POR UM
PAÍS MAIS
CONECTADO Conheça cinco empresas emergentes cujos negócios estão ajudando a melhorar a qualidade de serviços como internet, celular, telefone e TV BRUNO VIEIRA FEIJÓ
ESPECIAL Telecomunicações
C
elular que não funciona direito, mesmo dentro da cidade. Sinal de
O papel dos empreendedores para mudar esse cenário e promover a inclusão digital tem sido determinante. É o que mostra esta reportagem, a quarta da série Sou Empreendedor — Meu Sonho Move o Brasil, sobre como pequenos e médios negócios são necessários para melhorar o Brasil. Os cinco empreendedores que aparecem nas próximas páginas estão à frente de cinco pequenos e médios negócios que estão crescendo ao fornecer soluções capazes de diminuir os grandes gargalos das telecomunicações. A fluminense Gigalink levou internet de banda larga para a periferia de municípios do Rio de Janeiro, onde as grandes operadoras não tinham interesse em atuar. A Neger Telecom, de Campinas, no interior paulista, criou um aparelhinho que consegue ampliar o sinal de celular em áreas rurais e regiões afastadas, onde a co-
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municação só se dava por satélite. A Linktel, de Barueri, em São Paulo, oferece internet sem fio gratuita para a população de cidades onde, muitas vezes, não havia antes nenhuma tecnologia de acesso. De Palhoça, em Santa Catarina, a fabricante de software e hardware Cianet está capacitando pequenos provedores de acesso para que eles se transformem em verdadeiras operadoras e possam oferecer a seus clientes combos de internet, telefone e TV, tal qual as grandes companhias do setor. Em Campinas, a paulista Ícaro Technologies se especializou em fazer diagnósticos de qualidade de redes de telecomunicações. Seu trabalho permite às operadoras monitorar em tempo real eventuais falhas e resolvê-las — ajudando, por exemplo, a restabelecer o sinal de internet, TV e telefone quanto antes. Veja suas histórias.
MICHEL TEO SIN
TV que falha após uma chuvinha. O acesso à internet é problemático — um estudo das universidades europeias Oxford e Oviedo coloca o Brasil na 38a posição em qualidade de banda larga numa lista de 42 países. Segundo a pesquisa, a velocidade, o preço e a estabilidade de acesso da internet brasileira estão em piores condições do que em países como Peru e Argentina. Um dos principais motivos do atraso é bom — muito mais gente tem acesso a serviços de telecomunicações do que antigamente. Hoje, por exemplo, há mais de um celular por brasileiro. O aumento da demanda revelou deficiências na infraestrutura. Elas atrapalham a vida das empresas e de cidadãos excluídos das vantagens de uma sociedade mais conectada.
Modernizar a infraestrutura é muito mais do que aumentar a capacidade dos cabos
JOÃO FRANCISCO DOS SANTOS Cianet
— Palhoça (SC)
Hardware e software para construção de redes
O problema A maioria dos provedores de internet no país usa equipamentos defasados, como o rádio
O que faz Fornece infraestrutura e treinamento para que os provedores se transformem em operadoras de telecom
Clientes Pequenos e médios provedores de internet
faturamento
de reais 21 milhões
(1)
1. Em 2012
ESPECIAL Telecomunicações
A conexão por Wi-Fi é uma boa opção para descongestionar as redes 3G de celular
Jonas Trunk Linktel
— Barueri (SP)
Conexão de internet sem fio
O problema Em 40% dos municípios brasileiros não há nenhuma operadora que ofereça conexão 3G
O que faz Fecha contratos com órgãos do governo para ofertar Wi-Fi gratuito à população
Clientes Prefeituras, empresas e usuário final
faturamento
de reais 17 milhões
(1)
1. Em 2012
A ÚLTIMA FRONTEIRA DO CELULAR
Daniela Toviansky
P
elo menos três vezes por ano, um grupo de médicos, enfermeiros e outros profissionais sai de Campinas, de São Paulo e do Rio de Janeiro para levar atendimento médico gratuito a tribos indígenas da Amazônia. Eles são integrantes da Expedicionários da Saúde, ONG que levanta barracas nas comunidades ribeirinhas e as transforma por dez dias num pequeno hospital móvel. O movimento é grande — só para tratamento de catarata são feitas 20 cirurgias por dia. Nesses locais com infraestrutura precária, os celulares são o meio de comunicação mais prático para a equipe da expedição. “Além de falar com a família, frequentemente precisamos solicitar ajuda para cirurgias mais complicadas, além de comida, remédios e combustível para alimentar o gerador de energia”, diz Ryan Ferreira, de 39 anos, engenheiro responsável pela tecnologia das expedições. Até três anos atrás, o custo das ligações saía muito caro para a ONG — cerca de 3 reais por minuto. É que boa parte das tribos visitadas fica em áreas isoladas em meio à floresta tropical, onde o celular normalmente não funciona. A única transmissão disponível era por satélite. Agora, sempre que a cidade mais próxima com antena para celular fica a uma distância de até 30 quilômetros, a expedição dispõe de uma alternativa bem mais barata. Tratase de um kit fabricado pela Neger Telecom, de Campinas, no interior de São Paulo, composto de uma antena compacta e um amplificador de sinal. O aparelhinho capta o sinal de celular da torre mais próxima e o irradia para o entorno. “Até 20 pessoas podem, simultaneamente, acessar a internet e fazer ligações com seus próprios aparelhos”, diz Eduardo Neger, de 39 anos, dono da empresa. A engenhoca foi desenvolvida há quatro anos com base na experiência de Neger em instalar torres e grandes antenas em fazendas e indústrias afastadas da cidade, como mineradoras e siderúrgicas. “Percebi que o uso da tecnologia poderia ser popularizado se conseguíssemos criar um kit que pudesse ser despachado pelos Correios e instalado facil-
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mente por qualquer eletricista”, diz Neger. Investimentos em pesquisas e na linha de produção permitiram vencer o desafio. Hoje, os kits de amplificação de sinais telefônicos são vendidos para pronta entrega por cerca de 2 000 reais e ajudaram a empresa a faturar 4,5 milhões de reais em 2012. Na última década, os celulares vêm se transformando no meio mais rápido e barato de ter acesso à informação. Isso explica, em grande parte, por que mesmo as populações mais pobres do planeta não prescindem do uso do aparelho — tanto para fazer ligações quanto para acessar a internet. No Brasil, são 262 milhões de linhas ativadas — 1,33 por habitante. No entanto, a falta ou a má qualidade do sinal ainda são recorrentes. O maior vilão é a falta de antenas e torres de transmissão. “O território brasileiro é 25 vezes maior do que a Itália, mas
O Brasil tem 262 milhões de linhas de celular ativadas — mais de uma por habitante. O problema é a qualidade do sinal e a cobertura de acesso com o mesmo número de antenas”, diz Eduardo Grizendi, professor do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), faculdade em Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais. As operadoras culpam a burocracia. Estima-se que existam no país mais de 200 leis estaduais e municipais que regulam a instalação de antenas e redes, o que pode estender os prazos de emissão de licenças em mais de um ano. A tecnologia desenvolvida pela Neger tem uma série de aplicações. Pode ser usada num posto isolado, como uma fazenda, um hotel ou um barco, ou num local onde existam alguns tipos de barreira física que fazem cair as ligações, como elevadores e garagens. “Meu desejo é desenvolver um aparelhinho que basta ser colocado na janela de casa para fazer chegar o sinal de celular a qualquer cidadão que enfrente esse problema”, afirma Neger.
Sou empreendedor. Meu sonho também move o Brasil
Raul Campos Barros Lopes, São Paulo, SP — Fábrica de Palavras — Assessoria de comunicação
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SOUEM preen dedor Meu sonho move o Brasil
Junho 2013 | Exame pme | 91
ESPECIAL Telecomunicações
D
aqui a dois meses, o estudante Antônio Ribeiro Silva, de 28 anos, de Rio das Ostras, no litoral fluminense, terá em mãos seu desejado diploma de administração. Foi a quarta tentativa de Silva de se formar — ele já havia começado três cursos presenciais antes de se matricular numa graduação a distância. Para subir na carreira de um grande banco, algumas vezes ele aceitou ser transferido de cidade, interrompendo os estudos. “Ajudei nas despesas de casa desde muito cedo e não podia me dar ao luxo de recusar uma mudança no trabalho”, diz Silva. No início do curso
Em média, a cada 10% mais de uso da internet rápida pela população de um país o PIB aumenta 1,4%, de acordo com estudos da ONU online, assistir às aulas era um sacrifício. “Os vídeos travavam a todo momento.” Há dois anos, ele trocou sua internet via rádio, tecnologia já defasada, por uma conexão de banda larga seis vezes mais veloz. “De lá para cá, passei em quatro provas de certificação do banco e fui promovido”, afirma Silva. A contratação da banda larga só foi possível com a chegada do provedor de internet Gigalink a Rio das Ostras. Até então, a população tinha de se contentar com a conexão via rádio. Cobrando mensalidades em torno de 40 reais — cerca de metade do preço dos grandes provedores —, a Gigalink faturou 10 milhões de reais no ano passado atendendo bairros da periferia de cidades do interior do Rio de Janeiro. “Nosso
SOUEM preen dedor Meu sonho move o Brasil
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A CIDADANIA CHEGA PELO AR
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esde janeiro deste ano, os moradores da cidade de Araçariguama, no interior de São Paulo, podem acessar a internet de banda larga gratuita por meio de uma rede sem fio contratada pela prefeitura. A exigência para obter login e senha é que o pagamento do IPTU
Sou empreendedor. Meu sonho também move o Brasil
WELLINGTON Santos SILVA, Poços de Caldas, MG — Excelência Consultoria e Treinamentos — Consultoria de gestão
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92 | Exame pme | Junho 2013
Daniela Toviansky
MEGABITS QUE GERAM AVANÇOS
mercado está em lugares onde as grandes operadoras não têm interesse em atuar”, diz Osvaldo Lucho, de 46 anos, sócio da Gigalink. Fundada em 2003, em Nova Friburgo, a empresa começou vendendo velocidade seis vezes maior do que a da internet discada. Lucho conseguiu diminuir um dos principais custos do setor — o elo entre a casa do cliente e o servidor central mais próximo. “Isso costuma ser feito com cabos de fibra óptica, um material caro”, diz Lucho. Assim, uma operadora precisa reunir em cada quarteirão um número grande de assinantes para o negócio valer a pena. Lucho desenvolveu um cabo mais barato, que mistura fibra óptica com fios de cobre. O material é feito para suportar intempéries e pode ser pendurado em postes. Atualmente, a Gigalink tem cerca de 16 000 clientes em seis cidades do Rio de Janeiro. “Estamos nos estruturando para chegar a outros estados”, afirma Lucho. O impacto da banda larga no desenvolvimento econômico é enorme. Em média, a cada 10% mais de penetração de internet rápida num país, o PIB aumenta 1,4%, de acordo com a União Internacional de Telecomunicações, órgão da ONU que incentiva políticas para o setor. No Brasil, apenas 6% da população tem conexão fixa de banda larga. “Hoje, a principal barreira da inclusão digital é o acesso à internet rápida”, diz João Moura, presidente da Telcomp, associação que reúne pequenas operadoras de telecomunicações. O problema não é só de acesso, mas de qualidade. “A rigor, cerca de metade das conexões no Brasil nem poderia ser vendida como banda larga, se levada em consideração a velocidade mínima de 2 mega estipulada pela ONU.”
O vilão da má qualidade do sinal móvel é a ausência de torres de transmissão
EDUARDO
NEGER Neger Telecom — Campinas (SP)
Equipamentos para amplificação de sinal
O problema O Brasil tem dimensões continentais e faltam antenas de celular nas regiões mais afastadas
O que faz Desenvolve um aparelho compacto que capta o sinal da antena mais próxima e o amplifica para seu entorno
Clientes Usuário final, fazendas e indústrias
faturamento
de reais 4,5 milhões
(1)
1. Em 2012
ESPECIAL Telecomunicações
Quanto menor a cidade ou o bairro, menos interessante é para os grandes provedores
OSVALDO
Lucho Gigalink
— Nova Friburgo (RJ) Provedor de acesso à internet banda larga
O problema Apenas 6% da população brasileira possui conexão fixa de banda larga
O que faz Oferece internet rápida em bairros da periferia onde as grandes operadoras não têm interesse em atuar
Clientes Usuário final e pequenas empresas
faturamento
de reais 10 milhões
(1)
1. Em 2012
Marcelo Correa
esteja em dia. Foram instalados cinco pontos de distribuição de sinal Wi-Fi, que cobrem 75% da área urbana e algumas localidades rurais. “Conseguimos levar a internet para bairros onde não existia nenhuma forma de acesso”, diz Roque Hoffmann, prefeito de Araçariguama. “A iniciativa foi muito bem recebida pela população.” A estimativa é que metade dos 17 000 habitantes já tenha usado o serviço ao menos uma vez — a maioria por meio de celular. A empresa responsável pela instalação e manutenção da rede é a Linktel, de Barueri, na Grande São Paulo, uma operadora que faturou 17 milhões de reais em 2012. “Além de liberar a internet para a população, interligamos escolas, postos de saúde e secretarias numa mesma rede, diminuindo os custos de Araçariguama com comunicação”, diz Jonas Trunk, de 56 anos, dono da Linktel. O negócio da Linktel é fornecer acesso à internet sem fio em shoppings, aeroportos, hotéis e restaurantes por meio de uma rede própria com mais de 1 900 hotspots, como são chamados os pontos de acesso. A experiência da internet pública em Araçariguama abriu caminho para uma nova unidade de negócios da empresa, que agora negocia com outras prefeituras. Recentemente, a Linktel fechou contrato com a Orla Rio, concessionária responsável pela manutenção das praias cariocas. “Até a Copa do Mundo, em 2014, a internet sem fio estará liberada aos frequentadores de toda a orla”, diz Trunk. Investir na internet Wi-Fi é muito importante para empresas e governos. Uma das principais vantagens é desafogar o tráfego das congestionadas redes de celular. “Para quem usa Wi-Fi no lugar do 3G, a velocidade e a estabilidade de acesso costumam ser melhores”, diz Grizendi, do Inatel. “Além disso, esse tipo de sinal não precisa ser tão regulado pelos órgãos públicos, dispensando a necessidade de licenças caras e excessivamente burocráticas.” A internet sem fio está no centro de um dos principais programas de inclusão digital do governo federal, batizado de Cidades Digitais. O projeto tem a finalidade de modernizar a gestão de cidades com menos de 100 000 habitantes por meio de uma rede de telecomunicações que interligue órgãos públicos e prevê pontos de internet em parques e praças. “O acesso sem fio é o mais democrático, pois quase todos os modelos de notebook, tablet e celular vêm com acesso Wi-Fi”, diz Américo Bernardes, diretor de infraestrutura para inclusão digital do Ministério das Comunicações.
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CORRIDA PARA VENCER O ATRASO
E
m Pompeia, no interior de São Paulo, o empreendedor Alair Fragoso está investindo 2 milhões de reais até o ano que vem na Life Telecom, seu provedor de acesso a internet e telefone. O dinheiro está sendo usado para trocar a parte mais antiga da rede da empresa. No lugar de aparelhos de rádio, entram os cabos de fibra óptica, um dos meios de transmissão de dados mais modernos do mundo. A nova estrutura deve permitir que a Life Telecom diversifique mais seus negócios e passe a oferecer TV por assinatura. “As novas receitas não podem mais depender da venda de internet”, diz Fragoso. “Nosso plano é
Há no país mais de 3 000 pequenos provedores — fundamentais para a inclusão digital de cidades longe dos grandes centros urbanos conseguir 12 000 assinantes de TV em ofertas combinadas com banda larga até 2015.” Atualmente, a Life Telecom tem 9 000 clientes, entre usuários de internet, de telefonia fixa e de ambos. Os novos equipamentos estão sendo comprados da catarinense Cianet, que se especializou em atender pequenos provedores. Nos últimos anos, a empresa adaptou sua fábrica, em Palhoça, na região metropolitana de Florianópolis, para desenvolver tecnologias triple play, que juntam telefone, internet e TV num único canal de banda larga. “Também ajudamos os provedores a obter financiamento e a lidar com a burocracia de órgãos reguladores”, diz
Sou empreendedora. Meu sonho também move o Brasil
Priscila Ferreira, São Paulo, SP — Linha D’Água Viva — Gráfica
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SOUEM preen dedor Meu sonho move o Brasil
Junho 2013 | Exame pme | 95
ESPECIAL Telecomunicações
O setor de telecomunicações é um dos que mais recebem queixas nos órgãos de defesa do consumidor pela má qualidade dos serviços Para tornar os equipamentos mais acessíveis, a Cianet embute nas linhas uma tecnologia chamada HPN, que permite misturar a fibra óptica com a infraestrutura de cabos telefônicos e de TV já instalada nas residências, o que reduz sensivelmente os custos de modernização das redes. “Nossa inspiração veio da Coreia do Sul, que tem uma das bandas largas de melhor qualidade do mundo”, diz Santos. “Os coreanos usaram a HPN para oferecer internet rápida mesmo para as classes sociais mais baixas.” A empresa também desenvolveu no ano passado um conjunto de softwares e hardwares no protocolo IPTV, que possibilita aos provedores transmitir conteúdos de TV pela mesma infraestrutura da internet. “Isso deve nos ajudar a crescer 60% neste ano”, afirma Santos. Em 2012, o faturamento da Cianet foi de 21 milhões de reais.
SOUEM preen dedor Meu sonho move o Brasil
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PATRULHEIROS CONTRA AS FALHAS
O
engenheiro Laerte Sabino, de 41 anos, está à frente de um empreendimento cujo desafio é enorme — diminuir as reclamações de consumidores contra falhas nos serviços de TV por assinatura, internet e telefone. Sabino fundou, em 1997, a Ícaro Technologies, empresa de Campinas, no interior de São Paulo, que fornece sistemas de monitoramento em tempo real para redes de dados e voz. Entre seus clientes estão companhias como Net, Claro, GVT e TIM. “As ferramentas permitem à operadora identificar falhas por meio de um painel de controle”, diz Sabino. “Com o diagnóstico, é possível restabelecer o sinal mais rapidamente”. Nem todas as operadoras têm esse cuidado — há casos de instabilidade no sinal que demoram mais de 24 horas para ser resolvidos. Em 2012, a Ícaro obteve 17 de milhões de reais em receitas — 30% mais do que no ano anterior. O tipo de trabalho que Sabino faz é importante para as grandes operadoras atingirem suas metas de qualidade. A Anatel, agência reguladora do setor, intensificou a fiscalização depois de suspender a oferta de novas linhas de celular por dez dias, em julho do ano passado, por causa do baixo desempenho de algumas operadoras. Na ocasião, as empresas precisaram apresentar um plano de investimentos para a melhoria dos serviços. “A relação entre as operadoras e os consumidores é de quase litígio”, afirma o especialista em telecomunicações Ethevaldo Siqueira, dono da consultoria Telequest. Para avaliar as condições de uma rede, os técnicos da Ícaro instalam sensores que rastreiam o sinal de internet, telefone e TV e buscam imperfeições no acesso ou na estrutura dos cabos. Os dados podem ser cruzados com outros, como reclamações registradas na central de atendimento e dados dos soft wares de gestão da operadora. Para analisar esses dados, a Ícaro formou uma equipe com matemáticos e engenheiros de software. “Os problemas mais comuns são antenas mal configuradas, ruídos na linha, interrupção de energia e cabos de fibra óptica danificados por obras nas calçadas”, diz Sabino.
Sou empreendedor. Meu sonho também move o Brasil
ANdré Nilson de Lima, São Bernardo do Campo, SP — New Mind Comunicação — Agência de propaganda
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96 | Exame pme | Junho 2013
Daniela Toviansky
João Francisco dos Santos, de 59 anos, sócio da Cianet. “Investir em fibra óptica requer um esforço muito maior do que simplesmente aumentar a capacidade de cabos. Inclui até cavar buracos na rua.” Há no Brasil mais de 3 000 pequenos provedores, fundamentais para a inclusão digital de cidades fora dos grandes centros urbanos. “O maior ativo dos provedores regionais é conhecer bem as necessidades dos clientes”, diz Moura, da Telcomp. “Eles ajudam a resolver problemas de todo tipo — do site que saiu do ar a problemas com Excel.” As estimativas do setor apontam que os pequenos provedores foram responsáveis por 25% das compras de fibra óptica no país em 2012, o que movimentou cerca de 1 bilhão de reais. “Os provedores estão investindo para se transformar, na prática, em verdadeiras operadoras de telecom”, afirma Moura.
Nem sempre é fácil para as operadoras identificar a origem de um problema
Laerte
SABINO
Ícaro Technologies — Campinas (SP)
Sistemas de controle de redes de telecom
O problema A qualidade dos serviços de telecom deixa a desejar e está entre as maiores reclamações dos clientes
O que faz Monitora falhas nas redes em tempo real, permitindo restabelecer o sinal rapidamente
Clientes Operadoras de telefonia e TV, bancos e redes varejistas
faturamento
de reais 17 milhões
(1)
1. Em 2012
ESPECIAL Telecomunicações
AS TELECOMUNICAÇÕES EM NÚMEROS o tamanho do setor O Brasil é um dos maiores mercados em número de usuários de TV por assinatura, telefonia e internet — mas precisa ser mais competitivo Evolução da receita operacional do setor
CADA
Competitividade do Brasil no setor
(em bilhões de reais)
10 % MAIS
(ranking global, em 2011) Celular
Banda larga
Fixo Usuários(1)
115,4
85,5
60
(5 )
(6 )
(9 )
0
2009 2010 2011
180 200 215
0
Densidade(2)
49
88
0
85
0
0
A infraestrutura ainda é antiga — e a qualidade deixa a desejar Onde trafegam os dados na internet (em 2011, em %)
usuários com acesso à banda larga gera um aumento de 1,4% no PIB, 3,6% na produtividade e 2,5% em empregos
0
a deficiência dos serviços
Fios de cobre/telefone Cabos coaxiais/TV Satélites e rádios Fibra óptica(1) 5
65
20 10
1. Em milhões de pessoas 2. Posição no ranking em relação de número de acessos por 100 000 habitantes Fontes União Internacional de Telecomunicações (UIT) e Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil)
A INFRAESTRUTURA E A DEMANDA O percentual de brasileiros com acesso à internet, celular, telefone e TV por assinatura aumentou, mas ainda há muita gente excluída População com acesso no Brasil e nos EUA (em %)
Infraestrutura da banda larga
Cobertura do 3G móvel (por número de operadoras) 40,5%
Municípios
37,3%
10,7%
6,1%
5,3%
(ranking em 2010 por velocidade e preço)
38 32 29 10 3 2 1 0
0
0
0
0
0
0
Telefone celular
36,6
69
2005
2011
Operadoras
0
12%
1
2
15%
3
9%
4
13%
50%
População
Usuários de internet por classe social (em %)
Telefone fixo
37
2005
42 2011
A 2009 2010
75
EUA 2011 PC com internet
25,3 2005
EUA 2011
46,5 2011
73
2011
B
C
D/E
85
72
42
14
84
73
42
13
92
77
45
14
A banda larga ainda é cara e para poucos População com banda larga (em %)
Custo mensal de 1 megabit(1) (em dólares)
PIB do país (em trilhões de dólares)
27,6 9,7 9,3 5,8
15 29 38 47
15,6 0,27 0,47 2,4
8
EUA 2011
20 2011
85
O setor é um dos que mais recebem reclamações no Procon-SP (em 2013) Setores campeões em reclamações 1 Financeiro/bancos 2 Telecomunicações 3 Varejo Quais são os maiores problemas apontados 1 A empresa não cumpre a oferta 2 O serviço não funciona direito 3 É difícil cancelar a assinatura
TV por assinatura 2005
A Bra rg s en il tin C a hi l EU e H Ja A on p g ão Ko C ng do ore Su ia l
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EUA 2011
Estados Unidos
Chile
Argentina
Brasil
1. Valor com impostos Fontes Relatórios das consultorias Teleco e Ookla, Cisco, Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), UIT e IBGE/dados de 2011
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1. Tecnologia mais avançada Fontes Cisco, Anatel e Teleco
O desafio é permanente
Para Luiz Alexandre Garcia, presidente do grupo mineiro Algar, há muito espaço para empreendedores que ajudem a atender às demandas do setor — as atuais e as que ainda vão surgir
MARIA LUISA MENDES
cia, então presidente da Associação Comercial de Uberlândia, juntou-se a outros empreendedores para criar uma companhia de telecomunicações que ligasse a cidade, no Triângulo Mineiro, à capital do estado. “Os interurbanos eram feitos com a ajuda de uma telefonista”, diz Luiz Alexandre Garcia, de 48 anos, neto do fundador e presidente do grupo Algar (além de telecomunicações, o Algar tem presença no agronegócio, em TI e em turismo). Quase 60 anos depois, palavras como interurbano e telefonista caíram em desuso — e termos como banda larga e fibra óptica entraram no léxico comum. “A evolução nas telecomunicações é, de longe, a maior entre todos os setores de infraestrutura”, afirma Garcia. “Mas ainda há muito a ser feito.” Nesta entrevista a Exame PME, Garcia fala sobre os desafios nesse mercado.
exame pme De que forma uma estrutura de telecomunicações ruim atrapalha o desen volvimento econômico?
Quando a Algar começou, em Uberlândia não se podia fazer mais de um interurbano por vez. Vamos supor que, para tomar uma decisão, um empreendedor dependesse de ligar para o Rio de Janeiro. A telefonista poderia fazer a ligação 15 minutos, 1 hora, um dia depois. Tudo dependia de quantas pessoas estivessem na fila. Era um entrave enorme para desenvolver a região.
Ana Paula Paiva/Valor
luiz alexandre garcia
FABIANO ACCORSI
T
udo teve início em 1956, quando Alexandrino Gar-
LUIZ ALEXANDRE GARCIA algar telecom — Uberlândia (MG)
Empresa de serviços de telefonia fixa e celular, internet e TV por assinatura
faturamento
2,3 bilhões de reais
(1)
1. Em 2012
Junho 2013 | Exame pme | 99
ESPECIAL Telecomunicações E avançou muito? Ainda há muitos proble mas de comunicação no Brasil. A ligação do celular cai, a internet sai do ar.
A evolução nas telecomunicações é, de longe, a maior entre todos os setores de infraestrutura. O problema é que, embora a capacidade de transmissão de dados aumente exponencialmente, o consumo aumenta mais ainda. Hoje, o consumidor quer enviar uma fotografia, o que consome certa banda. Amanhã, ele vai querer enviar um filme, que consome 100 vezes mais. Depois de amanhã, haverá mais pessoas fazendo a mesma coisa. E ninguém está disposto a esperar muito mais para transmitir o filme do que para enviar a fotografia — o que aumenta a percepção de que os serviços são ruins. Por que minha internet vive saindo do ar? Já mudei várias vezes de operadora.
Provavelmente porque há um número muito grande de usuários fazendo download ao mesmo tempo. É como o encanamento num edifício. Se muita gente toma banho ao mesmo tempo, vai cair pouca água nos chuveiros. Nesses momentos, fica evidente que a infraestrutura não dá conta — nenhum estudo, pelo menos que eu já tenha visto, conseguiu prever o crescimento exponencial da utilização de banda larga.
Como consumidor, o senhor acha que os serviços das operadoras são bons?
Eu sou suspeito, né? Mas faça essa pergunta para meus filhos — um tem 14 e o outro 16. Eles vão dizer que a internet é muito lenta, pois os joguinhos deles precisam de uma velocidade cada vez mais alta. Eu tinha 200 Kbps de velocidade de internet na minha casa. Quando passei a ter 2 mega, achei fantástico. Hoje tenho 20! Acontece que uma criança de 10 anos quer uma internet mais rápida do que eu. Enquanto estamos lendo e-mails, ela está jogando online com pessoas no Brasil e no mundo inteiro. O que pode estar bom para nós não está bom para os consumidores jovens.
As pequenas e médias empresas sempre terão seu espaço
SOUEM preen dedor Meu sonho move o Brasil
Como melhorar?
É preciso remover alguns entraves burocráticos. Hoje, há dificuldade em obter autorização para instalar torres
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— numas cidades é de um jeito, noutras é diferente. Há lugares em que o tráfego está congestionado, mas não conseguimos autorização para instalar as antenas de que precisamos. O governo está trabalhando para aprovar uma lei — que chamamos de Lei das Antenas — para regularizar essas permissões. Quais são as oportunidades para empre ender no setor?
São muitas. Existe espaço para construir empresas de nicho que atuem em determinadas regiões geográficas, hoje desatendidas — é o caso da Gigalink, que aparece na reportagem [veja na pág. 87]. Essa empresa está ajudando a vencer um desafio importante no Brasil, que é prover a área rural e pequenos vilarejos sem acesso aos avanços das telecomunicações. Outra frente é oferecer um serviço específico — um exemplo é a Neger [a empresa, que desenvolveu um sistema que capta o sinal da antena mais próxima e o amplifica, também foi analisada pela reportagem de Exame PME]. O que o senhor achou da Cianet, que ajuda provedores que ainda dependem de ondas de rádio a se modernizar?
Há um grande mercado para uma empresa que se disponha a fornecer tecnologia a esses provedores. O rádio não é a tecnologia mais atual, e esses provedores precisam se atualizar para que possam fornecer internet com alta velocidade. Nós, na Algar, também os queremos como clientes. Temos um projeto para vender tecnologias de vídeo e TV por assinatura a pequenos provedores. Empresas de pequeno e médio porte têm futuro num mercado que parece dominado por grandes operadoras?
Há, hoje, mais de 100 operadoras no mercado brasileiro. Várias são bem pequenas, mas elas sempre terão seu espaço. Nos Estados Unidos existem milhares de empresas de telecom atuando em nichos. Acredito muito no potencial desses empreendedores. As dimensões do Brasil são continentais. Temos uma população de quase 200 milhões de habitantes. Os serviços de telecomunicações são estratégicos para o desenvolvimento econômico de um país. As pequenas e médias empresas de telecom têm um papel fundamental para ajudar a suprir as necessidades atuais — e as muitas que ainda vão aparecer, trazidas pelo surgimento de novas tecnologias.
Sou empreendedor. Meu sonho também move o Brasil
Fernando Francisco, Campinas, SP — Maçã com Canella — Doceria
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100 | Exame pme | Junho 2013