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PA R Q

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O U T U B R O

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Periocidade Bimestral

Depósito legal 272758/08

Registo ERC 125392

Edição Conforto Moderno Uni, Lda.

NIF

508 399 289

Propriedade Conforto Moderno Uni, Lda. Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2oesq. 1000—251 Lisboa, Portugal

Telefone

00351 218 473 379

Impressão Eurodois. R. Santo António 30, 2725 Sintra 12.000 exemplares

Distribuição

Conforto Moderno Uni, Lda.

J OA N A R I B E I RO veste corpete S TO RY TA I LO R S AT E L I E R , vestido e luvas K AT E RY N A KO R N I LOVA @oldskullembroidery, brincos B E AT R I Z JA R D I N H A @beatrizjardinha

Assinatura anual: 12 euros

Director Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com

Editor

Conforto Moderno

Design

Valdemar Lamego www.valdemarlamego.com

Textos

Fotos

António M. Barradas Carla Carbone Carlos Alberto Oliveira Daniel Bento Diogo Graça Francisco Vaz Fernandes Jéssica Lima Liliana Pedro Luís Sereno Maria São Miguel Miguel Rodrigues Patrícia César Vicente Rafael Moreira Rafael Vieira Roger Winstanley Sara Madeira Sara Pereira

Andy Dyo Diana Neto Eva Fisahn Inês Costa Monteiro Paulo Leote Puga Sara Jesus Bento

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Styling Addicted Productions Daniela Gil Daniel Carrillo Marta Derque Patrícia César Vicente Pedro Aparício

conceito e execução A N DY DYO para projeto VR/versus reality /parqmag /parqmag /parqmag

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T I AG O T EOTÓ N I O P E R E I R A feridas bordadas K AT E RY N A KO R N I LOVA @oldskullembroidery, ténis C O N V E R S E

@andy_dyo

styling A N DY DYO em colaboração com a A N A S I LVA @anasnotanna makeup e cabelo DYO unhas SA N D R A LU Z estúdio

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FREDPERRY.COM

FRED PERRY STORES: NORTE SHOPPING, MATOSINHOS / PORTO ARRÁBIDA SHOPPING, V. N. GAIA RUA DO OURO, LISBOA SHOP-IN-SHOP: EL CORTE INGLÉS GAIA / PORTO EL CORTE INGLÉS LISBOA MARQUES & SOARES, PORTO

LISTEN TO BLACK / CHAMPAGNE / CHAMPAGNE


PA R Q

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O U T U B R O

YOU MUST

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Les de l'hoquei Glow up Preencher Vazios Horácio Frutuoso Museu Céu Aberto Ana Jotta Behind the Green Door Halo Sónia Balacó Violet Bend Backwards Over the Grass Discos Omnichord Records Buzina 42 50 Isabel Conde Contemporary Make-up Beleza Homme Sneakers

SOUNDSTATION

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Surfjan Stevens

CENTRAL PARQ

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David Fonseca John Casablancas (editorial) O perigo do ideal nocivo de masculinidade Loucura Iminente (fotonovela) Ary & Isaac It's a crash course for the ravers (editorial) Dino Alves Inês Faria I see you (editorial)

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PARQ HERE

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Café São, Fora, Dsquared2, Barro, Terroir A Suavidade de Falecer (crónica)

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Les de l’hoquei, a série catalã que conta a história de um grupo de amigas adolescentes jogadoras de hóquei, começou como um trabalho de faculdade e neste momento é distribuída internacionalmente pela N E T F L I X . O conceito da série não é inovador –tratando-se de um produto de género juvenil muito demarcado– mas o ângulo pelo qual aborda o universo adolescente é novo e refrescante. Les de l’hoquei centra a sua narrativa numa equipa de hóquei feminino catalã e parte desse lugar concreto e original para refletir sobre temas tão pertinentes e universais quanto o Feminismo e a Misoginia. Quanto às suas fraquezas, o guião da série, bem como algumas prestações, mostra-se um tanto frágil e pouco orgânico em certas situações. Talvez consequência da ainda curta experiência das criadoras e de alguns membros do elenco. Não obstante, essas fragilidades não comprometem o desenrolar da narrativa, sendo ainda facilmente compensadas pelo veracidade e jovialidade dos diálogos e interpretações. Produzida pela Brutal Media em colaboração com a TV3, Les de l’hoquei traz escolhas musicais interessantes, cenários realistas, fotografia e realização cuidadas e um ensemble de desportistas cheias de atitude e personalidade.

AS DO HÓQUEI LES DE L' H OQU E I texto por Diogo Alves

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YOU MUST WATCH


ModaLisboa 2020 | Model: Marcelo Zhang (Blast)

7-11 OUTUBRO 2020 MODALISBOA.PT @LISBOAFASHIONWEEK Uma iniciativa conjunta

Parceiro Tecnológico

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Tv oficial

Rádio oficial

Tv internacional

Apoio

Parceiro de media


Este é o projeto que Preenche Vazios, literalmente. Não se admire se for na rua e encontrar os mais bonitos azulejos com mensagens de autores portugueses, estes fazem parte do projeto da designer J OA N A D E A B R EU, licenciada em Arte e Design para o Espaço Público pela Faculdade de Belas Artes do Porto. J OA N A D E A B R EU sente-se uma privilegiada por trabalhar naquilo que realmente acredita e a faz feliz. A paixão pelos pequenos detalhes que diariamente cativam o seu olhar, fê-la criar o projeto que hoje se orgulha de expor nas ruas da cidade, o Preencher Vazios.

PREENCHER VA Z I O S entrevista por Jéssica Lima

↓ entrevista completa em www.parqmag.com 08

Como surgiu o projeto Preencher Vazios? JDA: O Preencher Vazios surgiu com o intuito de preencher os espaços vazios das fachadas das casas e edifícios das nossas cidades em 2015, no âmbito do meu mestrado na FBAUP. Atribuindo pequenas mensagens de autores portugueses, tem como objetivo chamar atenção para os pequenos detalhes que nos rodeiam diariamente, e surpreender os transeuntes com algo que não estavam habituados a ver durante o seu percurso.

YOU MUST SEE

O nome do projeto demonstra uma vontade. Qual é o objetivo deste projeto? JDA: O objetivo principal é que olhem para a nossa cidade com olhos críticos e com vontade de a mudar, no que diz respeito ao nosso património. É preciso educar as pessoas para a preservação do azulejo. É preciso intervir nas fachadas que com o passar dos anos mais degradadas ficam. Muito mais que uma intervenção artística, o projeto pretende chamar à atenção para a necessidade de preservar o património azulejar português que tem sofrido uma perda progressiva de azulejos nos últimos anos.


SÉRIE DE CONVERSAS E DEBATES

WWW.MODALISBOA.PT @LISBOAFASHIONWEEK

Uma iniciativa conjunta

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S E G U N DA T E M P O R A DA G LOW- U P texto por Sara Pereira

↑ Ophelia Liu 10

YOU MUST SEE

A série da N E T F L I X Glow-Up: Britain’s Next Make-Up Star fez sucesso na

estreia da segunda temporada que ficou marcada pelos talentosos e carismáticos artistas que concorreram ao programa. O formato consiste em desafiar 10 maquilhadores que são avaliados semanalmente em provas artísticas de variados contextos por jurados experientes e estes vão sendo eliminados um a um, até à final, onde se enfrentam para ganhar o prémio final. A série de 8 episódios é uma montra de artistas com habilidades impressionantes, é uma tela onde se pinta sob o passado, sob o presente e o futuro, é um lugar sem barreiras à liberdade de expressão, é uma luz que incide naqueles que iluminam rostos. Em cada prova somos surpreendidos com a criatividade e imaginação dos concorrentes e isso leva-nos a refletir sobre o quão ilimitada é a arte de maquilhar e sobre o poder da arte em mãos de um artista. Nesta segunda edição a eleita pelos conhecidos D O M I N I C S K I N N E R e VA L G A R L A N D foi O P H E L I A L I U que trouxe para casa o título de “Britain’s Next Make-Up” juntamente com um contrato para trabalhar com os melhores profissionais no mundo da maquilhagem.


↑ Maquilhagem final de Ophelia Liu 11

YOU MUST SEE


H O R ÁC I O F RU T UO S O texto por Francisco Vaz Fernandes

sage comme une image Exposição H O R ÁC I O F RU T U O S O, até 18 de Novembro Balcony Contemporary Art Gallery Rua Coronel Bento Roma, 12A Alvalade – Lisboa Seg. → Sáb. 14:00 → 19:30 www.balcony.pt

Surrender (Left), 2020 Oil on linen 60×80cm

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YOU MUST SEE


Jerónimo, que é uma figura tutelar do edif ício da cultura ocidental de tradição cristã. É uma personagem, onde o artista se pode rever, porque na iconografia que se fez de São Jerónimo durante séculos, prevalece a dualidade. Umas vezes é representado como o erudito que traduziu do hebraico para o latim a bíblia atual, outras vezes é o asceta, o homem que abandonou os prazeres de Roma para se dedicar a ascese. Essa dicotomia ensaia-se de uma forma subtil nessas representações dos duplos que vão aparecendo em luta ou encobertos como se fossem fantasmas. O próprio espaço do artista solitário não se encontra longe da caverna, onde S.Jerónimo se recolhia, se o entendermos como um refúgio do mundo. A própria t-shirt às riscas com que se representa tem, socialmente, uma carga negativa. No imaginário popular é, em geral, referente a indivíduos penalizados e mais uma vez em estado de isolamento, como é o caso da prisão, por exemplo.

Stalker (Tarkovsky), 2020 Oil on linen 60×80cm

Depois de um período em que H O R ÁC I O F U R TA D O, apresentou, no essencial, trabalhos em torno da palavra, em que procurava dar‑lhe uma materialidade e enfatizar essa relação com o espaço e o edif ício social, agora regressa à representação pictórica. Na galeria Balcony em Lisboa apresenta um conjunto de telas, que surgiram em grande parte no momento do confinamento obrigatório. À primeira vista são, de facto, representações do próprio artista entregue ao seu trabalho no seu atelier. Prevalece, no essencial, o desenho representativo, até com um certo sentido imediato, pese embora a contradição do processo moroso, que a pintura a óleo impõe, predispondo para estados mais contemplativos. Apesar das alusões ao real, ao quotidiano que imaginamos ser do artista, onde não faltam referências de letras e palavras, encontramos também, uma dimensão onírica que ajuda na construção e eficácia do poder da imagem se constituir como linguagem. Não será por acaso, que H O R ÁC I O F RU T U O S O procure trazer para esta exposição a referência a São

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YOU MUST SEE

Evidentemente, o artista não procura tecer algum périplo moralista. Num plano imediato propõe-se frisar essa possibilidade de um indivíduo ser visto e experimentar uma dualidade de sentidos, que provavelmente, todos nós já sentimos. Compreende que há uma disciplina social que fabrica sujeitos, a partir de um poder que o toma, por um lado como o objeto e por outro como o instrumento de um certo exercício de poder. Enquanto produto e produtor social, H O R ÁC I O F RU T U O S O encontra nessa necessidade de se autorretratar, como refere o texto da folha de sala da exposição, um ponto de ref lexão, numa lógica do procura do individuo, tal como podemos ver nas suas autorrepresentações que apresenta. O artista está, pois, sozinho sujeito a uma lógica disciplinar, vive o drama da sua própria clausura em que necessariamente se torna o meio, em que se insere. Tanto o mundo como o seu atelier, assim como o eu que se projeta, socialmente ou na tela, são no fundo o seu campo disciplinar, onde ensaia a sua individualização como garantes de um modo de vida consolidado. Nele, o artista apresenta-se como um intermediário ativo, como um atalho entre os acontecimentos da vida e o devir da arte.


M U S E U A C É U A B E R TO D E P O R T U G A L M ACA P texto por Rafael Vieira

O confinamento remexeu rotinas, desconfinou ideias. Como o MACAP, surgido em pandemia, com o interesse de dinamizar o centro urbano de Coimbra. Este acto urbano foi criado por VUKA, identidade artística de K A R I N A V U KOV I , uma apaixonada pelos casos e acasos da cidade e conta com a colaboração de M AT I L D E CU N H A . K A R I N A comenta: «Coimbra é uma pequena e complexa cidade, com imenso potencial para o futuro, em que alguns de nós 14

acreditamos»; continua: «MACAP é um experimento social urbano, pretende potenciar a ref lexão através de linguagem simples para sensibilizar as pessoas. É também uma acção de protesto pela falta de acção cultural por parte da Câmara Municipal de Coimbra». MACAP é um trabalho de curadoria, um acto cartaz, um projecto colaborativo de arte urbana que exibe orgulhosamente nas fachadas de Coimbra os cartazes de um grupo de artistas chilenos: A LVA R EJ O, DA N I Q U I N , YOU MUST SEE

J O N JAC O B S E N , OY E M AT H I AS e T H E T R E M E N D O S . Foram estrategicamente dispostos pelos becos da Baixa da cidade, estabelecendo um percurso a que se acede através de um QR code visível nos cartazes. Um museu a céu aberto. K A R I N A espera levar o MACAP para outras cidades portuguesas a partir desta âncora em Coimbra, juntando outros artistas de outros países e dando talvez o salto internacional.


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↑ The Tremendos

↑ Alvarejo

↑ Jon Jacobsen

↑ Alvarejo 16

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YOU MUST SEE


S U I T E J A V I DA É U M PA LC O ANA J OT TA texto por Francisco Vaz Fernandes

ANA JOTTA apresenta na Galeria Miguel Nabinho uma instalação constituída, em grande parte, por peças criadas a partir de tecidos bordados, uns apropriados, outros feitos pela artista ou então, os dois em simultâneo. O recurso a linhas sobre o tecido, a que vamos chamar de “bordado” não é a primeira vez que aparece no trabalho da artista.

Suite J a vida é um palco Exposição Ana Jotta Galeria Miguel Nabinho Rua Ten. Ferreira Durão, 18B Lisboa Ter. → Sáb. 14:00 → 20:00 www.miguelnabinho.com 18

Les jeux sont faits! Toalha bordada 61×56cm YOU MUST SEE

Em 1995 surgiram os primeiros. A aproximação à técnica, associada em geral ao lavor feminino, dá-se a partir de um pano bordado que encontrou, no qual se apresentava um desenho geométrico. Apesar da falta de experiência requerida, a artista desafia-se e compromete‑se a completar o desenho programado por um anónimo seguindo apenas o que lhe parece ser uma sequência lógica. A esse seguiram-se outros, que eram a representação de linhas lançadas sobre o pano ou então figurações que, em geral, eram a transposição de desenhos de carácter popular, humorísticos, registados sem qualquer preciosismo. Talvez o mais conhecido seja “Roger” (1995), constituído por um toalheiro mecânico que ao permitir desenrolar a toalha de mãos, faz descobrir uma sequência de desenhos bordados repetidos. Para a artista, tal como para muitas mulheres da mesma geração, a sua identidade passou pela recusa dos atributos do ideal feminino, defendidos pelo Estado Novo, o que incluiu evidentemente a recusa da aprendizagem do bordado. Por isso, sem qualquer apetência e conhecimento, ANA JOTTA vê naquele pano encontrado, numa época em que todos os trabalhos manuais são até menosprezados, a oportunidade de aprendizagem, sem com isso pudesse apontar para qualquer afirmação feminista, como hoje seríamos tentados a fazê-lo. Longe disso, olhando para toda a obra da artista que contempla vários tipos de experiências e técnicas não encontramos nada afirmativo na obra de ANA JOTTA. Pelo contrário, é uma obra que se faz de acasos, que surge de pequenos compromissos que a artista estabelece para si própria, sem trajetória mas que involuntariamente deixa um trajeto, tal como as nossas vidas em geral, o percorrem. Além disso, nesses primeiros trabalhos referidos, tais como os que se apresentam na “Suite J a vida é um palco”, a artista mergulha numa cultura popular, a partir do qual se posiciona, num mundo privilegiado, onde consegue quebrar com lógicas discursivas e estabelecer um certo caos, ao qual a própria carga autoral não escapa. De certa forma, a artista procura sabotar todas as redes que possam fixar involuntariamente um conhecimento como essência para um regime de poder, recusando fixar qualquer verdade, valor ou essência artística. Apesar dos aspectos expositivos e de uma certa materialidade, vivemos o sentimento de uma obra estilhaçada, em percurso, em que nada é para já.


Choveu hoje

AJ

Toalha bordada 116×116cm

Pano bordado 71×80cm

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YOU MUST SEE


B A R A H O N A P O S S O LO BEHIND THE GREEN DOOR entrevista por Francisco Vaz Fernandes

Elemento Fogo (detalhe), 2020 Óleo sobre madeira 45×45cm

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YOU MUST SEE


Num antigo wc de Lisboa, BARAHONA POSSOLO expõe um conjunto de cinco pinturas de pequenas dimensões que remetem para cenas fetichistas homo‑eróticas. O artista encontrou nesse espaço exíguo, um conhecido local de encontros sexuais masculinos, várias vezes alvo de rusgas policiais durante a ditadura do Estado Novo. O local perfeito para evocar etapas vencidas que permitem que esta exposição se realize. Ainda assim, um certo secretismo em torno deste projeto remete-nos para repressão que persiste na sociedade contra a natureza dessas imagens de carácter sexual explícito. Ou seja, esta exposição traz a força de imagens que se produzem pela forma da liberdade de existir. Daí que “Behind the Green Door”, título da exposição que cita um famoso f ilme pornográf ico dos anos 1970, nas suas representações realistas dentro de uma certa tradição renascentista. Mais que chocar procure ser libertador de preconceitos

Expor num antigo wc público é de certa forma bizarro. De que forma o espaço condicionou a pintura exposta, ou se foi o inverso, o desejo de pegar nessa temática homo-erótica fez com que encontrasse o local? BP: Este espaço foi miraculosamente encontrado depois das pinturas terem começado a ser feitas. O carácter "transgressor" do tema colocava, à priori, um problema quanto à forma da apresentação, que parecia muito difícil de resolver. Ao surgir esta hipótese, esse "problema" tornou-se numa "vantagem" porque podia ser expandido e contextualizado de uma forma, neste caso, ideal do ponto de vista sociológico.

ter sido inaugurada no passado 25 de Abril mas a pandemia não o permitiu. Lembremo-nos que mesmo durante a revolução Galvão de Melo disse que o 25/4 não tinha sido feito para as p*tas e p*nel*iros. Muito mudou, mas muito permaneceu. Para tentar demonstrar essa "presença do Sagrado" fui buscar a simbólica dos 5 elementos alquímicos (largamente difundidos na iconografia artística) como essências tutelares, cuja chancela obrigaria, pelo menos, a repensar o preconceito. Os símbolos ocupam o centro gráfico das pinturas e são realçados a ouro, exatamente na mesma lógica.

Que referências trouxe para as suas pinturas? BP: O intuito inicial era o de revelar a presença do "Sagrado" num território tradicionalmente demonizado; tão demonizado que tudo nele era relegado para a ilegalidade, o silêncio e a vergonha. Procurei afrontar os preconceitos que justificaram tantas formas de violência, de que temos memória bem fresca com o que se passou no Estado Novo. Esta exposição deveria

Quais as referências que se juntam ao local de exposição? BP: O local reforça magistralmente a questão da violência histórica sobre as manifestações da sexualidade "não aceites". Obviamente que não pretendo trazer a obscenidade para as práticas sociais públicas quotidianas, mas recordar a normalidade de tantas formas variadas da sexualidade que são hipocritamente ocultadas ou mesmo criminalizadas. O Estado Novo, de que muitos já não se lembram (ou dizem não se lembrar) foi um inimigo feroz da Individualidade e do Livre Pensamento; muitas pessoas diferentes da miserável "norma" foram torturadas e mortas, se não pelo Estado, foram‑no pelos agressores impunes que tomaram nas suas mãos essa "Jihad" fascista. Agora, são as formas de negacionismo que podem permitir que se repitam atrocidades monstruosas. Essas forças não morrem: infelizmente, também fazem parte da natureza humana. A Liberdade é algo por que se tem que lutar diariamente. Se começamos a abdicar dela, alguém imediatamente se vai aproveitar disso.

Elemento Terra (detalhe), 2020 Óleo sobre madeira 45×45cm

Behind the green door Exposição Barahona Possolo wc Duque de Loulé, junto ao Hotel D.Carlos Park Lisboa Entrada reservada a maiores de 18 anos. Contém imagens eventualmente chocantes marcações aqui→ greendoorbarahona.eventbrite.com 21

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Elemento Ar, 2020

Óleo sobre madeira 45×45cm

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Em que medida a memória queer da sua cidade importa ser relembrada. Para além desta acção em que outras se encontrou envolvido? BP: A memória queer de Lisboa deve ser mesmo investigada, para poder ser preservada. Só isso constituirá profilaxia social para evitar a repressão futura. O que não está à vista para muitos, não existe. Exatamente devido às décadas de fascismo (que obviamente dá continuidade a milénios de dogmas), essas histórias e marcas estão, na minha opinião, desvanecidas e há muita investigação para fazer. Temos a memória curta (leia-se cobarde). Neste âmbito já fiz algumas intervenções, como seja a exposição All You Can Eat (em 2013), ou a participação numa megainstalação "Back to the closet" no QueerLisboa em 2003. Muitos passos se deram para a cultura queer ter alguma visibilidade. Antevê que em Portugal a sua exposição possa colocar problemas? BP: Teremos que aguardar e ver o que se vai, efetivamente, passar. Não quero subestimar o civismo e a consciência social do público mas creio que possa causar grave incómodo a alguns. Acredita que há uma Arte Queer, como às vezes se procura categorizar? Considera-se englobado? BP: Sem conseguir definir exactamente as fronteiras da Arte Queer, acredito que sim, existe. As fronteiras são flutuantes porque o próprio conceito de Queer implica que há sempre alguém que, da forma mais "estranha" e inusitada vem trazer a sua marca e ampliar o espectro, revelando, por reação, espartilhos normativos que passavam despercebidos. Sinto‑me englobado desde o primeiro momento. Quando comecei a pintar escolhi um género figurativo simbólico de feição naturalista, que era completamente rejeitado pela crítica e pelo mainstream que se 23

Elemento Espírito (detalhe), 2020 Óleo sobre madeira 45×45cm

acha "vanguarda". Ainda é, mas tentam disfarçar de vez em quando, para não serem acusados de autoritarismo. Como foi o processo de construção das suas pinturas? BP: Nas intenções deste trabalho estava incluída a questão da "naturalidade", isto é, a forma única e específica que cada um de nós tem. Todos somos diferentes na nossa unicidade mas somos todos iguais, como legítimas "aventuras individuais" de Humanidade. Por isto, a forma própria de cada um deveria estar perfeitamente presente. Estas pessoas existem; cada uma delas tem um valor inestimável e sem cada uma delas teria sido impossível realizar estas pinturas. Aliás, eu acredito que cada um de nós seja indispensável para completar a obra de arte colossal que não conseguimos apreender, porque padecemos de uma escala ínfima. A questão da Veracidade (quando a pintura é sempre ilusão) explica a escolha dos instantâneos, em que o flash da câmara YOU MUST SEE

lança sombras cruas que recortam as figuras contra o fundo. E nisto somos surpreendidos como espectadores. Em que medida a cultura clássica é a referência da sua pintura. Que outras? BP: A cultura clássica que é largamente a matriz da nossa civilização ocidental (apesar do Cristianismo), é o eterno fornecedor de conteúdos e formas. Sou completamente rendido a este universo, que é completado por um interesse muito forte pela Antiguidade Egípcia (presente no Classicismo Mediterrânico mas de forma descaracterizada), e de visitas a ideias e temas orientais, especialmente do Budismo. Sei que entretanto este antigo wc está em processo de requalificação, que destino futuro está programado para o espaço? BP: A Freguesia de Santo António pretende que seja um novo espaço expositivo. Embora pequeno em área, a sua localização é privilegiada. Espero que seja procurado por artistas de todos os géneros e idades.


MAARTEN DE CEULAER HALO

A coleção mais recente de MAARTEN DE CEULAER, HALO, compreende um conjunto de candeeiros, em meia lua, de vidro, que, pelas características apresentadas, evocam algo mais do que uma mera função de iluminar um lugar. Contêm um elevado potencial poético. Aludem à fluidez da luz, à sua transitoriedade. Tomam partido dela. Os candeeiros HALO, são suportados por finas estruturas em alumínio ou latão, que, pelo seu delicado brilho dourado, contrastam com a placa vitrica, e com a sua realidade transparente, quase neutra. A invisibilidade do meio círculo em vidro é desmentida pelo contorno de luz curva que se aloja na extremidade. A luz viaja, invisível, e muda, pela placa de vidro, até se deter no limite da sua forma redonda, que, entretanto, obteve um tratamento a jacto de areia. O meio círculo translúcido desenha, assim, um arco de luz. Pela forma, assemelha-se a uma aura brilhante a flutuar no espaço. O nome HALO deriva dessa forma que se expande no ar, e que, quando fulge, nos faz recordar os astros, como a lua, ou o sol, ou nos faz pensar na aura dos anjos e das figuras sagradas. HALO é um candeeiro que desperta o nosso mais profundo desejo contemplativo, e nos faz lembrar a poética da luz. Terá MAARTEN DE CEULAER desejado homenagear o grande designer e senhor INGO MAURER? Pelo menos, se assim o não desejou, fez por evocar a história do design, por meio da lembrança de outros designers, bem como evidenciar a importância da ligação do design ao passado, e aos seus grandes mestres. BAUDRILLARD terá dito do vidro que o mesmo é um “milagre de flúido fixo”, um “grau zero da matéria”, ou ainda um símbolo de “congelamento de abstração”. Mas mais importante fez menção à sua propriedade isolante, profilática, de mundo que existe do outro lado, que se olha, mas do qual não se pode ter acesso. Os candeeiros HALO, de CEULAER, enfatizam assim essa ambivalência. Segundo BAUDRILLARD o vidro permite, simultaneamente, uma “proximidade e uma distância”, uma “intimidade e uma recusa de intimidade”, uma ”comunicação e uma não comunicação”, “uma transparência sem transição”. Um poder ver mas não poder tocar, que nos aproxima do ato contemplativo e mágico, e nos traz a lume os longínquos gabinetes de curiosidades do século XVII, pejados de desejos do saber da ciência.

texto por Carla Carbone

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P O E S I A O U R E P R E S E N TAÇÃO SÓNIA BA L AC Ó

S Ó N I A BA L AC Ó é uma multifacetada atriz e poeta. Aos 15 anos, aventurou-se na representação. E aos 31, lançou “Constelação”, o seu primeiro livro de poesia. Hoje, aos 36, divide-se entre o teatro, o cinema e a televisão, sem nunca esquecer a paixão pela escrita. À PARQ, S Ó N I A BA L AC Ó fala, na primeira pessoa, sobre o percurso profissional e os projetos que mais a marcaram.

entrevista por Liliana Pedro

O que é que apareceu em primeiro lugar: a poesia ou a representação? SB: Apareceram as duas na infância, contudo a poesia era aquela a que me dedicava mais, a que tomava conta dos meus tempos livres, a que me acompanhava para todo o lado. O teatro só entrou mais a sério na minha vida aos 12 anos, ainda que fizesse pequenos espectáculos para a família antes disso. Entre a representação e a poesia, como é que se consegue gerir as duas carreiras? SB: A representação continua a ser o meu maior foco e a minha profissão, aquela onde se poderá dizer que tenho de facto uma carreira. A poesia vai acontecendo nas margens e nos tempos livres, ainda que não com menos seriedade. Enquanto poeta, como é que descreves a tua escrita e estilo? SB: Interessa-me trabalhar sobre a concisão e acredito que o poema é um acontecimento antes da palavra, um encontro com o invisível que tento agarrar com a caneta.

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fotografia JOANNA CORREIA

@joannacorreia_

make-up+hair TOM PERDIGÃO

@tomperdigao

produção JOANA CAVACO (Hit)

@joanacavaco

look LACOSTE

Na representação, já fizeste um pouco de tudo. Da televisão ao cinema, qual é que foi o projeto que mais te marcou? SB: É impossível escolher um. "O Último a Sair" foi uma experiência única pelas suas características inovadoras e um momento de viragem na minha carreira. A longa‑metragem brasileira que estou a rodar agora e que se chama "Amo-te Imenso" está a ser revolucionária para mim em termos do processo, da preparação e também porque faço de uma francesa e estou a adorar todo o trabalho de sotaque. Depois há muitos projectos que guardo com carinho, como "Os Filhos do Rock", a curta do G A B R I E L A B R A N T ES "Freud und Friends", ou a novela "Água de Mar", entre muitos outros. Qual a relação entre a representação com a poesia? SB: Em mim ambas vêm de uma necessidade de dar expressão ao drama interno.

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Depois do sucesso do álbum Norman Fucking Rockwell, que foi indicado

LANA DEL REY VIOLE T BENT BACK WARDS OV E R THE G R AS S

para “Álbum do Ano” nos Grammy Awards, a cantora norte-americana L A N A D E L R E Y lança-se no mundo da poesia com o seu novo livro Violet Bent Backwards Over The Grass. Desde cedo que L A N A D E L R E Y mantém um grande laço com a poesia, estando esta presente em várias das suas músicas. Em Ride, música que conta com mais de 116 milhões de visualizações, a artista introduz a canção com um monólogo que foi alvo de grande sucesso. Espera-se que estes novos poemas sejam sinónimos daquilo que L A N A D E L R E Y é, sente e acredita. A artista conta que os poemas “são ecléticos e honestos e não tentam ser outra coisa senão isso e é por isso que tenho orgulho nestes poemas, especialmente porque o espírito com que foram escritos era muito autêntico”.

texto por Sara Pereira

A cantora confessa numa publicação no seu Instragam que as vendas do livro irão reverter para causas que defende, neste caso para a Navajo Water Project que leva água potável para as famílias no Novo México, Utah e Arizona. A versão audiobook já se encontra disponível, é um formato mais pequeno com 14 poemas onde os poemas são interpretados por L A N A D E L R E Y acompanhada da música do produtor e compositor JAC K A N TO N O F F. Fisicamente, o livro que conta com cerca de 30 poemas estará à venda a partir de 29 de setembro.

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DI SCOS

Os portugueses B E NJA M I M quebraram o jejum no dia 25 de setembro com a edição de Vias de Extinção, que reúne, segundo a banda, canções diretas e pessoais. O manto instrumental torna tudo mais ambíguo. O excesso, a diversão, a solidão, a procura de um sentido para a vida e o receio da mortalidade.

texto por Carlos Alberto Oliveira

O outono já se sente, apesar do calor ainda habitar a memória do nosso corpo. Enunciam-se 8 discos para descobrir e apreciar no conforto do lar ou com headphones, num banco de jardim, rodeados pelas cores únicas desta época.

No próximo mês, a 9 de outubro, a banda de Baltimore F U T U R E I S L A N D S edita o seu novo disco As Long As You Are. Os singles que a banda já lançou deste álbum aguçam os sentidos com canções açucaradas e orelhudas. Da Finlândia, os pujantes indie‑rockers T H E H O LY regressam aos discos, levantando já um pouco o véu com o single "The Rocket Song". O novo registo de originais Mono Freedom será lançado a 2 de outubro pela Playground Music. A banda de noise rock/post‑hardcore de Toronto M E T Z têm um novo álbum a caminho Atlas Vending, que chegará este outono dia 9 de outubro, pela editora Sub Pop. A faixa de abertura do próximo disco dos G O R I L L A Z Song Machine: Season One—Strange Timez, tem como convidado RO B E R T S M I T H dos T H E CU R E e chama-se “Strange Timez”. O disco sai a 23 de outubro e conta ainda com as colaborações de S T. V I C E N T, P E T E R H O O K , G EO RG I A , S LOW T H A I , S L AV ES , entre outros. O novo álbum dos ACT R ES S Karma & Desire será lançado a 23 de

outubro pela Ninja Tune. A avaliar pelo single "Walking Flames (feat. Sampha)", esperam-se incursões por atmosferas eletrónicas, que a banda já provou explorar exemplarmente.

Os australianos T H E AVA L A N C H ES demoraram 16 anos a editar o sucessor do seu aclamado álbum de estreia Since I Left You. Felizmente, desta vez, o sucessor dista apenas 4 anos de W I L D F LOW E R . No dia 11 de dezembro o novíssimo We Will Always Love You chegará às lojas.

The Last Exit é o disco que marca

o regresso dos S T I L L C O R N E R S às edições e tem data marcada para janeiro de 2021, com o selo da sua própria editora Wrecking Light label. O tema titulo já foi apresentado como single, mantendo as incursões por ambientes etéreos e vocalizações melancolicamente ternas.

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LABEL OMNICHORD RECORDS texto por Jéssica Lima

↑ Whales © Telmo Soares

A Editora surgiu da partilha de ideias entre H U G O F E R R E I R A e J OÃO S A N TO S . O sonho de um era “ impulsionar um movimento local, inspirado em projetos musicais existentes na Islândia e Manchester”, e o do outro “ter um estúdio e material para gravar”. H U G O F E R R E I R A , um dos impulsionadores do projeto, esclarece que a O M N I C H O R D R EC O R D S passa por “criar um ecossistema à volta da música e capacitá-lo para que os artistas possam viver do seu trabalho no sector cultural”. A editora e cooperativa contrata artistas desde o rock à eletrónica, passando pelo piano clássico. O objetivo é estimular a diversidade e criatividade e nesse sentido H U G O explica —“não somos muito focados num ou noutro género musical, nem noutro domínio artístico, o que gostamos mesmo é de explorar novas fronteiras e colaborações”. O talento local é a aposta da editora, como se de uma família se tratasse. Existem duas “exceções” até ao momento, a L A BAQ, que “decidiu mudar-se de São Paulo, Brasil, para Leiria”, momento em que começou a trabalhar com a O M N I C H O R D R EC O R D S ; e o músico J OÃO CA B R I TA que se juntou à equipa “pelo baterista da sua formação também fazer parte da familia O M N I C H O R D ”.

↑ Surma © Hugo Domingues 30

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No início da O M N I C H O R D, H U G O e J OÃO revelam que escreveram: “vamos editar o que gostamos, se é para investirmos vamos lançar a música que gostávamos de comprar para oferecer aos nossos amigos”. Atualmente asseguram a plena confiança e admiração que têm por todos os nomes que editam, e que elevar a música destes artistas continua a ser a principal motivação. Este ano verificou-se um declínio em vários sectores, mas a O M N I C H O R D R EC O R D S aumentou, exponencialmente, o número de pessoas a contrato, H U G O afirma que isto se deve ao facto de “muitos dos ativos se terem capacitado e multifacetado”. Acredita que a estabilidade laborar é essencial, sendo que há um ano tinha duas pessoas com vínculo laboral e agora são oito.

↓ First Breath After Coma © Casota Collective

O criador explica que não necessitou de recorrer ao Lay Off sendo que a editora nunca parou de trabalhar. Sendo “uma associação sem fins lucrativos”, não foi possivel candidatar-se a programas de apoio que são apenas vocacionados para empresas. A editora ultrapassou o período da pandemia sem poder imputar valores de salários em programas de emergência, ou apoios que são desenhados para associações, trabalhadores independentes ou autarquias.

Em 2011, quando se estrearam no ramo iniciaram um projeto com a banda N I C E W E AT H E R F O R D U C KS , a primeira banda de miúdos que gravou nesse ano. Desde essa altura que os projetos foram aumentando e surgiram projetos educativos com o objetivo de encontrar novos talentos. A procura era realizada em escolas de Leiria, H U G O F E R R E I R A conta que “nos três anos seguintes fizeram sair projetos como: “F I R S T B R E AT H A F T E R C O M A , S U R M A e W H A L ES ”. Ao mesmo tempo nomes como o pianista autodidacta A N D R É BA R RO S (que estagiou no estúdio dos S I G U R RÓ S) e os míticos B O R N A L I O N juntaram-se ao movimento, trazendo para a mesa novos projetos como L ES C R A Z Y COCONUTS, FEW FINGERS, BÚSSOL A. Ao longo de oito anos, a editora lançou 43 edições e realizou concertos por 20 países da Europa, América e Ásia. Vencedora do prémio “FIVEUNDERFIFTEEN” em 2017, como uma das 15 editoras europeias mais inspiradoras com menos de 15 anos pela IMPALA (Associação Europeia de Editoras Independentes). Em 2018, os discos “Drifter” dos F I R S T B R E AT H A F T E R C O M A e “Antwerpen” de S U R M A foram nomeados para melhores discos europeus do ano, ao lado de nomes internacionais como R A D I O H E A D, T H E X X , AG N ES O B E L , etc. No futuro, a O M N I C H O R D R EC O R D S promete “continuar a gravar, a editar e a explorar mais colaborações e áreas artísticas”, e criar cada vez mais projetos educativos e comunitários. A O M N I C H O R D R EC O R D S prima pela autenticidade de cada um dos projetos no qual se envolve, tendo em conta o constante desafio e exploração de fórmulas, métodos, formatos e meios de atuação.

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M O DA S U S T E N TÁV E L BUZINA texto por Daniel Bento

Em cada coordenado, uma mulher. Em cada mulher, uma história. B U Z I N A nasceu em 2016, através de V E R A F E R N A N D ES , com a missão de celebrar a pluralidade identitária inerente à figura feminina. A premissa passa pela tentativa de que cada peça, o mais personalizada possível, faça parte da história pessoal de quem a veste. Aproveitando os excedentes de coleções anteriores, a marca prima pela sustentabilidade e pela irreverência que nasce da reinterpretação de tecidos em novas peças que possam ser únicas e 32

versáteis. É revelada, no trabalho de V E R A F E R N A N D ES , a multiplicidade de caminhos que a moda permite seguir independentemente de quaisquer imposições redutoras daquilo que a moda —e cada mulher— pode ser. As propostas de B U Z I N A conferem uma passagem de acesso à moda que faz sonhar e que relembra que a roupa pode ser, em simultâneo, uma fantasia e uma realidade. Cria-se peças para mulheres reais, mas com a capacidade de sonhar para além do mundano. O estilo oversized e as mangas em balão. As silhuetas volumosas e YOU MUST WEAR

o romantismo desmesurado. Em cada coleção, os tecidos ganham vida e, evidenciado uma extrema sensibilidade artística, dão também vida a cada pessoa que veste B U Z I N A . Fugindo de regras e padrões, B U Z I N A certifica-se que, mais do que um pedaço de tecido ou uma simples peça de roupa, as clientes revestem‑se de uma atitude empoderadora e a roupa torna-se uma armadura para o dia a dia de mulheres autênticas. A moda pode ser uma segunda pele. E não há nada mais importante do que nos sentirmos bem na nossa própria pele.


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CATA R I N A O L I V E I R A 42 50

Após várias apresentações de roupa masculina na Moda Lisboa, CATA R I N A O L I V E I R A ressurge com uma inspiradora e libertadora abordagem à moda feminina, a linha 42 50 . Como o nome faz antever, é desenhada para as mulheres que não se inserem na rigidez dos tamanhos standard. Através de uma escala superior, utiliza cortes, aberturas, sobreposições e folhos que fazem sobressair a beleza de cada uma de uma forma lisonjeira. Os tecidos são misturas de algodão, viscose e elastano para uma boa adaptação a cada cliente, estas matérias‑primas bem como a sua confeção são produto nacional, numa lógica de economia circular. Com uma paleta leve de pastéis e neutros, esta mostra adequa-se a meia estação, sendo bastante versátil, e tem um design atemporal que a torna ideal para qualquer ocasião. Esta é uma linha pensada para valorizar a mulher e as suas formas, dar-lhe confiança e atitude num mundo que se quer cada vez mais plural e inclusivo. Encomendem a peça preferida e acompanhem a marca em

texto por Luís Sereno fotos por Susana Rodrigues e Susana Domingues

www.catarinaoliveira.pt

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L I F E C OAC H I SABEL CON DE entrevista por Patrícia César Vicente fotos por Sara de Jesus Bento styling por Patrícia César Vicente

I S A B E L C O N D E é Life Coach e já transformou a vida de mais de vinte mil pessoas. Com um programa criado por si e adaptado a qualquer pessoa. Depois de muito ouvir falar da I S A B E L , o passo seguinte foi conhecê-la e entrevistá-la para a Parq Magazine. Com direito a perguntas dif íceis mas tão necessárias para este tema. Como começaste o teu percurso? IC: O meu percurso começou em 2012. Eu não tinha muita autoestima, era muito insegura, não gostava muito do meu corpo, era gordinha. Passei por bullying na escola e essas coisas todas juntas f izeram com que em 2012 quisesse mudar. Via capas de revista com mulheres esculturais e perguntava‑me como é que era possível terem aquele corpo. Qual é que era o segredo? O que é que elas faziam, ou tomavam? Foi então que comecei a investigar, a pesquisar e comecei a perceber que era através de uma alimentação, um treino adaptado, através de alguma suplementação, e comecei a aplicar a mim mesma. Tive resultados e comecei a perceber que era por ali o caminho. Transformei o meu corpo. Decidi partilhar os meus resultados, criei o meu instagram em 36

2012 também. Mostrava as minhas refeições, a evolução do meu corpo e as pessoas começaram a questionar-me. E foi a partir daí que comecei a transformar também o corpo de outras pessoas. Mas quando comecei não fazia ideia da dimensão que ia tomar. Desde então, que f iz vários cursos, pós-graduações e comecei a trabalhar a sério, digamos assim, até hoje. Onde já tenho uma equipa médica a trabalhar comigo. Desde sempre que te sentiste motivada a transformar a vida das pessoas, como conseguiste transformar a tua? IC: Percebi que isso me trazia uma enorme realização. Quando comecei a ajudar as primeiras pessoas, recebi mensagens a agradecer e via que estavam felizes. Recebi mensagens, vídeos, testemunhos da felicidade das pessoas. E percebi que essa era a minha missão. Acho que todos nós temos uma missão e eu percebi que essa era a minha. Se tivermos um corpo com o qual nos sentimos conf iantes é meio caminho para termos sucesso noutras áreas da nossa vida. Seja ele como for, desde que as pessoas se sintam conf iantes isso é que importa. O que é que acontece quando recebes alguém numa primeira consulta? IC: A primeira coisa a fazer é perceber o tipo de pessoa que nós temos à nossa frente. Que motivações tem, que bloqueios tem, que gostos tem, que tipo de vida tem. É conhecê-la. É perceber por onde começar com aquela pessoa. Todos somos diferentes e cada pessoa tem um tipo de abordagem. Depois sim, entramos com a parte do treino, da alimentação mais funcional integrativa, um treino personalizado, suplementação YOU MUST LIVE

totalmente personalizada. Mas a primeira coisa é sem dúvida, perceber quem é a pessoa que tenho à minha frente. A parte do sistema nervoso, emocional, como é que está tudo a funcionar na vida da pessoa. Qual o segredo para teres tanto sucesso? IC: Eu f ico feliz com essa pergunta. O sucesso é a partir do primeiro dia em que tu acertas no teu caminho. Quando começas a ter o teu primeiro caso de sucesso é aí que começa o teu sucesso. A medição do sucesso gera alguma ansiedade. É muito importante perceber que se olharmos para o nosso caminho, provavelmente já tivemos sucesso. As pessoas podem é querer ir mais longe. PCV: Manténs uma relação de proximidade com os teus clientes, acreditas que isso é a melhor forma de motivação? IC: Tenho muitos clientes presenciais, mas a maioria são online. Tenho muitos clientes que não vivem em Portugal, por exemplo. É dif ícil manter proximidade com tantas pessoas, mas tento sempre ser o mais próxima possível, tudo passa por mim. Independentemente de haver uma equipa e termos pessoas específ icas para cada área tudo passa por mim.

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Sugeres um estilo de vida saudável, mas se te acompanharmos percebemos que não é apenas um estilo de vida porque parece bem ou apenas associado à imagem, mas sim, é de quem se preocupa realmente com as pessoas. Estudaste psicologia e certamente ouves atentamente os teus clientes. O que ouves é, mais ou menos, preocupante do que o aspecto f ísico com que os conheces na primeira consulta? IC: O estado emocional, sem qualquer dúvida. É exactamente aquilo que a tua mente pensa e a tua mente vê que te torna na pessoa que tu és. Portanto, para mim é muito importante mexer com a mente das pessoas, por isso faço também o trabalho de mental coaching. Tento fazê-las entender que nem tudo são fraquezas, são bloqueios. É medo, ilusão. Há pessoas que têm problemas e há outras que não têm problemas, criam bloqueios. Ninguém consegue manter um estilo de vida com o qual não se identif ica durante muito tempo. Ainda há pessoas que acreditam que se toma um comprimido mágico que muda tudo, mas não. Aqui é feito um trabalho para tornar as pessoas mais felizes. Eu sou coach e o meu objectivo é trabalhar as pessoas de forma a que elas sejam umas máquinas na sua própria vida, trabalho a parte da saúde em geral e é isso que causa impacto. Pessoas com problemas de sono, com problemas hormonais, crises de ansiedade, ataques de pânico e aqui tratamos as pessoas. Há uma equipa para isso. Vivemos numa época em que acedemos às redes sociais e a imagem é extremamente valorizada. Há cada vez mais pessoas que se operam com dezoito anos, que começam a usar botox aos vinte anos porque querem ter uma imagem igual à dos f iltros de instagram, por exemplo. Por outro lado, há cada vez mais modelos plus size, há tipos de beleza mais diversif icados que 38

são valorizados. Qual a tua opinião relativamente à imagem, seja ela de tentativa de perfeição ou aceitação de corpos habitualmente considerados fora de padrão? IC: Eu sempre defendi que se a pessoa não se aceita é porque não está feliz na sua pele e deve trabalhar nisso. Mas os padrões de beleza são coisas ilusórias. Não existe um padrão de beleza por mais que se tente criar um, nós somos umas marionetes dos media e de três ou quatro f iguras internacionais, e achamos que temos de ser como elas. Mas não. Tem de haver uma aceitação quando a pessoa tem saúde, quando a pessoa verdadeiramente e internamente se aceita. Mas a perfeição não existe, é importante encontrar um equilíbrio. De que forma é que as pessoas chegam até ti? Amigos de amigos, redes sociais… IC: Através das redes sociais, as recomendações, de médicos, de pessoas que já trabalharam comigo. Não tenho só um ponto de tracção. Qual é o erro mais comum na alimentação dos portugueses? IC: A falta de água, de ingestão de líquidos. Muitas pessoas esquecem-se de beber água e a água é a base de tudo. Tens um programa completo de consultas de alimentação, ginásio e refeições. Quanto tempo é necessário em média para atingir os objectivos individuais? IC: Com o nosso programa as pessoas têm resultados de semana a semana, o truque é só mesmo personalizar o programa. Somos nós que nos ajustamos à pessoa e não são as pessoas que se ajustam ao programa, porque se assim for as coisas não correm bem. Eu não vou conseguir manter uma pessoa focada com coisas que não gosta de comer, com actividade f ísica que não vai fazer YOU MUST LIVE

e a ter comportamentos que não são seus. Temos de perceber a vida social, prof issional, os gostos, se está à vontade para treinar num ginásio, intolerâncias alimentares, condicionantes e portanto, todas as semanas as pessoas têm resultados. E isso é muito motivador para as pessoas. A reeducação alimentar funciona de forma efectiva e ef icaz? Ou seja, a longo prazo? Pergunto isto, porque haverão pessoas que vão ler esta entrevista e vão pensar que no dia em que deixarem de ir a consultas e seguir o programa, que vão aumentar de peso drasticamente. Seguindo aquela ideia de que os quilos são vingativos. Quando perdemos quilos e se eles voltam, trazem amigos… IC: Nós traçamos um plano e essa reeducação f ica. Porque se não f icar é a mesma coisa que ter sempre o mesmo comportamento, e se não o alterar vou ter sempre os mesmos resultados. É a mesma coisa com a reeducação alimentar. Se a pessoa voltar aos mesmos comportamentos que tinha antes da sua reeducação alimentar não vai conseguir manter o peso. A pessoa até pode voltar a ter alguns comportamentos antigos, mas tem de ser mais consistente com a sua reeducação alimentar, do que nos comportamentos que tinha. Não se podem esperar resultados diferentes de comportamentos iguais.

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Perante todos os casos que conheces diariamente, geralmente qual é tipo de caso que mais te preocupa? IC: O que mais me preocupa é a pessoa depressiva. Porque a depressão é uma doença bastante grave. Recebo algumas pessoas depressivas e 95% das pessoas que recebo têm problemas de ansiedade. Isto diz muito sobre a sociedade actual. Estás constantemente a inovar, tens mais de duzentos mil seguidores no instagram. Tens aperfeiçoado os teus programas de acordo com a exigência dos tempos. Qual é o teu próximo projecto? IC: O próximo projecto é um livro que ajude as pessoas, com programas e também com receitas. Era para ter acontecido já em 2020, mas com tudo o que aconteceu este anos provavelmente só sairá em 2021.

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BELEZA CO N T E M P O R A RY M A K E - UP texto por Eduardo Estevam

O que é a maquilhagem contemporânea? Não é nada mais, nada menos do que uma maquilhagem actual. Uma maquilhagem que nasce e é utilizada no presente de cada um. Este seria um conceito fácil se não fosse o nosso presente tão complexo onde cada indivíduo tem uma opinião e personalidade única. Vivemos numa época da voz e da expressão onde a liberdade e opinião pessoal cresceu e é ouvida porque com as redes sociais, todas nós temos uma audiência. As redes digitais são autênticos mood boards com inspirações de moda e tendências de maquilhagem. Aliás, podemos fazer da maquilhagem uma analogia, como a arte e o design. Na teoria a maquilhagem é uma tecnologia funcional e necessária que vai auxiliar e melhorar alguns pontos na imagem de uma pessoa; desde corrigir tons de pele, atenuar imperfeições, colocar os lábios simétricos e equilibrar os olhos. Para este efeito os maquilhadores têm de recorrer a técnicas de correção de cor através de cores complementares. O mais bonito da maquilhagem é quando foge deste princípio quase que "cientifico" e chegamos à arte, onde através de cores e texturas criamos linguagens gráficas que harmonizam o nosso rosto e exprimem os nossos sentimentos. E assim chegamos à maquilhagem contemporânea! Neste mundo tão confuso, a liberdade de expressão expandiu-se e deu à maquilhagem um novo estatuto. Uma nova Era! D O N I E L L A DAV Y nomeada recentemente para o EMMY de melhor contemporary makeup com a serie Euphoria da HBO, deu vida a dezenas de maquilhagens que inspiraram este movimento e esta nova era no mundo da maquilhagem. D O N N Y é uma das influências desta fase da maquilhagem! O que é a maquilhagem contemporânea ? A maquilhagem contemporânea é uma lustração e extensão da liberdade de expressão, política, social e emocional através de cores, texturas e formas. Este estilo foge completamente às regras e leva-nos e pensar fora da caixa e criar os looks mais sensíveis, marcantes e impensáveis.

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BELEZA HOM M E texto por Eduardo Estevam

DIOR SAUVAGE Os ingredientes naturais, selecionados com extrema exigência, são usados em sobredosagem. A aderência é radiante graças à suculenta frescura da bergamota Reggio da Calábria Sauvage é um ato de criação inspirado nos grandes espaços. Um céu azul ozono que domina um deserto mineral incandescente.

PACO RABANNE 1 MILLION

Paco Rabanne 1 Million é um aroma para os vencedores com uma elevada auto-confiança. CALVIN KLEIN ONE Num mercado tão competitivo, One, é um dos perfumes uni-sexo de aroma cítrico que se mantém no top 10 desde que foi lançado em 1994.

FOREO LUNA 3 FOREO apresenta, LUNA 3 for Men: O mais completo dispositivo para a pele masculina. Porque os homens também merecem a melhor tecnologia para cuidados de rosto. Dois cuidados de rosto, um só dispositivo: Limpeza e massagem.

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O AMOR E OS DEMÓNIOS

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S TE

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Num período extremamente difícil em que globalmente o homem vive, The Ascension , SUFJAN STEVENS faz uma reflexão sobre a esperança e o desalento. Depois do magnífico Carrie & Lowell, a extraordinária incursão pelo luto da sua mãe, conduz-nos ao novo álbum no qual o artista apresenta 15 novas canções que cruzam drumbeats e sintetizadores distorcidos numa introspeção, e um apelo a sermos melhores pessoas, num mundo que parece desfazer-se à nossa volta. Apesar de estar pronto desde dezembro de 2019, o novo registo de originais encaixa que nem uma luva no caos que se tornou o ano 2020, com as suas preocupações com a tecnologia, a política americana e o que o futuro reservará para a humanidade, acentuado por este período pandémico.

The Ascension apresenta, como tem vindo as ser

habitual, letras que expressam as suas fragilidades e as suas referências culturais, recorrendo a citações que vão desde o mito Gilgamesh à saga cinematográfica de Star Wars. Mas o artista explora, também, uma sonoridade diferente, recorrendo à tecnologia que reproduz a bateria e outros elementos eletrónicos. Para os momentos mais intimistas, SUFJAN STEVENS inspira-se nos icons pop dos anos 80, como o GEORGE MICHAEL e SADE.

O recurso a sintetizadores foge à nostalgia dos anos 80 no estranho “Ativan” e no tema “Ursa Major”, muito graças ao input maquinal a piscar o olho aos FRONT 242. Num extremo oposto, é notável o recurso da escola dos musicais em “Gilgamesh ”. As duas músicas que encerram o disco revelam a contraditória relação que o artista tem com a fé. “America” revela o seu desalento ao reconhecer que a sua América incursa num fascismo, que usa Deus como desculpa para as suas práticas. A faixa título, na sua espiritualidade errante, retrata, por sua vez, a complexa e enigmática busca pelo sentido da vida.

The Ascension marca definitivamente a sua nova

forma se apresentar ao mundo. Se anteriormente a sua fragilidade era contida e confinada a um espetro mais politicamente correto, neste disco expressa-se de uma forma mais confiante, sem perder a sua sensibilidade, como se finalmente pudesse revelar integralmente a sua verdade.

A faixa de abertura “Make me an offer i cannot refuse” constrói ambientes que evocam o disco Vespertine de BJÖRK, com beats melódicos apoteóticos. Igualmente, “Video Games”, numa manta de retalhos de sintetizadores, evocando o disco Construction time again dos DEPECHE MODE, o artista rejeita a fé religiosa em favor da sua auto preservação. O poderoso “Death Star” cruza o electrofunk com a Pop, numa agradável aproximação de Rhythm Nation, de JANET JACKSON “Goodbye to all that ” encaixa-se perfeitamente na escola dos HUMAN LEAGUE. A sua voz em “Run away with me”, manifestamente fora do seu tom habitual, assenta perfeitamente nesta atmosfera etérea. “S ugar”, “Die Happy” e o tema título apresentam-se provavelmente como os impressionantes temas do artista, artilhados com uma extraordinária capacidade de composição dos elementos eletrónicos, como se de um filme de ficção cientifica se tratasse.

“ Tell me you love me”, reencontra paisagens usadas nos seus discos de inicio de carreira, enquanto

“Lamentations” pretende conjugar elementos épicos

e íntimos, extravasando as suas próprias fronteiras. Já “ Landslide” desarma agradavelmente com o recurso a instrumentos analógicos, saindo um pouco da esfera tecnológica do disco.

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texto por Carlos Alberto Oliveira


B-SIDE

entrevista por Carlos Alberto Oliveira

DAVID FONSEC

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Não estava nos seus planos editar uma retrospetiva da sua carreia numa coletânea de canções. Contudo, a Pandemia em que vivemos ditou o mote e, ao invés de uma reunião de êxitos, deu corpo a músicas dispersas e perdidas. DAVID FONSECA falou com a PARQ sobre o seu mais recente disco Lost and Found — B sides and Rarieties, numa conversa informal que deambulou entre as suas motivações, o seu gosto pela escrita, a fotografia and beyond.

Lançava-lhe o desafio de explicar melhor as canções do seu novo disco, no sentido de como é que foi perder-se e encontrar canções no processo criativo. DAVID: Penso que todas as canções são diferentes, todos os processos foram diferentes, mas há uma ligação na medida em que partem de imagens, de situações que são retratáveis na minha cabeça, onde imperam mais os ambientes em que se movem do que propriamente as sensações. O que distingue este disco do que normalmente faço é que este tem as canções que ficaram fora desses outros discos. E a razão prende-se com o facto de serem canções muito bicudas, ou porque são baladas, e eu já tenho quatro baladas no disco, e não vale a pena ter uma quinta, ou, sobretudo porque não têm muito a ver com as outras canções do disco. 63

Apesar de não ser um Best Of, é uma retrospetiva, e é também muito influenciada pelos tempos em que vivemos, sobretudo por normalmente não se poder dar ao luxo de parar para pensar e refletir, como já referiu em outras entrevistas. Contudo, não deixa de ser curioso ter optado por lados B e não pelos singles de sucesso, que chegariam ao grande público de forma mais imediata. DAVID: Verdade. Já tive muitas oportunidades de fazê-lo antes da pandemia. Esteve de fato muitas vezes em cima mesa, não por mim mas pela minha editora. Quando fiz 20 anos de carreira e comemorámos no Coliseu, surgiu essa hipótese novamente. Na realidade sinto que tenho muitas coisas para fazer. A ideia de parar durante dois anos e só falar de material de há dez ou quinze anos é uma coisa que não motiva. Esta reunião de temas teve interesse para mim porque sabia que a maioria do público nunca os tinha ouvido. São temas nos quais tenho muito orgulho, mas que estavam debaixo de um pano. Portanto, isto está mais perto de um best of, de uma retrospetiva do que já fiz na minha vida. Podemos avançar agora para discos novos. Portanto as retrospetivas significam para si uma paragem. DAVID: Penso que as retrospetivas são boas quando uma pessoa já não tiver vontade de fazer outra coisa. Mas na realidade fazer música é a melhor parte deste processo todo. Na realidade promover discos é divertido mas não é tão divertido como fazê-los. Eu lembro sempre de uma história, quando há uns anos me cruzei com um outro músico e ele desabafa dizendo que finalmente acabara, que agora é que podia relaxar. Penso que é exatamente ao contrário, porque para mim esta parte é a mais espetacular de todas. Porque estás a gravar as tuas canções, com os teus instrumentos, estás com as pessoas que tu gostas, com os teus músicos, é muito divertido. O pior vem depois. Depois é que não podes relaxar. Começa a fase de promoção, de fazer os vídeos e as sessões promocionais nas lojas. Que também é uma fase muito importante, senão as canções não ultrapassam o espectro. Mas é menos divertida…menos relaxada. A concorrência é demasiado grande.

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Mas agora tudo é diferente. Cada vez mais os músicos têm estúdios em casa. DAVID: Sim e não sou só eu, são todos os músicos. Uma das coisas boas que teve a modernização dos métodos de gravação é que são baratos. A primeira vez que comprei um estúdio foi há 20 anos e custou-me um carro e meio. Mas tratava-se da minha independência em relação aos estúdios e à aprovação final das editoras. Já aconteceu a minha editora ouvir a minha master final uma hora antes de ir para a fábrica. Não existe este diálogo entre a editora e o músico. Mas às vezes pode ser mau não haver este diálogo, mas como sou uma pessoa de ideias fixas e meio ditador daquilo que faço, queria muito ser independente. Dentro desta nova realidade, que o SÉRGIO GODINHO chamou de “o novo normal” na sua mais recente criação musical, considera que o está a influenciar ou vai influenciar no seu processo de explorar e fazer chegar a sua música ao público, sobretudo agora com recurso aos lives online? DAVID: Eu não sou muito apologista dos Lives, dos ecrãs. Se não fosse pela música nem teria redes sociais, que é uma coisa que me mortifica muito. Não acho que acrescente significativamente alguma coisa à minha vida. No entanto, tenho que assumir que é uma maneira muito mais simples de fazer chegar a minha mensagem ao público. Agora seguramente esta fase epidémica que vivemos vai alterar a forma de se chegar às pessoas. Não toco ao vivo desde Fevereiro e uma das razões pela qual gravo um disco é poder apresentá-lo em concertos ao vivo. E aí o feedback que temos dessas canções é muito maior do que os singles, porque o público tem oportunidade de ouvir as canções num formato que é absolutamente espetacular: o som é alto, estamos às escuras, as luzes são incríveis, estamos com os amigos, junta-se tudo para que as canções vivam num planeta completamente diferente. Mas essa parte da nossa vida está suspensa.

uma realidade social, como ele sempre fez, acaba por refletir o momento que vive. O momento que eu vivo agora é este e isso tem uma influência muito grande naquilo que eu faço. Provavelmente resultará num novo disco. DAVID: Espero que dê para um novo disco. Quando as canções estiverem todas prontas logo vejo se dá ou não. Escrevo muitas canções, entre vinte a trinta, por disco e só um terço é que vai para o álbum. E outros dois terços nem sequer vão para a mesa de mistura, são só Demos. Foi um truque que eu aprendi com os THE CURE. Li uma vez uma entrevista com o ROBERT SMITH que dizia que o produtor deles os obrigavam a ir para estúdio com três vezes mais canções do que aquelas que entrariam no disco. Porque se só tivessem dez canções não tinham termo de comparação e considerei que isso era muito inteligente do ponto de vista de organização de trabalho e de ambição em perseguir um melhor resultado. Nesse caso o processo de criação é mais exigente. DAVID: Por norma eu trabalho mais do que é preciso porque me ajuda e, com o tempo, quanto mais uma pessoa se dedica a uma atividade mais difícil fica. De cada vez que se usa uma técnica nunca se deve repetir. Lembro-me sempre desta fórmula que usei no single “ The 80’s”, em que em cada terço da canção subia um tom, e quando se sobe um tom, a canção parece que sobe também para outro nível qualquer. Usei-o porque o tema era virado para o universo dos anos 80, bem como a estrutura da canção nessa altura.

Neste contexto, alterou necessariamente todo o processo. DAVID: Noto que alterou muito a minha vida, na medida em que estava a escrever um novo disco antes da pandemia começar, e mal entramos em confinamento, abandonei as ideias todas, porque deixaram literalmente de fazer sentido. Porque estava a fazer uma coisa muito mais festiva, que precisava de estarmos todos juntos. Uma vez que estamos todos distanciados deixou de fazer sentido. Portanto comecei a fazer tudo de novo, na medida do possível deste novo normal que o SÉRGIO GODINHO fala. Eu acho que quem escreve sobre 65

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Retomando aos lados B, sendo canções mais experimentais e mais melancólicas, e não tão positivas, como o DAVID gosta tanto de conceber, não deixa de ser igualmente muito interessante a opção de as reunir num álbum, sobretudo porque, na minha opinião, estes temas dão uma dimensão ainda mais potente à sua voz. DAVID: Ah! Muito obrigado! Uma das coisas que eu gosto deste disco dos Lados B é que tem um espaço de 15 anos e eu sei quais são as canções mais antigas e as mais recentes. Noto a minha voz a mudar ao longo desses anos todos. Com o tempo penso que vai ficando mais cansada, mais grave, ficando com um aspeto diferente. Mas sim é verdade, nestas canções exploro dimensões completamente diferentes. Uma das particularidades deste disco, é que há duas ou três canções que começam com instrumentais de um minuto, uma das razões porque ficaram fora dos álbuns, uma vez que a editora considerava isto demasiado longo. A ideia de melancolia está mais presente porque estas canções são muito mais profundas do que as que existem nos outros discos. Quando escrevi “é-me igual”, foi concebida em círculos. Quis escrever uma canção sobre a sensação de as pessoas não saírem do mesmo lugar. Mas quando escrevo este tipo de canções já não estou nessa realidade. Se assim fosse, nunca iria conseguir escrever aquela canção, dado que essas situações não são dadas à criação. Aliás, em geral, os fenómenos depressivos não são dados a fazer absolutamente nada. Quanto mais estável estiver, mais fácil é revisitar essa situação. E quanto mais à vontade estiver, mais fundo vou.

Existem músicos que afirmaram que os estados emocionalmente difíceis e alterados ajudavam à criação. DAVID: Eu também achava isso. Mas atualmente considero que estamos a manipular o que uma pessoa sente. Escrever canções é um talento. Se a pessoa não o tiver, não melhora, seja em que estado estiver. PICASSO dizia que a inspiração quando chega é quando te encontra a trabalhar. Ou seja, se trabalhar muito é natural que grande parte do que faça não seja muito interessante mas quando crio uma canção que considero admirável é porque a trabalhar criei condições para que ela nascesse. Mas não há uma formula mágica. Há canções que demoram semanas a escrever, outras são desenvolvidas em quinze minutos e outras que demoram muito tempo a escrever e não valem nada. E se não valem a pena eu deito para o lixo e pronto. E saber que a canção é uma merda também é um talento, ou seja, saber e assumir isso. Como trabalho com muitos músicos, instituo a regra de que têm que ter muito flanco para a eventualidade de estarmos a gravar música durante três dias e termos de deitar tudo para o lixo. Se estivermos a gravar uma canção e se se concluir que fica melhor sem bateria, retiramos a bateria. Não tenho problema nenhum com isso. Mesmo que seja eu a tocar. Como é que se lida quando o resultado do trabalho não está bom? DAVID: É igual. O que importa é melhorar. Uma vez gravei uma canção inteira que era para ser uma canção animada, com 120 batidas por minuto, mas no final ouvi-a e concluí que afinal funcionava melhor se fosse uma balada. E gravei-a com uma guitarra. Está no álbum Seasons, chama-se “No more tears running”. Inicialmente tinha-a construído ao estilo dos ARCADE FIRE, mas depois ouvi e pensei que a canção não continha aquela euforia toda. Retirei todos esses elementos e peguei na guitarra. Perdi uma semana inteira porque esses elementos foram para o lixo. Mas faz parte do processo. É interessante verificar esse distanciamento e o pragmatismo com que encara as canções, e que tenha essa capacidade de revisitar as sensações. DAVID: De fato, tenho a capacidade de voltar aquelas sensações. Tenho o distanciamento, de voltar dois passos atrás. Apesar de considerar que não escreva sobre o passado. Escrevo sobre sensações que presentemente consiga revisitar. Quando me preparo para um disco, faço muitos retiros para escrever. Revisito todas as ideias colecionadas, palavras, melodias, pequenas partes de canções e construo uma timeline. Trata-se de uma espécie

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de uma árvore em que antevejo se vale a pena ramificar ou não. Nesses momentos já tenho um distanciamento grande mas sei exatamente o que experienciei. Mas nem sempre escrevo sobre o meu ponto de vista. Gosto de escrever sobre o ponto de vista da pessoa que observei, o é que estaria a pensar, a sentir. Podemos dizer que o DAVID sentiu necessidade de explorar mais a sua escrita, criando o Jornal no seu site? DAVID: O meu jornal serve para várias coisas. Quis começar a escrever publicamente, porque eu estava muito farto de existir nas redes apenas como uma imagem, porque é muito mais superficial. O que eu quis fazer com o Jornal era apelar ao meu lado menos superficial e explorar outras temáticas, provavelmente apelo a muito menos gente, mas para mim é muito mais prazeroso, porque trocamos ideias, porque falo sobre coisas que tenham mais a ver comigo, e vou mantendo assim as redes de uma forma mais pessoal. Eu gostei imenso de explorar esses textos, e o que eu mais gostei foi aquele em que descreve uma tarde nos Açores, a fotografar miúdos a mergulhar para o mar. DAVID: Uma das coisas que eu mais gosto de fazer na minha vida é fotografar e revelar os negativos. Dá‑me uma paz de espírito que eu não consigo explicar muito bem porquê. Essa fotografia foi tirada quando fui fazer um concerto nos Açores. Geralmente quando vamos aos Açores temos um dia só para nós, normalmente o dia em que chegamos. Quando chego, costumo alugar uma bicicleta e dou uma volta pela ilha. Um dia encontrei esses miúdos e fiquei a observá-los. Mergulhavam e voltavam. E passaram toda a tarde a mergulhar, o que me intrigou. Concluí que o prazer de mergulharem vezes sem conta prende-se com o facto de acharem que o próximo vai ser sempre melhor. E fez-me questionar a minha própria atividade. E guardei aquela foto, onde a coloquei numa parede de minha casa. Todas as fotos que me dizem alguma coisa exponho em minha casa. E curiosamente quase todas giram à volta do mesmo. Só que em situações completamente diferentes. Penso que retratam sempre a capacidade de explorar o desconhecido, de iniciar sempre algo de novo. Por isso é que eu nunca pensei em retrospetivas. Para mim o fascínio, em geral, é o do inicio. Começar de novo.

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John Casablancas

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calรงas N U N O G A M A camisa ร S D E ES PA DA camiseta Z A R A

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calรงas N U N O G A M A camisa ร S D E ES PA DA camiseta Z A R A

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vestido uva DAV I I vestido listrado marrom D I N O A LV ES vestido metalizado G O N ÇA LO P E I XOTO

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calças com franjas G O N ÇA LO P E I XOTO sweater CA R LO S G I L

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calรงas N U N O G A M A camisa ร S D E ES PA DA

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fato de banho e lenço ÁS D E ES PA DAS túnica DAV I I 76

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vestido metalizado G O N ÇA LO P E I XOTO 77

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calรงas com franjas G O N ร A LO P E I XOTO sweater CA R LO S G I L

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camisa N U N O G A M A chapéu C H A P E L A R I A A Z E V E D O underwear ÁS D E ES PA DAS

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vestido listrado marrom D I N O A LV ES

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John Casablancas (filho)

De sexo masculino, heterossexual e com 24 anos. Viveu com a família no interior do Rio de Janeiro, nos Estados Unidos e Espanha. Gosta do Discovery, e da aplicação de streaming Spotify. Tenta ver filmes de animes mas os que são sem apelos sexuais. Adora documentários informativos sobre a história da humanidade. É fluente em português, espanhol e inglês. Consegue comunicar-se em francês também. O pai, John Casablancas, lançou a “Fanta” no Brasil nos anos 70 e foi fundador da Elite Models em Nova Iorque, lançando muitas das supermodels dos anos 90. A mãe foi modelo. Tem tendência de admirar coisas grandiosas, como os grandes cientistas que mudaram o jeito da humanidade pensar. A prendeu a cantar na igreja batista, onde foi criado. É do signo capricórnio. E é viciado em sushi . A fruta que mais surpreendeu foi o caqui do Egito. Gosta muito do Instagram, está sempre nos stories. Joga futebol, faz surf e arrisca-se no ping pong. Nunca se maquilhou, nem se mascarou num carnaval. Se tivesse opção teria barba, de vez em quando . Gosta de fazer esculturas, desenhos e pintar cerâmica. A sua vocação artística é o desenho e a música, sem dúvida. O filme da sua vida é o CloudAtlas. Já seu livro é o 1984 de George Orwell. No dia em que morrer vai “pro mundo”.

texto Marco Puga e jéssica Lima fotografia PUGA @impuga produção DANIEL CARILLO @dn.carrillo e ANDRÉ SANTOS hair JOANA BARROS @joanabcarvalho.s veleiro TAGUSCRUISES @taguscruises transporte ALIANÇA VEÍCULOS @aliancaveiculospt we are models EWA TRABINSKA @ewa_trabinska NATALIA KACZOROWSKAA @natalia.kaczorowskaa dabanda model JANINA @janina_tati bound management ELOISA SANTOS @eloisa.santos 84

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@andrewfsaints


camisa N U N O G A M A chapéu C H A P E L A R I A A Z E V E D O underwear ÁS D E ES PA DAS 85

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©Marina Kazmirova @unsplash

O PERIGO DO IDEAL NOCIV DE MASCULINIDA texto por Miguel Rodrigues

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SOCIEDADE


“M idsommar – O Ritual ”, o aclamado filme de

folk horror dirigido por ARI ASTER, lançado em 2019, acompanha a relação conturbada de Dani (interpretada por FLORENCE PUGH) e Christian ( JACK REYNOR), através de uma atmosfera macabra, inquietante e catártica. Após descobrir que a irmã e os pais falecerem, Dani entra numa espiral de luto e busca por equilíbrio. Christian tem dificuldade em demonstrar qualquer afeto ou empatia, deixando-a ainda mais isolada e angustiada. Ao longo da narrativa, os amigos de Christian também evitam estar numa posição de vulnerabilidade emocional, representando modelos pouco saudáveis de masculinidade. Um dos amigos, Mark (WILL POULTER), acredita que a dor de Dani é uma forma de abuso emocional sobre Christian, realçando que este não merece lidar com os traumas da namorada. Sugere também que ele termine com Dani, para que possa encontrar "uma rapariga que realmente goste de sexo”.

VO ADE Há “regras” que definem o que os homens devem vestir, como se devem comportar e que emoções devem expressar. O problema não está na ideia de masculinidade ou no género masculino, mas no conjunto de ideais tóxicos e destrutivos que ditam como um homem deve ser. 87

A masculinidade tóxica —padrão enraizado no nosso meio cultual e amplamente aceite e empoderado pela sociedade— encoraja, muitas vezes, os homens a reprimir emoções, a subordinar as mulheres, a ser resiliente, heterossexual, viril, duro, dominante e competitivo. Aqueles que não conseguem suprimir estas exigências são muitas vezes menosprezados. «[A masculinidade tóxica] é o ideal cultural da masculinidade, onde a força é tudo enquanto as emoções são uma fraqueza; onde o sexo e a brutalidade são padrões pelos quais os homens são medidos, enquanto os traços supostamente “femininos" implicam que o estatuto de “homem" possa ser removido», realça o GOOD MEN PROJECT. Muitos homens não comunicam o que sentem, e evitam pedir ajuda para resolver os seus problemas, com medo de serem estigmatizados.

No dia 10 de outubro assinala-se o Dia Mundial da Saúde Mental. A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que todos os anos se suicidem 800 mil pessoas, o que corresponde a um suicídio a cada 40 segundos. Estima-se que cerca de 90% das pessoas que morrem de suicídio têm algum tipo de perturbação mental. Segundo dados do INE – Instituto Nacional de Estatística, a taxa de suicídio em Portugal é mais elevada nos homens. Em 2017, registaram-se em Portugal 1061 mortes por suicídio, o que corresponde a 70% de homens.

O estudo “Masculinity and suicidal thinking”, realizado por uma equipa de investigadores da Universidade de Melbourne, em 2016, concluiu que os homens que se identificam com um elemento particular da masculinidade dominante —ser autossuficiente— poderiam estar em risco de terem pensamentos suicidas. Expressões negativas como «um homem não chora» ou «não sejas maricas» são muitas vezes aceites e difundias por uma grande parte da sociedade. Procurar ajuda, para muitos indivíduos, ainda é sinónimo de humilhação e um ataque à virilidade. Estima-se que os homens evitam entrar em contato com profissionais da área para pedir ajuda, sejam psicólogos ou psiquiatras. Muitas vezes, até mesmo dentro do grupo de amigos tentam não demonstrar fragilidade.

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©Mitchell Griest @unsplash


A definição de masculinidade varia de acordo com fatores como a educação, a orientação sexual, a religião, o território de origem, o privilégio e o ambiente socioeconómico de cada indivíduo. Por isso mesmo, não devemos esquecer que existem, de facto, várias (e válidas!) masculinidades. Não podemos analisar esse tema sem pensar de forma interseccional: há homens negros, brancos, gay, bissexuais, cis, trans e tantos outros. Também há pessoas que não se identificam com a divisão binária homem-mulher e não devem ser reduzidas aos modelos da heternormatividade e da cultura do patriarcado.

A masculinidade tóxica desperta preconceitos e abre caminho a comportamentos violentos, racistas, machistas, homofóbicos, transfóbicos, sexistas e outros. Neste sentido, a representatividade é fundamental para redefinir parâmetros e extravasar a imagem do que define “um homem a sério”. Um homem que use uma saia ou um vestido —como o ator BILLY PORTER, conhecido pela serie “Pose”, na red carpet dos Oscars em 2019— pode causar desconforto e ser ridicularizado, uma vez que utiliza algo do “imaginário feminino”. Quando determinadas normas tradicionais são quebradas, a ostracização surge como punição. Esta situação exemplifica um problema atual que a nossa sociedade enfrenta: comparar um homem a uma mulher representa um ataque à virilidade e um insulto extremo. A imposição de estereótipos e normas de género é perpetuada desde a educação, tendo implicações para as raparigas e rapazes. Geralmente, muitos meninos são treinados para gostar de brinquedos como camiões, armas ou bolas de futebol e não de maquilhagem, saltos altos ou barbies. O estudo “It

Begins at 10: How Gender Expectations Shape Early Adolescence Around the World”, publi-

cado no Journal of Adolescent Heath, em 2017, indica que os estereótipos de género causam danos e contribuem para problemas de saúde mental. “Devido a estas normas hegemónicas, os rapazes são vítimas de violência física em muito maior grau do que as raparigas, morrem mais frequentemente de lesões não intencionais e são mais propensos ao abuso de substâncias e ao suicídio”, revela a publicação. Conduzir carros desportivos, ter barba e demonstrar um incontrolável desejo sexual —ou outras características tradicionais associadas a este género— não têm de ser regras obrigatórias para definir um homem. Não há um modelo universal ou um conjunto de mandamentos restritos a seguir. Um homem também pode usar uma camisola cor-de-rosa com a imagem dos teletubbies e chorar ao som de um álbum da ADELE sem que isso seja uma ofensa à sua masculinidade. Cada indivíduo deveria poder construir a sua identidade —e rasgar os padrões tradicionais impostos e condicionados pela sociedade— sem ser ridicularizado ou marginalizado.

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LOUCURA IMINENTE

texto SARA PE TERSON ( @_sara.peterson_ ) fotograf ia PEDRO LEOTE ( @wide.boy) styling e décor ADDICTED PRODUCTIONS ( @addicted.prod) make-up RITA SANTOS ( @makeupbytecas) hair SUZIE PE TERSON ( @thebernardomua) Amélia MARIA SAMPAIO ( @hereisbell) 90

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Tenho a minha rotina. Todos os dias coloco os rolos na cabeça. Todos os dias cozinho para o vazio. O meu vazio. Desde os sete anos que capricho nos bolos e doces, já o meu pai me dizia “Amélia, tens mãos de fada”. E o meu Camilo... O meu Camilo nem se fala, lambusase com o bolinho de ananás todos os domingos.

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Debruço-me todas as manhãs no alpendre onde estendo a roupa. Às vezes intriga-me só encontrar saias para estender. Nele penso e transporto‑me rapidamente para aquela longa caminhada, em que o meu Camilo me puxou para o meio das árvores. Ele sabia que não estava ninguém a ver-nos e assim me roubou um beijo.

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Tenho o hábito de tratar da roupa cá de casa que ninguém vai usar. Quis sempre cuidar do lar, para além de querer ser mãe. Há quem queira ser pintor, eu quero limpar e pulir os móveis cá de casa. Os móveis mais bonitos... Herdei-os da minha bisavó.

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Choro por dentro, choro por fora. Mas foi mais uma rotina que eu escolhi. Relembro o dia em que me casei como o mais feliz da minha vida, melhor do que alguma vez sonhei ou imaginei. Sou mulher de um homem só. A felicidade que em tempos que encheu a nossa casa, o nosso lar... É agora uma felicidade distante.

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Gosto de passear o nosso António mais ao fim do dia. Gosto da brisa das sete da tarde. O carrinho castiço onde dormes aconchegado, foi o carrinho que sempre quis. Aconchego-te, mas tu não estás lá.

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NU, MEU C8RPO!

& ARY IS

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entrevista por Patrícia César Vicente

fotos por Ary + Isaac


Há mais do que informação suficiente na internet sobre transexualidade. Social, médica, científica mas queria mostrar o que há de mais poderoso, o lado humano. O que as pessoas sentem, as dificuldades que enfrentam, as lutas, as derrotas e as vitórias. Estou em crer que se nos pudéssemos “sentir” uns aos outros, o mundo podia continuar a ser imperfeito mas seria um lugar melhor. E nós merecemos todo um lugar melhor para viver. A entrevista ao ARY e ao ISAAC é honesta, sem floreados e acima de tudo, é uma carta de amor. De amor-próprio e ao próximo.

Com que idade é que perceberam que não se identificavam com o sexo/género com que nasceram? ARY: Eu cresci sempre com muita liberdade porque a minha mãe nunca teve liberdade. Para teres uma ideia, ela tinha os livros trancados em casa. Então, ela tentou dar-me a mim e ao meu irmão uma educação oposta. Eu com onze anos já vinha para o Bairro Alto, portanto, eu sempre vivi com muita liberdade. Mas com esta liberdade tu tens de te aceitar como tu és, estás bem como és. E demorei muito tempo a perceber que haviam realmente coisas que eu queria mudar e que eu não tinha de aceitar tudo o que eu era. E a minha identidade era uma delas. Eu assumi-me como mulher lésbica durante vinte e nove anos e só quando comecei a ler mais sobre género e não-binarismo é que eu percebi que aquilo era uma possibilidade para mim. Ultrapassei o rótulo e comecei a trabalhar num género que era muito saudável para mim. Mesmo em criança, eu conseguia estar a fazer a coreografia das Spice Girls em mini saia, como a seguir estar a brincar às Tartarugas Ninja. Sempre oscilei naquilo que se chamam os estereótipos de género. Sempre pedi para ter o cabelo cortado à tijela, perguntei porque é que eu não tinha uma pilinha a crescer, mas eu nunca dei muita importância a essas coisas porque à minha volta deixavam-me ser quem eu quisesse. Nunca houve uma batalha em casa que me fizesse questionar o que é que eu tinha de errado.

ISAAC: Tens pessoas que a uma certa idade perceAgendámos a entrevista. Tentei preparar-me mas não queria ir demasiado bem preparada. Queria fazer perguntas que muitas pessoas querem ter resposta, mas nem sempre têm coragem de as fazer com medo de parecerem estranhas. Uma coisa que o ARY e o ISAAC apenas vão saber quando lerem a entrevista: no dia em que que os entrevistei senti que não estive muito bem, que me atrapalhei a meio e que não saiu como esperava. Mas ao ouvir a entrevista para a escrever, emocionei-me. Pensei no quão incrível é conhecer pessoas que podiam ter arranjado desculpas, mas preferiram arranjar força para superarem todos e quaisquer obstáculos. Renderem-se a uma sociedade que os tentou colocar numa caixa nunca foi opção! Senti-me genuinamente feliz por os sentir felizes. É bonito e reconfortante sentir isto, de uma forma que não consigo explicar. Espero que também possam sentir o mesmo e que se sintam inspirados. Para serem quem quiserem ser. Porque no final, é só mesmo isso que importa. 98

bem “Este não é o meu género!” e eu não. Eu sempre me percecionei com o género masculino. Vestia-me de forma masculina, tinha brincadeiras do sexo masculino porque cresci com os meus avós e era tudo livre. No entanto, quando ia passar os fins-de-semana com a minha mãe, ela dizia-me “Tu não podes brincar com isto, não podes vestir isto”. E foi nessa altura que percebi que as pessoas me percecionavam como uma rapariga, mas eu vejo-me como um rapaz. Na escola eu queria jogar à bola, embora fosse péssimo. Fui jogar basquetebol, que era denominado um desporto de menino. Eu não gostava de brincar aos papás e às mamãs, mas se me perguntassem eu queria ser o papá. Perguntei à minha avó porque é que a minha pilinha não crescia. Sim, porque as crianças falam destas coisas. Portanto, eu entendi que me identifico como rapaz mas a sociedade entende-me como sendo rapariga. Tenho uma avó que sempre se interessou por tudo o que era psicologia, medicina e que me explicou quando eu tinha cinco anos que quando tivesse dezoito anos podia mudar de sexo. E entendi que ia ter de viver assim mais treze anos da minha

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vida. Foram treze anos em que não vou dizer que não foi doloroso, não sei o quão doloroso foi porque dos meus dezoito aos vinte e três anos já vivi um monte de coisas positivas. Sei que há muita coisa que não era aceite, não tinha muitos amigos, não era convidado para festas. Há coisas que só agora é que estou a processar e que na altura me afetaram imenso. Eu acho que tinha perceção de que era excluído, mas acho que gostava da ideia de ser excluído. E agora é que entendo que eu não gostava, mas foi uma ideia a que tive de me habituar. Agora é que eu percebo o quão cruéis as crianças são, o quão cruel é o nosso sistema de ensino que te obriga a usar rosa ou azul, ou então, tens de usar amarelo que é visto como uma cor neutra. Como se as outras duas cores tivessem género. Eu sofri com o sistema e quando fiz os dezoito anos não quis esperar nem mais um segundo. Acabei o secundário, fui para o IADE e a própria praxe do IADE foi uma família para mim. O próprio do traje é um kilt. Foram pessoas incríveis, ainda hoje são pessoas com quem continuo a falar. E fez-me muito bem. O que impulsionou a tua mudança de género? Algum evento, situação? Foi crescendo? Como foi esse processo para ti? ARY: Eu sempre tive desconforto com o meu peito, sempre treinei muito no ginásio com o objetivo de “se isto tira gordura, o peito é gordura, então isto vai desaparecer” e eu aplicava-me. Já tive um braço maior do que tenho agora, mas o peito continuava lá. Comecei a ver documentários sobre transição. E eu nunca ponderei a transição porque todos os documentários são feitos com aquilo a que se chama a transição total. O que para mim é um mito. Aquilo que é uma transição total, ou, completa é aquilo que me faz sentir completo. Por isso demorei a ponderar a transição, por achar que era apenas aquele o caminho até que finalmente conheci uma pessoa que se identificava como não binária e pedi-lhe para me explicar o que era. Porque toda a informação que encontrava não era como é agora. Falava-se muito pouco. E quando no ginásio eu cheguei ao ponto que era possível, em que o próximo passo era ter de fazer ciclos, percebi que não ia dar. A minha mulher é médica e eu pensei “não vai dar” e depois comecei a fazer testosterona para ver o efeito que ia ter no meu corpo. Porque para mim, na altura não era tanto sobre género, era o desconforto com o meu peito. E depois começou tudo a acontecer de forma natural e comecei a abrir um espaço na minha cabeça que eu não sabia que era possível. Estava constantemente a auto sabotar-me com ideias de “eu não posso querer isto”, ou, “eu não posso querer fazer aquilo, eu já vi isto nos documentários e eu não quero aquele final”. 99

Tive a sorte de conseguir fazer tudo com bastante calma e estar numa relação, onde posso ser totalmente transparente. Fui balanceando e testando-me. Falava com a minha esposa e perguntava-lhe: “E se se eu tiver pelos na cara, será que isto vai ser um problema?”. E ela respondia-me: “Eu também não sei se isto vai ser um problema, isto é dia a dia. Tu também não vais acordar amanhã com barba, portanto, nós temos tempo de ir vendo. Até que chegou a um momento da minha transição em que eu percebi que sozinho, ou acompanhado era uma coisa que eu queria fazer. E comecei a fazer uma dose de testosterona mais elevada e marquei a minha mastectomia.

Ao longo da vossa infância e adolescência, algum episódio que vos tenha marcado de forma negativa e esteja relacionado com a questão de género ou orientação sexual? ARY: Enquanto era mulher lésbica e andava de mão dada com as minhas namoradas, ouvia coisas do género: “Vocês precisam é de um homem!”, “Vocês não querem fazer uma coisa a três?”, ou “fufas de merda”. Mas não sinto nada que me tenha marcado porque eu também sempre fui do género “se queres resolver alguma coisa, resolvemos agora”. Por isso, não sinto que me tenha afetado, quanto muito dava-me mais gasolina para a minha luta.

ISAAC: Acho que no meu caso, como sabes nós vi-

vemos numa sociedade que nos quer categorizar e que nos quer meter um rótulo, antes de nós sabermos qual é o nosso rótulo. E enquanto eu cresci, eu sempre soube que era trans, sempre me senti atraído por mulheres. Toda a gente me queria colocar na categoria de lésbica. Achando que estavam a ser francos mas só me estavam a ostracizar. Toda a gente conhece aquela pessoa que é super open mind e está tudo bem, mas depois quer colocar rótulos e querem forçar-te a sair do armário. Parem de colocar rótulos, antes de elas dizerem “eu sou isto”. Enquanto eu não fiz o meu coming out como trans, eu estava com pessoas da comunidade LGBT mas eu não tinha um sentimento de pertença como hoje tenho. Tens um sentimento de pertença quando as pessoas te leem corretamente e como tu és. Quando as pessoas não o fazem, não tens um sentimento de pertença, não importa se estás com pessoas cis ou hétero.

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O que mais te custou/custa durante o processo de transição? ISAAC: A espera. Treze anos à espera, depois é a espera para teres testosterona, depois é a espera para mudares o b.i, depois é a espera para a operação, a espera para ver os efeitos, a espera para saber se és cis passável, depois é a espera para que todas as pessoas te tratem de forma correta. Há coisas que tu esperas ver no teu corpo passado um ano e que só vais ver daqui a cinco. Mesmo que noutra pessoa tenha sido logo passado um ano. As pessoas caem no erro de pensar “esta pessoa está a testosterona há um ano e já tem barba” e tu podes nunca vir a ter. Em algum momento tiveram medo de se arrepender? ARY: Eu tive medo de me arrepender, medo de não estar a fazer a coisa certa. Não é tanto o medo de voltar tudo para trás, mas sim, expor-me e depois sentir que tinha dito uma grande mentira a toda a gente. Disso tive medo, tens uma exposição enorme quando te assumes como trans. Eu senti pressão “quando eu comunicar isto, eu tenho mesmo de ter certeza”. A fase da dúvida existe para muitas pessoas. Porque é assustador estares a mudar a tua vida toda, os teus documentos todos e se for outra coisa? E se eu estiver enganado? Embora para mim, a nível físico fosse muito certo o que eu queria, mas eu também não sabia como é que ía lidar com uma série de coisas. Como os pelos faciais, por exemplo. Ainda para mais com a pressão de ter uma relação onde eu estava antes como mulher lésbica. Para mim havia muita coisa em jogo se não corresse bem. Estava a abdicar de uma relação de oito anos, já casado para uma coisa em que “se não for isto”… e é aí que entram os teus medos. Até ao dia em que passas para o outro lado do medo e é só ai que as pessoas são mais felizes.

ISAAC: Eu estive à espera durante treze anos. Se

fosse para ter dúvidas teria tido nesses treze anos. Eu nunca tive qualquer dúvida. Embora eu não tivesse tido uma representação trans, eu tive uma representação do que é ser homem. Sempre quis tudo aquilo onde me pudesse encontrar no espectro masculino fisicamente e para além disso eu fui desconstruindo para mim o que é ser homem e o que é ter um corpo de homem. Para além de ser homem, quem é que eu sou como pessoa. A dúvida nunca foi na transição, mas sim, no homem que eu quero ser daqui para a frente.

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O papel da tua família na tomada de decisão e durante o processo? ISAAC: Nunca deixa de ser um choque. É sempre um choque para os teus pais. Mas eu sou uma pessoa extremamente independente, sentei-me e comuniquei: “Eu vou fazer isto! A partir de agora eu sou o ISAAC, vocês têm o vosso tempo de adaptação, agora vou às minhas consultas”. Pode ser difícil de entender isto, mas na minha própria dinâmica familiar eu sou muito independente. Desde sempre que quando eu dizia quero isto, os meus pais já sabiam que era pensado, analisado e fazia tudo sozinho. Qual é a melhor forma de dar apoio a quem está no processo de transição. Família, amigos ou até o Sr. Alfredo do café em frente. ARY: Há uma coisa que me faz confusão. Tu vais com os teus cães ao parque e perguntam “Como é que se chama o seu cão?” e tu respondes que não é um cão, é uma cadela e as coisas mudam num segundo e as pessoas não ficam a olhar para a cadela para confirmar se é mesmo uma cadela, ou não. Mas connosco não. E as pessoas deviam ter esse instinto mais básico, deviam respeitar o que te é dito e aceitarem sem perguntas.

ISAAC: Acho que as pessoas devem ser sinceras. Não sabem os prenomes simplesmente perguntem. Nós próprios damos espaço para erros ao princípio, é normal. Para as pessoas que são próximas de nós, que nos querem mesmo compreender e estar lá para nós existe o nosso canal no Youtube (TGuysCuddleToo), existem imensos vídeos, o Google, a AMPLOS que é uma associação para pais, mães e todos os familiares e é importante. E não é mau perguntar a uma pessoa trans como é que a devemos tratar? Não pode ser mal interpretado? ARY: O melhor é assumir que se é ignorante neste assunto e dizer “Desculpa se estiver a ser incorreto contigo, mas o que é que tu queres?” O mais simples é colocar as cartas em cima da mesa do que se armar em pseudo que sei muito de género porque às vezes estás a falar com uma pessoa que tem uma aparência muito feminina e que não quer ser tratada no feminino.

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Desde a vossa transição ainda continua a existir situações constrangedoras? ISAAC: Por acaso, comigo não.

ARY: Sim, da parte da família. São vinte e nove anos.

Quando falam de mim e da minha esposa e dizem elas, eu revolvo-me e depois acalmo-me.

Alguma vez se sentiram desprotegidos em algum meio ou ambiente, ao ponto de temeres algum tipo de ataque por culpa de preconceito? ARY: Nós nunca tivemos numa situação de confrontos de rua, mas pensamos em inúmeras situações que podem ser complicadas. Por exemplo, aeroportos. Sempre que estou num aeroporto penso “é desta”. Nós usamos uma prótese e penso que “vão ver que eu tenho aqui uma coisa que não é humana, vão-me levar, vão-me despir, possivelmente são transfóbicos, vão-me bater”. Estas coisas estão constantemente na nossa cabeça, o que envolve polícia, autoridades, ou quando tens de tomar banho num balneário público e à tua volta só estão homens. Eu como já fui mulher, sei o que é assédio. É uma memória que não é apagada. Estou sempre com medo, felizmente tenho um par de ombros que muitos homens não têm. Há uma série de situações em que a minha vida melhorou em mil por cento, mas a transição também traz um conjunto de novas situações que antes não eram um problema.

ISAAC: Uma vez, ainda estava no início da minha

transição e eu estava com a minha namorada. Ela tinha estado sempre com homens, nunca tinha tido muito contacto com a comunidade LGBT, ainda que fosse mil vezes por mais informada do que eu. Houve uma vez um tipo que nos começou a chamar de fufas, lésbicas e eu respondi-lhe “eu sou um gajo”. Não que eu levasse aquilo como uma ofensa, mas mais uma vez a minha identidade estava a ser atacada e ele começou a dizer “levanta a camisola para ver se és um gajo” e naquela altura ainda não tinha a mastectomia feita. Foi a única vez em que isso me aconteceu e a impotência que eu senti naquele momento é uma coisa que ficou guardada. É algo que eu quero trabalhar para não me voltar a sentir assim.

Há pessoas que parecem não entender, não sabem como se referir a pessoas trans e ainda há um enorme desconhecimento. Na tua opinião isso deve-se a quê? ISAAC: Acho que tem a ver com duas coisas, a ignorância e maior parte das vezes quem quer saber o que é cis-género, transgénero, fluidez de género vai ao Google. Uma coisa é perguntares o que é 103

ser trans ou ser cis, outra coisa é perguntares às pessoas o que é que elas têm no meio das pernas. E normalmente são essas pessoas que sentem essa problemática. São as pessoas que querem perguntar como é que tens relações sexuais, são as pessoas que se querem meter na tua vida privada. Querem saber quanto é que o teu pénis vai medir, se queres ter pénis, ou, não queres. Ainda existe tanto desconhecimento e tabú em volta de questões como estas que deveriam ser encaradas com naturalidade, porque nascemos livres para sermos quem quisermos. De que forma é que todos podemos melhorar para nos tornarmos numa sociedade menos preconceituosa? ARY: Acho que acima de tudo é preciso empatia, tu só consegues estar bem com as pessoas se tu perceberes os problemas de cada um e isso viu-se agora muito com a questão do racismo. Tu viste muitas pessoas, assim como eu, que foi fazer pesquisa e perceber porque é que isto está a acontecer. Como é que começou e o que é que eu posso fazer para melhorar. Para que o mundo melhore acho que é preciso cada um sair da sua zona de conforto e pensar “será que eu sou preconceituoso?” “o que é que eu posso estudar ou tentar perceber para ser uma melhor pessoa”. Em termos profissionais, é difícil para uma pessoa trans? Principalmente durante o processo de transição. Sentiram alguma dificuldade? ISAAC: Eu nunca me senti à vontade para trabalhar antes de ter a mastectomia feita. Eu tinha um peito grande, não conseguia de forma alguma me sentir bem. Não era possível de disfarçar. Eu sou barbeiro e naquela altura era impensável estar bem, estar confortável. Eu sou cis-passável, sei lidar com as coisas, mas eu quero estar num ambiente onde os meus clientes sejam bem-vindos e possa dar o meu melhor.

ARY: Eu trabalho com cinema e vídeo e é logo um meio onde existe maior abertura. Eu tenho um cliente há cinco anos que é o La Féria. E ele conheceu-me antes da transição, durante continuei sempre a trabalhar com ele. Nunca senti qualquer preconceito, houve a fase de adaptação. Acho que por exemplo, para mulheres trans a situação profissional é muito complicada, são vistos como as bichas que querem ser mulheres porque o choque no atendimento ao público acaba por ser muito maior e causa muito mais desconforto, ao qual nós felizmente não passámos.

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Existem apoios do estado? Recorreram ao particular? Alguém que não tenha recursos financeiros e dependa de apoios estatais, em média têm ideia dos prazos de espera, ou de como é o processo? ISAAC: Honestamente a resposta mais sincera é depende. Tens muitos profissionais em hospitais públicos que não percebem nada de género. Vão julgar-te pela aparência, vão julgar pela tua expressão de género, logo aí, o tempo pode ser diferente. Não nos podemos esquecer que estamos no meio de uma pandemia e portanto, o que é que são tempos hospitalares neste momento. Isto é válido para qualquer tipo de consulta. Depende para que hospital é que vais. Se as pessoas quiserem conselhos podem-nos questionar qual é o melhor. E depende também, podem fazer como eu que fiz parte no público e outra parte no privado para despachar algumas coisas.

ARY: Acho que podemos dizer com segurança que no público deves demorar o dobro ou o triplo do tempo do que no privado. Até porque por exemplo, no público tens uma cirurgia marcada. Vais fazer a cirurgia a Coimbra, tudo atrasa e a tua cirurgia é remarcada para daqui a dois meses.

De que forma é a mudança de sexo teve impacto em todos os aspetos da vossa vida. Social, laboral, sexual, etc. ARY: A minha vida melhorou a mil por cento em todos os aspetos. Atualmente sinto-me muito bem comigo, acordo com energia, vivo o meu dia sem preocupações, antes era capaz de demorar três ou quatro horas a sair de casa porque tinha de pôr faixas no peito e as faixas não ficavam bem. Hoje em dia se é para ir à praia ou à piscina, vou. Nada é um problema. Podes literalmente viver a tua vida como todas as pessoas o fazem. Eu acordo, quero ir a algum lado e vou. Sem ter que estar a pôr faixas no peito. É uma liberdade sem igual, o facto de te sentires bem contigo torna-te muito mais confiante. Consegues ter mais espaço criativo porque não tens aqueles pensamentos negativos a toda a hora. Acordas, vais trabalhar, fazes o que gostas e tudo deixa de ser um problema.

ISAAC: Para mim é exatamente como o ARY disse,

a diferença é que eu não conseguia fazer com tape. Para mim era full body, no Verão eu vivia de noite, só saía a partir das sete da tarde e às dez da manhã estava na cama. E era agressivo, não a nível de violência, mas eu tinha uma postura agressiva. Porque eu não queria que tu tivesses chances de me atacar, então, eu atacava primeiro. E tudo isso passou com a transição.

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Qual o melhor conselho que podes dar a quem não sabe como agir, para quem se sente sozinho com as suas dúvidas. Há muitas pessoas que se limitam a investigar na internet e não falam abertamente com a sua família, nem com ninguém. ISAAC: O ideal é sempre recorrer a associações, se és um familiar que precisa de aprender a lidar com uma pessoa trans na família, a internet é positiva, têm os nossos vídeos que ajudam imenso, mas recorre a associações. A pessoas com competências profissionais que te ajudarão a arranjar ferramentas para lidares não só com o preconceito, mas podem ajudar o teu familiar. Se és uma pessoa LGBT que tem dúvidas é muito bom teres um grupo de amigos com quem possas falar, mas também recorre a uma associação para teres ferramentas para lidares com a sociedade. Na ILGA temos o serviço de apoio psicológico, temos linha de atendimento telefónica que funciona de quarta-feira a sábado, temos vários grupos para pessoas lésbicas, gays, trans, tudo isto são óptimas ferramentas que as pessoas têm á sua disposição. Vocês têm um canal de Youtube, o T Guys Cuddle Too, que aborda diversos temas relacionados com o género, o processo, etc. Como é que surgiu a ideia? E vamos ser realistas, é preciso uma enorme de coragem para o fazer. A exposição, os amigos, conhecidos, etc. Quais foram as vossas motivações para o fazer? E como é que lidam com os comentários? ARY: Isto começou porque tanto eu como o ISAAC começámos a nossa transição sem qualquer tipo de apoio, no sentido de alguém em Portugal que estivesse a passar por isto e que falasse sobre isto, que estivesse a colocar conteúdos semanais, a relatar isto. Que explicasse como é que o podes fazer, onde é que o podes fazer, com quem, onde é que deves ir, o que é que vai acontecer, o que é que podes esperar, como é que lidas com a família, portanto, nós criámos o canal que nós queríamos ter tido ao crescer. Pelo meio nós percebemos que para além das pessoas trans que estavam a aceder ao nosso canal havia uma quantidade de pessoas cis, pessoas héteros, familiares, professores, sexólogos, psicólogos que estava a recorrer ao nosso canal para retirar informação. E foi ai que pensámos que tínhamos de tornar o canal muito mais amplo e abordar muitos mais temas. E foi a partir dai que até surgiu o convite para darmos uma aula em conjunto para a sociedade de sexologia portuguesa. Acabámos por perceber que o canal está a ser uma ferramenta muito importante para profissionais de saúde, para familiares e pessoas em geral para se informarem.

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Se as pessoas ainda tiverem dúvidas depois desta entrevista, podem enviar-vos perguntas? ARY: Sim! No ano de 2020 estamos a ver duas partes do mundo em conflito. Os que ainda são preconceituosos e os que lutam contra o preconceito. No ano em que mais manifestações acontecem um pouco por todo o mundo a favor da igualdade também está a ser o ano em que assistimos a mais notícias que relatam crimes de ódio. Como é que vocês entendem isto? ISAAC: Estas coisas sempre aconteceram, simplesmente nunca houve tanto streaming como neste momento. Havia pessoas sensibilizadas para as questões de racismo, transfobia, homofobia, xenofobia, mas neste momento as pessoas sentem a necessidade de partilhar e ser a resistência, porque do outro lado existem pessoas que estão a dizer ao fascismo, à extrema-direita e ao racismo sintam-se orgulhosos. Portanto, as pessoas que sempre sentiram sensibilidade por estas questões sentem a necessidade de fazer este streaming e expor situações e as pessoas racistas, homofóbicas, etc. E nós que somos a resistência temos de continuar e calar isto, não há outra opção.

ARY: Sabes que isto está numa fase em que está

mesmo dividido. Neste momento eu sinto a raça humana dividida como os bons e os maus. E o que acontece é que quando tu dás espaço público e poder a pessoas com ideias extremistas e que ferem outras, as que estavam debaixo das pedras também podem dizer coisas em voz alta. Pensam: “Se aquela pessoa manda nisto, então, eu também posso dizer”. E começa a haver esta divisão, até que um dos lados vá ganhar mais.

ISAAC: Esperemos que seja o nosso!

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E será ISAAC! Por ti, pelo ARY e por todas as pessoas no mundo que têm o direito de serem elas próprias, de serem quem quiserem e de amarem livremente. Por todas as pessoas que ainda são excluídas, mas deixarão de ser. Por todas as pessoas que se libertam diariamente de uma sociedade que as condena sem razão. Por todas as pessoas que vão ler esta entrevista e estão do lado da resistência. Por todos os pais que têm medo pelos seus filhos, e por todos os filhos que ainda têm medo de ir para a escola. Pela liberdade de expressão, género ou sexualidade. Caso tenham dúvidas assistam aos vídeos do TGuysCuddleToo no Youtube. Mantenham-se informados e sintam-se amados por serem exatamente quem são ou queiram ser. SOCIEDADE


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CRASH THE

fotograf ia EVA FISAHN ( @f isahn_visual) styling MARTA DERQUE ( @notaliveneverdied) make-up LE A LOURO ( @lea _louro) (YSL beauty e Caudalie) ass. make-up BERNARDO CORREIA ( @thebernardomua) model MIGUEL VITAL ( @miguelvital) ( @karacteragency) 110

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COURSE RAVERS

→ óculos V E R S AC E V I N TAG E jóias C E AG AG E casaco R E T RO C I T Y


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calรงas H E L I OT E M I L jรณias C E AG AG E botas B E R S H K A meias CA R H A R T T 112

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saia G U ES S colete R E T RO C I T Y tank top R E T RO C I T Y jรณias C E AG AG E botas B E R S H K A meias CA R H A R T T cinto vintage 115

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calรงas CA R H A R T T casaco CA R H A R T T jรณias C E AG AG E botas B E R S H K A meias CA R H A R T T

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ODE À LIBERDADE

entrevista por Daniel Lima

SS20 collection © Gonçalo

Silva

DINO ALVES

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Com raízes já bem assentes no panorama de moda nacional, o trabalho criativo de DINO ALVES continua a florescer de forma sublime e a dar inúmeros frutos na passarela. Na sua marca homónima, o nosso enfant terrible mantém-se fiel ao que o move, num grito que ecoa por toda a indústria: afirmar a sua liberdade e comunicar a sua verdade. Foi com essa verdade que o criador falou do seu trabalho ao longo desta entrevista, permitindo uma pequena visita ao seu génio interior.

Foi apelidado de enfant terrible da moda portuguesa. Sente que o título é adequado? DINO: Eu gosto muito. Aliás, eu costumo dizer que posso não ter muito, mas pelo menos um título eu tenho. É uma coisa que, tirando a ANA SALAZAR, que tem sempre o cognome de “Mãe da moda portuguesa”, com toda a justiça, não há mais nenhum criador que tenha. E eu acho que é adequado, acho que o terrible tem a ver com os temas e com os conceitos onde eu me inspiro e o enfant é para contrastar. Talvez tenha a ver um pouco com eu ter um lado um dócil e esse contraponto acho que foi o que deu origem a esta expressão. É assim que eu faço a leitura. 119

Muitas das suas coleções funcionam como um manifesto. É importante, para si, marcar uma posição na indústria? DINO: Eu costumo dizer que não me contento só com o design das peças, ou seja, eu acho que toda a gente que tenha o mínimo de gosto consegue desenhar uma peça de roupa. O comunicar através disso, contar coisas ou deixar mensagens é que é o mais difícil e eu acho que é isso que eu faço. Também já disse algumas vezes que quase todos os meus colgas designers fazem roupa melhor do que eu porque, para já, têm formação em design de moda e eu não tenho. A minha formação é em pintura. Eu tenho outras valências que tem a ver com isto, com o conseguir contar histórias, conseguir fazer quase política. Eu, por incrível que pareça, não me sinto um ser nada político, não sou nada aficionado em partidos, mas depois eu acho que o que eu faço através dos meus desfiles não deixa de ser uma forma de política. Quando reivindico coisas, quando negocio coisas. De uma forma social, estou a fazer política. E, portanto, para mim é essencial que eu comunique e que faça statements através dos desfiles. Acredita, portanto, que a moda é capaz de transformar a sociedade e a consciência humana? DINO: Acho, acho. Até porque é um campo da vida das pessoas onde existe muito apelo, as pessoas facilmente sentem apelo quando veem determinadas peças de roupa, desfiles, campanhas, porque tem sempre alguma magia. Ainda por cima há uns anos atrás, vou fazer uma redundância, mas a moda não estava tanto na moda. As pessoas não davam tanta importância à moda. A partir de uma certa altura, eu lembro me porque dei algumas aulas em cursos de modelo, eu percebia que os miúdos eram fascinados por tudo o q tinha a ver com moda. Hoje em dia, também com tudo o que tem a ver com espetáculo, com teatro, com televisão. E, portanto, há muita vontade de pertencer a este mundo por parte das gerações mais novas e não têm o mesmo conhecimento de que moda não é apenas uma coisa de glamour e de beleza. É uma indústria complicada, ser designer de moda durante muitos anos não é uma coisa fácil. Também há muitos espinhos neste mundo. Por isso, eu acho que, para o bem e para o mal, porque a moda também já influenciou negativamente as pessoas, eu espero que também consiga influenciar de uma forma positiva. A forma negativa que eu falo é no apelo ao consumo desmedido e chegamos a um ponto em que se tem de ter realmente cuidado com o planeta e, sendo que a moda é um dos setores mais poluentes do planeta, está na altura de fazer alguma coisa para contrariar isso.

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Fall20 collection ©Ugo

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Camera


Os desfiles apresentados pelo DINO carregam uma forte veia performativa. Qual é o papel do espetáculo na elevação das mensagens? DINO: Na verdade, é um complemento porque os espetáculos normalmente têm sempre a parte performativa. Vem sempre do conceito da coleção, ou seja, é uma consequência e, portanto, ajudam, muitas vezes, até mais do que a própria roupa porque nós, quando definimos um conceito, é apenas um ponto de partida. Nós inspiramo-nos numa ideia, seja um filme ou uma mensagem. Eu normalmente inspiro-me sempre mais em coisas de caráter humanitário, social, nunca me inspirei muito em épocas ou em filmes. Há outros designers que se inspiram muito em filmes ou em bandas musicais. Não é tanto a minha fonte de inspiração, são essas questões sociais ou coisas da minha história como foi este último desfile desta última estação de inverno. Mas a parte performativa é o que ajuda mais a passar as mensagens que eu quero, porque, às vezes, só pela leitura das peças que vemos, pode não ser o suficiente para perceberes qual é que é a ideia, a mensagem. E a parte performativa ajuda sempre muito. 121

Na conceção de uma coleção, qual é o peso da vertente conceptual comparativamente ao lado usável do vestuário? DINO: Eu acho que foi isso, também, que me destacou do resto e que contribuiu para esse título de enfant terrible em que eu sempre fui absolutamente livre de fazer o que quero. Ou seja, eu faço um vestido muito bem feito e com um bom tecido, mas depois, se no final eu achar que aquilo precisa de ser rasgado ou sujo com tinta, eu não me inibo de o fazer. Depois, com o andamento da minha carreira, há sempre compromissos que vamos tendo que assumir, por exemplo, clientes em quem temos que pensar um bocadinho quando estamos a desenhar uma coleção. Eu comecei a introduzir um bocado dessa preocupação e fazer peças que eu sabia que elas iam gostar e que iam adquirir. Houve, portanto, a uma certa altura, um compromisso entre a minha liberdade e as minhas intuições com essa parte de “eu tenho esta cliente, eu sei que gosta deste tipo de peças, eu vou adaptar”. Ou seja, essas peças comerciais nunca podem sair do universo da coleção, têm que estar, de alguma maneira, de acordo. De qualquer maneira, a preocupação é sempre focada na parte mais conceptual. Depois, no desenvolvimento, é que começo também a pensar “se meter umas camisas brancas, fica bem conjugar com isto” e, no final, com as peças colocadas no charriot, há sempre umas peças mais básicas e as pessoas nem se apercebem, porque a forma como o styling é feito, por vezes, fica exuberante, mas retirando e separando as peças todas, há de facto algumas mais básicas e mais usáveis. Existem muitos equívocos em relação ao seu trabalho? Quais são os principais? DINO: Claro que há sempre pessoas que olham, veem, gostam, mas nem sabem muito bem porquê. Mas há pessoas que me vêm dizer coisas e eu percebo que elas perceberam muito bem e têm percebido ao longo dos desfiles o meu estilo e conseguem identificá-lo. Então, eu não sinto que haja muitos equívocos sinceramente. Não me lembro de ter tido alguma opinião de alguém que eu tivesse pensado “ok isto está mesmo ao lado”. O DINO iniciou-se nas artes plásticas. Alguma vez ponderou seguir outra carreira além de designer de moda? DINO: Eu, quando tive que decidir pela área que eu queria para continuar os estudos, optei por pintura, embora sempre tenha sentido que a moda também estava na minha vida. Eu lembro-me, com cinco ou seis anos, já era atento e já era eu que gostava de escolher a minha roupa e tive alguns episódios que denunciam muito bem isso. Por exemplo, com

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seis ou sete anos, eu meti na cabeça que queria ter um daqueles conjuntos jeans and jacket tipo vaqueiro, e lembro-me, na altura eu ainda vivia em Anadia, de ter feito os meus pais correram todas as lojas que havia entre Coimbra e Aveiro e a roupa não existia em lado nenhum. E, até hoje, não consigo perceber muito bem se eu sonhei com aquilo, se eu vi alguma imagem daquilo, mas o facto é que os meus pais, e isto é um sinal muito forte, ampararam-me o jogo, ou seja, andaram comigo e isso significa que percebiam que eu já tinha alguma personalidade forte em relação a isso. A dada altura, depois de percorrermos não sei quantas boutiques, aparece-me a empregada da loja vinda do armazém com o conjunto e eu lembro me, ainda hoje, da sensação quando vi aquilo que parecia uma espécie de um milagre. Isto eram sinais que já adivinham esta tendência. Mas pronto, estudei pintura, na altura a moda também não era o que é hoje, nem era vista como é hoje. Na altura, eu achava que moda era uma coisa mais de costureiro e menos artístico, menos intelectual. Hoje em dia, eu já acho que a moda é outra coisa, uma expressão artística. Então, a moda aconteceu por acaso, porque eu vim para Lisboa para fazer carreira de artista plástico, depois fiz um desfile que achava que podia ser só uma coisa isolada e a partir daí não tive hipótese. Mas, neste momento, e ao longo destes anos todos, sempre tive vontade de voltar outra vez a pintar porque, às vezes, tinha mesmo saudades do ato em si ocorre-me esta ideia de que um dia posso afastar-me da moda, no sentido, deste ritmo de estar a fazer desfiles. Claro que não me vou conseguir afastar completamente da moda, mas falo neste compromisso, e talvez voltar um bocadinho às artes plásticas. E, por acaso, nesta quarentena tenho dado um passo em relação a isso e tenho estado a pintar. Quem sabe um dia poderei deixar a moda e voltar novamente ao início.

Além da moda de autor, também trabalhou como stylist e como figurinista de espetáculos de dança e teatro. Em qual das áreas mais se revê? DINO: Moda de autor é sempre onde eu tenho mais liberdade, onde eu não devo satisfações a ninguém, digo aquilo que quero e expresso-me como quero. Também gosto imenso de fazer figurinos, mas há sempre, à partida, uma reivindicação, existe um espetáculo que tem um texto ou um encenador e eu tenho de ir de encontro. É claro que é sempre possível pôr o nosso cunho pessoal em tudo, mas há aqui uma condução inicial que nos retira alguma liberdade. Existe um diretor de projeto que já tem as coisas mais definidas daquilo que quer e eu tenho que ir ao encontro. Portanto, nas minhas coisas, é onde faço aquilo que realmente quero. Qual considera ser a principal raison d'être da marca? DINO: É a minha forma de me expressar, é assim que eu comunico. Podia ter sido na pintura ou na instalação ou na videoarte, mas aconteceu na moda. E claro que depois se foi consolidando e é a minha forma de viver, é daí que eu retiro a minha subsistência e o dinheiro para viver, embora às vezes eu gostaria que não tivesse que o ser, que fosse só mesmo por uma questão de me expressar e de me fazer dizer aquilo que eu quero. Mas claro que também tem essa componente, é o meu business. Mas é sobretudo a minha forma de me expressar não só aquilo que eu quero dizer, mas também os meus valores, a forma de estar na vida.

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1997

entrevista por PatrĂ­cia CĂŠsar Vicente

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fotos por Inês Costa Monteiro produção Maria Sande e Castro styling Patrícia César Vicente make-up & hair Eduardo Estevam ass. make-up Mafalda Gonçalves Agradecimentos ao 1908 Lisboa Hotel

INÊS FARIA 125

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Conheci a INÊS por estar a fazer o guarda-roupa para uma série da RTP Play. Já nos tínhamos cruzado anteriormente por razões profissionais, no entanto, conhecer a sério só mesmo através da série. Acredito que em próximas edições vos possa trazer e falar sobre esta série da RTP Play, com actores incríveis e toda uma equipa com quem tive o prazer de trabalhar. Certo dia falei-lhe sobre um texto que tinha escrito em 2018 para a PARQ sobre o que é ser influencer em Portugal, e que gostava de a entrevistar nesse sentido. Quando dei por mim já estava a pensar num editorial, já tínhamos equipa e a entrevista seria muito mais do que é ser influencer. Porque a INÊS começou por ser actriz, o Youtube e ser repórter só veio a seguir. Todo o seu percurso em diferentes áreas, já é mais do que motivo para esta entrevista. Nas respostas da INÊS temos a sinceridade, a frontalidade que tantas vezes falta. Sempre com uma enorme educação e humildade, mas sem nunca deixar nada por dizer. Acredito que quem ler a entrevista será surpreendido por aquilo que é dito por esta miúda/mulher de vinte e três anos. Complexos, cunhas, haters, meio artístico, youtube, castings, sonhos. Foram ditas tantas coisas. Mas com a certeza de que a INÊS com o passar do tempo terá cada vez mais para contar. INÊS, já te disse pessoalmente mas deixo também por escrito, muito obrigada!

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Como é que iniciaste o teu percurso?

INÊS: A paixão por representar começou muito nova.

É aquele cliché de começar desde pequenina a fazer teatros em casa e as pessoas dizerem “tens jeito para isto”. Até pedir à minha mãe para começar a fazer workshops…

PCV: Isso com que idade? INÊS: Com 13, 14 anos. Comecei a fazer cursos, workshops e um dia num curso dado pelo director de castings da Plural, fui chamada por ele para ir a um casting para um telefilme. Na altura para a RTP. Chego lá e lembro-me de ver outras miúdas que já eram conhecidas da televisão. Estavam bem vestidas, maquilhadas e eu tinha ido directa com a farda do colégio. Na altura, eu tinha caracóis e estava numa fase em que estava muito magra. No final do casting, o realizador disse-me até já. Pediram-me para ficar até mais tarde para dar contracena a outros actores. Disse à minha mãe que tinha ficado, e a minha mãe alertou-me para não criar expectativas. Ela estava a tentar colocar-me os pés assentes na terra. Na semana a seguir ligaram-me a dizer que tinha ficado seleccionada como protagonista do telefilme “Jogos cruéis”. Foi o meu primeiro casting e fui seleccionada, eu não cabia em mim de tanta felicidade. Adorei a experiência e decidi que tinha de me formar. Tinha de ter uma formação porque eu não tinha noção do que era aquilo. Disse aos meus pais, pedi-lhes para sair do colégio no 9°ano e ir para a escola profissional de teatro em Cascais fazer do 10° ao 12°ano. E os teus pais? INÊS: Foi um escândalo, mas “se é o que tu queres, então vai ser”. Fiz as audições e fui aceite. Comecei a escola de teatro e logo a seguir ligaram-me a dizer que me tinham gostado muito de ver nos “Jogos Cruéis” e que por isso, estavam a contar comigo para a próxima série da RTP que iria durar três meses, o “Bem-vindos a Beirais”. E na altura estava tudo a ser óptimo. Estava a estudar o que queria, estava a trabalhar no que queria. Uma série que eram para ser três meses acabou por durar três anos e tal. Devido ao sucesso que teve.

INÊS: Exactamente, e continuei sempre a estudar e a trabalhar ao mesmo tempo. E foi ai que comecei a fazer várias coisas.

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Daí até seres digital influencer, seres repórter para a RTP… INÊS: Passaram vários anos. Tenho 23 anos. Estive na escola de teatro em Cascais, demorei mais um ano porque estive a fazer melhoria de notas e porque nem sempre consegui ir às aulas devido a gravações. Chegavam a ir-me buscar á escola duas vezes ao dia para gravar. Depois terminei, elogiaram o meu trabalho e acabei por ficar um ano a fazer melhoria de notas para perceber o que fazer da minha vida. Se aparecia outro trabalho, se ia para o conservatório, se ia para a faculdade, se não ia fazer ensino superior. Não surgiu mais nada de grande, eram apenas pequenas participações, coisas muito pontuais. Eu ia aos castings, toda a gente dizia coisas como “Incrível, fabuloso”, ou, “foste a melhor que passou aqui hoje” mas depois não passava daí. Até que pensei que tinha tido três anos e meio muito intensos, em que estudava teatro, gravava e percebi que era muito nova, e que precisava de sair do meio, e tirar um curso dito normal. Até para conseguir ver as coisas de fora e não enlouquecer. Porque depois estava sempre a pensar que não tinha trabalho, que não era boa o suficiente, que era por ser gorda. Eu sempre… Sempre tiveste complexos?

INÊS: Sempre tive complexos e sempre fui mais chei-

nha do que as miúdas que apareciam na televisão.

E tu sentias que isso na altura fazia grande diferença, ou, eram coisas da tua cabeça? INÊS: Não, eu acho que sempre fez. Porque nós olhamos para as novelas de hoje em dia e as miúdas das telenovelas são top models. Há tanta gente que sai todos os anos das escolas de teatro e do conservatório, e como não são lindas de morrer com as medidas que eles idealizaram não têm essa oportunidade. Podem ser incríveis, podem representar mil vezes melhor mas a verdade é que a televisão é imagem. Continua a ser imagem. Não me venham dizer que não é. É. Ou se não tens a imagem, tens de ter uma cunhazita. Ainda sobre o teu percurso?

INÊS: Decidi tirar Relações Publicas e Comunicação

Empresarial na Escola Superior de Comunicação Social, onde estive durante três anos. Como me habituei a trabalhar desde muito nova pensei “então, e agora só vou estar a fazer o curso?”. Comecei a pensar nas coisas que gostava. E foi a meio do primeiro ano do curso que pensei no Youtube. Que na altura estava a começar a crescer e eu própria via muitos vídeos do Youtube. E foi daí que tudo começou, eu lancei um vídeo às nove da noite e no dia a seguir tinha um agente a falar comigo e que 128

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gostava de fazer comigo esta caminhada do digital. Portanto, foi tudo muito rápido. Eu tive logo um crescimento muito grande, não sei se era por as pessoas já me conhecerem da televisão, mas eu já tinha Instagram na altura e não tinha estes números. Acho que o Youtube foi mesmo a alavanca. Talvez porque na altura não haviam assim tantos Youtubers em Portugal… INÊS: Não havia tantos. E depois há sempre aquela coisa dos actores. É misterioso. Como é que eles são sem estarem em personagem?! INÊS: Exacto! E de repente lá estou eu a ser a INÊS FARIA. Claro que não vou dizer que sou só a pessoa que está nos vídeos, há se calhar ali um bocadinho de representação. Mas sou eu, não é nenhuma personagem. É a INÊS FARIA a falar com a sua audiência, a falar sobre as suas coisas, dos seus problemas, das suas conquistas, com os seus vídeos de palhaçadas. Sentes uma enorme responsabilidade sempre que publicas um post por teres tantos seguidores, ou para ti funciona tudo de forma espontânea? INÊS: Penso muito e gostava de pensar muito menos. Eu edito as fotografias e depois mando sempre para o meu grupo de amigas, para o Rúben, porque às vezes passo tanto tempo a olhar para as fotografias a ver defeitos. Não posso simplesmente postar o que me apetecer. Se eu colocar aquelas fotografias mais artísticas, essas fotografias não batem. Não vão ter alcance, gostos. Tu começas a perceber o que é que a tua audiência gosta. Se tu queres trabalhar no digital tens de ir ao encontro da tua audiência e dar-lhes o que eles gostam de ver. Há muita gente que faz publicidade da maneira como o cliente diz, mas depois por isso é que as pessoas dizem que as publicidades são todas iguais. Mas muitas das vezes, são os clientes que não dão abertura para. Gosto sempre de propor coisas diferentes, gosto sempre de dar o meu cunho pessoal. Há uns que recebem bem as ideias e há outros que não aceitam e querem tudo igual para toda a gente. Depois é tentar ser a INÊS FARIA, mesmo quando recebo o briefing que foi enviado para toda a gente que também irá fazer a mesma publicidade.

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INÊS: A…

Agora aquela pergunta…No meio dos Youtubers…há, ou, não há rivalidades?

Não queremos nomes, não são precisos nomes. INÊS: Não…Eu vou ser sincera. Como em todas as profissões há pessoas que admiro muito e há pessoas que eu simplesmente não me identifico. Às vezes não me identifico com o conteúdo que eles fazem mas admiro-os como profissionais, mas também há pessoas que eu acho que têm um boost gigante e sinceramente não trabalham tanto assim, não se esforçam assim tanto. Portanto, rivalidades vão existir sempre. Mas por vezes, as rivalidades até são boas porque ajudam-nos a sermos melhores. Claro que o desafio tem de ser sempre contigo, tens sempre de tentar fazer melhor. Mas ao veres o post de alguém que fez um trabalho bem feito, mais fora da caixa puxa-te. Se eu não tivesse concorrência fazia como queria, nem tinha de me esforçar muito porque era a única. Existem patamares de Youtubers? INÊS: Há. O youtuber muito conhecido não se dá com um que não seja tão conhecido, que ele sinta que não está ao nível dele? INÊS: Sim, os grandes. Há muito esta coisa de “não lhe quero dar seguidores”. O que é dar seguidores?

INÊS: Tu se tiveres imensos seguidores e se tu fa-

zes um post comigo, é claro que eu vou começar a ter mais seguidores. Se tiveres num storie com uma pessoa que tem meio milhão de seguidores, ou, um milhão, se identificares alguém, essa pessoa vai subir o número de seguidores. Às vezes há youtubers que até estão contigo, mas não te identificam de propósito que é para tu não teres esses seguidores. Se até for por não se identificar com o meu trabalho, compreendo. Não vão estar a dar notoriedade a uma pessoa que não se identificam, mas muitas das vezes, é só egoísmo. E há mercado para todos, já percebemos que mesmo apesar de haverem muitos há mercado para todos. Acho o mercado da televisão muito mais difícil, é muito mais pequenino. No digital és tu por ti, quanto mais trabalhas mais coisas acontecem. O que pode acontecer é demorares muito a crescer. Vês raparigas incríveis, com ideias criativas e depois têm poucas visualizações.

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E porque é que tu achas que isso acontece?

INÊS: Se calhar não conseguem criar empatia com o

público. Conseguem ter fotografias incríveis, mas se calhar não comunicam com a sua audiência. E depois a audiência acaba por não se identificar com as fotografias. Fotografias em hotéis muito caros e as pessoas que a seguem não querem continuar a seguir essa pessoa porque pensam “esta pessoa só me vai deixar triste e mal, porque se eu não consigo ser como ela…”. Lá fora funciona imenso ostentar tudo e mais alguma coisa, mas em Portugal não. Somos um país de invejosos. As pessoas cobiçam muito o que é dos outros.

Qual a melhor e a pior parte de seres reconhecida, seja como digital influencer, actriz ou repórter? INÊS: A melhor é poder fazer aquilo que eu gosto. Que neste caso, a primeira será sempre representar. Sempre. As outras coisas vieram por acréscimo. O digital veio numa de me dar visibilidade para mais pessoas me poderem ver e ser chamada para a representação. Repórter surgiu e aceitei o desafio, até porque devemos sair da nossa zona de conforto. A parte melhor é fazer o que amo. O que menos gosto será talvez as pessoas não olharem para mim como uma miúda igual ás outras. Eu ainda só tenho vinte e três anos e desde os dezasseis que me apontam o dedo. Tudo era criticável, sem margem para erros. E sinto que cada vez é mais isso. Quando me apresentam a alguém, as pessoas já têm uma ideia pré-definida de mim e esquecem-se que aquilo que eu mostro é apenas uma parte de mim. E os comentários. Os melhores e aqueles que até podem magoar. Como é que se resolve isso por dentro? Já duvidaste do teu valor, ou do teu trabalho devido a comentários negativos. INÊS: Ao início era uma coisa que mexia muito comigo e com a minha auto-estima. Muito. Pode parecer que toda a gente diz isto, mas com o tempo tu vais mesmo aprendendo a relativizar. Eu sou a favor das críticas, mesmo que sejam negativas, desde que sejam construtivas. Mas há maneiras e maneiras de dizer as coisas e tu vês perfeitamente que os comentários que me atingiam eram aqueles que tinham ódio por trás. Quando fazes o distanciamento e percebes que do outro lado está uma pessoa infeliz que só quer mandar o outro abaixo sem o conhecer, é porque não vale a pena. Os comentários de ódio servem como uma carta para quem os escreve e não entendem como podem estar a ferir os outros.

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Um momento mais embaraçoso.

INÊS: A minha vida é feita de momentos embara-

çosos. Eu coloco-me em situações embaraçosas e as pessoas à minha volta dizem isso. Porque eu muitas das vezes podia só estar calada, mas não.

E o mais feliz, em que te sentiste reconhecida pelo trabalho. Algo mesmo especial. INÊS: Na altura em que fiz o meu primeiro trabalho fui muito acarinhada por pessoas da área. Que viram o meu trabalho, ninguém me conhecia. Na minha família ninguém é artista. E dizerem-me coisas para me motivarem e elogiarem o meu trabalho deixou-me muito feliz. Escreveste um livro. Ele foi mesmo escrito por ti. Terminaste a tua licenciatura. Tens um canal do Youtube. És repórter da RTP. Já fizeste séries. Tens vinte e três anos. Vou repetir: tens vinte e três anos. Os teus pais e os teus amigos de infância não olham para ti e dizem: “Ó Inês que orgulho! Nós acreditámos sempre em ti, mas tu…superaste qualquer expectativa!” Ou é-lhes indiferente e dizem: “Lá está a Inês outra vez num dos seus trezentos e noventa e sete trabalhos!” INÊS: É verdade que eu faço muitas coisas ao mesmo tempo. Que até é difícil de explicar à minha avó o que é que eu faço. Como é que tu explicas que fazes digital, mas também sou actriz… E a tua avó diz-te “mas eu só quero dizer à vizinha da frente o que é tu fazes, escolhe”… INÊS: Eu até brinco e digo-lhe que sou freelancer. No fundo sou freelancer. Os meus pais ficam muito contentes com as minhas conquistas, mais do que isso, eles ficam felizes quando eu estou feliz. Eu sei que dizem a outras pessoas, não me dizem a mim directamente, mas eu sei que eles têm orgulho em mim. E o facto de eu nunca parar de trabalhar. Entre fazer os Beirais e o Youtube, enquanto não tinha trabalho fui entregar o meu curriculum ao Fórum Sintra para trabalhar em lojas, fui a papelarias tentar arranjar trabalho porque não queria estar parada. As pessoas diziam “Mas tu fizeste televisão e agora vais trabalhar para uma loja de roupa?!”… Há preconceito? INÊS: Há! Deixei vários CV's no Fórum Sintra e nunca recebi um telefonema. O que é que há de errado em mim? Sou uma miúda nova, com escolaridade, trabalho desde cedo. Eu não ía mentir, a única coisa que eu tinha no curriculum eram mesmo trabalhos como actriz, que era a única coisa que até 132

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aquela altura eu tinha feito. Eu tentei de tudo, nunca me encostei e estive sempre a trabalhar e acho que esse sim, é o grande orgulho dos meus pais. Para esclarecer todas as pessoas que vão ler esta entrevista. Tu és mesmo simpática e educada para toda a gente, és mesmo. Já trabalhámos juntas e tu cumprimentas toda a gente assim que chegas e despedes-te de toda a gente antes de saíres e sempre com um “Obrigada a todos!” E isso foi uma das coisas que me fez reparar em ti. És tão nova, não te deixas deslumbrar. Como é que manténs os pés tão assentes na terra? INÊS: Tenho noção de que eu não sei nada. Tenho só vinte e três e ainda não sei nada da vida. Só sei o que me aconteceu até agora. Se eu estou naquela fase da vida que só tenho a aprender com os outros, então, eu serei o mais educada possível e acho que assim as coisas fluem muito melhor para todos do que estar aqui com a mania de que eu sou alguma coisa e as pessoas olharem-nos de lado. Mas tu sabes que existem pessoas da tua idade que têm um sucesso, ou têm milhares de seguidores e depois têm aquela atitude de acharem que podem passar à frente de pessoas que já deram provas do seu trabalho ao longo de muitos anos de carreira… INÊS: Mas sabes que no futuro são essas pessoas que têm trabalho, infelizmente não são as pessoas que são bem educadas e certinhas. Quando for para chamar para outra novela, chamam as mesmas e se calhar não vão chamar uma pessoa como eu. Isso é triste. E porque é que tu achas que isso acontece? São só cunhas? INÊS: Não sei, acho que no final, mesmo no final a bondade e a educação vai sempre vencer. Quando tivermos para aí oitenta anos…

INÊS: Até lá, se calhar vês muita gente a passar-te à

frente. Acho que foi um actor que fazia os Beirais, já não me lembro quem e não quero estar a falhar no nome. Mas disse-me “o mar acaba por deitar fora tudo o que é mau”. E eu acredito muito nisso, que devemos ser sempre o mais correctos e educados. Claro, que se eu tiver alguma coisa a dizer serei a primeira a fazê-lo. Mas acho que mais depressa vou chegar a ti se for educada e compreensiva, do que desatar a disparatar.

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Sentes que as pessoas que têm mais dinheiro conseguem mais facilmente ter mais seguidores, terem mais visibilidade. Ou como actriz, quem tem dinheiro pode estar mais à vontade no meio. Tem forma de se manter a ir a castings sem ter de fazer outros trabalhos, por exemplo. INÊS: Claro que sim. Claro que tu para começares seja o que for tem de haver um investimento inicial e se tu não tens para começar... O Youtube é a prova de que tu podes começar do nada, só com a câmara do telemóvel. Tens pessoas que quando começaram a fazer vídeos passavam dificuldades, e que hoje em dia têm uma boa vida. Claro que vai chamar muito mais a atenção se viajares imenso. Se comprares isto ou aquilo, mas isso não condiciona se fores criativo. Se a audiência se identificar contigo, se tiveres dificuldades que é aquilo que toda a gente tem hoje em dia. Não mentindo, há pessoas que vão pensar “isto é mesmo assim”. Lembro-me de que quando andava de transportes públicos brincar com situações e havia imensa gente que achava piada. Agora não vamos ser hipócritas, o dinheiro ajuda imenso. Com inputs, materiais e coisas superiores. Mas depende de muitos factores. Sentes que por também seres digital influencer e apresentadora, as pessoas têm dificuldade em te dar espaço na representação. Sentes que tens de lutar mais para mostrar do que apenas quem é visto como actriz? INÊS: Eu tenho pensado muito nisso. Eu quando comecei com o digital queria ter mais visibilidade para a representação e agora sinto que me esforcei tanto na parte digital, as pessoas podem achar que se sou digital influencer e já não sou actriz. E eu tenho medo e tento separar as duas coisas, e faço questão de recordar os seguidores e toda a gente que o meu sonho é trabalhar como actriz. Ainda agora que estive a gravar o “Glória” para a RTP Play recebi imensas mensagens de pessoas a dizerem que estavam felizes por mim, por eu estar a fazer o que gosto. Eu estudei e quero ser actriz. Eu quero servir outros personagens. És actriz, estás a lutar pela tua carreira. És uma pessoa muito trabalhadora e esforçada. Mas já foste a castings e recebeste um não. Como é que aprendeste a viver com esses nãos? E as cunhas? Os amigos dos amigos que passam à frente e não é pelo seu esforço. Acontece em todas as áreas, bem sabemos. Mas como é que lidas com isso? INÊS: Sim, há castings em que já têm a pessoa definida mas chamam-te para casting só para parecer 134

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bem, como se as pessoas não tivessem mais nada para fazer. Eu ainda não aprendi a lidar com isso. Podia estar aqui a dizer que sou bem resolvida com isso, mas não. Acho que isso é um lado meu que tenho de crescer. Perceber que o mundo funciona assim, vai haver sempre o filho da prima e a prima do cunhado, e que a minha vida é dificultada porque ninguém da minha família trabalha no meio. O que mais me custa é que vou aos castings e dizem-me que fui sempre incrível. Acho que nunca sai de um casting a dizerem-me que “não era bem isto que estávamos à procura”. Já fui várias vezes a decisões finais e no final vai ser para outra. Porque é mais magra, mais cativante para o público porque tem ali um tachinho com a agência e ela tem de entrar. Eu até me custa dizer estas coisas porque tenho medo que isto me tire trabalho, percebes? As cunhas irritam em todo o lado, há em todas as profissões. Mas o que mais me custa é dizerem sempre que correu bem e depois nem resposta me dão. Preferia que dissessem logo que eu não correspondia e aceitava perfeitamente, porque faz parte. E também já ficaram seleccionadas actrizes muito mais talentosas do que eu, digo isto sem qualquer problema. Um sonho?

INÊS: Quero muito trabalhar como actriz. Conciliar

com outras coisas, mas trabalhar como actriz. Uma meta pessoal ou profissional?

INÊS: Alcançar uma certa estabilidade financeira que me permita dar aos meus filhos aquilo que os meus pais me deram a mim.

Um lema de vida? INÊS: Acho que muda muito, se calhar quando tens mais idade já terás definido esse lema de vida. Mas ao longo da vida vai mudando muito. Há dias em que é “deixa acontecer”, noutros dias será “o foco e o trabalho são preciosos”, vai mudando muito. Mas o principal é saber que de forma educada e honesta podemos ir longe e alcançar coisas as coisas que sonhamos.

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MODA


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YOU.

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fotograf ia DIANA NE TO ( @diananetophoto) styling DANIEL A GIL ( @gildanielar)

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make-up NATA MIRKINA ( @mirkina1) hair AGNES K ANAPECK AITE ( @letshair) model EWA TRABINSKA ( @ewa _trabinska) @weare_models

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top M A L E N E B I RG E R calções L AC O S T E ténis C O N V E R S E

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polo L AC O S T E colete C O S รณculos LO N G C H A M P

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camisola gola alta T W I N S E T casaco malha F R E D P E R RY

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polo, saia e mala L AC O S T E colete C O S botas H U N T E R รณculos LO N G C H A M P 141


camisa C O S colete e calรงas CA R H A R T T carteira L AC O S T E botas C O S 142


camisola gola alta, calças e cachecol TO M M Y H I L F I G E R tÊnis VA N S meias H A P P Y S O C KS 143


camisola F R E D P E R RY chapĂŠus CA R H A R T T

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camisola gola alta T W I N S E T pullover F R E D P E R RY casaco malha Ă s riscas M I S S O N I saia C O S tĂŠnis VA N S

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camisa e calças C O S pullover M I S S O N I botas TO M M Y H I L F I G E R chapÊu BA R B O U R 146


camisa e calças C O S pullover M I S S O N I chapÊu BA R B O U R

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camisa C O S

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hoodie G O N ร A LO P E I XOTO casaco VA N S รณculos D K N Y

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O CA F É Q U E N O S FA Z V I A JA R A PA R I S CA F É S ÃO texto por Jéssica Lima

Já abriu o novo espaço de São Bento. CA F É S ÃO é o amor à primeira vista de S I D O N I E S I L I A R T, que inspirada num dos seus cafés favoritos decidiu abrir um espaço parisiense bem no coração de Lisboa. Devido ao período de pandemia, à entrada os clientes devem utilizar máscara e podem encontrar desinfetante para as mãos. O coronavírus atrasou a abertura do café mas S I D O N I E S I L I A R T, afirma de momento não sentir o impacto da pandemia —“sigo todas as regras, e tomo todas as precauções”, como “reduzir o número de clientes”.

O desejo é que os clientes encontrem o melhor da pastelaria francesa, bons produtos e bom café. O lema é simples: “Simple real food for nice people”, uma promessa da proprietária que afirma querer “utilizar bons produtos de uma maneira simples”. A chefe do espaço é a E L E N A C L E R I C I (@pepinopastry no Instagram) e confeciona os mais variados símbolos da cultura francesa. Entre Tartelette de morango, cookies, babka de pistácio, ou, abacate bun, como opção vegetariana. O CA F É S ÃO oferece um menu variado dos melhores sabores franceses que podem ser acompanhados com café. Este pode ser servido das mais variadas formas: expresso (90 cêntimos), cappuccino (2,70€), latte (3,20€), americano (2€), entre outras opções mas sempre detalhado com desenhos de espuma. Pode ainda encontrar opções de salada, sandes e tostas, onde pode experimentar os sabores mediterrâneos e distinguir os produtos orgânicos utilizados. As opções passam pela sandes coppa (5,5€), salada caprese (6,5€), e tosta corque-monsieur. Há ainda a oportunidade de optar por um doce como muesli caseiro torrado e iogurte grego orgânico (4,50€), ou, iogurte grego e compota orgânica (3€) que pode acrescentar fruta ao gosto. No espaço pode encontrar um pequeno mercado, onde estão à venda produtos, alguns deles biológicos, que são utilizados na confeção dos alimentos consumidos no local. S I D O N E S I L I A R T destaca a utilização de canecas e pratos de cerâmicos feitos à mão pela marca C EC I L E*M , e as bases de madeira da R I VA L , que segundo a proprietária dá um toque especial ao seu espaço. No futuro, o café pretende criar workshops noturnos em conjunto com a marca R I VA L na confeção de colheres de madeira, e workshops para as pessoas aprenderem a fazer café.

CA F É S ÃO Rua São Bento, 102, Lisboa Qua. → Sex. 8h30 → 16h30 Sáb. → Dom. 9h → 17h T. +33 6 86 28 44 13 150

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LO JA FOR A

FORA abre a sua primeira loja no norte do país, levando a sua paixão pelo design de óculos para uma das principais ruas da cidade invicta. A loja encontra-se na Rua Mouzinho da Silveira, 280, perto da Estação de São Bento no Porto. Na loja pode encontrar toda a coleção FORA, assim como mais de 40 lentes ZEISS de diferentes cores e características, tendo a oportunidade de personalizar cada modelo e criar o seu modelo único. O espaço é inspirado no design Escandinavo, tal como as duas lojas da marca já existentes em Lisboa. Pode encontrar uma arquitetura clean e minimalista, que dá destaque aos tons de cinzento e materiais como: o microcrimento, viroc e inox.

texto por Jéssica Lima

FORA Rua Mouzinho da Silveira, 280, Porto Ter. → Sáb. 10h → 14h 15h → 19h 152

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LO JA DSQUA RED 2 texto por Jéssica Lima

D S QUA R E D2 Avenida da Liberdade, 125, Lisboa

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A D S Q UA R E D2 chegou a Portugal. O espaço encontrase no número 125 da Avenida da Liberdade, em Lisboa, e conta com 240 metros quadros distribuídos em dois pisos. A nova loja conta com uma decoração inovadora que reflete um conceito arrojado e contemporâneo. Na fachada pode encontrar uma grande entrada e seis janelas expansivas que transmitem uma declaração visual poderosa. O espaço é aconchegante porém permanece aberto e convidativo. Mármores, tapetes, cimentos, madeira laqueada, latão, pedras e gesso sem acabamento são alguns dos elementos decorativos das salas da loja. Cada sala tem um ambiente “único e distinto” que passam pelo intenso tom de bordeux ao cinza. Os responsáveis afirmam que para além das cores e superfícies das paredes, existe um “quebra‑cabeça de vários níveis” que identifica cada um dos espaços: pisos de mármores luzerna com juntas coloridas que se misturam com cimento e uma carpete bicolor, o que cria um movimento de alternância entre áreas suaves

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e outras mais rústicas da loja. Todos os móveis e utensílios da loja foram feitos à medida, desde bancos a abajures, de mesas de mármore e móveis que remetem a uma estética tradicional mas reinterpretada de uma forma contemporânea. A loja oferece as peças icónicas das coleções Dsquared2: moda feminina, incluindo a linha cápsula de cocktail e vestidos de noite; moda masculina, incluindo a coleção clássica e uma linha de fatos e smokings feitos sob medida italiana. A marca dá ainda destaque à coleção de acessórios, moda de praia e roupa interior que se encontram disponíveis em loja. A marca criada em Milão celebra um quarto de século da sua existência. Os irmãos Dan e Dean foram os responsáveis pela criação da marca italiana, uma vez que tinham a ambição de criar algo “diferente e único”, com a sua assinatura pessoal. Foi após várias colaborações com marcas de renome internacional que nasceu a D S Q UA R E D. A marca foge um bocadinho ao estilo tradicional italiano e aposta em jeans mais leves e descontraído.


LO JA BA R RO texto por Francisco Vaz Fernandes

Dois amigos de longa data, brasileiros, reencontrados em Lisboa, resolveram abrir uma loja num daqueles cantinhos pitorescos que só esta cidade tem. Chama‑se da Silva mas todas a conhecem pela rua verde, porque os seus moradores insistem, com os seus vasos à porta, que seja a mais florida da zona de Santos. Dada esta circunstância, BA R RO, foi desde logo o primeiro nome que surgiu para a loja quando A L ES S A N D RO R A D LO F F e CA RO L C O S TA FA NJ U L encontraram esse espaço. Imaginaram que teriam obrigatoriamente vasos e plantas para vender que agora aparecem como um complemento para comporem um espaço. No essencial vamos encontrar roupa e acessórios atemporais, fluídos, na sua maioria sem género. Juntam-se ainda peças de design e pequenas obras de arte. Mas, BA R RO, na cabeça dos seus mentores também lhes remetia para algo profundo algo que está na 154

essência do mundo e que ajudava a definir essa vontade de terem na loja um produto concebido com materiais naturais, criado em pequenas produções e fornecido localmente. A grande parte dos seus fornecedores são fábricas portuguesas, ou então, criadores brasileiros que se estabeleceram em Portugal e fabricam os seus produtos localmente. Há muito para oferecer, mas destacamos no momento os brincos de cerâmica da U N S ; peças de linho com tintos naturais da S I LV I O; óculos de madeira da J O P L I N S , que tem como ideal ser cada vez mais ecologicamente sustentável e consciente. A contrastar, tem ainda camisas da N O R que se destacam pelos estampados únicos e vistosos, para confirmar que o mundo é diverso Depois deste primeiro espaço com a loja física, procuram desenvolver uma plataforma para vendas on-line onde prometem ter mais oferta. PARQ HERE

BA R RO Rua da Silva, 27, Lisboa (Santos) Seg. → Sáb. 12h → 20h T. 913 644 381


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AT E L I E R G A S T R O N Ó M I C O T E R RO I R

A nova janela gastronómica de lisboa já abriu portas, T E R RO I R é um espaço acolhedor e descontraído que apresenta propostas criativas do chef M I G U E L VA Z . O número 186 da Rua dos Franqueiros é o resultado das viagens pelo mundo de I N ÊS S A N TO S e E R I K I B R A H I M . O objetivo era simples, criar um lugar de “convívio para visitar com amigos e família, beber um copo e degustar sabores de Portugal e do mundo”. O espaço é caracterizado por um balcão longo, em forma de meia garrafa de vinho, um mostruário e vinhos nacionais. Um projeto arquitetónico elaborado pela INVOLVE e executado pela DarkStudio. No bar destacam-se cocktails e mocktails de origem, ou inspiração vínica. Pode ainda encontrar uma janela especial que têm ligação para a rua, onde a partir do exterior pode beber o seu copo de vinho e provar várias opções da carta, ou optar pelo serviço de take-away. A open Kitchen está a cargo do chef M I G U E L VA Z que afirma “a cozinha do Terroir é uma cozinha dinâmica e criativa, com grande foco nos produtos da época, e algumas influências internacionais, e na vontade de surpreender”. Está ainda disponível uma carta, que contempla alguns pratos que já se tornam clássicos do T E R RO I R , como a batata doce, leguminosas e aroma de trufa, ou a bola de Berlim de bacalhau.

texto por Jéssica Lima

T E R RO I R Rua dos Fanqueiros, 186, Lisboa Qua. → Qui. 18h → 19h30 para a janela exterior 19h30 → 23h para refeições Sex. → Dom. 12h30 → 15h 18h → 19h30 para a janela exterior 19h30 → 23h para refeições T. 218 873 823 156

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Isle of the Dead, Arnold Böcklin 158

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CRÓNICA

A SUAVIDADE DE FALECER texto ANTÓNIO BARRADAS

Todos morremos. Sem um advérbio de modo que o coloque sequer como hipótese e com La Palice a ditar as rédeas, o certo é que, mesmo com clichês pelo meio, todos morremos. Seja qual for a nossa crença, o nosso Deus ou a arte visual à qual nos queiramos agarrar, o que muda é apenas o acontecimento depois desse fim anunciado, porém, imprevisto. Com todas as pinças usadas para tratar a morte, o Eufemismo é talvez a mais eficaz de todas. Usamos uma figura de estilo para vestir o que já ia nu ainda se gritava “água vai” à janela. Com falta de estilo, tentamos adorná-la da forma mais aprazível possível. Deixando‑nos mais longe da adversidade, mas comprometendo‑nos com ela ao mesmo tempo. Para a suavizarmos, não utilizamos o algodão nos ouvidos enquanto gritamos para não a escutar, o que fazemos é dar-lhe um nome para nos entrar de forma menos brusca e a compasso, quase como uma dança de salão no baile onde nos forçaram a ir. Chamamos-lhe falecer. Quem nos falece —porque a morte é egoísta— é alguém que se ausenta durante o tempo que permitirmos. Não foi para um caminho longínquo e pelo qual 159

nos custa caminhar. Foi ali, para a estufa da memória que revisitamos quando desejamos. Falecer é a saída mais rápida na autoestrada dos imprevistos. Nem todas as colisões têm de ser frontais, muitas podem só deixar-nos mais tempo na box, enquanto deliberamos sobre o caminho a seguir. Em Latim, fallere —verbo do qual provém falecer— significa enganar, não cumprir ou fingir. Talvez seja fingindo a melhor forma de enganar o papão da morte, quando ele nos assalta de rompante. De outro prisma, podemos afirmar que a palavra evoluiu connosco e demoslhe o cunho correspondente à dor sentida. Sem segundas intenções, só com uma: a de nos fazer aproximar de quem nos foi distanciado. As palavras serão sempre o melhor truque a ser retirado da cartola para ludibriar o fim. Neste puzzle de mais de 1000 peças, tentamos forçosamente não encontrar aquela que nos fecha no quebra-cabeças do destino. Sem quebrarmos a cabeça pelo caminho. A peça em falta está envolvida em cotão, debaixo de todos os tapetes que cobrem o nosso T3 interior. Não o arrumamos. Não por falta de tempo, por falta de vontade de organizar o que nos demorou PARQ HERE

uma vida a deixar espalhado. Bocadinho a bocadinho, sabemos, de olhos fechados, encontrar quem procuramos, sem nunca os cingirmos a uma pequena caixa de recordações arrumada por cores. Morrer é duro. Arde como uma ferida aberta feita naquele jogo da macaca, na fase da vida cuja nossa maior preocupação era tropeçar antes de apanhar a pedrinha. Marcou-nos o joelho de alegria, por que nem todas a cicatrizes servem para nos lembrar a dor de ter ido ao chão. Procuraremos sempre explicações para o inexplicável. Apontaremos o dedo durante o tempo que acharmos justo, a todos os culpados visíveis e inventados daquela coisa tão definitiva à qual evitamos chamar morte. Falecer será sempre mais uma das formas de fugir ao fim. Cada qual enfrentá-lo-á da melhor maneira (im)possível, tendo como missão essencial fazer desaparecer cada um dos fantasmas a pairar sobre toda a saudade. Todos morremos, é certo, todavia só nos morrerá quem deixarmos sair da nossa vista, nesse percurso tão longo e sinuoso que é o esquecimento. Por esse mesmo motivo, agarremo‑nos à suavidade de falecer.


M er r ell.p t M er r ellPo r t u gal

Let's Get Outside

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CA T A L Y S T S U E D E C r edível na cidade. Íncrível na natureza. A p roveita o melhor de dois mundos numa m i stura de camurça e malha com hardwear i n spirado no exterior. E s tás pronto. Nós estamos prontos . * V amos lá para fora


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