Mater Ecclesiae Teologia Moral
Giovane Disner castanha
3. Fim Supremo e Opção Fundamental Todo ser humano age em vista de um fim ou objetivo, isto é, toda ação autenticamente humana tende a um objetivo. Toda ação humana, portanto, tem um fim imediato. Exemplo: Geralmente o ser humano tem em mira diversos fins concatenados entre si; assim há quem estude para se formar; a pessoa quer-se formar para conseguir um emprego (...), para, mediante o emprego, ter um salário (...), para, na base do salário, construir família (...), para em família gozar de alguma felicidade (...). Esses diversos fins sucessivos são subordinados a um fim último ou supremo, que é a razão de ser de todas as outras finalidades na vida de alguém. Tal fim supremo que nos move a procurar fins intermediários é o Bem (...) e o Bem em sua plenitude. Há um só Bem supremo, capaz de saciar nossas aspirações fundamentais; e este é Deus. Dizia sabiamente santo Agostinho: “Senhor, Tu nos fizeste para Ti, e inquieto é o nosso coração enquanto não repousa em Ti”. Não só a fé, mas também a razão humana chega a esta conclusão. O cristão, portanto, é alguém que, através de todos os atos de sua vida procurar aproximar-se cada vez mais de Deus; assim procedendo, ele constrói também a sua própria felicidade. Nem todos os homens escolhem Deus, o Bem Absoluto, como finalidade suprema de sua vida. Alguns optam pelo prazer fazendo deste o critério do seu comportamento; outros escolhem a utilidade ou o pragmatismo como critério de sua conduta; outros o dinheiro ou a glória ou o poder (...), esperando encontrar a plena felicidade no cultivo de tais bens. Sujeitam-se, porém, a dolorosa decepção, pois qualquer criatura, sendo limitada em suas perfeições, é suficientemente para saciar a sede de Bem e de bem-aventurança de todo homem traz em si. A escolha de um Fim Supremo é também chamada de opção fundamental. Esta é a decisão que deve brotar do fundo do coração (daí chamar-se fundamental) em favor de um determinado Fim (Deus ou não Deus). Esta opção condiciona ou inspira todas as demais escolhas que a pessoa faça; assim, por exemplo: quem escolhe Deus em sua opção fundamental, escolherá viver segundo os mandamentos do Senhor, exercer uma profissão honesta, ajudar seus semelhantes (...). Os atos de alguém são ditos bons ou maus na medida em que estejam de acordo (ou desacordo) com a opção fundamental ou fim supremo escolhido por essa pessoa. Visto que existe um Bem supremo autêntico, só existe uma autêntica moralidade: a que se refere a Deus. Quando os atos de alguém estão em consonância com a Lei de Deus, são bons; quando em dissonância, são maus, do ponto de vista moral. A opção fundamental é algo que desabrocha na consciência da criança desde que comece a distinguir o bem e o mal; mas só aos poucos se vai esclarecendo e fortalecendo; o adolescente e o jovem vão passando por paulatino amadurecimento, que lhes permite fazer opção fundamental cada vez mais lúcida. Todavia a pessoa humana nunca está feita ou acabada enquanto peregrina neste mundo; por isto também deverá esforçar-se no decorrer de sua vida por rever e retificar sua opção fundamental ou confirmá-la e torná-la cada vez mais profunda. Expusemos a noção de Moral centrada em Deus ou no Bem Supremo, que está fora do homem e polariza todos os interesses deste para fazê-lo viver da felicidade do próprio Deus. Há, porém, outros sistemas de Moral; não se baseiam em Deus: A Moral Positivista: Augusto Comte, o fundador do Positivismo, ensinava que as normas da moralidade se baseiam unicamente nos costumes e nas opiniões dos diferentes povos. Logo, não há normas morais objetivas e universais. Hoje em dia há quem apele para tais concepções a fim de relativizar os princípios morais e trocá-los por outros. Moral do Imperativo Categórico: Immanuel Kant era filósofo protestante, que queria restaurar o rigor da moral abalado por correntes de pensamento subjetivistas e relativistas. E propôs o “Imperativo Categórico”: a razão humana seria a legisladora suprema, que ditaria normas de valor absoluto. O prêmio do homem que obedece a tais normas seria o próprio cumprimento do dever, sem ulterior recompensa; o homem fiel aos deveres seria mais digno e racional, e deveria dar-se por satisfeito com isto. Moral dos Sentimentos: Há quem diga, entre os pensadores modernos, que a norma da moral são os sentimentos morais existentes nos seres humanos. Estes sentimentos seriam: um gosto moral, o agrado e o desagrado, determinada capacidade de intuição. Moral sem Deus: Os últimos decênios manifestaram a insuficiência de todos os sistemas de Moral fundados sobre o homem apenas e sobre a negação de Deus. Dizia muito a propósito Jean Paul Sartre, filósofo ateu de nossos tempos: “Se Deus não existe, tudo é permitido”; sim; se Deus não existe não há autoridade absoluta que possa proibir o homem de matar ou roubar; qualquer autoridade que o proíba, é meramente humana, como humanos são o ladrão e o
assassino. Como grande psicólogo, Carl Gustav Jung verificava que a ausência de Deus na vida de alguém provoca o desmantelamento da personalidade e, consequentemente, a desorientação do comportamento humano. A moral cristã, ligando o homem a Deus e ao Transcendental, é certamente exigente, pois leva a criatura a sair de si para se encontrar no Criador. Todavia esse caráter exigente é também o penhor de felicidade para o homem, porque o engrandece. 4. Os Critérios de Moralidade Vimos que todo ato humano é sempre voltado, direta ou indiretamente, para um Fim supremo. Vimos também que o Fim Supremo é Deus ou Bem Absoluto. A conformidade ou não conformidade do ato humano com seu Fim Supremo (Deus) é o que se chama “Moralidade”. Estudemos agora os elementos que influem na qualificação moral do ato humano, ou os elementos que devem ser levados em conta para que se possa dizer que determinado ato é moralmente bom ou mau. São três: Objeto, finalidade e as circunstâncias. 4.1. O objeto do ato humano: É a matéria sobre a qual versa esse ato: amor ao próximo, à oração (...), que a Lei de Deus, recomenda; o desrespeito à propriedade alheia, que a Lei de Deus condena (...). Há, pois, atos que, por seu objeto mesmo, são bons ou maus. Há outros atos que, considerados em si, são moralmente indiferentes: o comer, o dormir, passear (...). Ora a moralidade do ato humano é definida primeira e basicamente pelo objeto moral desse ato ( ou pelo colocado sob a luz da Lei de Deus); por exemplo: o adultério tem como objeto a violação da fidelidade conjugal; esta torna o adultério intrinsecamente mau, quaisquer que sejam as intenções e as circunstâncias daqueles que o comentem. 4.2. A Finalidade: Pode ser entendia como aquilo que move alguém a praticar determinado ato; é o bem (ou mal) que a pessoa tem em vista ao agir; chama-se então a finalidade do sujeito operante. Distingue da finalidade imanente que existe no próprio ato. Assim, por exemplo: dar esmola é ato de que tem uma finalidade intrínseca ou imanente: aliviar os pobres. Mas posso praticar esse ato para me enaltecer vaidosamente; neste caso a finalidade do sujeito operante não coincide com a obra. Outro exemplo: alguém pode comer par conservar a saúde (finalidade da obra), mas pode também comer para satisfazer à gula, prejudicando a saúde. Vê-se, pois que a finalidade do sujeito operante influi na moralidade dos seus atos. 4.3. As Circunstâncias: São os fatores que contornam o ato humano; podem ter repercussão na modalidade do mesmo. Dizem respeito ou ao objeto do ato ou ao sujeito que age, ou ao desenrolar do ato. Enumeram-se sete circunstâncias capazes de modificar a moralidade: Quem, o Quê, Onde, com que meios, por quê, como, quando. Quem refere-se ao sujeito do ato: à sua profissão, à sua idade, ao cargo que exerce (...) Assim, por exemplo: a injúria cometida por um adulto sadio é muito mais grave do aquela cometida por uma criança ou por um doente mental; um professor que dê maus exemplos aos seus alunos, tem mais responsabilidade do que um funcionário da administração (...). Uma pessoa semi-adormecida tem menos responsabilidade que uma pessoa lúcida e consciente. O quê refere-se às particularidades do objeto do ato: a ofensa comentida por um filho contra seus pais é mais grave do que se a cometesse contra outras pessoas; roubar um objeto sagrado é mais grave do que roubar outro objeto. Furtar algo de uma pessoa pobre é mais grave do que furtar o mesmo de um proprietário rico. Onde refere-se ao lugar em que o ato é praticado: difamar alguém perante uma assembleia é diferente de difamar em conversa com um amigo. Com que meios diz respeito aos recursos praticados por quem age. Fazer a guerra com armas atômicas é algo de especialmente grave; ajudar o próximo com dinheiro roubado é diferente de ajudar com seus recursos próprios. Por que refere-se à intenção de quem age (finalidade do sujeito). Podem midificar, por completo, a moralidade do ato; tenha-se vista o caso de quem dá esmola para ajudar o próximo e do quem a dá unicamente para ter o seu nome elogiado. Como diz respeito à maneira de agir: obter um favor legítimo em contexto de fingimento e mentira muda a moralidade de um ato que poderia ser moralmente bom. Quando designa o tempo em que se realiza um ato: trabalhar em domingo, para o cristão, não é o mesmo que trabalhar em dia útil, conceber ódio momentâneo não é o mesmo que alimentar ódio duradouro.