PANROTAS 1.425

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Edição nº 1.425 - Ano 28 | 3 a 9 de junho | www.panrotas.com.br

Qualquer diferença entre empresas, entidades, governos e distribuidores de viagens precisa acabar, ou não vamos vencer a crise do novo coronavírus. Em entrevista exclusiva, Gloria Guevara, presidente do WTTC, pede urgência em coordenação geral do Turismo no Brasil e no mundo

R$ 11,00



Edição nº 1.425 - Ano 28 | 3 a 9 de junho | www.panrotas.com.br

Qualquer diferença entre empresas, entidades, governos e distribuidores de viagens precisa acabar, ou não vamos vencer a crise do novo coronavírus. Em entrevista exclusiva, Gloria Guevara, presidente do WTTC, pede urgência em coordenação geral do Turismo no Brasil e no mundo

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PANROTAS — 3 a 9 de junho de 2020


PRESIDENTE

José Guillermo Condomí Alcorta

ÍNDICE nº 1.425 | 3 a 9 de junho de 2020 | www.panrotas.com.br

CHIEF EXECUTIVE OFFICER (CEO) José Guilherme Condomí Alcorta (guilherme@panrotas.com.br)

DIRETORA DE MARKETING E EVENTOS Heloisa Prass

CHIEF TECHNOLOGY OFFICER (CTO)

Página 04 Editorial - Reabrindo juntos

Ricardo Jun Iti Tsugawa

REDAÇÃO (redacao@panrotas.com.br)

EDITOR-CHEFE E CHIEF COMMUNICATION OFFICER: Artur Luiz Andrade

(artur@panrotas.com.br) Coordenador de Redação: Rodrigo Vieira (rodrigo@panrotas.com.br) Coordenador Web: Danilo Alves (danilo@panrotas.com.br) Pancorp/Viagens Corporativas: Beatrice Teizen Conteúdo para marcas: Vinicius Novaes e Beatriz Contelli (estagiária) Reportagem: Filip Calixto, Juliana Monaco, Victor Fernandes Fotógrafo: Emerson de Souza (São Paulo) MARKETING Analista: Erica Venturim (erica@panrotas.com.br) CRIAÇÃO Fernanda Souza (fernanda@panrotas.com.br) Pedro Moreno (pedro@panrotas.com.br) COMERCIAL Gerente: Ricardo Sidaras (rsidaras@panrotas.com.br) Executivos: Flávio Sica (sica@panrotas.com.br) João Felipe Santana (joaosantana@panrotas.com.br) Renato Sousa (rsousa@panrotas.com.br) Rene Amorim (rene@panrotas.com.br) Sônia Fonseca (sonia@panrotas.com.br) Big Data: Igor Vianna (igorvianna@panrotas.com.br) Jéssica Andrade (jessica@panrotas.com.br) Assistentes: Ítalo Henrique (italo@panrotas.com.br) Rafaela Aragão (rafaela@panrotas.com.br)

Página 06 Check-in - Latam em recuperação judicial, nova união de agentes e luta ministerial

Página 11 Nova diretoria assume Alagev e já pensa no Lacte 2021

Página 14 Prime Time com Abilio Diniz dicas para sair da crise

Página 16 Entrevista exclusiva - CEO do WTTC , Gloria Guevera pede união e coordenação do Turismo no Brasil e no mundo

FALE CONOSCO Matriz: Avenida Jabaquara, 1.761 – Saúde São Paulo - Cep: 04045-901 Tel.: (11) 2764-4800 Brasília: Flavio Trombieri (flavio@panrotas.com.br) Tel: (61) 3224-9565 Rio de Janeiro: Simone Lara (simone@panrotas.com.br) Tel: (21) 2529-2415/98873-2415 Estados Unidos: Helene Chalvire (helene@panrotas.com.br) ASSINATURAS Chefe de Assinaturas: Valderez Wallner Para assinar, ligue no (11) 2764-4816 ou acesse o site www.panrotas.com.br Assinatura anual: R$ 468 Impresso na Referência Gráfica (São Paulo/SP)

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Associações

Parceria Estratégica


Editorial

REABRINDO JUNTOS

E

m todas as lives, entrevistas e bate papos que tivemos nessa quarentena, com o objetivo de mapear a crise, apontar caminhos e analisar as oportunidades de retomada, a união de players, concorrentes, empresas e diversas esferas de poder sempre foi citada pelos envolvidos como um fator decisivo para os próximos passos. “Vamos sair dessa juntos”. “Não importa qual a solução, ninguém sairá dessa crise sozinho”. “A união das entidades do setor foi um dos fatores mais positivos do enfrentamento dessa crise”. Essas foram algumas das frases mais ouvidas. Até já sabíamos disso antes, mas não havia ambiente, tempo e vontade para aplicar. Às vezes o orgulho e a vaidade falavam mais alto. Em outras a questão financeira. Ou mesmo a cegueira causada pelo dia a dia cheio de pressão, competição, concorrência. E o bem do setor, que é o bem de todos, ficava de lado. Essa colaboração entre empresas, segmentos afins e as esferas de poder (público e privado) gera benefícios imediatos como ter uma só voz em defesa do Turismo nas grandes batalhas (jurídicas, políticas ou de imagem), aumentar o compartilhamento de experiências e processos que incrementem a produtividade e a eficiência (sem entregar seus segredos competitivos ao concorrente, claro), ter clientes mais satisfeitos e com soluções mais completas (uma parceria entre agências de viagens que atendam nichos distintos, por exemplo, ou hotéis que se beneficiam de um espaço de eventos, ou ainda diferentes tipo de hospedagem na mesma região trabalhando juntos) e mostrar uma

indústria poderosa, com números confiáveis e impacto econômico condizente com o que sabemos mas não comunicamos. Mais solidariedade, mais capacitação, mais inovação... são muitos os benefícios da união do setor. Assim como mais competitividade. Mas ela começa a partir de um certo ponto, quando todo o ecossistema na qual as empresas estão inseridas está saudável e prosperando. E se dá na diferenciação de serviços, na melhor gestão, nas escolhas estratégicas, na política comercial, no perfil dos colaboradores, nos investimentos em equipamentos, no arsenal tecnológico... Ou seja, com a base sólida e garantida, por conta dessa união em temas macro e posicionamentos necessários, cada um vai criar, comercializar e administrar sua empresa da forma que achar melhor. Utopia? A pandemia mostra que não. Cientistas do mundo todo trabalham juntos na busca da cura, mas, obviamente alguns se sairão melhores que os outros. O bem comum, porém, dita as ações macro. Entidades e empresas de todo o planeta trocam informações e se apoiam. Profissionais criam redes de solidariedade e comunicação. Um cliente fiel não troca de fornecedor do nada, só porque seu concorrente está ali te ajudando ou tem participação em parte do seu produto ou em sua rede de suporte ao Turismo. O atendimento, a qualidade da experiência e a entrega continuam sendo diferenciais importantes. Na hora da retomada, tudo isso vai ser fundamental. Não idealisticamente como no auge da crise, mas da melhor forma que pudermos fazer. #SomosTodosTurismo n

Artur Luiz Andrade Editor-chefe e Chief Communication Officer da PANROTAS artur@panrotas.com.br

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PANROTAS — 3 a 9 de junho de 2020


27 de maio a 2 de junho de 2020 — PANROTAS

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Check-in Aviação

Reestruturação e planejamento Danilo Alves

Fabricio Angelin e Jerome Cadier

O pedido de entrada no Chapter 11 feito pelo Grupo Latam, na semana passada, nos Estados Unidos, pegou todo o mercado de surpresa. Muitas eram as dúvidas de agentes, operadores, parceiros e clientes, que temiam pela realização de viagens futuras, de acordos corporativos já existentes, da qualificação e resgate dos pontos Latam Pass, entre outras. Para desmistificar o processo, que é o equivalente da recuperação judicial aqui no Brasil, os três principais executivos da Latam Brasil – Jerome Cadier, Igor Miranda e Fabrício Angelin – participaram de uma live para responder e dar norte 6

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a clientes e parceiros da companhia no País. “O Chapter 11 é um instrumento muito utilizado nos EUA, que garante que empresas que enfrentam a necessidade de uma reestruturação consigam fazê-la de forma sustentável, do ponto de vista financeiro. Todas as grandes montadoras norte-americanas, assim como American e Delta, já entraram com esse pedido no passado e tiveram êxito”, relembrou o CEO da Latam Brasil, Jerome Cadier. No pedido de Chapter 11 do Grupo Latam estão as subsidiárias da empresa no Peru, Chile, Colômbia,

Equador e Estados Unidos. Logo, as afiliadas no Brasil, Argentina e Paraguai ficam de fora do processo. “As dívidas financeiras e contratos de leasing da Latam Brasil são feitos pela Latam Chile. O avião, por exemplo, é arrendado pelo Chile e repassado ao Brasil. Por outro lado, o fato de não entrarmos no Chapter 11 nos permite seguir buscando o financiamento do BNDES de uma forma que seja rentável para ambas as partes. Segundo ele, a Latam Brasil vai colher os benefícios do Chapter 11 ao mesmo tempo em que trabalha um empréstimo com o governo local. “Não há saída para o setor aéreo


+Lidas da semana Portal PANROTAS sem ajuda governamental.” De 12 a 18 meses, esse é o prazo que a Latam acredita que seguirá em processo de Chapter 11. Cadier garante que o processo é simples. “Separamos as dívidas que a empresa acumulou até o momento do pedido de Chapter 11, no caso, dia 25 de maio. A partir do dia seguinte, dia 26, nossas operações e obrigações com pagamentos continuaram e continuarão normalmente, de acordo com contratos e acordos vigentes e assumidos. Enquanto isso, separamos aquela dívida acumulada até 25 de maio e desenhamos um plano de reestruturação e pagamento dela”. NADA TEM A VER Relembrando o passado recente, quando a Avianca Brasil entrou com recuperação judicial no Brasil, e deixou de operar seis meses depois, Cadier pede que comparações como essa não sejam feitas, pois a realidade e o processo das empresas são totalmente diferentes. “A Latam estava investindo, crescendo e rentável até dois meses atrás. A crise que nos encontramos agora não é fruto da gestão da companhia, e sim de um fator externo. Nós temos caixa em dinheiro disponível e o compromisso dos acionistas, o que não aconteceu no passado”, disse ele, se referindo à Avianca Brasil. Um dos pontos destacados pelos executivos foi a solidez de caixa do Grupo Latam e a visão estratégica de seus acionistas em optarem pelo Chapter 11 antes de um possível agravamento das dívidas. “Não esperamos chegar na última hora, quando o caixa estivesse zerado, para entrar com o pedido. Entramos na condição de seguir operando muito bem nos próximos meses, com um caixa de US$ 1,3 bilhão”, destacou Cadier. Além deste montante, o grupo garantiu o suporte financeiro de acionistas, incluindo as famílias Cueto e Amaro, e a Qatar Airways, para a obtenção de até US$ 900 milhões em um financiamento DIP (debtor in-possession, em inglês). O CEO

revelou ainda que outros acionistas e novos investidores privados poderão surgir nas próximas semanas. Igor Miranda

1 EUA anunciam proibição de entrada de brasileiros por causa da covid-19

2 A forma de fazer Turismo vai mudar, aponta especialista

3 Como fica a comissão do

agente nos cancelamentos pela covid?

4 Vetos à MP 907 deixam

Embratur sem dinheiro e imposto em 25%

5 Executivos da Latam

respondem dúvidas do mercado sobre Chapter 11

6 Pesquisa revela como e

quando brasileiro quer viajar; LIVE hoje, 17h

7 O que o cliente quer das

marcas de Turismo neste momento

8 70% dos brasileiros querem

viajar este ano, diz pesquisa da Braztoa

9 Governo estende por 30 COMO FICA A SITUAÇÃO DA LATAM BRASIL? Nada muda, é o que garantem os executivos da companhia aérea brasileira. O diretor de Vendas e Marketing Latam Airlines Brasil, Igor Miranda, acalmou os parceiros e disse que a empresa continuará o trabalho que estava sendo feito. “Seguimos operando normalmente, honrando todos os contratos corporativos e bilhetes, em todas as suas variáveis. Não estamos planejando redução de malha, pelo contrário, aumentamos consideravelmente a oferta para os meses de junho e julho”, comentou, dizendo também que isto faz parte de um processo semanal instaurado na aérea para entender a futura evolução da demanda. Já o diretor geral Latam Pass, Fabricio Angelin, aproveitou a oportunidade para dizer que nada muda em relação à compra antecipada e ao acúmulo de pontos. “Não há alteração alguma. Os pontos creditados nas contas dos clientes Latam Pass poderão ser utilizados como já são normalmente, com resgate de

dias proibição de entrada de estrangeiros

10 Ministro promete nova MP

para redução de impostos no Turismo

Fonte: Portal PANROTAS

passagens aéreas ou no resgate de produtos dos parceiros de varejo. Os pontos acumulados daqui para frente também estarão disponíveis nas contas, assim como já é feito hoje.” Jerome Cadier finalizou dizendo que o momento não é de extremo otimismo, tampouco de extremo pessimismo. “O que eu quero passar para todos é que a Latam, sob uma visão estratégica, se antecipou a um momento que precisaria ser tomado mais para frente. Queríamos ter um governo americano ou alemão, que injetaram grandes aportes em suas companhias. Mas, infelizmente, essa não é a nossa realidade. Precisamos tomar iniciativa e pegar alguns de surpresa, mas podem acreditar que é para um bem melhor”, concluiu. n 3 a 9 de junho de 2020 — PANROTAS

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Economia e Política

MTur promete nova MP para compensar veto

Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a Lei nº 14.002/20, que transforma a Embratur em Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo, mas que também vetou importantes avanços na questão da tributação de remessas ao Exterior por parte de agências de viagens e operadoras (para pagamento de fornecedores) e do leasing de aeronaves e motores. As isenções estavam propostas na MP 907. A redução a zero da alíquota do IRRF nas operações relativas ao arrendamento mercantil de aeronaves e motores a elas destinados, a partir de 2021; e a redução para 6% da alíquota do IRRF, incidente sobre as remessas ao Exterior para pagamento de despesas pessoais de pessoa física domiciliada no País, tais como hotéis, traslado, companhias aéreas, dentre outros, foram dois vetos que impactam fortemente o setor, mas o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, já se comprometeu a ir atrás de uma nova solução. “Sei que esses benefícios são fundamentais para a sobrevivência do setor, em especial, neste momento de grave crise econômica que atinge toda a cadeia do Turismo. Por isso, me comprometo desde já a apresentar uma nova Medida Provisória para assegurar essas reduções nos impostos cobrados”, assegurou o ministro do Turismo.

EXPLICAÇÃO Os vetos foram necessários, segundo comunicado do MTur, após a proposta inicial ter passado por mudanças durante sua tramitação no Congresso Nacional. Houve o entendimento de que os artigos violavam a Lei de Responsabilidade Fiscal e a Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2020 (Lei 13.898, de 2019). Com o veto, o imposto nas operações relativas ao arrendamento mercantil de aeronaves e motores será mantido em 1,5% este ano, passando para 15% em 2021. No caso da tributação sobre as remessas para o Exterior, ela já passa8

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ria imediatamente de 7,9% para 25%. Segundo o setor, esses 25% se transformam em 33% na conta final, sendo que os pacotes e viagens ao Exterior já estariam 45% mais caros devido à alta do dólar frente ao real. Isso tiraria por completo a competitividade de agências de viagens e operadoras, especialmente para as viagens aos Estados Unidos, com o qual o Brasil não tem acordo para evitar a bitributação (que é tecnicamente o que se avalia desse imposto). Fontes do trade turístico ouvidas pela

PANROTAS acreditam que o ministro conseguirá viabilizar essa nova MP e que os impostos sejam diminuídos como previsto anteriormente. EMBRATUR Sobre a nova Embratur, o ministro destacou a determinação de que seja dado um tratamento igual à promoção das unidades da Federação e de seus municípios, de acordo com seu potencial turístico. “Trata-se de um passo importante para o fortalecimento da atividade


turística em nosso País e que será crucial para a retomada do nosso setor após a pandemia. A inclusão do artigo que estabelece a aplicação de recursos de maneira equânime entre as regiões possibilitará que todos os destinos turísticos do País sejam contemplados com ações de promoção internacional. Isso certamente representará um ganho de competitividade”, afirmou o ministro Marcelo Álvaro Antônio. O texto também prevê a utilização dos recursos da Embratur para promoção nacional, em casos de decretação de estado de emergência, como o caso atual da pandemia do coronavírus. Há, ainda, a autorização para que a Embratur auxilie no processo de repatriação de brasileiros impossibilitados de retornar ao País. De acordo com a Lei, isso seria permitido em casos de guerra, convulsão social, calamidade pública, risco iminente à coletividade ou qualquer outra circunstância que justifique a decretação de estado de emergência. Neste caso, as ações serão executadas pela agência e coordenadas, nos aspectos diplomáticos e consulares, pelo Ministério das Relações Exteriores. AVIAÇÃO REGRIDE A aviação brasileira fica mais cara, mais restrita e em desvantagem competitiva em relação ao restante do mundo com o veto parcial. É assim que a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) enxerga a decisão tomada pelo Planalto de não manter o tributo zero sobre o aluguel de aeronaves do Exterior. "Em um momento tão crítico como o atual, o veto vai na contramão da recuperação da economia e do desempenho da aviação nacional", lamenta o presidente da Abear, Eduardo Sanovicz. "A isenção desse imposto somaria aproximadamente R$ 72 milhões anuais, despesa que inevitavelmente forçaria as companhias a subirem o valor dos bilhetes", completa. Entre os vetos do presidente está a ação que previa zerar o tributo relativo ao leasing de aeronaves e motores pelas companhias aéreas nacionais. Com a alíquota vigente, de 1,5% no IRRF, é como se a aviação brasileira regredisse 24 anos na história, avalia a Abear. Isso porque 1996 foi o ano

Eduardo Sanovicz, presidente da Abear

em que o imposto foi zerado, à época se alinhando ao mercado internacional para dar competitividade à indústria em nosso País. Nos principais países do Exterior, a companhia aérea fica isenta do imposto local quando o leasing está sendo pago, e foi o caminho tomado também pelo governo brasileiro à época. Em 2020, em consequência do que está na Lei de Diretrizes Orçamentárias elaborada pelo governo Michel Temer ainda em 2018, determinou-se que as aéreas voltassem a pagar pelo tributo, que seria escalonado e chegaria a 4,5% em 2020. A MP 907 propunha zerar esse imposto novamente. O veto de Bolsonaro derruba a isenção deste tributo e daí a insatisfação da Abear. "Com o imposto zerado, como a lei havia aprovado para 2021 e 2022, o Brasil voltaria à linha original, como as companhias aéreas atuam desde o início de suas operações. Infelizmente o veto cria problemas e faz

com que a aviação brasileira fique desalinhada em relação ao mercado internacional." O presidente da Abear reconhece a atuação em conjunto entre a associação, o Ministério do Turismo e o Ministério da Infraestrutura. Juntos, a entidade, as pastas e o trade turístico desenharam o cenário ideal para o setor. "Estamos contribuindo para superarmos essa fase dura e iniciar uma retomada, mesmo que a reconhecendo como de longo prazo. O veto, no entanto, é recomendado pelo Ministério da Economia, por meio da Receita Federal, e vai na contramão do desenvolvimento do Turismo e da aviação." Sanovicz aponta que segue na luta pelo objetivo da Abear: poder voar a mais lugares, com mais gente, mais carga, a preços mais competitivos. "Trabalho vai haver. Vamos conversar com o o ministro do Turismo e o secretário da aviação civil para debatermos o que pode ser feito", garante.n 3 a 9 de junho de 2020 — PANROTAS

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Agências de viagens

Integração Trade

O Integração Trade é um grupo de agentes de viagens, que já conta com cerca de 700 cadastrados, e que criou um planejamento em três fases, para ganhar representatividade junto a fornecedores e ao mercado, mas, acima de tudo, como diz uma das coordenadoras, Karla Tanaka, de Curitiba, levar conteúdo técnico e teórico aos profissionais. A união, segundo ela, é para que o agente de viagens saia fortalecido dessa crise, com conteúdo de marketing, vendas, assessoria jurídica, banco de dados de fornecedores parceiros, entre outras ações que já estão sendo desenhadas e construídas. As coordenadoras do Integração Trade são seis mulheres, todas agentes de viagens com esse propósito: fortalecer a atividade. Ana Paula Gutierres Ramazzini, da Estação Amparo, de Amparo (SP), Claudia Capecce, da Capecce Viagens e Turismo, de São José dos Campo (SP), Gabriella de Arruda Neiva, da Ubi Travel, de João Pessoa, Karla Tanaka, da Giro Pelo Mundo Viagens, de Curitiba, Priscila Zarichta, da Zari Viagens, de Tubarão (SC), e Silvia Junqueira Franco Fabbri, da SFTur, de Bebedouro (SP). Todas as 700 agências cadastradas preencheram formulário com dados gerais e outros técnicos (o que mais vendem e sua especialidade, por exemplo) e ainda apontando seus maiores problemas e desafios no Turismo. As questões comerciais dominam essa última parte, indo de contratos à responsabilidade solidária. Mas também há questões ligadas ao marketing e às parcerias de divulgação com fornecedores, dois pontos em que o grupo Integração Trade já investiu. “Tivemos uma live sobre marketing em que aprendemos muito sobre segmentação de público, por exemplo. Nosso foco é esse, técnico. E aprendemos também que podemos ser concorrentes, mas trabalhar juntos, unidos. O atendimento será sempre diferente. Um cliente fiel não deixa a sua agência por outra”, conta Karla Tanaka. O grupo está na fase 1 de implementação, com o cadastro dos participantes, definição de áreas de atuação e foco na comunicação técnica, mas a fase 2 já está chegando. “Na fase 2, entraremos mais na 10

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As coordenadoras do Integração Trade: Gabriella, Ana Paula, Priscila, Claudia, Karla e Silvia

relação comercial (sem entrar em questões de negociação entre as empresas), por exemplo com a análise e banco de dados de fornecedores parceiros”, explica Karla, que faz mistério sobre a fase 3, mas garante que o objetivo não é ser uma associação. UNIÃO DAS AGÊNCIAS “Conhecemos o trabalho do grupo por meio de uma postagem no Telegram”, disse o editor-chefe da PANROTAS, Artur Luiz Andrade. “Elas criaram uma peça de divulgação para valorizar o trabalho do agente de viagens, reforçando seus diferenciais, como contraponto a uma divulgação do Hurb. Achei muito inteligente partir para essa diferenciação de uma OTA e a valorização do profissional com o que ele tem de melhor, atendimento, personalização, cuidado e conhecimento. Elas reagiram com argumento e isso só fortalece o papel dos agentes”. Segundo o grupo, nos 700 agentes cadastrados há desde novatos como quem está há muitos anos no Turismo e há empresas de todo o Brasil e de todos os tamanhos. HOTELARIA Todos os dias o grupo envia aos membros posts de parcerias com hotéis pequenos e pousadas, que têm valorizado essa comunicação com os agentes. “Também fazemos postagens de grandes hotéis, mais no final de semana, mas somente daqueles que são parceiros das agências. Se não são (parceiros), não vendemos. Por isso teremos um cadastro de fornecedores parceiros”, conta ela. O Integração Trade pode ser achado no Instagram e no Telegram e os agentes

devem se cadastrar para participar do grupo e receber as comunicações exclusivas. Também há comunicação por WhatsApp.“ ANOTE OS CONTATOS DAS COORDENADORAS: Integração Trade: integracaotrade@gmail.com Ana Paula Gutierres Ramazzini: anapaula@estacaoamparo.com.br Claudia Capecce: capecceviagens@capecce.com.br Gabriella de Arruda Neiva: ubitravell@gmail.com Karla Tanaka: karla@giropelomundoviagens.com Priscila Zarichta: zari.viagens@gmail.com Silvia Junqueira Franco Fabbri: sfturviagens@gmail.comn


PANCORP

Nova gestão, mas o mesmo olhar Beatrice Teizen

Edição do Lacte de 2020 foi um sucesso. A de 2021 será reinventada

A Alagev apresentou formalmente, em encontro virtual, sua nova gestão, que estará à frente da associação até 2022. O quadro, agora, está completo, com Roberta Moreno, da BMS, ocupando a presidência, Larissa Licatti, da Syngenta, a vice-presidência, e Gustavo Elbaum, da CWT Meetings & Events, a diretoria financeira. “As eleições da diretoria são feitas a cada dois anos, mas faremos votações quase que anuais. Entre os dois anos da gestão, teremos eleições de conselho. É uma medida do último registro do nosso regimento que garantirá a continuidade do planejamento estratégico”, contou o diretor executivo da entidade, Eduardo Murad.

LACTE Citado por Murad como um marco muito importante para a associação, o Lacte, que já era um evento relevante, foi remodelado nos últimos dois anos, tanto em relação ao conteúdo quanto ao formato, e está garantido para 2021. Por conta do cenário atual e do futuro breve, o encontro precisará passar novamente por uma transformação, mas a nova gestão garante que será muito positiva. “Com um novo formato teremos uma abrangência regional e para a América Latina. O tamanho do público do Brasil já estava muito grande, já não tínhamos mais espaço e vínhamos pensando em fazer a edição deste ano de maneira híbrida. Agora estamos conversando com empresas em outros

países e vamos incluir a América Latina definitivamente no Lacte 2021. Será um evento massivo”, afirmou Elbaum. LANÇAMENTOS Para acompanhar a retomada da indústria, a associação lançará, na próxima semana, o Playbook de Viagens Corporativas, material com dicas e construções sobre a gestão de viagens e negociações nesse momento de crise, e o Velocímetro Alagev. O site será uma plataforma colaborativa onde os travel managers e meeting planners colocarão o status das viagens e eventos de suas empresas. “A ideia é atualizar a cada 15 dias para que todo o mercado tenha uma referência para a tomada de decisão, ao observar o comporta3 a 9 de junho de 2020 — PANROTAS

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mento das compras dos gestores. Vamos estimular os profissionais a colaborarem e alimentarem a plataforma, de zero a 100, comparando o volume que têm hoje, com o de 2019. Com isso, o ponteiro comerá a mexer e vamos poder medir a retomada”, explica o diretor executivo. NOVA REALIDADE Nesse novo cenário, será que os brasileiros estão preparados para os eventos 100% on-line? Como fica a questão dos híbridos? Essas são as principais perguntas permeando a indústria neste momento. E o que fica claro é: se o mercado não estava apto antes, agora está. “Apesar do encontro presencial ainda ser essencial – o olho no olho é muito importante para o brasileiro –, já vemos fornecedores se reinventando e trazendo coisas muito bacanas. Estamos nos transformando e agora, mais do que nunca, estamos em uma fase de agregar e aprender”, disse Roberta Moreno. Os eventos híbridos, que já aconteciam, devem perdurar e aumentar a sua abrangência, com participantes de diferentes regiões. Ainda

haverá o receio de juntar as pessoas e, em algum momento, isso estará nas mãos das companhias definirem. Os estabelecimentos já possuem protocolos definidos e a questão será como eles se conectarão com as políticas de saúde das empresas. “Passará a ser discutido como o evento será operado, de acordo com as políticas que as corporações definirão. A tomada de decisão de cada empresa será uma solução muito individual, tailor-made, para a retomada dos eventos em espaços físicos. Diante disso, o papel do gestor de eventos ficou muito mais importante, pois a estratégia dos encontros também se tornou mais significativa ainda”, exemplificou Elbaum. No âmbito das viagens corporativas, o papel do travel manager também se torna cada vez mais essencial, diante das novas estratégias que serão exigidas. O profissional precisará estar mais a par ainda se os protocolos estão sendo seguidos e terá de respeitar e saber o que fazer, caso o viajante não se sinta seguro para viajar ou comparecer a eventos, entre outros detalhes. n

Larissa Licatti, Eduardo Murad, Roberta Moreno, Giovana Jannuzzelli e Gustavo Elbaum, da Alagev, durante o Lacte deste ano

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Mercado

Vinicius Novaes

com Abilio Diniz O empresário Abilio Diniz, convidado da segunda edição do projeto Prime Time, uma realização da PANROTAS com a Prime Tour, e com apoio da R1, deu dicas para sair fortalecido da crise. Um dos principais conselhos do empresário é distinguir os medos reais dos medos imaginários. “Quando você está com vários medos, é natural que dê espaço a medos imaginários. Mas o segredo é focar nos medos que você pode resolver”, aconselhou. “É importante ressaltar neste momento que tudo vai voltar ao que era antes”, complementou. E essa volta, de acordo com o empresário, contempla negócios de todos os portes. Para Abilio Diniz, a redução dos gastos é um fator importante neste momento. “Além disso, é preciso também buscar caixa, financiamentos para ativar o negócio mais à frente”, disse.

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DICAS PARA SAIR DA CRISE 1 - reduzir os gastos 2 - buscar crédito 3 - ser resiliente 4 - tirar os medos imaginários e focar no que pode ser mudado 5 - ter serenidade e esperança 6 - E do ponto de vista pessoal, saber que solidariedade, preocupação com a saúde e o contato humano são valores que não vão mudar e sim precisam ser amplificados.

CRISE TERÁ FIM O empresário também acredita que essa é uma crise que terá fim. “Essa é uma crise que teve início, meio e que terá fim. E esse fim virá aos poucos”, disse. Segundo Diniz, o desejo das pessoas não vai mudar depois da pandemia.


“As pessoas vão continuar querendo encontrar seus amigos, ir a bares, baladas, viajar. Todo mundo vai continuar com os seus anseios, inspirações”, enfatizou. “Ninguém mudou seus hábitos”, completou, acreditando em um mundo, mas parecido com o que tínhamos, nos hábitos, mas com valores que ele espera que estejam reforçados e modificados, como solidariedade, cuidado com a saúde e um olhar para o próximo mais apurado. O empresário, de 83 anos, afirmou que essa é a crise mais ‘violenta’ que já presenciou. “Eu vivi a crise recente de 2008, 2009, mas foi uma crise econômica exclusivamente. E essa crise, especificamente, é uma crise sanitária, que se espalhou pelo lado econômico”, disse. Naquela altura, lembra Diniz, havia cerca de 250 milhões de pessoas com acesso à internet. “Hoje, são bilhões de pessoas conectadas e, se o vírus se espalha

em grande velocidade, a informação também se espalha nessa mesma proporção, o que é bom”, afirmou. O empresário ponderou ao afirmar sobre as mudanças provocadas pela crise do novo coronavírus. “Mas houve, também, uma mudança de hábitos consideráveis, como o home office, por exemplo. Hoje, conseguimos ver que é possível trabalhar de casa”, afirmou, confessando, porém, que sente falta do contato humano, o que é fundamental em viagens. Outro aspecto destacado por Diniz foi em relação ao e-commerce. “O e-commerce sempre existiu, mas atualmente vemos que as pessoas estão comprando mais pela internet”. Além de Abilio Diniz, também participaram da live Marcos Gouvêa de Souza, presidente do Grupo GS & Gouvêa de Souza e sócio conselheiro da Prime Tour, Marina Gouvêa de Souza, CEO e sócia fundadora da Prime Tour, e Valéria Carneiro, sócia diretora da Prime Tour. Artur Luiz Andrade, editor-chefe da PANROTAS, mediou o encontro , que pode ser visto na íntegra no Portal PANROTAS ou em nosso canal no Youtube.n

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Coronavírus Rodrigo Vieira

#SomosTodosTurismo Qualquer diferença entre os pares (e ímpares) do Turismo tem de ser deixada de lado neste momento. Concorrência nos negócios, juízo político, disputa por poder, vaidade... A indústria tem de ser uma só nos próximos duros meses, talvez anos, que virão pela frente. Se tem uma mensagem que o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês) deixa a todos no olho do furacão da pandemia de covid-19 é a união geral, talvez como nunca vista, do setor no Brasil e no mundo. Mais do que uma mensagem, uma questão de sobrevivência. Em entrevista exclusiva para a Revista PANROTAS, a presidente e CEO do WTTC, Gloria Guevara, utilizou o termo "envolvimento" na resposta para praticamente todos os temas que dizem respeito à crise e reação à mesma. Do ministro ao agente de viagens, do hoteleiro ao guia de Turismo, do receptivo ao C-Level das aéreas e todos os milhões do meio caminho. O Turismo é responsável por 7,7% do PIB no Brasil, representa 8% da força de trabalho do País e tem potencial para fazer barulho no cenário nacional, mas não se as iniciativas forem individuais. Globalmente, mais de 200 CEOs, tomadores de decisão e presidentes das maiores empresas do Turismo compõem o WTTC, que vem sendo uma das mais importantes autoridades nesta crise, com lançamento de selos, protocolos de higiene e segurança para todos os segmentos (comércio, hotéis, aeroportos, aviões, cruzeiros, operadoras, agências e outros) e com atitudes como essa, de insistir na união de setor público e privado em todas as esferas para que a máquina volte a andar. Pouco antes de o novo coronavírus chegar ao indigesto status de pandemia global, o WTTC lançou uma análise detalhada sobre 90 das piores crises enfrentadas pelo setor de 2001 a 2018 (capa da da Re16

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Gloria Guevara Manzo, presidente e CEO do WTTC

vista PANROTAS na última semana de março). As linhas analisadas foram crises políticas, crises decorrentes de terrorismo, desastres ambientais e, por fim, doenças. Muito embora a atual crise não tenha precedentes em sua dimensão - atingiu todos os países do mundo de uma só vez com efeitos diretos ou indiretos - há alguns aprendizados que podemos extrair lá de trás. "Em várias vezes o maior risco não é a crise propriamente dita, mas a preparação, o gerenciamento e a resposta a ela. São ações críticas e totalmente dependentes da coo-

peração entre setor público e privado. Enquanto a implementação de recomendações políticas estratégicas favorece à resiliência do setor, é importante que os destinos façam uma aproximação integral para conquistar resiliência social mais amplamente, cujos componentes são confiança, colaboração, comunicação, abertura, empatia, honestidade e eficiência", afirma Gloria Guevara. Teste e vacina foram outros temas-chave na entrevista. A vacina é vista como a única salvação definitiva para a crise, mas enquanto


ela não chega apenas uma testagem eficiente e massiva de passageiros aéreos e cruzeiristas, por exemplo, pode dar a segurança de que a curva de contágio vai ao menos se manter estável globalmente. Veja esses e outros destaques na entrevista exclusiva. REVISTA PANROTAS – Como nossa indústria se comportou nos primeiros meses de crise? Fomos rápidos e eficientes o bastante? Como os governos e o setor privado agiram e que medidas a senhora destacaria? GLORIA GUEVARA – A indústria não teve reação rápida. Quando a epidemia estava na China, a Europa não se preparou, pois as pessoas não sabiam que a crise chegaria aqui (Gloria concedeu essa entrevista diretamente de Londres). E chegou. Quando chegou, o mundo foi vendo o que aconteceu com Itália e Espanha, e infelizmente as Américas não se prepararam. Novamente pensaram que o vírus ficaria na Europa e as medidas de prevenção não foram suficientes. O mesmo ocorreu quando se passou com a América Latina, que não se preparou para a chegada depois da América do Norte. Todos vimos o efeito dominó acontecendo, em contraste com os países que tomaram medidas contundentes ao ver o que se passava na China. Esses se saíram muito melhor. O WTTC analisou 90 diferentes crises nos últimos 20 anos, pois para nós é uma prioridade aprender com o passado para melhorar o presente. Então fizemos uma carta aberta aos governos pedindo apoio aos trabalhadores, para que não perdessem seus empregos. Pedimos também apoio público às empresas, principalmente em créditos sem juros e liquidez de caixa, eliminando ou reduzindo os impostos. No Turismo, as empresas e os empresários pequenos e médios têm em média um caixa de 25 ou 26 dias, e a preferência é em utilizar esse capital pagando salários, e

não impostos. Trabalhamos diretamente com mais de 150 governos, alguns com trabalho extraordinário e outros muito lentos. O importante é que os governos que responderam melhor, com apoio sólido ao setor, são os que se recuperarão mais rapidamente. Na Inglaterra e na Itália, por exemplo, existe o conceito furlough (licença). Coloca-se o contrato laboral em suspensão, no qual o empregado vai para casa, mas não perde o trabalho, e o governo arca com 80% do salário. Em outros países essa porcentagem é diferente, mas o conceito é o mesmo. Destaco também o exemplo da Alemanha, que por meio de seu banco central concedeu crédito ilimitado sem juros ao setor, além dos Estados Unidos que atrasaram o pagamento de impostos... Mas eu poderia citar bons exemplos de outros países, como El Salvador, Jamaica e Colômbia. Diferentes reações, mas que põem o Turismo como prioridade na recuperação econômica. RP – Como retomar a confiança do consumidor tanto nas viagens como nas empresas de Turismo? Como assegurar que o viajante está tendo uma experiência segura em cada etapa da jornada? GLÓRIA – Aprendendo com o passado. Dividimos as 90 crises que estudamos anteriormente em crises de instabilidade política, desastres naturais, saúde e segurança. A mais impactante delas foi a dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, pois foi a crise da qual mais tardamos a sair. Isso aconteceu porque não trabalhamos de forma coordenada. Os setores público e privado não dialogaram. Cada país criou seu protocolo, em cada aeroporto se pede uma coisa, desde a tecnologia utilizada na segurança até os próprios procedimentos. Isso gerou uma desconfiança enorme no viajante, e por isso escapar dessa crise foi mais demorado.

Portanto, é fundamental que façamos algumas coisas: a primeira é abrir as fronteiras coordenadamente, com trabalho conjunto entre público e privado. Outra forte crise, a de 2008, fortaleceu o papel do G20 e viu as 20 maiores nações do planeta trabalharem em uma só mão. Isso é fundamental. Em segundo lugar, precisamos de protocolos de saúde e higiene. Protocolos unificados. Os mesmos padrões têm de ser aplicados em um hotel de Nova York e um de São Paulo. O mesmo em voos, independentemente do número de conexões, tem que ser igual no aeroporto e a bordo. Em maio, o WTTC e 22 dos maiores grupos hoteleiros globais, entre eles Hilton, Marriott, Accor, Melia, Hyatt, IHG etc, criaram os protocolos (leia na última edição da Revista PANROTAS). Na sequência lançamos o de aviação e aeroportos, com padrões definidos ao lado da Iata e da ACI, além de protocolos para operadoras e o setor de eventos e incentivos. O de cruzeiros, em parceria com a Clia, está sendo construído. São cruciais esses padrões, e por isso também lançamos o selo #SafeTravels, feito para chancelar destinos e empresas do setor que adotarem e cumprirem os protocolos de higienização e distanciamento físico. O selo tem apoio da Organização Mundial do Turismo (OMT) e mais de 200 grandes empresas do Turismo em todo o mundo. Independentemente da agência de viagens em que o consumidor compra, esse selo vai lhe dar confiança. O terceiro ponto é a experiência do viajante. Como recupero essa confiança. Não vamos trabalhar isoladamente nem inventar o processo de viagem. Temos de agregar o componente de saúde. Há um antes e depois. Após lançar a vacina vai ser mais fácil, todos voltarão mais seguros e livres. O coronavírus é diferente de ebola e sars, por exemplo, nas quais os efeitos são sintomáticos e facilita o isolamento de doentes. Com o coronavírus é 3 a 9 de junho de 2020 — PANROTAS

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preciso de testagem. Provas, provas e mais provas. Até a saída da vacina, precisamos testas os passageiros antes dos voos e aterrissagens. Quem testa positivo se isola, quem testa negativo voa com confiança. RP – Fale mais sobre o selo #SafeTravels. GLORIA – O selo tem apoio da Organização Mundial do Turismo (OMT) e mais de 200 grandes empresas do Turismo em todo o mundo. Estamos muito entusiasmados com a entrega do selo para os primeiros destinos, que são Arábia Saudita, Barcelona, Cancún, Portugal e Sevilha. São destinos populares globalmente e que merecem receber o selo devido à implementação dos protocolos. Pela primeira vez, o setor privado se uniu para restabelecer a confiança dos turistas. RP – Quais são as medidas-chave para a reabertura do Turismo? Como os governos locais devem agir para recuperar o Turismo em suas nações o mais rapidamente possível? E o setor privado? GLÓRIA – Coordenação entre setor público e privado. Precisam trabalhar juntos. A causa é de todos. Destaco que a recuperação primeiramente será em âmbito doméstico, e dentro de cada país é importante que haja união e diálogo entre as regiões, para que os destinos e atrativos turísticos sejam abertos ao mesmo tempo. Nos Estados Unidos me parece que tudo está sendo aberto de uma vez só, o que acredito que seja um pouco mais complicado. Isto é, o turista precisa saber que viaja para onde terá comércio e atividades para fazer. O paulista que vai ao Rio de Janeiro não quer encontrar uma cidade desorganizada e vice-versa. O doméstico conduzirá a retomada, e para ter doméstico é preciso ter organização entre todas as partes. Um pouco mais adiante, o Turismo internacional deve começar por regiões. É o que chamamos de “bolha” ou “zona verde”. Austrália e Nova Zelândia, por exemplo, criaram um corredor entre os dois países. Para o Brasil, o Turismo da Argentina é 18

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muito importante, então por que não criar um corredor entre os dois países de forma coordenada? Talvez Brasil-Portugal... Facilitar estes altos fluxos significa remover barreiras, abrir fronteiras, mesmo que de longa distância. E novamente, é de suma importância que setores público e privado estejam juntos nesta. Facilitando a vida do turista, mas com coordenação. Outro ponto crítico: Rastreamento. Isso tem de estar pronto quando as fronteiras forem abertas em maior escala. A tecnologia pode facilitar a identificação de onde estiveram os turistas para mapear possíveis contágios. Em quarto, que os governos sigam apoiando o Turismo até o fim. Os hotéis não se encherão de repente. É fundamental que os governos não abram mão do segmento, logo que as atividades reaquecerem. Se tudo isso for seguido com compe-

tência e união entre todas as partes, certamente a recuperação do Turismo será mais rápida, senão será como foi a recuperação de 9/11, lenta e desorganizada. RP – Vamos falar mais sobre a importância do doméstico como motor de retomadas. Quais são as causas e como se preparar? GLÓRIA – As viagens domésticas são extremamente importantes. Globalmente, elas têm uma participação média de 85% da indústria em cada país. No Brasil é 94%, o que aponta um grande espaço para crescer no internacional, mas acima de tudo mostra a contribuição inegável das viagens dentro das fronteiras brasileiras. O Turismo é responsável por 7,7% do PIB no Brasil, e 94% de tudo isso está no doméstico. É uma tendência ainda mais forte ao se considerar que muita gente já está mais pobre devido ao impacto


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econômico da pandemia, e vai fazer viagens mais curtas. Aqui, aliás, está mais uma razão óbvia para a união entre empresários e governos. O desemprego está aumentando e com ele a economia é impactada, o que prejudica inclusive o doméstico. As pessoas, empresas e destinos precisam do amparo do poder público. Outro fator primordial é coordenação nos planos domésticos. Coordenação para que a comunicação seja feita de forma correta e o turista não viaje para destinos aonde ainda haja colapsos. As pessoas querem viajar para fazer atividades, comprar, comer, passear. RP – A senhora fala muito em união de setor público e privado. Como isso pode acontecer de forma organizada? GLORIA – Escutar a absolutamente todos no setor. Fazer mesas de trabalho com agências, hotéis, companhias aéreas... todos os stakeholders. O que preocupa? Quais são suas necessidades? A partir daí fazer uma agenda de trabalho, um plano de negócios. Em minha experiência como ex-ministra de Turismo do México, essas mesas de trabalho funcionaram. Por exemplo, na época o visto de brasileiros era uma questão, pois os turistas miravam Cancun e Riviera Maya. Conseguimos, tal como conseguimos mais voos, mais atrativos... Dessas mesas de trabalho saiu nosso Acordo Nacional do Turismo, um plano de negócios com ações e compromissos. Reitero que se fizéssemos apenas entre Ministério do Turismo e setor privado não teríamos sucesso. À época entendemos a necessidade de involucrar congresso, com senadores, deputados, governadores dos Estados. Absolutamente todos têm de participar. Isso é fundamental para o crescimento do Turismo no Brasil: uma lista de necessidades, um acordo nacional pelo Turismo pelo qual todos firmem compromissos. RP – E o agente de viagens, como

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fica nessa situação? GLORIA – O agente de viagens e o operador ganham importância. As pessoas querem os consultores para que digam a elas que país está aberto, para onde voar com segurança. Está mais difícil simplesmente comprar um bilhete e voar. Agora o valor será muito mais importante, mais relevante, e as agências devem seguir treinando. Assegurar-se que eles também implementem seus protocolos para viajantes, ajudando a proteger e cuidar. RP – A Europa está reabrindo gradualmente. China e outros países asiáticos estão em uma posição ainda mais avançada. Que papel a preocupação com a saúde terá no Turismo, a exemplo do que o 11 de setembro teve para a segurança? GLORIA – Sim, a Europa está pouco a pouco. Teremos de ver como vai se sair com a chegada da alta temporada de verão. Na China, de 40% a 50% dos hotéis estão abertos. Em relação à preocupação com o tema saúde no Turismo, é realmente algo que vai ter de ser levado a sério. Os protocolos terão de ser seguidos rigidamente até a vacina chegar. Na experiência do viajante muita coisa será diferente até que essa vacina chegue em larga escala. Por exemplo, os monitores para temperatura devem ser presentes na maioria dos aeroportos. Essa pandemia também vai ajudar a acelerar tecnologias como a biometria nos aeroportos, que em alguns países está avançada e outros não. Os que não estão, precisarão, pois a biometria é em sua maioria touchless. Não serão mudanças tão intensas como as causadas pelos ataques de 11 de setembro, pois creio que agora estamos todos mais envolvidos. RP – Como o WTTC vê a quarentena imposta por alguns países a estrangeiros em suas chegadas? GLORIA – É uma ação infeliz. É algo que poderia ser implementado talvez no início do lockdown, mas já quando se há intenção de reabrir

não tem sentido. Quem implementa uma quarentena nesse nível está dizendo que o turista não é bem-vindo. Assim não é possível reativar viagens de cruzeiros e nenhum outro tipo de Turismo. Reforço que o que devemos fazer é teste. Testar viajantes que viajem de um país a outro. RP – E a proibição dos Estados Unidos à entrada de brasileiros? GLORIA – Os Estados Unidos não deviam estigmatizar o Brasil. O País é muito grande, tem 200 milhões de habitantes e nem sequer 10% têm a doença. Da mesma maneira, não se pode estigmatizar que nos Estados Unidos todos têm covid-19. A situação tem que ser conduzida de acordo com a ciência, os dados. A estigmatização esconde as coisas. RP – Brasil, Estados Unidos e México, as três principais economias das Américas, têm políticas controversas a respeito da gestão de crise. Como isso impactará o futuro destas nações? GLORIA – Os três minimizaram um pouco o problema no início. Entendo que é um vírus diferente, não temos informações precisas e os líderes tomam as decisões com as informações que têm. Contudo acredito que minimizaram o problema e não tomaram ações em curto prazo, o que os ajudaria no impacto. RP – Qual é a previsão de recuperação da economia do Turismo? Quando estaremos totalmente recuperados? GLORIA – É muito difícil saber. Quando vemos as crises passadas, que deixo bem clara, foram regionais, a variação pode chegar de dez a 34 meses. Mas sabemos que cada país vai ter seu tempo, a depender de suas decisões em um sentido macro e no Turismo. A China já começou o nacional. Vamos monitorar o verão europeu. Mas há países em que a crise pode perdurar até três anos.


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SELOS E PROTOCOLOS “Os protocolos de aviação do WTTC foram criados em estreita colaboração com a ACI e a Iata. Já as medidas que contribuíram para definir a nova experiência por meio de operadoras de Turismo e de visita a locais de eventos novamente foi definida na coordenação de especialistas desse segmento, por meio de medidas globais robustas que foram adotadas por empresas em todo o mundo”, afirma a presidente e CEO da entidade, Gloria Guevara. PROTOCOLOS Discussões detalhadas foram realizadas com as principais partes interessadas e organizações para garantir o máximo de adesão, alinhamento e implementação prática para definir expectativas claras do que os viajantes podem esperar durante seus próximos voos no “novo normal”. A nova orientação é baseada em quatro pilares, incluindo preparação operacional e de pessoal; garantir uma experiência segura; reconstruindo a confiança; inovação; e implementação de políticas facilitadoras. Veja a seguir os protocolos: AEROPORTOS • Limpeza aprimorada, incluindo equipamentos de autoatendimento, carrinhos de bagagem, balcões, buggies, pontos de verificação de segurança, banheiros, elevadores, corrimãos, áreas de embarque e áreas comuns com foco específico em pontos de contato de alta frequência • Fornecer equipamentos de proteção individual (EPI) aos funcionários, como máscaras • Novas sinalizações e anúncios para limitar a interação e as filas nos pontos de contato • Possível avaliação de risco à saúde antes da chegada para evitar atrasos • Reduzir os pontos de contato dos passageiros por meio do check-in on-line antes da partida, uso de auto-check-in em quiosques e entrega de malas, etiquetas impressas em 22

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casa, maior uso de portas eletrônicas biométricas e leitura de cartões de embarque nos portões • Se a triagem de entrada e saída for obrigatória, ela deve ser realizada de maneira não invasiva, por meio de scanners de infravermelho de corpo inteiro, usando termômetros infravermelhos portáteis e termômetros de pistola auricular • Maior segurança e higiene alimentar em restaurantes, com alimentos préembalados para evitar o manuseio de alimentos em buffets • Possível reformulação dos salões de imigração em conjunto com governos e companhias aéreas para acelerar os procedimentos • Onde as declarações são necessárias na chegada, opções eletrônicas devem ser usadas para minimizar o contato; idealmente usando processos sem contato. COMPANHIAS AÉREAS • Fornecer equipamentos de proteção individual (EPI) a funcionários, como máscaras • Reduzir os pontos de contato dos passageiros por meio do check-in on-line antes da partida, uso de auto-check-in em quiosques e entrega de malas, etiquetas impressas em casa, maior uso de portas eletrônicas biométricas e leitura de cartões de embarque nos portões • Fornecer desinfetantes/álcool gel para as mãos aprovados, conforme apropriado, com base em áreas de alto tráfego, como áreas de check-in e embarque • Orientação revisitada para equipes de limpeza em todas as áreas do avião, incluindo banheiros, bem como áreas de check-in e embarque, com foco específico em pontos de contato de alta frequência • Considerar o embarque da parte traseira do avião para a frente, da janela para o corredor • Limitar o movimento na cabine o máximo possível • Treinar novamente a equipe e a li-

nha de frente em relação às medidas de controle e higiene. OPERADORES TURÍSTICOS • Práticas aprimoradas de saneamento, desinfecção e limpeza profunda para ônibus e outros veículos • Limpeza focada em pontos de contato de alta frequência, incluindo corrimãos, maçanetas, mesas, banheiros a bordo, filtros de ar condicionado, armários suspensos e fones de ouvido • Planos de assentos pré-alocados sem rotação • Limitar o contato físico e as filas sempre que possível • Explorar horários escalonados para acesso a locais, hotéis e restaurantes, entre outros • Protocolos de saúde, saneamento, desinfecção e higiene e segurança alimentar em restaurantes parceiros • Estabelecer com parceiros e fornecedores, incluindo lojas, showrooms, locais de degustação, museus, teatros, salas de concerto, fábricas e fazendas, que sigam os protocolos. CENTROS DE CONVENÇÕES, EVENTOS E REUNIÕES • Implementar um distanciamento físico para a distribuição de assentos e corredores, utilizando orientação do governo, se disponível. Criar suporte visual para mostrar a intenção, conforme apropriado • Reduzir os limites de capacidade do local para os participantes, conforme apropriado e exigido pela legislação local • Distinguir entre diferentes áreas de risco no local • Considerar o questionário de avaliação de risco antes da chegada para os participantes • Limitar a interação física e possível enfileiramento na recepção e área de entrada, usando registro antecipado para aprimorar o fluxo de participantes • Criar unidades de isolamento fora do local sempre que possível para aqueles que apresentam sintomas de covid-19. n


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