VAZIO PRATICADO
VAZIO PRATICADO Paula Aleksa Bianchi | Trabalho final de Graduação Antonio Fabiano Jr. | Orientador Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Pontifícia Universidade Católica de Campinas Dezembro 2015
“É sempre bom lembrar Que um copo vazio Está cheio de ar É sempre bom lembrar Que o ar sombrio de um rosto Está cheio de um ar vazio Vazio daquilo que no ar do copo Ocupa um lugar É sempre bom lembrar Guardar de cor Que o ar vazio de um rosto sombrio Está cheio de dor É sempre bom lembrar Que um copo vazio Está cheio de ar Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho Que o vinho busca ocupar o lugar da dor Que a dor ocupa a metade da verdade A verdadeira natureza interior Uma metade cheia, uma metade vazia Uma metade tristeza, uma metade alegria A magia da verdade inteira, todo poderoso amor A magia da verdade inteira, todo poderoso amor É sempre bom lembrar Que um copo vazio Está cheio de ar” Copo Vazio | Gilberto Gil
A minha mãe, meu exemplo de mulher forte, minha primeira educadora, sem suas leituras, sem Vidas Secas, sem seu carinho e seu incentivo aos estudos não seria possível chegar até aqui e terminar esse capítulo da minha vida.
Aos meus amigos desses cinco anos de graduação, que sem eles não haveria prazer, diversão, fofocas, horóscopos, compreensões, razões, conquistas, trocas, gargalhadas, intenções e novas experiências. Bagaceiros.
Ao meu pai, por sua leveza, paciência, histórias e dedicação à família. Meu exemplo de jovem revolucionário, me inspirou a acreditar num bem coletivo e a rebelar se for preciso, mesmo que no futuro a causa se perca, pois o percurso vale a pena.
Ao meu orientador, que sempre inspirou novas possibilidades, e me fez entender que nosso mundo é para todos, porem poucos entendem. Amigo de rabiscos lindos e palavras leves. Obrigada mestre.
A minha irmã, por acreditar em mim, por sua ajuda, compreensão na ausência, motivação na presença e por sua cumplicidade. Inconscientemente, desperta em mim a necessidade de ser um bom exemplo e sempre agir.
Para a Paula do passado, ver que os planos sonhados se fizeram presente, e a Paula do futuro, que sempre que precisar poderá recorrer a este sonho e relembrar da importância do percurso.
Ao meu namorado, por ter me dado seu coração, a quem me inspira através do amor. Por sempre estar ao meu lado, de mãos dadas, inclusive nos momentos de aflições, encorajando a continuar e lembrar que além de sonhar, o importante é viver o presente.
Obrigada
“de uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas”. Italo Calvino Construímos, desde tempos imemoriais, símbolos para significar a nossa relação com o mundo. Símbolos gerais e pessoais, numa balança de brincar que não para de andar de lá para cá. A carta de amor recebida na adolescência, o brinquedo da infância e o frango desfiado pela avó, vão se somando a espaços criados para o homem coletivo criando duas dimensões que se entrecruzam: de um lado a constelação de sensações que nos vinculam a acontecimentos e, de outro, o universo de elementos concebidos como formas e meios de pensar, registrar e reviver essas mesmas memórias. Os vazios são estruturadores porque permitem que ambas caixas aflorem a espera de um próximo dia nascer, mesmo que não seja o seguinte para ver que as mesmas coisas não são iguais, que a mesma cidade não é igual, que as mesmas pessoas não são iguais e que os mesmos vazios nunca são iguais. A Paula é talvez a maior presença da faculdade e soube entender o valor de ser invisível, de estar sem parecer, de ouvir mais e falar menos, como um vazio cheio de possibilidades, na hora de voar coletiva e generosamente pelo mundo. Antonio Fabiano Jr.
atrevessar abrir reconhecer descobrir atribuir compreender inventar descer subir traçar desenhar pisotear habitar visitar relatar percorrer perceber guiar observar escutar celebrar navegar cheirar adentrar hospedar medir captar povoar construir achar pegar não pegar entrar interagir escalar pesquisar seguir deixar não deixar
um território um sendeiro um lugar vocações valores estéticos valores simbólicos uma geografia um barranco uma montanha uma forma um ponto uma linha um círculo uma pedra uma cidade um mapa os sons os odores os espinhos os buracos os perigos um deserto uma floresta um continente uma aventura um entulhamento alhures sensações relações objetos frases corpos num buraco um engradado um muro um recinto um instinto um trilho rastros
caminhar
orientar-se
perder-se
errar
interagir-se
vagar
penetrar
ir adiante
Careri, Francesco. Walkscapes : o caminhar como prática estética
Ser arquiteto Ê perceber No vazio a voz No espaço o lugar No desejo a possibilidade No desenho o mundo do outro.
38 | O Lugar Fechado x Aberto Metabolismos Desenho da Paisagem A vocação
16 | As Conceituações 18 | As Considerações 20 | A Intenção 24 | A Metodologia 26 | O Espaço A Inserção O Recorte Percepção Subjetiva Percepção Substantiva 36 | As Diretrizes
26 28 30 32
56 | A Apropriação Peça Modular Elevadores Arquibancada 74 | Bibliografia
38 39 50 53 57 60 68
AS CONCEITUAÇÕES
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“São lugares aparentemente esquecidos, onde parece predominar a memória do passado sobre o presente. São lugares obsoletos nos que somente certos valores residuais parecem se manter apesar de sua completa desafeição da atividade da cidade. São, em definitiva, lugares externos, estranhos, que ficam fora dos circuitos, das estruturas produtivas. Desde um ponto de vista econômico, áreas industriais, estações de trem, portos, áreas residenciais inseguras, lugares contaminados, tem se convertido em áreas das que se pode dizer que a cidade já não se encontra ali. São suas bordas carentes de uma incorporação eficaz, são ilhas interiores esvaziadas de atividade, são olvidos e restos que permanecem fora da dinâmica urbana. Convertendo-se em áreas simplesmente desabitadas, inseguras, improdutivas. Em definitiva, lugares estranhos ao sistema urbano, exteriores mentais no interior Físico da cidade que aparecem como contra-imagem da mesma, tanto no sentido de sua crítica como no sentido de sua possível alternativa.” Terrain Vague, Ignasi de Solà-Morales Um espaço livre é todo espaço, ao redor de edificações, não ocupado por um volume edificado (espaço-solo, espaço-água, espaço-luz) e aos quais as pessoas têm acesso (MAGNOLI, 2006). Para Morin (2008, p. 157), o conceito de sistema exprime unidade, multiplicidade, totalidade, diversidade, organização e complexidade. É um objeto complexo, suficientemente aber-
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to, pois se relaciona com outros sistemas, e suficientemente fechado, caso contrário não seria definido como sistema. Um sistema possui elementos que se relacionam de forma a constituir uma organização e uma estrutura relativamente estável que caracteriza o objeto complexo. A organização, por sua vez, possui relações que definem e transformam o sistema, alterando sua estrutura, possibilitando sua permanência e contendo a possibilidade de sua dissolução. Ou seja, um sistema é um processo que está sempre em movimento. Ainda segundo Morim, dentro de um sistema existem subsistemas ou suprassistemas que abrangem o todo estudado (apud QUEIROGA et al., 2011). Assim, sistema de espaços livres urbanos, são “os elementos que organizam e estruturam o conjunto de todos os espaços livres de um determinado recorte urbano - da escala intra-urbana à regional”. (QUEIROGA et al., 2011)
AS CONSIDERAÇÕES
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Em 20 anos o Brasil passou a ter 50 milhões de habitantes a mais nas áreas urbanas em relação aos números em 1991, 84,4% dos Brasileiros vivem em regiões urbanas contra um índice de 15,6% nas áreas rurais, segundo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Porém essa taxa de crescimento urbano, seguiu padrões de urbanizações que fomentam cidades desiguais e sem qualidade de vida. Sem a previsão da quantidade de moradias necessárias para acolherem essa demanda da explosão urbana, ocorreu a periferização das cidades, e a desvalorização econômica e de produção da área rural, a excessiva exploração de um recurso econômico regional, e homogeniedade social e espacial. “A urbanização no Brasil se deu de forma desigual. Esse elemento aumenta a brecha de exclusão social, tônica no desenvolvimento das cidades. É preciso um esforço nacional para favorecer a desconcentração e fazer com que as cidades médias funcionem melhor, para que possam absorver a periferia das grandes.” Alberto Paranhos (Oficial principal no escritório regional do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos, UN-Habitat, para a América Latina). O modelo urbano que predomina nos países emergentes e pobres, onde ocorre acelerado processo de urbanização, além de socialmente injusto, é ambientalmente insustentável. Marcado pela desigualdade sócio-territorial, apropriação privada da terra, especulação imobiliária, proliferação de assentamentos humanos precários e priorização para o au-
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tomóvel, esse modelo se caracteriza por fortes impactos ambientais, que também levam à precarização da qualidade de vida: poluição dos cursos d’água, destinação inadequada de esgoto e lixo, catadores fazendo coleta seletiva em condições subumanas nos lixões, solo, subsolo e recursos hídricos contaminados com substâncias químicas persistentes utilizadas na produção industrial, contaminação do ar gerada por um insustentável sistema de mobilidade, invasão das áreas de proteção permanente nos cursos d’água, nascentes e encostas íngremes, gerando desastres naturais e carência de espaços públicos e verdes. (BONDUKI, 2012). É nesse cenário que este trabalho tem intenção de atuar, propondo uma alternativa de dinâmica urbana e uma nova relação do ser humano com o ambiente edificado, o ambiente natural e o vazio. Os estudos apresentados a seguir preconizam que qualidade de vida é direito de todos os cidadãos e a transformação do espaço é um dos principais influenciadores na constituição de um ambiente urbano mais adequado às praticas sociais, a produção econômica, consolidação e apropriação do público e para o respeito ao ambiente. Juntamente com a participação e formação da comunidade diretamente ligada ao território.
A INTENÇÃO
Dar voz ao vazio
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“As favelas são solos férteis de onde brotam diferentes práticas culturais. Solo remete ao chão, o mesmo do cultivo rural, mas solo também refere-se a aquilo que se faz sozinho, ações individuais porém dentro de um coletivo, como o solo de uma orquestra.” adaptado de ‘solos culturais’
Voz O ato de ser cidadão e de fazer parte da comunidade é feito no bairro todo entendendo seu espaço como valor integro, distribuindo as atividades e a população, tornando possível a ocupação do território por inteiro. Através de exercícios de desenhos abertos, proporcionar uma transformação física e social participativa e de mobilização social a partir da autoconstrução de lugares públicos dentro do contexto de espaços ociosos. Seguindo exemplos de projetos e metodologias que obtiveram êxito nessa alternativa de atuação do profissional arquiteto urbanista. Assim a transformação do espaço em lugar público, é em seu processo, um instrumento de capacitação da comunidade que lhe permite trabalhar de forma independente, e assim transformar sua realidade. “Proporcionar o direito à cidade através de processos desenvolvidos junto a movimentos sociais – quer seja nos projetos desenvolvidos em conjunto com os futuros moradores, na inovação tecnológica e produtiva, nos processos de educação popular ou na organização do trabalho no canteiro de obras.” USINA - Centro de Trabalhos para o Ambiente Habitado
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“A participação em todos os níveis, desde a formulação até a execução, aplicada como um mecanismo de autogestão do projeto, envolve o cidadão na construção do espaço público em meio a um processo pedagógico que fortalece a coesão do bairro e o empoderamento coletivo.” Pico Estúdio, coletivo de arquitetura participante do projeto Espacios de paz 2014 - Venezuela. A participação comunitária é essencial à construção de um tecido social com identidade e integrado ao bairro, promovendo ambientes seguros e equitativos. Ao dar impulso à participação comunitária, busca-se a coesão dos diferentes grupos sociais que vivem no mesmo território, para que convivam de forma harmônica. A criação de uma identidade para a comunidade resulta numa maior participação de seus moradores em atividades cívicas, culturais e econômicas, gerando um sentimento de pertencimento que contribui para o cuidado e a vida pública do lugar que habitam.
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Vazio Através da requalificação dos espaços livres (vazios), transformar em um sistema de lugares praticados. “O vazio é a ausência, mas também a esperança, o espaço do possível. O indefinido, o incerto também é a ausência de limites.” Solà-Morales, Ignasi de. “Urbanité Intersticielle”, Inter Art Actuel, n.61, 1995. (...) qualificação dos sistemas de espaços livres é, portanto, contribuir para a educação, saúde, transportes, habitação (vida cotidiana), saneamento e meio ambiente, é construir uma cidade melhor, é pensar no homem enquanto cidadão e não apenas como consumidor (QUEIROGA et al., 2011) A base são os micro espaços ociosos existentes no território. Pois é possível que através de novos planejamentos urbanos adequados e respeitosos as características e paisagens existentes, utilizando os vazios ociosos na malha urbana para usos e ocupações de aplicações variadas, possam proporcionar uma apropriação mais justa ao espaço inserido no perímetro urbano, gerando heterogeneidade ao espaço, sem a necessidade de grandes alterações no desenho da malha urbana, não prejudicando o meio urbano e que este não infira em questões ambientais. Os fatores, tipológicos, demográficos, imobiliário e hidrológico, influenciaram no desenvolvimento de um número significativo de espaços vazios, que podem se relacionar de melhor forma se seu uso for projetado para futura dinâmica ao lugar
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dentro das questões, e proporcionar um melhor entendimento de como a cidade existente os relaciona com os lugares praticados. Assim, o objetivo final é qualificar um conjunto de espaços livres por um meio de intervenções e participações coletivas, afim de resgatar as áreas residuais de ocupação, vias de circulação e outros espaços que se mostrem potenciais lugares públicos praticados. Transformando justamente as sobras em eixo condutor da transformação urbana do território. Com preocupação em complementar os sistemas através de três escalas de atuação: Escala local: através de equipamentos de uso cotidiano distribuídos por todo o sistema, pretendendo atender demandas de uso, com pouca concentração de usuários. Como por exemplo, bicicletários, bancos e hortas. Escala do bairro: por meio de intervenções de maior porte, que atendam uma demanda do uso cotidiano coletivo, a exemplo infraestrutura de mobilidade, áreas de contemplação, espaços para permanência coletiva. Escala da cidade: através de equipamentos e sistemas específicos, infraestruturais e ambientais, que atendam uma demanda maior, a exemplo, grandes travessias, sistemas de autossuficiência energética, de tratamento de esgoto e água, ecopontos e terraços de plantio.
A METODOLOGIA
“A ideia é gerar condições para o surgimento de novas dinâmicas sociais e formas de convivência com intervenções físicas no território. Nesse sentido, a arquitetura é apenas um meio, ‘uma desculpa’, para gerar organização social, cultural, econômica e política nas comunidades. Uma das estratégias chave é o desenho participativo: trabalhando em conjunto, população e arquitetos definem o programa de necessidades e as técnicas a serem empregadas em cada projeto, materializados por processos de autoconstrução. Ao governo cabe viabilizar a empreitada, fornecendo os recursos físicos e institucionais.” Arquitetura da Paz
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Para a determinação das intervenções projetuais, aplicou-se uma metodologia de estudo de recorte exemplar. Este trabalho acredita basicamente em 7 passos: 1- Mapeamento da área; 2- Direcionamento de Potencialidades; Inicialmente é definido o recorte do território, de acordo com o cenário excludente de periferia, que será exemplo para o desenvolvimento urbano a longa escala. Há a necessidade de um minucioso estudo do território, afim de conhecê-lo, compreendê-lo e identificar as potencialidades e carências do espaço e assim viabilizar as práticas. 3- Instalação de um espaço público e provisório; Este espaço simples (podendo ser containers adaptados ou construções de fácil desmontagem) acolherá as reuniões e assembleias públicas de discussão e decisão dos projetos a serem propostos e executados, será o ponto de encontro da comunidade com os profissionais atuantes na transformação do território. É necessário a construção deste, já que não há espaço de coletividade que agrupará e exercerá essa função. Após a transformação e apropriação dos lugares, esta instalação é desmontada, não sendo mais necessária. 4- Desenhar as potencialidades; 5- Apresentar para a comunidade local atuante; 6- Decisões por parte da comunidade; 7- Construção
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A intervenção na escala local, transforma o espaço em lugar praticado e essas práticas somente são decididas à efetiva execução em conjunto com a população. Cabe ao projeto (arquiteto), exemplificar as possibilidades de utilização do espaço, mas somente a comunidade decide se há a viabilidade para a dinâmica comunitária, ou seja desenvolvimento em desenho aberto. O presente trabalho é desenvolvido até o passo 4. Certas questões infraestruturais são identificadas, devido as características excludentes de um planejamento inadequado e a ausência de preparação física para acolher a população. Essas questões, são consideradas desenhos fechados, infraestrturas básicas, como água, esgoto, mobilidade pública e segurança ao pedestre. Assim, a intenção é propor ciclos de autossuficiência verde, água, energia e mobilidade, que não possuem participação direta com a população em sua implementação, porém é necessário um investimento e atenção dos órgãos governamentais e trabalho conjunto com o arquiteto e urbanista. Apresentados nos próximos tópicos. Essas atuações servem para otimizar e qualificar o espaço público, porém não é necessário sua execução para somente depois intervir no espaço da micro escala local.
A inserção O território em questão é a região metropolitana de São Paulo com 11,25 milhões de habitantes, e 1.521,10 km² (IBGE, 2010).
O ESPAÇO
Perus. Lugar do maior parque público de São Paulo, Parque Anhanguera, da antiga Fábrica de Cimento Perus, do antigo Aterro Bandeirante, território marcado pela retirada e exploração ao longo do tempo. Perus é o distrito de escolha da intervenção urbana. (Memorial Urbano)
“Se é espaço, deveria ser público”. Paulo Mendes da Rocha
Localizado na região noroeste de São Paulo, tem como limites o município de Caieiras ao norte, o distrito de Anhanguera a oeste, a Serra da Cantareira a leste, e o distrito de Jaraguá ao sul. Tendo como acessos principais as rodovias Anhanguera, Bandeirantes, Rodoanel Mário Covas (encontro do Eixo Oeste – Norte), Avenida Raimundo Pereira de Magalhães, e linha sete Rubi da CPTM, que corta o território. Seu entorno é diversificado, atingindo praticamente todas as situações típicas encontradas ao longo do território do distrito, possuindo diversidade tipológica construtiva, área rural, proximidade com o leito do Ribeirão Perus e linha férrea além de enfrentamento espacial com o Recanto dos Humildes, bairro de maior precariedade em questão de infraestrutura.
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O recorte
A base são os micro espaços ociosos existentes, o território de estudo corresponde ao recorte inserido na porção sudeste do distrito de Perus, São Paulo. Localizado próximo ao Bairro Recanto dos Humildes (a Oeste), Rodoanel Mário Covas e Área Rural, pertencente ao Cinturão Verde proposto nas diretrizes urbanas do projeto coletivo, (ao Sul), Pedreiras e Rodoanel Mário Covas (a Leste) e a Escola Estadual Prof. Miguel Oliva Feitosa (ao Norte), possuindo um trecho do percurso do Ribeirão Perus e panorâmicas do Pico do Jaraguá. VAZIO PRATICADO | 27
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Percepção Subjetiva A região está localizada em uma ocupação de morro, urbanização próxima ao vale do Ribeirão Perus, possui declividade acentuada, 35 metros de diferença transversal dentro da quadra principal do recorte, porém o percurso viário é confortável em grande parte do percurso. Seus lotes são estreitos e alongados, com densidade construtiva e demográfica relativamente alta. “Se os edifícios tiverem uma expressão de fachada essencialmente vertical, as caminhadas parecem mais curtas e mais viáveis…” (Cidade para Pessoas, Jan Gehl) Destaca-se uma paisagem monótona, analisando o caráter construtivo, porém possui a presença de áreas verdes residuais é marcante, principalmente dentro das quadras, proporcionando um conforto ao pedestre durante o percurso. Há recortes na paisagem natural, onde é possível perceber o Pico do Jaraguá, um suspiro e motivo de permanência no percurso. Em meio a problemática urbanização de Perus, é presente uma contínua movimentação de moradores nas áreas externas às residências, talvez proveniente a falta de conforto e organização interna dos lotes. As crianças brincam nas calçadas, os idosos observam, os adultos se ocupam, os pequenos comércios de bairros surgem a cada quarteirão, jovens conversam, ouvem músicas e jogam bola na rua, enquanto outros batem papo nas mesinhas de bar instaladas provisoriamente nas calçadas. VAZIO PRATICADO | 29
Analisando o recorte de acordo com os 12 critĂŠrios de qualidade com respeito Ă paisagem do pedestre de acordo com Jan Gehl, Cidade para Pessoas:
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Percepção Substantiva Cheios e vazios: Os espaços livres são, pela definição de Miranda Magnoli (1982), todos os espaços “livres de edificação”, ou seja, todos os espaços descobertos, sejam eles urbanos ou não, vegetados ou pavimentados, públicos ou privados. Desta maneira, o estudo dos sistemas de espaços livres vai muito além das áreas verdes, dos espaços vegetados, dos espaços públicos, ao envolver todos os espaços livres. (QUEIROGA et al., 2011).
ESTUDO VAZIOS| PAULA BIANCHI
É possível perceber a intensa manifestação do vazio no recorte de estudo, tanto em lotes vazios, como em espaço residual entre as quadras.
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Uso e ocupação:
ESTUDO USOS| PAULA BIANCHI
“O espaço de transição ao longo dos andares térreos é também uma zona onde se localizam as portas de entrada e os pontos de troca entre interior e exterior. As transições proporcionam uma oportunidade para a vida, dentro das edificações ou bem em frente a elas, interagir com a vida na cidade. É a zona onde as atividades realizadas dentro das edificações podem ser levadas para fora, para o espaço comum da cidade.” Cidade para Pessoas, Jan Gehl. MAPA A predominância é de uso residencial, porém há a existência de pequenos comércios e serviços informais, como por exemplo, costureira, sapateiro, borracheiro e venda de alimentos caseiros que auxiliam na economia familiar local. E há a existência de pequenos comércios formais, como bares de esquina, lanchonetes, loja de vendas diversas, porém todos de escala local.
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Gabarito:
ESTUDO GABARITO | PAULA BIANCHI
Este levantamento apresenta a forma de construção da região, levando as edificações a se adaptarem a intensa declividade, se escalonando ao terreno e ocuparem áreas estreitas.
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Fluxos e Permanências: O espaço é entendido, pois, como um híbrido entre materialidade e sociedade, entre forma e conteúdo, entre fixos e fluxos, entre inércia e dinâmica, entre sistema de objetos e sistema de ações. (SANTOS, Milton. 1996) Tem-se, portanto, o espaço como uma instância social, da mesma maneira que são instâncias sociais a economia, a cultura e a política. (SANTOS, Milton. 1985)
ESTUDO FLUXOS | PAULA BIANCHI
O fluxo pedonal é estruturado pelos leitos viários nos sentidos longitudinais do recorte, e por escadarias hidráulicas e vielas ingrimes no sentido transversal as quadras. As permanências existentes se dão na calçada do muro de contenção do vale, através de equipamentos provisórios, como bancos precários construídos pelos moradores.
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DIRETRIZES
O Projeto prevê as mesmas diretrizes apresentadas no memorial urbano : Para o Eixo Metropolitano foram criadas possibilidades de bases capazes de erguer uma ideia identidária a partir do território e para o Eixo Local, a proposta é a de tornar Perus uma área exemplar para a cidade com tratamento de esgoto, produção de alimentos, geração de energia, tratamento de lixo e criação de empregos. A transformação desse território se dará então através de ações que costuram e criam articulações capazes de resolver essas problemáticas além de proporcionar identidade e reconhecimento do/ao território: Criação de sistema verde e tratamento de circuito fechado de seus ciclos (esgoto, água, energia, mata nativa e lixo); Potencialização de espaços de usos públicos e coletivos; Transporte: promoção de mobilidade e articulação multimodal, circulação metropolitana x circulação local; Produção: desenvolvimento de economia, cultura, emprego e conhecimento; Participação: discussão, mobilização e ação da população. O presente trabalho não atua de forma centralizadora, na qual uma intervenção pontual influência a região. Não atua de forma descentralizada, em que várias centralidades exercem influência regional. Mas sim de forma resiliente, através de um sistema distribuído, sem hierarquia de atuação e influência, permitindo uma teia de atuação territorial, linear.
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No contexto da ecologia, a resiliência é a aptidão de um determinado sistema que lhe permite recuperar o equilíbrio depois de ter sofrido uma perturbação. Este conceito remete para a capacidade de restauração de um sistema. Adaptação pessoal do conceito de C. S. Holling
“Ao invés de um cenário de passagem entre um ponto e outro de um deslocamento, o espaço da cidade passa a ser um espaço vivido. É evidente que a cidade, tal qual se organiza hoje, é absolutamente hostil a essa prática, uma vez que claramente a prioridade no espaço público é a circulação e, particularmente, a circulação de automóveis. Entretanto, quem busca conhecer a cidade a pé tem a oportunidade de se reconectar com a cidade, sendo capaz de fazer a crítica desse modelo e exigir outro, no qual estar será tão importante – ou mais – do que passar.” (ROLNIK, 2013).
DIAGRAMA ADAPTADO DE PAUL BARAN, 1964 PAULA BIANCHI
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Fechado x Aberto
O LUGAR
A intenção desse projeto é trabalhar com duas dinâmicas complementares, tanto no âmbito do sistema quanto no desenho. Há a aplicação de desenhos abertos x desenhos fechados: Desenhos abertos são aqueles que permitem e visam a participação popular, pois é através das compreensões do território, domínio social (de técnicas, conhecimentos e cultura) e sua dinâmica local e desejos da comunidade que se efetiva as práticas intencionais do desenho. Desenhos fechados são desenhos infraestruturais, que organizam o espaço não só no âmbito local, mas também no regional, entendendo e aperfeiçoando a dinâmica global, nessa situação não se torna participativo, devido a técnica e estudos necessários. Quanto aos sistemas, em sua essência é unidade múltipla organizada. É um objeto complexo, suficientemente aberto, pois se relaciona com outros sistemas, e suficientemente fechado, caso contrário não seria definido como sistema. (Morin, 2008). Assim desenhos abertos e fechados são unidades de sistemas abertos ou fechados.
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Metabolismos
Desde pegar o fruto do pé ao reciclar, o Ponto propõe espaços de ciclos. Ambientes que se sustentam e sustentam outros ambientes. O lugar comunitário, onde todos se beneficiam a partir de pequenas ações. A água que todo mundo bebe abastece a horta que todo mundo come, que recicla o solo onde todo mundo mora, que oferece espaço em que todo mundo se vê. É a cidade oferecendo espaço para as pessoas. A escala do Ponto é a escala humana A nomenclatura metabolismo [1] é aplicada nos sistemas infraestruturais, por entender que a cidade é um organismo vivo. Assim, neste trabalho, a aplicação de sistemas e desenhos, unidos a diretriz de resiliência, formam a complexa teia metabólica que organizam o território através de infraestruturas.
Metabolismos no conjunto
Metabolismos de mobilidade e permanência
[1] me.ta.bo.lis.mo sm (gr metabolé) 1 Fisiol Conjunto de fenômenos de elaboração de energia e de destruição da matéria viva (protoplasma) com libertação de energia da constituição química da matéria viva, respectivamente à custa dos alimentos incorporados na célula, e com produção das substâncias que dela saem. 2Conjunto dos processos físicos e químicos pelos quais se mantém a vida no organismo. 3 Quím Mudança da natureza molecular dos corpos. M. basal oubásico: a) grande calor expresso em calorias por metro quadrado de superfície do corpo de um indivíduo em jejum e em repouso absoluto, numa atmosfera de 16°C; b) conjunto de trocas energéticas necessárias para as funções essenciais da vida (respiração, pulsação cardíaca etc.). Dicionário Michaelis
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Metabolismo água A intenção dessa é manter o ciclo da água fechado. E assim autossuficiente. Água da cidade A região possui chuvas intensas, e sua topografia é o morro do vale do Ribeirão Perus, existindo escadas hidráulicas para o escoamento da água fluvial até o rio, assim a solução infraestrutural para esse perfil, é aplicar um recurso europeu: Instalar centrais de bombeamento, afim de evitar as enchentes. Quando tem uma cheia no reservatório inferior pela tubolação se recalca água ao reservatório superior. Nos períodos de estiagem se deixa fluir a água atrvés da tubulação por onde foi recalcada a água, mas agora os motores elétricos funcionando como turbinas. As turbinas produzirão quase
Dispositivo de bombeamento e acumalação para evitar enchentes. Sustentabilidade em urbanizações de pequeno porte Juan Luis Mascaró
(haverá uma pequena perda) a mesma energia elétrica que consumiu para levantar a água. Os efeitos benéficos que podem ser obtidos são: evitar enchentes, obter energia nos períodos de estiagem, lugares de lazer para a população, ter água para irrigar arborização e hortas urbanas em períodos de estiagem. (MASCARÓ, JUAN LUIS. 2010). Outro recurso é a alteração da camada superficial do solo, ou seja, a troca de pavimentação asfáltica impermeável por pavimentações permeáveis nas sargetas e calçadas, e a preservação da permeabilidade natural existente nos vazios ociosos. Manutenção dos sistemas de evacuação das águas existentes, drenos, bueiros e escadas hidráulicas. E a utilização de valas drenantes laterais ao percurso a ser instalado ao longo do projeto.
Rua com valas drenantes laterais de baixo custo Sustentabilidade em urbanizações de pequeno porte Juan Luis Mascaró
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Água local Do ponto de vista da qualidade d’água que precisamos, na realidade, só de 10 a 20% deve ser totalmente potabilizada (inodora, incolora, insípida e esterilizada); os 80 a 90% podem ser de qualidade inferior. Isto questiona o abastecimento de água encanada potabilizada em origem nos casos de extrema dificuldade, sejam econômicas ou técnicas, e nos obrigando a reavaliar os sistemas para decidir sobre a sua estrutura ideal. (MASCARÓ, JUAN LUIS. 2010). A proposta é que todas as casas instalem minicisternas de captação da água da chuva, existem projetos que incentivam a autoconstrução das cisternas, e aplicam-se a este projeto, que tem como intenção a participação da comunidade e o ensino técnico como transformador. Como por exemplo o Projeto experimental de aproveitamento de água da chuva com a tecnologia da Minicisterna para Residência Urbana, do Grupo Sempre Sustentável através do Movimento Cisterna Já, que oferecem oficinas de capacitação. Os desenhos permitem a sua fabricação local.
Sistema de captação d’água pluvial com sistema de derivação Sustentabilidade em urbanizações de pequeno porte Juan Luis Mascaró
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Metabolismo resíduos Resíduo da cidade Fechando o ciclo do lixo é criado o sistema de pontos de coletas eco, distribuídos estrategicamente a dez minutos a pé de qualquer pessoa de Perus para que o cidadão entregue seu lixo (orgânico ou não) recebendo, após depósito, créditos a serem trocados por alimentos em pontos pré-definidos. O material reciclado vai para o Centro de Reciclo que terá como pressuposto o poder de transformação da matéria descartada em matéria prima e o material orgânico transformado em matéria orgânica de qualidade para adubação e fertilização das áreas agrícolas de Perus. (Memorial Urbano). Metabolismo do esgoto: É previsto a instalação de lagoas de estabilização na encosta do vale, “são lagoas de diversos tamanhos e profundidades onde os efluentes são depositados e mantido durante vários dias (Tempo conhecido como de período de detenção) nas quais de uma lado, o simples contato com o oxigênio do ar e de outro lado, a ação dos raios solares que favorecem a criação de algas microscópicas, as quais simplesmente por
serem vegetais, quando exercem a função de fotossíntese que lhes é própria incorporam oxigênio na água produzindo a digestão dos esgotos(…) Este oxigênio serve de alimento as bactérias aeróbicas que incorporam o carbono dos efluentes. Forma-se assim uma espécie de corrente sol-algas-bactérias que purificam os efluentes em, relativamente, pouco tempo sem desprendimento de odores.” (MASCARÓ, JUAN LUIS. 2010). Sendo assim, o ciclo de resíduos de esgoto, tem uma nova etapa atribuída, o descarte nos terraços em série, que por sua vez após a maturação e estabilização, é encaminhado para o bioaerador de cascata (instalação alternativa e complementar para depuração de esgotos cloacais), já que no recorte existem desníveis disponíveis, cisternas de tratamento, e essa água é reutilizada na irrigação e devolução ao rio, seguindo as condições e padrões de lançamento de efluentes.
Sistema de depuração com lagoas em série com plantação de junco, em nível abaixo da cidade. Sustentabilidade em urbanizações de pequeno porte Juan Luis Mascaró
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Resíduo Local Oficinas de compostagens são sugeridas afim de capacitar e orientar a comunidade a construção e manutenção de suas hortas particulares. “Dedicado à induzir as teorias e práticas do cultivo de hortaliças e sua relação com o meio ambiente. Mostrar a importância do solo que abastece a população. Não apenas o verde contemplativo, mas o verde ativo, aquele espaço que nos mantém vivos e que é nosso dever também manter a sua sobrevivência.” Memorial urbano Foto: Turenscape
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José Alcino Alano e sua invenção.
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Metabolismo energia
Energia da cidade No recorte de estudo exemplar será utilizado a captação de energia solar em todas as residências, seguindo o Plano Urbano proposto: Todas construções receberão incentivo e subsídio para a implantação de produção de energia solar. A energia não consumida será comprada pelo poder público, e investida em áreas públicas de uso coletivo.
Energia Local A implementação se dará também através da captação de energia solar com painéis solares de garrafas PET, afim de auxiliar nos gastos energéticos dos equipamentos propostos a diante, e minimizar os gastos através da energia elétrica para aquecimento da água. Desenvolvido pelo aposentado catarinense José Alcino Alano, a ideia ganhou um prêmio de Ecologia em 2004. Essa proposta, tem a atuação coletiva da comunidade, através de oficinas técnicas de capacitação.
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Alano, Jose A. Governo do Estado do Paraná. Manual Placa Solar de Garrafa PET.
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Fotografia: HASSELL / James Horan / Vin Rathod
Metabolismo verde
O estar em comunidade com a natureza reflete a implantação do Ponto, estando este ao longo de manchas verdes. Áreas cobertas de árvores que, ao longo dos rios e córregos, criam espaços verdes e refrescantes, os quais se ramificam pelos becos e vielas, como uma raiz que se estabiliza no solo, erguendo esta grande árvore que é a comunidade. Estes ramos, que como a natureza, não encontram obstáculos que os impedem de crescer e serpentear ao longo das moradias, assim abrindo clareiras dentro da selva de pedras, tornando possível a comunhão entre vizinhos.
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Verde Cidade Assim como no Plano, o cinturão verde é aplicado no recorte exemplar. Propriedades distribuídas de forma periférica ao distrito de Perus com lotes que aumentam sua área conforme se afastam da malha consolidada. Estas têm o objetivo de cultivo agroecológico visando o abastecimento da metrópole e sobretudo de Perus. Verde Local Também encontramos hortas verticais; estas são espaços comunitários onde a população irá plantar o que comer. Aqui entra, em pequenas doses ao longo do recorte, a ideia de ciclos. O plantar e o colher, o se alimentar e o reciclar. Damos ênfase no fato das pessoas se beneficiarem da natureza de forma saudável. O homem faz parte da natureza, e a busca desse convívio onde ambos dividem o mesmo espaço é fundamental para a estruturação da paisagem urbana. Hortas e pomares comunitários preenchem os desenhos espaçados entre as áreas de lazer e convívio, oferecendo alimento e sustento para toda a comunidade. Foram reservados alguns locais de passagem onde a declividade é muito acentuada para o cultivo de hortas verticais coletivas. E algumas parcelas lineares integradas às quadras com uma declividade menos acentuada foram escolhidas para o cultivo de árvores frutíferas também coletivas. (Memorial Urbano)
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Fotografia: Zeblaze Seguir
Metabolismo mobilidade
Mobilidade da cidade
Mobilidade Local
Leito ciclável Ao longo do fluxo longitudinal, de acordo com o plano urbano, é proposto uma outra alternativa de mobilidade para complementar os transportes atuais. Com instalação de bicicletários em pontos estratégicos. Estabelecendo recursos mínimos e permanentes para ampliar a rede e qualificar o transporte público e os meios de transporte não motorizados (sistemas cicloviário e de circulação de pedestres), menos poluentes.
Devido a geomorfologia de declividade acentuada, a mobilidade pedonal é dificultada principalmente no percurso transversal, a única transposição existente atualmente, é a existência de escadarias e vielas ingrimes, que apresentam perigos e insegurança ao pedestre. Entendendo essa carência e prioridade, todos os espaços ociosos, possuem em sua identidade a questão da possibilidade de mobilidade, afinal permear o espaço não é somente levar a pessoa de um ponto a outro, é perceber a liberdade e experiências que o lugar proporciona.
Passarela Tem como função a conexão da área urbana e adensada para a outra margem do Ribeirão Perus, caracterizada pelo cinturão verde de produção agrícola. Essa ligação conecta e proporciona a conversa entre as duas regiões, suas produções, economias e possibilidade sociais.
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Elevadores Em alguns pontos, onde o desnível atinge cotas muito elevadas, dificultando a transição por pedestres, foram propostos equipamentos que vencessem esses obstáculos. A instalação de elevadores procura abastecer a população em certos pontos, para impedir a interrupção dessa “costura” ao longo da malha urbana. Os elevadores, estão localizados em áreas onde há espaço generoso entre edificações. Com isso é proposto interligações com praças e áreas de lazer, tornando o lugar o mais dinâmico possível, sempre buscando o incentivo de várias atividades entre as pessoas que ali frequentam.
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DESENHO DA PAISAGEM
A consolidação do novo desenho da Paisagem Urbana para Perus reflete na busca de melhorar a mobilidade aos pedestres, proporcionar segurança, ordenar a coleta e armazenagem de material reciclável, dar suporte a esfera pública e de convívio, incentivar práticas de lazer e esporte, organizar as infraestruturas, proporcionar a apropriação do território pelos moradores, qualificar e capacitar a comunidade, valorizar do ambiente e proporcionar a autossuficiência.
Potencialidades de Intervenção
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A vocação É a cidade oferecendo espaço para as pessoas. O ponto de partida para análise do recorte foi a vida pública, que se manifesta nas ruas e calçadas por meio de bancos improvisados, traves de futebol construídas com pares de chinelos estrategicamente posicionados, mesas de bar e ruídos de conversas ao ar livre. A partir de todo o estudo e as diretrizes apresentadas, da leitura do território e do entendimento das dinâmicas sociais que caracterizam o recorte, foi possível entender suas deficiências e as potencialidades. Assim identificar as vocações dos vazios ociosos e posteriormente proporcionar o desenho dos mesmos, transformando-os em lugares, vazios praticados.
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Para o recorte de estudo, identificou as seguintes vocações: Incubadora, seguindo a proposta citada anteriormente de núcleo inicial difusor das atuações da comunidade nos espaços, porém de instalação não permanente, temporária. “A estrutura metodológica é sempre a mesma: a primeira semana é de pré-produção, quando todos se conhecem e entram no clima da empreitada que está por vir. As quatro semanas seguintes servem para fazer assembleias e oficinas que geram o espírito da intervenção e para desenhar e construir o projeto por um processo transversal e não linear - o desenho é feito e refeito o tempo todo. Finalmente, a última semana é a de pós-produção, quando se demonstram os resultados.” Espaços de Paz - Venezuela. Parque Linear Escalonado ao Ribeirão Perus, com diversas propostas ao longo do seu percurso como: um pomar de escala local na extensão da calçada no eixo inferior do recorte, mantida pela comunidade através de horto escolas, podendo abastecer uma casa de frutas e sucos; Áreas de multiuso, com
instalação de churrasqueiras bancos e mesas; Espreguiçadeiras posicionadas a favor da contemplação do Pico do Jaraguá; Área de academia ao ar livre; Ou seja áreas de possibilidades praticadas, que proporcionam aos moradores a apropriação e entendimento do espaço. Praças elevadas, entre os lotes, dentro da quadra, os vazios que antes eram abandonados, ganham novos olhos. Casas e comércios se viram em direção à estas áreas que agora se tornam lugares de passagem e estar. O terreno entre os lotes apresenta uma declividade muito acentuada. A solução para tal ocupação foi criar várias passarelas que percorrem, em diferentes níveis, estes vazios criados entre as construções. Estas passarelas formam espaços que permitem a abertura de comércios (e a valorização dos já existentes). Funcionando como costura e preservando a topografia original, permitindo melhor circulação e conexão entre as moradias de diversos níveis.
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Nos vazios da área das residências as propostas são de acordo com a potencialidade do território e priorizando a mobilidade do pedestre: Escadaria com escorregador, área lúdica. Elevador pedonal e horta local, área de produção. Elevador e bicicletário, infraestrutura. Arquibancada e cinema ao ar livre, área de lazer. Eco Ponto, área de consciência ambiental. Mirante, área de contemplação. Diversos usos para dentro da quadra, usando as praças elevadas como rua para essa nova relação de trocas, previsto nas diretrizes do Plano Urbano, os moradores poderão abrir o fundo dos seus lotes para prestação de serviço e comércio, já existente voltado para a rua. Todos os pontos apresentados acima, deverão ser associados através do percurso. Um sistema de vias estruturadoras não linear, de modo a quebrar a ortogonalidade da paisagem e adaptar ao terreno ingrime. Esta configuração permite que os transeuntes sejam instigados a descobrir o que acontece em cada um dos pontos atrativos, gerando uma dinâmica perceptiva aos espaços.
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A APROPRIAÇÃO
Para melhor entendimento e visualização dos possíveis usos desses vazios, por parte da comunidade, algumas dessas vocações foram desenhadas e detalhadas, contribuindo para a consolidação do sistema de usos dos vazios, e da infraestrutura de mobilidade. Juntamente com o entendimento de participação e capacitação da população local, foi pensado no desenho de uma peça universal, uma placa que se adapta a grande maioria das intenções e vocações dos espaços, e esta é aplicada. Assim, não somente o lugar passa a ser apropriado, mas também a técnica, proporcionando independência e autossuficiência ao cidadão.
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PEÇA MODULAR A escolha dos materiais e técnicas a serem empregados vem da preocupação do contato com as capacidades de mão de obra locais, como uma forma de aproveitar e fortalecer os saberes já presentes na comunidade, e da disponibilidade de materiais.
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Assim a peça modular, é composta por madeiras e passadiço metálico, com dimensão de 2,00 x 1,00m. Facilitando a instalação e mobilidade dentro dos recortes dos vazios A principal intenção dela é a versatilidade, e proporcionar ao morador liberdade de possibilidades e independência. Ou seja, a mesma placa, de acordo com a forma de encaixe, pode se tornar o Piso e a Vedação. Como Passarela, a peça assume o chão e o guarda-corpo. Como elevador, assume a vedação da caixa estrutural.
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ELEVADORES Para auxiliar na mobilidade vertical dos 22m de desnível entre as quadras, hoje somente possível através das escadarias hidráulicas, foi proposta a instalação de dois elevadores, cada um com acesso direto às vias, se conectando através das passarelas aéreas. O Elevador 1 (superior), possui além da função de mobilidade, o uso de horta no vazio em que está implantado. Já o Elevador2 (inferior), além da horta, é um ponto de parada de mobilidade, com um bicicletário instalado. Tanto a vedação dos elevadores, como os guarda-corpos e o piso das passaelas, foram estruturados a partir da composição de encaixes da Peça modular proposta, garantindo a permeabilidade, tanto da água quanto da visão. A passarela, possui dispersamente em alguns pontos, redes fixas, com a função de descanço e contemplação do meio.
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ARQUIBANCADA TEATRO Neste vazio, a proposta é utilizar a declividade a favor de instalação de arquibancadas que levam ao centro das quadras, nas passarelas áreas. A morfologia do espaço permite a instalação de um balcão entre as casas laterais, e que se a comunidade apoiar, soltar um telão, e fazer dessas arquibancadas as cadeiras de um cinema ao ar livre.
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Da cidade ao trabalhar com infraestrutura, paisagismo e redes de metabolismos, à arquitetura, com programas distribuídos pelo território como forma de ativar seu uso, até o minucioso detalhamento, com objetos urbanos, dispositivos e peças de mobiliário urbano com intenção de capacitação e independência.
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