PANROTAS 1.422

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Edição nº 1.422 - Ano 28 | 13 a 19 de maio | www.panrotas.com.br

EM TERRA E NO MAR

Como a hotelaria e os cruzeiros marítimos se preparam para a (lenta) retomada pós-pandemia

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PANROTAS — 6 a 12 de maio de 2020


PRESIDENTE

José Guillermo Condomí Alcorta

ÍNDICE nº 1.422 | 13 a 19 de maio de 2020 | www.panrotas.com.br

CHIEF EXECUTIVE OFFICER (CEO) José Guilherme Condomí Alcorta (guilherme@panrotas.com.br)

DIRETORA DE MARKETING E EVENTOS Heloisa Prass

CHIEF TECHNOLOGY OFFICER (CTO) Ricardo Jun Iti Tsugawa

REDAÇÃO (redacao@panrotas.com.br)

EDITOR-CHEFE E CHIEF COMMUNICATION OFFICER: Artur Luiz Andrade

(artur@panrotas.com.br) Coordenador de Redação: Rodrigo Vieira (rodrigo@panrotas.com.br) Coordenador Web: Danilo Alves (danilo@panrotas.com.br) Pancorp/Viagens Corporativas: Beatrice Teizen Conteúdo para marcas: Vinicius Novaes e Beatriz Contelli (estagiária) Reportagem: Filip Calixto, Juliana Monaco, Victor Fernandes Fotógrafo: Emerson de Souza (São Paulo) MARKETING Analista: Erica Venturim (erica@panrotas.com.br) CRIAÇÃO Fernanda Souza (fernanda@panrotas.com.br) Pedro Moreno (pedro@panrotas.com.br) COMERCIAL Gerente: Ricardo Sidaras (rsidaras@panrotas.com.br)

Página 04 Editorial - O novo normal real: o que fica e o que é transitório

Página 06 Cruzeiros - Entrevista com o presidente da Clia Brasil, Marco Ferraz

Página 20 Linha de frente - Como se dará a retomada da hotelaria brasileira?

Página 30 Trend se prepara para a volta dos negócios

Executivos: Flávio Sica (sica@panrotas.com.br) João Felipe Santana (joaosantana@panrotas.com.br) Renato Sousa (rsousa@panrotas.com.br) Rene Amorim (rene@panrotas.com.br) Sônia Fonseca (sonia@panrotas.com.br) Big Data: Igor Vianna (igorvianna@panrotas.com.br) Jéssica Andrade (jessica@panrotas.com.br) Assistentes: Ítalo Henrique (italo@panrotas.com.br) Rafaela Aragão (rafaela@panrotas.com.br) FALE CONOSCO Matriz: Avenida Jabaquara, 1.761 – Saúde São Paulo - Cep: 04045-901 Tel.: (11) 2764-4800 Brasília: Flavio Trombieri (flavio@panrotas.com.br) Tel: (61) 3224-9565 Rio de Janeiro: Simone Lara (simone@panrotas.com.br) Tel: (21) 2529-2415/98873-2415 Estados Unidos: Helene Chalvire (helene@panrotas.com.br) ASSINATURAS Chefe de Assinaturas: Valderez Wallner Para assinar, ligue no (11) 2764-4816 ou acesse o site www.panrotas.com.br Assinatura anual: R$ 468 Impresso na Referência Gráfica (São Paulo/SP)

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Parceria Estratégica


Editorial

REABRIR O TURISMO VAI CUSTAR CARO

O

novo normal a que muita gente se refere trata-se de um mundo ainda exposto ao novo coronavírus, sem uma vacina e com medicamentos disponíveis para casos e estágios diferentes da doença. Nesse novo mundo normal, preocupações com saúde, higiene, bem estar e segurança estão na linha de frente de nossas mentes. Se não é seguro, não quero. Se vai me causar mais estresse e ansiedade, fico em casa. Se corro risco, declino. Novos protocolos visando a esse novo patamar de preocupação com limpeza e sanitização estão sendo desenhados por empresas em todo o planeta, inclusive as de Turismo, que, segundo as previsões, serão as últimas a verem um retorno dos negócios. Primeiro com viagens curtas, a trabalho ou a lazer, perto de casa, talvez de carro ou em voos rápidos. Logo depois ou simultaneamente, as viagens não tão necessárias e mais longas, com o objetivo de rever parentes e resolver problemas quase urgentes. Na sequência as férias, as viagens em grupo, os eventos... Mas tudo ainda nesse ambiente controlado e repleto de ansiedade. Um ambiente que custa caro e vai requerer altos investimentos das empresas de Turismo. Overtourism? Não mais. Então como compensar a falta desses turistas em massa? Restaurantes cheios, filas nos parques, estádios lotados para um show? E como se compensa a perda da ocupação? Assentos do meio bloqueados, aviões mais vazios, restaurantes com hora marcada nos hotéis, room service limitado? Mais receita se esvaindo. Aumenta-se o tíquete médio? Viajar voltará a ser para poucos? E quanto aos investimentos em tecnologia? Processos precisaram ser touchless, sem toque, sem contato físico. Mais apps, mais leitura à distância, mais reconhecimento facial. Barato não é, apesar de ser um investimento “para sempre”, tendências que vieram para ficar, independentemente de vacina. E mais os investimentos em saúde: medição de temperatura, testagens, isolamento de funcionários e clientes, certificações sanitárias. Isso sem falar em consultorias, pagamento de empréstimos, uma nova operação dos negócios... Sim, essa volta custará caro. Mas ainda não será o novo normal. Será um

novo normal temporário. Pois a tendência é que a pandemia acabe (seja com vacina ou com o fim de seu ciclo) e possamos a voltar a pensar um pouco como antes. E o que ficará como legado desse novo normal temporário? O que aproveitaremos no novo normal real, pós erradicação do vírus (e antes da chegada do próximo)? A tecnologia para processos toucheless? Com certeza. Já era tendência. O monitoramento de epidemias e doenças ao redor do mundo, para que as medidas sejam tomadas o mais rapidamente possível (por exemplo, no caso atual, ainda em dezembro e não em março), também veio para ficar. A ciência como parceira. A medicina como aliada em planejamentos e recomendações. Também no novo normal real veremos que, além da razão sanitária, poderemos viver sem alguns supérfluos (tanta amenidade em um hotel por exemplo). Destinos podem viver sem o turismo de massa. E talvez o luxo migre enfim para duas vertentes: as viagens com propósito real e as super exclusivas, que não incluem aviões comerciais e restaurantes com alta ocupação. O novo normal real terá consolidação de empresas, como em qualquer crise, grupos maiores (e companhias menores) na aviação, novas relações trabalhistas, novos modos de se trabalhar (tendo nossa casa como um dos grandes hubs) e novas formas de aproveitar um destino. No mindset dos viajantes mais preocupação com o agora, com a experiência de verdade, com a companhia da viagem e com o legado para as futuras gerações. Influenciadores serão desconstruídos, empresas terão de ser mais transparentes (e esses itens merecem uma dissertação à parte), profissionais poderão estar longe dos clientes, mas a confiança e a fidelidade serão a base das relações. O novo normal transitório será caro, estressante e inconsistente, pois novas descobertas podem mudar tudo, como desde o início da pandemia, mas ele é necessário, para continuarmos investindo no real, no que queremos de verdade e no que poderá ser oferecido a cada um de nós.n

Artur Luiz Andrade Editor-chefe e Chief Communication Officer da PANROTAS artur@panrotas.com.br

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Cruzeiros

PERMISSÃO PARA NAVEGAR

Marco Ferraz, presidente da Clia Brasil

O Brasil vinha em um ritmo considerável para voltar aos níveis recorde de embarcações de cruzeiros na costa nacional, que foi registrado na temporada 2010/2011, com 20 navios, e de passageiros transportados, na temporada seguinte, com 805 mil cruzeiristas. Após viver águas turbulentas, com menos navios e passageiros, a tendência de melhora já vinha sendo sentida nas últimas temporadas. Em 2018/19, por exemplo, foram 500 mil leitos disponíveis, alta de 15% para a temporada anterior. Nesta temporada, iniciada em novembro de 2019, vieram oito navios, para 530 mil leitos, com injeção esperada de R$ 2,2 bilhões na economia brasileira. Mas a pandemia se tornou global e logo as companhias de cruzeiros se encontraram em mares turbulentos, alguns com passageiros infectados, à mercê da decisão de governos dos países e portos a redor do mundo. Navios 6

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parados, viagens canceladas, roteiros adiados... tudo isso em uma época muito promissora para o setor no Brasil e no mundo. O presidente da Cruise Lines International Association (Clia) no Brasil, Marco Ferraz, falou com a revista PANROTAS e dá um quadro geral sobre o setor de cruzeiros pré, durante e póscoronavírus. REVISTA PANROTAS – Qual o impacto inicial da pandemia de covid-19 no setor de cruzeiros, liderado mundialmente pela Clia? O setor foi o mais afetado no Turismo? MARCO FERRAZ – Todos os setores que estão relacionados à atividade turística foram igualmente afetados e seguiram para a paralisação das atividades. Em relação aos cruzeiros, nosso setor contribui com US$ 150 bilhões para a economia mundial, gerando mais de US$ 50 bilhões em salários e 1,2 milhão de empregos.


Com base em uma análise da BREA (Business Research and Economic Advisors), sabemos que para cada queda de 1% nos cruzeiros que ocorrem em todo o mundo, até 9,1 mil empregos podem ser perdidos. Se a suspensão, que começou em meados de março, continuar por 90 dias, o impacto global será de US$ 32 bilhões, 222 mil empregos e US$ 11 bilhões em salários. A comunidade de cruzeiros é resiliente e estamos confiantes de que, uma vez que passarmos por isso, seremos mais fortes. O plano é fazer nossa parte para contribuir e alimentar a recuperação econômica e social global. RP – Os cruzeiros têm altos padrões de limpeza e já sabem lidar com a presença de doenças a bordo, como no caso do norovírus. Como essa expertise ajudou na emergência do novo coronavírus? Haverá novos procedimentos sanitários e de limpeza depois do coronavírus? FERRAZ – A indústria de cruzeiros sempre seguiu os melhores padrões sanitários e de limpeza para garantir a saúde e o bem-estar de todos a bordo. Quando o setor de Turismo retomar as suas atividades, sem dúvida serão implementados protocolos ainda mais rígidos nos cruzeiros, portos, aeroportos e hotéis, entre outros locais, para garantir a segurança e a saúde dos viajantes. Assim que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou uma pandemia, os membros da Clia suspenderam voluntariamente as operações

em todo o mundo e tiveram um apoio essencial dos médicos e de toda a equipe de saúde a bordo dos navios pelos cuidados prestados àqueles que foram impactados por essa pandemia. A indústria tomou medidas imediatas e agressivas com base nas informações que estavam disponíveis e continuou a fortalecer sua resposta à medida em que novas informações se tornavam públicas. Antes mesmo da decretação da pandemia, quando a OMS anunciou uma “emergência internacional de saúde pública”, as companhias membros da Clia concordaram e introduziram globalmente um conjunto melhorado de protocolos de triagem que foram intensificados com base na orientação das autoridades de saúde atuais, incluindo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, a Organização Mundial da Saúde, Anvisa, entre outros. Essas medidas incluíram rigorosas verificações de saúde e histórico de viagens antes de embarcar, em cada passageiro e membro da tripulação. Esses procedimentos visaram evitar o embarque de pessoas que representassem algum risco, seja por conta dos sintomas ou porque visitaram países e regiões afetadas, ou tiveram contato próximo com um caso suspeito ou confirmado de covid-19. Além disso, as empresas imediatamente intensificaram seus protocolos de saneamento a bordo para níveis ainda mais altos, feitos antes, durante e no final de cada cruzeiro. Isso, 13 a 19 de maio de 2020 — PANROTAS

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é claro, foi além dos protocolos normais de limpeza e higiene a bordo, que são alguns dos mais rigorosos na indústria de viagens. RP – E o impacto na imagem dos cruzeiros marítimos? Como trabalhar no consumidor as notícias e imagens dos navios que não puderam atracar em portos e dos passageiros confinados? FERRAZ – Neste momento, todos os navios de cruzeiro membros da Clia completaram suas viagens para o desembarque final de passageiros, como resultado das suspensões globais voluntárias anunciadas em meados de março. Somos gratos aos portos e governos que permitiram acesso e porto seguro para que os navios de cruzeiro pudessem completar suas viagens de volta para casa. Este foi um processo extremamente complexo devido às restrições de voo e fechamentos de portos que começaram logo após o anúncio das suspensões. No entanto, as companhias de cruzeiro trabalharam sob a direção de governos e autoridades sanitárias em cada passo para facilitar o retorno seguro e ordenado aos portos. Esta é uma situação sem precedentes que afeta todas as indústrias, comunidades e pessoas. Sabemos agora que mesmo nossos melhores esforços não poderiam impedir que essa pandemia afetasse alguns de nossos navios, assim como afetou todos os outros locais onde as pessoas se reúnem para socializar e desfrutar de experiências compartilhadas, de restaurantes a aeroportos, hotéis, cinemas, conferências, entre outros. Todos os esforços foram grandes exemplos do trabalho sério e focado do setor, sempre buscando a segurança e o bem-estar de todos. Embora os navios têm chamado a atenção, o fato é que os cruzeiros não são a fonte nem a causa do vírus. Vale lembrar que a indústria de cruzeiros não abre mão dos mais rigorosos requisitos sanitários de limpeza e higiene em todas as embarcações. O fato é que a grande maioria dos mais de 270 navios de cruzeiro que fazem parte da frota de membros da Clia não foram afetados por esse vírus.

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Isso se deve, em grande parte, às medidas agressivas adotadas pelas companhias de cruzeiros marítimas da Clia em resposta ao covid-19, com base na orientação predominante das autoridades globais de saúde, incluindo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), Organização Mundial da Saúde (OMS) e Anvisa. RP – Como foi o trabalho para a paralisação dos cruzeiros? Por que alguns navios ainda estavam navegando no final de março? Houve uma demora de resposta à crise por parte do setor já que a epidemia teve ondas a partir da China em direção ao Ocidente?

FERRAZ – Na verdade, a indústria de cruzeiros foi uma das primeiras a anunciar que estava suspendendo voluntariamente as operações, a partir do dia 13 de março, após a declaração de pandemia da Organização Mundial da Saúde. Os navios que estavam navegando no final de março eram, em sua maioria, os que já tinham feito suas partidas antes de o mundo saber que o vírus que havia surgido se desdobraria em uma pandemia global. A maioria transportava pouquíssimos passageiros em sua última parada, porque enquanto voltavam para casa, efetuavam vários desembarques nos portos ao longo do caminho.



Este foi um processo extremamente complexo devido às restrições de voo e fechamentos de portos que começaram logo após o anúncio das suspensões. No entanto, as companhias de cruzeiro trabalharam em contato direto com governos e autoridades sanitárias buscando um retorno seguro e ordenado aos portos. RP – O setor trabalha com que previsão de retomada? Já há uma estratégia sendo desenhada pela Clia para divulgar essa retomada, trabalhar a imagem dos cruzeiros, ressaltar a importância do segmento? FERRAZ – Atualmente, todos os membros da Clia concordaram em continuar a suspensão mundial das operações até, pelo menos, 15 de maio de 2020 e estender ainda mais se necessário. Muitas companhias já anunciaram suspensões muito além desta data (o que foi feito após a Clia ter respondido a essa entrevista - há empresas com previsão de retorno entre julho e setembro). Navegaremos novamente quando for a hora certa, com base na orientação das autoridades globais de saúde, incluindo a Organização Mundial da Saúde, os Centros de Controle de Doenças dos EUA, Anvisa, entre outros. Enquanto isso, estamos usando esse tempo para rever e aprimorar nossos protocolos e para determinar maneiras de ir ainda mais longe em nossos esforços para proteger a saúde dos passageiros, da tripulação e das comunidades que visitamos. Estamos melhorando o que já é feito com excelência e buscaremos apresentar o que existe de melhor no mundo, adicionando tecnologias e inovações. RP – Os Estados Unidos estenderam a proibição de cruzeiros até julho e não incluíram o setor no pacote de ajuda, já que a maioria das companhias e navios têm sede ou bandeira fora do país. Considera que isso deva ser revisto? E no Brasil? A Clia está satisfeita com a resposta do governo? FERRAZ – Praticamente todos os navios de cruzeiro são registrados

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fora dos Estados Unidos por muitas razões - uma das quais é que os Estados Unidos não têm experiência em estaleiros ou capacidade para construir navios de cruzeiro modernos, o que é um dos três requisitos da lei local para um navio ser sinalizado como uma embarcação americana. Apesar dessa limitação, as companhias de cruzeiro optam por conduzir grande parte de sua atividade econômica, contratações e compras nos EUA, e as três principais companhias de cruzeiros do mundo optam por localizar suas sedes nos

Estados Unidos, o que gerou US$ 53 bilhões de impacto econômico e 421 mil empregos locais (ou 40% dos postos de trabalho que o setor de cruzeiros gera em todo o mundo). Embora a Clia não busque alívio para as companhias de cruzeiro neste momento, está dialogando com membros do Congresso para fornecer apoio adicional às pequenas e médias empresas em todo o país que dependem de cruzeiros. No Brasil, onde os navios de cruzeiro geram R$ 2,08 bilhões de impacto econômico, temos sentido uma intenção positiva na condução da


FERRAZ – Essa crise vai trazer mudanças na forma como vivemos, compramos e vendemos produtos. Há vários aprendizados fundamentais desta situação extraordinária de pandemia que pessoas, empresas, organizações, comunidades, governos e outros que trarão evoluções para o futuro. A indústria de cruzeiros usará essa experiência e aprendizados para ser melhor e mais forte quando navegar novamente, já que o setor sempre foi um bom exemplo para a indústria de viagens como um todo, especialmente em relação a protocolos de saúde e saneamento, que, inclusive, serão ainda mais expandidos, como já mencionado anteriormente. Estamos comprometidos em melhorar ainda mais o que já é feito com excelência e em constante evolução.

crise, principalmente por parte dos órgãos com os quais estamos em contato contínuo, como o Ministério do Turismo, Ministério da Economia, Embratur, Ministério da Justiça, Ministério da Casa Civil, sempre ao lado de grandes entidades representativas do setor, como Abav Nacional, Abracorp, Braztoa, Air Tkt, Aviesp, entre outras. Diversos países que trabalharam os pleitos do Turismo atuaram nas questões trabalhistas e de relações de consumo (cancelamentos, remarcações e reembolsos), além da concessão de crédito

como auxílio na travessia dessa crise. No Brasil, por enquanto, a concessão de crédito ainda é o ponto mais relevante que falta ser atendido. Estamos atuando e acompanhando tudo de perto para que o setor consiga passar por essa fase delicada. RP – Quando os cruzeiros retornarem, que mudanças a Clia prevê na operação dos navios? O agente de viagens terá um produto diferente daquele que está habituado a oferecer a seus clientes?

RP – A pandemia pode aumentar a resistência a fazer cruzeiros entre os que não são cruzeiristas? E os que são passageiros frequentes, podem ser afetados ou já demonstram saudades de embarcar em uma viagem de navio? FERRAZ – Depois que esse momento difícil passar e as fronteiras forem reabertas, teremos uma grande demanda para atender. O foco das companhias de cruzeiros não está apenas nos navios, mas também na experiência dos seus clientes em terra, e seu impacto econômico e social positivo nas comunidades locais. Segundo o último estudo da Clia Brasil, em parceria com a FGV, mais de 50% dos cruzeiristas fizeram sua primeira viagem de navio na temporada 2018/2019, enquanto 48% já haviam viajado de cruzeiro (três vezes, em média). Em outras palavras, este é um tipo de viagem que atrai muitos novos fãs, mas também fideliza. Esta mesma pesquisa mostra que a maioria dos entrevistados (mais precisamente 86,2%) quer repetir o tipo de viagem. Os cruzeiros, temporada por temporada, vêm se reforçando como uma das melhores maneiras de experimentar o mundo, pois oferecem os três tipos de viagem mais desejados hoje, de

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acordo com alguns estudos: Turismo de Experiência, Acessível e Transformador. ACESSÍVEL – o cruzeiro é fácil de planejar e apresenta opções de viagem e experiências que atraem uma ampla gama de orçamentos, interesses e habilidades. EXPERIENCIAL – o cruzeiro oferece muitas opções de atividades e destinos, que podem ser experimentados em uma única viagem, mais do que qualquer outro tipo de viagem de férias - atraindo viajantes diversos e cada vez mais jovens. TRANSFORMADOR – o cruzeiro oferece oportunidades de crescimento pessoal e maior compreensão do mundo, conectando pessoas e culturas. RP – Pode haver alteração de destinos, países visitados, e até na duração das viagens? FERRAZ – Sim. Acreditamos que possa ocorrer um movimento de mudança no perfil das viagens. Destinos que proporcionem experiências novas, íntimas e de transformação interna, deverão ter uma procura maior. Falando em mercado, também sentimos que, no momento certo, tanto destinos que já recebem navios, quanto os que poderiam receber, estarão mais abertos ao setor e ao que o consumidor deseja neste momento, pois os cruzeiros geram excelentes impactos econômicos nas cidades, ajudando na recuperação econômica especialmente de pequenos negócios. RP – O perfil do cruzeirista é de um público mais velho, especialmente em rotas mais longas. Isso deve mudar? FERRAZ – Na verdade, no Brasil, o perfil dos cruzeiristas está ficando mais jovem. Os cruzeiros são diversos, democráticos e multigeracionais. Segundo o último estudo da Clia Brasil em parceria com a FGV, os números dividem-se em 20% para cada faixa etária – entre 25 e 65 anos – sendo que a média brasileira fica nos 44 anos. Há opções para todos os perfis de público. É possível desfrutar

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em família, onde as crianças têm recreações enquanto os pais e os avós aproveitam o lazer. Cruzeiros também são ótimos para viagens com amigos e solteiros. Aqui, os pontos fortes são os bares, pontos de encontro, shows, jogos, restaurantes com reservas, passeios em grupo fora do navio, spa e muito mais. Ainda há cruzeiros temáticos: musical, gastronômico, entre outros. Os minicruzeiros também se destacam, pois permitem que as pessoas façam mais viagens durante a temporada, além de atrair novos viajantes em navios, fretamentos, o que diversifica ainda mais o público. RP – O que pode se dizer em relação à próxima temporada

de cruzeiros no Brasil? Como o Turismo doméstico deve ser o primeiro a voltar, os cruzeiros no litoral brasileiro podem ser uma boa oportunidade e até uma alternativa para as empresas em relação a destinos para seus navios? Qual será a duração da temporada? FERRAZ – A temporada 20/21 será de novembro a abril e já terá todos os novos protocolos e inovações que a indústria irá implementar. Teremos a oportunidade de rever nossos hóspedes e visitar os destinos que já operamos e, quem sabe, alguns outros, contribuindo para um impacto econômico positivo nos locais por onde as embarcações passam, voltando



a gerar renda e postos de trabalho. É uma boa oportunidade para a retomada do Turismo como um todo, mas é importante ressaltar que as companhias estão trabalhando para iniciar suas operações mundiais antes disso, repeitando as regulações internacionais e regionais. RP – A Clia acredita que o ano deve fechar com que números mundiais? O setor vinha crescendo bastante e com inaugurações previstas? Esses novos navios serão lançados ainda este ano ou houve adiamento? FERRAZ – Ainda é difícil falar de números. Calculamos um grande impacto, pois a pandemia está prejudicando a alta temporada no hemisfério norte. Do nosso lado existe um enorme esforço para voltarmos a operar o quanto antes, e faremos isso no momento certo, quando as condições assim permitirem. Os novos navios estão sendo entregues e começarão a navegar assim que a situação se normalizar, o que nos motiva ainda mais para seguirmos no caminho de uma retomada robusta junto com todo o setor de turismo. RP – Como será o trabalho com os agentes de viagens para o relançamento dos cruzeiros no Brasil e no mundo? Vai ser necessária uma capacitação em massa para o novo momento? A Clia acredita que o setor volte aos números pré-crise a partir de quando? FERRAZ – São 40 mil agentes registrados em todo o mundo como membros da Clia, além de outros milhares aqui no Brasil, e o cruzeiro é uma parte muito importante de suas vidas e meios de subsistência. É importante ressaltar que o agente de viagens é o canal de vendas mais importante para as empresas de cruzeiros e, sim, eles são um dos principais focos do setor na retomada. Cerca de 70% dos navios de cruzeiro no mundo são reservados via agências de viagens. No Brasil, esse número beira os 90%. Muitas empresas já estão trabalhando ativamente com treinamentos on-line,

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webinars e palestras motivacionais. É hora de se aprimorar para atender os viajantes e toda a demanda de viagem que está momentaneamente reprimida, e que vai voltar. Viajar sempre foi um dos maiores desejos das pessoas, e o cruzeiro é uma das melhores maneiras de experimentar o mundo. Fazer viagens completas, que combinam excelente custo-benefício e proporcionam experiências transformadoras, formam uma combinação perfeita. É difícil falar quando os números voltarão aos patamares anteriores à pandemia, mas estamos trabalhando fortemente para que isso ocorra o quanto antes.

RP – Os cruzeiros fluviais foram tão impactados como os marítimos? Como se comportarão na retomada? FERRAZ – As companhias de cruzeiros fluviais também tomaram a decisão de suspender voluntariamente as operações globalmente em março. Eles também estão usando esse tempo para rever protocolos, políticas e formas de trabalhar para garantir que o cruzeiro fluvial esteja pronto, quando for a hora certa. Eles já estavam operando com grande sucesso e eram uma aposta no mercado e, dentro da Clia, sentimos que eles também



serão ainda melhores e mais fortes quando retomarem suas operações. RP – Que mensagem a Clia deixa para os agentes de viagens e principalmente seus clientes que estão com viagens marcadas ou planos de fazer um cruzeiro nos próximos meses? FERRAZ – A Clia e as companhias de cruzeiros estão trabalhando de forma incessante e contínua para seu retorno com produtos e roteiros ainda melhores, novos protocolos e tecnologias que deixem os agentes e consumidores seguros de que terão o que de melhor pode ser ofertado no momento pós-pandemia. São tempos difíceis que não pouparam ninguém. Estamos passando por isso juntos, superando todas as dificuldades, mas cumprindo com nossas obrigações de acordo com as regras internacionais e locais. Não podemos esquecer de que, em nossas prioridades, temos a excelência, a conformidade com as leis e regulações, o respeito ao meio ambiente e, principalmente, a segurança, a saúde e o bem-estar

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dos nossos hóspedes, dos nossos tripulantes e das comunidades que visitamos. Gostaríamos que tudo isso acabasse em uma semana ou duas e pudéssemos voltar a como era antes, o que é impossível neste momento, mas vale lembrar que somos uma indústria forte e sólida, e que todos os esforços não serão medidos para passarmos por isso com sucesso. Temos ótimas equipes junto aos nossos membros e contamos com todos mais uma vez, assim como foi com os ataques terroristas, H1N1, Zica, Ebola, Sars, Mers, furacões, tufões, crises e questões geopolíticas locais. Claro, a covid-19 não tem paralelos com nada que vimos até hoje, mas temos a certeza de que vamos superar, que isso vai passar, e vamos juntos seguir navegando e curtindo as belezas da vida, dos mares e dos destinos. Os Cruzeiros são associados a grandes e felizes memórias, a uma coleção de experiências únicas, aos melhores momentos da vida de muitas pessoas, a incríveis encontros com pessoas. Vão desde o ócio proposital, às buscas

por novas cultura a expedições que só podem ser feitas por meio dos navios. Temos excelentes embarcações e muitas outras entrando em operação, e as pessoas querem voltar a navegar conosco, como já vemos nas movimentações e no aumento da procura para 2021. Neste momento de isolamento, vamos aproveitar as nossas famílias, focar em sinais positivos no horizonte e nos preparar para o novo mundo à frente, quando a indústria de navios de cruzeiros estará pronta e operando. Nós somos todos turistas e gostamos de viajar sempre com nossos amigos e familiares, e esse dia vai chegar. Neste momento difícil, vamos manter as chamas do Turismo acesas, compartilhando o que as viagens representam para nós, nossos melhores momentos, grandes aventuras, imagens favoritas, vídeos, sons, sabores, para assim diminuirmos as distâncias e nos prepararmos para a retomada. E disso tudo, temos uma certeza: “a saudade do Turismo só aumenta”.n


QUANDO E COMO VOLTAM Embora as datas possam ser adiadas, como já foram nas últimas semanas, as principais companhias de cruzeiros do mundo contam com datas oficiais para voltarem a navegar.

CARNIVAL CRUISE

Os navios com saídas do Texas (Carnival Dream, Carnival Freedom e Carnival Vista), de Miami (Carnival Horizon, Carnival Magic e Carnival Sensation) e da Flórida (Carnival Breeze e Carnival Elation) retomarão as operações a partir de 1° de agosto. Todos os demais cruzeiros na Austrália e América do Norte foram cancelados até 31 de agosto. Os cruzeiros Carnival Spirit Alasca e Carnival Spirit Vancouver-Honolulu foram cancelados até 25 de setembro, e o transpacífico HonoluluBrisbane foi suspenso até 6 de outubro.

COSTA CRUZEIROS

A Costa Cruzeiros estendeu a pausa voluntária de suas operações globais até o dia 30 de junho. Os clientes receberão um crédito para utilizar até o dia 31 de março de 2021 e agendar um novo cruzeiro com embarque até 30 de novembro do mesmo ano.

DISNEY CRUISE LINE

As operações do Disney Dream e Disney Fantasy estão suspensas até 18 de junho e do Disney Magic até 2 de julho. A Disney está oferecendo aos clientes a opção de um reembolso total ou de um crédito de cruzeiro futuro de 125%, destinado a uma viagem futura dentro de 15 meses da data de partida original.

HOLLAND AMERICA

Por meio de comunicado, a Holland America Line informou o cancelamento de todas as saídas do Alasca, Europa e Canadá e Nova Inglaterra da temporada 2020. Além disso, o navio New Amsterdam não operará os

itinerários “Grand Africa” de 79 dias, de Boston a Fort Lauderdale, com data de saída em 3 de outubro de 2020.

MSC CRUZEIROS

Os navios da companhia ficarão parados até 10 de julho de 2020. Os hóspedes afetados pela medida receberão uma carta de crédito que pode ser utilizada em qualquer navio e itinerário de sua escolha até o final de 2021.

NORWEGIAN CRUISE LINE

Depois de anunciar suspensão de operações até 30 de junho, a Norwegian Cruise Line Holdings, que abrange NCL, Oceania Cruises e Regent Seven Seas, está sem data oficial para retorno aos mares. "Navegaremos em algum momento em 2020", afirmou o CEO Frank Del Rio, acrescentando que não poderia dar uma data específica já que a companhia, assim como seus concorrentes, ainda depende do sinal verde do governo norteamericano para voltar a atuar. "Seria irresponsável de minha parte dar uma data específica, pois ainda temos de ter liberação dos órgãos regulamentadores."

PRINCESS CRUISES

A última atualização da companhia de luxo é por destinos. Estão cancelados: Alasca: toda a temporada de 2020, inclusive as saídas do Emerald Princess e Ruby Princess Europa: toda a temporada de 2020 no Enchanted Princess, Regal Princess, Sky Princess, Crown Princess y Island Princess Caribe: até o final de julho Canadá e Nova Inglaterra: até o final de outubro

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Japão: saídas do Diamond Princess até meados de outubro Austrália: até o final de agosto no Sapphire Princess e Sea Princess Cruzeiros partindo do Taiwan: todos os itinerários de julho a bordo do Majestic Princess Havaí e Polinésia Francesa: até o final de novembro

ROYAL CARIBBEAN

Todas as operações da companhia estão canceladas até 11 de junho. Antes adiadas de 24 de março a 12 de maio, a Royal Caribbean informou que espera retomar as operações no dia 12 de junho.

SEABOURN

Antes prevista para 30 de junho, a paralisação dos cruzeiros de luxo da Seabourn foi estendida até outubro e novembro, a depender do navio. Seabourn Odyssey – com temporada na Europa, operações pausadas até o dia 20 de novembro; Seabourn Sojourn – com temporada no Alasca, sem operações até o dia 13 de outubro; Seabourn Quest – com temporada no Canadá, operações voltam a partir do dia 06 de novembro; Seabourn Encore – com temporada na Europa, operações pausadas até o dia 19 de outubro; Seabourn Ovation – com temporada na Europa, sem operações até o dia 6 de novembro

VIRGIN VOYAGES

A Virgin Voyages cancelou a cerimônia de inauguração do seu primeiro navio, o

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Scarlet Lady, em Miami. Marcado para acontecer no dia 18 de março, a empresa informou que uma nova data será divulgada em breve.

OUTRAS EMPRESAS

AmaWaterways, Avalon, Emerald Waterways, Oceania, Poseidon Expedition, Regent, Uniworld, U River Cruises, Scenic River Cruises (incluindo Scenic Eclipse) e Viking River Cruises estão com saídas suspensas até 30 de junho, e preveem a retomada das operações no mês de julho. Veja abaixo mais empresas. Aqua Expeditions – saídas canceladas até 30 de maio Crystal Cruises – saídas canceladas até 29 de maio Crystal River Cruises – saídas canceladas até 1º de julho Crystal Yatch Cruises – saídas canceladas até 28 de junho Ponant – saídas canceladas até 7 de maio Seadream – saídas canceladas até 15 de maio Silversea – saídas canceladas até 13 de junho No geral, as armadoras estão adotando novas práticas para a segurança e saúde de seus clientes e colaboradores. Entre os novos procedimentos, por exemplo, estão: certificação de liberação médica para viagem da tripulação, novas normas de limpeza para áreas públicas e cabines; uso de produtos de limpeza de nível hospitalar; novos protocolos de cuidado com alimentos e fiscalização do cumprimento dessas diretrizes, entre outros.n



Hotelaria

LINHA DE FRENTE DO TURISMO

“Eles foram um dos mais afetados pela crise e estão sem fonte de receita e sem acesso a crédito.” A colocação é do presidente da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado Federal, Izalci Lucas (PSDB-DF), em sessão realizada na semana passada por videoconferência, referindo-se a parques e à hotelaria. Não poderia ser mais direta. É certo que a indústria de Turismo, que já soma R$ 14 bilhões de prejuízo no Brasil, vai colapsar se não tiver uma ajuda substancial e urgente 20

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por parte do governo federal, que assinou uma MP liberando R$ 5 bilhões na sexta-feira, 8, mas ainda sem as explicações operacionais. Na linha de frente desta batalha, o setor de hospitalidade corre riscos e tem desafios de complexidade jamais vista. E quando se fala em “ajuda”, não se quer dinheiro de graça e sim linhas de crédito com taxas de juro viáveis, planos de recuperação e estratégias para a retomada, o que


o Ministério do Turismo já prometeu, incluindo uma campanha nacional e uma MP de crédito para o setor, como a assinada no dia 8 de maio. Foi via MTur que o segmento conseguiu também a MP 948, que inclui regras de reembolso, e ainda estar contemplado na MP dos Empregos.

Manoel Linhares, da ABIH Nacional

MAIS DESAFIOS Super oferta hoteleira, guerra tarifária, insatisfação dos distribuidores nos acordos de margens, desaquecimento do corporativo, câmbio, crises políticas e econômicas... Desafios que até parecem triviais perto do que se enfrenta com esta pandemia do novo coronavírus e para os quais, hoje vemos, dá-se um jeito... Segundo a Associação Brasileira da Indústria dos Hotéis (ABIH Nacional), mais de 90% dos hotéis, pousadas e outros pequenos meios de hospedagem estão fechados, tal como 100% dos parques e resorts. A grande maioria se encontra em meio a um fechamento de um total de 75 dias (somando desde o meio de março), tempo suficiente para quebrar a indústria, mesmo com o auxílio já prestado pelo governo federal, suporte esse considerado insuficiente. “Com a crise do coronavírus o setor de hotelaria está à beira da falência. Estamos no limite”, clama o presidente da ABIH Nacional, Manoel Linhares. “Os setores de Turismo e hotelaria foram os primeiros a sofrer os impactos da crise e estarão entre os últimos a contornar seus efeitos.” Pesquisa divulgada pelas entidades Resorts Brasil, ABIH, Fohb, FBHA, Unedestinos, BLTA, Sindepat e Adibra, mostra que 79% dos associados não têm folego financeiro além de dois meses e que a necessidade de uma linha de crédito possível é urgente. Metade dos pesquisados não conseguiu acesso a qualquer linha de crédito, outros só conseguiram parte do necessário e ainda faltam cerca de R$ 700 milhões (confira a pesquisa no Portal PANROTAS). Se há um pingo de boa notícia em toda essa enxurrada é a colaboração de todos do setor. “Nunca vi em oito anos de Brasil uma união tão grande entre os players do Turismo. Esse é um ponto que tem de ser destacado,

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pois é um agrado ver essa vontade, esse forte esforço em conjunto, pessoas deixando o ego de lado. Todo mundo está querendo salvar o Turismo e colocar a indústria como prioridade para o governo”, afirma o presidente da Accor para América do Sul, Patrick Mendes. Ana Biselli, da Resorts Brasil, concorda que a união está ocorrendo: “qualquer um das entidades parceiras pode falar pelo setor, a mensagem está unificada”. É o que o setor vem apelidando de G8: Associação das Empresas de Parques de Diversões do Brasil (Adibra), Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Brazilian Luxury Travel Association (BLTA), Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb), Resorts Brasil (Associação Brasileira de Resorts), Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas (Sindepat) e União Nacional de CVBx e Entidades de Destinos (Unedestinos). Depois de algumas conquistas importantes como a aprovação da medida provisória 936, que permite acordos para suspensão do contrato de trabalho e para a redução de jornada e salário e a própria mobilização para mostrar às autoridades a importância da aprovação de projetos, medidas e ações imediatas que possam proporcionar uma sobrevida ao setor, como o pagamento de energia elétrica, água e esgoto por consumo e não por demanda, o G8 está agora focado em três itens de sobrevivência:

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URGÊNCIAS DA HOTELARIA E DOS PARQUES

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Prorrogação da MP 936. A medida provisória prevê acordos de suspensão de contratos de trabalho e/ou redução da jornada. Hotelaria e Turismo, como os setores da economia mais afetados pela crise do novo coronavírus, precisam que seus efeitos sejam estendidos até o segundo semestre, pois o período de 60 dias autorizado pelo governo federal se expira em maio. Sobrará aos hotéis, parques e resorts uma folha salarial enorme para pagar, mas em um período de portas fechadas e consequentemente sem receita. A hotelaria precisa de pelo menos mais 180 dias de prorrogação;

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Disponibilização de uma linha de crédito específica para o setor, pois os empreendimentos necessitam de fluxo de caixa e capital de giro para terem fôlego na retomada. Não só para se manterem agora, mas chegar ao final do ano bem. A pesquisa realizada com 298 representantes dos setores de hotéis, condo-hotéis, resorts e parques e atrações constatou que mais da metade das empresas não passaria do próximo mês, caso o governo federal não encontre uma forma de terem acesso a linhas de crédito específicas para o setor, já que as disponíveis no mercado não beneficiam a Hotelaria, Viagens e Turismo. Nos bancos, Turismo funciona quase como uma repulsa na hora de dar empréstimos. O alto risco e a falta de garantias são algumas das desculpas ouvidas.

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Incentivos ficais. Na reabertura, o setor de hospitalidade precisa de isenção de impostos como PIS/Cofins; exoneração de folha e negociação de redução dos outros tributos. “Se conseguirmos trégua fiscal será uma conquista positiva, pois a perspectiva de ocupação dos hotéis é de média de no máximo 30% nos primeiros seis meses de reabertura”, prevê o presidente da ABR, Sérgio Souza.

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REABERTURA Certo é que em maio nenhum hotel, ou quase nenhum, reabrirá as portas. Líder em vendas e receita no ranking Abracorp, a Accor acredita em retomada no País a partir de junho. Isso não significa, no entanto, abertura desmedida de suas 340 unidades em território nacional. Para a rede, a abertura de um hotel só é viável quando se há ocupação mínima de 25%. Com um portfólio variado de marcas que vão do econômico ao luxo, do corporativo ao lazer, do urbano ao resort de praia, a companhia francesa consegue ser mais assertiva em suas decisões. “Não só a dimensão de nosso portfólio nos coloca em vantagem competitiva como nossa presença multinacional também tem nos ajudado desde antes de a covid-19 se tornar uma pandemia. Nos beneficiamos do nosso porte e presença em outros países, pois vimos o tsunami chegando. Há mais de 30 dias nós fazemos calls diárias com tomadores de decisão. Tudo o que nossas unidades na China e na vizinhança asiática fez nós replicamos os acertos e

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Patrick Mendes, da Accor

evitamos os erros”, explica o presidente da Accor na América do Sul, Patrick Mendes. “Seguindo o exemplo da China, estamos identificando onde a indústria e o comércio começarão suas atividades no Brasil, pois esse foi o fio da retomada no país asiático. Os primeiros hotéis a abrirmos serão os econômicos próximos aos centros de maiores atividades comerciais. Ibis, Ibis Budget e outros midscale devem ser os primeiros nesta abertura que, repito, será gradual”, completa. Os hotéis econômicos da Accor em território chinês abriram no meio de março com média de 30% de ocu-


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pação e em abril fecharam próximos de 45%, índice que deve subir 15 pontos percentuais em maio. Mendes prevê que no Brasil a Accor deve demorar de 15 a 18 meses para voltar aos números de 2019. “Em 2021, o último trimestre será equivalente ao último trimestre de 2019”, prevê o executivo. “Neste ano conseguiremos fechar com receita de no máximo 50% do que foi 2019.” Não obstante, tudo dependerá da estratégia de confinamento tomada pelos governos em suas três esferas. RESPONSABILIDADE “Precisamos de todo processo do poder público, precisamos de disciplina. Se houver um afrouxamento desorganizado que façam os casos estourarem ra-

Sérgio Souza, da Resorts Brasil

pidamente, em três semanas, não abriremos. Necessitamos dessa previsibilidade para poder orientar, de medidas sérias. Não pretendemos abrir hotéis para fechar novamente em algumas semanas”, afirma Mendes. Não só de poder público. A hotelaria é dependente de toda cadeia. “Como reabrir um hotel com as companhias aéreas operando 6% de sua capacidade? Precisamos de atuação conjunta”, pondera o presidente da GJP Hotels & Resorts, Fábio Godinho. “Diante disso, acredito que a retomada virá de forma faseada, com o corporativo ativado antes, as empresas começando a realizar seus eventos, os executivos se deslocando de forma gradativa.” A empresa, que também tem um portfólio flexível para vários tipos

de público, acredita que na sequência vêm as viagens regionais, para cidades próximas aos centros turísticos, especialmente para quem viaja de carro, e uma terceira onda virá com a abertura definitiva dos Estados e o retorno dos aéreos interestaduais. “Em relação à GJP, os hotéis abrirão de acordo com esse padrão e nossas previsões de vendas, já com todos os novos padrões de segurança e higienização completamente definidos e chancelados, além das equipes devidamente treinadas para essa nova operação.” Levando tais fatores em consideração, a maior parte dos resorts consultados pela ABR tem previsão de reabertura em julho. “Uma pequena parte talvez em junho, dependendo da localização, mas a maioria será em julho. Vai depender do achatamento da curva. No momento estamos de mãos atadas dependendo da recuperação da pandemia por parte do governo federal”, afirma o presidente da entidade, Sergio Souza. QUESTÃO TARIFÁRIA As tarifas da retomada serão outro desafio para os hoteleiros. Embora o Turismo seja o setor mais afetado pela crise, o poder de consumo do brasileiro em geral despencou com a recessão e os empresários terão de sentir o bolso do cliente no pós-covid. Ciente desta necessidade, o presidente da ABR diz que não acredita em uma alta vertiginosa do tíquete médio. Antes da reabertura teremos vendas diárias promocionais, um preço mais convidativo, como já está acontecendo com as aéreas. Quando houver reabertura, a preocupação da retomada, da sustentabilidade dos negócios, dos postos de trabalho, do segmento será tão grande que não caberá subida de preço muito grande. Com tudo o que converso com os associados não consigo ver ninguém especulando com diária num momento como esse,

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até porque não sabemos como virá a demanda. Também não sabemos como será a retomada dos eventos corporativos, que são fatia importante dos resorts”, avalia Sergio Souza. O presidente da GJP alerta para os perigos de uma guerra tarifária em um momento crítico como esse. “Isso causaria uma série de problemas dentro da nossa indústria, abalando inclusive a excelência dos serviços prestados. Cada empresa vai entender o seu cliente de uma maneira. As promoções e campanhas de retomada são importantes, mas como sempre fizemos, de forma planejada, oferecendo hospedagem de alta qualidade com preços justos, seguindo a estrutura que compõe uma tarifa, ou seja, custos fixos, custos variáveis e margem para reinvestimento nos produtos. Investiremos também valor em serviços agregados, em experiências diferenciadas e na flexibilização de compra”, aponta Fabio Godinho.

Fábio Godinho, da GJP

O NOVO NORMAL “O pior já passou”, afirma Patrick Mendes em relação aos esforços da Accor em ajustar a casa após a chegada do que ele classifica como “tsunami”. De janeiro até dia 15 de maio a Accor vinha com atuação 9% acima do mesmo período no ano passado, mas em dez dias viu o negócio cair 90%. “Ficamos ‘apagando incêndios’ durante um mês, negociando com governo, fornecedores e investidores. Agora já temos tempo para olhar como será daqui em diante.” Independentemente do que se passou, é certo entre os hoteleiros que a indústria já mudou em definitivo em praticamente todos os níveis. As grandes redes globais estão em busca de selos próprios ou terceirizados para assegurar os hóspedes de que as medidas de higiene são levadas a sério. No Brasil, as oito entidades mencionadas anteriormente já trabalham em um comitê chamado Hotela-

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ria Segura, que em parceria com a Setur-SP trabalha em uma minuta de protocolos de higiene para o setor. “O G8 está na esfera federal, discutindo com saúde e economia protocolos conjuntos. Esses protocolos existirão para lazer e eventos, pois dentro dos resorts têm convenções de médio e grande portes. Teremos de aplicá-lo em toda a hotelaria rigorosamente até que venha uma vacina”, afirma Sergio Souza. A Accor procurou a empresa global de testes, inspeção e certificação Bureau Veritas e ambas uniram forças para desenvolver um selo projetado para certificar que os padrões de segurança e protocolos de limpeza sejam apropriados para permitir que as empresas possam reabrir. “Nossos hotéis têm de ser mais limpos e confiáveis do que a casa dos hóspedes”, avalia Mendes. O selo cobrirá tanto a acomodação quanto a restauração e definirá os padrões sanitários aplicáveis a todos os hotéis do grupo, bem como a outras redes e hotéis independentes. O resultado desse esforço será um guia operacional a todos os interessados no setor de hospitalidade, permitindo que eles apliquem rigorosamente a recomendação de segurança e saúde das autoridades (OMS, Ministério da Saúde etc.), tanto nos espaços de atendimento ao cliente quanto nos escritórios e espaços de restauração. Os clientes europeus poderão conferir em um site dedicado do Bureau Veritas, antes de reservar sua próxima estada, se algum hotel ou restaurante foi certificado ou não pelo Bureau Veritas. No caso da GJP, a empresa prepara seus novos protocolos de segurança e higienização com uma consultoria médica brasileira que ainda não pode ter o nome revelado, por questões contratuais. “Sem dúvida será um grande passo de protagonismo e excelência no segmento turístico-hoteleiro”, afirma Godinho. Para ele, o País vive o que se cha-

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MAIS UM RESPIRO Os R$ 5 bilhões do fundo garantidor para as empresas de Turismo, prometidos há cerca de três semanas pelo ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, foram aprovados na última sexta-feira (8) pelo governo federal, via MP 963 assinada pelo presidente Jair Bolsonaro. Trata-se de um crédito extraordinário para atender as empresas do setor de Viagens e Turismo, 100% sob supervisão do Fundo Geral de Turismo, o Fungetur. Era a grande reivindicação de entidades de todo o Turismo, que mostravam ao ministério que o fôlego financeiro das empresas de Turismo estava se encerrando. Chamada de A Hora do Turismo, a MP é uma conquista do setor, es-

ma de ‘novo normal’. “O perfil e a percepção do cliente já mudaram nesse período. Precisamos nos adaptar a essa nova realidade. Retomar a confiança do consumidor como um hotel moderno, um local seguro em relação a novos protocolos é essencial nesse período de retomada: distanciamento correto de mesas e cadeiras, álcool gel nas áreas comuns, EPI´s/máscaras para funcionários e hóspedes, menos objetos nos apartamentos dos hotéis, reorganização do formato dos eventos, A&B servido à

pecialmente negociada pelo ministro Marcelo Álvaro, com empenho de seu time, como o secretário executivo Daniel Nepomuceno. A presidente da Abav, Magda Nassar, comemorou e disse que a MP é um passo importante que completa as medidas do governo para preparar o Turismo para a retomada. Na semana passada, entidades do setor, como Resorts Brasil, Unedestinos, ABIH, Fohb, FBHA, Sindepat, BLTA e Adibra, publicaram pesquisa mostrando que 79% dos associados tinha fôlego financeiro para apenas mais dois meses. A presidente da Resorts Brasil, Ana Biselli, reforçava a importância dessa medida, que enfim saiu. n

la carte, entre muitas outras adaptações. Todas essas ações geram um impacto imediato no consumidor e confiança para que ele possa organizar sua próxima viagem de férias em família sem preocupação e com o selo GJP de segurança”, conclui Godinho. Tanto para ele quanto para Mendes, é importante que toda indústria, independentemente de concorrência, eleve seus padrões neste momento pois um caso isolado pode ser capaz de tirar a credibilidade de toda a hotelaria. n



CAMINHOS DA HOTELARIA Confira no Portal PANROTAS ou em nossa página no Facebook, a live Check Point que recebeu, no dia 7, Chieko Aoki, da Blue Tree Hotels, Tiago Varalli, do Club Med, Marcelo Marinho, do grupo Intercity, e Pedro Ribeiro, da rede portuguesa Dom Pedro Hotels. Com mediação de Artur Luiz Andrade, os quatro executivos deram sua

visão sobre o futuro da experiência hoteleira, os desafios da retomada e a união do setor. O retorno, segundo eles, começará pelas viagens curtas e nacionais e aos poucos, vendo toda a segurança implantada pela hotelaria, outros segmentos voltarão. Segundo Chieko Aoki, a hotelaria já tem protocolos rígidos de segurança e saúde, e

agora, com a pandemia, mais ainda. Mas o que vai ficar como tendência? Tecnologia, autenticidade, a experiência brasileira e uma atenção ainda maior aos hóspedes. O Check Point é um projeto da PANROTAS e Imaginadora, com apoio da R1. Veja a íntegra do vídeo no Portal PANROTAS ou em nossa página no Facebook.n

MAIS RESILIENTE Em entrevista à revista PANROTAS, o diretor geral da Trend, Maurício Favoretto, destacou as ações tomadas pela empresa nos últimos dias. Com cerca de 450 colaboradores, todos eles trabalhando atualmente em regime de home office, a Trend, na opinião do executivo, tem se saído muito bem em meio à crise causada pela pandemia do novo coronavírus, graças às iniciativas tomadas desde o início da crise. Uma das primeiras medidas tomadas foi a adoção do regime de home office para 100% dos colaboradores e redução de 50% da jornada, ação esta que, segundo Favoretto, preservou os postos de trabalho na operadora. Em seguida, foi criado um hotsite com as principais notícias do setor no Brasil e no mundo e campanhas que reconhecessem as vendas para o segundo semestre e outras que estimulassem o isolamento social. A Trend também não deixou de engajar e de se relacionar com seu único canal de vendas: os agentes de viagens. “Já realizamos mais de 130 treinamentos em parceria com destinos e fornecedores e abordamos assuntos como liderança estratégica, gestão de crise e inteligência emocional. Já foram mais de três mil profissionais capacitados”, revela Favoretto. “Estar próximo do agente é um pilar da Trend e da CVC Corp. Queremos que todos eles saibam que podem contar com a gente nos momentos mais difíceis também”, afirma. 30

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Maurício Favoretto, da Trend

A operadora aproveitou o momento para antecipar alguns lançamentos que faria no decorrer do segundo semestre. A primeira é um modelo de carta de crédito, batizado de CredTrend, que será disponibilizado já nos próximos dias. Ainda em maio, a empresa também passa a aceitar como meio de pagamento para reservas cartões VCN (virtual card number) e lança, na sequência, a opção “múltiplas formas de paga-

mento, onde o agente poderá usar mais de um meio de pagamento. O diretor diz que já vê um trade mais otimista e ávido pela retomada “Em março, a preocupação era reacomodar e reembolsar reservas. Hoje, a situação já é diferente. Já estamos notando algumas buscas e emissões para os últimos meses do ano, principalmente a partir dos feriados de setembro e outubro”, concluiu.n




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