O Delator

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Curso de Jornalismo da UFSC Atividade da disciplina Edição Professor: Ricardo Barreto Edição, textos, planejamento e editoração eletrônica: Pâmela Carbonari Paludo Serviços Editoriais: Forbes, O Estado de São Paulo, Mapa da Violência 2012 Impressão: Postmix Junho de 2012

Florianópolis, 14 de junho de 2012 Ano I Edição I A1

Assalto ao poder: para ler com medo Um livro-reportagem de peso para corajosos em uma realidade onde não há espaço para covardes

A

ssalto ao poder, lan-

çado pela Editora Record em 2010 e finalista do prêmio Jabuti 2011, é o ponto final de uma trilogia de fôlego sobre crime e violência, cuja pesquisa durou quase 30 anos. Depois de dissecar organizações criminosas como o Comando Vermelho e o PCC nos livros anteriores, Comando Vermelho: A história secreta do crime organizado e CV/PCC: A irmandade do crime, o jornalista Carlos Amorim analisa, em Assalto ao poder, como esses e outros grupos estão conseguindo se infiltrar e se ramificar de alto a baixo nas instituições democráticas. Sem dúvidas, não é uma leitura de fim de semana. O texto é voraz, direto, pessimista, reflexivo e realista. Alguns capítulos exigem do leitor estômago e sangue frio, como o segundo, que narra a noite de 7 de fevereiro de 2007, quando João Hélio, de 6 anos, foi arrastado, preso ao cinto de segurança, por cinco quilômetros com o carro em disparada, no Rio de Janeiro. Ao final do relato, o leitor é tomado por um misto de indignação e vertigem.

A obra é uma profunda dissertação sobre as tensões sociais brasileiras, visto que não se resume a visão simplista dos conflitos apenas com causas e consequências individualizadas. Ela contempla também, a descrição minuciosa da ampla rede que configura a pirâmide global do crime. Violência, corrupção, tráfico, política, milícias, cárcere, questões fundiárias e imigratórias são alguns dos temas de Assalto ao poder. Para conseguir contextualizar os acontecimentos e apresentar a dinâmica das organizações criminosas, Carlos Amorim adota um método ondulante de redação, indo e vindo no tempo. Embora haja um cuidado rigoroso em relação às fontes, a infinidade de organizações, datas, operações, lugares e personagens coexistindo nos mesmos parágrafos deixa, por vezes, o texto maçante e bastante carregado. Perfeito para uma reportagem, desafiador para um livro de 531 páginas. Um dos méritos de Amorim é ser analítico e descritivo sobre a problemática da violência, e não inquisitivo. Trata os personagens por nome e sobrenome, sem rótulos nem juízo de

O final de uma trilogia sobre violência valor, sejam eles traficantes e criminosos vindos de classes sociais menos favorecidas ou políticos e empresários engravatados de terno Armani. O único momento em que dispensa o uso de nome completo é no depoimento de Geralda. A faxineira retirante do interior de Pernambuco que foi para o Rio de Janeiro trabalhar como doméstica é privilegiada pelo anonimato, já que da vida não ganhou grandes alegrias. Geralda teve

dois casamentos frustrados, e três filhos: Martinha é prostituta; Zilda desapareceu quando criança; e Tião, soldado do tráfico e personagem do livro Comando Vermelho: A história secreta do crime organizado foi morto com um tiro na nuca. O prefácio de Assalto ao poder fica a cargo do, também jornalista, Geneton Moraes Neto, que além de louvar o autor como um “jornalista purosangue”, critica a superficialidade da mídia, que em detrimento de questões importantes para a manutenção da cidadania, insiste em ruminar matérias vulgares, exibicionistas e burocráticas. O editor-chefe do Fantástico também faz um alerta ao abandono do Estado, à disposição da violência como um fenômeno de conexões nacionais e internacionais, e à nossa cegueira contagiosa diante de tudo disso. O livro é dividido em três grandes partes: O imperialismo do crime e o fantasma da guerra civil; O maior negócio da Terra e A radicalização do confronto. Os 21 primeiros capítulos são uma análise da violência urbana, um panorama dos conflitos e disputas das indústrias do crime em escala

Rendimento anual do crime organizado supera US$2,1 trilhão em todo o planeta porções sem precedentes. rança Pública da UFMG. Os criminosos souberam Além do contrabando, explorar com maestria a pirataria, lavagem de diabertura das fronteiras e nheiro, tráfico de armas, os meios de comunicação, de drogas e extorsão, a viraram-se também para Vory v Zakone e a Yakuza, outros bens como, por do Japão, são expoentes do exemplo, tráfico de espétráfico ilegal de pessoas, cies animais ameaçadas, principalmente de mulheobjetos de arte, madeira, res oriundas do leste eurodiamantes de sangue, falpeu. O filme “Senhores do sificação de medicamentos crime”, lançado em 2007 e vestuário e pornografia Somente cocaína e heroína rendem US$105 bilhões por ano e dirigido por David Croinfantil.” afirma o diretor nenberg, representa com do UNODC, Yuri Fedotov. O narcotráfico dos países latino- detalhes o envolvimento da máfia Apesar da constante especialização, americanos mantém negócios com as russa no tráfico de seres humanos e na é nas drogas que o crime encontra principais máfias do mundo, como a prostituição. seu negócio mais rentável. Somente a Camorra, da Itália e a Vory v Zakone, No Brasil, como se não bastassem os cocaína e a heroína rendem US$ 105 da Rússia. “No combate ao tráfico de 20% do PIB destinados à corrupção, bilhões por ano. O tráfico de entorpe- drogas, é necessário entender que os atuam violentas quadrilhas como o centes possui uma complexa rede que usuários são consumidores que que- Comando Vermelho, no Rio de Jacomeça com a produção na América rem o produto e que não deixarão de neiro; o PCC, em São Paulo; a OPA, do Sul, em países como Bolívia, Co- comprá-lo. É preciso encarar o mer- Organização Plataforma Armada, em lômbia e Paraguai. O Brasil é uma im- cado de produtos ilegais como uma Salvador e outras facções menores, portante rota dos cartéis que permite, atividade econômica e, então, buscar mas não menos brutais. Não à toa, enprincipalmente, o abastecimento do maneiras para que o Estado possa tre os anos de 2004 e 2007, o número mercado europeu. A Nigéria é tam- intervir de forma efetiva nesse mer- de mortes por homicídio no país foi bém uma das bases de distribuição de cado”, alerta Cláudio Chaves Beato de 192,8 mil, superando em 23 mil a droga, tanto que chegou a ser conheci- Filho, coordenador-geral do Centro quantia de vítimas de enfrentamentos da como a capital do crime na África. de Estudos de Criminalidade e Segu- armados no mundo. European Pressphoto Agency

Fruto da falta de relação social entre o poder e a população, o fenômeno foi gerado e criado a partir do pressuposto de que seja algo exterior e não intrínseco à sociedade. O crime organizado nasceu e ganhou força nas lacunas da própria administração pública e da dominação social hierarquizada. De acordo com um estudo recente realizado pelo UNODC, o Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime em parceria com o Banco Mundial, o crime gera hoje uma receita equivalente a US$2,1 trilhão, que corresponde a 3,6% do PIB total do planeta. Ou seja, o faturamento anual do crime organizado supera o quanto as dez maiores empresas do mundo lucram juntas. Se o fenômeno fosse uma nação, seu rendimento estaria entre o da Itália e do Brasil, cujos PIBs são respectivamente US$2,1 e US$2,3 trilhões. Em países emergentes, o rombo dessas organizações se alia a outros fatores como a corrupção. Estima-se que US$40 bilhões sejam perdidos para este tipo de ilegalidade. Só no Brasil, a cifra é de aproximadamente US$100 bilhões. “Com a globalização, o crime organizado desenvolveu-se em pro-

global. Como adverte Amorim “Não basta lamber as próprias feridas. (...) Sem compreender o contexto mundial, não vamos saber onde erramos e o que ainda podemos fazer”. A segunda parte trata sobre o narcotráfico, seu histórico, logística e potencialidades. Nessa seção são apresentadas também subdivisões do problema, como a pirataria de produtos e serviços; a comercialização de órgãos e seres humanos; a lavagem de dinheiro e o envolvimento de corporações supostamente legais com grupos como as máfias italiana e russa. A última parte é onde o intuito do autor se mostra mais nítido. Ao narrar as histórias de “Marcola”, líder do PCC; Geralda, mãe de Tião e Fátima Souza, jornalista, Carlos Amorim deixa(ainda mais) evidente seu alerta à sociedade: A violência e o crime organizado atingiram grau máximo, abram os olhos! Assim como ele define os livros de Plínio Marcos e Júlio Ludemir, ambos sobre criminalidade, como obras que “enfiam a faca no bucho dos leitores e os fazem pensar” é assim que Assalto ao poder poderia ser definido.

Sem editoria de polícia Diário do Sul ganhou 18 prêmios em dois anos Na contramão da maioria dos jornais, Diário do Sul, da Gazeta Mercantil, abdicou de editorias populares como polícia e esportes para enfatizar a cobertura de manifestações artísticas e culturais, relacionando-as com economia e política. Mesmo assim, em 581 edições o periódico recebeu 18 prêmios, dentre eles o Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa. Sob o slogan “Diário do sul tem cultura na capa”, o jornal que circulou em Porto Alegre de 1986 a 1988, foi inspirado no espanhol El País e nos chamados quality papers, com baixas tiragens e dirigidos à formadores de opinião. O sucesso do jornal gaúcho não invalida a relevância do jornalismo policial. No entanto, o alarmismo, o simples do jornalismo “torce que sai sangue” e o sensacionalismo das coberturas policiais entorpecem leitores e telespectadores, tirando assim a real superfície do problema. “A mídia se aglomera em grandes grupos econômicos para, mais do que informar, alcançar os amantes da má notícia, da desgraça, da violência gratuita, da violência pela violência, da banalização da violência.” acrescenta o jornalista Edson Damasceno. Embora a estrutura da reportagem policial consista na análise de fatos pontuais, é necessário um olhar mais abrangente e racional sobre os casos, especialmente aos relacionados à violência urbana “A narrativa não deve dividir o mundo entre o bem e o mal, nem adquirir registro emocional, que transtorna o público e obviamente, não lança qualquer luz sobre o problema.” afirma Rogério Tavares, jornalista e diretor do Depto de Direito à Comunicação do Instituto dos Advogados de MG.

“Como solucionar a violência, se no Congresso as questões políticas e econômicas são resolvidas com ações criminosas?”


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Curso de Jornalismo da UFSC Atividade da disciplina Edição Professor: Ricardo Barreto Edição, textos, planejamento e editoração eletrônica: Pâmela Carbonari Paludo Serviços Editoriais: Forbes, O Estado de São Paulo, Mapa da Violência 2012 Impressão: Postmix Junho de 2012

Florianópolis, 14 de junho de 2012 Ano I Edição I A2

A máfia é a maior empresa da Itália Berço esplêndido: da extorsão aos altos escalões do Estado, a organização fatura 7% do PIB do país

Estresse pós-traumático, o que nos sobra da violência urbana As pessoas que vivem em locais onde a violência urbana faz parte do cotidiano têm que lidar com um problema cada vez mais frequente, o estado das vítimas após situações de agressão. Assaltos, sequestros, roubos, estupros, todos esses incidentes podem ultrapassar o limiar da tolerância. O intenso estresse emocional vivido durante esses eventos é chamado de Estresse agudo, que é aceito como uma reação natural durante aproximadamente um mês. Se após tal período, o estado psicológico habitual da pessoa não voltar ao normal, o Estresse agudo pode evoluir para um quadro chamado Estresse pós-traumático, fenômeno comum em vítimas de tortura ou guerras. O paciente revive o evento através de sonhos, flashbacks, pesadelos e tem a constante sensação de que o episódio está prestes a acontecer de novo. Outra característica do Estresse póstraumático é que ele passa a modular as atividades da vítima. Josy Gonçalo, já sofreu quatro assaltos à mão armada em seu estabelecimento comercial “Essas situações despertaram em mim os piores sentimentos, vontade de fazer justiça com as próprias

mãos. Imediatamente deixo de andar com cartões, dinheiro, joias e bolsas, não vou a bancos fazer saques, não paro em sinaleiras, não abro a porta do meu comércio pra quem não conheço e não dirijo sozinha” conta a empresária de Fortaleza. Muito embora o trauma vire uma marca permanente na história de cada um, o tratamento vem para retomar a vida dos pacientes antes do incidente. “Profissionais, amigos e familiares auxiliam através da conversa e da compreensão do fato. Mas o tratamento é uma soma de ações multidisciplinares, que envolvem a saúde, o social e o jurídico. A condenação confirma o discurso do psicólogo à vítima de que o que ela viveu é injusto. ” acrescenta a pesquisadora e professora da UFSC, Lucienne Borges. No entanto, nem 10% dos homicídios são solucionados no país. Apesar da violência urbana não ser sempre tão complexa quanto uma guerra, a exposição de suas vítimas é contínua. Os sobreviventes de uma guerra vão para locais longe dessa realidade, seguros. Enquanto isso, os sobreviventes da criminalidade continuam dentro do campo de batalha.

sas da Itália, as que figuram como expoentes nos negócios globalizados são: Cosa Nostra, Camorra e Ndrangheta. A Cosa Nostra, originária da Sicília, é considerada a mãe de todas as outras organizações. Por estar em um local estratégico e de fácil acesso no Mar Mediterrâneo, a ilha já foi alvo de várias invasões ao longo da história. Essa organização é famosa por A Camorra controla o lixo em Nápoles ter estrutura em forma de alcachofra, quanto mais longe do centro, mais O FBI estima que existam fácil é a substituição, enquanto que o Don, o chefe do grupo, está no coração 250 mil membros do hierarquia, menos exposto e mais grupo em todo o mundo da protegido. Suas leis falam de sangue, sua capacidade coorporativa e acabou honra e silêncio (no jargão da máfia, fortalecendo ainda mais seu poder. Omertá é a lei do silêncio)e seu nome Além das mortes encomendas, dis- ficou conhecido por ser uma desculputas comerciais e territoriais, mas- pa dada pelos membros quando quessacres, lavagem de dinheiro, tráfico tionados sobre suas atividades “é cosa e contrabando, ela se infiltrou nas nostra, é coisa nossa”, ou seja, são instituições públicas e privadas com assuntos que apenas os mafiosos sicrimes do colarinho branco, prejudi- cilianos podem entender ou resolver. cando o desenvolvimento de toda a A Camorra, da região de Nápoles, nação. De acordo com uma pesquisa tem cerca de 7.200 associados e é muirealizada pela Associação dos Comer- to diferente da siciliana: ela não segue ciantes Italianos, a média anual do tantas regras de conduta. Nas devidas faturamento destes gângsters é de 90 proporções, pode-se dizer que sua rebilhões de euros, a quantia representa alidade é parecida com a do tráfico aproximadamente 7% do PIB italia- nas favelas brasileiras, muito dinheino, ou seja, a maior empresa do país. ro e pouco prestígio. Sua principal Dentre as inúmeras facções crimino- fonte de renda são os crimes ambien-

tais, o lixo de diferentes lugares da Europa vai para a Itália ser enterrado. “O estado promove licitações para dar o destino adequado aos resíduos industriais radioativos. A Camorra ganha essas licitações, mas os enterra em locais desprotegidos. A região de Nápoles está virando uma bomba atômica”, esclarece o italiano Andrea Santurbano, co-editor da Mosaico italiano, da revista bilíngue Comunità italiana, e professor da UFSC. A Cálabria é o berço da organização mais rica da Itália, a Ndrangheta. Apesar das bases paternalistas e das origens medievais, com símbolos ocultos e códigos cifrados, a Nhangheta atua em diversos países da Europa e da América através do tráfico de drogas. A droga que vem da Colômbia, passa pelo Brasil e vai para o Leste Europeu tem ligação com esse grupo. “Não me sinto fisicamente ameaçada, não vejo o problema apenas como algo relacionado à violência explícita, pelo contrário. A máfia está na economia e na política, entranhada no poder. O estado e a máfia cresceram paralelos um ao outro. O jeito italiano de pensar não consegue mais separar o que é máfia do que não é” acrescenta Valentina Drago, siciliana de Siracusa.

El patrón, rei da cocaína, vira tema de seriado na Colômbia O colombiano Pablo Escobar conquistou fama e fortuna, na década de 1980, por formar uma rede internacional de distribuição de drogas. Através do dócil jargão “O plata o plomo” (ou dinheiro ou chumbo), o chefe do Cartel de Medellín subornava juízes, políticos, advogados e jornalistas e não hesitava em assassinar seus subordinados ou quem não aceitasse seus acordos. No auge de seu império, quando controlou 80% do mercado Andrés Parras interpreta Pablo Escobar global de cocaína, foi eleito o sétimo que foi morto a tiros em 1993, foram homem mais rico do mundo pela re- descritos por Mark Bowden no livro vista Forbes. Matando Pablo: A caçada final ao rei O poder de “Don Pablito” era tanto da cocaína, da Editora Landscape, e em que ele chegou a se oferecer para sanar 2007 a obra foi adaptada ao cinema. a dívida externa da Colômbia. Apesar Neste mês de junho, estréia na Code ser acusado de estar diretamente li- lômbia Escobar, el patrón del mal, uma gado à morte de quatro mil pessoas, ao série da emissora Caracol Televisión assassinato de três candidatos à presi- de 63 capítulos sobre os anos 80 e 90, dência da República e ser responsável quando Pablo aterrorizava o país. Dipela explosão do vôo Avianca 203 e ferente de outras produções anteriodo prédio de segurança de Bogotá, em res sobre o tema, em que o traficante 1989, Escobar era estimado pela popu- aparecia idealizado, a nova série da lação carente por suas ações populistas Caracol pretende mostrar a real face de cunho anti-imperialista. do traficante sem elogiá-lo nem enOs últimos anos da vida de Pablo, grandecê-lo.

Caracol Television

administração pública e a população, os mafiosos se tornaram agentes intermediários pagos com trocas de favores, ou seja, a máfia nasceu como uma proteção opressora aos camponeses sicilianos” explica João Fábio Bertonha, autor do livro Os italianos, da Editora Contexto. O nome, no entanto, tem raízes mais remotas, da Páscoa de 1282, na Sicília, quando a mãe de uma virgem violentada por um soldado francês saiu angustiada às ruas gritando “ma fia, ma fia”. Assim como em qualquer outro grupo, a atuação hierárquica existe baseada no poder e nos tipos de dominação. Seus membros são conhecidos como “Uomini d’onore”, homens de honra, que seguem uma rígida hierarquia: o Don é o chefe do grupo, logo abaixo Sub-chefe e Consiglieri dividem o mesmo patamar, seguidos dos Capos, dos membros e dos associados. Os associados cooperam com a máfia, sem precisar trabalhar unicamente para ela, podendo ser desde arrombadores e traficantes a banqueiros, jornalistas e advogados. Diz um ditado mafioso “mandar é melhor que transar”, a máfia de fato sabe fazer negócios. Se no início utilizava troca de favores e extorsão, com o passar do tempo ela especializou

Ciro Messere/Reuters

E

m frente ao corpo do pai, no necrotério de Palermo, Rita Dalla Chiesa analisava a coroa de flores que recém havia chego e lembrava das repetidas vezes em que seu pai havia lhe contado: “Quando a máfia manda matar alguém, a primeira coroa de flores que chega é dos assassinos”. Em maio de 1982, seu pai, o general Carlos Alberto Dalla Chiesa foi nomeado chefe da polícia da Sicília e encarregado a combater os mafiosos da região. Menos de quatro meses depois, o general foi morto à tiros no centro de Palermo. O assassinato de Dalla Chiesa chocou a população e mostrou a força dessa organização criminosa. Não há unanimidade entre as vertentes que explicam a origem da máfia, a hipótese mais aceita relaciona seu nascimento à ausência do governo no sul da Itália, no século XIX, quando a Sícilia era feudal e o país estava dividido em reinos. Em 1870, quando aconteceu a Unificação Italiana, o comando da Itália foi centralizado em Turin e em Roma, e as normas do Norte serviram para todo o resto do país. Em meio ao abandono, os sicilianos se sentiram insatisfeitos com essa forma de governo e perderam a ligação com o estado. “No vácuo entre a

O orçamento de Escobar, el patrón del mal também é ousado e foge dos padrões, cada capítulo custa aproximadamente U$150 mil. A produtora, Juana Uribe, é filha de Maruja Pachón, jornalista que foi sequestrada por Pablo em 1990 e sobrinha de Luis Carlos Galán, morto por capatazes de “Don Pablito” em 1989. Outra vítima indireta é Camilo Cano, escritor da série. Camilo é filho do também jornalista Guillermo Cano, ex-diretor do jornal “El Espectador” assassinado em 1986 à mando de Escobar. A produção colombiana se baseia na obra La parabola de Pablo, de Alonso Salazar, exprefeito da cidade de Medellín. Apesar do estigma que a Colômbia carrega em relação ao tráfico de drogas, para Juana realizar uma série como essa é enaltecer a capacidade de superação e crescimento da nação. A produtora ainda acrescenta: “Queremos contar às novas gerações quem foram os poucos colombianos que se atreveram a desafiar o ‘’Patrón’’. Por isso é importante contar a história do ponto de vista das vítimas”.

“A vida do crime é cadeia ou cemitério, a única alternativa é a cadeira de rodas” “Escadinha”, um dos fundadores do CV


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