PANROTAS 1.445

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Edição nº 1.445 - Ano 28 | 21 a 27 de outubro | www.panrotas.com.br

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TURISMO TERÁ MAIS DESAFIOS DO QUE QUALQUER SEGMENTO, MAS COM ORGANIZAÇÃO PÚBLICO-PRIVADA O SETOR PODE TER RETOMADA RÁPIDA E DE BOAS TRANSFORMAÇÕES. VEJA ESTUDO DO WTTC


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29 de julho a 4 de agosto de 2020 — PANROTAS

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ÍNDICE

nº 1.445 | 21 a 27 de outubro de 2020 | www.panrotas.com.br

Página 05 Editorial - Filme catástrofe

Página 06 Check-in - Destaques da semana do Turismo

Página 12 Artigo - O voo mais importante da história de Alagoas

Página 14 Seguro Viagem - A oferta das empresas brasileiras na pandemia

Página 18 Artigo - Turismo sofre perdas progressivas desde o início da pandemia

Página 20 WTTC traça tendências sobre o futuro do Turismo

PRESIDENTE

José Guillermo Condomí Alcorta GESTÃO

José Guilherme Condomí Alcorta

TECNOLOGIA Ricardo Jun Iti Tsugawa

EDITORIAL

Artur Luiz Andrade

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Associações

Parceria Estratégica


Editorial

FILME CATÁSTROFE Quem nunca teve pesadelos se imaginando naqueles filmes catástrofe em que uma onda gigante se forma e devasta cidades inteiras? Como em um tsunami, há um movimento inicial maior e apavorante, mas depois a ação da água continua, com ondas menores ocasionalmente aparecendo e mantendo alto o nível da inundação. Até que, com o tempo, sobreviventes conseguem vislumbrar um recomeço, um caminho para a reconstrução. Até lá, a onda gigante continua na memória, seja em sonhos inquietos, seja no envio de ondas menores para nos lembrar: ainda estou aqui. Nossa onda gigantesca, pelo que estamos vendo, já quebrou sobre nós, inundou nossas cidades, encharcou nossas vidas. Com a água já baixando, temos a impressão de que o pior já passou, o que pode nos deixar desarmados para as pequenas ondas que surgirão no trajeto para a recuperação. Às vésperas da alta temporada de verão brasileira, estamos otimistas com o retorno das viagens no Brasil, mesmo sem réveillon, carnaval e aglomerações que sempre marcaram o começo de um novo ano por aqui. Uma vantagem nossa é que essa nova estação chega um ano depois do início da pandemia, o que significa aprendizados para lidar com a covid-19 (de tratamentos mais eficazes à iminência da vacina, dos cuidados para evitar a contaminação à imunidade de alguns), um cenário repleto de medidas de saúde e protocolos, um viver com um sinal de alerta permanente, que ajuda a controlar os riscos. A Europa e os Estados Unidos, por exemplo, tiveram um verão muito próximo do início da pandemia, ainda com muitas dúvidas e receios, o que trouxe resultados mais tímidos que o esperado para a retomada do Turismo. E agora vivem uma segunda onda, mas com novas características: já se sabe o que fazer e, portanto, se o número de casos aumenta, a quantidade de mortes não. Além disso o coletivo já sabe pensar mais no coletivo que na individualidade, e a batalha vai se tornando menos intensa, apesar das pesadas sequelas deixadas. Um verão de retomada, de consciência de que a pandemia não acabou e de que depende de nós (continuando com o que aprendemos a fazer) para que as novas ondas venham com menos força e dor. É o que queremos e esperamos. Um verão que traga a boa notícia das vacinas. Que proporcione reencontros. Que reconecte o Brasil. Com todos nós mais preparados e prontos. Prontos para o que decidirmos fazer e ser.

Artur Luiz Andrade Editor-chefe e Chief Communication Officer da PANROTAS artur@panrotas.com.br

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Check-in

As notícias da semana

+Lidas da semana Portal PANROTAS 1 - Copa Airlines tem novas regras em voos internacionais; conheça Toque na imagem e leia a notícia completa

Georgia Mariano de casa nova Georgia Mariano deixou a Flytour Viagens e pouco tempo depois assinou com a Diversa Turismo, de Arnaldo Franken, com quem trabalhou durante um longo período. Georgia é uma das mais respeitadas executivas no segmento de Operadoras.

2 - Consórcio Magalu inclui Turismo no segmento de serviços 3 - Depois do Hilton, Nova York perde mais um hotel icônico 4 - MSC Preziosa terá 4 cruzeiros temáticos no Brasil no início de 2021 5 - Iata apela pelo uso de testes para reabrir fronteiras 6 - Disney tem 2 treinamentos para agentes de viagens esta semana 7 - Georgia Mariano volta a trabalhar com Arnaldo Franken, na Diversa Turismo 8 - Amaze se reorganiza na crise e garante recorde de crescimento 9 - Tire suas dúvidas sobre seguro viagem no pós-pandemia - hoje, às 11h30

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Aposta na retomada

O Grupo Arbo, do mesmo Arnaldo Franken, anunciou a aquisição da rede de franquias para agentes de viagens home office Ahoba Viagens. O empresário diz que confia na alta retomada do setor pós-pandemia para justificar a compra.

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10 - Agências e operadoras estão contratando; veja vagas Fonte: Portal PANROTAS


Crescimento em pleno 2020?

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Com o ano letivo de pernas pro ar (só agora algumas escolas retomam as aulas presenciais), as viagens de formatura, obviamente, ficaram para 2021. Na Amaze, empresa do Grupo CI, a pandemia foi um período para reestruturação e...crescimento. Confira a entrevista com Lucas Garcia, diretor da Amaze, no Portal PANROTAS.

Copa Airlines tem novas regras Os voos internacionais vão retomando, mas as regras são diferentes. É preciso ficar atento. A Copa Airlines divulgou as novas regras para voar com a companhia panamenha. Toque na imagem e leia a notícia completa

Rappi Travel

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O aplicativo de entregas de comida, compras e serviços agora também vende viagem. A proposta é se tornar um "superapp" onde se encontra de tudo, inclusive passagens aéreas e hospedagens.

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Mais um consórcio

Depois da parceria VoeturEmbracon, mais uma empresa anuncia investimento no segmento de consórcio para Turismo. O marketplace Magalu oferece pagamentos em longo prazo no modelo de consórcio para aquisição de viagens. Toque na imagem e leia a notícia completa

+Lidas da semana PANCORP 1 - Visual Turismo e Trend Operadora unificam sistema de reserva 2 - Expo Forum Visit SP acontece em novembro em formato híbrido 3 - GRU Airport implementa Wi-Fi 6 e garante internet de ponta 4 - EUA é o país que mais abriu hotéis na pandemia 5 - Expo Retomada terá live de 12 horas de duração 6 - 7 dicas para preparar o programa corporativo de hotéis Toque na imagem e leia a notícia completa

Feira de luxo

A ILTM Latin America, que ocorre em São Paulo e teve a edição 2020 cancelada devido à covid-19, mudou de data em 2021, e não acontecerá mais no Pavilhão da Bienal.

7 - Fernão Loureiro fala sobre 1ª viagem a trabalho na pandemia 8 - HRS disponibiliza protocolo de higiene em OBTs parceiras 9 - Abav-SP e Aviesp esclarecem dúvidas de casos como MGM 10 - Delta registra prejuízo de US$ 5,4 bi no terceiro trimestre Fonte: Portal PANROTAS

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Destino exclusivo

Quer ficar atualizado sobre as novidades de Mônaco? O Portal PANROTAS acaba de lançar uma seção exclusiva, em parceria com o Visit Monaco. Acesse e veja como o destino se preparou para receber com segurança turistas de todo o mundo, especialmente do Brasil, na retomada das viagens. Toque na imagem e leia a notícia completa

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Guillermo Alcorta por Guillermo Alcorta

O mais recente capítulo de nossa série de vídeos inspiracionais Next Voices é com o fundador e presidente da PANROTAS, José Guillermo Condomí Alcorta. Confira o depoimento no vídeo exclusivo do Next Voices.

Argentina segura

Mais um sinal de que a Argentina está prestes a reabrir as fronteiras: o destino ganhou o selo Safe Travels do WTTC. Toque na imagem e leia a notícia completa

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Visual na Trend

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O conteúdo da operadora de lazer Visual Turismo agora pode ser encontrado no sistema da reservas da Trend Operadora. Este é mais um passo da CVC Corp na integração entre as marcas B2B do grupo. De acordo com a empresa, o Visual na Trend dará mais facilidades aos agentes de viagens, isto é, todo conteúdo pode ser encontrado em um só canal on-line.

Verão da retomada começou A CVC antecipou para outubro a volta dos fretamentos aéreos exclusivos para Porto Seguro (BA). Toque na imagem e leia a notícia completa

Agaxtur conquista 46 franquias Latam Travel Toque na imagem e leia a notícia completa

A Agaxtur, que acaba de comemorar 67 anos, conquistou 46 das 99 franquias da Latam Travel. Hoje, as franquias Agaxtur somam 68 unidades em todas as regiões do País, já que antes da migração o grupo tinha 22 lojas.

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Artigo

O VOO MAIS IMPORTANTE DA NOSSA HISTÓRIA Rafael Brito, Secretário de Turismo de Alagoas

No dia 2 de outubro aconteceu um daqueles momentos que será lembrado para sempre. Alagoas, como vocês já devem saber, é um dos Estados mais pobres do Brasil, e é impressionante as transformações e quebra de paradigmas que estamos vivendo nos últimos tempos. Há muito não participávamos das grandes discussões e dos grandes acontecimentos. Tudo mudou e o dia 2 de outubro foi mais uma prova disso. Há exatos 11 anos, a TAP, que é a maior empresa em transporte internacional para o Nordeste, não lançava uma nova rota no Brasil. E por que Alagoas foi escolhida? Mudamos muito! Temos infraestrutura qualificada, estruturação dos nossos passeios, investimentos em novos hotéis, novas pousadas, novos restaurantes. Enfim, mais gente disposta e apostando em viver feliz através do turismo. Outro grande aliado nosso, inegavelmente, foi a segurança pública. Depois de anos e anos sendo o Estado mais violento do País, nos tornamos referência em redução de violência nos últimos seis anos. Esses avanços nunca existiram na nossa história, e provavelmente nunca se repetirão. Foram dois anos intensos de negociação direta com a companhia portuguesa e o Governo de Alagoas e, entre muitas idas e vindas de Maceió, São Paulo – onde fica a sede da TAP no Brasil – e a cidade de Lisboa, agora

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o povo de Alagoas colhe o resultado desse esforço em conjunto. Apostamos todas as nossas fichas na promoção do nosso destino que, não posso negar, já se vende naturalmente por todas as suas belezas naturais. Sempre tivemos em mente que divulgação é a chave para o sucesso de qualquer ação, então fizemos o que Alagoas nunca fez: colocamos nosso destino na boca, na mente e nos sonhos dos europeus. E fizemos isso direto da fonte. Desde novembro de 2019, iniciamos uma campanha de mídias on-line e off-line em toda a Europa. Franceses, ingleses, italianos, espanhóis e portugueses puderam sentir um gostinho do que era estar em Alagoas e o impacto disso foi surpreendente. A pandemia veio e precisamos adiar um pouco nossos objetivos. O mundo inteiro precisou. A data do voo inaugural, que inicialmente seria dia 12 de junho de 2020, foi transferida para 2 de outubro. E que dia! Entramos, agora, em um novo patamar. Alagoas (Maceió) entra no mapa do mundo, abre-se um leque de oportunidades para além do Turismo, vamos presenciar investimentos em todos os níveis e intercâmbio cultural fundamental para as próximas gerações. Este é sim o voo mais importante do nosso Turismo. Dentro dele: visitantes, investimentos, recursos, cultura e um mundo de possibilidades. O início de uma nova era de prosperidade começou e ela já prevê um novo e próspero tempo que Alagoas irá viver! n


ILTM Latin America 2021 is moving to October

SAO PAULO 26 - 29 OCTOBER 2021

iltm.com/latinamerica


Seguro Viagem Victor Fernandes

O QUE É PRECISO SABER AO OFERECER SEGUROVIAGEM NA PANDEMIA? Na última quinta-feira (15), como parte da série Retomada das Viagens, o Portal PANROTAS promoveu uma live com quatro executivos para debater a importância do seguro-viagem durante a pandemia e abordar as novas coberturas para covid-19 sendo ofertadas pelas empresas. A live contou com mediação do editor-chefe da PANROTAS, Artur Luiz Andrade, e contou com a participação de Celso Guelfi, da GTA; Claudia Brito, da April/Coris; Luciano Bonfim, da Vital Card; e Eduardo Aoki, da Intermac. Entre as empresas participantes da live, GTA e Intermac já estão oferecendo a cobertura adicional para covid-19, enquanto a April/Coris e a Vital Card prometeram que também oferecerão esta modalidade de proteção até a primeira quinzena de novembro. As empresas de seguro-viagem estavam aguardando por uma determinação de nota técnica da Susep, órgão que tem as seguradoras "sob o seu guarda-chuva", para elaborar, precificar e comercializar a cobertura para covid-19. Lembrando que, inicialmente, pandemias configuram como exclusões nos seguros-viagens, por isso a necessidade de elaborar um novo produto. Confira abaixo cinco pontos que o agente de viagens precisa saber sobre a cobertura para covid-19, para então poder oferecê-la para o seu cliente.

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Celso Guelfi, da GTA

Claudia Brito, da April/Coris


COBERTURA ADICIONAL A cobertura para covid-19 que está sendo lançada recentemente é um produto complementar ao seguro-viagem, o que significa que o viajante pode optar ou não pela sua aquisição. Algumas empresas chamam o adicional de upgrade.

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VALORES A cobertura para covid-19 custa, na GTA, entre US$ 2 e US$ 9 por dia e, na Intermac, o valor por dia está entre US$ 3 e US$ 12. A variação corresponde à cobertura em custos médicos oferecida. Na GTA, os planos são de US$ 5 mil, US$ 10 mil, US$ 20 mil e US$ 30 mil; ou seja, uma viagem de dez dias com o melhor plano custaria US$ 90, um investimento muito baixo comparado ao custo de tratamentos e internações no Brasil e no Exterior.

Luciano Bonfim, da Vital Card

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Eduardo Aoki, da Intermac

SERVIÇOS OFERECIDOS Assim como há diferença de valor entre os planos, também há diferenças de cobertura, mas todos cobrem as despesas médicas hospitalares (DMH) em caso de internação, correspondendo ao valor coberto pelo plano adquirido. Entre outras despesas cobertas, estão a repatriação sanitária, repatriação do corpo em caso de óbito, cobertura do custo de serviços não utilizados em caso de internação, como o hotel, testes de covid-19 com pedido médico, e uma ajuda de US$ 150 para os acompanhantes da pessoa contaminada passarem o dia.

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NACIONAL E INTERNACIONAL A cobertura para covid-19 é indicada para viagens nacionais e internacionais. No nacional, o novo seguro cobre custos que os planos de saúde não cobrem, e por enquanto tem sido o mais procurado já que a retomada está acontecendo pelo doméstico, com viagens regionais. Já para o internacional, maioria das fronteiras segue fechada, mas como muitos viajantes já compram viagens para 2021, é possível já oferecer a cobertura também. Inclusive, a April/Coris ainda não tem o pro-

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duto, mas já está oferecendo por saber que terá disponível em breve. RESPALDO É importante ressaltar a importância de entender as particularidades da nova cobertura em cada empresa e atentar para a regulação da Susep e confiança na empresa com que está adquirindo o produto. Os executivos ressaltaram que um dos principais pontos a serem trabalhados neste momento é a confiança do viajante, e que esta nova cobertura será muito importante neste sentido. Para eles, a retomada do Turismo já iniciou com viagens domésticas, principalmente de carro, e os turistas estão apenas esperando as fronteiras reabrirem para viajar para o Exterior. Neste momento, ainda sem vacina, a cobertura para covid-19 e os protocolos de segurança são os melhores aliados do viajante para ter uma experiência segura em seu destino, seja ele nacional ou internacional.n

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Artigo

TURISMO SOFRE PERDAS PROGRESSIVAS DESDE O INÍCIO DA PANDEMIA Por Alexandre Sampaio, presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA)

O Turismo tem um futuro promissor, mas precisa enxergar suas reais necessidades. O setor vem enfrentando e deve enfrentar ainda mais perdas de empresas e postos de trabalho, e portanto terá de encontrar soluções criativas, rápidas e efetivas para conseguir uma rápida recuperação. O presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA) e do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade da CNC, Alexandre Sampaio, escreveu novo artigo sobre o tema. Em tom de alerta. Em março, não imaginávamos que o coronavírus atingiria o mundo com tamanha severidade. A ideia de que essa situação perduraria por tanto tempo não passou pela nossa cabeça quando o assunto começou a ser debatido. Entretanto, sete meses depois, vemos que ainda estamos permeando essa batalha contra um inimigo invisível. Por ter mexido em toda a estrutura social e trabalhista, a covid-19 readequou a rotina de milhões de brasileiros. O re18

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gistro do desemprego e da falência de empreendimentos disparou em diferentes setores. No meio turístico, não poderia ser diferente, até porque o segmento é considerado um dos mais afetados pela pandemia. Numericamente, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) trouxe o cenário em que estamos inseridos: com a perda de quase 50 mil estabelecimentos voltados ao nosso setor, entre março e agosto, estamos lidando com danos acumulativos que prejudicam a retomada das nossas atividades em âmbito nacional. Além disso, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) informou que 481,3 mil postos formais de trabalho, dentro do Turismo, foram eliminados. Dessa forma, estamos passando por um momento crítico e, quando fazemos as contas, nos assustamos com o que vemos. Na segunda-feira (5), foi comemorado o Dia das Micro e Pequenas Empresas. A data ainda trouxe uma necessária reflexão de tudo o que passamos: tivemos o registro de que os estabelecimentos de micro e pequeno portes sofreram em excesso, pois acarretaram a perda de 48,3 mil negócios, no geral. Noventa e cinco por cento dessas empresas estão englobadas dentro do Turismo. Tivemos também, apenas em setembro, um déficit de quase R$ 25 bilhões no setor. Nossa batalha é em prol da mitigação dos prejuízos causados pela covid-19, mas ainda vemos que há questões mais profundas que precisam ser debatidas para, posteriormente, encontrarmos eventuais soluções. Todos os segmentos turísticos registraram saldos negativos, todavia, o diálogo para a alimentação fora do lar e para a hospedagem precisa ser mais assertivo. A perda destes meios foi de 39,5 mil e 5,4 mil unidades, respectivamente, o que nos traz a percepção da delicadeza e da urgência de novas formas para driblar a queda progressiva de faturamento. A vida, paulatinamente, está volta-

do ao normal, entretanto, as coisas não serão como antes. Hoje em dia, temos o registro de que 90% dos hotéis estão abertos. Bares, restaurantes e similares também já contabilizam as suas atividades diárias em andamento, mas temos uma movimentação fraca. Mesmo assim, estamos buscando novos horizontes para sobressair dos momentos de dificuldade. Um grande exemplo é a premiação 1º Desafio Brasileiro de Inovação em Turismo, competição responsável por buscar responder às necessidades imediatas do contexto póspandemia e, além disso, promover a resolução de desafios gerais correlacionados ao Turismo brasileiro. A iniciativa mostrou que é possível buscar a transformação do nosso setor com a colaboração de grandes mentes brasileiras.

Sempre defendi que juntos somos mais fortes e, com este desafio, conseguimos ter mais certeza dessa afirmação. Hoje, a inovação corre nas veias das empresas turísticas e isso é muito importante. Nessa competição, pudemos avaliar grandes projetos. O nosso futuro é promissor, não tenho dúvidas, mas, primeiro, é preciso enxergar as nossas reais necessidades. Não podemos dizer que será possível recuperar tudo o que perdemos. É inviável afirmar isso, contudo, devemos buscar novas formas de trazer momentos de respiro para o Turismo, pois, somente desta forma será possível tentar chegar perto de onde estávamos antes da covid-19. Nosso setor é gigante e devemos reconhecer que, ainda com os prejuízos gerais, poderemos sair mais fortes e mais conscientes do nosso papel em relação à sociedade."n

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Pesquisas e Estatísticas

O FUTURO DO TURISMO NO PÓS-PANDEMIA Estudo do WTTC revela as principais tendências para a indústria no pós-covid-19

O Turismo foi um dos setores que mais sofreram e continua sofrendo perdas e retrocessos significativos com a pandemia de covid-19. De acordo com os dados recentes do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), a indústria pode perder cerca de US$ 3,4 trilhões e mais de 121 milhões de empregos em todo o mundo. Desde que a covid-19 foi declarada como uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), países em todo o mundo implementaram medidas de isolamento e fechamento de fronteiras, afetando aproximadamente 3,9 bilhões de pessoas. Entretanto, apesar da eficácia para desacelerar a contaminação, essas medidas abalaram profundamente o setor de Turismo. Desde maio, três em cada quatro países suspenderam globalmente as viagens. As previsões atuais estimam que o número de visitantes cairá 53% para chegadas internacionais e 34% para chegadas domésticas em 2020. Com reduções nas receitas, pequenas e grandes empresas foram forçadas a demitir uma parte significativa de seus colaboradores. As pesquisas revelam um prejuízo líquido de US$ 84,3 bilhões na indústria da aviação em 2020, enquanto mais de 50% das operadoras de Turismo preveem, no mínimo, uma queda de 50% na receita em relação a 2019. De acordo com os dados de 2019 do WTTC, o setor foi responsável por 10,3% do PIB global e sustentou mais de 330 milhões de pessoas, ultrapassando o crescimento da economia global pelo nono ano consecutivo. Além de contribuir para o empreendedorismo, o Turismo é uma das indústrias com mais oportunidades

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Gloria Guevara Manzo, CEO do WTTC

para mulheres, jovens e minorias. A contribuição para as comunidades locais também é significativa, já que colabora com a geração de emprego e renda e preserva o patrimônio cultural. CAMINHO A SEGUIR Em meio ao contexto socioeconômico atual e ao cenário de demanda em constante evolução, o apoio dos governos é fundamental para transformar os obstáculos em oportunidades de recuperação. Durante a pandemia, os governos já tomaram algumas ações para mitigar o impacto da covid-19 no


setor de Turismo, incluindo flexibilização das restrições de viagens, proteção aos trabalhadores e introdução de protocolos de saúde. Para o WTTC, no entanto, o poder público tem a oportunidade de reconhecer a importância do setor como um motor de criação e crescimento de empregos e um mecanismo para promover a igualdade, reduzir a pobreza e aumentar a inclusão na sociedade. Enquanto não houver vacina, são essenciais soluções provisórias que permitam às pessoas viajar de forma segura. Por enquanto, apenas 17% dos viajantes dizem que adiarão a viagem até receberem uma vacina, o que reforça o desejo de viajar apesar da pandemia. Desse modo, as empresas e os destinos devem se adaptar e se reinventar para o “novo normal”. Para isso, é necessário que o setor trabalhe em conjunto, aprimore a experiência de viagem, invista em

novas tecnologias, adote os protocolos globais de saúde e higiene e reconstrua a confiança dos viajantes. TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS PARA O TURISMO Visando contribuir para uma recuperação mais rápida, o WTTC desenvolveu um estudo, em parceria com a Oliver Wyman, com as principais perspectivas do setor de Viagens e Turismo pós-pandemia. Entre as principais tendências detectadas estão a evolução da demanda, com predominância dos destinos nacionais e de natureza; a saúde e higiene, fatores fundamentais para recuperar a confiança dos viajantes; a inovação e digitalização, incluindo a adoção de tecnologias sem contato para viagens seguras; e sustentabilidade nos âmbitos social, ambiental e institucional.

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EVOLUÇÃO DA DEMANDA Com a pandemia de covid-19, os viajantes estão procurando destinos mais próximos de casa. Cerca de 58% dos viajantes globais pretendem fazer viagens domésticas ainda em 2020, sendo que a estada média varia entre oito e nove dias. Da mesma forma, o planejamento da viagem terá maior importância, já que 75% dos viajantes norte-americanos pretendem se planejar melhor para a próxima viagem. Já 70% dos viajantes da América da Norte dizem que reservariam suas viagens durante a pandemia se não houvesse taxas de remarcação. Para evitar aglomerações, os viajantes procurarão cada vez mais destinos ao ar livre e de natureza. Nos Estados Unidos, 40% dos viajantes afirmaram que a covid-19 os fez repensar sobre os tipos de destinos para viajar, com praias (38,2%) e áreas rurais (30%) liderando as preferências. Outra tendência é a valorização da experiência, da autenticidade e do impacto social nas viagens, que deve, inclusive, redefinir o conceito de luxo e impulsionar a demanda por alguns nichos como Turismo comunitário e o ecoturismo.

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POSICIONAMENTO DOS NEGÓCIOS Em resposta às novas demandas, as empresas deverão reavaliar seus modelos operacionais no curto prazo e adotar novas tecnologias, investindo na implementação de plataformas virtuais de pagamento e protocolos aprimorados de saúde e higiene. Mas além de implementar essas medidas e criar ofertas de produtos mais assertivas, as empresas deverão divulgá-las de forma clara, fornecendo aos viajantes informações para a sua tomada de decisão. É fato que a capacidade de se comunicar com rapidez e eficácia terá um impacto significativo na recuperação da confiança do cliente. Prova disso é que mais de 55% dos viajantes norte-americanos disseram que a garantia de que a propriedade está fazendo uma higienização extra seria o fator mais provável para persuadi-los a reservar férias futuras. Transparência e autenticidade serão fundamentais para reconquistar a confiança dos viajantes. APOIO AOS COLABORADORES Com inúmeros profissionais perdendo seus empregos, o setor se une para dar suporte financeiro por meio do lançamento de fundos emergenciais e de parcerias para vagas tem-

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porárias. A Accor, por exemplo, reservou 25% de seus fundos para ajudar os funcionários e parceiros afetados, enquanto os cargos de chefia da Hyatt estão abrindo mão de seus salários para fornecer financiamento para o fundo Hyatt Care. Além das iniciativas do setor privado, as medidas do governo para apoiar o setor e os profissionais serão essenciais para uma recuperação mais rápida. Com as pequenas e médias empresas respondendo por 80% do setor, a falta de apoio governamental provavelmente fará com que muitas delas não sobrevivam à crise. Para além do apoio financeiro, muitas companhias estão redirecionando o foco no bem-estar e na saúde mental dos funcionários para lidar com os efeitos psicológicos das mudanças acarretadas pela pandemia. A Accor e a Royal Caribbean estabeleceram uma linha de apoio 24 horas para colaboradores, enquanto a Carnival implementou uma equipe médica a bordo para identificar hóspedes e tripulantes que possam precisar de algum suporte. Cuidar da saúde mental e do bemestar se tornará cada vez mais importante à medida em que os funcionários enfrentam preocupações sobre saúde e renda. PARCERIAS COM AS COMUNIDADES LOCAIS Os destinos e as comunidades locais sofreram grandes impactos com a crise de covid-19, especialmente as populações que dependiam diretamente da receita do Turismo para sua subsistência. Felizmente, existem oportunidades para que as empresas ajudem essas comunidades a recuperar sua fonte de renda. Durante a pandemia, meios de hospedagens como Marriott, IHG, Radisson, Four Seasons e Hilton ofereceram seus hotéis como hospitais temporários, moradias para as equipes médicas ou mesmo para os sem-teto. Outras organizações, como Caesars Entertainment, RoomMate Hotel, Palladium, Disney e MGM Resorts, doaram alimentos para instituições de caridade. SAÚDE E HIGIENE Nesta nova era, a consciência sobre as boas práticas de saúde e higiene continuará crescendo. As experiências pessoais, o medo de ficar preso em outro país e a preocupação com o distanciamento social deverão nortear o comportamento do consumidor no curto e médio prazos. De acordo com uma pesquisa da Associação Interna-

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cional de Transporte Aéreo (Iata), mais de 80% dos viajantes estão tão preocupados com as restrições de viagens quanto com o contágio de covid-19 durante as viagens. Cerca de 69% dos viajantes citam as medidas de limpeza e saúde como um fator crucial para reservar uma viagem. Por isso, para reconquistar a confiança do viajante, é necessário que os setores público e privado se unam para desenvolver padrões de saúde e higiene reconhecidos internacionalmente. Além de aprimorar a comunicação dos protocolos, as empresas devem fazer parcerias com organizações que tenham protocolos semelhantes aos seus. PROTOCOLOS NA PRÁTICA Com a saúde e higiene em pauta, os colaboradores também precisam ter um ambiente de trabalho seguro, além de receber treinamentos sobre as práticas de saúde e segurança. A rede Hyatt, por exemplo, está introduzindo programas de limpeza, desinfecção e prevenção de doenças

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para os seus colaboradores. Neste momento, é essencial garantir a coerência e a harmonização dos protocolos por meio de uma abordagem colaborativa e transparente em todo o setor do Turismo. INOVAÇÃO E DIGITALIZAÇÃO A pandemia está provando ser um catalisador na busca do setor de Viagens por inovação e integração de novas tecnologias. Com as medidas de isolamento e a adoção do trabalho remoto, o consumo digital tem aumentando e a cibersegurança está se tornando cada vez mais importante. Uma pesquisa realizada em abril revelou que 30% dos entrevistados usaram métodos de pagamento sem contato e fizeram reuniões por videoconferência pela primeira vez. A taxa de adoção de webconferência aumentou quase 85% entre janeiro e abril de 2020 e o tempo gasto em redes sociais aumentou para 44% das pessoas. As soluções digitais integradas que permitem

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uma viagem segura serão cada vez mais adotadas para reduzir os pontos de contato em toda a jornada do viajante, como check-in sem contato e monitoramento de saúde. Por outro lado, o uso e a proteção de dados continuarão sendo uma preocupação constante para os viajantes e, provavelmente, terão mais destaque à medida em que mais dados forem usados. A segurança cibernética não é apenas necessária para combater fraudes e violações de dados, mas a própria adoção de novas tecnologias depende da confiança do cliente para proteger seus dados. Em resposta a essa demanda, as empresas deverão se adaptar e acelerar sua transformação digital para uma recuperação mais rápida. A identidade digital e a identificação biométrica serão cada vez mais importantes. ASCENSÃO DO TURISMO VIRTUAL As empresas e os destinos continuarão a se adaptar aos novos tempos, oferecendo até mesmo experiências virtuais neste período de pandemia. A ascensão do Turismo virtual é uma tendência que deve perdurar, tornando-se uma parte cada mais vez importante do processo de marketing e vendas. REQUALIFICAÇÃO E TRABALHO REMOTO As empresas precisarão desenvolver capacidades técnicas e digitais para se adaptarem às operações cada vez mais digitalizadas no setor. É necessário um investimento significativo em recrutamento e requalificação de funcionários para atrair, desenvolver e reter talentos qualificados. Segundo uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial, 68% da força de trabalho da indústria de Viagens exigirá requalificação. Além dos cursos oferecidos por seus empregadores, os funcionários participarão cada vez mais de programas de qualificação independentes para aumentar seu valor no mercado de trabalho. DESIGUALDADES DIGITAIS As desigualdades digitais, tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento, foram exacerbadas pelas consequências da covid-19. Apenas 15% das famílias nos países menos desenvolvidos têm acesso à internet em casa, em comparação com 84% nos países desenvolvidos. Além disso, a continuidade dos negócios, especialmente com o trabalho remoto, é mais complexa nas áreas rurais.

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Embora as empresas devam desempenhar um papel por meio da qualificação da força de trabalho local, as parcerias público-privadas-comunitárias serão fundamentais para garantir o crescimento sustentável e inclusivo desses destinos. O apoio do governo também será necessário para garantir que os destinos emergentes tenham recursos adequados para reativar o Turismo e se adaptar à evolução da demanda. SUSTENTABILIDADE Enquanto o mundo estava paralisado, a consciência sobre sustentabilidade social, ambiental e institucional aumentou entre os consumidores. De acordo com uma pesquisa da Publicis Sapient, 58% dos entrevistados disseram que estão pensando mais sobre meio ambiente e sustentabilidade, em comparação com o período pré-pandemia. Além disso, as suspensões de voos e a redução do uso de transportes geraram uma redução de 8% nas emissões de CO2 em 2020, a maior queda desde a Segunda Guerra Mundial. Apesar do ar limpo, a pandemia causou grandes impactos no Turismo sustentável, segmento que desempenha um papel fundamental na manutenção e preservação de habitats naturais e áreas de proteção ambiental. Em 2018, o ecoturismo contribuiu com US$ 344 bilhões para a economia global. Para apoiar a retomada desse segmento, as empresas devem desenvolver seu portfólio de destinos naturais e destacar seus benefícios ecológicos.

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INVESTIMENTO EM PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS As mudanças climáticas e ambientais testemunhadas durante a pandemia deverão pressionar ainda mais o Turismo para investir em sustentabilidade. Segundo a pesquisa da Publicis Sapient, 66% dos entrevistados disseram que seriam mais propensos a comprar de uma companhia aérea que adota práticas sustentáveis e 73% afirmaram estar prestando mais atenção em marcas que tiveram um impacto positivo durante a crise. Com o impacto desigual da covid-19 nas minorias raciais e étnicas, a consciência sobre justiça social também aumentou. Nesse cenário, o setor de Viagens e Turismo pode desempenhar um papel importante na promoção da inclusão social. A alta participação de mulheres e minorias, comparada a outros setores, permite que o Tu-

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rismo contribua para o empoderamento socioeconômico e o combate à discriminação de minorias. APOIO ÀS COMUNIDADES LOCAIS Para evitar locais populares e com aglomerações, as empresas deverão promover destinos alternativos e apostar em soluções digitais, como filas virtuais, preços dinâmicos e ingressos digitais. Além de promover a conscientização e construir suporte para diversas iniciativas sustentáveis, as soluções digitais podem ser usadas para monitorar e coletar dados sobre a natureza e trabalhos de preservação ambiental. Os destinos que correm o risco de superlotação podem ainda integrar as tecnologias para rastreamento e melhor distribuição dos viajantes. n


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PANROTAS — 5 a 11 de agosto de 2020



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