10/06/2013 Secretaria da Cultura RJ

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Grafite feminista e cosmopolita

Grafite feminista e cosmopolita 10.06.2013

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Um olhar desavisado pode achar que ela é mais uma menina que tem conquistado espaço nos muros das cidades – o universo da street art, onde sempre predominaram os homens, tem sido cada vez mais ocupado por mulheres. Panmela C astro é isso, mas não apenas: aos 31 anos, é uma das “150 mulheres que movem o mundo”, segundo a revista Newsweek, que em 2012 a incluiu nessa lista ao lado da Presidente Dilma – as únicas brasileiras. Além disso, é uma grande responsável por colocar os direitos das mulheres em pauta em diversos bairros do subúrbio carioca. Tudo isso por causa da Rede Nami, a Rede Feminista de Arte Urbana que Panmela, que assina seus trabalhos como Anarkia Boladona, fundou há três anos. A Rede Nami é uma organização feminista que usa as artes urbanas para promover os direitos das mulheres. Elas realizam grupos de estudos, sessões de cineclube, palestras, mas principalmente oficinas de grafite nas comunidades do Rio de Janeiro para divulgar a Lei Maria da Penha e conversar sobre violência doméstica e igualdade de gênero. O interesse de Panmela partiu de uma experiência pessoal de violência que sofreu aos 20 anos. “Eu fiz uma denúncia e nada aconteceu. Algum tempo depois, quando foi decretada a Lei Maria da Penha, eu pensei: isso precisa ser conhecido”, conta a artista. Daí surgiu a ideia de usar a arte como ferramenta de comunicação: “Se chegamos na comunidade convidando as pessoas para falar de violência doméstica, ninguém aparece, mas se convidamos para aprender a grafitar, todo mundo vai”. Nas oficinas, acompanhadas de uma advogada especialista na lei, as grafiteiras promovem um bate papo sobre o assunto e, no fim, todas produzem um mural temático, onde as participantes pintam imagens e frases baseadas nas suas vivências e nas informações que obtiveram sobre o funcionamento e o alcance da lei. “Assim as informações discutidas continuam sendo lembradas e passadas dentro da comunidade”, explica Panmela. “Muitas mulheres dizem que, se soubessem antes dos direitos expostos nos murais e nas oficinas, talvez tivessem percorrido caminhos diferentes em suas vidas. Usamos a arte como uma arma pacífica e um instrumento de transformação cultural na luta contra o machismo", acrescenta. Graduada em Pintura pela UFRJ e mestre em Artes Visuais pela UERJ, nascida e criada no bairro da Penha, subúrbio carioca, Panmela coleciona prêmios de destaque tanto em direitos humanos – DVF Awards (2012), Vital Voices Leadership Awards (2010) – quanto no grafite – Prêmio Hutúz Grafiteiro da Década (2009) e Grafiteiro do Ano (2007). Seus murais são habitados por figuras femininas em cores fortes e vibrantes. Personagens como a Liberté, sempre acompanhada de uma águia, a Gabriela Libélula ou as Irmãs Siamesas, unidas pelos cabelos, que simbolizam força e feminilidade, estão em muros do mundo inteiro: Anarkia assina painéis em mais de 20 cidades, como Toronto, Berlim, Istambul, Johannesburgo, Washington, Nova York, Lisboa, Bogotá, Praga e Tel Aviv. Por perto, podemos encontrá-las no Piscinão de Ramos, no C entro do Rio, em Macaé, etc. Sua arte, seu ativismo e seu estilo de vida se misturam: Panmela tem presença forte como suas imagens. C om seus cabelos loiros longos, sorriso aberto e tranquilo e jeito de falar maroto, a grafiteira transita com desenvoltura e atitude pelas favelas cariocas e por palcos e cerimônias de gala mundo afora. “Eu sou suburbana, carioca, frequento o Piscinão de Ramos, adoro grafitar lá. Fui criada no meio do funk, da praia, dessas coisas todas”, diz a artista. Da Penha a Paris, de Ramos a Nova York, Panmela e Anarkia ressignificam distâncias e poderes – como no vídeo Meu querido DVF, que apresentou na defesa de sua dissertação de mestrado, esse ano na UERJ. No vídeo, Panmela grafita usando um vestido que ganhou da estilista Diane von Furstenberg. “Quando me disseram que eu não poderia usar o vestido novamente, pois já tinha aparecido com ele, decidi usar fazendo o que faço sempre”. E assim Anarkia chega à Penha depois de pegar o ônibus 497, trajando um vestido de 2 mil dólares, e, ao som do funk Minha vó tá maluca, pinta mais um mural em que retrata mulheres fortes e múltiplas como ela – e como tantas outras.

http://www.cultura.rj.gov.br/artigos/grafite-feminista-e-cosmopolita

Sec retaria de C ultura. G overno do Rio de J aneiro.


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