Portugal Faz Bem O melhor de Portugal
La Vie de Marie Um conto de fadas...
Tindersticks A Infinita e Bela Tristeza
Júlio Dolbeth Pós-Dama
PEDRO MAFAMA
ATRIZ
ISABELA VALADEIRO texto por FRANCISCO VAZ FERNANDES foto SÉRGIO SANTOS (@sergiosantos.studio) ass. foto TERESA ANDRADE styling RAQUEL GUERREIRO (@raquelguerreir) + MARIA NOBRE (@noble_mary) make-up BEATRIZ TEIXEIRA (@beatriz.texugo) hair EDUARDO ESTEVAM (@eestebam) nails artist SANDRA LUZ (@sandraluz + @dez_studio) sapatos LUÍS ONOFRE
Momentos em que não te sentes nada deste tempo? I S A B E L A Momentos em que se desenrolam conversas profundas, emocional e visceralmente viajo até outras décadas. Quando me confronto com a descartabilidade de certas coisas sinto-me definitivamente longe deste tempo. (Momentos em que me impõe umas calças de cintura média e as que prefiro serão sempre as de cintura alta. ☺☺).
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Momentos em que gostarias de estar já no futuro? I S A B E L A Gosto mesmo de viver um dia de cada vez e nem pensar muito no que vem a seguir. Mas, quando anseio e quero muito uma coisa, imagino-a intensamente mais à frente. Momentos preciosos do teu presente? I S A B E L A Todos os que, sobretudo agora, passo com a família e os amigos. São preciosos também, os VIP
momentos de trabalho. Sou uma privilegiada por poder trabalhar na área que escolhi. O filme da tua vida? I S A B E L A Aquarius, de KLEBER MENDONÇA FILHO; The Dreamers, de B E R TO LU C C I ; Cafarnaum, de N A D I N E L A BA K I ; Cold War de PAW E L PAW L I KOWS K I . A música da tua vida? I S A B E L A Como os nossos pais, E L I S R EG I N A .
MÚSICO
PEDRO MAFAMA texto por FRANCISCO VAZ FERNANDES foto SÉRGIO SANTOS (@sergiosantos.studio) ass. foto TERESA ANDRADE styling RAQUEL GUERREIRO (@raquelguerreir) + MARIA NOBRE (@noble_mary) make-up BEATRIZ TEIXEIRA (@beatriz.texugo) hair EDUARDO ESTEVAM (@eestebam) blazer vintage BURBERRY na Betina Vreeland, earcuff TOUS, correntes PORTUGUESE JEWELS
a de uma pessoa que pisou o mesmo chão que eu há 8 séculos, e olhou o mesmo céu estrelado que nós olhamos. Acho que todos nós, em qualquer tempo, fazemos mais ou menos as mesmas perguntas e passamos todos a vida à procura de respostas. Momentos em que gostarias de estar já no futuro? P E D R O Às vezes, gostava de chegar mais rápido a todo o sítio onde quero chegar, gostava de já ter lançado o meu álbum de estreia, e fazer já hoje tudo aquilo que quero fazer um dia. No entanto, fui aprendendo a tirar prazer no acto de fazer as coisas, e não na expectativa dos resultados. Quero saborear o momento e o processo, porque isso é tudo o que nós temos. Sinto também que, a partir do momento em que comecei a focar a minha atenção em fazer o melhor com aquilo que tenho à minha frente, em vez de viver sufocado pelas minhas ambições e pela ânsia de chegar mais longe, as coisas começaram verdadeiramente a dar certo e, comecei a caminhar para onde quero chegar um dia. Momentos preciosos do teu presente? P E D R O Sempre que consigo juntar palavras bonitas e improváveis numa letra, criar uma melodia interessante, juntar sonoridades ou imagens de uma forma tal que elas façam uma faísca. Mas, não tenho só momentos preciosos a trabalhar, também adoro os pequenos momentos sublimes da vida, como uma linda noite de luar, uma palmeira a abanar ao vento, aquela primeira brisa de verão do ano. O filme da tua vida? P E D R O Os filmes da minha vida vão mudando muito de tempo em tempo, mas neste momento é capaz de ser o Fado: Origem de uma Cantadeira com a A M Á L I A RO D R I G U ES , de 1947. A história é o clássico conto sobre o sucesso repentino e a ascensão social, e tem todos os clichés da época e do regime político dentro do qual foi feito, mas a AMÁLIA está linda de morrer no filme, a banda sonora é de chorar pela nossa mãe, e todo o universo de Alfama que o filme retrata é-me familiar por ter crescido ali ao pé, na Graça.
Momentos em que não te sentes nada deste tempo? P E D R O Sou uma pessoa que se interessa muito pelo tempo em que vivemos e que encontra sempre estímulos no que se passa à minha volta para criar a minha música, quer sejam as coisas boas ou as coisas más do mundo. Não sou muito nostálgico, no sentido em que acredito que vivemos num tempo verdadeiramente 03
interessante, em que estão a acontecer coisas tão decisivas e marcantes como em qualquer outra época. P E D R O Mas, também sou muito sonhador e gosto de me perder em pensamentos e usar a imaginação para viajar até outros tempos e lugares. Gosto muito de imaginar como seria a vida há 3, 6 ou 10 séculos e pensar que, se calhar a minha experiência neste mundo não é tão diferente quanto VIP
A música da tua vida? P E D R O Talvez seja o Esse Olhar Que Era Só Teu dos DEAD COMBO. Ou o Gaivota da AMÁLIA... Ou o Mar E Morada Di Saudade da CESÁRIA ÉVORA. Não consigo escolher entre as três músicas, e, no final do dia elas falam as três sobre a mesma coisa!
PA R Q
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M A R Ç O
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Periocidade Bimestral
Depósito legal 272758/08
Registo ERC 125392
Portugal Faz Bem O melhor de Portugal
Edição
La Vie de Marie Um conto de fadas...
Conforto Moderno Uni, Lda.
Tindersticks A Infinita e Bela Tristeza
NIF
Júlio Dolbeth Pós-Dama
508 399 289
Propriedade Conforto Moderno Uni, Lda. Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2oesq. 1000—251 Lisboa, Portugal
Telefone
00351 218 473 379
ISABELA VALADEIRO
Impressão Suspensa. Disponível edição on-line.
Distribuição
Conforto Moderno Uni, Lda.
Director Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com
I S A B E L A VA L A D E I RO usa vestido E L I S A B E T TA F R A N C H I , óculos de sol M A RC JAC O B S , chocker N I CA S TO R E , anéis F LU B B I ES by R E M A E R D
Editor
Conforto Moderno
Design
Valdemar Lamego www.valdemarlamego.com
Textos
Fotos
António M. Barradas Beatriz Landeiro Carla Carbone Carlos Alberto Oliveira Catarina João Vieira Daniel Bento Diogo Graça Eduardo Estevam Francisco Vaz Fernandes Inês Monteiro Isabel Gonçalves Lopes João Pereira Luís Sereno Maria São Miguel Miguel Rodrigues Patrícia César Vicente Rafael Moreira Rafael Vieira Roger Winstanley Sara Madeira
Catarina Viana Diana Neto João Barreiros Nádia Correia Pedro Afonso Rita Menezes Sara Jesus Bento Sérgio Santos
www.parqmag.com facebook instagram youtube
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La Vie de Marie Um conto de fadas...
Júlio Dolbeth Pós-Dama
Ilustração Nicolae Negura
PEDRO MAFAMA
Styling Ana Magalhães André Santos Beatriz Cardoso Daniela Gil Luís Sereno Maria Nobre Marianne da Conceição Marta Lobo Raquel Guerreiro Raquel & Sofia Rodrigues Sara Peterson
P E D RO veste blazer vintage B U R B E R RY na Betina Vreeland, earcuf f TO U S , correntes P O R T U G U ES E J E W E L S
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A reprodução de todo o material é expressamente proibida sem a permissão da PARQ. Todos os direitos reservados. Copyright © 2008 — 2021 PARQ. 04
Tindersticks A Infinita e Bela Tristeza
THINGS
fotografia S É RG I O S A N TO S (@sergiosantos.studio) ass. fotografia T E R ES A A N D R A D E styling R AQ U E L G U E R R E I RO (@raquelguerreir) e M A R I A N O B R E (@noble_mary) makeup B E AT R I Z T E I X E I R A (@beatriz.texugo) hair E D UA R D O ES T E VA M (@eestebam)
O FUTURO ESTÁ AQUI. Pede-nos que estejamos prontos. Para pensar mais. Para ver as coisas de outra forma. Para desfrutarmos o exterior com amigos e amigos de amigos. Celebramos os nossos primeiros 40 anos e abraçamos os próximos.
#MerrellFuture40
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YOU MUST
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SOUNDSTATION
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Portucalense Portugal Faz Ben Paper View Book Júlio Dolbeth La Vie de Marie
FASHION EDITORIAL
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Waiting in the Dark The Sound of Spring #bonitosemcasa Visiting Time
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Levi's® x Pokémon™ Crónica de António Barradas Another Round Nomadland It's a Sin Budonga M·Gallery&Studio Lin Zhipeng Gerardo Vizmanos Covid Friendly Ernest W. Baker Noir Kei Ninomiya Confort Uncessored Carui Lacoste x Ricky Regal The Future 40 is here Urbanglider Lucy Val Discos Spring 2021 Beleza Sneakers & Sunglasses
Ona (Origine Non Animale) Pomar de Monsanto Crónica Patrícia César Vicente
ÍNDICE
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LEVI'S® x POKÉMON™
unisex Pikachu Sweatershirt Levi's® x Pokémon™ 551Z™ Authentic Straight Jeans Levi's® x Pokémon™ square sneakers Levi's®
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LEVI'S® x POKÉMON™
LE VI' S ® x P O K É M O N™ + @oCONGUITO texto por Francisco Vaz Fernandes fotos por Gonçalo Silva
Este ano, festeja-se o 25º aniversário dos Pokémon™ e para celebrar este universo tão icónico, a Levi’s ® acabou de lançar uma coleção-cápsula Levi’s ® x Pokémon™ ultra colorida e inspirada nos 90’s. A equipa da Levi’s® Portugal juntou-se à festa e “apanhou” um Pokémon™ ULTRA raro chamado @oConguito numa sessão fotográfica, onde também encontrámos o PIKACHU, o BULBASAUR, o JIGGLYPUFF, o SNORLAX, entre outras personagens desse grande marco do entretenimento que continua a ser adorado e a trazer boas lembranças a todos! A esse propósito, entrevistámos @oConguito, para conhecer e testar um verdadeiro fã, que confessa que na sua 1ª Classe, o Pokémon™ era quase uma disciplina extra.
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Conta lá, numa escala de 0 a 100, o quão fã és dos Pokémon™? → Estou muito próximo do 100. Talvez 96. Qual é o teu Pokémon™ favorito? Se tivesses oportunidade de passar 24 horas com ele, qual seria o programa desse dia? → O meu Pokémon™ favorito é o C H A R I Z A R D. → 24 horas com ele? Diria que tinha potencial para ser um dos melhores dias da minha vida. Começaríamos por sobrevoar Lisboa, nada melhor do que ver a cidade acordar, evitar o trânsito, etc... depois de darmos um longo passeio e como o C H A R I Z A R D é um Pokémon™ de fogo, iríamos organizar uma “churrascada”, provavelmente apareceriam alguns treinadores de Pokémon™ invejosos e aí teríamos de batalhar. O Estádio da Luz parece‑me uma ótima arena. A seguir, iríamos assistir a um concerto do T Y L E R , T H E C R E ATO R porque se existe algum Pokémon™ raro neste planeta, é o T Y L E R , T H E C R E ATO R e é isso. Depois, o C H A R I Z A R D voltaria para a Pokébola e eu iria dormir, ou acordar desse magnífico sonho. Que lições de vida é que aprendeste durante as horas em que viste e/ou estiveste a jogar Pokémon™? → Aprendi várias coisas com Pokémon™. A primeira foi que não vamos ganhar todas as batalhas na vida, mesmo quando formos os favoritos à vitória. Segundo, não chegamos a lado nenhum sem os nossos amigos. E terceiro, foi a minha primeira relação com a língua inglesa. O Inglês presente nos jogos fez-me querer aprender a língua rapidamente para saber o que fazer durante o jogo. Sem dúvida que ajudou imenso no meu processo de aprendizagem. Já alguma vez tentaste ser o P I K AC H U na vida real? Se sim, como correu? Se ainda não, imagina e conta-nos como seria? → P I K AC H U não me lembro de acontecer, mas acho que já me mascarei de AS H K E TC H U M no Carnaval. Seria mais fácil agora, com estas peças da coleção da Levi’s. Se eu fosse o P I K AC H U claramente procuraria viajar para zonas do planeta onde ainda não temos redes de eletricidade instaladas, usaria o ataque «raio de trovão» para fornecer energia às pessoas.
LEVI'S® x POKÉMON™
A coleção da Levis ® x Pokémon™, preenche o grito de fã que há em ti? → Esta coleção foi abrir uma caixa de recordações. Quando a vi pela primeira vez, parece que alguém abriu uma gaveta das minhas memórias e fez-me recuar 20 anos. É como se de repente, voltasse a ser criança, acordasse terrivelmente cedo e tudo o que queria fazer era assistir às aventuras do AS H K E TC H U M . Esta coleção leva-me outra vez para esse mundo imaginário. Se conseguires escolher apenas uma, qual é a tua peça favorita da coleção Levi’s ® x Pokémon™? → Existem duas peças que me fizeram cortar a respiração. Uma delas é a camisola preta com o logo Pokémon™ nas costas. A outra são os Levis ® x Pokémon™ 551Z™ Authentic Straight Jeans com os Pokémons™ espalhados pela relva ao longo das calças. O lançamento do Pokémon™ foi desde o primeiro instante um sucesso planetário. Sendo tu uma figura pública, como lidas com o fenómeno do sucesso? → Eu não me considero ainda uma pessoa bem-sucedida, acho que ainda não atingi o patamar que procuro. Quero sempre procurar evoluir para atingir todos os meus objetivos e sei que se continuar a trabalhar isso irá acontecer. Só posso é agradecer a pessoas que consomem o que eu faço e a marcas como a Levi’s ® que acreditam no meu talento e ajudam-me a realizar sonhos.
vintage Fit Trucker Jacket Levi's® x Pokémon™ unisex Pikachu Tee Levi's® x Pokémon™
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LEVI'S® x POKÉMON™
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LEVI'S® x POKÉMON™
vintage Fit Trucker Jacket Levi's® x Pokémon™ 551Z™ Authentic Straight Jeans Levi's® x Pokémon™ square sneakers Levi's®
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LEVI'S® x POKÉMON™
N OVA C O L E ÇÃO LE VI' S ® x P O K É M O N™
Inspirada na primeira temporada da série, a nova coleção Levi’s ® x Pokémon™ conta com uma ampla variedade de calças, casacos, camisolas, hoodies, t-shirts e até acessórios, onde podem ser encontradas as principais personagens do Pokémon™ World.
texto por Francisco Vaz Fernandes fotos por Gonçalo Silva
Para eles, destacam-se o Levi’s ® Vintage Fit Trucker inspirado nos 90’s e os novos Levi’s ® 551Z™ Authentic Straight em stonewash com um P I K AC H U bordado em gigante e emblemas com a forma de raios. E o Levi’s ® Vintage Fit Trucker e os Levi’s ® 551Z™ Authentic Straight com um full print verde com uma f loresta verde cheia de Pokémons™. Peças que podem ser vestidas com qualquer uma das t-shirts estampadas com imagens do AS H , da M I S T Y e outras personagens lendárias da primeira temporada. Para as verdadeiras fãs da M I S T Y, foram criados uns Levi’s ® x Pokémon™ Misty Shorts em denim com suspensórios vermelhos e um Misty Tank Top amarelo que são uma réplica exata do seu look tão característico. Os acessórios não ficaram de fora e estão também disponíveis com toques e detalhes Pokemón™. Entre eles, uma réplica do boné vermelho e branco usado pelo AS H e um gorro amarelo com umas orelhas iguais às do P I K AC H U. Uma vez mais, os detalhes também não foram esquecidos. As etiquetas em pele dos jeans e dos casacos foram co-brandeadas pelas duas marcas, nas tradicionais etiquetas vermelhas da Levi’s ® vão ser encontradas Poké Balls em branco e vermelho e os botões têm prints do P I K AC H U, ou Poké Balls. Conhece a coleção ao detalhe em levi.pt/pt/features/levisxpokemon .
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LEVI'S® x POKÉMON™
Pikachu Beanie Levi's® x Pokémon™ unisex Graphic Hoodie Levi's® x Pokémon™ 551Z Authentic Straight Jeans Levi's® square Sneakers Levi's®
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LEVI'S® x POKÉMON™
CRÓNICA
O DEPOIS DO AMOR NO ANTES DAS FASES DO SOL texto ANTÓNIO BARRADAS
Before Sunrise, 1995
26. Há mais de duas décadas e meia, L I N K L AT E R mostrava ao mundo o lado real do amor. Sem máscaras, com sujidade, sem primor e com a forma mais crua de se olhar possível, foi assim que nos foi apresentada a trilogia Before. Como para “antes” já bastaram os filmes, falemos agora do pós da saga que nos ensinou a sentar sozinhos num comboio, a cumprir com palavras soltas e a entender a velocidade da vida e o seu, nem sempre bom, rasto. Recém-entrados na idade do egoísmo (os ‘intes’, pois claro) Jesse e Celine encontram-se num comboio movido a vapor e pautado por discussões conjugais, que ambos observavam por entre as letras soltas dos livros que os acompanhavam. A conexão deu-se. A história começou a ser 16
escrita. Inusitada e sem tempo para medir prós e contras, a química fez o seu papel e deitou tudo num copo de pressa, essa eterna inimiga da perfeição. Por entre dilemas banais, questões fulcrais, visões sobre a morte e planos para a vida, o encontro entre dois eternos amantes de continentes distintos, findou-se numa noite perfeita de paixão em Viena. Após a exacerbação do carnal, da vontade imediata de se conhecerem e dos planos selados a cuspo numa capital europeia, o realizador decide, 9 anos depois (tal e qual como as filmagens), demonstrar-nos o lado B das promessas levadas pelo vento, na porta de um comboio que partiu cedo de mais. Não houve um “viveram felizes para sempre”. Nunca há e isso fica bem vincado no realismo apaixonado de R I C H A R D L I N K L AT E R . Apareceu a separação, YOU MUST SEE
o arrependimento e a curiosidade aguçada por anos a fio vazios de resposta. A vida de ambos estava em andamento, tal e qual o gigante metálico que se deslocou naqueles carris em 1995. Era 2004 e o mundo girou com a força do tempo. Jesse estava casado, com um filho e havia escrito um livro sobre o acontecimento que marcou a sua vida; Celine estava menos crente numa vida às flores e o seu jardim mal era povoado, a não ser pelas inevitabilidades da vida adulta. Encontraram-se, fortuitamente, na apresentação do livro de Jesse, em Paris. Navegaram no Sena, enquanto viam crescer as ondas das perguntas que ficaram por responder após o falhado reencontro em Dezembro de 1995. Havia ressentimento, mas saudades. Existia desconforto,
Benfore Sunset, 2004
mas curiosidade. Acima de tudo, estava a ligação indelével, criada com a fluidez de um discurso que nos faz viver os seus pensamentos. O final é um voo perdido. Uma música tocada, como moeda de troca pela história gravada nas páginas de um romance que estava a ser um sucesso. Foi um olhar. O avião ficou em terra mal Celine, com o seu desembaraço adorável, acabou com um “Baby, you are going to miss that plane”. “I Know”, rematou Jesse com a esperança de reviver tudo o que falhou. Não há amor em todos os silêncios. Existe, sim, nos compassos a desenharem círculos nas lembranças de passado, nos desejos de futuro e em todas as intercepções onde o formigueiro sobe aos lábios e os faz fixarem‑se. Em 2013, na Grécia, com duas 17
Before Midnight, 2013
filhas gémeas, a velhice a bater nos corpos já relaxados, na parca paciência para problemas estruturais e para a cruel inevitabilidade dos problemas mal resolvidos. O último filme da trilogia (até hoje), mostra-nos o lado B do vinil que fomos deixando a tocar enquanto nos recostávamos no sofá composto por rosas. Nem tudo é o mar delas e é preciso a crua visão de uma relação para nos demonstrar isso mesmo. O arrependimento volta, porém, desta vez da forma mais negativa de todas. A que nos faz interrogar “e se não o tivesse feito”, em detrimento do oposto. A curiosidades desvanece, por entre as peculiaridades que já sabem a pedra no sapato. Os laços são outros, mais permanentes, mas menos fortes. As raízes YOU MUST SEE
já se incrustam na terra e as sementes outrora plantadas, crescem agora fora da caixa. Há questões fundas, que tardam a ficar resolvidas e L I N K L AT E R põe a nu o que todos já pensámos: será a química do amor a solução certa para esta experiência? Deixa-se a resposta a quem ama. A quem vive a mesma história de Celine e Jesse, mas de outra perspectiva. Passam os anos, mudam-se os tempos, contudo, a força do olhar que os uniu, só será desfeita se o quisermos. Uma celebração aos 26 anos desta ode ao amor cru, sem condimentos e com o sangue à mostra.
A L I L PA R T Y N E V E R K I L L E D N O B O DY ( ? ) A N OT H E R RO U N D texto por João Pereira
Another Round —Druk— é o novo
filme do aclamado realizador dinamarquês T H O M AS V I N T E R B E RG . Responsável pelos sucessos A Festa e A Caça, o cineasta retorna ao cinema com uma obra que coloca o alcoolismo em primeiro plano. Protagonizada magistralmente por M A D S M I K K E L S E N , Another Round é um filme a que certamente não ficará indiferente.
Another Round acompanha a
história de Martin e dos seus três amigos e colegas de profissão. Estes professores de liceu vivem vidas pessoais conturbadas, encontrando-se divididos entre a solidão e problemas de índole matrimonial. Para combaterem as suas frustrações decidem seguir uma inovadora doutrina filosófica. Esta advoga que todos os seres humanos possuem uma deficiência alcoólica no seu sangue e, como consequência, devem consumir uma dada quantidade estipulada de álcool de modo a serem mais felizes e produtivos. À medida que o tempo vai passando, os amigos decidem ultrapassar os pressupostos iniciais da experiência e aumentar gradualmente as doses de consumo para maximizar os seus resultados. Entrarão, então, numa espiral destrutiva em todas as fases da sua vida. Não é por acaso que V I N T E R B E RG escolhe indivíduos com empregos estáveis como personagens do seu filme. Afinal, ninguém é imune a cair nas mãos do vício. O realizador deseja que o espectador reflita sobre o poder que as nossas escolhas têm nas vidas de quem nos rodeia. A escolhas que estas personagens fazem, ainda que em aparente contexto lúdico, acabam por afetar negativamente as vidas de todos aqueles que os rodeiam. É legítimo questionar, quais os caminhos que somos capazes de escolher para fugirmos dos nossos problemas?
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YOU MUST SEE
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YOU MUST SEE
W H AT ' S R E M E M B E R E D, L I V E S . T H E R E ' S N O F I N A L G O O D BY E NOMADL AND texto por Beatriz Landeiro
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Do retrato de uma América contemporânea nasce um testamento à natureza e à sazonalidade e renovação dos repetitivos porém incomensuráveis ciclos da vida —talvez tenha sido por esta tão atual relevância que Nomadland arrecadou dois Globos de Ouro nas categorias de Melhor Filme de Drama e Melhor Realizador. Não rejeito totalmente a ideia de ser uma crítica social premeditada ao materialismo da mão invisível que tão manifestamente nos abraçou; tampouco quero descurar como C H LO É Z H AO nos permitiu viver aquela que é a dureza das grandes falências corporativas dadas ao abandono de cidades fantasma. Contudo, creio que encarar este filme numa semiótica do seu sentido em abstrato será de uma maior honestidade para com o significado que dele depreendi.
A beleza árida e soberba do Oeste Americano serve de pano de fundo para aquilo que é o reconhecimento da paisagem enquanto metáfora: a exploração estacional da caducidade vida humana através de um grupo sénior e matraqueado, rugoso como as elevações desérticas que em grande parte vemos durante o filme. Observamos também, no rosto envelhecido e calejado de Fern (F R A N C ES M C D O R M A N D), o resiliente reverberar de uma guia nata que na sua autossuficiência encontra o trade‑off entre a conexão com a essência das pessoas e a regeneração da natureza, assumindo-se na sua tranquilidade estoica como uma autêntica nómada de espírito. E assim é: na vanguarda de uma narrativa extremamente realista, a inclusão de grupos nómadas verdadeiros, como é o caso de Linda May e Swankie, contribui para a celebração do humanismo de Nomadland, fazendo-nos refletir sobre o que é isto de sermos seres plurais, habitantes de um único berço ocupado por subculturas movediças desta era e daqueloutra. É então justo estabelecer um paralelismo entre os pioneiros, figura icónica na cultura e folklore americanos, a quem historicamente atribuímos a povoação do Oeste dos Estados Unidos, e as comunidades nómadas retratadas —unidos na cronologia deste país pela sua natureza transiente e pelo desejo de desbastar territórios inexplorados em busca de um novo modus vivendi. E ainda que em Nomadland assistamos a esta brevidade residencial e ao reforço do carácter passageiro do espaço e do tempo, a sua mensagem revela-se, curiosa e paradoxalmente, como um cântico à perene existência das pessoas. Há na partida um reencontro, há na recordação um eterno viver:
“(…) So long as men can breathe, or eyes can see, So long lives this, and this gives life to thee”. Sonnet 18 de William Shakespeare
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YOU MUST SEE
IT ' S
A
SIN
Num ano de pandemia causada por um vírus, falar de outro que que assolou os anos 80 e 90, não podia ser mais oportuno. Estávamos em Inglaterra e após um período da formação e visibilidade da comunidade e cultura gay em Londres, o vírus da SIDA, vem interromper o sonhos e a vida de muita gente. Esta é a proposta RU S S E L L T. DAV I ES , o roteirista do sucesso televisivo, Queer as Folk. Nesta nova série, It's a Sin que estreou na britânica Channel 4 e está agora disponivel na HBO Portugal, o famoso roteirista quis relembrar a sua própria juventude, incluindo a memória de uma Londres onde chegava no início dos anos 80, que fervilhava em parte devido a explosão da cultura gay que crescia livremente depois da homossexualidade ter sido descriminalizada na Inglaterra em 1967. Para RU S S E L L T. DAV I ES , Londres passa a representar o sítio certo onde estar, por permitir viver em liberdade a felicidade de amar quem se quisesse. No entanto, o evento da SIDA viria a interromper drasticamente a vida de toda uma geração que apenas começava a desenhar os seus sonhos. No desenrolar dos cinco episódios os preconceitos e as zonas mais escuras de toda uma sociedade são‑nos servidos de forma hilariante e dramática. Umas vezes temos muita vontade de rir e outras de chorar. Vivesse um carrossel de emoções que não deixa ninguém indiferente.
texto por Maria São Miguel
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YOU MUST SEE
It's a Sin é pois um filme marcado pela alegria de viver de uma geração, embalada por todos os grandes sucessos da época da Pop britânica inglesa. É uma verdadeira playlist para os nostálgicos que viveram essas épocas. Os protagonistas fogem de vidas mesquinhas e encontram-se no Pink Palace, um decrepito apartamento vitoriano que alugavam, um verdadeiro refúgio onde podem viver as suas diferenças sem preconceitos. Contudo passado os momentos de euforia, passamos a assistir a um vertiginoso processo que vem destroçar as suas esperanças. Chegavam as primeiras notícias e a seguir os primeiros casos do HIV, e a ameaça que inicialmente era uma doença dos outros, a dos americanos, passa rapidamente a ser uma doença dos amigos dos amigos, até verem sucumbir os seus próprios amigos e por fim eles próprios. Os seus preconceitos e o dos outros, são servidos gota a gota até ao caos final, onde sobram só destroços, vidas e sonhos interrompidos.
It's a Sin dá-nos a imagem de vírus que avançou muito rapidamente. É captado a partir dos ângulos de cada uma das suas personagens e respetivas famílias afetadas, expondo como o medo, a ignorância e a negação consumidas por um vergonha imposta por uma sociedade, foram o fermento para o seu desenvolvimento. Mostra ainda como os sistema de saúde, mesmo os mais sofisticados, não são imunes aos próprios preconceitos e em vez de proteger os doentes, acabam por os expôr a opressão pública de forma desumana. Muito rapidamente estes doentes passaram a ser tratados como criminosos da saúde pública e uma comunidade que lutava pelos seus direitos era remetida para um sentimento de culpa e vergonha
O enredo vive de um conjunto de personagens principais que se encontram casualmente em Londres formando uma espécie de família alternativa. No Pink Palace encontramos Ritchie (O L LY A L E X A N D E R), que chega de uma recatada zona na Ilha de Wight e que em Londres procura viver apressadamente a sua verdade, ainda que contida, forçada pela sua educação e pelo reprimir de emoções que era quase obrigatório para um jovem homossexual da sua época. Junta-se Roscoe (O M A R I D O U G L AS), que se liberta da sua família nigeriana conservadora, e Colin (CA L LU M S C OT T H OW E L L S), um envergonhado jovem de Gales, que mal ousa existir. Ao lado dos rapazes, temos Jill (LY D I A W ES T ), a melhor amiga de Ritchie e a alma da casa. No desenrolar do drama, Jill joga um papel importante porque é a figura solidária que dá coesão ao grupo familiar e à comunidade em que se envolve. Na série, é a voz que está sempre ao lado da ciência que vai captando as informações corretas, ao contrário dos amigos. Ela torna-se o grito que desperta para uma consciência social levando a questão a patamar nacional e por isso, a primeira a lutar contra os preconceitos e a juntar indivíduos em torno do combate contra a SIDA, manifestando-se publicamente para sensibilizar os políticos e a sociedade em geral para esse flagelo público.
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Mas para além da exposição das más políticas públicas, a série ainda invoca a crueldade das próprias famílias envolvidas que cegas pelo seu desejo de uma normalidade, entram em estado de negação. Perante a notícia da infeção, vemos nesta série, famílias que se sentem envergonhadas, e que estão prontas a tudo para desacreditar a realidade, procurando ocultar factos e criando verdades alternativas para os demais. Nesse aspeto, a série ganha o seu epílogo dramático quando Val, (K E E L E Y H AW ES), a mãe de Ritchie, captura o filho no seu quarto de infância, presa a uma negação a tudo o que o filho viveu e é, deixando-o morrer sozinho, sem o calor dos amigos que o desejavam visitar.
YOU MUST SEE
F E R N A N D O B R I TO + P E D R O P R O E N ÇA B U DO N G A texto por Carla Carbone
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Budonga trata-se de uma
exposição que teve lugar nos espaços da ZDB em Outubro.
FERNANDO BRITO, o autor dos desenhos, e PEDRO PROENÇA, autor das histórias, abordam um tema que tem vindo a assumir uma importância cada vez maior no debate ideológico, sociológico e político do pais. O tema do pós-colonialismo. FERNANDO BRITO tem vindo a expressar, na sua obra, o interesse pelo tema do pós‑colonialismo e pelo objeto político. Na consciência que a obra pode ser esse agente político, modificador de mentalidades, e, numa perspetiva mais heideggeriana , que a obra pode justamente modificar o ser.
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A obra não é em si um elemento fechado, presentificado somente como objeto para ver, apreciar, deleitar. A sua condição revela‑se também enquanto relação do espectador com o ente, enquanto objeto que pode transformá-lo. O espetador que aprecia a obra neste momento, não poderá ser o mesmo que a desconhecia antes do confronto com a sua realidade. É esse impacto, essa estranheza que BRITO parece procurar. Por um lado aparenta pretender fazer pensar sobre os preconceitos, sobre o modo de pensar enraizado, revelar um outro olhar social, para além do olhar que sempre se concretizou, sob uma mesma matriz. Enraizadas também se encontram as matrizes estéticas e formalisticas, que continuam a ser estabelecidas como válidas, e evidenciam-se, em detrimento de outras que, por razões culturais permanecem ocultas. Conduzindo a um olhar artístico unicamente inscrito num espetro unidirecional. Por esse motivo os desenhos que BRITO apresenta surpreendem, e dão-nos uma experiência de conhecimento, de alteridade.
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A A R T E F O R A D E D E N T R O DA CA I X A M · G A L L E RY & STUDIO texto por Rafael Vieira
↑ Nuno Alecrim
M·Gallery & Studio Rua Cmte. João Belo, 31A Leiria @mgallerystudio
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Leiria tem uma próxima e visível relação com a arte urbana. O evento Arte Pública Leiria preenche-lhe as paredes de ano para ano. Quem o organiza é a associação R I S CAS VA D I AS , também responsável pelo Sopro na Marinha Grande, pelo FALU nas Caldas da Rainha e pelo Com‑Templ.-Arte em Tomar, para além de parte do trabalho de R I CA R D O RO M E RO / M AT I L H AS T U D I O. O seu espaço físico, ancorado no centro histórico da cidade, é a M·Gallery & Studio. CA R L A TAVA R ES , project manager da associação, apresenta-o: «A criação da galeria deve-se sobretudo à necessidade sentida por parte da R I S CAS VA D I AS de podermos ter um espaço físico que fizesse a ponte entre aquilo que são as intervenções feitas na rua e a absorção da parte dos habitantes daquilo que está a ser feito. Através deste espaço a parte educativa e comunitária torna‑se muito mais fácil de trabalhar». Da galeria para as ruas e da rua para as galerias, a substância permanece, o veículo reconfigura‑se. YOU MUST SEE
Já tivemos esta conversa antes. Aqui já expuseram R I CA R D O RO M E RO (da casa), J O RG E C H A R RUA , N U N O A L EC R I M , G U I L H E R M E F R I O e outros, como T H ECAV E R , no contexto do Arte Pública Leiria. CA R L A complementa: «A nossa preocupação foi sempre o de procurar trabalhar com artistas que estejam ligados à arte pública e que tenham um discurso forte, que mereça ser visto num espaço de galeria, onde o espetador poderá apreciar a obra com outro tempo e outra disposição que muitas vezes não é possível na rua. A rua vive do imediato, do diálogo criado com tudo o que rodeia a peça e da efemeridade. Tudo isto é mágico sem dúvida, mas muito imediato. Na galeria o artista acaba por ter outro tempo, outras condições para mostrar o seu corpo de trabalho. Ligar estas duas vertentes é algo que nos dá um enorme prazer». Além do trabalho expositivo, o serviço educativo abraça as escolas e a comunidade, pese o contexto. Para depois, gostariam que a galeria se tornasse itinerante.
↑ Jorge Charrua
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↑ Ricardo Romero
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↑ Guilherme Frio
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↑ The Caver
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↓ Pabllo Hatory
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LIN ZHIPENG texto por Francisco Vaz Fernandes
A fotografia de autor chinesa, esteve até aos anos 90 comprometida com o serviço ao estado. Apenas na passagem do milénio começam a aparecer fotógrafos que traçam as suas carreiras como outsiders. Este é o caso de L I N Z H I P E N G que na blogosfera é conhecido por N º 223 , um nick name de uma das personagens principais do Chungking Express, o polícia apaixonado, um filme de Hong Kong que o marcou em muitos aspectos, nomadamente no sentido estético. L I N Z H I P E N G começa a ser conhecido, a partir das fotografias que pública no seu blog “North Latitude 23” a partir de 2003 onde encontramos imagens descomprometidas em torno das vivências que partilhava com os seus amigos. O seu trabalho fotográfico introduzia uma nova visão da China, mais intimista que esbarrava com as questões mais documentais de cariz propagandístico que o regime socialista chinês até então privilegiava. No essencial as questões em torno do "eu", que L I N Z H I P E N G introduz apresentavam-se na China como algo radical e provocativo.
Como referiu, encontrou na fotografia a possibilidade de se exprimir livremente e partilhar os seus sentimentos, inseguranças, experiências, alegrias, dores, receios. O sexo e a nudez foram então surgindo muito naturalmente, tornando-se os temas principais do seu trabalho fotográfico, uma questão que ainda hoje é observada no seu país com uma certa censura. Contudo como em Chungking Express de WO N G K A R WA I , o ambiente das imagens que produz são atravessadas por uma atmosfera quase sonhadora e lúdica, o que faz com que não seja uma fotografia provocativa e por isso tolerada apesar do evidente afastamento da linguagem oficial do regime comunista chinês. Estes artistas fora do sistema mais oficial, com projeção internacional, tem servido até de rosto da tolerância em relação a cultura juvenil. Apesar da aura cinematográfica que alimenta o seu trabalho, as suas fotografias representam em geral instantâneos, algo pouco planeado que acontece na interação com o seu círculo de amigos. É neste aspeto que as suas fotografias ganham um valor documental. Contudo ao contrário da ilusão fabricada que antes era documentada de forma propagandista L I N Z H E P I N G documenta uma realidade que lhe é próxima. Apesar da distância, encontramos no seu universo, algo de paralelo ao que era então criado pelo norte americano, RYA N M C G I N L E Y, que em 2003, com apenas 25 anos consegue a proeza de ser consagrado numa retrospetiva produzida para o Whitney Museum de Nova Iorque.
www.linzhipeng223.com 34
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G E R A R DO VIZ MANOS texto por Francisco Vaz Fernandes
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Apesar do evidente fascínio pelo corpo masculino, V I Z M A N O S procura discutir o que pode ser uma visão redutora de uma fotografia gay, comentando que a questão do género e da identidade que estão muitas vezes implícitos nesta categoria fotográfica não tem sido uma preocupação nas imagens que apresenta. Aceita e compreende que quem veja as imagens que cria possa despertar um certo homoerotismo, mas em geral esse não é o seu objectivo final. De certa forma V I Z M A N O S procura, pelo contrário dessexualizar os corpos. Apesar de encontrar nas composições dos corpos dos jovens que fotografa, alguma semelhança formal com imagens de alguns fotógrafos clássicos, que longe das restrições das suas pátrias reconstruiram a partir do exotismo das paisagens e dos jovens locais a imagem de uma idade de ouro enfabulada que mais não era que uma forma de sublimar as suas fantasias sexuais. É nesse ponto que encontramos algumas ressonâncias com fotógrafos clássicos americanos, como H E R B E R T L I S T ou G EO RG E P L AT T LY N ES que entre as duas grandes guerras, trouxeram o classicismo grego e a idealização do masculino erotizado como um dos seus focos principais.
Corpos masculinos contorcidos, partes e detalhes acabam por formar o corpo de trabalho do fotografo espanhol G E R A R D O V I Z M A N O S que estabeleceu residência em Londres depois da aclamação internacional que tem merecido. Em alguns círculos tem aparecido como fazendo parte da nova fotografia gay, dado que o seu motivo de interesse tem sido exclusivamente corpos masculinos. Há pouco menos de 10 anos V I Z M A N O S era apenas um jovem advogado que tinha curiosidade sobre o processo fotográfico e que decidiu fazer um curso de fotografia para amadores para realizar algumas experiências. A sua paixão crescente teve a possibilidade de se tornar algo mais sério quando viu com surpresa, o seu trabalho ser premiado no concurso da Internacional Support Talents, que o levaria a uma formação complementar em Nova Iorque.
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As suas fotografias são certamente a visão de um fotógrafo gay que revisita muitos dos clichés da conhecida fotografia de nús artísticos que em geral tinha, e tem a mulher como o centro de uma imagem operada por um homem heterosexual. A par disso, V I Z M A N O S despe as suas imagens de um certo sensualismo que era desde sempre a razão de ser do nú artístico, o que aparentemente afasta-o desse universo. Depois, os seus corpos contorcidos remetem-nos para as experiências dos primeiros modernistas, onde a partir de manipulações fotográficas tínhamos uma complexificação e uma certa recusa naturalista do corpo, apesar do efeito realista que o processo fotográfico assegura. Também nas propostas do fotógrafo espanhol encontramos um sentido de composição que partem não tanto de efeitos fotográficos, mas da performance dos modelos, da aglomeração de corpos e de ângulos menos esperados que transfiguram uma visão do corpo masculino.
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A fotografia de V I Z M A N O S não tem nada de espontâneo como várias vezes o refere em entrevistas, parte sempre de referências estudadas. Os seus modelos são essencialmente atletas, bailarinos ou contorcionista, homens que oferecem a possibilidade de movimentos e poses que dificilmente seriam possíveis sem um corpo muito treinado. Essa disciplina do corpo tão evidente somado ao rigor documental do momento fotográfico, dão-lhe um efeito de verdade e transparência que gosta de apreciar nas suas fotografias. Salvo raras execepções em que se fotografa a si próprio com um amigo dando até uma certa ilusão de intimidade, em geral o fotógrafo espanhol não tem qualquer relação como os modelos, nem sente necessidade desse elo de proximidade que muito da fotografia contemporânea de carácter documental acabou por impôr. Pelo contrário, afronta qualquer sentimento de voyeurismo ou descontextualizar em geral de qualquer imagem que produza de quadro sócio temporal. Em cenários pobres restam as composições que nascem dos corpos f lutuantes no vazio que ganham uma dimensão escultórica. Como referi é aqui que V I Z M A N O S vai beber muito a uma certa fotografia clássica. Contudo o fotógrafo espanhol aparentemente não tem medo de confrontar um certo classicismo da fotografia e percebe que a ressonância desse legado clássico, em torno do corpo nu, masculino, se mantenha com um tema apaixonante a partir das perspetivas novas que porporcionam novas emoções à temática.
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COV I D FRIENDLY
O SARS-CoV-2 veio mudar a nossa forma de viver. A palavra de ordem foi isolamento, deixando adiados muitos dos nossos sonhos e planos. Apesar de termos de viver nesta situação indesejável, ninguém nos proibiu de estarmos bem arranjados no conforto do nosso lar. Conheça, então, novas criações covid friendly que são verdadeiramente disruptivas!
texto por João Pereira todas as imagens cortesia Vogue Runway
DON'T STAND SO CLOSE TO ME D E M N A GVAS A L I A , director criativo da BA L E N C I AG A , antecipou-se ao problema do distanciamento social. No dia 1 de Março de 2020, duas semanas antes do primeiro lockdown total, a maison apresentou uma coleção que visava chamar atenção para a problemática da crise ambiental. Alheios às proporções que a pandemia viria tomar, a equipa da maison criou a peça de roupa ideal para se distanciar dos outros. Este casaco com picos é a melhor opção para uma ida ao supermercado ou um passeio na marginal, ninguém se chegará perto de si!
↑ Balenciaga spike FW2020 48
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OU SE CALÇA A LUVA OU SE PÕE O ANEL É comum vermos pessoas a fazerem as suas compras de supermercado a utilizar luvas de proteção. Quem sabe se terá sido uma ida ao Lidl que inspirou o novo “casal” sensação do mundo da moda, M I U C C I A P R A DA e R A F S I M O N S , a trazer as luvas de volta à passerelle! Se é para usar luvas, então que sejam bonitas ....e, se possível, que sejam P R A DA !
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↑ Vetements FW2021
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O HOMEM (OU A MULHER) DA MÁSCARA DE FERRO As máscaras são o nosso melhor amigo para conter a disseminação do vírus. Não pense, porém, que a sua única opção é utilizar a máscara cirúrgica. Na última coleção masculina de verão de 2021 da LO U I S V U I T TO N , V I RG I L A B LO H mostra‑nos uma forma de estar estiloso e protegido ao mesmo tempo. O designer apresenta uma criação dois em um em que proteção está incorporada no seu outfit . Por sua vez, a V E T E M E N T S , também, apresenta uma solução semelhante que parece saída de um protesto.
↑ LV SS2021 Men
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SPIRITED WAY A M A I S O N S C H I A PA R E L L I , liderada por DA N I E L RO S E B E R RY, apresentou uma coleção alta costura com elementos verdadeiramente Covid friendly. Uma dessas sugestões é a utilização de uma máscara em ouro maciço, que convenhamos é a melhor ferramenta para se proteger deste vírus. Todavia, o coordenado que se destaca é a parka “casulo” que nos relembra a personagem Kaonashi do filme Spirited Way, de 2001, de H AYAO M I YA Z A K I . Este invólucro irá, certamente, isolá-lo das inimigas!
↑ Schiaparelli 2 52
↑ Schiaparelli Haute Couture YOU MUST WEAR
CAVALEIROS DOS ASFALTO Por fim, apresentamos aquela que se afigura como a melhor opção para combater “o bicho”. Quando dizemos combater, estamos a falar no sentido literal. Esta armadura BA L E N C I AG A , apresentada na coleção SS2021, será o seu melhor amigo nestes tempos de “guerra”. O vírus não se atreverá a enfrentá-lo, isto se estiver a usar máscara também, é claro!
↑ Armadura Balenciaga SS2021 ready to wear 53
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U M R OT E I R O I N T E R N AC I O N A L ERNEST W. BA K E R texto por Daniel Bento
O ano de 2020 apresentou inúmeras barreiras à produção de moda, que correu atrás de soluções. No meio de um cenário tão atípico, porém, a marca de moda masculina E R N ES T W. BA K E R conseguiu, entre muitas vendas e várias estreias, ter um ano de sucesso. Do Porto a Paris, as propostas da portuguesa I N ÊS A M O R I M e do norte-americano R E I D BA K E R , os fundadores da marca, viajaram pela Europa. Em julho, estrearam‑se na Semana da Moda de Paris e, em outubro, tomaram de assalto a passarela do Portugal Fashion com um objetivo: contar a sua história. A identidade da marca, que privilegia a linhagem de ambas as partes da dupla, não pode deixar de estar presente na coleção. Partindo do nome, que presta homenagem ao avô de R E I D BA K E R , a história familiar dos designers também se inseriu nas propostas para a estação quente de 2021. “A coleção foi feita durante o confinamento e, por isso, foi muito inspirada por essa altura, em que estivemos a ver vídeos de família, os arquivos dos dois. Foi uma mistura do tempo antigo e do tempo atual”, revela I N ÊS A M O R I M à imprensa. Criou-se um desfile pontuado por um caráter pessoal, numa apresentação digital que descortinou a coleção e mostrou um pouco da cidade de Viana do Castelo, onde está sediada a marca. É esta valorização das raízes que justifica a importância de, embora já não existam limites geográficos, a dupla poder fazer parte da moda portuguesa.
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Apesar da variedade de mercados, que se encontram nos vários continentes, o sucesso da marca verifica-se essencialmente num público mais jovem. Encantados pelas linhas clássicas da marca. os consumidores entre os 20 e os 30 anos são os mais interessados nas peças. Em 2021, o roteiro internacional continua. O ano começou com o regresso ao calendário de Paris, em janeiro, para a apresentação digital da coleção Outono-Inverno 2021. Nas novas propostas, que passam pelo conceito de roupa off-duty, a coleção afasta-se do tradicional vestuário da marca e olha em novas direções. Com um público cada vez maior, continua a haver margem para crescer. Seja através do aumento das vendas, do desenvolvimento da marca ou da produção de novas coleções, as metas são muitas. Afinal, o futuro é cada vez mais incerto, mas parece sorrir a E R N ES T W. BA K E R .
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NO I R K EI N I N O M I YA texto por Daniel Bento
N O I R K E I N I N O M I YA é uma marca emergente da autoria do criador K E I N I N O M I YA . Numa altura em que a novidade se torna difícil de atingir no cenário da moda e em que muitos designers optam pela reinterpretação, no universo experimental do criador japonês o objetivo passa sempre pela tentativa em alcançar o que nunca foi feito. O percurso de N I N O M I YA começou sob a égide da C O M M E D ES G A RÇ O N S , onde trabalhou como designer e criador de padrões para R E I K AWA KU B O. Foi esta colaboração que lhe permitiu criar a sua linha própria, apresentando a sua primeira coleção na Semana da Moda de Paris, em 2019, e fazendo ainda parte do projeto Moncler Genius.
Na estética da marca, estão presentes vários elementos reconhecíveis na identidade e na K AWA KU B O, mas com uma fórmula distinta e singular. A linguagem adotada prima por um estilo avant‑garde, com peças criadas à base da exploração de silhuetas distintas e que resulta em criações intensas e viscerais. N I N O M I YA questiona, como a própria mentora fez na década de 80, as convenções de beleza ocidentais e a relação europeia entre a roupa e o corpo. A paleta de cores foi, desde o nascimento da marca, dominada pelo preto e pelo dramatismo que a tonalidade permite. O vermelho e o branco também são uma escolha recorrente nas coleções, em que as peças tendem a ser monocromáticas e permitem colocar o foco na (des)construção da roupa. Além da componente conceptual, o caráter experimental da marca é uma parte importante da construção das roupas. N I N O M I YA apoia-se em técnicas não convencionais e abandona a costura, recorrendo ao método de unir peças cortadas a laser. O trabalho artesanal é um dos principais fios condutores do criador. N O I R K E I N I N O M I YA faz parte de um grupo de designers contemporâneos em que a construção é, muitas vezes, subjugada à desconstrução. É assim, à sua maneira, que vai edificando a moda e o que a roupa significa.
↑ fotos cortesia Vogue Uk, Noir Kei Ninomiya SS19 60
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↑ imagens desfile de Noir Kei Ninomiya SS20 61
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↑ imagens desfile de Noir Kei Ninomiya FW20 62
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↑ imagens desfile de Noir Kei Ninomiya SS21 63
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COM FORT UNCENSORED texto por Sara Madeira
A S LO G G I , baseia a qualidade do seu produto final em termos do conforto que pode oferecer aos seus consumidores. Em geral recorre a testes e a questionários dentro de uma amostra que representa a maioria da população. Contudo, pensando no lançamento da sua coleção premium, a S by Sloggi, resolveu fazer algo inverso. Começou por questionar esses mesmos critérios maioritários do conforto, levando o conceito, para além dos aspectos mais imediatos. Resolveu centrar o seu questionários sobre a construção da ideia de conforto, um ideal que todos procuramos viver, mesmo que não seja um dado adquirido e represente as vezes uma luta, a que não podemos ser indiferentes. Para o desenvolvimento desta ideia contou com a colaboração do cineasta e fotógrafo RO N I A H N e da jornalista de moda B E L L A W E B B que realizaram um projeto digital, intitulado, S by sloggi —Comfort Uncensored. Para os mentores do projeto, era importante frisar que o que nos faz sentir confortáveis connosco mesmo, nem sempre se enquadra nos ideais de conforto da sociedade em geral, o que faz que o conforto seja algo muito pessoal. Isso mesmo conseguiram depreender, num conjunto de entrevistas a seis indivíduos que frequentam a escola de moda Central Saint Martins. Nas suas diferenças, todos recusam tornar secundário, o seu conforto. Através dos seus depoimentos registados discutem o significado de conforto e as pequenas coisas que fazem para tornar o conforto parte do seu dia a dia. Neste conjunto de
↖ Heather Ed aka Princess Pedzio ↗ ← Lolita Marvin →
www.sloggi.com www.confortuncensored.org 64
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histórias pessoais temos retratos de indivíduos a expressar a sua identidade de género, repensando ideias restritivas de masculinidade ou simplesmente abraçando o seu sentido individual de estilo. Cada um tem uma perspetiva única sobre o que significa estar confortável, tanto por dentro como por fora.
CA R U I
“É possível fazer coisas bonitas, trabalhar o belo, fazendo-o bem!” Foi a pensar nisso que a CA RU I , fundada por M A R I A J OÃO e E L E N A TO U RÓ N , nasceu no Porto, como uma marca de malas inspiradas num design arquitetónico, intemporal e funcional. Dizem que nada é feito ao acaso porque todo o design é pensado a reduzir o desperdício e reutilizar excessos de outras produções. Trabalham com com bio-leathers, ou seja peles curtidas com taninos extraídos de algumas árvores. Estes e outros detalhes foram pensados porque acreditam que os criadores tem a responsabilidade de criar peças que impactem positivamente o mundo. E por essa razão questionam também o excesso do consumista da nossa sociedade e por isso apostam em peças boas e intemporais. São peças com um carácter de peças únicas pelo facto de serem feitas à mão e de respeitarem as singularidades de cada uma delas, um luxo que ainda assim foi pensado para ser acessível.
texto por Maria São Miguel
www.cariatelier.com
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L ACOST E x RICK Y
R EG A L
texto por Maria São Miguel
B RU N O M A R S , que enquanto designer de moda dá-se a conhecer ao mundo como R I C K Y R EG A L juntase à L AC O S T E para lançar a sua primeira coleção de lifestyle. Tudo começou em Los Angeles, onde conheceu LO U I S E T ROT T E R , a diretora criativa da L AC O S T E que lhe deu carta branca para compor como bem quisesse a sua coleção. E assim foi R I C K Y R EG A L , deu asas a imaginação procurando um estilo que personifica sua paixão pelo ritmo extravagante. É uma coleção de luxo desportivo para o dia a dia, composto por tecidos de veludo, seda e algodão com acabamentos impecáveis. Propõem camisas fluídas e fatos de treino pop, calções, polos, camisas, calças, sandálias e meias, assim como um icónico par de óculos de aviador. “Colaborar com o Bruno e entrar no seu universo único foi uma grande aventura, ele tem uma visão muito clara e é obsessivo com cada detalhe. Desde o desenvolvimento do conceito até às provas, não houve um único aspeto em que ele não estivesse completamente envolvido. “ —refere LO U I S E T ROT T E R , diretora criativa da L AC O S T E .
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M E R R E L L FA Z 4 0 A N O S THE FUTURE 4 0 I S H ERE texto por Maria São Miguel
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Em 2021 a M E R R E L L faz 40 anos! A marca norte-americana líder global na indústria outdoor tem uma herança de 40 anos que celebra de olhos postos no futuro. Para tal criou uma campanha com o slogan “The Future 40 is here” (os futuros 40 são aqui), propondo-se comunicar ao longo do ano, sobre o futuro do outdoor nos próximos 40 anos. Nascida em 1981 nas montanhas do Vermont, em 4 décadas a M E R R E L L manteve o trail no coração da sua filosofia, subiu montanhas, inspirou pessoas a sair de casa e desafiou milhares de pessoas a ultrapassarem os seus próprios limites. Pelo caminho apostou sempre em conforto e performance, inovou no desenvolvimento de novos produtos, correu para empoderar todas as pessoas que gostam de ser ativas, colocou as suas equipas no terreno a testar novas criações, patenteou tecnologias e cruzou fronteiras até chegar a cerca de 200 países e territórios.
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Como sempre, a M E R R E L L quer ir mais longe e projeta o futuro tendo sempre como foco a relação do Homem com a Natureza. Ao longo do ano de 2021 a M E R R E L L vai mostrar uma nova abordagem sobre o futuro do trail e celebrar o otimismo, as novas vitórias, expressar os espíritos jovens e espalhar o fascínio da descoberta, enraizando-se como líder dentro da comunidade outdoor para os próximos 40 anos. E tudo isto mantendo a convicção de que é poderoso viver o outdoor ! Não importa quem somos, de onde vimos, do que gostamos ou de como nos movemos —todos devem sentir-se conectados com o outdoor e com os lugares para onde a vida nos leva. A M E R R E L L continuará sempre a inspirar todos nesta missão. Tal como afirma na sua campanha, para a M E R R E L L “o Futuro está aqui” !
URBANGLIDE R I D E 85 - L texto por Maria São Miguel
www.urbanglide.com
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A U R BA N G L I D E , marca especializada em soluções de mobilidade urbana, apresentou a nova U R BA N G L I D E Ride 85-L, uma trotinete elétrica com autonomia para 30Km. Com uma bateria de 7,5Ah e dupla suspensão frontal e traseira, permite-lhe percorrer uma distância considerável ao mesmo tempo que atinge uma velocidade máxima de 25km/h, com conforto e aderência à estrada. A nova U R BA N G L I D E Ride 85-L está disponível a um preço recomendado de venda do público de 359,90€ (IVA incluído).
LU CY
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direção de arte e styling Sara Peterson foto por Catarina Viana texto por Inês Monteiro
J OÃO G I G A , nasceu em Almada e viveu grande parte da sua infância em Serpa, onde a música e a arte sempre estiveram muito presentes em sua casa. Aos 13 mudou-se para o Seixal e pediu ao pai que lhe ensinasse a tocar guitarra. A partir daí, música tornou-se uma prioridade. Em 2011 ingressou no curso de Produção Musical na EPI, onde descobriu a sua paixão e em 2017 lançou-se como F R N K L N com a música KABUKI. No entanto, o primeiro tema que escreveu foi Harakiri que tatuou nos dedos das mãos e mais tarde lançou como Lucy. Harakiri ou seppuku refere-se a um ritual de suicídio honroso de samurais, utilizado como método de demonstrar coragem e forte determinação. “Escrevi esta 70
música quando perdi o meu pai em 2016. Foi quando decidi que não tinha muito mais a perder e queria fazer de mim o que eu queria ser.” J OÃO esteve afastado do público durante dois anos, com o intuito de encontrar a sua estética e sonoridade. Foi nesta fase que começou a trabalhar com K I D O N OV, com quem lançou em 2019 temas como Out of My e Te Quiero. “Não há artista com quem goste mais de trabalhar, compreendemo-nos muito bem um ao outro.” Ainda assim, não via um futuro como F R N K L N , “não é um género sustentável I guess”. Decidiu então escrever o seu primeiro tema em português no qual viu potencial e “em vez de mudar de nome, língua e estética” criou um novo projeto, LU CY VA L . YOU MUST LISTEN
Em 2020 lançou três músicas, todas escritas em português. “Nem toda a gente fala inglês e nem toda a gente que fala inglês compreende o inglês numa música (…) e não é isso que eu quero. Se escrevo, quero ser compreendido.” De momento, além de estar a produzir Morte Lenta, que fará parte do seu primeiro EP, está também a trabalhar no videoclip do tema, que será lançado em breve.
@lucyval__
fato Atelier Miss Suzie (@amisssuzie) óculos Dolce&Gabbana (@wide_shades) 71
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camisa Atelier Miss Suzie (@amisssuzie) óculos Moschino (@wide_shades) 72
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camisola interior cavas Atelier Miss Suzie (@amisssuzie) colar Stone by Stone (@stonebystone_pt) calças e cinto Atelier Miss Suzie (@amisssuzie) 73
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DI SCOS texto por Carlos Alberto Oliveira
O Inverno teima em não nos deixar, mas a primavera está à porta. Estas são as novidades que podemos ouvir nesta nova estação.
O músico português T H E W E AT H E R M A N editou no passado dia 26 de fevereiro, o seu quinto álbum de originais. De seu nome All Cosmologies, o disco gira à volta duma figura feminina, a "Valentina". Rico em paisagens pop-eletrónica, este seu novo projeto prevê também a realização de uma curta‑metragem com o mesmo nome.
Os franceses L’IMPÉRATRICE, a avaliar pelo seu single Peur Des Filles, preparam-se para nos brindar, uma vez mais, com a sua synth‑pop colorida. O seu novo disco Tako Tsubo sairá a 26 de março pela Microqlima Records. FLOCK OF DIMES, o projeto a solo de JENN WASNER dos WYE OAK, tem um novo álbum a caminho — Head of Roses, que sairá a 2 de abril, com a chancela da Sub Pop. Aparentemente concebido no primeiro isolamento provocado pela pandemia mundial que vivemos, resultou num pungente segundo disco a solo. Os britânicos LONDON GRAMMAR preparam-se para lançar o seu novo disco Californian Soil, com data marcada para 9 de abril. Espera‑se mais uma incursão pela sua chamber pop luxuriosa e cativante. Baseada na apresentação promocional, ST VICENT regressa aos discos com Daddy’s Home, a 14 de maio, pela mão da editora Loma Vista. Segundo declarações da artista, este álbum foi fortemente influenciado pela música dos anos 70, sobretudo por STEVIE WONDER e SLY AND THE FAMILY STONE.
O duo norueguês composto por J E N N Y H VA L and H ÅVA R D VO L D E N prepara-se para lançar o seu álbum de estreia no seu projeto intitulado LO S T G I R L S . O disco Menneskekollektivet deverá chegar às lojas a 26 de março pela Smalltown Supersound. A luxuosa eletrónica a imperar no que se espera um belíssimo disco de estreia. Os D E AT H F RO M A B OV E 197 9 não deixam morrer o punk , como tão bem mostram no seu single One + One. Trata-se de um tema retirado do seu novo disco Is 4 Lovers e será lançado a 26 de março pela Everything Eleven.
Os precursores de uma exuberante art-pop T U N E YA R D S têm um novo disco de seu nome Sketchy, que sai a 26 de março, editado pela sua casa de sempre, a editora 4 AD.
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BELEZA ELE
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EL A
texto por Eduardo Estevam
Com a chegada da primavera, aproveite para dar longos passeios e cuide de si! Não se esqueça que o nosso corpo é um templo. Cuide da sua pele, cabelos e mente, para isso, combine os melhores produtos de tratamento, as melhores fragrâncias, e boa música. Vai ver que os seus momentos serão muito melhores e mais relaxantes!
Chegou Botik, a nova linha de cuidados de rosto do Boticário.
BlazeFit é o novo suplemento à base de algas da Depuralina, que ajuda a reduzir a absorção de gorduras.
A sua nova rotina de Apivita.
Givenchy Irresistible eau de parfum.
Kérastase blond absolu cicaextreme, a solução para manter o cabelo louro saudável em casa!
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Egeo, para ele e para ela, do Boticário.
MKmen, a nova gama de skincare para ele da Mary Kay.
Abeile Royale, o mais procurado da Guerlain.
Kit Acqua di Parma. 77
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TINDERSTICKS A INFINITA E BELA TRISTEZA
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SOUNDSTATION
Chagados ao décimo terceiro disco de estúdio, os TINDERSTICKS surpreendem mais uma vez com Distractions. Despiram-se das orquestrações habituais e abraçaram o minimalismo e a maquinação dos elementos musicais. Apesar de STUART A. STAPLES advogar não se tratar de um disco sobre o isolamento provocado pela pandemia que, em todo o mundo, assola os nossos dias, a verdade é que a solidão e a melancolia estão presentes mais do que nunca. Já com uma longa carreira, e com amor confessado pelo nosso país, ouvir este novo disco, faz-nos sentir que recebemos velhos amigos em casa, com novas histórias, e isso sabe-nos bem. É evidente que o espírito dorsal da banda se mantém. As melodias são intimistas, melancólicas e extraordinariamente densas. Na realidade o disco apenas contém sete canções e três delas são versões de outras bandas. Mas os quatro temas originais são um extraordinário contributo para a sua longa lista de canções intemporais. O disco abre com o minimal Man alone (can’ t stop the fadin), assente num poderoso baixo e em loops que fazem parecer ser de um velho teclado Casio. O tema foi também o seu primeiro single, e os seus onze minutos ditam desde logo a premissa da mudança que a banda operou neste álbum. A repetição da letra e a inclusão do som da chuva revelam uma densa melodia e uma aglutinante melancolia. O tema seguinte, I imagine you, revela uma desarmante canção, rica em sussurros fantasmagóricos. A música cola-se ao spoken word e conduz-nos pelos corredores de uma história. Como se da banda sonora de um filme se tratasse. E abraça-nos com uma leveza estonteante, mas ao mesmo tempo extraordinariamente densa.
Finalmente a nova roupagem para o tema dos TELEVISION PERSONALITIES You’ll have to scream louder assenta num funk sedutor, com a guitarra a evocar NIEL ROGERS. A música floresce ainda mais escorreita e elegante com os órgãos e o baixo a contraporem. Esta será provavelmente a música mais politizada do disco. E eis que entramos na reta final de Distractions. Ao piano e a cantar em francês Tue-Moi é uma ode às vítimas que padeceram no famoso clube parisiense Le Bataclan, sala de espetáculos que sofreu um ataque bombista terrorista em 2015, e que foi tantas vezes palco da banda. Trata-se de uma poderosa e comovente balada imbuída de uma raiva contida e profunda tristeza.
The bough bends encerra o álbum com fortes exa-
lações a iniciarem canção, sendo suprimidas por spoken word, numa narrativa que parece ser saída de um filme. A vocalização, quando chega, envolve a melodia num longo e sentido abraço. Como se todo o desalento, preso até então, se esvaísse, finalmente, do peito.
Distractions é provavelmente o álbum mais hete-
rogéneo da banda, na medida em que cada música tem uma identidade própria e que poderia subsistir por si só. Embora nascido em tempos de desespero, o álbum não é um retrato deste tempo. Mesmo que os temas possam de certa forma evocar a solidão, a melancolia, o distanciamento emocional e físico das pessoas, na verdade a banda retrata-os vezes e vezes sem conta na sua já longa carreira. No entanto, nas mãos dos TINDERSTICKS, nunca a tristeza foi tão bela.
As versões dos temas de outras bandas são apresentadas de seguida com A man needs a maid de NEIL YOUNG, que conta com a colaboração de GINA BAKER, sua habitual colaboradora. A juntar aos sentimentos de solidão da música original a banda criou ambientes eletrónicos, que nos remetem para paisagens desenhadas por ANGELO BADALAMENTI. Como se estivéssemos num fumegante clube noturno. Por seu turno, a versão de DORY PREVIN Lady with the braid, alimenta-se de referências soul, entro-
sada com uma textura que cruza os tradicionais elementos orquestrais e batida eletrónica. O desespero e a solidão são, ainda, tratadas aqui com uma extrema ternura, numa mistura de sons ao estilo dub, teclados e guitarra post-punk.
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texto por Carlos Alberto Oliveira
SOUNDSTATION
NÁDIA CORREIA
PORTUCALE 96
FOTOGRAFIA
Fotógrafa, mulher, emigrante —vivo fora de Portugal há mais de dez anos. Não me apercebi o quanto me tinha distanciado da minha cultura para me aproximar daquela que me recebeu. Durante este tempo afastei-me das minhas raízes, tornei-me mais maleável, absorvi mais de uma outra língua. Dez anos depois, voltei a sentir-me próxima da minha terra natal. Não tem sido fácil estar longe, mas também não é fácil estar perto. Cresceu um sentimento de estranheza a um lugar tão familiar sem eu perceber como. Neste processo de repensar “o meu ser português” recorri a elementos únicos ligados à minha identidade pessoal. A praia, a música, a religião (ou a sua negação) e a natureza. Estes elementos unidos à imagem tradicional da mulher portuguesa levam-me numa viagem pela história e pelos lugares que me são familiares. Portugal é revolução, flores e fado, saudade e praia/ varina e campo mas também é a água que lava a alma… Assim surge PORTUCALENSE, uma pequena interpretação da minha identidade portuguesa, que aqui tem o seu primeiro episódio.
ENSE 97
Nádia Correia @nadiacorreiaphotography Hair Stylist Edgar Venâncio @edgarvenanciohairstylist Make Up Artist Beatriz Texugo @beatriz.texugo Stylist Raquel & Sofia Rodrigues @thecongruenceproject Retoucher Callum James Lewis @callum.jameslewis modelo Beatriz Ferreira (@weare_models) Analisa Graça (@elite_lisbon) Photographer
FOTOGRAFIA
VESTIDO @imauveofficial SAIA @urbanstudiolx CHAPÉU @palmasdouradas SAPATOS @pallas.pt FLORES @ magdalaflores
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FOTOGRAFIA
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FOTOGRAFIA
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FOTOGRAFIA
VESTIDO @imauveofficial SAIA @urbanstudiolx CHAPÉU @palmasdouradas SAPATOS @pallas.pt FLORES @ magdalaflores
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FOTOGRAFIA
BLUSA E SAIA TRANSPARENTE @alexandramoura HOT PANTS @imauveofficial JÓIAS @julianabezerrajewellry
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FOTOGRAFIA
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FOTOGRAFIA
O MELHOR DE PORTUGAL
LIKE CORK
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DESIGN
texto por Francisco Vaz Fernandes
AROUND THE TREE
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DESIGN
FÁBRICA SANT'ANNA
FÁBRICA SANT'ANNA
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SUGO CORK RUGS 106
DESIGN
Um dos grandes problemas do design e da indústria em Português tem sido, desde sempre, as costas voltadas dos profissionais uns para os outros, sem conseguirem estabelecer pontes. Os industriais precisam de matéria crítica, inovação para renovar o produto e tornarem-se mais competitivos no mercado global e os designers precisam de industriais para poderem desenvolver o seu exercício criativo e serem mais produtivos.
BORDALLO PINHEIRO
Esta evidência é , contudo, apenas uma parte da equação da qual JOANA BEIRÃO, arquiteta de interiores e business designer, tinha consciência, dadas as dificuldade que, por vezes, enfrentava em encontrar os fornecedores certos para desenvolver os seus projetos pessoais. Havia a necessidade de uma plataforma, onde pudesse encontrar profissionais e capacidades produtivas, uma lacuna que contornou, quando em 2017 no âmbito da feira, Alimentaria & Horexo que decorreu na FIL, foi convidada a criar e a gerir um projeto a que chamaram, “O mais Português Hotel do Mundo”. A orientação dada era recriar um espaço hoteleiro com áreas que cobriam da receção ao quarto de hotel, recorrendo unicamente a marcas 100% portuguesas. Era pois urgente existir essa informação essencial compilada para um acesso de forma rápida e cómoda. Daí que tenha saído a ideia de criar o 1o Diretório pesquisável de marcas de produção portuguesa ligadas à ideação e ao desenvolvimento de espaços interiores. Nascia assim a plataforma —Portugal Faz Bem —, uma página digital, com a apresentação de uma landing page que anunciava um guia on-line dedicado às marcas portugueses. Estávamos em 2018 e a aceitação por parte dos profissionais da arquitetura, design e decoração foi muito positiva o que permitiu que o projeto tivesse uma expansão para novas áreas complementares.
BORDALLO PINHEIRO 107
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Na fase inicial, a plataforma contou com a colaboração de CARLA GAGO, uma economista apaixonada pelo design, dona de uma loja de decoração em Carcavelos, com quem a JOANA BEIRÃO tinha trabalhado na realização do seu hotel português. O plano inicial passou por um levantamento de interessados o que as levou a entrevistar e ter um relacionamento mais próximo com os arquitetos, os designers e as marcas. Foram, no essencial, encontros presenciais, grande parte deles nas fábricas ou nos ateliers, nos quais se tentava averiguar quais os estrangulamentos que tornavam impossíveis as relações entre produção e criativos a que estávamos aparentemente condenados. Em conversas aperceberam-se que da parte das marcas o que era pedido no essencial era uma proposta nova, o storytelling da produção e não tanto a do produto. Nesse sentido a plataforma, não procura vender o produto, mas no essencial identificar as marcas nacionais mostrando o seu universo pelo lado dentro. Ou seja, como se fosse o seu lado íntimo na sua cadeia de relações fortes e emocionais que estabelece na esfera local bem como na nacional. A presença das marcas na plataforma faz-se a partir de uma subscrição anual de permanência no diretório, que garante igualmente serviços de comunicação e marketing se pretendidos. Como utilizadores da plataforma encontramos, essencialmente, profissionais da arquitetura, design de interiores e de produto e proprietários. Contam com nomes de marcas de referência nacional como a RENOVA, a CASTELBEL, o BORDALLO PINHEIRO, VIÚVA LAMEGO mas também entidades mais pequenas como a CORKART, a SERIP, a JOÃO BRUNO DESIGN, igualmente relevantes. O feedback tem sido positivo, porque para muita gente é de facto, uma grande descoberta a quantidade de áreas, onde Portugal produz em grande qualidade ao melhor nível internacional, sem que isso seja muito divulgado. Nos últimos anos, com o conhecimento de tantos interlocutores em fábricas e oficinas em laboração ou antigos complexos industriais, com equipamentos museológicos que lhes proporcionaram tantas histórias emocionantes, as responsáveis da Portugal Faz Bem, ganharam uma nova consciência do vasto património industrial que há a descobrir e a preservar. Foi quando surgiu a ideia de cruzar a plataforma Portugal Faz Bem com a área do turismo industrial, levando à programação de visitas a locais de produção industrial ou artesanal. Esta nova perspetiva trouxe novos clientes ligados ao turismo e foi relevante para o crescimento da plataforma. É nesta fase que a equipa teve que crescer e foi lançado o desafio a MARIA JOSÉ CUESTA, DESIGN
GALULA
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DESIGN
PROJECTO TASA
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PIRAMIDAL
DESIGN
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DESIGN
arquiteta fundadora do atelier CVMJ, de criar os roteiros que, hoje em dia, estão disponíveis. É uma aposta num produto turístico, inserida na agenda do Turismo de Portugal, que procura desenvolver uma rede Nacional de Turismo Industrial português com a participação dos Municípios e Entidades Regionais do Turismo de Portugal. Tornam-se assim intervenientes relevantes e para isso contam ainda com SÓNIA FREIRE da Come by, que traz o conhecimento ligada à operação turística.
IVA VIANA
JOANA BEIRÃO acredita que o —Portugal faz Bem — permite levar o que de bom se produz em Portugal aos quatro cantos do mundo, de forma acessível e organizada, através dos portugueses espalhados por esse mundo fora e pelos turistas que nos visitam. Certamente é um projeto que necessita de afinações, como por exemplo, ter uma plataforma a funcionar em várias línguas que a tornasse mais robusta, e atendesse a outros sectores da economia. O Covid trouxe-lhe alguns impasses que têm sido verdadeiros desafios. O projeto que tinha sido pensado para estabelecer encontros pessoais entre profissionais de diferentes áreas complementares, tinha que ser adaptado às circunstâncias do distanciamento social imposto. Resolveram então, promover encontros on-line, onde o número circunscrito de interessados inscritos nunca baixou e até aumentou. O modelo mantém a mesma estrutura, um designer convidado conferencia com responsáveis de duas marcas portuguesas. Nestes novos tempos houve até a possibilidade de se intensificar esses encontros mensais. O último juntou o designer PEDRO FERREIRA ( Pedrita) a RUI SALGADO ( Fiu Jardins Suspensos) e AQUILES BARROS (Castelbel ). Nas sessões anteriores passaram nomes como os designers CHRISTOPHE DE SOUSA e ANDRÉ TEOMAN a título de exemplo, que se encontraram com VANDA JORGE (Cool Hunting Society), SUSANA BAPTISTA (Investwood) e CARLOS COELHO (Portuguese Mask). Todos os encontros estão documentados e disponíveis no canal Youtube. Basta consultar o site da Portugal faz Bem.
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DESIGN
VANESSA BARRAGÃO
VANESSA BARRAGÃO
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DESIGN
WEWOOD
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DESIGN
A IMPRIMIR PEQUENAS JÓIAS
PAPER VIEW BOOK 116
PRESS
entrevista por Francisco Vaz Fernandes
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impressão de desenho de ANDRÉ LEMOS
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Durante anos, cruzei-me com o SAL NUNKACHOV, uma das figuras incontornáveis dos desfiles de moda de Lisboa e do Porto. Acompanhava os eventos a partir dos bastidores a pedido dos criadores nacionais fotografando as coleções ganhando consequentemente familiaridade e cumplicidade com os modelos que naturalmente sentiam-se privilegiados por terem a atenção do fotógrafo. Em geral as suas fotografias mais marcantes eram retratos a preto e banco que tinham uma dimensão clássica e intemporal. Era impossível não ficar enaltecido pelo olhar do SAL e por essa razão eram os modelos que o procuravam e sem grandes exceções fotografou todos que foram ganhando protagonismo no panorama nacional. A fotografia de moda que em muitos países tem o estatuto de arte e é colecionavel, continua a ser secundarizada em Portugal e por isso, SAL continua à espera que alguém faça uma grande revisão do seu trabalho e o dé a conhecer a uma escala nacional. Enquanto isso, por necessidade, procurou sempre imprimir as suas próprias edições pelo prazer de juntar grupos de imagens que realizava. Punha assim em prática a sua formação básica em artes gráficas recorrendo inicialmente a meios de impressão muito rudimentares, num espírito home made. Esse universo foi crescendo progressivamente a base de reciclagem de máquinas obsoletas que hoje são o mundo mágico de SAL NUNKACHOV. O apresso pelo que faz nessa área tem crescido e passou a ser procurado e foi assim que nasceu a sua pequena casa de edições , a Paper View Book, que hoje é procurada por todos aqueles que procuram produzir uma pequena jóia super restrita.
Nós conhecemos-te essencialmente como fotógrafo, como nasceu , a editora Paper View Book e essa paixão pelas artes gráficas? SAL Desde muito cedo senti um apreço especial pelo objeto impresso, sendo que a concretização do livro me pareceu a herança mais forte de todo o processo civilizacional. Quando comecei a Paper View, fi-lo também como forma de editar os meus trabalhos, garantindo as decisões inerentes ao processo. Também não proliferam editoras de fotografia em Portugal, pelo que, para ser editado, quase que me vi na condição de fazer no registo “do it your self”. Mas para imprimir tinhas que ter os meios e além disso conhecimentos. Como foi todo esse processo? SAL Eu fui adquirindo máquinas de impressão, especialmente modelos que estivessem obsoletas ou em vias de, porque exerciam sobre mim um fascínio estético e tinha todo o interesse em as preservar. O processo de aprendizagem fez-se a partir de muitas tentativas e de muitos erros, até porque nem sempre encontrava os manuais dessas máquinas descontinuadas. O meu interesse pelas artes gráficas, vem de trás, quando fiz um curso nessa área em Coimbra o que me abriu o interesse pelo offset. Mas estamos a falar de máquinas incomportáveis para dimensão doméstica que o meu projeto mantém. Que tipo de trabalhos podes agora desenvolver? Quem é que te procura? SAL Neste momento, maior parte dos trabalhos são em risografia, livros, cartões de visita ou posters; e serigrafia , tshirts e posters, para bandas, ou até mesmo para serviços de Take Away, visto que agora os concertos estão meio parados. Além destas técnicas, tenho também a possibilidade de usar gravura, estampagem a quente, duplicadoras a stencil, hectografia, cianotipia, entre outras. Faço muitas impressões híbridas que conjugam várias técnicas.
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"Round About" de SAL NUNKACHOV
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Agora também és conhecido pelas publicações que tens realizado. Como é que consegues gerir o volume de pedidos? SAL Quando começei a publicar para mim, tinha já em mente lançar também coisas de outros autores que gosto, proporcionar edições que fossem de alguma forma especiais. Tenho publicado de bastantes pessoas sem me preocupar muito com uma coerência editorial. A linha editorial resume-se de facto ao "eu gosto". Na lista de livros mais recentes conta com publicações de ANDREW KUYKENDALL, ANDRÉ LEMOS, DEREK BEAULIEU e JAMES KNIGHT que me deixam orgulhoso. Publicar um autor como DERECK BEAULIEU, um reputado poeta que eu admiro é sem dúvida algo que me orgulho e é desde já um ponto alto na curta vida da Paper View Books. O teu "eu gosto", como referes, segue uma linha editorial, ou não é uma preocupação primeira e surge de encontros com os autores que gostas? Como é que tudo se processa? SAL A linha editorial segue no essencial meu gosto, como disse.
Mas como é que isso acontece? Como e quando decides vou publicar aquele autor? SAL Não nego que é um processo que em grande parte é intuitivo, com algum acaso. Depende se determinado artista se revê no projeto que proponho. Nem sempre tudo é imediato. Há sempre contratempos, como é o caso de certos fotógrafos que gosto, que não tendo material ou já estando comprometidos com outras editoras, deixam a promessa de mais tardar fazer algo comigo mais tarde. Também há fotógrafos que já estão previstos mas que demoram mais tempo a juntar material para ser publicado. Cada caso é sempre único, mas sempre que avanço com um convite é porque há á partida alguma afinidade correspondida. 121
De todas as edições que já publicaste qual delas te enche mais de orgulho e porquê? SAL Não há propriamente uma, há várias. Das primeiras edições destaco o livro Sand, da LEONOR RIBEIRO, que foi fotografado na praia. Dei-lhe uma capa a partir de uma folha de lixa e quando folheamos o livro há uma noção física da areia. Foi uma edição bastante complexa, mas gostei de pôr a ideia em prática e do resultado final. O último do ANDREW KUYKENDALL foi todo encadernado à mão e foi uma verdadeira loucura. Apercebi-me disso quando recebi as primeiras encomendas e tive de meter a mão à obra e encadernar as cópias para enviar. Custou, mas entretanto já encadernei a mais, para encomendas futuras. Na altura não pensei no grau de dificuldade. Mas todas as publicações têm particularidades que lhe trazem alguma singularidade e por isso tenho dificuldade em escolher uma. O Transvision, por exemplo, que foi impresso em papel vegetal, criando uma narrativa de acumulação, com as páginas a comunicar duma forma quase premonitória do próprio percurso era algo muito singular. O Because, pelo tamanho. Tem 84 cms, também foi uma publicação deveras desafiante. Estou agora a terminar uma outra desta vez com 70 x100 cms, que está claramente a ser um processo de luta.
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"Catalogue Saisonee" do poeta DEREK BEAULIEU
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Estamos sempre a falar de edições com poucas cópias, que podem quase ser consideradas como uma obra de arte. Quem as procura? SAL As edições andam em torno das 100 ou 50 cópias. É um universo reduzido, maioritariamente procurado por pessoal da Europa e dos Estados Unidos, apaixonados por publicações tão particulares. Encontram-se disponíveis por encomenda a partir de contacto on-line. Também em alguns espaços físicos, mas muito poucos.
Mas tens alguma estratégia para divulgar o projeto, tens alguma meta que procures alcançar? SAL Neste momento estou a terminar o site que estará pronto em breve. A par das edições, temos a parte de impressão para clientes, que é uma mais valia, porque algumas das máquinas que temos são de facto, raras. Não procuro propriamente estabelecer metas, porque quero continuar a editar coisas que goste. Gostava de editar mais autores de texto, aliás, qualquer autor em qualquer área pode sempre contactar-me com uma proposta de edição. Onde é que encontraste as tuas máquinas? A maior parte em feiras de velharias, mas também em antigos escritórios e gráficas. Por vezes também se encontra algo no on-line, mas podem ser muito pesadas e nem sempre são um bom negócio, até porque não se pode experimentar para atestar o estado. Recebi algumas doações de amigos que conhecem o meu interesse.
SAL
Imagino que tenhas muitas histórias relativas às tuas máquinas. Qual é que gostas mais e que nunca venderias e qual delas foi uma grande decepção e é ferro velho no estúdio? SAL Por sorte, nenhuma das que entraram no meu atelier foi por uma questão estética. Todas funcionam , mas não é garantido. Tenho encontrado várias em péssimo estado, que as pessoas pedem um dinheirão, sem saberem o real valor. Eu procuro essas máquinas para imprimir e de todas a que tem a história mais curiosa foi a minha máquina da Adrema que pertenceu a um sindicato. Servia para enviarem a correspondência. Encontrei-a num edifício abandonado. E o fotógrafo que imagino que continuas a ser onde está? SAL Devido à contingência actual, estou parado como muitas pessoas que foram privadas de poder exercer o seu trabalho. Talvez retomemos o ritmo paulatinamente num futuro próximo, assim espero. 123
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PÓS-DAMA
entrevista por Inês Monteiro
JÚLIO DOLBETH 124
ILUSTRAÇÃO
“Dangerous Liasions”, 2019, lápis
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ILUSTRAÇÃO
“I am you”, 2019, digital
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ILUSTRAÇÃO
Desde pequeno que JÚLIO DOLBETH tem o desenho muito presente na sua vida. Artista, ilustrador e professor, foi co-fundador da galeria e associação cultural Dama Aflita, no Porto, um espaço pioneiro em Portugal na exposição e venda de trabalhos de ilustração, que além de ter trazido nomes relevantes do circuito global, conseguiu também chamar a atenção para os talentos nacionais, abrindo mais possibilidades de os fazer circular internacionalmente.
Frequentaste o curso de Design de Comunicação na escola de Belas Artes da Universidade do Porto onde hoje lecionas. Quando é que a ilustração começou a chamar a tua atenção e se tornou uma prática mais regular? JÚLIO Quando estudei na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, existia uma partilha muito grande entre o design e as artes plásticas, o que sempre me fascinou. Participava nas aulas de pintura e sempre senti que era naquele lugar que me sentia mais confortável. O design conquistou-me através do desenho, mesmo que na altura não tivesse grande consciência das possibilidades todas dos territórios da ilustração. Percebi que seria por aquele caminho que mais gostava de comunicar. E quando é que o design gráfico ficou arrumado de lado, se ficou? JÚLIO Sim ficou, de certa maneira comecei progressivamente a deixar de aceitar trabalhos de design. Fiz algumas coisas pontuais, na maioria colaborações. Penso que as últimas coisas que fiz com mais visibilidade foi o design da galeria Dama Aflita, que fundei com a LÍGIA GUEDES e o RUI VITORINO SANTOS em 2008.
Sentes que o teu passado como designer gráfico é uma mais-valia para a ilustração que fazes atualmente? Encontras no desenho atual algo que liga com o passado? JÚLIO O design ensinou-me a ser mais organizado, a pensar em composição de forma mais depurada. Acho que sempre me expressei através do desenho numa abordagem mais impulsiva e emotiva, enquanto no design aprendi a organizar esses impulsos.
De rostos aleatórios ao rosto de amigos, faces nunca antes imaginadas e proporções desproporcionadas, JÚLIO DOLBETH fez da ilustração a sua melhor amiga e companheira de vida. Angola foi a terra que o viu nascer, mas é no Porto que vive e trabalha traduzindo o amor que sente pela ilustração em exposições e galerias. Mais do que uma arte, o desenho tornou-se numa língua, num modo de comunicação e uma forma de passar para o exterior o mundo interior. A gentrificação obrigou a galeria a fechar mas o amor pela ilustração continua muito presente. 127
Desenhar sempre foi para algo natural, uma faculdade inata ou algo que foste cultivando ao longo do tempo? JÚLIO Acho que a aptidão nunca é inata, mas vai-se construindo com o trabalho. Já a sensibilidade sempre a tive, sempre desenhei muito. Olhando retrospetivamente lembro-me de aperceber em miúdo da frustração de não conseguir desenhar o que via, cresci com esta perspetiva realista das coisas. Essa frustração talvez tenha sido o maior alicerce para a prática do desenho, perceber que não sou realista, mas sustentar a prática pela tentativa e erro.
ILUSTRAÇÃO
“Waiting”, 2020, digital
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“Skate”, 2020, digital
ILUSTRAÇÃO
Quais eram as tuas grandes influências inicialmente? JÚLIO EDWA R D HOPPER, DAV I D HOCK N EY, AMADEO DE SOUZA-CARDOSO, EDUARDO BATARDA, ÁLVARO LAPA. E atualmente, quem que veneras? Tantos que é difícil escolher. KIKI SMITH, KARA WALKER ou RAYMOND LEMSTRA são os que continuam no topo da minha lista.
JÚLIO
A ilustração tem vindo a ganhar cada vez mais visibilidade, atualmente já tem um estatuto de arte, é colecionável e os ilustradores acabaram por ganhar uma reputação que até agora não tinham. Como vês essa alteração de estatuto? JÚLIO Acho que já estava na altura de isso acontecer. A ilustração era considerada uma arte aplicada ou arte menor, o que não só é injusto, como também elitista. Hoje em dia a ilustração tornou-se mais visível, em grande parte por uma nova geração de artistas que contribuem para o seu reconhecimento. Fico feliz ao ver originais de autores que gosto em galerias ou nas paredes da minha casa. E em Portugal achas que está a acontecer o mesmo? JÚLIO Sim, sinto que existe uma comunidade muito forte e em crescimento de ilustradores em Portugal. Com a Dama Aflita senti que tínhamos um público informado e curioso que com grande generosidade e alento alimentou o nosso projeto. No teu caso, o que sentes que foi fundamental para que o teu trabalho ganhasse maior notoriedade? JÚLIO Acho que o mais importante foi ter reconhecimento pelos meus pares. Começar a ser convidado para participar em mostras e exposições coletivas, principalmente com tantos ilustradores que admiro.
“Gatinho”, 2020, digital
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Em que medida a galeria que abriste no Porto foi fulcral para a divulgação, não só do teu trabalho, como o de muitos outros nomes? JÚLIO Acredito que a galeria contribuiu para divulgação da ilustração, senti que tínhamos um público que foi crescendo de exposição para exposição. Já existiam outros projetos semelhantes, mas penso que como espaço de galeria exclusivamente dedicado a esta área, fomos pioneiros. Sinto que deu força a outros projetos que surgiram a seguir numa estratégia de comunidade. Uma das definições mais presentes que tenho da ilustração em Portugal é a palavra comunidade e acrescento ainda partilha e generosidade. ILUSTRAÇÃO
“Underwater”, 2021, lápis e digital
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ILUSTRAÇÃO
E perante o sucesso que foi a Dama Aflita, porque tiveram de fechar? JÚLIO A Dama Aflita foi vítima da gentrificação. Abrimos uma galeria numa rua do Porto só com lojas de madeiras e móveis, o que no início nos levou a uma narrativa de bairro muito interessante. Claro que a baixa do Porto iria rebentar, era um diamante em bruto por lapidar. Em qualquer cidade europeia, o centro é o sítio onde tudo acontece e o centro do Porto estava adormecido há anos. Assistimos à transformação da rua e das lojas a fechar para dar origem a bares e restaurantes. De certa maneira, seria uma questão de tempo até irmos “cantar para outras freguesias” e dar lugar a comércios mais lucrativos. Provavelmente a rua podia ter crescido noutro sentido, a parceria que tínhamos com a loja Matéria Prima era um casamento perfeito: ilustração e música com edições independentes, o que poderíamos querer mais?
“Broken”, 2021, lápis e digital
Hoje em dia, ainda faria sentido começar um projeto como a Dama A flita ou divulgarias o teu trabalho nas redes sociais? JÚLIO A Dama A flita faz sempre sentido. O projeto tinha como objetivo divulgar o trabalho de artistas e ilustradores, mas acima de tudo proporcionar uma tela em branco para experimentar. Interessava-nos diluir as fronteiras convencionais da definição de ilustração, e isso aconteceu com muitos projetos desenvolvidos para aquele espaço. Criámos uma série de ações que ganharam força pela proximidade, como a Dama Talks, onde convidávamos os autores a falar sobre o seu trabalho, promovemos workshops, concertos, etc. No fundo, interessava-me a ideia da ilustração pela sua componente transversal a vários comportamentos ou narrativas. GARY BASEMAN, numa entrevista referiu que o seu trabalho se definia como pervasive art, um trabalho que pode habitar múltiplas ocorrências desde a street art, a escultura, o vídeo, entre outros. É assim que vejo a ilustração. As redes sociais foram fundamentais para a internacionalização do teu trabalho? JÚLIO Acho que sim, contribuíram para compreender e conhecer as pessoas que gostam do meu trabalho. De certa forma, ampliam o alcance sem intermediários, sinto que as pessoas que me seguem nas redes, gostam daquilo que faço e isso só por si já é muito bom para continuar a fazer.
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ILUSTRAÇÃO
“Sem título”, 2021, gravura e digital
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ILUSTRAÇÃO
“Sem título”, 2021, gravura e digital
Muito do que desenhas são referências a ti e ao teu universo. Como é que surgem as temáticas que vais desenvolvendo? JÚLIO É exatamente isso, o meu universo. Mesmo que na maior parte das vezes ficcionado. Neste momento tenho muito a prática a desenhar amigos ou pessoas que gosto, por vezes sou o chato dos jantares que vem com o caderno atrás. Gosto muito destes resultados, muito espontâneos, divertidos, muitas vezes volto a eles e refaço-os ou edito digitalmente. Como descreverias a tua geração? Acho que a minha geração é batalhadora, sinto-me rodeado de pessoas que vão à luta e trabalham pelos seus ideais. Claro que chega a um momento da vida em que a utopia começa a dar lugar a questões mais práticas de sobrevivência. De certa maneira, aprendi a não cruzar os braços e investir naquilo que me apaixona, como foi o exemplo da Dama Aflita.
JÚLIO
Relativamente às gerações futuras, em que posição te colocas? JÚLIO É estranho mas ainda não sinto muito o fosso geracional, sinto que pode chegar o momento em que serei o boomer da festa, mas para já acho que ainda consigo comunicar com os meus pares mais novos. O teu trabalho também tem sofrido alterações no que toca ao estilo. Hoje em dia o lápis e mesmo a pintura tem aparecido com mais regularidade, como foi esse processo? JÚLIO Durante muito tempo era quase só o lápis ou o digital. Acho que se devia a uma questão de prática, trabalhava na minha mesa e pronto. Por vezes, espalhava desenhos pela sala de jantar e ficava com a casa intransitável durante vários dias. Com a conclusão do doutoramento aluguei um atelier partilhado com outros ilustradores e artistas e consegui dedicar-me mais à pintura e outros materiais. Com o confinamento voltei um pouco ao lápis e essencialmente ao digital. No teu caso, a lógica de exposição alterou a perceção da realização de um trabalho ilustrativo? JÚLIO Talvez me enquadre neste mar de possibilidades onde a ilustração não seja apenas editorial. Na minha opinião a ilustração anda de mão dada com a narrativa, depois pode-se materializar num livro, num cartaz, num emoji, num prato ou num desenho exposto numa parede.
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ILUSTRAÇÃO
UM CONTO DE FADAS...
História de Catarina João Vieira
LA VIE DE MARIE 134
CONTO
Fotografia e produção
JOÃO BARREIROS Direção Criativa e Set Designer
MARIANNE DA CONCEIÇÃO assistida por JOÃO BARREIROS Styling
MARIANNE DA CONCEIÇÃO assistida por MARIA VERCETTI Make-up
MARIANA REBELO Hair
SARA PEREIRA
Vestido e jóias da BOUDOIR VINTAGE BOUTIQUE @boudoir_thrifts
Agradecimento especial a BARREIROS&BARREIROS e JOANA MACEDO DESIGN pelo fornecimento de material para o set design.
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CONTO
Conhecida por ser uma fada, criatura do universo, livre, que voa. No seu mundo, tudo é possível, até transformar o seu quarto numa floresta, sítio onde nasceu. A sua vida dá um conto. De fadas, obviamente. Conheçam a fada que vive em Maria, “La Vie de Marie”.
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CONTO
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CONTO
Era uma vez...
Maria, que nasceu na Estela, num dia frio em outubro no ano de 2001. Desde cedo que teve uma relação muito forte com a natureza, sempre pertenceu lá. A Mãe Natureza acolheu-a de braços abertos e nunca mais a largou. A sua infância foi passada no meio de árvores, animais e desenhos na parede com medo de ser esquecida pelas pessoas. Quando era pequena, fazia vídeos, danças, animações, para um dia ser recordada como aquela menina feliz. Apesar de se sentir sozinha, insegura e de ter traumas familiares, Maria sempre viu na floresta e no Sol, a sua ovelha, uma companhia constante. Nesses mesmos dias, entre deambulações, nascia La Vie de Marie, uma personagem que Maria criou para se abstrair desse mundo e que, desde pequena, nunca foi fácil para ela. “Sabemos muito bem que os contos de fadas são a única verdade da vida” já dizia Antoine de Saint-Exupéry. 138
CONTO
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CONTO
Uma viagem a um reino diferente
La Vie de Marie e Maria caminham sempre de lado a lado nas suas certezas e inseguranças - no final do dia protegem-se e dão a mão, sabendo que se terão sempre uma à outra. Marie foi para Lisboa para se refugiar de uma realidade que não a aceitava. Rumou a um curso de Cerâmica Industrial, mas não era o que ela mais queria. Desde então que se dedica a criar um espaço de liberdade e de aceitação nas suas redes sociais e que, um dia, será na televisão ou no cinema, sonho dela. Da mesma forma que ela se abstrai do seu mundo, Marie quer que as pessoas o façam também. Acredita que a cultura audiovisual influencia as gerações mais velhas e que se houvesse a normalização de todas as pessoas, talvez houvesse mais aceitação e representatividade.
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CONTO
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CONTO
A sua fada madrinha
Marie sempre se sentiu presa ao amor e considera-se uma pessoa que gosta de abraços, e carinho. A floresta é a sua casa mas nela habitam outros seres. Um deles é Maria Sampaio (conhecida por Bell), que para ela, é uma mãe. Bell viu uma reflexão dela em Marie e nunca mais a deixou. Tudo começou com uma troca de mensagens no Instagram e a partir daí é o seu conforto, é o seu porto seguro, é um amor que nunca sentiu. Sabe que quando estiver num dia mau, Bell estará sempre lá para a consolar. O sonho de Marie é encontrar a sua família verdadeira. Bell já faz parte dela.
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CONTO
Os vilões
Marie sente muita pressão e precisa de descansar. De repente, e pelo facto de ter crescido organicamente nas suas redes sociais, tem de ser perfeita. Recebe mensagens diariamente com pedidos de ajuda de pessoas que pensam em suicidar-se se ela não responder, ou de pais zangados para dar atenção aos seus filhos. Marie tem 19 anos e tem o peso de uma geração nos seus ombros. Para além de ser atacada por vilões, ela é atacada pela sua saúde mental e diz que devemos cuidar de nós próprios como se estivéssemos a cuidar de um amigo. Afirma que todas as pessoas estão a sofrer coletivamente em silêncio e a mostrar que estão coletivamente felizes. Marie sabe que a comunidade só será mais coesa quando houver mais empatia. Gostava de viver numa utopia, daí criar a dela. 144
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CONTO
Um conto que nunca terminará
Marie, hoje com 19 anos, vive a sua vida ao lado das pessoas que ama e que a cultivam com o seu amor e amizade. Cresce todos os dias num mundo que não está preparado para ela. O duelo entre Marie e Maria é diária, porque todos os dias está em constante mutação e ainda está a aprender a lidar com a sua personagem. A sua missão só terminará quando todos os seres do universo se unirem e se aceitarem como são, sem viverem de aparências e preconceito. Até lá, a sua luta continua entre dias de sol, chuva, aqui, aí, na cidade e na floresta. Marie pode voar para qualquer lado. No seu mundo, aquele em que só existe nos contos de fadas. Mas, que hoje, é nosso.
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CONTO
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CONTO
The end.
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CONTO
fotograf ia PEDRO AFONSO ( @pedroafonsogram) direção criativa e styling ANA MAGALHÃES ( @anadotmagalhaes) assistida por ANDRÉ DANTAS ( @dantas_prof issional)
WAI T ING IN T HE DARK
make up RAQUEL RIBEIRO ( @ana _raquel_ribeiro) com produtos Sisley model YAKIV BRYCHUK ( @yakiv_br @justmodelslisbon) estúdio AV82 STUDIO
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T HE SO OF S P
fotograf ia DIANA NE TO ( @diananetophoto) styling MARTA LOBO ( @martawolf)
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OUND PRING
grooming BE ATRIZ TE XUGO ( @beatriz.texugo) model RITA COSTA ( @rritasc @elite_lisbon)
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collants CA L Z E D O N I A vestido em malha U N F LOW E R B R A N D botas em crochet e lenço em pele M A RC E LO A L M I S CA R A D O
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lenço em algodão G A N T collants em mousse CA L Z E D O N I A sapatos R I TA I B S camisola em algodão, vestido em lã e chapéu de malha M A RC E LO A L M I S CA R A D O 165
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top e calças em pele com aplicações U N F LOW E R B R A N D botas em crochet M A RC E LO A L M I S CA R A D O
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socas em pele X U Z collants em mousse CA L Z E D O N I A top e saia em lã com aplicações em crochet M A RC E LO A L M I S CA R A D O
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trench coat em algodão G A N T passa montanhas em malha e botas em crochet M A RC E LO A L M I S CA R A D O
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camisola em algodão U N F LOW E R B R A N D calções em algodão LU Í S D E CA RVA L H O collants em mousse CA L Z E D O N I A lenço em pele M A RC E LO A L M I S CA R A D O 173
vestido R I CA R D O A N D R E Z collants em mousse CA L Z E D O N I A socas em pele X U Z lenço em pele M A RC E LO A L M I S CA R A D O 174
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body em lycra R I TA I B S saia em pele U N F LOW E R B R A N D
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polo F R E D P E R RY camisa KO LOV R AT calças A L E X A N D R A M O U R A
# B O N I TO S fotograf ia SARA DE JESUS BENTO ( @sarajbento) styling ANDRÉ SANTOS ( @andrew fsaints) e BE ATRIZ CARDOSO ( @tiz.fashiondesign) 178
S E M CA S A make-up FILIPA VIL AR AFONSO ( @meetmy faces.makeup) models SARA LAPÃO ( @sarutchka _ ) e MARCELO ZHANG ( @marceloczhang ) Um obrigado especial ao Francisco e ao Enzo. 179
casaco KO LOV R AT camisola A L E X A N D R A M O U R A calças L E V I ' S ® x P O K É M O N T M fanny F R E D P E R RY 180
Marcelo
Sara
polo F R E D P E R RY camisa KO LOV R AT calças A L E X A N D R A M O U R A
tshirt A L E X A N D R A M O U R A casaco KO LOV R AT saia H & M x S I M O N E RO C H A
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bucket hat T I M B E R L A N D camisa H & M x S I M O N E RO C H A calças A L E X A N D R A M O U R A
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brincos H & M sweat L E V I ' S ® x P Ó K E M O N T M vestido A L E X A N D R A M O U R A 183
casaco L E V I ' S ® x P O K É M O N T M camisa A L E X A N D R A M O U R A calças G I OVA N N I G A L L I 184
tshirt A L E X A N D R A M O U R A casaco KO LOV R AT saia H & M x S I M O N E RO C H A meias H A P P Y S O C KS ténis VA N S 185
brincos H & M vestido A L E X A N D R A M O U R A
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camisa A L E X A N D R A M O U R A
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tshirt L E V I ' S ® x P O K É M O N T M casaco e saia ALEX ANDRA MOURA 188
bucket hat T I M B E R L A N D camisa H & M x S I M O N E RO C H A
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Sara
Marcelo
gorro L E V I ' S ® x P O K É M O N T M turtle neck A L E X A N D R A M O U R A camisola H & M x S I M O N E RO C H A calças L E V I ' S ® x P O K É M O N T M
bucket hat T I M B E R L A N D camisa H & M x S I M O N E RO C H A camisola VA N S calças A L E X A N D R A M O U R A
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casaco KO LOV R AT camisola A L E X A N D R A M O U R A calças L E V I ' S ® x P O K É M O N T M 191
tshirt L E V I ' S ® x P O K É M O N T M casaco A L E X A N D R A M O U R A
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polo F R E D P E R RY camisa KO LOV R AT calças A L E X A N D R A M O U R A meias H A P P Y S O C KS slippers A N F Í B I O BY KO LOV R AT 193
VISITING TIME
WOW
P O R TO
Agradecimentos: World of Wine Porto, Appicaps, Central Models e N'Joy Models.
fotograf ia RITA MENE ZES direção criativa e styling LUÍS SERENO makeup HUGO BIZ ARRO modelos BE ATRIZ FONSECA ( @centralmodels) REGINALDO MODENES ( @njoymodels)
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camisa R I CA R D O A N D R E Z calças D O C K E R S calçado J OÃO S O U S A 195
camisa R I CA R D O A N D R E Z calças D O C K E R S 196
colete 0.9 V I RU S calças D O C K E R S calçado J OÃO S O U S A 197
top J OÃO S O U S A poncho e saia S U S A N A B E T T E N C O U R T calçado ES C
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macacão J OÃO S O U S A poncho S U S A N A B E T T E N C O U R T calçado ES C 200
Beatriz calças 0.9 V I RU S bolsa R I CA R D O A N D R E Z brinco F R AG A J E W E L L E RY 201
Reginaldo polo F R E D P E R RY camisa KO LOV R AT camisa calças AeL Etop X A N0.9 DRA V IM RU OSU R A meias HSAUPSPAYN S calças AOBCEKS T TENCOURT slippers FALY calçado N F LO ÍBIO N DBY O NKO LOV R AT
Beatriz poncho S U S A N A B E T T E N C O U R T Reginaldo camisa R I CA R D O A N D R E Z 202
camisa 0.9 V I RU S calção R I CA R D O A N D R E Z calçado A P P L E O F E D E N S H O ES brinco J OÃO S O U S A
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R E S TAU R A N T E V E G E TA R I A N O ORIGINE NON ANIMALE ONA texto por Sara Madeira
Um dia tinha que acontecer e muito mais cedo do que esperávamos. O N A , (O R I G I N E N O N A N I M A L E ) é o primeiro restaurante vegetariano a ser distinguido com uma estrela Michelin. É dirigido por C L A I R E VA L L É E , uma ex arquiteta francesa que de um biscate na restauração na Suíça, fez um plano de mudança de projeto de vida, o que a levou num primeiro tempo a uma formação e posteriormente a viagens pelas quatro partes do mundo na perspetiva de pesquisar e inspirar-se. A ideia era vir munida para se lançar num projeto pessoal de restauração vegetariana em Arés, uma pequena vila à beira mar, na zona do Medoc (Bordéus), uma das mais prestigiadas zonas víniculas de França. Foi tudo levado muito a sério e todo o espaço foi concluído sem recorrer a peles ou lã de animais, prevalecendo uma grande explanada já que, também se trata de uma zona de veraneio.
ONA 3 bis rue Sophie et Paul Wallerstein Arés, França @ona33740 www.clairevallee.com 204
PARQ HERE
O seu projeto pessoal passa por quebrar alguns preconceitos. O primeiro mais orientado para o público em geral, é provar que a cozinha vegetariana não tem que ser desnutrida de nutrientes, não ter sabor e ser limitada a determinado tipo de ingredientes. Depois, procura provar entre os seu pares que a grande cozinha francesa não tem que recorrer só a determinados produtos animais e a um receituário que tem por base a traição da sua cozinha e que dentro do mundo vegetal se pode chegar a uma arte culinária tão nobre, inovadora e com os mesmos desafios de complexidade e de exímia técnica que a fazem estar num patamar a cima do comum dos mortais. Aprovar isso, o reconhecimento que chega com a histórica primeira estrela Michelin que neste caso veio acompanhada por uma estrela verde, novo galardão atribuído pelo famoso guia que premeia espaços que prestam especial atenção ao conceito de sustentabilidade e responsabilidade ambiental. Numa cozinha em que só entram legumes, cereais, algas, frutas, sementes, frutos secos, cogumelos, ervas aromáticas, especiarias e flores, sai a nova grande cozinha francesa.
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PARQ HERE
P OM A R DE MON SA N TO
Até ao final do ano os lisboetas vão ter um pomar, que será mais uma espaço verde da cidade que resulta de uma área requalificada em pleno Monsanto. Neste momento estão a ser plantadas as primeiras árvores de fruto do futuro pomar de Monsanto, dando o pontapé de saída para a criação do primeiro parque hortícola de Monsanto, o pulmão verde da cidade que também vai ganhar um novo miradouro. Esta zona com vista para a cidade era até agora uma zona despida propriedade da Direção-Geral dos Serviços Prisionais (DGSP) nas imediações do Estabelecimento Prisional de Monsanto. O projeto até prevê que a gestão agrícola do novo parque passe pela sua comunidade prisional em fase final de cumprimento de penas. Neste momento o terreno está a ganhar socalcos onde estão a ser plantadas 656 árvores de fruto, onde estão incluídos limoeiros, tangerineiras, macieiras, figueiras, pessegueiros ou pereiras. Está ainda previsto neste projeto uma zona de hortas uma área de 10 000 m2 que numa segunda fase será dividida em talhões a atribuir à população da cidade.
texto por Sara Madeira
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CRÓNICA
A BEYONCÉ É QUE TEM RAZÃO!
texto PATRÍCIA CÉSAR VICENTE ilustração NICOLAE NEGURA
Há uma música da B E YO N C É que diz que a perfeição é a doença da nação. Estão espalhadas mensagens de aceitação por toda a parte, que devemos aceitar a nós e aos outros tal como são (pessoas que mastigam de boca aberta incluídas). Mas a verdade é que neste momento há meio mundo tão recetivo, a tentar largar preconceitos, a fazerem manifestações, campanhas publicitárias que abrangem pessoas de todas as idades, géneros, etnias, tudo e mais alguma coisa. E 50% do mundo está a lutar pela igualdade e 38% continua a acreditar que só há um padrão de beleza, um tom de pele que deve ser aceite, e que homem com homem, ou mulher com mulher não dá. E se falarmos de pessoas transgénero com esses 38% é guerra aberta até à época da Covid-32, e atenção que só vamos na 19. Nesses 38% estão incluídas pessoas que usam o que está escrito na bíblia como um género de procuração passada por Deus. Tenho por hábito ir à Feira do Livro e juro que nunca vi por lá Deus a autografar bíblias, se Ele algum dia aparecer vou perguntar‑lhe se Ele condena o casamento entre os dois sexos. Aposto que me vai responder que ele não disse nada disso e quer é que as pessoas sejam felizes. Até porque a mensagem dele é clara: “Amaivos uns aos outros assim como eu 208
vos amei.” Lá está, Ele não se pôs a fazer distinções ou viu diferenças! Até porque aquela união de Adão e Eva nem correu bem. Foram expulsos do dito paraíso. Acreditam mesmo que se chatearam por causa de uma maçã? Mas tudo bem, se calhar até foi. Talvez Adão gostasse de maçãs Royal e Eva preferisse maçãs Gala ou Reineta. Acho que os Isaías, os Pedros e esses todos que lá têm passagens bíblicas parecem aqueles jornalistas da CMTV. Ao lado, ou então, tudo demasiado dramático. Ah e quanto aos 12% que faltam, são aqueles que não fazem ideia do que acontece no mundo, se lhes perguntarem o que pensam sobre o horror do Holocausto vão responder que só costumam ir ao Urban à sexta-feira, estão a ver? Fonte desta estatística? Não há. É minha. Observei e ouvi pessoas nos cafés, à saída de igrejas, nas filas do autocarro, filas do supermercado, nas lojas da Avenida da Liberdade. É uma fonte fidedigna? Claro que não, sou só eu. Mas acredito que muitos de vocês vão concordar com os resultados. Até porque todos nós nos deparamos diariamente com situações de preconceito. Seja ele como for, todos nós vemos, observamos, sentimos e também somos preconceituosos. Dizemos para nós próprios que amanhã vai ser diferente, que vamos construir todos juntos um mundo melhor. E de que forma? Vamos continuar obcecados PARQ HERE
com a perfeição? Nunca vamos sair à rua e o mundo será perfeito. Nem sempre vamos ter as atitudes mais corretas e é difícil ser-se a melhor versão todos os dias. Não vamos ser sempre gentis com os outros e com os nossos. Queremos espalhar amor e coisas positivas, mas se estivermos perto de uma pessoa que teve um dia mau e quer desabafar nós afastámo-nos porque é logo considerada uma pessoa tóxica ou negativa. E nisto a palavra de ordem é empatia num salvese quem puder, em que muitos estão pelos outros mas que tantas vezes não estão por si mesmos. Aceita‑te tal como és mas também não sejas assim. Ainda vivemos num mundo onde amar é crime, beijar é pecado e mulheres que não desejam ter filhos deviam arder na fogueira. Mas enquanto tudo isso acontece, também acontecem pessoas maravilhosas com quem nos cruzamos diariamente. Heróis silenciosos, amortecedores de dor, palavras que nos inspiram e momentos de esperança. A Beyoncé tem razão, a perfeição é a doença da nação. Porque não somos perfeitos, e séculos de história não foram suficientes para aprendermos que não sermos perfeitos só faz de nós humanos. Uma condição perfeitamente aceitável e digna de amor para com os outros e nós próprios.
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