Moda by SC

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de Jornalista

Univali|Novembro|2009

Palavra

Moda by SC Da mĂĄquina de costura Ă s passarelas, o mundo fashion dos profissionais catarinenses



Sumário 05 12 18

Será que a moda pega? Tendências das passarelas influenciam na hora de vestir

Nas celas e nas vitrines Presidiários de Tijucas produzem para a moda calçadista catarinense

Lixo & Luxo Através da imaginação, resíduos podem virar peças da moda nas mãos de criacionistas

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Evento confirma a presença do município no cenário nacional da moda

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O relato dramático das dores que a vida de modelo pode trazer

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Uma fração de segundo vende o glamour do mundo ideal para pessoas do mundo real

46 54 62 70 78

Balneário Fashion é show

Elas não podem chorar

Click! Desejo realizado

Intimidade à flor da pele O apelo da moda íntima catarinense mostra mais que uma simples relação com o erotismo

O ABC da moda gestante Durante a gravidez, é importante seguir as tendências da moda sem descuidar do corpo

A lantejoula vai à praia O universo peculiar dos vestidos de casamento em Balneário Camboriú

A ordem é customizar! Customização foge das tendências, da produção em larga escala e da massificação

2009/2 08

Do cashmere ao poliéster Mulheres da periferia se vestem como celebridades, mas sem pagar pela etiqueta

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Moda de Valor

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Falsificação na moda

28 34 42

Santa Catarina busca desenvolver uma cultura de design

Produtos contrafeitos podem trazer malefícios à saúde dos consumidores

O alfaiate da multidão Há 64 anos, Daniel faz trajes masculinos artesanalmente em Joinville

Por trás das passarelas Os bastidores da carreira revelam o que se esconde atrás de corpos esculturais

Em busca dos flashes As jovens modelos vêm ganhando espaço no mundo da moda, mas apenas 1% delas viverá disso

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De prática marginalizada a um adorno aderido pelos mais variados grupos sociais

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Dos desenhos animados às grifes, por onde gira o mundinho fashion das crianças

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Homens com estilo tomam conta das lojas e o mercado de roupas masculinas cresce

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Tatuagem: a moda na pele

Era uma vez no meu closet

O novo mundo masculino

Sob medida... A ditadura da beleza impõe um padrão de magreza prejudicial à saúde das mulheres

QUEM FEZ MODA

Expediente Palavra de Jornalista é uma publicação do Curso de Jornalismo da Universidade do Vale do Itajaí – Univali. Trabalho realizado na disciplina Jornalismo de Revista do 6º periodo. Editora responsável: Professora Laura Seligman. Projeto Gráfico e Direção de Arte: Professor Sandro Galarça. Diagramação: Agência Integrada de Comunicação – acadêmica Cibele Plácido de Córdova. Arte da Capa: Sxc.hu.

3 Palavra de Jornalista Novembro 2009


Palavra entra na moda Confessamos aqui solenemente que estamos, em algum estágio, entregues a ela. A moda é um fato político, social e econômico. Não há como fugir dessa condição: em qualquer grupo, sob qualquer pretexto, alguns criam moda, outros a seguem fielmente ou em muitas adaptações. Para saber o que ler, para escolher o que vestir, como andar, o que ouvir, enfim, para tudo mesmo, procuramos um padrão comum de aceitação que se movimenta com o tempo e suas transformações. Até quem tenta fugir dos padrões acaba criando um outro, outra moda. Quem nunca vestiu uma bata hippie que atire a primeira pedra. Pois bem, a revista Palavra de Jornalista, editada semestralmente

pelos alunos da disciplina Jornalismo de Revista do curso de Comunicação Social – habilitação Jornalismo da Universidade do Vale do Itajaí – Univali, escolheu falar de moda em suas reportagens. Neste menu oferecemos um pouco do que esses jovens jornalistas em formação reportaram pelas cidades dos arredores da Universidade. Experimentaram e elaboraram esta grande declaração de amor ao que é a moda e a quem se dedica a ela. Boa leitura. Laura Seligman Editora da Palavra de Jornalista

Mais um dia daqueles Vanessa Tasca Ribeiro Aquele dia era um dia daqueles. Dia que eu preferia ter ficado dormindo. Um monte de coisas para fazer mas nenhuma parecia dar certo. A proposta foi recusada, o dinheiro não entrou e o preço da gasolina subiu. Qualquer motivo, como o atraso do troco no mercado, era motivo para eu gritar. É, o famoso pavio curto. Olhei para o céu e o tempo estava fechando. “Maldito temporal vem por aí”, pensei comigo mesmo. Realmente, era tudo o que eu precisava. Me apressei com as compras do mercado lotando o porta-malas, visualizei minha casa, na esperança de chegar mais rápido. Perto do centro da cidade, um congestionamento infernal. Ah sim, as obras. O prefeito devia querer mostrar serviço mesmo, concertando ruas àquela hora da tarde. Sem ter a menor noção do que estava fazendo, lembrei-me de um atalho. Com a falta de direção que me foi dada ao nascer somada ao pé d’água que estava caindo, me perdi. Fui parar numa área da cidade que desconhecia. Foi aí que chegou a parte do meu dia que caracteriza o “daqueles”. Eu estava num pedaço, sendo generoso, humilde da cidade. Ali tinha crianças brincando e correndo, descalças e mal vestidas. Algumas bicicletas contendo pessoas com certeza voltando de seus trabalhos. Elas não tinham o porta malas cheio. Senti então uma vergonha por mim mesmo. A injustiça naquele momento, era o meu existir, a minha forma de viver. Parecia que eu previa desde o momento que acordei, que pensar no que é meu não

me faria bem. Continuei olhando para aquela rua, sentindo um peso em minhas costas. No lado direito, um portãozinho de madeira me chamou atenção. Quem eu vi foi uma senhora de meia idade, vestido florido e chinelo de dedo. Vassoura de palha nas mãos, pele cor de cuia e na boca o pedido para as crianças se aquietarem. Estacionei. Olhando nos olhos da senhora perguntei: – O seu marido está em casa? – Não tenho marido senhor não. Aqui sou só eu e as crianças. – É porque tenho uma entrega pra senhora! – Entrega? Aos poucos tirei do carro todas as minhas compras. Expliquei que era um presente como se fosse Natal. Porque pra essa gente, presente é só no Natal. Ela me ofereceu um café, e com ele descobri que ela era mais uma brasileira de história triste. Na hora de ir embora ela me agradeceu e desejou: - Que Deus lhe dê tudo em dobro, meu senhor. E eu achei o caminho de volta pra casa, e nele fui refletindo e chorando como uma criança quando tem fome. Se ela me desejou tudo em dobro, o que deve desejar para ela e para seus filhos? E então me deu uma raiva danada do prefeito e uma vontade interminável de destruir todas as ruas da cidade. Crônica inspirada na canção Gente Humilde, de Chico Buarque. Palavra de Jornalista Novembro 2009

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Rafael Huppes

Será que a moda pega? Rafael Huppes e Samir Ruzza

TENDÊNCIAS DAS PASSARELAS INFLUENCIAM NA HORA DE VESTIR

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Existem mais coisas entre as passarelas e as ruas do que supõe as cartilhas da moda. A célebre frase de Blaise Pascal, na verdade, afirma que existem mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia, uma referência à metafísica. No mundo da moda também existem muitas coisas que passam despercebidas. Além do glamour, da excentricidade e do brilho dos desfiles de moda está a sugestão dos estilistas para as novas tendências e para aquilo que as pessoas vestirão. Mas até que ponto as roupas apresentadas nas passarelas influenciam na vestimenta do dia-a-dia? Para Renata Cavalcante, 28 anos, o que os estilistas apresentam não determina a escolha na hora da compra. Atraída pelas roupas expostas num balaio de uma loja em Itajaí, a dona de casa desce da bicicleta para conferir as promoções. Nas diversas prateleiras, ao som de uma rádio popular, a moça, que veste uma blusa de lã vermelha e uma calça Jeans de marca desconhecida, encontra roupas que variam entre R$ 5,90 e R$ 89,00. Apesar de não ligar para a moda das passarelas, a sua aparência indica certa vaidade. As três tatuagens estampadas em seu corpo denunciam que em algum momento, aderiu à moda. Neila Aparecida da Silva, 41 anos, é professora e antes mesmo da primeira aula de sexta-feira, vai a uma loja para conferir as novidades. A loja da qual Neila é cliente é bem organizada, cheirosa, possui marca própria, nenhum


balaio e preços que variam entre R$ 29,00 e R$ 899,00. Apesar de não reparar muito no preço, Aparecida não abre mão do conforto na hora de se vestir. A blusa de gola alta, a calça jeans e os tênis esportivos são ideais para um dia de trabalho. “Eu sou mais do tradicional. Não vou pelo modismo e não vestiria aquelas roupas mostradas nas passarelas. O meu estilo é mesmo as calças jeans e as blusas básicas.” Apesar de muitas pessoas não se preocuparem com as tendências da moda, Jair Burger, designer, afirma que elas só irão comprar aquilo que o mercado oferece, sendo que o comércio segue naturalmente as tendências, pois não pode errar na hora de investir. O gerente da loja Makenji do Itajaí Shopping, Rafael Schalffer, 23 anos, complementa que essa preocupação com a moda pode não ser tão explícita e se manifestar em pequenos

Assim como a maioria, a atendente de farmácia, Adriana da Silva Martins, 39 anos, acredita que as roupas apresentadas nos desfiles são extravagantes. Porém, o que muitas destas pessoas não sabem é que os desfiles têm o objetivo de apresentar as tendências, os modelos, os tecidos e as estampas das próximas estações. As roupas utilizadas pelas modelos durante o desfile não são para serem vestidas assim como são apresentadas nas passarelas. É a partir destas amostras que está todo delineamento de temas, produtos, inovações e novas possibilidades de gostos. Assim, as empresas irão se adequar às variadas regiões de seus clientes. O que o consumidor irá perceber ao comprar o produto são essas tendências e temas, sempre readequados e respeitando a ideia do estilista. Segundo Graziela Moreli, especialista em moda, a função das roupas apresentadas nas passarelas é causar impacto e despertar o desejo. Se fossem muito comuns, os desfiles seriam simplesmente desnecessários. Entretanto, Graziela discorda que haja uma adequação das roupas das passarelas para as vitrines. Ela explica que as roupas apresentadas são as mesmas utilizadas nas ruas. É a formação do look completo no interesses como a combinação entre diferentes peças e cores de roupas. Já para a desfile, as combinações entre consultora de moda em São Paulo, Marlene Fernandes, estar na moda não é apenas peças, acessórios, maquiacomprar o que há de novo nas vitrines. “As pessoas estão cada vez mais preocupagens e penteados que dão a das em se sentir bem dentro de um visual que valorize seu estilo. O recomendado é impressão de ser um absurdo. alternar peças do guarda-roupa com novos itens para compor um look dentro do seu Se separarmos as peças, elas estilo e das tendências.”

A FUNÇÃO

DAS ROUPAS

APRESENTADAS

NAS PASSARELAS É CAUSAR IMPACTO E DESPERTAR O

DESEJO

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Das passarelas às ruas ou d as se tornam comerciais. A especialista afirma ainda que apenas cerca de 10% do que é apresentado nas passarelas não chega às lojas. As roupas apresentadas nas passarelas representam mais do que simplesmente modelos a serem seguidos, elas são uma reflexão da atualidade. Os estilistas trabalham para uma marca, que tem um estilo próprio e um público definido, por isso no momento de compor um novo look, estudam e fazem uma pesquisa do contexto social, cultural, histórico e econômico. A moda se adequa ao momento. Quando aconteceu o atentado de 11 de setembro nos Estados Unidos, por exemplo, alguns estilistas propuseram nas passarelas peças com o uso do preto, representando o luto, e outros do branco, simbolizando a paz. A estilista Solange Baldo, da marca L`And, fabricante de jeans, afirma que o desenvolvimento de produtos de moda requer o conhecimento aprofundado do mercado em que se insere esse produto. O designer bem sucedido é aquele que consegue pensar com a mente do consumidor. Dois tipos de demonstração são realizados durante o desfile: a conceitual e a comercial. A conceitual é a que apresenta as roupas extravagantes e exageradas, roupas que não são feitas para o consumidor final. Nesse desfile, se mostram as tendências e o objetivo é a compra da matéria-prima. Já a demonstração comercial é o desfile direcionado para os clientes – revendedores dos produtos -, é apresentada a coleção da estação. Jair Burger enfatiza que esses dois tipos de desfiles são necessários nos seus respectivos tempos. O primeiro vem para abrir a mente e deixar fluir a criatividade e o segundo como base comercial.

ruas às passarelas?

Com o avanço da tecnologia da informação, as ideias e as imagens se espalham rapidamente. Por isso, é difícil dizer a origem de um estilo. A moda pode surgir das passarelas às ruas como das ruas às passarelas. Segundo Solange Baldo, a moda tem um ciclo e pode-se constatar que quando um produto surge no mercado, passa por fases distintas que podem ser organizadas em lançamento, consenso, consumo, massificação e desgaste. A estilista ainda destaca que para uma tendência ou um estilo virar moda, é preciso ser consumido por várias pessoas. Ninguém faz moda sozinho. Assim, podem-se dividir os consumidores em dois tipos: os inovadores e os imitadores. Os inovadores são os líderes de opinião e os imitadores são os consumidores atrasados. Segundo Grant McCracken, autor do livro “Cultura & Consumo”, o surgimento de uma moda pode acontecer de dois modos. O primeiro se chama trickle-down e começa no topo da elite da moda com um lançamento de alta-costura ou o estilo de uma estrela pop. Essa primeira teoria sugere a existência de uma elite da moda formada por criadores, divulgadores e os primeiros usuários, geralmente a população mais privilegiada. A segunda teoria se chama trickle up ou bubble up e defende a hipótese de uma nova tendência ser gerada pelos hábitos de vestir dos grupos sociais das classes mais baixas, também conhecida como moda de rua. P Trickle Down Celebridades Primeiros seguidores Leitores de revistas, primeiras cópias em lojas Vitrines e maior acesso Consumo em massa cópias simplificadas para mercado popular

Bubble Up Versões exclusivas em lojas de luxo Público fashion procura artigos Revistas divulgam a tendência Mercado dá nome ao estilo Estilo aparece nas ruas ou em grupos específicos

Fonte: Treptow, 2003:28

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Rafael Huppes


Do cashmere ao poliéster Tamara Belizario e Joana Gall

Se Brigitte Bardot chocou o mundo usando um biquíni xadrez com babados no filme “E Deus criou a Mulher”, Bebel conseguiu revolucionar a utilização dos trajes de praia na novela “Paraíso Tropical”. A personagem, vivida por Camila Pitanga, fez o maiô engana-mamãe voltar às ruas e virar peça de desejo das mulheres brasileiras. A prostituta foi referência para sensualidade, apesar de abusar dos brincos gigantescos e batons vermelhos. Mas, o que fazer se você não tem um closet recheado de Alexandre Herchcovitch e Jô de Mer, como Bebel? Não há motivos para preocupações: as lojas populares estão preparadas para atender as consumidoras exigentes que desejam ter as mesmas roupas que as musas das novelas. Assim como as mulheres americanas, as brasileiras se inspiram nas celebridades para montar looks da moda. A diferença é que, enquanto as famosas usam roupas de grifes caras, as mortais optam por trajes baratos. A moda para mulheres de baixa renda pretende aliar o design atual de estilistas famosos com a fabricação em massa característica da moda popular. “As roupas mais baratas são produzidas em maior quantidade, pois o valor do desenvolvimento e de outros custos é distribuído na quantidade maior de peças, que acaba barateando”, explicou a design de moda, Graziela Morelli. As fashionistas que não têm dinheiro no bolso para bancar um Dior agradecem a preocupação dos varejistas na produção de roupas cheias de estilo. É o que acontece na loja Mafra Confecções, localizada no bairro Monte Alegre, periferia de Camboriú. A vendedora Marieli do Nascimento Bernardes explica que as personagens das novelas globais ditam a moda e as moradoras vão em busca de roupas mais baratas nas confecções. “As consumidoras procuram muito por roupas de atrizes e a gente acaba assistindo as novelas só para ficar por dentro da moda.” Bebel foi uma epidemia. Cheia de lantejoulas e decotes, as roupas com catiguria foram copiadas por mulheres que buscavam sensualidade. “Era interessante porque a Camila Pitanga interpretava uma prostituta e as meninas vinham atrás das roupas dela. Eram maiôs e tops mais apertadinhos e... sensuais, né?”, completa Marieli, tímida e sem jeito.

MULHERES DA PERIFERIA SE VESTEM COMO CELEBRIDADES, MAS SEM PAGAR PELA ETIQUETA

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Maria Bernadete Belizario

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As adaptações em tecidos e a massificação de um modelo é o que faz com que as lojas mais baratas consigam vender peças por preços irrisórios. Como ninguém quer comprometer todo o pagamento em apenas uma roupa de grife, a saída é apelar para tecidos mais baratos e correr o risco de chegar a uma festa e encontrar outra pessoa com o mesmo traje que o seu. “Já aconteceu de eu ter comprado um vestido, ir a uma balada e encontrar meninas com o vestido igual o meu. Isso que nem estava em promoção”, contou a estudante Gabriella Marins e Silva, consumidora de roupas populares. O que muita gente se questiona e poucos realmente entendem é o porquê dos preços altos das marcas de estilistas famosos. O posicionamento da marca no mercado, o marketing, a qualidade da matéria-prima, e a pequena quantidade produzida de cada peça são alguns diferenciais entre roupas caras e baratas. Isso quer dizer que comprando algo na loja Colcci, o consumidor estará pagando pelo aluguel no shopping, pela exclusividade da peça, pela criatividade dos estilistas e, principalmente, pelo salário da top model Gisele Bündchen, contratada há quatro anos para estrelar as campanhas da marca. Esse tipo de gasto não existe nas lojas de periferia, que praticamente não investem em campanhas de comunicação e desenvolvimento de peças novas. A consumidora de baixa renda não procura somente o design das roupas, mas também o custo que ela vai ter no bolso. “São fabricadas em grande quantidade porque muitas vezes se ganha mais no giro rápido de uma mercadoria com lucro baixo do que com bom lucro de vendas esparsas”, completa a design de moda Egéria Höeller Borges Schaefer. Independente do dinheiro que é investido nas roupas, todos os estilistas são unânimes ao escolher o maior crime da moda: não conhecer o próprio estilo. A mulher pode até sair por aí com um maiô da Bebel, desde que tenha corpo e personalidade para usá-lo. Se um dos dois quesitos falha, não importa se o traje foi comprado na Daslu ou na Mafra Confecções, a roupa nunca cairá bem. Glória Kalil escreve em seu livro Chic - bíblia para os fashionistas, que “embora possa parecer estranho, na verdade o estilo não tem muito a ver com a moda. Ela passa, o estilo permanece.”

Tamara Belizario

Bebel, a Afrodite O culto às celebridades, fenômeno social que começou no século XX, não é exclusividade de mulheres de baixa renda. A alta classe também se rende ao controle dos ídolos da mídia. Bebel é apenas um reflexo do poder de influência que os famosos têm sobre a população. Os semi-deuses modernos ditam estilo, comportamento e jeito de levar a vida. A mestre em comunicação Karla Regina Macena P. Patriota estudou o culto às celebridades em um artigo intitulado “Paganismo eletrônico: Celebridades, Idolatria e Culto à personalidade”. No artigo, ela sustenta que “tais pessoas têm o poder de impactar sobremaneira a vida dos outros, que não raramente esta admiração assume ares de ‘devoção’, e se transforma em casos patológicos, fazendo com que os seguidores dessas celebridades criem um mundo paralelo onde passam a viver a vida dos seus ídolos.”

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Paetês, liquidações e um alg o a mais Se você está acostuO rico bordado dá lugar ao paetê, a renda guipir sai de cena e deixa mado com vitrines luxuespaço para a costura industrial de uma máquina. Tudo para diminuir o osas, lustres de cristal e preço, já que é assim que se vende numa comunidade mais simples. modelos de vendedoras Sem câmeras de filmagem ou aparelhos que detectam metais, as locom cabelos perfeitos, jas apostam no olhômetro como método de segurança. O pagamento certamente nunca estepode ser feito de várias formas, à vista, a prazo, ou “quando puder, dá ve em uma loja de bairuma passadinha aqui e acerta”, frase muito usada por Marilsa Vieira, ro. As boutiques, onde proprietária da loja Marilsa se paga pela marca e o Modas, no bairro Tabuleiro, Camboriú. cliente aposta na impressão de uma boa imagem, A loja simples não tem esbanjam tecidos caros suco geladinho e ar condie bajulações, é verdade. cionado, e vez por outra, Mas deixam a desejar no ainda sai uma criança quesito intimidade e, em choramingando por trás do alguns momentos, o rebalcão. É verdade também quinte chega a intimidar o que a vendedora não nos consumidor. leva até a porta e de vez em quando deixa escapar um Num bairro modesto “Ô, nega”. Mas é por isso de uma cidade pequena, que se compra numa loja a realidade é outra. As popular. Além dos preços roupas no balaio deixam bem mais baratos, a clienexpostas as melhores lite busca esse algo a mais quidações: peças variando e encontra o conforto, simde R$5,00 até R$20,00. É sempre assim na loja Lilac, no bairro Monte plicidade e quem sabe até Alegre, em Camboriú. Os preços acessíveis, tamanhos e modelos vauma vizinha para botar as riados, são as iscas para atrair as principais clientes: jovens trabalhafofocas em dia. P doras e donas-de-casa.

AS ROUPAS

NO BALAIO DEIXAM

EXPOSTAS AS OFERTAS

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Nas celas e nas vitrines Amábile Montibeller e Rafael Mônaco

Para alguns, apenas o trabalho; para outros, a vontade de voltar à liberdade o mais rápido possível. Detentos do Presídio Regional de Tijucas participam de um programa de emprego remunerado, que além de distraí-los, aos poucos diminui a pena. Em um presídio com capacidade para 120 detentos e atualmente comportando 360, 14% trabalham nesse projeto. Ideias como esta já são exploradas em outros presídios como o Presídio Regional de Itajaí e o de Florianópolis, porém o diferencial em Tijucas é a produção voltada para a indústria calçadista catarinense, e não o trabalho artesanal ou agrário como nos outros presídios. Segundo o gerente do Presídio Regional de Tijucas, Gabriel Aristo da Silva, atualmente trabalham 35 homens e 15 mulheres, divididos em três galpões instalados no pátio da penitenciária. A seleção de quem vai ou não trabalhar é feita pelo próprio gerente. Os presos se candidatam às vagas e quem apresentar bom comportamento, regime semi-aberto, estiver em final de pena ou for condenado por crimes mais leves tem preferência na hora da escolha. Há cerca de oito anos, um empresário da região da grande Florianópolis, Ronaldo Soares, teve a iniciativa de construir o primeiro galpão na penitenciária, já que ali se destacava uma grande mão de obra com potencial produtivo que poderia atender ao pólo calçadista de São João Batista – cidade próxima. Desde então, a produção não cessou. A princípio eram feitos os cabedais das sandálias, parte superior do calçado que envolve o “peito do pé”. Em alguns momentos, a produção era completa e os calçados saíam prontos. Entretanto, durante os anos, também foram produzidos grampos de roupa, redes, e bolas. Porém, a produção era em menor escala e, segundo o gerente, foi eliminada pelos repetidos extravios de mercadorias. Hoje, a fabricação está concentrada na confecção de palmilhas e o responsável é dono da Palmivalle, indústria já instalada em São João Batista. Segundo Diego Pimentel, sócio da empresa, 50% da produção total é feita no presídio, que conta com a fábrica há três anos. Ele garante que não há diferença alguma do material produzido na matriz, já que os detentos passam por um período de treinamento e são supervisionados por funcionários envidados pela própria Palmivalle. Edson Nunes, sócio da Fabiela Calçados, utiliza o material fornecido pela Palmivalle e ficou surpreso ao saber que parte da produção era feita no presídio. “Nossa! Eu nem sabia! Achei que era tudo feito aqui em São João”. Clauber Amorim, dono da Pienezza Calçados, diz que já sabia que havia produção no presídio e que assim como Edson, nunca percebeu diferença na qualidade.

PRESIDIÁRIOS DE TIJUCAS PRODUZEM PARA A MODA CALÇADISTA CATARINENSE

Palavra de Jornalista Julho 2009

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Amรกbile Montibeller

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Os presidiários trabalham cerca de oito horas por dia, das oito horas da manhã às cinco da tarde, com uma hora de intervalo. Essa rotina se dá de segunda a sexta-feira e a cada três dias trabalhados, um dia é reduzido da pena. Além disso, os presos são remunerados por produção. Segundo A. N., 28 anos, preso por homicídio que pediu para não ser identificado, seu salário como revisor rende por volta de R$ 100,00 mensais. Entretanto, Diego Pimentel não afirma o mesmo, segundo ele o salário médio de um detento é de cerca de R$ 700,00. Diego afirma ainda que o gasto é maior com os funcionários da matriz, já que estes são registrados e os presidiários não. Além disso, a indústria instalada na penitenciária é livre de impostos. Ivone Osório, 40 anos, está presa há cinco meses e diz que adora trabalhar nesse ramo -“já estou pensando que quando sair daqui, vou procurar uma empresa dessas para trabalhar”. Ela diz ainda que o seu rendimento é de oito a nove reais por dia, que totaliza no fim do mês, cerca de R$ 200,00. O gerente Gabriel da Silva relata que a maior parte do salário dos detentos é enviada à família, e que pagamentos acima de R$ 150,00 são guardados pela penitenciária por motivo de segurança. O dinheiro que fica ali é utilizado pelos próprios presos para a compra de produtos como pasta e escova dental, chicletes e até mesmo cigarros. Para que a compra seja realizada, os presos devem fazer uma lista com o que precisam e os agentes prisionais buscam no comércio próximo. O gerente ainda ressalta que este serviço não tem nenhum custo para os detentos e que a mercadoria é trazida com nota fiscal.

s o r u m s o d s Atrá

epara 120 d capacidade e m u te q a s a d c a Tiju dos c Regional de tros quadra e m o tr a u q O Presídio las de sessenta ce ntos. ais tentos. São por seis dete quatro agentes prision s a id id iv d o m sã s. a te re lh n a ta e b ili a lm tr m a is al, atu rança do loc lher) e mais três policia o tempo Para a segu u am ma m ntes não fic homens e u omo os age c er as necesis por dia (três d n ia te lic a o p ra s a o p m to e n ta m de nais sa Entretanto, a região, alé s entes prisio n g a a d s n O . ro io a d m todo no presí os incidente policiais faze clusos e os s nos divers a re c s iju o T d s e e d d a ia sid legac legas da de u me ajudar os co r nada. Eu vo s, ze fa o m o c l de Tijuca sair, não há da cidade. s quiserem dio Regiona “Se os preso mite o gerente do Presí a da penitenciária e nç ão!”, ad ão à segura gião. O gerente exmeter? Eu n a, em relaç ilv S a re n a d m a o lh st r uma ue traba q Gabriel Ari is ia lic eria como te o v p a e h d o ã ro n e , a m ú ss ao baixo n evitável. elião em ma caso de reb fuga seria in a m e e e ia u q tura nelíc a o p lic p nea da lta de estru tâ n fa a a st d in e a o id ã taç sídios, contrapart r da superlo e outros pre nal d sa e s p a to n , te to e n d Entreta nte que os resídio Regio gerente gara dos para o P ri e sf n a r relação tr r cessária, o ferem se iado, melho c re n p re í, e ja if a d It o e . como o d zões: trabalh enitenciária or diversas ra ização satisfatória da p de Tijucas p n rga ionários e o com os func

Com este cenário – mão de obra barata, isenção de impostos, qualidade de produção –, há motivos suficientes para que cada vez mais empresários se interessem por este tipo de investimento, a fim de otimizar seus serviços e seus preços e com isso, conquistar ainda mais o mercado.

O berço da moda calçadista catarinense São João Batista é a capital catarinense do calçado. Grandes empresas com destaque nacional e internacional são instaladas lá como Raphaella Booz, Ana Paula Calçados e Século XXX. Entre os principais clientes da Palmivalle está a Lia Line, cuja matriz fica em Nova Trento. A produção da indústria calçadista da cidade é voltada totalmente para o público feminino. O grande destaque é para as sandálias e botas que enfeitam as vitrines das lojas e se tornam sonho de consumo de muitas mulheres. Para esta temporada Primavera Verão, as indústrias de São João Batista indicam as tendências com tons de areia e terrosos que destacam a suavidade da pele feminina. Além disso, o strass continua indispensável nas coleções da maioria das marcas. Já os cortes mostram sandálias com várias tiras e diferentes recortes. P Palavra de Jornalista Novembro 2009

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Débora Queirós

Moda de Valor Débora Queirós e Roberta Watzko

SANTA CATARINA BUSCA DESENVOLVER UMA CULTURA DE DESIGN

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Um dos maiores pólos têxteis da América Latina e o segundo estado do país com o maior número de cursos de moda. É nesse contexto que Santa Catarina parece despontar no cenário da moda. Mas infelizmente, mesmo com toda essas potencialidades, Santa Catarina ainda não é referência na moda brasileira. Historicamente, o estado desenvolveu uma cultura de moda mais voltada para a produção do que para o setor de criação e design. As empresas têm uma qualidade e um volume muito significativo no setor fabril, só que possuem a fama de serem mais reprodutores do que criadores de moda. Segundo Graziela Morelli, especialista em Moda e criadora do site Santa Moda, Santa Catarina produz muito para empresas de outros estados, mas como o design desses produtos já vem pronto, o estado acaba não sendo reconhecido pelo potencial criativo. Os investimentos de algumas empresas e o aparecimento das escolas de moda têm como intenção mudar essa realidade. Continuar produzindo em grande quantidade e agregar valor ao produto com o design é a receita para o estado despontar. Mas, segundo Graziela, é preciso ainda que as empresas compreendam a importância do trabalho do designer e invistam mais em pesquisa e inovação. E para que uma região se torne pólo criador, não basta apenas fazer, é preciso comunicar. “Temos pouquíssimos veículos do estado com trabalhos especializados na área de moda e com representatividade fora de Santa Catarina. Enquanto se fizerem eventos apenas para o público consumidor, não haverá critica de moda desenvolvida e segue pequena a possibilidade de evoluir e ser divulgado”.


Santa Catarina promove mud anças Fundado por empresários da região, o Santa Catarina Moda Contemporânea (SCMC) tem como objetivo estimular o design em Santa Catarina, transformando a imagem do estado e fazendo valer um antigo projeto de integração entre escolas e empresas catarinenses. Segundo Bianka Cappucci Frisoni, diretora de comunicação do SCMC e coordenadora do curso de Design de Moda da Univali, a associação quer modificar a cultura de moda presente no estado, em que a característica familiar predomina nas empresas. “O SCMC é um formador de opinião e um garimpeiro de talento, é um projeto pioneiro em que os próprios empresários batalham por um mercado mais preparado e competitivo” afirma a diretora. Todo ano, as universidades realizam uma triagem e escolhem seus melhores alunos para representar a universidade e fazer uma coleção completa em parceria com as empresas. A diretora afirma que durante todo esse percurso, os alunos escolhidos vão aprendendo na prática a ter uma relação mais estreita com a indústria. Ainda lembra que a coleção é autoral, mas deve ter relação com o estilo da empresa. “A empresa não para a sua produção e continua com a demanda normal de entrega de pedidos e lançamentos. A coleção realizada pelos alunos é paralela”. Em março de 2010 será realizada a 5ª edição do SCMC como celebração das coleções desenvolvidas durante esse ano. O desfile vai reunir 13 indústrias, entre elas Dudalina, Hering, Marisol, Tecnoblu, Dalila Têxtil, Büttner, e 12 instituições de ensino de moda de Santa Catarina. Ao longo de um ano, os estudantes que compõem o SCMC participam de palestras, workshops e encontros sob a orientação do estilista Mario Queiroz, para se aprimorarem e desenvolverem a coleção.

Débora Queirós

Fazendo e acontecendo Natalie Kleinubing, 32 anos, empresária e estilista, começou no mundo da moda fazendo curso técnico de estilismo e faculdade de design. Quando se formou, Natalie resolveu investir na moda praia montando a empresa Brasileiríssima, toda pela internet. Começou fazendo poucas peças e vendendo também na casa de amigas. Com a participação de sócios investidores que acreditaram no seu trabalho, Natalie Kleinubing conseguiu montar a primeira loja. O processo de criação da estilista envolve estudo e combinação de cores, estampas exclusivas (criadas pela estilista), modelagem, recorte e também a influência das tendências. Todas as peças da marca, que incluem moda praia, fitness e underwear, são criadas por Natalie, que acredita que o ponto forte da sua marca é a qualidade. Na edição da revista Corpo a Corpo de janeiro de 2009, Daniela Sarahyba apareceu na capa com um biquíni da Brasileiríssima. Para a estilista, essa conquista significa o começo do reconhecimento do seu produto que é relativamente novo no mercado, tem apenas três anos. Sua marca já é conhecida do Rio Grande do Sul ao Rio de Janeiro. São mais de 20 lojas multimarcas que vendem seus produtos.

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Mas a estilista quer mais. Está na Mostra/Acessórios, a estilista fez o primeiro contato para exportação. As bolsas em contato com a Espanha e catarinenses foram enviadas para Tóquio, no Japão. a Arábia Saudita negociando A empresa Lunender, de Guaramirim, também é membro da SCMC e exporta suas uma possível exportação. peças para todo o Brasil. A fábrica dispõe de 10 estilistas e desenhistas em seu A estilista de bolsas e quadro de funcionários. Cibele Silva é uma das estilistas do setor de criação feminino empresária Bruna Starling já e infantil. Com apenas 26 teve contato com diversas anos, é técnica em Estilisáreas do design de moda mo pelo Serviço Nacional na faculdade, mas resolveu da Indústria - Senai e já trainvestir seu trabalho na criabalhou em empresas como ção e confecção de bolsas. a Marisol. A estilista conBruna dá muita importância sidera o mercado de difícil à pesquisa de materiais e acesso para quem é novo busca interpretá-los de mano ramo e acredita que inneira particular. “Costumo formação e atualização são ter sempre muitas referênessenciais. Além de ficar cias em mente e desende olho nas tendências, a volver as bolsas de acordo estilista também diz que com o estilo que venho uma pesquisa de mercado construindo a marca”. Brué necessária para a marca na Starling cuida da parte dar certo. No último ano, administrativa, de criação e a Lunender contratou uma de modelagem. Atualmente, empresa de pesquisas e são quatro pessoas na sua concluiu que seu público equipe trabalhando na conalvo era a classe C. “Este fecção dos produtos. público quer se vestir tão A estilista não tem loja bem quanto o da classe A, mas pagando menos em própria. O modo pelo qual está inserindo seu produto no mercado é com a particisuas roupas”, ressalta Cipação em feiras do segmento em São Paulo. “A minha primeira experiência foi em bele, afirmando que a criajulho de 2008 na Mostra/Acessórios, uma feira diferenciada. Em um ano, já partição é inspirada na moda de cipei de quatro feiras”. Com as participações em feiras, a empresária conseguiu Londres, Paris e Amsterdã. P distribuir seus produtos em oito estados brasileiros. Em sua terceira participação

PRODUZIR

EM GRANDE

QUANTIDADE E

AGREGAR VALOR

AO PRODUTO É A RECEITA PARA O

ESTADO DESPONTAR

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Lixo & Luxo Ariana Russi Deschamps e Mariana Reibnitz Vieira

Questão de consciência ou não, a moda sustentável é uma tendência cada vez mais forte mundialmente. Já não se trata mais de ser apenas ecologicamente correto, e sim uma questão de necessidade que muitas marcas já estão sentindo. O mundo da moda e do glamour é muito efêmero, a moda vai e volta e desencadeia o consumismo. Costuma-se criar uma imagem de que o que não está em alta no momento deve ser descartado e não será mais utilizado, gerando assim um acumulo de resíduos que já não se controla mais. Os grandes estilistas e as grandes marcas conseguem infiltrar novas ideias na cabeça das pessoas e induzi-las a gostar do atual. E por que não usar esse poder de convencimento a favor de um futuro melhor para o meio ambiente? É isso que a designer de moda Aline Tavares, 23 anos, sugere. “Já que está tão na moda ser ecológico, é bom aproveitar este momento para introduzir esta ideia”. Como prova de que é possível seguir as novas tendências e introduzir a sustentabilidade na moda, a designer, em parceria com a modelista Jéssica de Oliveira Ewers, 18, criou uma marca com a proposta de utilizar e reutilizar resíduos e não gerar lixo. Ambas também cuidam de um ateliê em Balneário Camboriú. Fazer moda com peças já usadas anteriormente não é uma tarefa fácil, mas é possível. Fundo de lata de alumínio e cloro usado para criar desenhos nas roupas descoloridas são bons exemplos. Com eles, camisetas, blusas, shorts e bijuterias são elaborados. Hoje, a moda reutilizada é ainda muito discriminada ou até pode-se dizer desconhecida. “As pessoas têm que ter a mente aberta porque a moda é passageira. A gente tem que pensar no futuro e ver que um dia iremos precisar dela”, defende Aline. Elas atraem todo o tipo de público, mas de qualquer jeito sempre tentam seguir a tendência que está na moda. “É claro que seguimos. O trabalho artesanal também tem estilos”, explica. De acordo com a designer, o Brasil está caminhando positivamente em busca de uma posição sustentável, embora algumas grandes empresas resistam em arriscar e mudar toda a sua ideologia. Ela acredita que Santa Catarina ainda está engatinhando, porém novas marcas com essa proposta já estão ganhando espaço.

ATRAVÉS DA IMAGINAÇÃO, RESÍDUOS PODEM VIRAR PEÇAS DA MODA NAS MÃOS DE CRIACIONISTAS

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Ariana Deschamps


Com inspiração e criatividad e,

O público “bicho grilo” É com esse termo que a artesã Tânia Belotto, 50 anos, define aqueles que se interessam e valorizam os trabalhos feitos com materiais reutilizados. Segundo a artesã, a maior dificuldade para quem cria peças de roupas ou acessórios a partir de resíduos é achar um nicho de mercado. “Agora eu encontrei meu público, é o pessoal que faz teatro, música, enfim, que trabalham com arte. É um público bem bicho grilo.” Para quem não conhece o termo, ele foi inventado por volta da década de 1970 nos ares do movimento hippie. Já para o artista plástico Mauro, muitas pessoas acham as peças lindas, porém não valorizam. “Sei que existe um público preocupado com o meio ambiente, mas ainda está muito longe. Há pouca gente que na hora de comprar uma roupa quer saber de que material é feito, se é sustentável”.

Ariana Deschamps

peças recicladas viram mod a Papel usado, tampas de garrafas, vidros de conserva, embalagens. Todos esses produtos, que são considerados lixo doméstico por muitos, tornam-se matéria-prima quando utilizados por artistas, designers e artesãos. Através da criatividade e da experimentação, eles desenvolvem seus trabalhos em prol do meio ambiente. Reutilizar, reciclar e refinar são palavras-chave. A moda possui um campo tão abrangente e rico que possibilita a esses profissionais criar diversos acessórios com materiais retornáveis. Para a professora de design de moda da Universidade do Vale do Itajaí, Maria Rosaime Cabral, 52, tudo que se possa imaginar pode ser reutilizado. E não são só peças inimagináveis. Em qualquer lugar se encontra material para essa finalidade, até num ferro-velho. “Cortina de caminhão é muito interessante, encontramos estampas belíssimas e diferentes, normalmente exclusivas dos fabricantes”, afirma a professora, que já utilizou as cortinas para criar capas de prancha de surfe no próprio Laboratório de Modelagem e Vestuário da universidade, local onde ministra suas aulas. Lonas de caminhão também são muito bem utilizadas, porém difíceis de encontrar porque devido à divulgação, o material tornou-se caro.

A arte de reinventar

O programa de capacitação profissional ‘Mulheres do Bairro’ é voltado para criar oportunidades de trabalho também visando à sustentabilidade ecológica. Durante as aulas, as estudantes desenvolveram bolsas utilitárias a partir de banners arrecadados pela instituição. Resíduos têxteis, que a profes-

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sora define como retornáveis, são muito valorizados. As sobras de tecidos de malharias são reaproveitadas e então transformadas em peças de roupa, bolsas e ainda mantas feitas com retalhos. Um dos motivos para o artista plástico Mauro Sérgio dos Santos, 50, trabalhar com reciclados é para provar que o lixo pode virar arte e ainda dar um retorno favorável à natureza. O artista lembra que produzir peças como as suas não gasta energia, usa somente a luz e o calor do sol. Assim como Mauro, a professora Rosaime diz que o processo de desconstrução e preparação do material reciclado requer muito tempo. A maior dificuldade que a educadora vê para o cenário da moda de reciclados é a resistência que algumas pessoas ainda têm em aceitar o valor cobrado pelas peças. “Elas acham que por ser reciclado tem que ser barato, mas não levam em ainda mais”.

tou e purificou cinco mil filtros encontrados nas ruas de Santiago, capital chilena, e criou um tipo de lã com aparência rústica. O processo de reciclagem utilizado por ela garante segurança à saúde. A tecnologia, criticada por muitos como destruidora do meio ambiente, pode ser utilizada para fazer novas descobertas sobre métodos de reciclagem. A acadêmica de design de moda Beatriz Barros, 20, acredita que atualmente o consumo consciente é bastante defendido e que diversas marcas dedicam sua coleção ao uso de meios alternativos. Ela vê como solução combinar materiais que proporcionem conforto e que não agridam o meio ambiente. “A tecnologia pode agregar na pesquisa a confecção de materiais que não causem impacto ambiental”, afirma a acadêmica. Na universidade, ela já cursou a matéria de Ecodesing que é voltada para esse tipo de moda consciente e exemplifica a fibra de bambu como uma boa alternativa. Para a futura design em moda, o público já adquiriu uma maior consciência em utilizar materiais alternativos, porém, como a demanda ainda é pouca, não é suficiente para conseguir a redução de preços. “Os consumidores optam, por exemplo, por um conta que o processo é tão trabalhoso ou algodão barato cultivado com agrotóxicos ao invés de uma peça de vestuário feita com A tecnologia a favor do meio ambiente algodão orgânico, que é encaNo início deste ano, a designer chilena Alexandra Guerrero desenvolveu um recido”. P tecido misturando lã natural com bitucas de cigarro recicladas. A designer cole-

ARTISTA PLÁSTICO

PRODUZ PEÇAS

COM LONGA

DURABILIDADE SEM

GASTAR ENERGIA, COM A FORÇA DA

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LUZ DO SOL


Falsificação na moda Luiza Gama e Vanessa Tasca Ribeiro O preço é tentador, a aparência pode até confundir; mas a compra de um produto falsificado prejudica não só o mercado econômico, como pode trazer problemas para quem o adquire, desde frustração quanto aos quesitos qualidade e durabilidade, até danos à saúde após o uso contínuo de um tênis, por exemplo. Segundo Marcelo Salem Belo, chefe do setor aduaneiro da Receita Federal de Joinville, existe muita confusão entre o que é um produto falsificado e um produto contrafeito. De acordo com o artigo 184 do Código Penal, pirataria é o que viola o direito do autor tendo intuito de obter lucro direto ou indireto com a prática. Já o produto contrafeito é o que imita marcas, fazendo uso do meio ou processo que é objeto de privilégio, sem autorização do respectivo concessionário ou cessionário. E existem ainda os que não imitam marcas, mas não são autorizados, sendo produtos impróprios para consumo. O Ministério da Justiça, através do Conselho Nacional de Combate a Pirataria – CNCP está com novos projetos e estratégias para combater a pirataria. No dia 18 de outubro de 2008, o selo “Brasil original – compre essa atitude” foi apresentado junto com o projeto, que tem como principal foco a educação e conscientização dos consumidores quanto aos malefícios na compra de produtos falsificados. Ainda para este semestre, o CNCP apresentará o Portal de Combate à Pirataria, site interativo com textos educativos e idéias promocionais. Pretende ainda, buscar com provedores de internet uma maneira de bloquear a oferta de produtos falsificados na web. Mesmo tendo conhecimento dos malefícios de produtos falsificados, 42% dos brasileiros confessam ser adeptos ao uso deles. Os números são da pesquisa feita pela Federação de Comércio do Estado de São Paulo - Fecomércio, com mil pessoas de 70 cidades e 9 regiões metropolitanas, em 2007. Depois de dois anos da pesquisa, o que se observa é que o comportamento dos consumidores não mudou e grande parte dos brasileiros ainda compra esse tipo de produto. As justificativas são as mais variadas. Entre elas, o principal argumento é o preço mais baixo aliado à vontade de estar na moda. A cada mudança de estação, grandes marcas como Dior, Dolce & Gabbana ou Giorgio Armani lançam novas tendências de óculos escuros e com elas, chegam imitações com preços bem mais acessíveis a grande parte da população. Um modelo original dessas marcas pode chegar a custar R$2.000.00, enquanto no camelô, o mesmo modelo contrafeito pode ser adquirido a partir de R$10,00. A diferença no preço também reflete na qualidade do produto e o que muita gente não sabe é que usar essas falsificações pode sair mais caro do que comprar um modelo original.

PRODUTOS CONTRAFEITOS PODEM TRAZER MALEFÍCIOS À SAÚDE DOS CONSUMIDORES

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Vanessa Tasca Ribeiro

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As lentes de óculos falsificados não têm filtro solar. Com a sensação de pouca luz, as pupilas se abrem recebendo diretamente os raios ultravioleta UVA e UVB. Os prejuízos causados aos olhos não serão notados de um dia para o outro, mas em longo prazo, essa exposição indireta à luz solar pode provocar queimaduras na córnea, catarata e, no pior dos casos, a cegueira. Quem não está disposto a gastar muito por um modelo de marcas conhecidas, pode adquirir modelos também de qualidade em lojas especializadas. Joice Leone Wippel Vinheski trabalha há 15 anos no mercado de óticas e atualmente gerencia três. Ela explica que numa ótica, as lentes são fiscalizadas e é necessário um ótico registrado. Os óculos de marca são comprados em São Paulo na representante Luxo Ótica, e os preços são mais ou menos tabelados. Ela ressalta que existem óculos a partir de R$40,00 com lentes muito boas. Ao ser questionada sobre falsificação, Joice declara que a pior época foi em 2001, quando abriram várias lojas no centro de Balneário Camboriú e os clientes ficaram curiosos. Mas hoje não se sente afetada pelo mercado pirata, “as pessoas normalmente compram uma vez só óculos falsificado, depois percebendo a má qualidade do produto, voltam a comprar com a gente”, explica.

eiro

Vanessa Tasca Rib

de ú a s à e u q a t A Os óculos não são os únicos produtos em que percebese a má qualidade com o uso frequente. Os tênis falsificados pecam quanto à tecnologia, sistema de amortecimento e material com que são feitos. O professor de Educação Física, Mário Lisboa Coutinho, explica que “os tênis falsificados quando usados na prática desportiva, podem causar danos à coluna, joelhos, tornozelos e calcanhares, porque não possuem o sistema de amortecimento adequado e assim, todo o impacto no solo é transmitido diretamente para as 33 articulações do pé, aumentando a possibilidade de fraturas”. Além disso, dependendo do tênis, o impacto nas articulações pode ser até 15% maior e a distribuição da força da pisada no tênis, 14% menos balanceada. Mesmo quando utilizados em aulas semanais na escola, esses tênis podem causar danos para quem os utiliza. Justamente por isso que o gerente da loja esportiva Marcelo Esportes, Eduardo Loos, que trabalha no ramo há oito anos, não acha ameaçador o mercado da pirataria. “Até os vendedores de tênis falsificados compram os deles originais, aqui na loja, porque conhecem a má qualidade do produto que vendem”. Os tênis falsificados da marca Nike, por exemplo, custam em média R$150,00 enquanto um original pode chegar a R$700,00. E o preço reflete também na durabilidade do produto, que estraga com muito mais facilidade que de um original. Assim, o barato acaba realmente saindo caro. O que se economiza ao efetuar a compra perde-se no quesito qualidade e ainda pode causar problemas maiores a troco de estar na moda. Existem produtos de qualidade com preço acessível, mas que não exibem as marcas conhecidas ou são de marcas nacionais. E então cabe lembrar que personalidade é ser original. É justamente provar que seu valor está na sua atitude consciente e não nas roupas que veste, porque a pirataria é alimento de uma prática que desconhece a taxa de impostos, um mercado que desrespeita as leis. É crime, pratica concorrência desleal e alimenta as facções criminosas. P

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Celso Peixoto

Balneário Fashion é Show

Ariston Sal Junior e Carlos Magagnin

EVENTO CONFIRMA A PRESENÇA DO MUNICÍPIO NO CENÁRIO NACIONAL DA MODA 25 Palavra de Jornalista Novembro 2009

Em sua nona edição, o Balneário Fashion Show promove em Balneário Camboriú, o encontro do requinte e das novas tendências do mundo da moda com uma platéia seleta e ávida por novidades. Marcas famosas do cenário nacional e lojas conhecidas da cidade desfilam pela passarela montada no novo shopping, localizado no bairro dos municípios, a partir do dia 15 de outubro. Quem faz as honras da casa e inaugura oficialmente o evento é a Sandra Duwe Jóias, que apresenta sua coleção para esta nova temporada. Sandra tornou-se referência em matéria de refinamento e bom gosto ao apresentar em sua coleção peças com seu estilo único, facilmente identificado pelo estilo contemporâneo, chique e original. Um estilo Hippie Chic “Very Cool”, como se diz no mundo da moda! A mais catarinense das grifes, a Colcci, será encarregada de encerrar os desfiles deste ano, com muito barulho. A marca nascida em Brusque promete para o verão 2010, o estilo street wear, despojado e sensual. Em sua nova coleção, a Colcci apresenta ainda um clima de looks “detonados”; tantos nos jeans, nas barras desfiadas e rasgados, quanto nos casacos de tricô, amplos e com furos. De acordo com a estilista Jéssica Lengyel, a inspiração nasceu de um Diário de Praia e da Califórnia dos anos 90. A moda feminina também promete na coleção Colcci para o próximo verão 2010, com shorts curtíssimos; vestidos plissados na barra; corte evasê/ trapézio e bastante movimento. Bermudas e calças jeans de gancho baixo e barriga de fora, também são presença, afinal, estamos falando de verão. Para os homens, a pedida são camisetas de malha leve semitransparentes, regatas, calças jeans com barras dobradas e bermudões. Destaque para as camisas masculinas bem decotadas.


A moda ferve no litoral Em ponto de ebulição, a equipe de produção do Balneário Fashion Show já voa baixo para a nona edição do evento. Entre os dias 15 e 18 de outubro, a cidade receberá 18 desfiles que trarão o melhor da coleção verão 2010. Marcas importantes e consagradas no mundo da moda, como Colcci, Beagle, Lez a Lez, Nakisska Luxo, Planet Girls e Iriá, ditam o ritmo da festa. O BFS traz 50 modelos que transitam com frequência no mercado internacional. Elas subirão à passarela nas três noites dos desfiles adultos. No domingo à tarde, a passarela já está reservada para a criançada nesta segunda edição do BFS Kids, sucesso do ano passado que se repete. A estrutura de sala mais horizontal, utilizada com sucesso na última edição, será mantida, assim como a área de convivências integrada. O BC Shopping, que recebe mais uma vez os desfiles, coloca à disposição sua estrutura de estacionamento, banheiros, seguranças e praça de alimentação.

Parceria é a base do BFS

Um grande evento é feito com grandes parceiros e um projeto como o BFS não poderia ser diferente. Uma rede sólida de relações e processos garante o sucesso da empreitada, afinal, estamos falando de nove edições de muito glamour. Os aliados para esse ano agregam valor ao evento. Além do Balneário Camboriú Shopping, principal parceiro, o BFS esse ano conta com o prestígio da Vivo empresas. “Estávamos há dois anos em negociação com a Vivo, e ela veio no momento mais bacana. No momento em que o evento apresenta seu amadurecimento e sua consolidação”, comemora a produto-

ra executiva Fabiana Gill. O Brava Beach Internacional, projeto recém-lançado na região, também aposta suas fichas no BFS. O produtor artístico Alexandre Padilha, conta que o empreendimento vai trazer um novo conceito de viver bem, com conforto e qualidade. “Isso é bacana porque impulsiona a cidade como um todo”, avalia Padilha. Uma parceria que se repete é a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e a Contém 1g, que tem no BC Shopping a segunda loja conceito no Brasil. Padilha diz que o BFS não teria atingido o status que atingiu, senão houvesse o apoio desses parceiros e tantos outros, tão caros e tão importantes. “Ainda estamos fazendo as pessoas pensarem num todo. Tem muita gente caminhando sozinha. E isso torna o caminho mais longo”. O produtor diz que o caminho é em direção a uma clareza maior de mercado, “um amadurecimento coletivo”. Com isso, acredita Padilha, ganha a cidade, o comércio e o consumidor. “É um processo mais generoso em que todos saem ganhando”. Especialistas na área tendem a dizer que a Moda, sim, essa mesma, com M maiúsculo, deixou de ser futilidade, ao entrar para o jornalismo onde ganhou peso e força. Hoje, só o esporte ganha em volume editorial. Isso tudo sem contar que tudo está relacionado à moda, desde os mais simples acessórios, como brinco, colares e óculos, até celulares, apartamentos e carros. Tudo busca o consentimento, o carimbo de aprovação do Mundo Fashion. Um evento de moda do porte do BFS serve para promo-

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ver o comércio. Pessoas são atraídas para pólos de moda, isso traz clientes para a cidade e evita a evasão de capital. Referência de qualidade de vida, beleza, sofisticação e bom gosto, Balneário Camboriú é o lugar ideal para receber o BFS, assim como o BFS é o evento ideal para abrilhantar a cidade. “Temos aqui as mesmas marcas que Rio, São Paulo ou Nova York. O BFS conscientiza as pessoas de que comprando aqui, o comércio cresce mais rápido. Esse é o nosso papel”, acredita o produtor.

DESFILE DE GRANDES MARCAS DO PAÍS ATERRISSA NAS AREIAS DE UMA DAS MAIS BELAS PRAIAS DO BRASIL

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Lojas, marcas, glamour Com a promessa de grandes surpresas para os desfiles, as lojas e marcas já estão com suas turbinas aquecidas. A famosa estreante no BFS, Lez a Lez, transborda frescor em sua nova coleção. São blusas e vestidos estampados, além dos acessórios ricos em detalhes como texturas, franjas e tachas para envolver a platéia. A Beagle reafirma seu contato com a natureza e a liberdade em vestir, como nas edições passadas e alia um estilo despojado a uma consciência ecológica em camisas, pólos, t-shirts, calças e acessórios. A grande promessa, Iriá, optou por mostrar um caminho suave para vestir o verão. Tecidos ultrafinos surgindo amassados, encerados em recortes e drapeados suaves. Flores e pétalas contornando alças dão um toque romântico à coleção. Promessa de um verão inesquecível. A Nakisska Luxo buscou nos quatro elementos da natureza: terra, fogo, água e ar, sua inspiração. Para a coleção primavera-verão 2010, cada elemento da natureza referese a subtemas ilustrados por estampas exclusivas que formam uma variação que vai do étnico ao floral. A Planet Girls aposta nos trópicos, estilo de vida de mulheres que são puro glamour e na estrela Danielle Winits, para purpurinar a estação mais quente do ano. A coleção “Perfect Summer” exprime as idéias que vieram à tona a partir de duas inspirações. Por um lado, os trópicos e seus visitantes, em plenas férias de verão, por outro, o estilo de vida, ou lifestyle, das grandes celebridades que reinaram em tempos mais glamurosos, quando as formas corporais mais amplas, sem exageros, e sensuais, eram admiradas e evidenciadas. A Colcci irá mostrar na passarela do BFS a mesma coleção desfilada na São Paulo Fashion Week. Mas não teremos a musa Gisele Bündchen. Esse é apenas um aperitivo do que será o BFS. O evento promete ainda muito mais. P

Celso Peixoto


O alfaiate da multidão Daniella Medeiros e Talita Rodrigues

Fita métrica no pescoço, agulha e linha na mão. É assim que Daniel da Silveira passou 64 anos de sua vida. Conhecido como “o alfaiate da multidão”, Daniel é o mais antigo profissional de alta costura para homens em Joinville. Hoje, prestes a completar 79 anos, continua exercendo seu ofício que já não é mais tão requisitado quanto foi anos atrás. No dia em que completou 14 anos de idade, o pai de Daniel disse que já estava na hora de lhe arrumar um trabalho. A mecânica não poderia ser, já que Daniel não apresentava porte físico para isso. Disse então, que a alfaiataria seria uma boa escolha. No dia seguinte, Daniel já saiu falando para todos os seus amigos: “eu vou ser alfaiate”. Trabalhou voluntariamente em uma alfaiataria, durante três anos, para aprender o ofício. Fez seu primeiro terno para um amigo que lhe pediu. E, no dia 6 de setembro de 1954, sem saber que este era o dia do alfaiate, abriu sua própria loja no centro de Joinville. Lá a placa anunciava o slogan inventado por ele mesmo: Daniel, o alfaiate da multidão. Com a ajuda de propagandas de rádio criadas pelo próprio Daniel, a alfaiataria cresceu e se tornou competitiva no mercado de moda masculina. Ele conta que o tempo médio para fazer um traje completo é de dois dias, mas na época, com o auxilio de outros costureiros, sua alfaiataria chegava a produzir nove trajes por dia. Com certa nostalgia, Daniel relembra os tempos de elegância da cidade. “Antigamente, as pessoas faziam um terno e compravam um chapéu. Hoje, chapéu é pra quem tem cabeça!” – brinca ele. A elegância é a principal admiração do alfaiate que lamenta não haver mais o hábito de se usar terno. “Eu mantenho até a gravata, honrando a minha profissão”. Daniel também relembra as épocas em que muito trabalhava. Como no Natal quando, antigamente, as pessoas faziam ternos especiais. Hoje, ele diz que nem nos casamentos se faz questão de um bom terno: “se o padre deixasse, casariam de

HÁ 64 ANOS, DANIEL FAZ TRAJES MASCULINOS ARTESANALMENTE EM JOINVILLE

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Talita Rodrigues


personalizado, o trabalho sempre foi um pouco mais caro. A briga entre alfaiates e lojas era tão forte que Daniel chegou até a responder em um anuncio de rádio. Uma loja havia colocado no ar a propaganda “Não compre roupa feita, compre roupa bem feita”. E Daniel, com sua perspicaz criatividade para frases bonitas, colocou uma propaganda no rádio que dizia: “Não compre roupa feita, roupa feita por mais bem feita, nunca é perfeita!”. Criar slogans e anúncios é um dos talentos de Daniel. Anunciou em várias emissoras de rádio da cidade, durante muitos anos, e sempre escreveu os textos. Em um deles, inventou um personagem que não tinha o que usar. “Adão não se vestia porque Daniel não existia”. A frase virou marca do alfaiate e é lembrada até hoje por muitos moradores de Joinville. Mas apesar da habilidade com as palavras, Daniel diz que a alfaiataria é seu verdadeiro dom. “A minha profissão depende de dom, tem que ter vocação”. E foi por isso que Daniel aprendeu seu ofício com facilidade e entusiasmo, mas, mesmo tendo habilidade suficiente, nunca deixou de estudar. Daniel participou de muitos encontros e congressos de alfaiataria no Brasil inteiro e até em outros países. Fez cursos no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre. Participou de eventos em São Paulo, Montevidéu no Uruguai e na encantadora Santiago, no Chile. Em todos os lugares que passou, fez amigos e aperfeiçoou sua profissão. Em uma de suas idas a Santos, conheceu

As propagandas de Daniel

a escola de alfaiate da Febem e trouxe para Joinville a ideia de ensinar alfaiataria aos presos. Infelizmente, o projeto não deu certo, mas outra sugestão foi acatada pelo então prefeito Luiz Henrique, hoje governador: a de criar um curso na rede municipal. Graças a Daniel, o curso foi criado e serviu para prolongar um pouco mais a profissão. O que Daniel lamenta é a quantidade mínima de pessoas que acabaram por se formar antes de o curso acabar por falta de procura. Assim como o atual governador Luiz Henrique da Silveira, que lhe ajudou nos projetos quando prefeito, muitas outras personalidades foram vestidas pelo alfaiate. O governador Pedro Ivo Campos usou muitos ternos feitos pelas mãos de Daniel. O ex-prefeito de Joinville Marco Tebaldi também recorreu aos seus serviços e tomou posse vestindo um de seus elegantes trajes. De cabeça erguida, com os olhos distantes e um leve sorriso no rosto, Daniel se enche de orgulho ao contar seus feitos durante tantos anos de trabalho. E, apesar de ser conhecido no Brasil inteiro, o alfaiate da multidão também se sente orgulhoso por sua cidade. “Daniel da Silveira, até morrer, nascido e criado em Joinville, sem vontade de sair” – brinca ele. Com tantas histórias e lembranças, o alfaiate da multidão permanece junto a seus tecidos na nova loja que hoje é também sua casa. O orgulho pelo seu trabalho e a dedicação são seus companheiros em dias que se distanciam daqueles que o fizeram ficar conhecido em Joinville e no resto do Brasil como Daniel, o alfaiate da multidão. P

Adão não se vestia Porque Daniel não existia Agora se veste, Adão Tem Daniel, o alfaiate da multidão Cada roupa tem seu tempo Cada tempo uma estação Uma roupa para qualquer tempo Só no alfaiate da multidão Não compre roupa feita Roupa feita por mais bem feita, nunca é perfeita O símbolo de elegância e perfeição É Daniel, o alfaiate da multidão Talita Rodrigues

bermuda e chinelo”. O Chile foi um dos lugares que mais o encantou pela distinção dos trajes. Em uma de suas viagens a convenções, Daniel observou os ternos lá usados até por crianças, como uniforme de escola. E mesmo trabalhando para homens, não deixou de perceber que naquele país até as mulheres se vestiam bem, elegantes, “só usavam saia”. Hoje, a preocupação com a elegância já não é mais o principal motivo para a procura de um alfaiate. Daniel diz que a maioria de seus fregueses são pessoas que não conseguem encontrar uma roupa adequada em lojas. Ou são muito altos, ou mais gordos do que o normal, ou até os baixinhos que têm braços e pernas curtas e o terno vai sempre além de seu tamanho. A concorrência entre lojas de roupas produzidas em série e alfaiatarias já existia nos gloriosos anos de Daniel. Mas ele conta que aos poucos, os alfaiates foram perdendo espaço porque as pessoas que estavam dentro dos padrões de medidas encontravam facilmente roupas adequadas e mais acessíveis. Isso porque, como a alfaiataria é um tipo de artesanato

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Arquivo Pessoal

Elas não podem chorar

Graziela Mertens

Era junho de 1997 quando o dono da agência Ford Models, Décio Ribeiro, me chamou para fazer um teste internacional. Não fazia muito que eu havia aterrissado em São Paulo após uma viagem ao Japão. Minha vida durante alguns anos foi assim: minha casa, apenas uma mala. Este tipo de teste com agências internacionais já não era novidade. Aquele mês foi exaustivo. Estava gravando um comercial para o carro Gol. Acordava todos os dias às 4h porque tinha que estar às 5h na produtora para fazer maquiagem e colocar um vestido de noiva que era costurado no meu corpo e depois disso, eu não podia sentar. No cabelo, uma grinalda, que parecia estar presa ao meu cérebro; tomava algumas aspirinas para passar a dor de cabeça ao longo do dia. Décio me ligou no meio da gravação e disse que eu havia sido aprovada para ir trabalhar na Coréia do Sul. Eu seria uma das primeiras brasileiras a conhecer o mercado de trabalho daquele país. Aceitei a proposta, mesmo sabendo que iria embarcar em quatro dias. Não tive tempo de passar no consulado Coreano para dar entrada no visto de trabalho. Brasileiros não precisam de visto de turista se permanecerem até 90 dias. O que poucas pessoas sabem é que para fotografar, filmar ou desfilar em outros países, as modelos viajam sem visto de trabalho, só com visto de turista. A situação é mais ou menos assim. Na maioria dos países, se trabalham após os primeiros meses, elas recebem uma proposta para comprar um visto, como nos Estados Unidos, por exemplo. O Japão é o único lugar em que as modelos saem do Brasil já com seu visto para trabalhar.

O RELATO DRAMÁTICO DAS DORES QUE A VIDA DE MODELO PODE TRAZER

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A viagem e o drama Mesmo vendo diversos tropeços de muitas modelos, nunca pensei que iria passar por algo parecido. Estava ansiosa para conhecer outro país. Entrei no vôo da Air France com destino ao Aeroporto Internacional Charles de Gaulle em Paris, onde fizemos uma conexão e pegamos outro vôo para a Coréia. Depois de aproximadamente 24h, cheguei ao Aeroporto Internacional Incheon, em Seul, na Coréia do Sul. Quanta emoção! Lembro-me que a primeira coisa que fiz foi comprar uma maquina fotográfica nova que esqueci 20 minutos depois dentro do ônibus. Hoje acho que era um mau presságio. Seul, em 97, se preparava para as Olimpíadas. A cidade estava em construção. Cheguei à minha nova casa, onde dividi um quarto com uma canadense. Além dela, moravam um alemão, um mexicano, uma romena e uma menina norte-americana de 14 anos, Brandy, com sua mãe. A Coréia do Sul foi o país em que eu mais trabalhei. Fiz um catálogo numa ilha chamada Jeju, onde as pessoas pescavam e comiam os peixes ali mesmo, dentro barco, sem lavar ou fritar, apenas com catchup e mostarda. Um dia resolvemos sair à noite para conhecer os barzinhos da cidade. Fiquei impressionada com a quantidade de militares americanos nestes locais. Depois descobri que os Estados Unidos possuem uma grande base militar no país. Acabei dormindo na casa de outra modelo brasileira chamada Juliana Cogo. Às 4h, começamos a ouvir um grande barulho na porta. Assustei-me. Os policiais invadiram o apartamento pedindo os passaportes. Fomos colocados dentro de um camburão e levados até a Polícia de Imigração Coreana. Era uma segunda-feira. Lá permanecemos praticamente todo o dia numa sala, chorando, sem comer nada e

sem saber o que estava acontecendo. Quase todos os modelos da agência estavam lá, até a menina Brandy. Saímos dali por volta das 18h e fomos encaminhados à prisão da policia de imigração. A única coisa que sabíamos é que não tínhamos visto para trabalhar. O prédio era cinza, escuro e, o elevador, parecia mais um necrotério. O quinto andar era onde se encontravam todas as pessoas que estavam ilegais no país. Havia solitárias onde dormiam os homens e uma sala enorme onde ficavam as mulheres. Elas dormiam no chão, ainda bem que não era inverno. Havia aproximadamente 25 mulheres presas ali. Os homens eu não sei exatamente porque ficavam nas solitárias, só sei que tinha um padre espanhol que estava preso lá há mais de dez anos e não conseguia voltar para seu país porque não tinha dinheiro para pagar o bilhete de volta. Chinesas, mexicanas e espanholas faziam parte da ala feminina. Algumas estavam ali por prostituição. Chorei a noite inteira, o que mais queria naquele momento era falar com alguém da minha família, mas as mulheres não tinham direito a ligações. No outro dia, todos os modelos da agência foram colocados lado a lado numa sala de interrogatório. Permanecemos lá por 9h respondendo a um inquérito, tudo em inglês. Descobrimos que o dono da nossa agência era procurado na Coréia. Os policiais sabiam que tínhamos entrado numa roubada, explicaram como funcionava o esquema. Depois disso, os homens ligaram para suas famílias. Desesperada, me escondi entre o Jean Michel, o canadense e o Rex, meu amigo alemão. Eles me deram cobertura e liguei para minha família. – “Alô, pai sou eu, estou presa me tira daqui”. Essas foram as únicas palavras que

Arquivo Pessoal

Durante 11 anos da minha vida, a moda foi meu ganha pão. Trabalhei em mais de 20 países. Acompanhei diversos casos de modelos que não conseguiram entrar na Europa ou Estados Unidos, como Ana Paula Araújo, que chegou a ser deportada para a Suíça quando tentou ir à Itália. Na época, ela tinha apenas quinze anos e não sabia que precisava levar um bom dinheiro para passar pela imigração italiana, foi mal orientada. Mas Ana não desistiu, a menina que saiu do Acre, onde morava numa Kombi com seus pais, uma irmã e um irmão, virou Top Model. Hoje, fala quatro idiomas, mora em Nova York e é tão conhecida lá quanto Gisele Bündchen.

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Arquivo Pessoal

consegui dizer antes de levar uma coronhada na orelha. Quando falo com meu pai sobre este dia, ele sempre me diz: - “Você me envelheceu 10 anos em cinco segundos”. Enquanto era encaminhada para a cela com a orelha sangrando, meu pai no Brasil procurava meu irmão e entrava em contato com o Itamaraty, em Brasília. Na quarta-feira, o dono da agência já nos procurava. Na quinta-feira pela manhã recebi um comunicado que voltaria para o Brasil num voo da Varig naquela mesma noite. A única coisa que me passou pela cabeça, naquele momento, foi que gostaria muito de tomar um banho antes de embarcar. O cônsul brasileiro passou à tarde para me visitar e meu único pedido foi um banho. No banheiro não havia privada, era um buraco no chão e o chuveiro, uma pequena torneira que precisei me agachar para usá-la. Quando comecei a tirar minha roupa, percebi que havia uma câmera filmando todos os meus passos, não sei exatamente o que eu senti, se foi nojo ou raiva. A solução foi tomar um banho de gato. Por volta das 18h vieram me buscar. Despedi-me daquelas pessoas com quem passei praticamente todo tempo conversando e cantando. Naquele momento, senti uma tristeza profunda, sabia que muitas delas iriam ficar ali por muitos anos. Abracei forte Xiam uma chinesa de 70 anos. Ela não falava inglês, mas naquele momento, ninguém precisa falar nada. Olhei a cidade de Seul pela janela do avião pela última vez. Percebi que estava exausta, foi o primeiro momento em que pude relaxar. Encostei-me à cadeira macia e dormi, sonhei com minha próxima viagem. P

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Por trás das passarelas Camila Purim e Mayara Gutjahr

OS BASTIDORES DA CARREIRA REVELAM O QUE SE ESCONDE ATRÁS DE CORPOS ESCULTURAIS

Luzes de todas as cores e flashes por todos os lados, música envolvente, decoração personalizada e olhares atentos para a passarela. Entre passos bem definidos, rostos desenhados, semblantes centrados e posturas alinhadas, manequins desfilam muito mais do que trajes, sapatos e acessórios. Por trás de maquiagens bem feitas, roupas exclusivas e de muito glamour, estão sonhos, desejos e expectativas. Manequins e modelos são profissionais da moda que se dedicam a uma carreira que tem hora certa para começar e terminar. Enquanto o primeiro desfila nas passarelas, o segundo trabalha com fotografias e comerciais. Segundo Jorge Moura, proprietário da Agência Fashion, de Balneário Camboriú – credenciada da Elite Model, uma das agências mais conceituadas do segmento – um modelo precisa aliar beleza e comportamento. “Os melhores modelos não são os mais magros ou os que têm uma cara bonita, mas aqueles que têm um bom comportamento. Eu, particularmente, não acho a Gisele Bündchen linda, mas as pessoas que trabalham com ela dizem que se precisar permanecer durante uma semana em uma aldeia indígena, ela permanece. Não existe tempo ruim”. Jorge Moura, que trabalha há 15 anos transformando anônimos em rostos conhecidos, afirma que o mercado catarinense está melhorando gradativamente. As empresas estão procurando por profissionais qualificados e, consequentemente, os cachês também subiram. De dois anos pra cá, os valores duplicaram. Para um desfile, por exemplo, os modelos iniciantes recebem para cada dia de evento, entre R$ 120,00 e 150,00. Para comerciais e trabalhos fotográficos, o valor varia entre R$ 500,00 e mil, dependendo do tempo de veiculação e de exibição. Palavra de Jornalista Julho 2009

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Rafael Huppes

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m i f e o i e m , o i c í n I Para ser um bom modelo é preciso: Responsabilidade acima de tudo; Disciplina e bom senso. Isso inclui pontualidade, disposição e desinibição; Dormir cedo na véspera de um trabalho. Olheiras? Jamais! Nunca querer escolher a roupa ou a produção. Não reclame do cabelo, muito menos da maquiagem; Saber se virar. Viva a independência! Levar parentes e namorados para os testes é o maior mico;

Mas, a vida daqueles que vivem em cima de passarelas ou dentro de estúdios fotográficos não é tão simples. Os bastidores da carreira são capazes de revelar uma vida de renúncias, desafios, inseguranças e de medos por vezes insuperáveis. “Mentira. Esse é o meu maior receio no mundo da moda. Isso porque existem falsos caçadores de talentos que fazem mil e uma promessas e quando chega a hora do trabalho, não é nada daquilo que foi proposto. A gente assiste na televisão casos em que as modelos são convidadas para ir ao exterior e, na verdade, elas são usadas em casas de prostituição. E eu tenho consciência que isso pode acontecer com qualquer um, basta não tomar cuidado”. Foi dessa maneira que a jovem modelo de 16 anos, Evelyn Martins Andrade, falou sobre a realidade da profissão. No entanto, ela considera tentador o fato de ficar famosa e de ganhar muito dinheiro. Por enquanto, Evelyn precisa conciliar as aulas do 2° ano do Ensino Médio, o curso de Inglês e os compromissos na agência de modelos. “Eu quero terminar os meus estudos, mas caso eu tenha alguma oportunidade de ir para fora do estado com a chance de me destacar no mercado, eu vou. Santa Catarina, pra mim, não valoriza a profissão”. A distância de casa, a saudade da família, a falta da comida da mãe e do aconchego do lar são reclamações frequentes dentro de um camarim. O responsável pela Agência Fashion enfatiza, ainda, que os profissionais passam por muitas outras situações antes de chegar ao estrelato. E isso, quando chegam. Muitos desafios precisam ser vencidos e muitos desaforos precisam ser relevados para que um lugar de destaque seja conquistado no mundo da moda. “Eu não contrato gente ‘fresca’. Os adolescentes que vêm até aqui têm que gostar muito do que fazem para poder seguir em frente. Sabe os catálogos de verão? Então, todas as fotos são batidas no inverno. Os modelos são fotografados de biquini, na praia, e passam o maior frio. Sapatos e roupas apertados, estilistas grosseiros, horas e horas de testes e de fome, também fazem

E o mais importante: simplicidade e simpatia.

Rafael Huppes

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parte da realidade. Os modelos, O modelo revela também, que os bastidores da carreira são cheios de histórias. “Em principalmente em início de carum comercial de perfumes que fiz na Alemanha, por exemplo, eu vivi uma vida de rei. reira, passam por tudo isso para Só fiquei em hotéis luxuosos e comi em restaurantes caros. Por outro lado, abandonei ver a imagem publicada e ganhar a filmagem de um comercial de uma grande magazine internacional de roupas porque dinheiro”. estava de saco cheio de tanto esperar”. Entretanto, quando os moOutra questão abordada por Rodrigo Baldissarela é o fato de os modelos serem tratados delos e manequins conquistam como mercadorias pelas emoportunidades e se fazem notar presas contratantes e até pelas em um mercado tão voraz e conpróprias agências. Ele afirma que corrido, eles podem aceitar ou para cada fase da carreira, o morecusar propostas, abdicar ou delo ou o manequim recebe um permanecer com a vida que titratamento diferente. “Como eu nham antes do reconhecimento. tinha certo respeito no mercado Este é o caso de Rodrigo Baldise conhecia muita gente do ramo, sarela, que já foi considerado o como produtores e fotógrafos, eu homem mais bonito e o modelo não era tratado como um produmais bem pago do Brasil. to. Mas no começo, eles podem Hoje com 38 anos, o gaúcho fazer de você um bonequinho de Palmeira das Missões revela que tem que obedecer a todos os que sua carreira de quase 20 comandos. Para os manequins anos foi marcada por vários ainda é mais complicado, porque trabalhos importantes dentro e eles precisam ser considerados fora do Brasil e que, se pudesse o número um e viajar muito mais voltar no tempo, faria tudo de para poder ganhar dinheiro e renovo e sem mudar absolutaconhecimento. Foi por isso que mente nada. “Comecei de leve, eu escolhi o lado comercial”. fazendo uma coisinha ou outra Apesar das dificuldades, o no Rio Grande do Sul. Participei ex-modelo garante que é preciso de concursos importantes, fui amar muito a vida e a rotina de agenciado pela Elite Models e um modelo, porque não é fácil. quando me dei conta, já estava “Eu não tinha mais vida privada, nem tempo livre e vivia longe de em São Paulo fazendo comerciais importantíssimos para marcas conhecidas, como casa. Tinha que estar sempre à Coca-Cola e Brahma. O meu primeiro trabalho veiculado nacionalmente foi uma propadisposição. Em compensação, ganda para a Parmalat. Ganhei uma boa grana e aí pensei pô, com isso dá pra ganhar existem lados muito positivos. dinheiro e ficar sossegado”. Rodrigo, que largou a faculdade de Direito para investir Eu conheci muitas pessoas, na carreira, conta que no começo, a família ficou desconfiada, mas que todos deram viajei pra caramba e ganhei um a maior força quando perceberam que era uma profissão promissora e que ele estava P bom dinheiro”. conseguindo se manter financeiramente.

OS BASTIDORES DA CARREIRA

SÃO CAPAZES DE REVELAR UMA

VIDA DE MEDOS,

POR VEZES

INSUPERÁVEIS

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Click! Desejo realizado Paola Donner e Talita Corso

Pense rápido nas primeiras marcas e modelos de roupa, sapatos e acessórios que lhe vêm à cabeça. Viu?! Foi necessário menos de dez segundos para você poder citar, pelo menos, cinco marcas diferentes. E o motivo pelo qual você lembrou é o mosaico de imagens produzidas pelas fotos de um desfile, catálogos de moda, ensaios fotográficos e fotos gigantescas de outdoor espalhadas nos diversos lugares pelos quais você passa todos os dias. Pronto! Você acaba de entender, de uma forma simples, a etapa principal do processo de divulgação da moda: a fotografia. Ela não é nem a primeira e nem a última etapa do processo produtivo da moda. Está posicionada no meio desse procedimento e tem o intuito de ligar a idéia inicial do estilista ao consumidor final. Há quem afirme que as marcas de nome consagrado no mercado vendam pelo simples fato da peça pertencer à determinada grife, e que publicidade, campanhas e ensaios fotográficos são meros detalhes. Realmente há roupas que são procuradas pelos consumidores, que não necessitam de um algo a mais para despertarem o interesse. Mas você saberia citar alguma marca dessas que não investe em publicidade ou não nos bombardeia constantemente com fotografias que despertam o desejo de consumo?

UMA FRAÇÃO DE SEGUNDO VENDE O GLAMOUR DO MUNDO IDEAL PARA PESSOAS DO MUNDO REAL

a? Produção: como funcion Há três etapas para a realização de um trabalho comercial: Pré-produção: fase conceitual, em que o fotógrafo deve entender a idéia do cliente e transformá-la em uma imagem. Após essas definições, a equipe de produção é formada e são reservados os locais de realização do trabalho. Produção: é a realização do trabalho fotográfico, o fotógrafo coloca em prática seu conhecimento e técnicas. Pós-produção: é o tratamento final das imagens é realizado para corrigir pequenas imperfeições. Palavra de Jornalista Julho 2009

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Fotógrafo: Gilson de Rezende Modelo: Jonas Seidler Empresa: Jonas Seidler - arquivo pessoal Cidade: Balneário Camboriú Ano: 2008

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O trabalho do fotógrafo e o p rocesso de produção

O papel do fotógrafo é mais do que apenas tirar boas fotos. “Além de fotografar, temos que preparar orçamentos, fazer reunião com clientes, organizar o trabalho e editar as imagens. Geralmente, a contratação dos modelos, maquiadores, cabeleireiros e demais profissionais necessários para ter uma boa e confiável equipe de produção também é responsabilidade dos fotógrafos”, conta Daniela Müller, fotógrafa Blumenauense. Ela atua no mercado da moda fotografando desfiles, catálogos, editoriais, eventos e book desde 2004. Um trabalho comercial exige bastante tempo, estimado entre dois a três meses, uma boa equipe de profissionais e muita criatividade. Gilson de Rezende, de Balneário Camboriú, afirma que um ensaio com fotos conceituais rende, em média, 20 fotos por dia devido ao clima, à luz e ao cansaço dos modelos, pois é um trabalho minucioso. “É muito melhor fazer um trabalho conceitual, mais artístico, em que você tem plena liberdade de exercitar sua criatividade. Já a foto publicitária é a que vende mais e financeiramente é mais compensadora para mim. Não deixa de ser artística, mas é preciso priorizar as escolhas do seu cliente, ou seja, você segue um roteiro”. O jovem fotógrafo, de apenas 25 anos, admite que cada profissional tem sua metodologia e chama a atenção para um pequeno detalhe: o tecido da roupa. “Fotografar jeans não é o mesmo que fotografar roupas de cetim ou linho. Cada uma exige particularidades como luz e ângulos diferentes, além da aparição da marca”.

"Para mim, fotografia é poder mostrar, através da arte, aminha visão sobre tudo o que vejo!" (Gilson de Rezende - fotógrafo)

Fotógrafo: Gilson de Rezende Modelo Deborah Secco Campanha: "MIX Jeans" Cidade: El Calafate - Argentina Ano: 2008

na A influência da imagem hora da compra Quantas fotos relacionadas à moda você vê em um dia? Saber esse número é uma tarefa impossível, pois, para qualquer lugar que olhamos, esbarramos em propagandas de roupas, comercial de sapatos e acessórios. Hoje em dia, os meios de comunicação e o marketing expandem rapidamente, buscando cada vez mais clientes e a crescente de vendas, visando exclusivamente o lucro. Em meio a tantas ofertas, as marcas buscam alguma forma de destacar-se das demais e, mais uma vez, a fotografia é o principal diferencial. Estudante do 7º período do curso de Moda, Suelem Becker sabe que não basta apenas ser um bom estilista para vender e reconhece a importância da fotografia na divulgação da sua futura profissão. “Vivemos em uma época pós-moderna em que a linguagem vai se modificando depressa, e o fotógrafo deve ter a sensibilidade para perceber isso. O mercado satura com tanta informação e pouco diferencial, é então que o papel do fotógrafo torna-se essencial: ele ajuda a criar a identidade da marca”. O design dos produtos tem papel importante na hora de conquistar e, principalmente, fidelizar clientes, mas os

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investimentos no visual da “Quero igual à dela!” marca trazem um excelente A Makenji, marca catarinense de roupa, investe na publicidade em revistas feminiretorno para a empresa. Cernas. “Colocamos um ensaio fotográfico numa revista de grande circulação e, em menos tamente, a fotografia tem uma de uma semana, acabaram os estoques da saia que a modelo estava vestindo”, revela influência muito grande na Ana Cláudia Camargo, gerente da loja em Balneário Camboriu. hora da compra, é o principal A grife valoriza toda profoco do marketing e venda do dução de moda com grandes produto. investimentos em campanhas “A crescente desenfreada e marketing. Ana Cláudia fala da comunicação e do markeainda da importância da interting, faz com que as imagens net. “O site tem a campanha tenham grande importância em fotos e em vídeo, além de o no mercado. Tudo o que a todo making off. A empresa já mídia vende está relacionada fez análises que comprovam a à imagem. A propaganda e a eficácia da internet no aumento fotografia, mais do que nundas vendas, isso é ótimo”. ca, são a alma do negócio”, Já no ramo de sapatos, boldiz Daniela Muller. sas e acessórios, a Luz da Lua, Gilson de Rezende contambém de Santa Catarina, incorda quando dizem que a veste nos catálogos de moda. imagem é importante para “Além do site com os produtos, posicionar o produto no mertemos um mailing com o cadascado e criar sua identidade. tro de nossos clientes, o que nos “Há marcas que têm sua própermite enviar o catálogo para a pria forma na fotografia e um casa dos clientes. Assim eles exemplo é a United Colors of analisam melhor os produtos e Benetton. Em todas as suas chegam à loja com a ideia certa campanhas, realizadas pelo famoso fotógrafo Oliviero Toscani há mistura de raças, do que quer comprar. Se a gente geralmente brancos e negros, mistura de cores fortes em cima de um fundo totalmennão manda, eles ligam pedindo”, te branco. Eles não precisam mais escrever o nome da marca de forma totalmente afirma Márcia Andréia, gerente legível, pois, quem vê suas fotos publicitárias, já associa seu estilo à marca”. da loja em Balneário Camboriú. P

EM MEIO A

TANTAS OFERTAS,

A FOTOGRAFIA

TORNA-SE O PRINCIPAL

ARTEFATO DE

DIFERENCIAÇÃO

"Fotografia é muito mais do que técnica, você tem que buscar a inovação e o diferencial. Uma fotografia é muito mais do que uma bela foto, existe linguagem e expressão!" (Daniela Müller - fotógrafa) Fotógrafa: Daniela Müller Modelo: Luana hillesheim Empresa: Daniela Muller Fotografias - arquivo pessoal Cidade: Rio do Sul Ano: 2009

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Em busca dos flashes Juliano Flôr e Thiago Caminada

AS JOVENS MODELOS VÊM GANHANDO ESPAÇO NO MUNDO DA MODA, MAS APENAS 1% DELAS VIVERÁ DISSO

Sob um olhar severo e crítico, regidas pela música Love Generation de Bob Sinclair e pelos gritos da professora Malu Busarello, quarenta meninas desfilam de um lado para o outro, no terceiro andar do Itajaí Shopping. Caminham de forma ensaiada em meio a cadeiras espalhadas pelo chão, que demarcam o formato de uma passarela. Param em frente ao espelho, fazem uma pose e voltam para o final da fila. O circuito é repetido diversas vezes, variando apenas o percurso e a pose no espelho. A professora corrige uma a uma, detalhe por detalhe. Desde o requebrado no andar, até a retidão da coluna, o movimento de vai-e-vem dos braços e o esticar das pernas na paradinha para posar. Quando o erro é grave, o sermão é proporcional: “Presta atenção! Vocês estão na fila fazendo o quê?”, grita Malu para uma garota que errou sua saída de passarela. As meninas ensaiam para o desfile que irá acontecer em duas semanas. O grupo dessas quarenta meninas é bem eclético, diferentemente do que é visto nas passarelas mundo afora. Algumas magras, esbeltas, esguias como no padrão de modelos profissionais. Outras, nem tanto. Algumas nem sabem como será seu corpo na fase adulta, afinal têm apenas cinco anos de idade. Todas elas frenquentam semanalmente, durante 10 meses, o curso de modelo. Não são somente corpos a carregarem roupas e acessórios caríssimos, são meninas cheias de sonhos e esperanças. Logo no primeiro piso do Itajaí Shopping, encontramos Gabriela Cunha. Uma negra de pele bonita, cabelo volumoso de caracóis pequenos e bem definidos. No salto, se aproxima do 1,80 de altura. Sozinha, em pleno sábado, ela recepciona as pessoas na loja do curso de modelo. Mesmo sem aparentar, Gabriela tem 14 anos de idade. Quer terminar o Ensino Fundamental para correr atrás dos seus sonhos. “O meu é conhecer Paris, é viajar, ajudar minha família”, revela com sorriso no rosto e brilho no olhar.

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Juliano Fl么r

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Mesmo sendo tão pedinheiro. Só em Itajaí, a média de crianças e adolescentes formados como modelos quena, os sonhos de Idalupe pela Agência Master, responsável pelo curso, chega a 100. No buscador Google, a exBento, de 9 anos, são ambipressão “casting para crianças” resulta em 303 mil páginas de internet relacionadas. ciosos. A menininha quer ir Incontável é o número de jovens e crianças que padecem nas filas desses eventos. para São Paulo e Rio de JaIncontável, também, é o número de reprovações. neiro trabalhar como modelo. “Desde o começo, a gente recebe não. Tem que saber encarar tudo isso”, conta Começou o curso há apenas Naiara. As gêmeas destacam uma semana, mas já sabe que o mais difícil é conseguir o que quer. “Gosto de deso primeiro trabalho, porque as filar, de fazer pose, de tudo”. agências preferem as meniQuem sabe, um dia, ser nas que já estão inseridas no como a Gisele Bündchen. mercado. “São muitos nãos As gêmeas idênticas que tu levas. Isso vai aconteNara e Naiara Alves, de 16 cer sempre, mas sempre têm anos, já participaram do aqueles que vão querer”. curso oferecido no shopping Por de trás do sucesso e hoje fazem diversos desde Alessandra Ambrósio, Ferfiles, inclusive na televisão nanda Lima ou Ana Hickman, local. São morenas, de pele existem milhares de outras bronzeada, longos cabelos mulheres. Muitas que tencastanhos e olhar penetrantaram, sonharam e lutaram, te. Esteticamente, a diferenmas poucas que chegaram ao ça mais gritante é que Nara glamour da profissão. Segunusa aparelho nos dentes e do a professora Malu BusaNaiara não. Cheias de hisrello, de cada quatro meninas tórias para contar, elas conque passam pelo curso, uma fessam seus medos sobre a delas é absorvida pelo mercacarreira de modelo. do de trabalho regional para “Tem que ser muito perfeiras, recepções, desfiles feitinha”, afirma Naiara, com e ensaios. Já no cenário nacerto tom de indignação. cional, a estimativa é de que cada 20, apenas uma consiga “Eles falavam que nos éramos um cabide e não podíamos falar nada. Só fazer o que trabalhos. “Porém, apenas 1% os clientes pedissem – diz Nara. No começo eu achava muito estranho. Hoje nem ligo delas vai viver somente disso”, mais, sei que é isso mesmo“, complementa com naturalidade. Mas o maior incômodo afirma Malu. da carreira é a rejeição. Quando questionadas Espalhados pelo país, cursos de modelo, castings para atores mirins de televisão, sobre a possibilidade de fraconcursos de beleza arrebanham milhares de crianças e jovens prometendo fama e

"ELES FALAVAM

QUE NÓS ÉRAMOS UM CABIDE E NÃO PODÍAMOS FALAR

NADA. SÓ FAZER O

QUE OS CLIENTES

PEDISSEM"

Juliano Flôr

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Preparando para o futuro cassarem e serem obrigadas a desistir da carreira de modelos, Nara e Naiara se surpreendem. Essa é a única vez em que as garotas trocam um olhar, durante toda a entrevista. É um olhar carregado de incerteza. Depois de alguns segundos de hesitação, Naiara, como em todas as outras vezes responde na frente da irmã: “Todo dia a gente pensa que não vai dar certo, de tanto não que recebe. Tu não sabes se vai dar certo, tu nunca sabes”. Já Gabriela Cunha é mais esperançosa: “Se não der certo, eu tento de novo. Quantas vezes já fui para São Paulo fazer testes e levei um não na cara e estou aqui de novo! Deste sonho, eu sei que não vou desistir”.

Juliano Flôr

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Quem não se lembra dos bebês Johnson´s? Ou do programa Gente Inocente, apresentado por Márcio Garcia? O mercado infantil é promissor, tanto que o curso de modelos da Agência Master aceita crianças a partir dos 5 anos de idade. Para Malu Busarello, responsável pelo curso em Itajaí, a oportunidade é boa. “Muitas vezes trabalha como criança e depois não trabalha mais, então porque não aproveitar?”. A professora destaca ainda que muitos pais procuram o curso para bem educar seus filhos. “Temos aulas de etiqueta, postura, nutrição, ética profissional”. É o caso de Bia Maes, que tem dois filhos matriculados no curso. “Um curso como esse não é só para aprender a desfilar e fazer pose ou tirar fotos. Eles mudaram muito desde o começo do curso”. Malu acredita que o que é aprendido nas aulas vai além das passarelas, “prepara a pessoa para a vida em sociedade e para o mercado de trabalho”. Para a psicóloga Tatiana Cardoso de Oliveira, atividades como essa podem trazer diversos benefícios. Mas ela adverte, “não se deve forçar a criança à vida profissional antes do tempo. E isso não acontece só com a moda, qualquer atividade realizada ao extremo prejudica”. Com 10 anos, Gabriela Cunha começou o curso. “Eu não tinha intenção nenhuma de fazer, foi mais pela minha mãe. Era um sonho antigo dela, ela sempre quis ser modelo”. Obviamente, ela não gostou nenhum pouco do curso, mas depois de conversar com sua mãe, passou a se dedicar mais e hoje é o sentido de sua vida. Nara Alves sempre gostou da vida de modelo, “queria que a minha mãe tivesse me colocado desde cedo, eu colocaria minha filha. Eu acho lindo”. Entre todas as entrevistadas, algumas manifestaram o mesmo problema de Gabriela, mas nenhuma delas se disse estar obrigada ali. PPP


Intimidade à flor da pele Cibele Córdova e Stephani Loppnow

O APELO DA MODA ÍNTIMA CATARINENSE MOSTRA MAIS QUE UMA SIMPLES RELAÇÃO COM O EROTISMO

Se você gosta de uma boa comédia, enquanto saboreia uma salgada pipoca e um refrigerante bem refrescante, certamente, já deve ter assistido O Diário de Bridget Jones. O filme, inspirado no livro de mesmo nome, conta a história de uma cidadã obcecada por dieta, fumante e levemente embriagada, interpretada pela atriz Renée Zellweger. Ou, supomos que você não tenha assistido o filme. Mas, provavelmente ouviu falar sobre a cena em que antes de uma relação sexual, o ator Hugh Grant se depara com uma calcinha digamos, enorme, e exclama um “Uau, mamãezinha!”. A verdade é que independente do tamanho, cor, estilo e design, todas as mulheres usam lingerie. Afinal, esta é uma das peças mais importantes do guarda-roupa feminino. Calcinhas, sutiãs ou conjuntos servem não só para a própria higiene e conforto, mas também para aflorar os sentimentos e despertar a sensualidade num relacionamento. É aí que entram os conjuntos mais elaborados, muitas vezes classificados por estilo e ocasião como casual, fashion ou luxo, por exemplo. Isso sem levar em conta as fantasias eróticas. Os homens assumem papel igualmente importante, já que além de apreciar a lingerie no corpo das mulheres, também fazem moda com as cuecas. Setor em expansão, pois há uma maior exigência no que se refere aos produtos. A simples cueca de algodão bege ou branca é substituída pela variedade de cores, cortes e fibras de alta tecnologia. Por isso, mais do que simples categorias para homens e mulheres, tudo o que se refere ao que está “por baixo dos panos” é considerado como Moda Íntima.

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Cibele C贸rdova

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De acordo com a coordenadora do curso de Design de Moda da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) Bianka Cappucci Frisoni, essa mudança de comportamento voltada ao mais liberal se deve à independência das mulheres e à rotina do dia-adia. Muitas trabalham fora e os homens agora precisam sair para comprar suas próprias roupas, o que antes era tarefa da esposa. “Como o perfil da decisão mudou, eles começaram a prestar mais atenção em cores e modelagens, passando a acompanhar tendências. Algumas fecham na frente, outras têm fecho eclair. A abertura pode ser vertical ou horizontal ou com recatados botões. Também podem ser tipo samba-canção, boxer, tradicional, slip e até fio-dental”, exemplifica a coordenadora. O fato de os homens estarem menos constrangidos na hora de procurar uma roupa íntima, tanto para si como para presentear suas parceiras, deve-se também ao contexto sócio-cultural em que se permite consumir o que dá prazer, segundo a psicóloga Vanessa Guerra. “Os homens se sentem mais responsabilizados pela satisfação sexual da mulher, pois sabendo dessa satisfação, sabem de sua potência como homem”.

Ilhota como capital Apesar de o maior pólo desse mercado ficar no Rio de Janeiro, principalmente na cidade de Friburgo, Santa Catarina também é destaque. A cidade de Ilhota é considerada a capital catarinense da moda íntima e de praia e possui ao longo da rodovia Jorge Lacerda, um corredor com 76 lojas relacionadas ao setor. Em termos de arrecadação de impostos, a área da confecção representa aproximadamente 25% do movimento econômico, além da geração de dois mil empregos diretos, de acordo com o presidente da Associação Comercial de Ilhota, Norival César Floriani. “O desenvolvimento começou quando grandes empresas de Blumenau investiram fora da região, sobrando mão-de-obra local. Então, essas costureiras, estilistas, balconistas e talhadores iniciaram a produção em garagens ou quartos atrás de casa. O popular “fundo de quintal”.

Houve motivação de produção e as vendas aumentaram”. Para ele, a confecção da moda íntima e de praia trouxe uma identidade para a cidade, com base no turismo de compras, não só por causa da quantidade, mas também da criatividade dos produtos. Outro fator importante se deve ao trabalho artesanal e de detalhe, que tornam as peças praticamente únicas e diferentes da lingerie tradicional. Em Ilhota acontece também o Delamip, Desfile de Lançamento da Moda Íntima e Moda Praia, que já está na sua 7ª edição. O evento apresenta as novidades e tendências do mercado, além de reunir compradores e consumidores de todo o Brasil, que podem fechar negócios e conhecer os produtos de Santa Catarina. A designer Marielli Yaghi explica que o que ainda falta para o estado é “aproveitar uma memória multicultural para criar e vender

Cibele Córdova

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sua moda, como faz o Rio de Janeiro”. A independência feminina, todavia, nem sempre aconteceu. Em tempos passados, a mulher foi considerada uma propriedade de seu marido, reprimida quanto aos sentimentos e desejos. Além disso, as roupas íntimas deveriam ficar muito bem escondidas, mesmo que isso representasse a falta de conforto. O primeiro modelo de calcinha a aparecer no mercado, chamado de calção ou pantaloon, chegava abaixo dos joelhos ou até os tornozelos. No livro “Por baixo dos panos – a história da calcinha”, a autora Rosemary Hawthorne fala sobre uma calcinha feita de um tecido “cor de carne” semelhante ao das meias finas. “Consta que ele foi adotado apenas pelas mulheres importantes e por algumas das damas mais ousadas da sociedade ocidental, sintonizadas com a vanguarda da moda”.

de cima. Por exemplo, alças de sutiãs com modelagens diferenciadas para dar conta dos mais variados decotes de blusas e vestidos. “As peças são estudadas e adaptadas a uma consumidora mais exigente. É preciso atender a diversidade de perfomances das mulheres, que num dia são mais românticas, no outro mais ousadas”, completa Rosângela Luiza Pereira Burille, coordenadora de marketing de uma das empresas do segmento. A temporada de verão 2009/2010, de acordo a coordenadora do curso de Design de Moda da Unifebe, Graziela Morelli, deve acompanhar as tendências do vestuário: estampados florais miúdos e cores mais delicadas e românticas para as lingeries, e para a moda praia, estampas geométricas e referências étnicas, seja africana ou oriental. Fabrícia Schneider Cordeiro desenha as peças de uma das empresas mais conceituadas de moda íntima de Ilhota e complementa, “as rendas vão ter vazados maiores, estilo rede, e muita transparência. A cor para 2010 é o amarelo ouro, e o coral, que seria o alaranjado forte. As peças vão vir também, com bastante franjas e babados.”. Assim como no filme O Diário de Bridget Jones, as peças íntiDesign em perspectiva mas dão muito o que falar. Quando Após o movimento feminiso proprietário da Eloeth Lingeries, ta e a consolidação da liberdade, João Luiz Cordeiro Neto, é questiocoube aos designers o desafio de desenvolver uma roupa que atennado se aprova na prática os prodesse as necessidades do consumidor. Deve-se considerar a questão estética, a sendutos que fabrica, ele olha corado sualidade, o conforto e a praticidade para cada corpo, para cada medida e situação. Até para a esposa, abre um grande porque, a escolha de uma lingerie certa faz a diferença. Também é levada em conta a sorriso e enfatiza que “Com certeergonomia (tamanho dos seios e largura das costas, por exemplo) e a relação com a peça za... Coooom certeza!” P

A MUDANÇA DE

COMPORTAMENTO PARA O LIBERAL SE DEVE À

INDEPENDÊNCIA

DAS MULHERES E

À ROTINA DO DIA-A-DIA

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Tatuagem: a moda na pele Guilherme Flores e Natan Bernardo Baldo

DE PRÁTICA MARGINALIZADA A UM ADORNO ADERIDO PELOS MAIS VARIADOS GRUPOS SOCIAIS

Preto e branco, em colorido, cobrindo partes inteiras do corpo ou estampando pequenos detalhes. A cada verão que se aproxima, na medida em que as roupas começam a encurtar, as tatuagens passam a chamar atenção nos corpos. São peças que têm se superado em tamanho e até em ousadia. Proibida, marginalizada e até mesmo associada a criminosos em diferentes períodos da história, a tatuagem vem se tornando uma prática muito procurada por diferentes tipos de pessoas. Não importa a idade ou os interesses pessoais, todos procuram os estúdios para gravar algum desenho na pele. Se estivéssemos na Europa durante a Idade Média, isso seria algo impensável devido à proibição imposta pelo Papa Adriano I, que considerou a tattoo uma espécie de vandalismo contra o próprio corpo. Outro exemplo que merece um capítulo à parte é a Yakuza, organização criminosa que nasceu no início do Século XVII e existe até hoje no Japão. Lá, durante muitos anos, a tatuagem foi associada aos membros da máfia, que tinham costume de tatuar o corpo inteiro – prática conhecida como body suit. Curiosamente, os temas orientais foram difundidos mundo afora e estão entre os mais procurados atualmente.

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Natan Baldo

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Diversidade de estilos A moda na tatuagem: ? s o íz ju re p u o s io c fí e n e b A cidade de Balneário Camboriú pode ser considerada um dos centros mais ecléticos da região no que diz respeito ao estilo. Uma cidade que atrai grande número de estudantes e trabalhadores durante todo o ano – e que chega a quadruplicar sua população no verão – apresenta também grande número de tatuados. Quando questionado sobre o estilo mais comum de seus clientes, Ramony de Souza demonstra bem o nível de expansão da tatuagem: “Já tatuei de bandido a polícia”, afirma. Tatuador há quase 20 anos, Ray trabalha no estúdio Ramsés Tattoo, ao lado do amigo Ramsés Diego de Souza – os sobrenomes são apenas coincidência. Os dois não se dizem apenas tatuadores. “Muito tatuador acaba de fazer uma tattoo e vai para o bar, jogar sinuca, fazer outras coisas. Aqui, quando terminamos um trabalho, começamos a pensar em outros. Ou pintamos um quadro, desenhamos... Somos tatuadores por profissão, mas acima disso, somos artistas”. Diferente do que se pensa, os clientes mais recorrentes não são os turistas, mas amigos ou parentes de outros clientes que, satisfeitos, indicam os serviços de Ray e Ramsés. Um movimento que tem se espalhado e, hoje, os filhos acabam levando para os estúdios os pais e, em alguns casos, até os avós. Mais uma evidência de que a tatuagem tem um número crescente de adeptos.

Guilherme Flores

Natan Baldo

Muito se fala entre os tatuados que a moda acaba banalizando a arte. Quando questionado sobre esta relação tênue entre moda e tatuagem, Ramsés trata de diferenciar as práticas. “Quando uma menina se veste de pin-up e tem algumas tatuagens no mesmo estilo, eu acho massa! Monta um estilo”. Para o tatuador, é diferente de alguns desenhos que marcam época simplesmente porque um grande número de pessoas o gravam na pele sem um significado especial. Já foi o caso das famosas estrelas nos ombros, fadas, borboletas e outros desenhos comuns. A moda pode também incentivar as pessoas a criar coragem para procurar um estúdio e tatuar algo que realmente tenha significado em sua vida. Nos últimos anos, parte desse incentivo veio também da televisão, que, além de mostrar mais pessoas tatuadas, criou programas de sucesso segmentados especificamente na tattoo. É o caso do Miami Ink, série reproduzida no Brasil pelo canal pago People+Arts. O programa, que já encerrou sua produção nos Estados Unidos, retratava o dia-a-dia do Love Hate Tattoo Studio, que foi rebatizado com o mesmo nome da série durante sua exibição. Ao longo dos episódios, que eram gravados na cidade de Miami (Flórida, EUA), são mostrados não só o processo de tatuagem, mas o envolvimento dos clientes com a arte e suas histórias – mostrando a tatuagem como forma de celebração de momentos importantes, luto pela morte de entes queridos ou a representação de um episódio especial na vida. A comprovação de que houve sucesso nessa produção foi a derivação que ocorreu para outros lugares, seja como uma nova série regular, no caso do Los Angeles Ink, ou de episódios es-

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peciais, como chegou a aconum campo no qual a tatuagem se separa da moda. tecer no Rio de Janeiro, com Um destes casos é o de Márcio Uriarte. O gerente comercial de 45 anos levou dois para o Rio Ink. tomar a decisão de fazer uma tatuagem e escolher um tema que realmente lhe marcasse. O mesmo tipo de histórias “Reforçou os laços familiares, pois não é de minha personalidade ceder a modismos”. E qual retratado durante a série pode foi o motivo que fez Márcio mudar de idéia? “O pedido dos meninos e da Fátima para que eu ser encontrado aqui no Brasil. fizesse”. Meninos são os filhos DaNos episódios, os clientes niel, Rafael e Gabriel, e Fátima, a esbuscavam a tatuagem por posa. Todos já possuíam tatuagens motivos que iriam desde os e tiveram trabalho para convencer o mais íntimos, como a morte pai a juntar-se a eles com uma tattoo de pessoas da família ou o de uma figura estilizada representannascimento de um filho, até do a justiça, ligada à sua formação motivos relacionados a faprofissional. Márcio conta, inclusive, tos de repercussão mundial, que sua decisão foi bastante “negocomo aqueles que perderam ciada” em família, e o momento do amigos nos atentados ao “sim” chegou a ser comemorado por World Trade Center em setodos. Apesar de ainda ter algumas tembro de 2001, ou na Guerra restrições quanto às tatuagens mais no Oriente Médio. Por aqui, agressivas, Márcio sente-se satisfeinão é difícil encontrar gente to com a decisão e com o resultado com nome dos pais ou dos fifinal do trabalho. lhos gravados, ou até mesmo Esta é uma prova de que, por mais retratos realistas, feitos por que a tatuagem pareça não se enquatatuadores tão competentes drar na personalidade de uma pessoa, que fazem com que o desenho pareça uma gravura colada na pele. com bons motivos e o incentivo certo, qualquer um pode ter um pouco de tinta na pele. Pode ser pelos motivos Laços eternos mais íntimos, para guardá-los consigo A família, aliás, é um dos maiores motivos que leva pessoas a se tatuarem. Alguns ou mostrá-los para todos que queiram consideram que isso se deve ao fato de que dificilmente alguém se arrependeria de ter ver. Ou pode ser por pura moda, por em sua pele algo que lembre seus pais, filhos, avós ou irmãos, diferente de um cônjuge, que não? Mas a tattoo veio para ficar, por exemplo, ou algum desenho que represente uma ideologia que pode ser abandonada isto é um fato. P ou modificada com o tempo. Pensando desta forma, pode se considerar que a família é

"SOMOS

TATUADORES POR

PROFISSÃO, MAS ACIMA DISSO,

SOMOS ARTISTAS"

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O ABC da moda gestante Carla Querobim, Danúbia Melo e Paula Casagrande

DURANTE A GRAVIDEZ, É IMPORTANTE SEGUIR AS TENDÊNCIAS DA MODA SEM DESCUIDAR DO CORPO

Quando se está grávida, há grandes dificuldades em saber como se vestir, e que tipo de roupas usar para sentir-se confortável. A indecisão torna-se ainda maior, pois a forma física muda e as peças preferidas já não servem mais. Esperar um filho não é motivo para que a futura mamãe se descuide ou deixe de lado sua sexualidade. É possível adaptar o seu estilo às mudanças que o corpo sofre nesse período. Os profissionais da moda procuram sempre valorizar o corpo da grávida. E não é porque se está nesta fase que as roupas devem dobrar de tamanho em questão de dias. A personal stylist, Fabíula Bianchini lembra que as mulheres devem acompanhar o corpo durante a gravidez e comprar novas peças somente quando as que estão no guarda-roupa não servirem mais. “Muitas vezes, empolgadas com a novidade, as mulheres podem adquirir roupas maiores do que o necessário, ou que não prezem pelo seu conforto, e acabam não servindo no futuro.” Ela recomenda ainda que as gestantes adquiram roupas que possam ser usadas durante os vários meses da gravidez. A recepcionista, Aline Souza, 30 anos, revela que durante a gestação, o que mais lhe preocupava era o tipo de roupas que iria usar em festas e eventos sociais. “A grávida chama a atenção por natureza e eu tinha medo de exagerar no tamanho dos vestidos. Parecia que, ao entrar no salão, todos estavam olhando para mim e para a minha barriga. Depois de alguns meses, pude perceber a grande quantidade de roupas bonitas e adequadas que as lojas oferecem e fiquei mais tranquila”. Ela acrescenta ainda que nos últimos meses da gravidez, engordou muito e algumas pessoas que encontravam com ela perguntavam quando os gêmeos nasciam. Aline disse que nunca se importou, pois sabia que realmente estava muito inchada e ainda brincava dizendo que logo eles nasceriam. Palavra de Jornalista Julho 2009

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Nas lojas especializadas em moda gestante, podemos encontrar peças para cada etapa da gestação. A vendedora Rejane Lopes, 36 anos, diz que as vendas são altas o ano inteiro. Há 4 anos no ramo, ela nos conta que as peças mais procuradas são os macacões, vestidos com cintura alta, camisetas, calças de algodão, batas e bermudas. Tudo muito solto, prezando sempre pelo conforto. Já para os pés, as escolhas mais frequentes, são as sapatilhas e sandálias. Os sapatos de plataforma também podem ser usados, mas com moderação. Rejane acrescenta ainda que normalmente, as grávidas pedem por roupas fitness (roupas de ginástica), com a intenção de sentirem-se mais confortáveis, porém hoje existem calças jeans com tamanhos maiores para se adequar ao corpo da gestante. As grávidas também se preocupam muito com a sua sexualidade. Nada de deixar o marido de lado. Algumas mulheres sentem-se mais sexy neste período, já outras, têm vergonha de se mostrar nos momentos mais íntimos. Nesse caso, há uma vasta gama de lingeries que valorizam melhor as curvas e deixam as mulheres mais a vontade. Os soutiens têm o elástico mais reforçado e a alça é mais larga e ajustável. Os modelos não saem muito do estilo tradicional e as cores pastéis também são uma boa opção. Especialistas recomendam que eles sejam de algodão, pois assim, não ferem as mamas. As calcinhas, também de algodão ou malha, podem ser um pouquinho maiores do que o de costume (tipo biquíni), pois esses modelos proporcionam mais conforto e mobilidade.

Grávida pela primeira vez, Raquel Siqueira, de 27 anos, confessa que nos últimos meses de gestação, sentia-se feia e muito acima do peso apesar de praticar exercício físico regularmente. “Me olhava no espelho e me sentia enorme. Pensava que se eu me sentia assim, o meu marido logo não ia querer me olhar mais. Que o desejo dele por mim sumiria, e que eu teria aquela forma para sempre. O segurança Marcio Portela, 34 anos, e marido de Raquel, notava que a esposa estava cada dia mais desanimada e triste. No oitavo mês de gravidez, ele a presenteou com um book fotográfico e o resultado foi positivo. “A Raquel sempre se cuidou muito, era muito vaidosa, e com o passar do tempo, notei que várias vezes quando eu chegava do trabalho ela estava no sofá, assistindo televisão, despenteada e sem nenhuma maquiagem. Eu sabia que isso tinha a ver com o aumento do manequim. Foi então que tive a ideia da sessão de fotos. Ela adorou o resultado e ficou muito mais feliz”. A empresária de 35 anos, Beatriz Nogueira, grávida de 6 meses, conta que seu corpo mudou muito desde o início da gestação. “Sempre fui gordinha, e agora então, tem dias que fico muito inchada e só me sinto à vontade com roupas de ginástica ou camisetas bem grandes.” Ela acrescenta ainda, que encontra com facilidade artigos para gestantes com preços acessíveis, que variam entre R$30,00 e R$50,00. “Comprei vestidos lindos na semana passada e gastei muito menos do que imaginei.” Ela acrescenta que junto com as suas compras, ela aproveitava para comprar roupas para o bebê. “Era o meu passatempo favorito.” confessa ela.

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estética da de ui sc de o nã a, od m na se rte an m de Além É sempre bom lembrar que mudanças estruturais ainda são pouco percebidas e inicia-se então, um processo de acúmulo de a grávida precisa manter seus líquidos e uma leve distensão abdominal. cuidados com a saúde e a esPortanto, as mamães devem ficar sempre atentas às últimas tendências, abusar das estamtética, através de massagem pas, procurar acessórios que tenham a ver e não se esquecer das bolsas e xales que sempre relaxante, drenagem linfática, ajudam a compor o visual. Além disso, podem manter seus exames em dia, fazer caminhadas hidratação corporal, limpeza de ao ar livre e procurar relaxar sempre. O mais importante é que a gestante se sinta bem, afaste o pele e hidratação facial. A prástress do dia-a-dia e aproveite cada instica regular das posturas de tante desse momento único. Sempre na ioga e da boa alimentação promoda, é claro. P porciona uma vida saudável à mãe e ao bebê. Alguns mitos predominantes na sociedade fazem com que normalmente as grávidas se privem de cuidados fundamentais com a aparência. O médico obstetra Gilberto Rodrigues Campos, 64 anos, relata que grávidas podem usar sim tinturas de cabelo, mas por precaução, recomenda-se uso apenas a partir do segundo trimestre de gestação. “Durante o período gestacional é comum a queda de cabelo, portanto, é bom evitar o excesso de química.” O médico também não encontra qualquer contra-indicação para o uso de cosméticos de unhas como esmaltes e removedores. O primeiro trimestre é o mais delicado de todos. É nesta fase que ocorre a formação do feto, e de todos os órgãos. Os cuidados com o uso de produtos e medicamentos é fundamental para que não ocorram malformações no feto. Neste período, as

RAQUEL SIQUEIRA CONFESSA QUE NOS ÚLTIMOS

MESES DE

GESTAÇÃO, SENTIA-

SE FEIA E MUITO ACIMA DO PESO

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Era uma vez no meu closet Sílvia Mendes

DOS DESENHOS ANIMADOS ÀS GRIFES, POR ONDE GIRA O MUNDINHO FASHION DAS CRIANÇAS

Primeiro ele coloca o Omnitrix, que poderia ser facilmente confundido com um relógio. A pulseira verde com o emblema do Ben 10 é ajeitada no braço esquerdo, tão apertada quanto o pulso fino de Lucas permite. Depois, ele veste a calça, também verde, a camisa bege e o tênis. Todas as peças referentes ao menino super-herói do desenho animado norte-americano. O pequeno Ben tem 10 anos e muitas responsabilidades desde que o Omnitrix caiu do espaço bem na sua frente. O aparelho de nome esquisito guarda o DNA de dez alienígenas diferentes, nos quais Ben pode se transformar para lutar contra as forças do mal e ajudar a salvar o mundo. Já o jovem Lucas tem apenas cinco anos – e muita imaginação. Nas suas brincadeiras, Lucas viaja para universos distantes e se transforma nos mais variados personagens. Se hoje ele é o Ben 10, amanhã será o Homem-aranha, talvez Batman ou Max Steel. Depende apenas das roupas que estiverem limpas e prontas para usar. Com muita vergonha, Lucas diz que se veste assim porque é legal. E parece que a melhor palavra no vocabulário de uma criança de cinco anos para descrever algo fundamental para sua felicidade é mesmo essa. A mãe de Lucas, Aline da Silva, não se incomoda com as aventuras diárias do filho. “Eu acho bom que ele tenha imaginação. Pra filho único, imaginação é mais importante ainda”. Porém, quando está em jogo a questão das marcas estampadas nas roupas de Lucas, a visão de Aline é mais confusa. A mãe gosta de dar as roupas com as cores e estampas preferidas do filho, porém, não prioriza as marcas originais. “Ele nem sabe o que é marca e nessa idade eles crescem muito rápido. A roupa não precisa ser a melhor, porque daqui a pouco já não serve mais.” No entanto, Aline não sabe até que ponto satisfazer os desejos de Lucas faz bem para sua formação.

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O mesmo acontece com Carol Rocha, uma jovem mãe de apenas 22 anos que não sabe lidar com os desejos de consumo da filha Luísa. A menina, que mais parece uma boneca de cabelos loiros e cacheados, nos seus dois anos e meio de idade quer tudo: de roupas a doces, de brinquedos à atenção. A psicóloga e pedagoga Lesley Guedes defende que desde pequeninha, entre os três e quatro anos, a criança já deve ser inserida no universo do dinheiro, trabalho e valores. Porém, essa inserção deve ser simples, é preciso mostrar que o pagamento do papai e da mamãe tem que ser o suficiente para pagar muitas coisas além dos desejos da criança. A fachada da loja infantil João & Maria é uma grande vitrine repleta de brinquedos. No vidro, disputando espaço com a transparência apetitosa, estão colados pôsteres do Ben 10

e da Barbie. As crianças que circulam na calçada em frente à loja param confusas por alguns segundos, não sabem para onde olhar. Em que ponto entre a programação e o intervalo comercial os brinquedos deixaram de ser a prioridade infantil e passaram a disputar com as marcas? “Os pais fazem as compras até uma certa idade da criança. Quanto mais crescidinhos, mais eles teimam em escolher”, diz a vendedora Ana Paula Souza, da João & Maria. Para Lesley Guedes, é importante que as crianças escolham as roupas que querem vestir. Essa escolha deve ser orientada pelos pais, no entanto, também deve ser pautada pela personalidade da criança, que usará este momento como ferramenta de descoberta de si e de seus gostos pessoais. O ideal é que haja um acordo entre pais e filhos.

Entre princesas e heróis Os cachos loiros são jogados para trás das orelhas delicadamente, é preciso dar lugar à tiara florida – uma coroa de tecido. O vestido rodado e cheio de detalhes deixa à mostra as sapatilhas brilhantes, cobertas por lantejoulas. Tudo muito rosa. É assim que a pequena Luísa é vestida para passear com os pais. O principal apelo das indústrias da moda infantil reforça estereótipos antigos: as meninas precisam ser princesas; os meninos, heróis. Grifes infantis como a italiana Monnalisa investem em vestidos e saias rodadas, babados, flores e rendas, luvas e coroas para as meninas. Já para os meninos, a coleção verão 2010 da mesma grife aposta nos personagens de desenhos animados, dos super-heróis clássicos aos descontraídos Tom & Jerry e Pinóquio. Para concorrer com a linha das princesas e heróis, geralmente voltando-se a um público um pouco mais velho, as grifes infantis produzem peças que fazem das crianças, pequenos adultos. Os clássicos destas coleções são os jeans, saltos altos para as meninas e golas pólo para os meninos. No entanto, como aponta Lesley Guedes, modelos assim geralmente são desconfortáveis e, no caso dos saltos, podem por em risco a integridade física das crianças. É preciso ponderar. A psicóloga e pedagoga ressalta que os pais costumam achar lindo vestir as crianças deste modo. “No caso da roupa infantil, em primeiro lugar tem que se pensar no conforto. Criança corre, pula, não pára quieta.” Para ocasiões especiais, a gola pólo dos meninos pode até ser mais chique, porém, no dia-a-dia pinica, coça, cutuca.

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O fenômeno cupcake A jovem celebridade ainda não tem idéia do significado dos flashes ao seu Ela tem a pele branca redor, não sabe identificar o que está escrito na legenda de sua foto na recomo a neve, os lábios vermevista e nem deve assistir lhos sangue, cabelos negros Gossip Girl. Entretanto, a como a noite e os olhos de longo prazo, sempre há a um profundo azul. Não, não chance de Suri fazer como estamos falando da Branca Sasha, mostrar o dedo feio de Neve e seus anões – até para os fotógrafos, forçar porque o vestido azul e amacaretas ou armar escândarelo com mangas bufantes los como Britney Spears já já saiu de moda e a princecansou de fazer. Os efeitos sa em questão abre mão de de uma vida pública precouma maçã por um cupcake ce não são uma constante: de chocolate fácil fácil. A enquanto Macaulay Culkin fashionista do momento é a se drogava, Kirsten Dunst pequena Suri Holmes Cruise, manteve tudo em cima e filha dos atores Tom Cruise e até se transformou na Mary Kate Holmes. Jane do filme Spiderman. No auge dos seus três Talvez Suri nem queira conanos e meio, o que Suri veste tinuar na vida artística ou vira mania entre as crianças no mundo da moda quando norte-americanas. E nem crescer. Mas também, isso é culpa delas: os pais, fãs não interessa muito para da vida hollywoodiana, adela agora. Por enquanto, a quiriram a mania de imitar preocupação da fashionista os looks da pequena. Blogs mirim é uma só: será que como o norte-americano Suri ela vai ganhar um delicioso Fashion Blog e o brasileiro O cupcake depois do jantar? fantástico mundo de Suri dedicam-se a mostrar imagens do dia-a-dia da pequena No fundo, quase todas as – suas roupas, sapatos e acessórios – e ainda indicar onde você pode adquirir itens crianças pensam assim – semelhantes. A própria personagem Blair Waldorf, ícone do seriado Gossip Girl e lansão os adultos que bagunçadora de tendências no mundo inteiro, já foi flagrada usando uma tiara idêntica à da P çam tudo. pequena Suri.

O PRINCIPAL APELO DAS INDÚSTRIAS DA MODA INFANTIL REFORÇA ESTEREÓTIPOS ANTIGOS: AS MENINAS PRECISAM SER PRINCESAS; OS MENINOS, HERÓIS

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A lantejoula vai à praia Fernando Gomes e Taísa Szabatura

Engana-se quem pensa que a primeira necessidade de uma noiva é o marido. O cônjuge vem com o tempo, mas o vestido vem da infância. Ele acontece pela primeira vez quando a jovem menina brinca com uma fronha na cabeça, ou ainda quando disputa a vaga de noiva na festa junina da escola. Querem vestir a renda que idealizaram nas histórias de princesas. O mercado dos sonhos custa caro. A fada madrinha não existe e é o estilista quem gira a varinha de condão e faz a magia acontecer. Marco Felipe mal tira os olhos da máquina de costura, não gosta de falar em preços. Novo em Balneário Camboriú, ainda lembra as mulheres que atendia na casa de noivas onde trabalhava no Mato Grosso do Sul. “Já fiz vestido vermelho, roxo, amarelo. O vestido é uma obra de arte”, explica o artista que põe a mão na massa, algo nem sempre comum entre os estilistas. O ateliê onde trabalha possui um visual clássico, as colunas da entrada são no estilo grego, tecidos de cetim cobrem as cadeiras e as almofadas da pequena sala de recepção. O lustre é feito de cristais e há um grande espelho com detalhes em dourado. Tudo parece ser levemente rosado. Revistas Vogue ficam em cima de uma pequena mesa de vidro, há ainda uma televisão de plasma que contrasta com o estilo clássico do ambiente. O atendimento deve ser diferenciado, por isso tanto detalhe. Jocélia Alves é uma das costureiras e gosta de falar bastante. Se fosse ela a noiva, não gastaria tanto dinheiro numa peça de roupa, esbanjaria na lua de mel para um lugar paradisíaco. Divorciada, fica cabisbaixa para dizer que não usou vestido de noiva, como se isso fosse uma espécie de crime.

O UNIVERSO PECULIAR DOS VESTIDOS DE CASAMENTO EM BALNEÁRIO CAMBORIÚ

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Vestido com tomara-que-caia talhado de shantung de seda pura com aplicação de renda e babados de tule plissado, rebordado com quebradilhos frisado japonês, pérolas e strass.

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Atender o público litorâSilva, atendente do Status Arte. Nilcéia deu a entender que jornalista não é noiva, neo gera trabalhos inusitasendo impossível reservar um horário. O trabalho é sério, não há tempo para se dos, como a noiva que casou perder com bobagens. grávida com um tope de lanLocalizado no andar térreo da igreja evangélica Bola de Neve, o ateliê Noitejoulas brancas e com uma vas & Festas conta com uma enormidade de vestidos na vitrine. Trabalham com saia comprida da mesma cor. tudo, formaturas, bailes de debutantes, primeiras comunhões ou qualquer outra “O barrigão de fora foi lindo, festa que exija certo grau ela estava bronzeada, o que de garbo e elegância. O amcontrastou com o branco”, biente simples é bastante disse a costureira empolgabagunçado. Lembra uma da. Faz tempo que o branco loja de departamentos, filas deixou de ser exclusividade de vestidos separados por das donzelas. cor e por preço, a movimenExistem modalidades tação de clientes é intensa de feitio: pode-se alugar o e os preços são bastante vestido, comprá-lo pronto, acessíveis. confeccioná-lo a partir do “Olha, eu não quero zero e guardá-lo com lemnada publicado em lugar brança, ou ainda fazer o que nenhum”, disse a atendente no mundo das noivas é chaque não quis dar nem o primado de primeiro aluguel. meiro nome. Disse que não Nessa última categoria, a era a dona e que também noiva faz o vestido e depois não poderia permitir que a o entrega para o mercado noiva que estava provando dos aluguéis. “Aqui em Balum vestido nos fundos faneário, todo mundo mora lasse com nenhum repórter. em apartamento, não tem “Eu não tenho autorização”, onde guardar um vestidão falava repetidamente com de noiva”, explica a dona do uma cara assustada, dava Val Aluguéis. Val é na verdaa impressão que cairia no de Valtrudes, o sobrenome é choro caso a pressão de uma possível reportagem do ex-marido, e diz que não convém mencioná-lo. “Sou costureira, mas não faço continuasse. vestidos, aqui as mulheres escolhem nas revistas e aí compramos dos forneceTambém se encontram dores”. Para ela, a praticidade é a alma do negócio. ateliês de alto luxo na cidade, Nem todos os estabelecimentos da cidade oferecem simplicidade, café e lancomo o localizado à beiratejoula. “Atendemos as noivas com hora marcada, não temos os vestidos aqui. mar, que leva o nome de seu No dia estabelecido, fechamos a loja só para a interessada”, disse Nilcéia da

CADA PEÇA É EXCLUSIVA.

CRISTINA JÁ

CHEGOU A

VENDER VESTIDOS

PELA BAGATELA DE

15 MIL REAIS

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fundador, Adhemir. Não basta apenas dirigir-se ao local para apreciar suas peças, é preciso marcar hora, preferencialmente com alguma antecedência. Adhemir é de Passo Fundo no Rio Grande do Sul e é ele quem desenha, molda, costura e entrega suas obras para uma equipe de confiança, que o segue há pelo menos 15 anos. No entanto, não é Adhemir que nos recebe no ambiente elegante, mas sim Cristina Mozzato, uma simpática mulher de baixa estatura e acessórios perolados. Ela é artista plástica, estilista e consultora de moda. Acredita que a observação, o bom humor e a atenção são fatores fundamentais para lidar com o estresse, a indecisão e as expectativas das futuras noivas. Cada peça é exclusiva. Cristina já chegou a vender vestidos

pela bagatela de 15 mil reais. Ela destaca ainda uma mudança nas tradições. “Se uma vez era a mãe quem ia com a filha à procura do vestido de noiva perfeito, hoje são as sogras e amigas que cumprem esse papel. Já recebi noivas que vieram olhar vestidos até com o noivo. Acho estranho. Outro caso foi o da noiva que veio procurar um vestido com a mãe e o irmão. Os palpites do irmão excediam as indicações da mãe”, conta. A noiva também tem a opção de deixar seu vestido guardado com segurança no próprio ateliê, evitando assim a curiosidade, por exemplo, daquela tia chata ou da prima invejosa. A noiva só mostra seu objeto de desejo para quem quiser e quando for de sua vontade. “É um direito dela”.

or Muito gasto e pouco am Economia é uma palavra proibida para algumas celebridades que resolvem juntar suas escovas de dente. O exbeatle Paul McCartney gastou aproximadamente três milhões de dólares no casamento com a ex-modelo Heather Mills. Mas este não é o casamento mais comentado do mundo da fama. O produtor David Gest foi mais além e não se intimidou ao gastar a pequena fortuna de US$3,5 milhões com a cantora e vencedora do Oscar, Liza Minelli. Em março de 2002, eles protagonizaram uma cerimônia repleta de glamour na igreja Marble Collegiate, em Nova York. Os padrinhos dos noivos foram ninguém menos que o cantor Michael Jackson e a atriz de olhos azul-violeta, Elizabeth Taylor. Entre os convidados estavam Diana Ross e Mia Farrow, além de Tony Bennet, responsável pelo entretenimento musical da cerimônia. O bolo também não era pouca coisa: doze camadas e sabores personalizados ondulavam na singela mensagem “Liza and David 4 Ever”. Não demorou muito para as lonas do circo pegarem fogo. Quatro meses após a grande cerimônia, os dois se separaram e cancelaram a festa de comemoração prevista para se realizar no Times Square de Nova York. Os motivos apresentados para o cancelamento da festa foram a Guerra no Iraque e a internação de Liza Minelli em uma clínica de recuperação para usuários de drogas. Apesar de este ter sido seu quarto casamento, a atriz usou um vestido branco, todo rendado. P

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O novo mundo masculino Aline Elenice Kroetz e Carla Fortes Superti

Já faz muito tempo desde que o look da maioria dos homens era apenas uma camiseta, um jeans surrado e tênis. Eventualmente, usava uma jaqueta. Como as lojas eram simples, geralmente unissex, não se preocupavam em diferenciar seus estilos, deixando de ser valorizadas pelo público. Para um homem, não fazia diferença ir a uma loja ou outra, nas duas ele encontraria as mesmas coisas. A moda entre os homens chegou tímida, mas aos poucos foi conquistando com detalhes e acessórios. Em Santa Catarina a moda masculina tem se expandido muito nos últimos anos. Algumas das principais marcas surgiram no estado a partir dos anos 90. A maioria delas se consolidou no início do século XXI, com estilos diferentes e o propósito de atender o desejo de se vestir bem dos homens modernos. Mas toda essa modernidade enfrenta muitos preconceitos. Até hoje, algumas pessoas acreditam que ser vaidoso e cuidar do vestuário é sinônimo de ser homossexual. Thiago Belchior de 22 anos, é vendedor e por isso costuma se vestir de acordo com as tendências. Ele revela que os termos pejorativos existem e incomodam bastante. “Quando meu pai começou a usar brinco, todos o chamaram de bichinha, de repente todos os guris estavam usando brincos. Quando eu comecei a usar lenço, foi a mesma coisa. Agora você sai na rua e todo mundo usa, mas ninguém é chamado de boiola”. Antes, as lojas para homens eram conhecidas por ter um estilo mais básico, sem muitas cores, estampas e detalhes. Hoje, as lojas de roupas e acessórios masculinos têm estilos variados. Algumas se especializam apenas em estilo esportivo, outras num estilo surfista, skatista, adventure. Também continuam existindo as lojas de roupas básicas e as tradicionais camisarias, que atingem um público muito grande, pois nem todos os homens seguem as tendências da estação. Lojas como camisarias, geralmente são procuradas por homens de negócios, que precisam estar bem apresentáveis para o trabalho. Mas esses mesmos homens, fora do ambiente de trabalho usam roupas mais leves e seguem o ritmo da moda.

HOMENS COM ESTILO TOMAM CONTA DAS LOJAS E O MERCADO DE ROUPAS MASCULINAS CRESCE

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Carla Superti

O bancário Ricardo Barcellos diz que é um cliente assíduo de lojas masculinas, “A gente fica rodando de loja em loja e não acha nada. Agora mesmo fui a uma loja de roupa masculina e o estilo de camiseta que eu queria estava lá, na vitrine. A variedade de produtos é muito maior”. As tendências inovaram junto com a moda e a mente masculina. As cores começaram a surgir no guarda-roupa dos homens, juntamente com estampas, brilhos, calças skinny, calças cargo, camisas mais ajustadas ao corpo, batas. Sem contar os acessórios, como brincos, anéis, cintos, colares, bonés, bolsas. Todas essas novidades deram aos homens a oportunidade de escolher que tipo de estilo combina mais com ele, fazendo com que cada tipo de loja tivesse um estilo diferenciado e começasse a se preocupar em agradar um público seleto. Uma pesquisa feita com alguns consumidores, em um shopping de Balneário Camboriú, mostra que 50% deles preferem comprar em lojas que vendam apenas produtos masculinos por ter mais qualidade e variedade de produtos. Do total, 33,3% disseram que não fazia muita diferença entre um e outro desde que vestisse bem. Já 16,7% disseram que não gostam dessas lojas, pois além das roupas serem estranhas e um tanto ousadas, os preços são bem salgados.

Mercado promissor Conhecidas como os grandes pólos industriais têxteis, as cidades que abrigam as maiores empresas de roupas masculinas do estado são Blumenau e Brusque. Marcas como Base, Beagle, Dudalina e J Canedo têm fábricas e lojas de atacado nessas cidades, gerando grande crescimento econômico e populacional. Também estão espalhadas por Santa Catarina, outras grandes

No início dos anos 50, surgiu a marca Dudalina, criada por um casal de Luís Alves, no interior do estado. A princípio era uma simples camisaria e hoje representa 70% das camisas exportadas do Brasil. Dudalina é o resultado do casamento de Adelina Clara Hess e Rodolfo Francisco de Souza Filho, conhecido com Duda. Além da junção dos nomes, a Dudalina teve muito trabalho e dedicação de seus fundadores. Com as principais fábricas dentro do estado, a Dudalina se transformou a cada ano e sempre traz novas tendências para suas camisas, atendendo a muitos estilos de homens. Com o surgimento da Dudalina, várias outras marcas de camisas começaram a surgir, aumentando o mercado de roupas masculinas por aqui. Em 1994, é criada por Kiko Hess, em Blu-

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O colorido da estação fábricas, que migram com seus atacados para lojistas até os shoppings de Brusque, Blumenau e região. Empresas como a Base e Dudalina, notaram a procura dos homens por roupas exclusivas resultando num aumento de aproximadamente 20% ao ano, segundo Edinho Vasques, Gestor de Marketing e Branding da Dudalina.

A origem de tudo menau, a marca Base, grande ícone de roupas masculinas com estilo básico. Em 2004, Kiko Hess, fundou a Beagle, que diferente da Base não faz parte do grupo Dudalina, mas também trabalha com roupas exclusivamente masculinas destinadas aos jovens. A Beagle tem 25 lojas por todo o sul do país e em São Paulo. Trabalha com o estilo adventure, defende a idéia da prática de esportes radicais e o contato direto com a natureza. A J Canedo, que fabrica camisas, camisetas, casacos, jeans, foi fundada em setembro de 1994. Inicialmente tinha a fabricação de camisas e produtos de cama, mesa e banho. Anos mais tarde, a marca passou a se especializar exclusivamente em produtos masculinos, que vão do estilo básico a camisarias e adventure.

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Inovação e ousadia são as palavras que definem a nova tendência primavera verão 2010. A roupa masculina vem colorida. Os tons sóbrios e discretos dão espaço para o brilho e surgem as cores alegres como o rosa, desde o mais claro até o pink, amarelo, verde limão, laranja, vermelho e muitas estampas florais. O xadrez, que foi febre no verão passado, passa quase despercebido nos looks. Agora é a vez do listrado, que vem trazendo o colorido para calças e camisetas. O social passa por um estilo mais leve e casual, ideal para o verão. Nesse tipo de roupa, o branco vem com muita força. Decotes cavados em formato V ou arredondados trazem sensualidade à roupa do homem, pois valoriza o tórax masculino. Os detalhes ficam nos lenços curtos e longos e na novidade deste verão: as maxi bolsas. As bolsas grandes que fazem sucesso entre as mulheres, agora também farão parte dos acessórios masculinos. A moda masculina continuará em constante desenvolvimento nos próximos anos. A modernidade de roupas mais estilizadas e a harmonia das cores farão com que cada vez mais homens se adaptem ao seu devido estilo, deixando para trás o preconceito e mergulhando no mundo da moda. P

APOSTE EM

ROUPAS MAIS OUSADAS E

COLORIDAS PARA

FICAR NA MODA


A ordem é customizar! Daniel Ricci e Melina Manfredini

CUSTOMIZAÇÃO FOGE DAS TENDÊNCIAS, DA PRODUÇÃO EM LARGA ESCALA E DA MASSIFICAÇÃO

Cristais, lantejoulas, miçangas, plumas e rendas. Não estamos falando de fantasias carnavalescas, mas de um fenômeno que desde 2000 começou a ganhar espaço no mundo da moda: a customização e a transformação de roupas. Essa técnica consiste em resgatar peças antigas ou fora de uso por alguma razão, e reestilizá-las de acordo com o gosto e o bolso do consumidor. A busca por exclusividade e um guarda-roupas personalizado fez surgir o que a jornalista de moda Érica Palomino denomina de culto da individualidade em seu livro ‘’A moda’’, em que todos querem ser diferentes uns dos outros e imprimir traços de personalidade na roupa que vestem. Estudante do 8° período do curso de Moda da Univali, Rinália Fonseca desenvolve seu trabalho de conclusão sobre a moda rock infantil e para isso criou peças customizadas para esse público-alvo, crianças que se identificam com o estilo musical e querem roupas que expressam essa preferência. Segundo ela, customização foge das tendências, daquilo que é produzido em larga escala e que se massifica rapidamente. A arte de transformar roupas surgiu no final da década de 90 como reação à logomania, quando somente o que vinha de marcas de grife importava. Era uma moda calcada em ícones da riqueza. Tempos depois, uma juventude descolada sem muito dinheiro para gastar com roupas começou a brincar com as peças, bordar, aplicar acessórios, transformando-as em um look único.

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Melina Manfredini

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Customizar não custa caro A Origem

O termo "customização" vem do inglês "custom made", que significa "feito sob medida". "To customize" é fazer ou mudar algo de acordo com as necessidades do consumidor (customer, em Inglês). Segundo Tatiana Messer Rybalowski, em seu livro "O Ciclo Moda", essa transformação é feita com o uso de aviamentos, componentes que são divididos em construtivos ou decorativos. Os primeiros são, por exemplo, os fios, linhas, botões, zíperes, elásticos, fivelas ou fechos. Eles são responsáveis pela funcionalidade e ergonomia da peça. As rendas, penas, plumas, paetês e cristais são alguns dos elementos decorativos que a roupa pode receber. Não é uma receita difícil de ser seguida em casa, basta para isso habilidade no manejo com os aviamentos, noções de corte e costura, e o principal: criatividade.

A Escola de Arte e Artesanato, no bairro da Barra, em Balneário Camboriú, oferece curso gratuito de customização de roupas. Quem ministra as aulas é a professora Marília Urbanski, formada em Moda pela Univali em 2007. Ela conta que os alunos só precisam trazer o material, ou seja, os artigos aplicados nas peças, e no final do curso, levam toda produção para casa. Durante todo o ano, algumas peças feitas pelos aprendizes ficam expostas na própria Casa Linhares, onde a escola está instalada, junto com outros tipos de artesanato, como pinturas e cerâmicas. "O curso tem procura por pessoas de todas as idades, mas a maioria é acima de 40 anos, que desejam aprender como transformar roupas que não gostam em algo mais bonito e interessante", comenta Marília. O gosto pela transformação de roupas abrange iniciativas locais como a da Escola de Arte e Artesanato, até as passarelas mundo afora. No final de 2000, o estilista alemão Karl Lagerfeld fez para a Maison Channel uma coleção primavera-verão visivelmente inspirada na customização. Para as pessoas que não querem se desfazer de suas roupas usadas, mas gos-

tariam de dar um novo visual ou imprimir sua identidade nessas peças, a estilista Miriam Torres trabalha exatamente com essa idéia, a da customização. As pessoas levam a vestimenta para seu ateliê no intuito de modificar e deixar as roupas mais exclusivas. Após um diálogo, Miriam traça um perfil de cada um, e inicia a reinvenção das peças com base nas preferências daquele cliente especifico. ‘’É necessária muita criatividade para trabalhar a restauração e adicionar os adornos nas roupas e, também, sensibilidade para perceber os gostos e os objetivos de quem busca essa roupa customizada’’. A procura pela customização das roupas também pode surgir por motivos de mudanças no físico ou pelo estrago de uma roupa que é muito estimada. O fato de engordar ou rasgar acidentalmente uma calça ou blusa fazem com que mulheres e homens levem essas peças para a estilista dar um retoque especial. ‘’Muitas vezes elas querem continuar usando as roupas, mas essas foram rasgadas sem querer ou não servem mais porque engordaram um pouco. Então elas trazem e eu adapto com detalhes de um tecido diferenciado ou aplico alguns avia-

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mentos. A confiança também é importante, pois a maioria das clientes deixa a meu critério a escolha do melhor ornamento a ser colocado. Eu pinto e bordo, literalmente, e é bem gratificante’’. Miriam recebe clientes da classe A à C, e para aqueles que não dispõem de muito dinheiro para investir em uma calça cara, por exemplo, a alternativa é adquirir peças de baixo custo e incrementá-las com adereços que agregam mais valor e estilo. Formada no curso de Estilismo pelo Serviço Nacional da Indústria - SENAI de São Paulo, a customizadora paulistana trabalha há dois anos em Balneário Camboriú, e revela que o mercado na região ainda é pouco procurado pela razão de existirem muitas lojas de roupas. Outro motivo é o próprio processo da recriação, que exige um tempo maior para cada peça, diferente das produções têxteis fabricadas em grande escada. ‘’A busca por pequeninos objetos como lantejoulas, miçangas, rendas ou retalhos coloridos, e a aplicação destes nas roupas requerem maior atenção e um cuidado individual, mas faz com que os trajes se tornem atraentes e originais, e essa é a diferença’’, completa Miriam. Poderíamos propor aqui uma definição diferente daquela encontrada nos dicionários para o termo "customizar". Para explicar melhor, essa arte é sinônimo de economia e inovação. É deixar de seguir padrões e ditar a própria moda esquecendo conceitos pré-estabelecidos. Parece controverso, mas isso não deixa de ser outra tendência. P

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"É NECESSÁRIO CRIATIVIDADE E SENSIBILIDADE PARA CUSTOMIZAR"

Aprenda a Customizar Onde: Escola de Arte e Art esanato, Casa Linhares Rua Emanuel Rebelo dos Sa ntos, 1079 – Bairro da Barra Balneário Camboriú E-mail: fcbc@camboriu.s c.gov.br Telefone: 47 - 3363.1228 O quê: Curso de Customiz ação de Roupas Quando: matrículas a cada dois meses


Sob medida... Maurício André Daleffe

A DITADURA DA BELEZA IMPÕE UM PADRÃO DE MAGREZA PREJUDICIAL À SAÚDE DAS MULHERES

Homens, sonhos, trabalhos? Engana-se quem pensa que atualmente são essas as principais preocupações do sexo feminino. Cercadas por um mundo de comerciais e revistas estampadas por modelos elegantes e bonitas, as mulheres tornaram-se escravas do espelho. Curvas perfeitas, barriga lisinha e um rosto de dar inveja são os principais objetivos de muitas delas em todo o mundo. As mulheres, com o passar dos anos, graças à luta e à perseverança, venceram batalhas, quebraram tabus e conquistaram o direito de estudar, trabalhar e votar. Apesar dessas conquistas, elas vivem presas a uma ditadura de beleza imposta pela mídia. Se antigamente sofriam a repressão dos homens e viviam submissas a eles, atualmente, apesar dessa liberdade já ter sido adquirida, as mulheres são submissas ao padrão inatingível de beleza. Esta obsessão é uma doença que envolve tanto o estético quanto o psicológico das mulheres. A perfeição das modelos em comerciais e fotos idealizadas pelos meios de comunicação afetam o subconsciente fazendo com que busquem no estereótipo criado pela mídia, o modelo do corpo ideal. A consequência disso começa com a baixa auto-estima e pode chegar à morte. As mulheres passam a acreditar que para ser feliz, bem-sucedida e amada, a beleza é a qualidade fundamental. Uma pesquisa feita pela universidade inglesa de Harvard mostra que as brasileiras estão na segunda colocação entre as mulheres que estão insatisfeitas com o próprio corpo. A maioria delas se declara "gordinha" ou "pouco sexy". Segundo o estudo, só no Japão as mulheres estão mais descontentes com a imagem do que no Brasil. Palavra de Jornalista Novembro 2009

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Segundo a professora Deise Büst, de Estética Corporal do Curso de Cosmetologia e Estética da Univali, essa busca por um corpo perfeito é prejudicial, pois uma minoria consegue atingir esse padrão de beleza (peso, altura e medidas perfeitas). Além do quê, segundo ela, essas mulheres acabam se submetendo a tratamentos sem critérios, que acabam por gerar distúrbios emocionais que acarretam doenças graves, como as tão conhecidas bulimia e anorexia. A escritora Ilma Ribeiro Silva ressalta que para a mídia a beleza feminina é fundamental. No livro Alcoolismo e Abuso de Substâncias Psicoativas, ela afirma que o mundo que produz, vende e fatura com o corpo feminino não se preocupa ou questiona o fato de que beleza não ocupa uma parte central na vida de muitas mulheres. Mas uma grande parte delas é influenciada por este mundo ideal de beleza criado e enfatizado pela mídia. Um assunto polêmico e delicado, que traz à realidade fatos que preocupam e assustam especialistas ao redor do mundo. As informações de beleza e bem-estar repassadas pela mídia são “filtradas” pela mente das mulheres e guardadas em seu subconsciente. Essa imagem perfeita fica ali, quieta, até o momento em que as mulheres se olham no espelho e não vêem o mesmo corpo que elas viram na televisão. Essa diferença gera um conflito na mente feminina e torna o espelho o inimigo número um entre elas. Outro fator que desencadeia essa doença do padrão inatingível de beleza é o mundo da moda. Modelos magérrimas sobre passarelas iluminadas por holofotes cercadas de fotógrafos. Qual adolescente nunca sonhou em ser uma dessas modelos? A sxc.hu

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resposta são milhares. E graças a esse sonho, adolescentes ficam doentes para alcançar o biotipo magro da moda. Nem todas possuem a estrutura para emagrecer tanto, e quando não vêem resultados, param de comer. As modelos também são os principais alvos dessa doença que assombra as mulheres comuns. Vale lembrar a morte da modelo Ana Carolina Reston de 20 anos, vítima de anorexia (doença que faz com que a pessoa se sinta gorda mesmo ela estando apenas pele e osso), que apesar de medir 1,74 e pesar 46 kg, ainda se achava gorda. O dilema para essa discussão é o mesmo, os fashionistas (profissionais do mundo da moda) garantem que as roupas dos desfiles ficam melhores em meninas magras, e que a maioria das modelos é magra por natureza. Opinião também de grande parte dos bookers de grandes agências, que afirmam que as modelos têm acompanhamento psicológico e de nutricionistas. O agente internacional Bené Bastos, 46 anos, diz que o padrão magro imposto pela moda faz muitas modelos ficarem neuróticas. “A cobrança de emagrecer alguns quilos e os “nãos” recebidos por clientes fazem com que as modelos façam de tudo para emagrecer, até comer cocô de vaca, se falarem para elas que emagrece”, afirma Bastos. Já o booker da agência Ford Models Santa Catarina, Everaldo Antunes, afirma nunca ter passado por uma situação em que a modelo ficasse doente para chegar ao padrão exigido pela agência. Para ele o padrão exigido pelo mundo da moda não são de modelos anoréxicas. “Modelos lindas, magras, pele e cabelos bem cuidados, são as características das modelos”, continua Everaldo. Mas esses padrões estéticos não são novidades, sempre existiram e a mulher sempre foi vítima deles, quer seja dos espartilhos antigamente, como na atualidade, em que é vítima do seu próprio corpo e da própria imagem, aprisionada em suas próprias medidas. Até mesmo os cirurgiões plásticos, que se

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beneficiam dessa busca pela perfeição, estão assustados com a proporção que essa doença está alcançando. Diante da ineficácia da maioria das dietas, muitas mulheres optam pela cirurgia plástica. Lipoaspirações já são as campeãs entre procedimentos estéticos no Brasil. São mais de 198 mil intervenções por ano. Somente o cirurgião Eduardo Fernandes Fraga, 38 anos, de Florianópolis, faz em média 550 cirurgias por ano. Segundo ele, a moda e a mídia influenciam no grau de exigência e satisfação no resultado de uma cirurgia estética. “A partir do momento em que o estímulo à beleza venha contribuir para que crianças, adultos e adolescentes procurem uma vida mais saudável, acho positivo. A partir do momento em que a estética se torne obsessão, estamos sujeitos a problemas graves de saúde como bulimia e anorexia”, enfatiza o cirurgião. A esteticista Glaedys Deschamps acredita que essa expectativa que a mídia provoca nas pessoas está trazendo dificuldades em seu trabalho. “Os resultados variam de pessoa a pessoa, cada corpo tem uma reação e uma estrutura. E é difícil lidar com essa busca pela perfeição, ainda mais quando perfeição não existe”, conclui Glaedys. Para a psicóloga Juliana Regina, 29 anos, a falta de auto-estima é algo preocupante e pode levar à depressão e às vezes até ao suicídio. “A partir do momento em que um padrão é imposto como correto, qualquer pessoa que não se encaixe nesse perfil tende a se sentir excluída de um grupo ou sociedade, o que gera sentimentos de menos valia até comportamentos obsessivos relacionados à alimentação e exercícios físicos” comenta. Essa prisão ao espelho e as medidas perfeitas envolve desde adolescentes a mulheres mais velhas e é um problema que está longe de acabar. “A mudança é um processo lento. As pessoas têm que saber seus limites, respeitar sua estrutura corporal e ver as modelos como profissionais que estão aí para mostrar a roupa e deixar de vê-las como um padrão a ser seguido”, finaliza a psicóloga. P


Quem fez moda Palavra de Jornalista Novembro 2009

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