casa Branca: srs. Bundy, Dungan, Moyers e Reedy CIA: o diretor, coronel King e sr. Fitzgerald 1. A reunião começou com um resumo da situação com os mais recentes relatos de inteligência feito pelo coronel King, o qual incluiu itens do telecon da 10 horas entre o Estado e o embaixador Gordon. A situação parece estar mais favorável aos insurgentes do que estava na noite anterior, particularmente em vista das indicações de que o general Kruel está movendo tropas do Segundo Exército para a fronteira de São Paulo. 2. O secretário Rusk disse que o embaixador Gordon não está defendendo o apoio americano agora. Apenas os paulistas requi-

33


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

3.

4. 5.

6.

sitaram tal ajuda e mesmo assim sem definição. O embaixador Gordon, com quem o secretário concorda acredita que seria errado neste estágio dar a Goulart um motivo anti-ianque. O secretário Rusk mencionou um “vazamento” na noite anterior sobre o movimento da força-tarefa naval para a área do Sul do Brasil. (O general Taylor disse que não houve um vazamento de fato, mas sim que parece ser uma dedução dos jornalistas baseada no conhecimento de que acontecera uma reunião especial dos chefes em conjunto) Concordou-se que as perguntas feitas pelos jornais sobre o movimento naval serão tratadas de maneira rotineira e não serão mostradas como um movimento de contingência relacionado ao Brasil. CENSURADO Houve um aparte sobre o Panamá, a respeito da última língua da organização dos Estados Americanos sobre as discussões dos EUA com o governo do Panamá. O presidente opinou que essa linguagem, que parece agradar os panamenhos, não parece diferente daquela que ele usou previamente. Em outro aparte, o presidente perguntou sobre a repercussão que o discurso do se-

34


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

nador Fulbright3 teve no exterior. O sr. Ball comentou sobre sua recente viagem à Europa, durante a qual ele falou com o conselho da OTAN (antes do discurso de Fulbright). Ele disse que os membros da OTAN concordaram que os EUA ainda não afirmaram claramente sua posição com relação a Cuba. O sr. Ball acredita que o discurso de Fulbright pode ter fornecido munição àqueles que não são a favor da nossa política para Cuba. Ele também acrescentou que o discurso de Che Guevara em Genebra foi muito longo e que, portanto, pode ter “posto um ovo”, (isto é, ter provocado reações favoráveis à Cuba). Ele disse que não achava que, no que se refere à negação de ajuda econômica a Cuba, o discurso de Fulbright teve muito efeito na América Latina, pois houve muito poucas mudanças. O presidente perguntou se estamos nos esforçando para explicar a base da nossa atual política a Fulbright. O secretário Rusk respondeu que isso foi e continua sendo feito. O presidente observou que o senador Fulbright está, provavelmente, aproveitando a aureola colo3

James William Fulbright (1905 – 1995), senador pelo Arkansas entre 1945 e 1975 pelo Partido Democrata, apoiou a fundação da Organização das Nações Unidas, mas, segregacionista, se opôs ao Movimento pelos Direitos Civis da década de 1960.

35


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

cada sobre ele pelo New York Times e o Washington Post e irá querer conservar o ornamento. O sr. Ball disse que tinham localizado o calcanhar de Aquiles da posição britânica a respeito da negação (de auxílio econômico) a Cuba. Aparentemente, os créditos governamentais britânicos podem ser dados com duas condições: (1) que crédito tenha pouco risco, e (2) que, apesar de não ter pouco risco, que esse risco seja de interesse nacional. Os britânicos aparentemente admitem que o acordo Leyland Bus4 esteja na segunda categoria. Como consequência, ele crê que podemos ser capazes de interromper futuros créditos dos britânicos a Cuba apoiados pelo governo. CENSURADO (cerca de três linhas) O presidente disse que quer ter certeza de que os britânicos entendem completamente nossa posição a respeito da rejeição de ajuda econômica a Cuba. 7. O secretário McNamara relatou sobre o status da força-tarefa. Zarpou esta manhã e estará nas vizinhanças de Santos por volta de 11 de abril. As armas e munições estão sendo reunidas para despa4

O documento se refere ao acordo apoiado pelo governo britânico entre Fidel Castro e a fábrica ônibus Leyland para produzir ônibus em Cuba poucos anos depois da revolução. O acordo desagradou sobremaneira Washington.

36


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

cho aéreo de New Jersey, e a viagem levará 16 horas a partir do momento da decisão. Quanto aos combustíveis, o primeiro navio-tanque, que partiu da área de Aruba, estará em posição em 10 ou 11 de abril. Há, porém, um navio-tanque norueguês alugado pela Esso no Atlântico Sul carregado com a gasolina para motores e aviões necessária. Esta indo para Buenos Aires e deve chegar lá em 5 ou 6 de abril. CENSURADO (cerca de três linhas) (os senhores Bundy e Dungan, acompanhando a reunião, disseram que se opunham às ordens da marinha à sua forçatarefa que colocaram o movimento claramente dentro do plano de contingência para o Brasil. Eles acham que isto é um risco de segurança desnecessário.)

Documento 6 Neste telegrama, a estação da CIA no Brasil reporta a partida do presidente deposto João Goulart para o Uruguai. Sua fuga marca o sucesso do golpe militar no Brasil.

37


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

AGÊNCIA CENTRAL DE INTELIGÊNCIA Telegrama de Informação de Inteligência País:

Brasil

Data da Informação:

CENSURADO

Data de distribuição: 2 de abril de 1964 Assunto Partida de Goulart de Porto Alegre para Montevidéu Local e data:

CENSURADO

Fonte e parecer:

CENSURADO

1. João Goulart, o presidente deposto do Brasil deixou Porto Alegre cerca de 13:00 h, horário local, e partiu para Montevidéu. Comentário: não há detalhes disponíveis sobre seus companheiros de viagem. 2. O Conselho Geral de Governo aprovou, em 1 de abril, uma resolução para receber Goulart como presidente, a não ser que ele tenha renunciado antes de partir do Brasil FIM DA MENSAGEM

38


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Médici e Nixon

Uma série de documentos liberados ao público pelo Ato de Liberdade de Informação por ocasião do 40º aniversário do golpe militar de 1964 revelam os esforços para impedir a vitória da Frente Amplio, de tendência esquerdista, nas eleições presidenciais uruguais de 1971. Os documentos mostram que Richard Nixon não só conhecia os planos dos militares brasileiro de influenciar o resultado das eleições, mas provavelmente colaborou com o presidente Médici nesse esforço. Há registros de que Nixon disse ao primeiroministro britânico Edward Heath que “o Brasil ajudou a sabotar as eleições uruguaias”. Em dezembro de 1971, o presidente Emílio Garrastazu Médici visitou Washington, onde teve duas reuniões com o presidente Nixon e se reuniu também com o conselheiro do presidente para assuntos de segurança nacional Henry Kissinger e Vernon Walters, que logo se tornaria diretor da CIA, entre outros. Os memorandos que registram os encontros demonstram a participação de Médici

39


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

na manutenção dos interesses americanos. Kissinger enfatiza o apoio de Médici à “Doutrina Nixon” para a América Latina. Sob os militares, o Brasil era um valioso aliado, um poder regional atuando em prol da política dos Estados Unidos. Em um registro gravado, Nixon expressou ao secretário de Estado Rogers seu desejo de que Médici “estivesse governando todo o continente” (sul-americano).

Documento 1 O Departamento de Estado consulta as embaixadas da Argentina e do Brasil sobre as reações desses governos quanto ao favoritismo do partido marxista Frente Amplio nas eleições uruguaias. O documento menciona artigos em jornais americanos que especulam sobre a possibilidade de intervenção militar no Uruguai por parte do Brasil.

Embaixada de Montevidéu e Rio de Janeiro (data ilegível - 20 de agosto de 1971) 1. Sem consulta fora da embaixada, gostaríamos de ter sua estimativa sobre a possível reação do governo quanto a: (a) vitória da Frente Amplio nas eleições presidenciais uruguaias de 28 de novembro; ou (b) mostra de força da Frente

40


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Amplio, porém, sem vencer as eleições; ou (c) avaliação pré-eleitoral indicando força cada vez maior da Frente. 2. Surgiram muitas reportagens na imprensa de Los Angeles especulando sobre possíveis planos dos brasileiros de agir no Uruguai para impedir que a Frente assuma, apelando, inclusive, para o uso de força militar. Outros artigos sugerem ação conjunta do Brasil e Argentina.

Documento 2

Em resposta ao inquérito do Departamento de Estado sobre a intervenção brasileira e argentina nas eleições do Uruguai, a embaixada de Argentina relatou que o Brasil e a Argentina realizaram muitas consultas de inteligência e estão observando de perto a situação uruguaia e menciona um acordo firmado entre os dois países para intervirem em conjunto no Uruguai. O documento também confirma o envolvimento da Argentina no golpe militar na Bolívia, em agosto de 1971.

27 de agosto de 1971 De:

Embaixada de Buenos Aires

41


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Para: Secretário de Estado, Washington D.C. Informar: Embaixadas americanas em Brasília, Rio de Janeiro e Montevidéu Assunto: Situação no Uruguai Sumário – o governo da Argentina está muito preocupado com a situação no Uruguai. Sob as condições presentes, o governo espera evitar intervenção secreta, com ou sem o Brasil, e em vez de privar a Frente Amplio dos frutos de qualquer vitória ao apoiar um golpe de Pacheco Areco ou, em contingências menos drásticas, esforçar-se para fortalecer o governo do Uruguai para que este possa enfrentar a crescente ameaça de subversão advinda dos ganhos eleitorais, ou crescimento do apoio popular para a Frente. 1. O governo da Argentina e, particularmente, os militares estão há muito preocupados com a situação no Uruguai. Tal preocupação com certeza irá aumentar conforme se aproximam as eleições, as quais são ameaçadoras por conta dos ganhos da Frente Amplio. Evidências de ligações entre os terroristas uruguaios e argentinos aumentam essa preocupação, e as autoridades argentinas há muito têm estado alarmada

42


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

com a ineficiência dos uruguaios no combate à subversão. 2. Nos últimos anos, o governo da Argentina, em face à deterioração da situação doméstica no Uruguai, buscou fortalecer a posição do governo uruguaio através de assistência econômica. Reuniões entre os presidentes Pacheco Areco e Ongania5 em março de 1970 e com o presidente Levingston em fevereiro de 1971 resultaram no anuncio de tal ajuda. Além disso, o governo argentino buscou fortalecer as capacidades antissubversivas do governo uruguaio através de treinamento e aconselhamento, como no caso do time de interrogadores despachado para Montevidéu quando o tupamaro Raul Sendic foi capturado. 3. A embaixada acredita que a situação no Uruguai também constituiu uma parte importante dos recentes contatos entre os militares brasileiros e argentinos, inclusive a visita do comandante da Terceira Divisão, o majorgeneral linha-dura Lopez Aufranc, ao Brasil ano passado e a reunião de julho de 1971 do 5

Jorge Pacheco Areco (1920 – 1998) foi presidente do Uruguai entre 1967 a 1972; Juan Carlos Ongania Carballo (1914 – 1925), ditador militar da Argentina entre 1966 e 1970

43


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

staff de inteligência dos dois exércitos. Devido ao papel histórico do Uruguai como Estado-tampão e a consequente preocupação sobre como a intervenção unilateral por qualquer um dos dois países seria vista pelo outro. Há possibilidade de ação conjunta na pior das situações, mas as perspectivas estão, atualmente, diminuindo. Um militar brasileiro informou colegas americanos que na época dos presidentes Ongania e Costa e Silva havia um acordo para intervenção em conjunto. Ele disse que Lopez Aufranc e a maioria dos militares argentinos eram favoráveis a esse tipo de solução, mas que o presidente Lanusse6, por conta de uma guinada para o populismo em suporte aos seus planos do Gran Acuerdo Nacional, agora se opunha a essa solução por causa do seu impacto político doméstico. Também gravitando contra esse tipo de solução está a crescente suspeita por parte do governo da Argentina de que as aspirações brasileiras com relação à hegemonia regional resultantes da sua política internacional assertiva, alta taxa de desenvolvimento e de certos 6

Alejandro Augustin Lanusse Gelly (1918 – 1996), ditador militar da Argentina entre 1971 e 1973

44


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

fatores desarmônicos nas relações bilaterais, como o us das águas da Bacia do Prata, a maneira como a situação do Chile está evoluindo atualmente, apesar de expectativas anteriores entre parte das Forças Armadas argentinas de que o pior iria prevalecer, também pode levar o governo da Argentina a considerar a intervenção secreta como menos necessária. 4. A embaixada acredita, portanto, que no evento das contingências mencionadas acima, o governo da Argentina não tende, nas circunstâncias presentes, a intervir com ou sem o Brasil. Temos informação proveniente de fontes elevadas do governo de que o governo argentino de fato já tomou essa decisão. O resultado da reunião de Lanusse com Allende7 provavelmente fortaleceu, seja ou não justificável, essa decisão do governo da Argentina. 5. No evento de contingência, conforme acima, a embaixada acredita que o governo da Argentina irá trabalhar com o regime de Pacheco Areco para antecipar a chegada ao poder da Frente Amplio através de Pacheco. De acordo com fon7

Salvador Allende (1908 – 1973), presidente socialista do Chile democraticamente eleito e deposto no golpe militar de 1973, comandado por Augusto Pinochet e patrocinado pela CIA.

45


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

tes, esses planos de contingência já estão firmados, com o governo da Argentina oferecendo assistência material e financeira. Os recentes eventos na Bolívia, nos quais o governo da Argentina estava envolvido, pode encorajar membros do governo argentino que buscam esse tipo de solução. 6. No caso das contingências B e C, a embaixada espera que o governo da Argentina faça o que pode fazer no sentido de fortalecer o governo do Uruguai em face da ameaça da Frente Amplio através de assistência financeira, militar e de outros tipos, mas de novo de uma forma calculada para evitar acusações de intervenção secreta. Essa assistência seria, sem dúvida, maior conforme o grau de ameaça atribuído à Frente Amplio.

Documento 3 Neste trecho de um relatório da CIA, a agência enfatiza as declarações de Fidel Castro de que uma aliança apoiada pela CIA entre o Brasil e o Paraguai orquestrou o golpe de agosto de 1971 na Bolívia. O golpe depôs o presidente socialista Juan José Torres e colocou no poder o coronel (depois general) Hugo Banzer Suárez, notório pelas violações aos direitos humanos que perpetrou durante seu governo

46


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

(1971 – 1974). Segundo a CIA, Castro também argumenta que o golpe serviu igualmente para intimidar os eleitores uruguaios de esquerda, os quais escolheriam seu presidente em breve.

REAFIRMAÇÃO DO PAPEL DE CUBA NO CONFRONTO EM ESCALA DE HEMISFÉRIO 25 de agosto de 1971 Acusações de que os golpistas (bolivianos) tinham “reforços do exterior” foram enfocadas pela propaganda cubana. Uma transmissão no dia 19 citou uma reportagem do EL DIARIO de La Paz a qual afirmava que a embaixada americana alertou seus funcionários a um possível golpe “que irá ocorrer a qualquer momento”;a PRENSA LATINA citou novamente o alerta da reportagem no dia 23 e concluiu que “não havia dúvida quanto ao envolvimento dos EUA”. No dia 21, PRENSA LATINA alegou que 8.000 homens treinavam na Argentina, Paraguai e no Brasil estavam apoiando as forças bolivianas pró-regime. A rádio de Havana predisse que no dia seguinte haveria “uma intervenção por parte dos regimes brasileiro e paraguaio apoiados pelos Estados Unidos”; subsequentemente, comentou as aspira-

47


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

ções dos militares brasileiros de se livrar de Torres8, “esquerdista demais”, e de separar o departamento de Santa Cruz, rico em petróleo, do resto da Bolívia, “como primeiro passo da sua absorção pelo Brasil”. O editorial de 2 de agosto do GRAMMA desenvolveu esse comentário e atribuiu o sucesso do “banho de sangue” contra o povo boliviano a uma “tripla aliança contrarrevolucionária”, a qual consiste da reação interna e dos regimes “gorilas” do Brasil e do Paraguai, subservientes dos Estados Unidos. “Planejado pelos imperialistas e executado pela CIA”, disse o Gramma, o golpe foi parte de uma estratégia geral destinada a isolar Cuba, o Chile e o Peru e para “desencorajar os povos que, como no caso do Uruguai, estão ameaçando seriamente a tirar do poder os representantes das oligarquias e os imperialistas”.

Documento 4 No telegrama abaixo, de 9 de novembro de 1971, o embaixador americano no Uruguai relata que o candidato da Frente Amplio à 8

Juan José Torres (1920 – 1976), político e militar de esquerda, foi presidente da Bolívia entre 1970 e 1971. Morreu assassinado em Buenos Aires como parte dos planos da Operação Condor.

48


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

presidência daquele país, Liber Seregni, afirmou que agentes americanos e brasileiros estavam ligados ao ataque sofrido por ele dias antes da declaração.

De:

Embaixada de Montevidéu

Para:

Secretário de Estado, Washington, D.C. – Prioridade 959

Informação para: Embaixadas americanas de Brasília, Rio de Janeiro e Buenos Aires Assunto: Seregni, imprensa pró-frente relaciona os EUA aos ataques aos candidatos da “Frente” 1. Em uma declaração nacional de 10 minutos transmitida pelo rádio e pela TV na noite de 8 de novembro, o candidato da Frente Amplio Liber Seregni relacionou “conselheiros” americanos e brasileiros aos ataques que ele e a caravana de ônibus da Frente Amplio sofreram no final de semana. Em uma nota, ele afirmou o seguinte: começa citando que o autor do assassinato do jovem foi identificado. Mas nesse caso não é suficiente apontar o responsável

49


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

individual. Atrás dele estão os verdadeiros culpados, aqueles que dirigem o ILEGÍVEL, uma organização que não esconde seu caráter de ultradireita. Eles dirigem outros grupos paramilitares fascistas, claramente apoiados por especialistas americanos e brasileiros. Esses são os instrumentos. Os verdadeiros culpados são os representantes de um regime que está abalado e que na sua agonia quer arrastar todo o país consigo. FIM DA CITAÇÃO 2. Também no curso do discurso, Seregni sustentou que os candidatos da Frente foram atacados porque era óbvio que ações anteriores como o empastelamento de jornais, a prisão de trabalhadores filiados ao partido, ataques com bombas a clubes políticos, etc., não foram suficientes para deter a marcha da Frente rumo à vitória. Ele também denunciou a imprensa não esquerdista e os candidatos dos partidos tradicionais por não repudiarem a violência contra a Frente Amplio. Ele promete que continuará a campanha de “Diálogo Pacífico” com o povo. 3. A imprensa favorável à Frente colocou nas manchetes de hoje (9 de novembro) as acusações de Seregni. O El Popular, (jornal) do Partido Comunista, amplificou as acusações com um ar-

50


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

tigo intitulado “Equipe da CIA dirige campanha contra a Frente Amplio”. O artigo vai além do ataque anterior ao pessoal da embaixada, no tabloide vespertino El Eco, e acusa uma equipe especial de agentes da CIA que estão promovendo “guerra psicológica” contra a Frente Amplio. O artigo afirma que Anthony G. Barbieri é um cidadão panamenho ligado à embaixada americana e que tem um escritório no quartel da polícia ao lado daquele dos membros do “Esquadrão da Morte” brasileiro. (O artigo) acusa novamente o diretor Gould como o agente da CIA responsável pela sabotagem de informações e também o adido trabalhista Irwin Rubenstein de ser responsável por atividades antitrabalhistas. O artigo também identifica Jeffrey Cunningham como “agente da CIA”, sustentando que ele é filho de James Cunningham, “ex-diretor de atividades de espionagem da CIA” no Uruguai e que deixou seu “filho” no Uruguai para continuar com o trabalho quando ele voltou a Washington. O artigo também relembrou as alegações da CIA contra ex-funcionários da embaixada Harry Cahill e John Hennessy. 4. Comentário: O ataque de Seregni constitui a primeira vez que ele identificou-se publicamente com acusações diretas sobre intervenção por parte dos Estados Unidos nas eleições. O

51


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

ataque do El Popular é o mais forte e específico à embaixada da imprensa uruguaia nos últimos anos. Esperamos que ataques dessa natureza continuem por todo o período anterior às eleições.

Documento 5 O favoritismo da Frente Amplio nas eleições presidenciais uruguaias de 1971 levou a administração Médici a intervir naquele país. O presidente Richard Nixon admitiu em conversa gravada que “o Brasil ajudou a sabotar as eleições”. A série de documentos a seguir trata da visita de Médici a Washington e revelam a proximidade entra a ditadura brasileira e os americanos, indicando que os militares atuaram em prol dos interesses de Washington na região. O memorando abaixo, enviado para Henry Kissinger, trata da agenda de Médici durante sua visita entre 7 e 9 de dezembro de 1971. Entra os assuntos que serão tratados, estão a “infiltração comunista e a ação subversiva na América Latina” e a questão do Uruguai.

DEPARTAMENTO DE ESTADO WASHINGTON, D.C. 13 de novembro de 1971

52


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

MEMORANDO PARA O SR. HENRY A. KISSINGER CASA BRANCA Assunto: visita do presidente brasileiro – tópicos para discussão com o presidente Nixon Durante sua visita de Estado aos Estados Unidos, o presidente Emilio Garrastazu Médici terá conversas substantivas com o presidente Nixon na Casa Branca em duas ocasiões. A primeira conversa será na terça-feira, 7 de dezembro, imediatamente após as cerimônias de chegada. A segunda reunião será provavelmente em 9 de dezembro. A extensa agenda proposta pelos brasileiros deixa claro a intenção do presidente Médici de discutir uma ampla gama de temas mundiais, os quais não necessariamente têm peso direto sobre nossas relações bilaterais. Isso tem a ver com a consciência cada vez maior do governo brasileiro a respeito do tamanho do Brasil e de sua crescente importância no mundo. Submetemos, abaixo, uma lista de tópicos sugeridos para as conversas para sua aprovação. Essa lista abrange as principais áreas de interesse da agenda dos brasileiros. Uma copia

53


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

da agenda sugerida por eles está anexada. Quaisquer sugestões de mudança serão bem vindas. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8.

9.

Progresso econômico e social do Brasil Relações entre os EUA e o Brasil Nova política econômica dos EUA Temas econômicos – café, têxteis, calçados Políticas assistenciais dos EUA Vendas e créditos militares Águas e pesqueiros territoriais Problemas hemisféricos a. Cuba, Chile e Uruguai b. Aumento da presença soviética e Chinesa c. Terrorismo, infiltração e subversão d. Organização dos Estados Americanos (OEA) A ONU e a situação mundial

Assinatura – Theodore L. Eliot, Jr. Secretário Executivo

54


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Documento 6 Neste memorando, o assistente do presidente para assuntos de segurança nacional Henry Kissinger orienta o presidente Nixon sobre a posição brasileira e americana sobre os temas que serão abordados na reunião com o presidente brasileiro Emílio Garrastazu Médici. O documento revela as considerações dos americanos com relação ao Brasil, o qual julgam ser um importante aliado, indicando que apoiam as aspirações do país por um status de grande potência. Brasília, por sua vez, busca afirmar essa condição através da sua influência sobre a determinação dos eventos políticos da América do Sul, especialmente no sentido de deter o avanço de esquerda no Uruguai. Kissinger aconselha Nixon a adotar um tom amistoso, demonstrando preocupação em bajular Médici, reconhecendo a importância do Brasil como potência e importante aliado. O memorando constitui um raio-x das relações entre Washington e o governo Médici.

CASA BRANCA WASHINGTON MEMORANDO PARA:

O PRESIDENTE

DE:

HENRY A. KISSINGER

55


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

ASSUNTO:

Sua reunião com o presidente do Brasil Emílio Garrastazu Médici na terça-feira, 7 de dezembro de 1971, às 11:00 horas (duração 90 minutos) no Salão Oval e na quinta-feira, 9 de dezembro de 1971, às 10::00 horas (duração de 45 minutos), Salão Oval

I. PROPÓSITO O propósito é reconhecer as aspirações do Brasil por mais status de potência, mostrando que o senhor considera Médici um valioso aliado com quem o senhor gostaria de se consultar antes das suas viagens a Pequim e a Moscou; (que o senhor deseja conhecer) suas impressões dos desenvolvimentos hemisféricos; e estabelecer um sentido de relacionamento especial entre nossos países e uma base para a contínua comunicação e cooperação.

56


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

II. ANTECEDENTES, PARTICIPANTES, PLANOS PARA A IMPRENSA A. Antecedentes O senhor convidou o presidente Médici para uma visita de Estado por causa da importância que o senhor deposita em nossas relações com o Brasil e por causa da sua preocupação com os desenvolvimentos no Hemisfério. Médici analisa essa reunião em relação à série de reuniões que o senhor terá com outros líderes antes de suas viagens a Pequim a Moscou. Ele espera que a discussão enfoque basicamente assuntos internacionais e do hemisfério de interesse mútuo. Ele não espera antecipar ou negociar temas bilaterais nessas reuniões. Médici apoia o conceito da Doutrina Nixon e irá querer discutir o papel do Brasil em nossa estratégia geral. Sua ênfase será no sentido de estabelecer meios para futuras consultas e coordenação. O senhor desejará concordar sobre a importância da consulta nos assuntos globais e, particularmente, do Hemisfério, observando que o Brasil pode assumir um papel especial no Hemisfério na realização de nossos interesses mútuos.

57


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Sugiro que o senhor se concentre nos temas internacionais na primeira reunião e reserve uma breve discussão sobre assuntos bilaterais para sua segunda reunião. Médici irá buscar que o senhor conduza a discussão sobre políticas internacionais (como suas próximas viagens e a nova política econômica), mas o senhor deve procurar obter dele um levantamento sobre os problemas do Hemisfério. O tom a ser estabelecido com relação aos temas bilaterais deverá ser de que a boa vontade fundamental e amizade entre nossos países irá nos permitir encontrar formas de limitar nossas diferenças e evitar que elas venham a interferir com nosso relacionamento de proximidade, o qual é da maior importância política. Na segunda reunião, o senhor também deverá lidar com o desejo de Médici por uma declaração conjunta ou coordenada para dar evidência tangível da utilidade da visita. Tal declaração deverá ser positiva, enfatizando as consultas próximas e cordiais que ocorreram e a intenção de continuar a consulta. Ela deve, porém, evitar ser específica demais quanto à coordenação das abordagens políticas. Tentarei negociar uma declaração com os brasileiros de forma que o senhor e o presidente Médici possam concordar já na segunda reunião.

58


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

B. Participantes O presidente Médici e o senhor estarão sós durante a sessão de fotos para a imprensa. Eu me juntarei aos senhores em seguida. O general Walters9 estará presente para servir de intérprete. O ministro do exterior Gibson Barbosa, o secretário Rogers e outros estarão na Sala do Gabinete durante sua reunião. C. Plano de imprensa 7 de dezembro – haverá uma breve sessão de fotografias no início. Depois disso, a imprensa receberá informações de Ron Ziegler.

9

Vernon Walters, que se tornaria diretor da CIA três meses depois desta reunião com o ditador brasileiro, e o presidente Médici eram conhecidos de longa data. Quando os militares tomaram o poder em 1964, Médici foi nomeado como adido militar em Washington, entre 1964-1965. Em 1967, Médici veio a ser chefe do Serviço Nacional de Informações [SNI], o equivalente brasileiro da CIA. Walters, por sua vez, foi adido militar no Brasil entre 1962 e 1967.

59


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

9 de dezembro – haverá uma breve sessão de fotografias enquanto o senhor se despede de Médici. O sr. Ziegler responderá à imprensa. III. PONTOS DE CONVERSAÇÃO Anexo, na Tabela A, estão detalhados os pontos de conversação que tendem a ser abordados na sua reunião com Médici. Estão organizados da seguinte forma: Pontos Gerais de Conversação, Tópicos Internacionais e a Nova Política Econômica, Assuntos Hemisféricos e Temas Bilaterais. Nós iremos submeter separadamente qualquer material adicional necessário para a sua reunião de despedida com Médici na quintafeira. Também anexo, o livro de informações do Estado que inclui um resumo biográfico, informações básicas e um programa de eventos detalhado. As declarações de boas-vindas e o brinde do jantar de gala que o senhor estará dando em homenagem a Médici na noite de terça-feira também estão sendo encaminhados em separado. Anexo: Pontos de Conversação PONTOS DE CONVERSAÇÃO – TEMAS BILATERAIS

60


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

I. RELAÇÕES ENTRE OS EUA E O BRASIL O presidente Médici pode: - enfatizar a necessidade de maior entendimento político entre nossos dois países com base no reconhecimento pragmático dos nossos interesses complementares e posições políticas semelhantes. O senhor irá querer: - enfatizar que, embora os tempos tenham mudado, não perdemos o espírito de camaradagem desenvolvido quando lutamos ombro a ombro durante a Segunda Guerra Mundial. - enfatizar a importância que o senhor coloca em nossas relações com o Brasil, país que ocupa uma posição particularmente importante na América Latina, e concordar sobre a importância da cooperação entre nossos países em busca dos objetivos comuns. - expressar a crença de que seria útil estabelecer um canal de comunicação especial e direto de presidente a presidente para uso rápido em época de necessidade, observando que o senhor tem essa ligação apenas com bem poucos líderes mundiais.

61


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

- Indicar que, se ele concordar que é vantajoso, ele pode indicar uma pessoal de seu staff pessoal para atuar de ligação e apresentar tal pessoa ao dr. Kissinger. II. ÁGUAS E PESQUEIROS TERRITORIAIS Médici pode abordar nossas diferenças sobre o tema dos pesqueiros (o Brasil reivindica um mar territorial de 200 milhas). Ele não o fizer, o senhor deverá levantar a questão. O senhor irá querer: - dizer que reconhece termos algumas diferenças sobre questões como os mares e pesqueiros territoriais , mas não devemos deixar que problemas como esse perturbem a relação como um todo, a qual é da maior importância. - expressar sua satisfação sobre nossas conversações sobre o tema em outubro, as quais foram úteis, bem como sua esperança de que conferências adicionais sejam feitas para se chegar a um acordo satisfatório pendente sobre uma solução internacional da Lei da Conferência do Mar de 1973. III. TEMAS COMERCIAIS

62


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

A. Acordo Internacional do Café Médici pode expressar sua decepção quanto ao fato de o Congresso americano não ter ratificado o Acordo Internacional do Café. O senhor irá querer: - dizer que pressionou o Congresso para a aprovação do Acordo do Café e lamenta que a ratificação ainda não tenha acontecido; observar, porém, que a Câmara dos Representantes aprovou o acordo e que se espera que o Senado faça o mesmo em breve. B. Vendas e Créditos Militares O senhor irá querer: - dizer que reconhece que por vezes nós não temos sido capazes de corresponder às requisições dos brasileiros de equipamentos militares por causa de restrições do Congresso; observar que o senhor está buscando uma legislação mais flexível e que sua política deve ser tão positiva quanto a lei permite, com relação a todos os pedidos razoáveis. PONTOS DE CONVERSAÇÃO – PROBLEMAS HEMISFÉRICOS I. POLÍTICA DOS EUA PARA A AMÉRICA LATINA

63


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

O senhor irá desejar conduzir a discussão dizendo que: - não fomos capazes de fazer tudo o que gostaríamos com relação à América Latina, principalmente como resultado de nossa situação econômica, mas que o senhor está profundamente interessado na região e que, portanto, valoriza esta oportunidade de trocar ideias com ele. A viagem do conselheiro Finch foi um importante primeiro passo na busca de intensificar nossas relações na região. - o senhor faz bem vindos os comentários dele sobre os desenvolvimentos do hemisfério. TÓPICOS QUE MÉDICI PODE ABORDAR II. SITUAÇÃO NA AMÉRICA LATINA O presidente Médici irá provavelmente - expressar preocupação sobre a guinada de esquerda no hemisfério e dará seu parecer sobre a situação no Uruguai, Argentina, Chile e Bolívia. O senhor irá querer: - dizer que compartilha sua preocupação e enfatizar os benefícios de se manter consultas

64


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

regulares e sistemáticas sobre nossas políticas com relação a esses países. A. Uruguai Médici irá querer: - dar seu parecer sobre a situação no Uruguai depois das recentes eleições nas quais a esquerdista coalizão Frente Ampla perdeu, recebendo 20% dos votos de todo o país. O senhor irá querer: - pedir seu parecer sobre o que pode ser feito para melhorar as coisas no Uruguai. - perguntar o que o Brasil e a Argentina estão fazendo e o que nós podemos fazer para ajudar. B. Bolívia Médici irá provavelmente: - expressar seu apoio ao novo governo e sua esperança de que os EUA e o Brasil possam cooperar em dar assistência a esse país. O senhor irá querer: - dizer que foi estimulado pelos recentes desenvolvimentos e observar que demos ao novo

65


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

governo 22 milhões de dólares em assistência imediata e estamos considerando outros projetos. C. Argentina Médici irá provavelmente: - expressar preocupação sobre as políticas do presidente Lanusse e o temor de que tais políticas estejam fortalecendo a posição do governo marxista do Chile. O senhor irá querer: - perguntar que planos o Brasil tem com relação à Argentina. TÓPICOS O SENHOR PODERÁ DESEJAR ABORDAR D. Chile O senhor irá querer: - observar sobre sua preocupação contínua com relação aos eventos no Chile e pedir seu parecer sobre a evolução do governo Allende e o efeito da recente visita de Fidel Castro. Médici deve

66


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

- dizer que está profundamente preocupado com os eventos do Chile e recomendar que coordenemos (esforços) para isolar o impacto do regime marxista em todos os lugares. O senhor irá querer: - concordar que devemos continuar a coordenar nossas políticas. E. Cuba e a Organização dos Estados Americanos O senhor poderá desejar: - observar a tendência de o Peru vir buscar revisão das sanções da OEA contra Cuba. - observar que nossa política com relação a Cuba permanece a mesma e que acreditamos que os motivos de termos imposto as sanções continuam válidos. - pedir seu parecer da continuação do apoio para a revisão das sanções e pedir seu conselho sobre a melhor forma de lidar com uma mudança favorável à revisão ou aumentar as ações unilaterais dos países para estabelecer relações diplomáticas com Cuba. Médici irá provavelmente:

67


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

- enfatizar a importância de manter as sanções contra Cuba e da coordenação de nossas políticas para tanto. PONTOS DE CONVERSAÇÃO – INTERNACIONAL I. VIAGENS PARA A CHINA E A URSS O senhor deverá conduzir a discussão sobre suas viagens futuras à China e à URSS, bem como fornecer uma avaliação sobre o que o senhor espera alcançar com essas viagens, observando que: - o senhor apreciou particularmente tê-lo encontrado, bem como outros líderes, antes de suas viagens a Pequim e a Moscou. O senhor irá querer: - enfatizar que não espera que essas reuniões resolvam as antigas e profundas diferenças de ideologia entre nós, nem que resultem em qualquer mudança nos compromissos existentes; - dar a ele uma ideia das diferenças entre as duas conferências e seus prováveis resultados, observando que: - estamos trabalhando para resolver uma série de diferenças com Moscou. Já houve bastante

68


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

progresso em muitas áreas (Berlin, as negociações da Conferência sobre Limitação de Armas Estratégicas (SALT)e outras questões sobre limite de armas) para garantir uma reunião no mais alto nível, as quais darão mais impulso no sentido de resolver problemas concretos. - A reunião de Pequim será diferente. Aqui, uma reunião do mais alto nível se faz necessária para superar os anos de ausência de comunicação entre nossos governos e povos e estabelecer uma direção geral para a futura evolução da nossa política. Não esperamos resolver nossas profundas diferenças em apenas uma reunião. II. REUNIÕES COM LÍDERES ALIADOS O senhor também irá querer: - assegurar a Médici que a manutenção e fortalecimento dos laços com nossos amigos tradicionais, como o Brasil, é a pedra fundamental da sua política exterior. - dizer que por esse motivo o senhor está consultando uma série de líderes para explicar nossos objetivos e expectativas com relação a essas viagens e pedir suas opiniões.

69


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

- pedir os comentários e impressões de Médici com relação a essas reuniões, bem como seu parecer sobre a reação do Brasil e da América Latina com relação à perspectiva dessas viagens. Médici poderá dizer: - que ele apoia o conceito da Doutrina Nixon que permeia seus planos e gostaria de coordenar a política do Brasil com a nossa. III. NAÇÕES UNIDAS O senhor irá querer: - uma vez mais expressar gratidão pelo apoio do Brasil na questão do Chipre e observar que ainda é cedo para dizer qual será o efeito que a entrada de Pequim irá ter na ONU. Médici irá provavelmente - expressar a crença de que a ONU deve ser reestruturada para se tornar um órgão mais eficiente e dar maior prioridade aos interesses dos países menos desenvolvidos; - afirmar que os países latino-americanos devem ter um papel mais relevante na comunidade mundial.

70


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

O senhor irá querer: - concordar que um país como o Brasil tem um papel importante para exercer na comunidade mundial. IV. A NOVA POLÍTICA ECONÔMICA O senhor irá querer: - dizer que reconhece a preocupação dos países latino-americanos com relação às nossas novas medidas econômicas e irá querer dar a Médici uma ideia dos fatores que necessitam tais medidas, o progresso na aquisição das nossas metas e seus planos, particularmente com relação à sobretaxa de 10%. - enfatizar que no longo prazo, a melhor política dos EUA destinada a satisfazer as necessidades de largo espectro da América latina é aquela que irá assegurar uma economia americana forte e vigorosa. Médici irá provavelmente: - expressar preocupação sobre as pressões inerentes nas atuais negociações monetárias/comerciais entre os EUA e outros países pode resultar em uma ampla reação protecionis-

71


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

ta, a qual seria muito prejudicial ao Brasil e à América Latina. O senhor poderá querer: - expressar apreciação pela reação comedida do seu governo com relação às nossas políticas e reiterar que medidas como a sobretaxa são temporárias e serão retiradas tão logo quanto possível; - assegurar que o senhor tem sempre em mente os interesses da América Latina e toda vez em que considera os passos políticos a tomar. V. PREFERÊNCIAS GENERALIZADAS Médici poderá: - lamentar que os EUA ainda não implementaram um esquema de preferências generalizadas e perguntar quando o senhor irá submeter uma legislação sobre esse assunto. O senhor deverá: - dizer que esperava submeter uma legislação para nosso esquema de preferências generalizadas este ano, mas o clima do Congresso e a seriedade de nossos problemas econômicos deixaram o clima para a submissão altamente desfa-

72


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

vorável. Temos esperança de que seja possível submeter uma legislação depois de a situação melhorar. VI. LEGISLAÇÃO DE ASSISTÊNCIA ESTRANGEIRA O senhor irá querer: - informar o presidente Médici sobre a situação na nossa legislação de Assistência Estrangeira. - reiterar seu compromisso de cooperar com o esforço de desenvolvimento da América Latina. PONTOS DE CONVERSAÇÃO - GERAL Para iniciar, o senhor poderá querer: - relembrar que o senhor esteve no Brasil e sabe como o país é impressionante. O senhor tem confiança de que o Brasil se tornará uma força cada vez mais importante na cena mundial. - observar que o conselheiro Finch relatou ao senhor sua viagem ao Brasil e comentou particularmente sobre a recepção calorosa que recebeu; a franca troca de opiniões é da maior importância.

73


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

- enfatizar seu compromisso para reforçar o relacionamento especial entre o Brasil e os EUA e estabelecer um relacionamento pessoal direto com o presidente Médici.

Documento 7 Os arquivos presidenciais de Nixon possuem a gravação de uma conversa entre o presidente e o secretário de Estado William Rogers realizada às 18h51min do dia 7 de dezembro de 1971, após a reunião entre Nixon e Médici. No diálogo, os americanos trocam impressões sobre o presidente brasileiro, e Nixon reconhece sua influência na situação uruguaia.

Rogers: (...) É, acho que essa coisa do Médici é uma boa ideia. Tive um ótimo almoço com ele e... Nixon: Ele é ótimo, não é? Rogers: Se é. Meu Deus, fico feliz que ele esteja do nosso lado. Nixon: Forte e, hã, você sabe... (risos)... sabe, gostaria que ele estivesse no comando de todo o continente (sul americano).

74


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Rogers: Eu também. Temos de ajudar a Bolívia. Ele está preocupado com isso. Temos de... Nixon: A propósito, a coisa no Uruguai, aparentemente ele ajudou ali...

Documento 8 O documento seguinte, um memorando de Arnold Nachmanoff, membro do Conselho Nacional de Segurança para Henry Kissinger sobre sua reunião com Médici naquela noite, comenta sobre o encontro entre Nixon e o presidente brasileiro. A conversa se baseou principalmente nas relações com o Brasil e com os militares brasileiros, bem como nos problemas hemisféricos, em particular Cuba, Chile e Uruguai. O memorando também menciona as notas tomadas por Vernon Walters, que em menos de três meses assumiria como diretor da CIA, mas não as cita. Nixon fez questão da presença de Walter nas reuniões não apenas por falar português, mas por conta de seu grande conhecimento do Brasil.

CONSELHO NACIONAL DE SEGURANÇA 7 de dezembro de 1971 SECRETO/APENAS PARA VER

75


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

MEMORANDO PARA:

DR. KISSINGER

DE:

ARNOLD NACHMANOFF

ASSUNTO:

Sua reunião com o presidente brasileiro Médici na quarta-feira 8 de dezembro – 17h15min na Casa Blair

O senhor está escalado para encontrar o presidente Médici na casa Blair para uma conversa informal, na quarta-feira, 8 de dezembro às 17h15min. Eu o acompanharei. Provavelmente, o ministro do exterior Gibson e o embaixador Castro também estarão presentes. Um deles irá, talvez, servir de intérprete. Recebi diversos relatos dos brasileiros afirmando que o presidente Médici está extremamente satisfeito com sua reunião com o presidente. As anotações do general Walters sobre a reunião entre os dois presidentes estão no anexo A10.

10

Ainda não liberado pelo Ato de Liberdade de informação.

76


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

(vou convertê-los em memorandos apropriados). Conforme o senhor irá ver, a discussão enfocou basicamente as relações com o Brasil e o com os militares brasileiros, bem como os problemas hemisféricos. O presidente abordou apenas brevemente os temas globais e não houve, virtualmente, discussões sobre os problemas bilaterais. Durante a reunião desta manhã na Sala do Gabinete, o secretário Rogers forneceu uma minuciosa descrição da situação entre a índia e o Paquistão e as providências que tomamos a respeito do conflito. Ele não se aprofundou no Vietnã e observou o crescente conflito na ONU entre os soviéticos e a China Comunista. Ele também discutiu o novo programa econômico, inferindo que a sobretaxa será aumentada para a América Latina em breve. Depois que o ministro do exterior Gibson observou que o Brasil continuaria a adotar uma linha-dura com relação à Cuba, o Secretário Rogers reafirmou nossa posição contra qualquer mudança nas sanções da OEA contra Cuba. Nosso relatório informativo ao presidente está no Anexo B para seu conhecimento. A seguir, algumas sugestões sobre os Pontos de Conversa-

77


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

ção para sua discussão com o presidente Médici. ************* Seu maior objetivo na reunião com Médici deverá ser: - reconhecer as aspirações do Brasil por um status de potência maior; e - reiterar a importância que colocamos na manutenção e fortalecimento das nossas relações tradicionalmente próximas com o Brasil. Para iniciar, o senhor poderá se referir à sua visita ao Brasil e notar que sabe por experiência própria que o Brasil é um país impressionante. Na sua conversa com Médici, o senhor irá querer se concentrar basicamente na política global. O presidente Médici estará particularmente interessado em ouvir suas impressões sobre suas recentes viagens à China e suas perspectivas pessoas quanto às futuras viagens do presidente à China e à URSS e seu significado à situação mundial. Ele irá querer aprofundar a discutição com o senhor sobre o papel potencial do Brasil em nossa estratégia internacio-

78


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

nal geral, bem como sua posição na comunidade mundial. Médici irá novamente enfatizar a necessidade de se estabelecer meios para futuras consultas e coordenação das políticas dos EUA e do Brasil O senhor irá querer: - concordar que o Brasil pode exercer um papel importante na comunidade mundial; - concordar sobre a necessidade de consultas continuadas sobre temas de interesse mútuo; - enfatizar a necessidade de coordenação em particular sobre os problemas hemisféricos. O senhor também irá desejar observar que o Brasil pode assumir um papel útil no hemisfério apoiando nossos interesses mútuos. - enfatizar que, com relação aos nossos problemas bilaterais, devemos fazer um esforço concentrado no sentindo de não permitir que nossas diferenças (por exemplo, sobre o limite de 200 milhas, problemas comerciais) interfiram com a manutenção do nosso relacionamento próximo, o qual é da maior importância política.

79


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

O senhor também irá querer pedir a Médici que ele aprofunde seus comentários feitos ao presidente sobre a situação hemisférica, particularmente com relação à Cuba, Chile e Uruguai. O senhor deve também observar que tem visto os rascunhos da declaração conjunta à imprensa feitas pelos assessores de Médici e que elas não apresentam quaisquer problemas do nosso ponto de vista. O senhor entende que os dois presidentes irão querer discutir e concordar sobre a declaração na reunião de quinta-feira. (Declaração no Anexo C) Anexos: Tab A – anotações do general Walters – nenhuma cópia feita Tab B – informações para o presidente (Log #35373) Tab C – Rascunho da declaração sobre as conversações (entre os dois presidentes) Tab C Rascunho da declaração sobre as conversações A visita do presidente Médici a Washington é uma excelente oportunidade para conver-

80


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

sações em profundidade entre os chefes de Estados de duas das maiores e mais populosas nações do hemisfério ocidental. As conferências entre o presidente Médici e o presidente Nixon foram conduzidas numa atmosfera de amizade calorosa e os dois concordam que os recentes desenvolvimentos mundiais tornam sua franca troca de impressões extremamente oportuna e mutuamente aproveitável. Suas discussões cobrindo os aspectos amplos da situação internacional foram particularmente significativos e oportunos em face das próximas reuniões do presidente Nixon com outros líderes mundiais. Há uma coincidência de avaliações e percepções em muitos dos temas de significado mundial que afetam os interesses de ambas as nações. Eles revisaram ações tomadas em refletiram no sentido de trazer mais ordem ao sistema monetário internacional para estimular o comercio e desenvolvimento internacionais. Os dois presidentes consultaram um ao outro sobre importantes temas hemisféricos, reconhecendo a necessidade de cooperação contínua e intensa, reconhecendo a necessidade de continuação e intensa cooperação entra as nações da região com respeito ao desenvolvimento

81


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

econômico e social, bem como seus interesses de segurança comuns. Eles concordaram que a meta primária de uma era de paz e prosperidade para a região pode ser alcançada apenas por meio da cooperação, que, por sua vez, pode ser fundamentada nos princípios de liberdade de autodeterminação. Reconhecendo o viés imperativo do progresso social e econômico, eles apreciam inteiramente a necessidade de vigilância contínua por todas as nações contra a subversão e intervenção internacional. Os presidentes revisaram de forma extensa as relações entre os Estados Unidos e o Brasil. As relações bilaterais, abrangendo todas as suas facetas, inclusive os interesses comuns de segurança e problemas políticos, econômicos, militares, científicos e culturais, foram discutidos no espírito dos laços tradicionalmente próximos e amistosos entre os dois países. As reuniões proporcionaram uma excelente base para a cooperação contínua e intensificada entre os dois países a respeito de uma ampla gama de temas, os quais ambos os presidentes consideram de importância fundamental. Os dois presidentes também discutiram o impressionante progresso econômico feito pelo

82


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Brasil sob a liderança do presidente Médici – progresso que marca o Brasil como um dos países que está se desenvolvendo mais rapidamente em todo o mundo. As conversações foram marcadas particularmente pela compreensão mútua dos dois presidentes com relações aos problemas e desafios postos aos dois países. Suas conversas propiciaram não apenas uma oportunidade para rever as relações passadas e presentes, mas também – e ainda mais importante – estabelecer um base firme para consultas contínuas no futuro sobre problemas mundiais, hemisféricos e bilaterais de interesse mútuo.

Documento 9

Neste memorando sobre a reunião entre Henry Kissinger e Médici, na noite de 8 de dezembro, Arnold Nachmanoff relata as relevantes análises de Kissinger sobre a relação entre Brasil e Estados Unidos, o papel global da América Latina, o cenário mundial da época e comentários sobre o futuro de questões ainda hoje pendentes, como a China e Taiwan.

83


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Memorando CONSELHO NACIONAL DE SEGURANÇA 10 de dezembro de 1971 MEMORANDO PARA:

DR. KISSINGER

DE:

ARNOLD NACHMANOFF

ASSUNTO:

Memorando sobre sua reunião com o presidente do Brasil Médici – 8 de dezembro de 1971

Anexo para seus arquivos um memorando sobre a conversa mantida durante sua reunião com o residente Médici em 8 de dezembro. Recomendei que não houvesse disseminação fora do seu escritório. Anexo Tab I – memo MEMORANDO DE REUNIÃO Acontecida em 8 de dezembro de 1971, na Casa Blair, 17h15 min.

84


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

PARTICIPANTES: Emílio Garrastazu Médici, presidente da República Federativa do Brasil, Mário Gibson Barbosa, ministro do exterior do Brasil, João Araújo Castro, embaixador do Brasil para os Estados Unidos, Henry A. Kissinger, assistente do presidente para assuntos de segurança nacional, Vernon Walter, majorgeneral do exército dos EUA (e futuro diretor da CIA), Arnold Nachmanoff, membro do Conselho de Segurança Nacional O presidente Médici expressou sua apreciação pela oportunidade de falar com o dr. Kissinger. O presidente Médici disse que sua viagem aos EUA não teria sido completa se ele não tivesse a oportunidade de se reunir com o dr. Kissinger, de quem ele ouvira falar tanto, e ouvir suas opiniões. O general Walters havia falado a ele sobre o dr. Kissinger. Dr. Kissinger comentou que o general Walters é conhecido como o cônsul geral honorário do Brasil. O presidente Médici respondeu que ele deveria ser considerado “embaixador honorário”, e esperava que algum dia o general Walters pudesse ser o embaixador dos EUA para o Brasil. Dr. Kissinger observou que o presidente (Nixon) havia apreciado demais sua discussão com

85


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

o presidente Médici, em 7 de dezembro, e aguardava ansioso pela continuação da conversa franca na quinta-feira, 9 de dezembro. Dr. Kissinger disse que o presidente sentia que era importante estabelecer consultas e cooperação com o Brasil e gostaria de discutir com o presidente Médici, na quinta-feira, uma proposta para uma comunicação mais direta entre ele e o presidente Médici. O embaixador Araújo Castro observou que o presidente Médici estaria interessado na opinião do dr. Kissinger com relação à China comunista. Ele gostaria de sabe em particular se a admissão da China na ONU teria um forte impacto sobre problemas mundiais e que tipo de papel o dr. Kissinger via para a China nas suas relações com outras superpotências. O embaixador Castro também levantou a questão sobre a participação da China no Comitê de Desarmamento. Dr. Kissinger afirmou que a admissão da China na ONU teria, de fato, um impacto considerável. Ele tem a impressão de que a estratégia na China na ONU seria atacar tanto os Estados Unidos como a União Soviética como superpotências. Ele observou, porém, que essa era a teoria dos chineses, mas que na prática descobri-

86


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

riam que não conseguiriam enfatizar os temas de seu interesse. Ele tinha a impressão de que os chineses estavam descobrindo na ONU que se opunham mais à União Soviética do que aos Estados Unidos, na maioria dos problemas (mundiais). Ele disse ainda que isso estava no contexto do fato de que não temos (os americanos) um milhão de soldados na fronteira chinesa, como têm os soviéticos, e de que o nível de tolerância soviético para posições comunistas dissidentes é baixo. Dr. Kissinger observou, como o embaixador Castro bem sabia, que o embaixador soviético para a ONU tem um baixo ponto de fusão. Ele concluiu observando que há razões objetivas para que os chineses estejam em conflito com os soviéticos, e isso não tem nada a ver com a posição dos Estados Unidos, que, de fato, não estão fazendo nada para estimular esses conflitos. O dr. Kissinger afirmou que tinha a impressão de que os chineses não esperavam entrar na ONU neste ano (1971) e, portanto, não estavam preparados para tanto. Eles se viram tendo que tomar posições sobre temas que não gostaria de se manifestar tão cedo. Ele (Kissinger) não acha, por exemplo, que o clima seja favorável para que eles pressionem pela sua admissão no Comitê de Desarmamento. Se isso evoluísse na-

87


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

turalmente, os EUA não fariam objeção quanto à participação da China. O embaixador Castro expressou um interesse em conhecer a opinião do dr. Kissinger sobre como a América Latina e o Brasil se enquadram no conceito global de política exterior dos Estados Unidos. Dr. Kissinger respondeu que o embaixador era um homem interessado em filosofia e que o embaixador frequentemente o criticava pela ausência de uma abordagem conceitual à política exterior, mas que algumas das suas críticas o acusavam de ser muito dogmático. O presidente Médici interveio, afirmando que as desavenças entre os EUA e o Brasil deviam ser consideradas “brigas de amantes”. Dr. Kissinger concordou que quaisquer diferenças que temos estão “em família” e que nossa relação fundamental é de grande importância. Dr. Kissinger observou que agora temos uma situação nos EUA onde os velhos liberais são os novos isolacionistas. No entanto, o Executivo está determinado a realizar uma abordagem responsável com relação aos problemas mundiais e está comprometido com a manutenção de um papel mundial para os Estados Unidos. O espaço de manobra da administração é, hoje, limitado, mas o dr. Kissinger é da opinião que a situação irá melhorar após a próxima eleição.

88


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Em resposta à pergunta do embaixador Castro, o dr. Kissinger afirmou que um relacionamento maior com a América Latina era fundamental para nosso conceito de política exterior e um relacionamento particularmente próximo com o Brasil também é fundamental. Ele observou que ainda não fomos capazes de fazer tanto com relação à América Latina quanto gostaríamos, por conta de diversos limitadores, por parte do Congresso e burocráticos. Ele sentia que esta é uma época em que os Estados Unidos precisam particularmente do conselho e da cooperação da maior e mais importante nação da América do Sul. Em áreas de preocupação mútua como as situações do Uruguai e da Bolívia, a cooperação próxima e abordagens paralelas podem ser de muita ajuda para nossos objetivos comuns. Ele sentia que isso era importante para os EUA e o Brasil coordenarem, de forma que o Brasil faça algumas coisas e nós façamos outras para o bem comum. O presidente Médici expressou sua concordância com essa abordagem e observou que não era surpresa para ele, uma vez que era totalmente consistente com a discussão que tivera com o presidente Nixon no dia anterior.

89


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Dr. Kissinger comentou que, como o Brasil exerce um forte papel de liderança, ele pode se ver em uma posição semelhante à dos Estados Unidos - respeitado e admirado, mas antipatizado. O ministro do exterior Gibson perguntou ao dr. Kissinger sobre a futura evolução de Taiwan. Dr. Kissinger observou que tinha abordado a questão da política dos EUA com relação a Taiwan em uma coletiva à imprensa poucos dias antes. Dr. Kissinger afirmou que os Estados Unidos manteriam seu compromisso de defesa com Taiwan, observando, porém, que o nível de forças não necessariamente continuaria constante. Não permitiríamos que um velho aliado seja tomado à força. Ele sugeriu que a situação pode se resolver por si mesma em cerca de 15 anos. O presidente Médici expressou uma vez mais sua apreciação pela oportunidade de falar com o dr. Kissinger.

Documento 10 Numa reunião realizada nas Bermudas entre Richard Nixon e o primeiro-ministro britânico Edward Heath para discutir vários temas políticos, o americano menciona a derrocada dos comunistas no

90


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Uruguai e fala sobre Cuba. “Nossa posição é apoiada pelo Brasil, que é, afinal de contas, a chave para o futuro”, diz Nixon sobre o esforço para a interrupção do avanço da esquerda na América latina. “Os brasileiros ajudaram a sabotar a eleição uruguaia”, admite Nixon. O trecho do memorando a seguir documenta as declarações do presidente americano.

CASA BRANCA ALTAMENTE SECRETO/SENSÍVEL/APENAS PARA VER 20 de dezembro de 1971 MEMORANDO PARA O ARQUIVO DO PRESIDENTE DE:

HENRY A. KISSINGER

ASSUNTO:

Reunião privada do presidente com o primeiro-ministro britânico Edward Heath na segundafeira, 20 de dezembro de 1971 das 13h30min à 17:00 na Salão de Visitas da Casa do Governo, Bermudas

PARTICIPANTES:

o presidente, primeiroministro Heath, Henry A. Kissinger, sir Burke Trend, secretário de gabinete

91


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Após uma breve sessão de fotos na sala de cerimônias da Casa do Governo e de um almoço informal de uma hora e meia no Salão de Visitas, o presidente e o primeiro-ministro iniciaram uma discussão privada de três horas e meia. A conversa abriu com o assunto sobre as preferências reversas dadas pela Grã-Bretanha e a comunidade europeia aos países em desenvolvimento. O presidente expressou a opinião de que o lado político da relação entre a Europa e os EUA deve preceder ao lado econômico. Então, ele abordou a saída da Grã-Bretanha do Caribe e falou longamente da provável incapacidade de Nassau de se administrar por si mesma. Os eventos se voltarão para a esquerda, disse ele, se houver um caos após a saída da GrãBretanha. “Precisamos que vocês estejam lá”. Uma forte presença britânica é desejável – “se vocês puderem lidar com isso”. O primeiro-ministro respondeu que a preocupação da Grã-Bretanha era, na verdade, o oposto. “Podemos ficar”, mas devemos justificar isso fazendo uma contribuição na área do progresso econômico”. O presidente observou que as excolônias britânicas estavam muito melhor que as francesas. “Conseguiremos fazer o trabalho se os britânicos saírem?”, perguntou ele (...)

92


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

O primeiro-ministro perguntou sobre a situação de Cuba. “Esse homem, Castro, é um radical”, respondeu o presidente. “Ainda mais radical do que Allende e os peruanos. “Nossa posição é apoiada pelo Brasil, que é, afinal de contas, a chave para o futuro. Os brasileiros ajudaram a sabotar a eleição uruguaia. O Chile é outro caso – a esquerda está com problemas. Há forças trabalhando, as quais não estamos desencorajando. Castro ainda está inclinado a promover a subversão no hemisfério”. O primeiroministro perguntou se havia qualquer sinal por parte de Cuba de se chegar a algum acordo. Nenhum, respondeu o presidente. Castro ainda era extremamente beligerante, concordou dr. Kissinger (...)

93


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

A Operação Condor

Nos anos 1970, durante a era das ditaduras militares no Cone Sul, líderes de esquerda eram sequestrados nos países onde se exilavam e repatriados para serem entregues às autoridades locais – as quais quase sempre os executavam. Em março de 2001, o jornal The New York Times relatava a existência de um documento do Departamento de Estado recentemente liberado para o público o qual revelava que, durante a era das ditaduras militares no Cone Sul, os Estados Unidos haviam coordenado as agências de inteligência de países sul americanos em operações de localização e assassinato de membros da esquerda. O programa secreto tinha o nome de Operação Condor e dele participavam o Uruguai, a Argentina, o Chile, o Paraguai, a Bolívia e o Brasil. Os documentos a seguir, os quais incluem aquele mencionado pelo New York Times, detalham esse programa secreto.

94


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Documento 1 O primeiro documento sobre a Operação Condor citado pelo New York Times, um telegrama de 1978 de Robert E. White, então embaixador dos EUA no Paraguai, ao secretário de Estado Cyrus Vance, foi classificado pela professora Patrice McSherry, da Universidade de Long Island, como “mais uma evidência de peso indicando que militares e agentes da inteligência (leia-se CIA) dos Estados Unidos apoiaram e colaboraram com a (Operação) Condor como parceiro secreto ou patrocinador”. Para o diretor do Projeto de Documentação para o Chile dos Arquivos de Segurança Nacional, Peter Kornbluh, “este documento abre a caixa de Pandora da questão sobre o conhecimento e o papel dos Estados Unidos na Operação Condor”. O embaixador White foi motivado a escrever a mensagem pela preocupação de que a participação dos Estados Unidos na Operação Condor viesse a ser revelada através da recém-iniciada investigação do assassinato do ministro do exterior chileno Orlando Letelier.

20 de outubro de 1978 De: Embaixada de Assunção Para: Secretário de Estado – Washington, D.C. Assunto: segunda reunião com o chefe de staff sobre o caso Letelier

95


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Ref: Assunção 4375 1. Em 11 de outubro, encontrei-me novamente com o chefe do staff, general Alejandro Fretes Davalos. Após as cortesias preliminares, ele leu para mim a ata ou minutas que resultaram da visita a Assunção do chefe da inteligência Chilena, general Orozco. O documento não faz referência direta ao caso Letelier. Fretes disse que o presidente11 o autorizara a me informar sobre a ata, mas preferira lê-la diretamente. 2. O documento é basicamente um acordo para coordenar todos os recursos de inteligência a fim de controlar e eliminar a subversão. Fala da troca de informação, uso imediato de facilidades de comunicação, monitoramento e detenção de elementos subversivos e entrega informal de um país para outro. (O texto) repete diversas vezes a necessidade de cooperação total e atos mutuamente facilitados no contexto da luta até a morte contra a subversão. 3. Em resposta às minhas perguntas, Fretes Davalos deu o seguinte depoimento sobre a reunião entre o Chile e o Paraguai. Era simplesmen11

Alfredo Stroessner, presidente do Paraguai de 1954 a 1989.

96


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

te outra de uma série de reuniões que aconteciam anualmente entre os chefes das (agências) de inteligência dos países do Cone Sul. O sistema de consultas surgiu principalmente como defesa à ameaça da subversão argentina se espalhar para outros países. O Brasil, a Argentina, o Chile, a Bolívia, o Paraguai e o Uruguai constituem a rede, embora hoje o Uruguai esteja praticamente inativo. Fretes Davalos disse que as reuniões não são mais particularmente úteis, na opinião dele, porque a ameaça da Argentina foi eliminada. Ele mantém contato uns com os outros através de instalações de comunicações dos Estados Unidos localizada na zona do Canal do Panamá que cobre toda a América Latina. Essa instalação de comunicação americana é usada principalmente por cadetes para fazer contato com suas famílias ma América Latina, mas também é usada para coordenar informação de inteligência entre os países do Cone Sul.Eles mantêm a confidencialidade da sua informação realizada através da instalação americana no Panamá usando códigos bilaterais. Na opinião dele, a rede é praticamente inútil e serve principalmente para os chefes de inteligência valorizaram sua importância como forma de compensarem a perda de prestígio.

97


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

4. Comentário. Obviamente essa é a Rede Condor, sobre a qual todos ouvimos falar nos últimos anos. Embora Fretes Davalos me dissesse que tinha apenas mencionado ao presidente Stroessner que iríamos conversar sobre a reunião, suspeito que o presidente proibiu Fretes de me dar uma cópia da ata e, em lugar disso, disse-lhe que lesse para mim. Ou eu entendi mal, ou Fretes mencionou que a Argentina também participou (da reunião). Aparentemente, duas reuniões bilaterais entre o Chile e Argentina tiveram lugar uma após a outra. 5. Recomendação: Os dois agentes do FBI aqui dizem-me que há uma possibilidade de que a Operação Condor seja revelada durante o julgamento do caso Letelier nos Estados Unidos. Se o general Fretes Davalos estiver certo ao descrever a comunicação que o programa utiliza como um sistema encriptado dentro da rede de comunicações dos Estados Unidos (e não tenho conhecimento se isso é verdade), parece aconselhável rever esse arranjo para assegurar que ele continua a cumprir ações em favos dos intereses dos EUA.

98


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Documento2 O telegrama a seguir, elaborado pela CIA em 12 de agosto de 1976, aborda o papel do Brasil na Operação Condor, especificamente sobre a questão estender o programa secreto para atuar também na Europa.

Cabeçalho CENSURADO 1. CENSURADO comentário: CENSURADO (cerca de uma linha) embora o Brasil tenha aderido ao acordo original entre Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia e Paraguai para cooperarem na troca de informação sobre terrorismo e subversão, o país ainda não concordou em participar das ações da Operação Condor na Europa e por enquanto irá limitar sua contribuição ao fornecimento de equipamento de comunicações para a CONDORTEL, a rede de comunicação estabelecida pelos países participantes da Operação Condor. CENSURADO (cerca de uma linha) Os países envolvidos na Operação Condor que operariam na Europa são o Chile, a Argentina e o Uruguai. Os países que participam da Operação Condor decidiram suspender seus planos de operar na Europa e manter um treinamento em Buenos Aires para os agentes do Condor que operam na Europa

99


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

até o Brasil decidir se irá participar com os outros (países) das operações na Europa, as quais serão baseadas na França. CENSURADO Comentário: CENSURADO não sabe informar se os outros países participantes da Operação Condor irão proceder sozinhos com essas operações se o Brasil decidir não participar ou se outro país está fazendo representações no Brasil quanto a esse assunto.

Documento 3 No relatório a seguir, elaborado em 22 de agosto de 1978 pela CIA e intitulado “Uma breve olhada na Operação Condor”, a agência dá seu parecer sobre o programa que uniu sob o patrocínio dos Estados Unidos as agências de inteligência dos países do Cone Sul em ações de sequestro e assassinato em todo o continente e na Europa.

ASSUNTO: Uma Breve Olhada na “Operação Condor” 1. A “Operação Condor” é um esforço de cooperação feito pelos serviços de inteligência/segurança de diversos países sulamericanos para combater o terrorismo e a subversão. Os membros originais incluíam serviços do Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai, Brasil

100


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

e Bolívia; o Peru e Equador se tornaram membros recentemente. A CIA teve conhecimento da existência da organização em março de 1976, quando CENSURADO relatou que o coronel Manuel CONTRERAS, então chefe da Diretoria Chilena de Inteligência Nacional, iniciou um programa de cooperação entre os serviços de inteligência do Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia chamado “Plano Condor”. Embora a cooperação entre os respectivos serviços de inteligência/segurança já existisse há algum tempo – talvez desde fevereiro de 1974 – o esforço de cooperação não foi formalizado até maio de 1976, quando uma reunião sobre o Plano Condor teve lugar em Santiago, Chile. O tema básico da reunião foi a cooperação de longo alcance entre os serviços dos países participantes, mas (a conversa) foi bem além da troca de informações. Os membros da Operação Condor receberam designações numéricas, isto é, “Condor Um”, “Condor Dois”, etc. 2. Por volta de julho de 1976, a CIA recebia relatórios informando que a Operação Condor planejava realizar “ação executiva” fora do território dos países membros contra os líderes dos grupos terroristas nativos que estavam residindo no estrangeiro. Tratava-se de membros de grupos que incluíam a Junta de Coorde-

101


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

nação Revolucionária (JCR), a qual compreende o Movimento Revolucionário de Esquerda (MIR) chileno, o Exército Revolucionário Popular (ERP) argentino, os tupamaros uruguaios e outros grupos menos importantes. 3. CENSURADO (dezoito linhas) 4. Durante os dois últimos anos, os representantes da Operação Condor se encontraram periodicamente em um ou outro país membro para coordenar suas atividades, estabeleceram uma rede especial de comunicações e realizaram treinamento de vários tipos, inclusive de guerra psicológica. CENSURADO (cerca de três linhas)

Documento 4 Este memorando de uma reunião entre agentes da CIA e funcionários do Departamento de Estado traz pela primeira vez a alegação de que a Operação Condor não se resume à mera troca de inteligência, mas inclui igualmente “a localização e o assassinato de líderes guerrilheiros” no exílio.

102


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

3 de agosto de 1976 ASSUNTO

Reunião semanal da CIA-ARA – 30 de julho de 1976

PARTICIPANTES:

ARA – Sr. Shlaudeman, sr. Luers, embaixador Ryan; CIA – CENSURADO – INR/DDC – James R. Gardner

CENSURADO apresentou CENSURADO que irá servir como seu substituto. Operação Condor CENSURADO falou sobre o crescimento dessa organização de serviços de segurança dos países do Cone Sul e dos desenvolvimentos perturbadores com relação às suas atitudes operacionais. Concebido originalmente como um sistema de comunicações e um banco de dados para facilitar a defesa contra a Junta de Coordenação Revolucionária, a organização emergiu com uma ação muito mais ativa, a qual inclui especificamente a identificação, localização e assassinato de líderes guerrilheiros. Essa é uma reação compreensível ao crescente alcance extra nacional, extremo e eficiente das atividades da Junta. CENSURADO (restante do documento)

103


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Documento 5 Este telegrama, escrito pelo adido do FBI em Buenos Aires, Robert Scherrer, sumariza a inteligência fornecida por uma “fonte confidencial” sobre a Operação Condor. Aqui, o FBI revela que o Chile era o centro do programa e enviava “equipes especiais” para diversos países. Embora, vários trechos sobre esses times tenham sido censurados, o documento evidencia seu modus operandi. O telegrama também revela que o embaixador chileno para os Estados Unidos, Orlando Letelier, pode ter sido assassinado como parte dos planos da Operação Condor.

30 de setembro de 1976 Buenos Aires Para o diretor – prioridade 204-28 Brasília - prioridade 026-28 Paris - prioridade 204-28 Assuntos Estrangeiros – Argentina – Chile Em 28 de setembro de 1976, uma fonte confidencial no exterior CENSURADO forneceu a seguinte informação:

104


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

“Operação Condor” é o nome código dado ao levantamento, troca e armazenamento de inteligência relativa aos chamados “esquerdistas”, comunistas e marxistas, estabelecido recentemente entre serviços de inteligência sul americanos que cooperam entre si a fim de eliminar as atividades dos terroristas marxistas na área. Além disso, a “Operação Condor” pratica operações conjuntas contra alvos terroristas nos países membros da “Operação Condor”. O Chile é o centro da “Operação Condor” e além do Chile, seus membros são a Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai. O Brasil também concordou em fornecer dados de inteligência para a “Operação Condor”. Os membros da “Operação Condor” que mostraram mais entusiasmo até hoje são a Argentina, o Uruguai e o Chile. Esses três países promoveram operações conjuntas, basicamente na Argentina, contra alvos terroristas. Durante a semana de 20 de setembro de 1976, CENSURADO (duas linhas) com respeito à “Operação Condor”. Uma terceira fase, mais secreta, da “Operação Condor” envolve a formação de equipes especiais dos países membros que viajam a qualquer lugar no mundo, inclusive países que não são membros da operação, para executar assassinatos de terroristas ou de colaboradores de or-

105


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

ganizações terroristas por parte dos países membros da “Operação Condor”. Por exemplo, se um terrorista ou colaborador de uma organização terrorista de um dos países membros da “Operação Condor” for localizado na Europa, uma equipe especial da “Operação Condor” é despachado para localizar e fazer levantamentos sobre o alvo. Quando a operação de vigilância é concluída, uma segunda equipe da “Operação Condor” é despachada para executar a sanção contra o alvo. As equipes especiais recebem documentos falsos dos países membros da “Operação Condor”. As equipes podem ser formadas exclusivamente de indivíduos um país membro da “Operação Condor” ou podem ser composta de um grupo misto de vários países da “Operação Condor”. Os países europeus, mencionados especificamente como possível teatro das ações da terceira fase da “Operação Condor”, são França e Portugal. Uma equipe especial foi organizada CENSURADO (cerca de três linhas), estão sendo observados para futuras possíveis ações na terceira fase da “Operação Condor”. CENSURADO (cerca de três linhas) coordenado localmente.

106


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Deve ser observado que nenhuma informação foi desenvolvida indicando que as sanções da terceira fase da “Operação Condor” tenham sido planejadas para serem executadas nos Estados Unidos. No entanto, é possível que o recente assassinato de Orlando Letelier em Washington, DD.C., tenha sido executado como parte da terceira fase da “Operação Condor”. Conforme observado acima, a informação disponibilizada pela fonte indica que uma ênfase particular foi colocada nas ações da terceira fase da “Operação Condor” na Europa, especificamente na França e em Portugal. Este escritório continuará alerta para qualquer informação que indique que o assassinato de Letelier pode ter sido executado como uma ação da “Operação Condor”.

107


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Sobre o Autor

Claudio Blanc é escritor, tradutor e editor, autor de cerca de 600 artigos sobre História, Ciência, Literatura e Filosofia, publicados em revistas como Discovery Magazine, Filosofia Ciência & Vida, Revista do Explorador e Grandes Líderes da História. É autor, entre outros, dos livros Aquecimento Global e Crise Ambiental, Uma Breve História do Sexo, O Lado Negro da CIA e O Homem de Darwin. Entre seus livros infanto-juvenis estão Histórias Sopradas no Tempo e De lenda em Lenda se Cruza Fronteiras, indicado como Altamente Recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil. Claudio Blanc também assina, até o momento da publicação deste, a tradução de 40 obras nos mesmos campos de conhecimento sobre os quais escreve, entre elas os best-sellers Fumaça e Espelhos, de Neil Gaiman, e O Relatório da CIA – como será o mundo em 2020?

108


Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

Sindicato dos Padeiros de São Paulo

Direito reservados: Sindicato dos Padeiros de São Paulo, 2014 Este texto pode ser reproduzido para fins educativos; a fonte deve ser citada Projeto Memória: www.padeirosspmemoria.com.br

109


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.