TEOLOGIA MORAL I Escola “Mater Ecclesiae”
Giovane Disner Castanha
1. Que é Teologia Moral? Como insinua o próprio nome, Teologia Moral é a consideração dos costumes (mores, em latim) humanos sob a luz de Deus. Tem por objetivo dirigir o comportamento do homem para o seu Fim Supremo, que é Deus, conhecido à luz da Revelação iniciada na época dos patriarcas bíblicos, consumada em Jesus Cristo e a nós transmitida pelo magistério da Igreja. A teologia moral é uma parte da teologia que procura deduzir da Palavra de Deus as normas concretas que levem a pessoa humana à sua plena realização. A Teologia Moral difere da Ética filosófica. Esta, embora também tencione contribuir para a realização do ser humano, guia-se pelas luzes da razão, indica tão somente os caminhos que o bom senso e o raciocínio podem descobrir para orientar o comportamento humano. A ética filosófica é valida, mas não atinge o mais profundo do mistério do homem. A Teologia Moral também se distingue do Direito. O direito tem em vista a sociedade e a necessidade de se regulamentar a convivência entre si, a fim de que seja harmoniosa e construtiva. O Direito considera apenas o foro externo ou comportamento visível da pessoa; a teologia moral vai ao íntimo do ser humano ou ao seu foro interno e à sua consciência. Exemplo: Todo filho tem consciência a obrigação de assistir a seus pais em extrema penúria; tal dever, que brota do foro interno, é um dever moral. Pode não ser imposto por alguma lei do Estado; fica então apenas no plano da consciência íntima. Contudo pode acontecer que o Direito civil, visando a proteger os genitores, imponha ao filho o dever jurídico de assistir aos pais; então o jovem estará obrigado também pelo foro externo; o seu comportamento será avaliado de acordo com a fidelidade à lei da sociedade; se o filho prestar aos pais tudo o que a lei manda, estará quite ou “legal” no foro externo, mesmo que no foro interno ou em consciência despreze ou odeie seus pais. O Direito civil não pode levar em consideração esse ódio, mas a Teologia Moral o considera, pois diz respeito ao foro ou ao âmago do ser humano. Vê-se, pois que a Teologia Moral é mais abrangente e mais profunda ou exigente do que o Direito; em muitos casos, alguém pode estar quite com a lei, mas em débito com a consciência ou no foro íntimo (é o caso de quem rouba, servindo-se de dispositivos da própria lei). É para desejar, porém, que Moral e Direito se complementem mutuamente ou que o Direito não seja senão a explicitação concreta das leis morais (às autoridades civis toca a responsabilidade de realizar este equilíbrio). A Teologia Moral compreende duas partes: 1) A Moral Fundamental e 2) A Moral Especial. A primeira estuda as noções básicas, como fim último, ato humano, critérios de moralidade, leis, consciência, pecado, virtude (...) A segunda de dedica a setores especiais como a vida, sexualidade, verdade e 10 mandamentos. Neste curso abordaremos sobre a Moral Fundamental. 2. As grandes linhas da Moral católica A palavra “Moral” talvez possa parecer árida a muitos estudiosos: significa, para eles, um sistema de preceitos e proibições, com sua casuística; tal sistema ensinaria o cristão a tranquilizar a consciência cumprindo os seus deveres com o mínimo de incômodos. Ora tal não é o autentico conteúdo da Moral católica. Esta tende a levar a todos os homens a realização da sua vocação suprema, que é a vocação à perfeição ou à santidade; nenhuma criatura é chamada à mediocridade ou ao meio-termo espiritual. Vejamos alguns traços característicos da moral católica:
2.1.
Seguir o Cristo
Ser cristão é não somente professar a doutrina cristã, mas vem a ser antes do mais, estar inserido em Cristo. Pelo Batismo, o indivíduo renasce não apenas nominalmente, mas realmente, recebendo um princípio de vida nova ou a filiação divina. O cristão deve procurar formar a sua consciência de acordo com a lei de Deus, que lhe é comunicada por instâncias objetivas, existentes fora dele (Sagrada Escritura, Tradição e o Magistério da Igreja); mas é certo que o cristão portador de uma semente de vida eterna deve possuir afinidade crescente com as normas morais. A consciência de ser “filho no Filho” levava São Paulo a dizer: “Vivo eu, não eu, é Cristo quem vive em mim” (Gl 2,20) ou ainda: “Completo em minha carne o que falta à Paixão de Cristo, em favor de seu corpo, que é a Igreja” (Cl 1,24). Estas palavras significam que as ações, o sofrimento ou, em suma, todo o viver do cristão, estão elevados a um plano superior; o cristão é outro Cristo; nele se prolonga a vida do Senhor, com nos ramos da videira se derrama a seiva do tronco; é o tronco que dá frutos através dos ramos (Jo 15, 1-8). 2.2.
Viver em Amor
A grande novidade do Cristianismo consiste em dizer-nos que “Deus é amor” (1 Jo 4, 16) e (...) o Amor que nos amou primeiro (1 Jo 4, 19). O comportamento moral do cristão não é mais do que a resposta a esse Amor primeiro. Por isto também a Lei do Novo Testamento se resume em dois preceitos: o amor a Deus e do amor ao próximo (Mt 22, 37-40; Mc 12, 28-31; Lc 10, 25-280. Esse amor ao próximo não é inspirado por critério de simpatia ou afinidade, mas pelo exemplo do próprio Cristo, que nos amou quando ainda éramos pecadores. O amor cristão não será Amro sentimental. Será, antes do mais, amor à Verdade. Isto significa que saberá distinguir a verdade e a mentira, o certo e o errado (...) odiando sempre o erro e o pecado, mas amando a pessoa que erra ou peca. 2.3.
Participar da Páscoa de Cristo
O cristão é inserido em Cristo pelo Batismo e fim de tomar parte cotidiana na morte e na ressurreição de Jesus. O Batismo nos mergulha na morte do Senhor e nos faz sacramentalmente ressuscitar para uma vida nova. Pode-se dizer que a Moral está estritamente ligada à liturgia, pois é a vivência consciente e voluntária dos sacramentos; é o desdobramento do programa de morte ao pecado e de afirmação da nova criatura que o Batismo, a Eucaristia e os demais sacramentos nos impõem. É isto, aliás, que diferencia a Moral cristã da Moral pagã: a moral não cristã apregoa a autoafirmação do ser humano mediante o exercício das virtualidades que ele traz em sua natureza; ao contrario, a Moral Cristã lembra que a natureza humana é fraca e vulnerada pelo pecado, de modo que ela precisa da graça de Deus para se libertar das suas tendências desregradas. Estas verdades incutem também a necessidade da ascese ou da renúncia para que o cristão possa atingir a sua perfeição espiritual. Não há vida autêntica que não seja carregar a Cruz com Jesus de maneira consciente e voluntária. A cruz configura o cristão a Cristo.