SALVADOR, SÁBADO, 30 DE NOVEMBRO DE 2013
PAULA MORAIS
T
odo mundo tem vários sentimentos: amor, ódio, raiva e alegria. Alguns aparecem e a gente nem percebe. Já outros precisam ser fortalecidos com atitudes, como a solidariedade. É o que está fazendo Dylan Siegal, 6. O americano escreveu o livro Chocolate Bar (Barra de Chocolate, em português) para ajudar o melhor amigo, Jonah Pornazarian, 7, que tem uma doença incurável. Dylan quer juntar um milhão de dólares com
a venda do livro. Até agora foram vendidas 11 mil cópias e arrecadados 400 mil dólares. Mais de 800 mil reais, o que dá para comprar 200 mil barras de chocolate de R$ 4. O valor será doado à Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, para que cientistas saibam mais sobre a doença de Jonah, o que poderá ajudar outras pessoas. Igual a Dylan, qualquer um pode agir assim, é só querer. Em Salvador, não é diferente.
Dylan, 6, escreveu um livro para ajudar Jonah, 7
Isadora, 11, cuida de animais em uma feira de adoção
Ajudar por prazer
4e5
Até o início deste ano, Isadora Simões, 11, tinha medo de cachorros. Mas, em fevereiro, tornou-se voluntária da Associação Baiana Protetora dos Animais (ABPA). Ela conheceu a ABPA por causa de um amigo da mãe. Decidiu perder o medo e, desde então, acorda aos sábados pela manhã e colabora na feirinha de adoção, no bairro da Pituba. “Sei que não dá para salvar o mundo, mas é meu modo de ajudar a melhorar”, disse. Isadora coloca ração, dá água e brinca com os filhotes na feirinha. Já cuidou de 15 em um dia. Cuidar dos animais é prazeroso para ela, e nada é feito por obrigação. “Não acho errado que o ser humano pense em si. Mas acho importante não esquecer dos outros também”, falou Isadora.
Maicon, 11, lê notícias no programa de rádio da escola, onde é voluntário
Divulgação
Você tem, mas já compartilhou?
Não existe manual para ser solidário, mas bons exemplos ajudam a transformar o que é só vontade em atitude. Dá para melhorar a escola, a rua, a casa: depende de você Fotos Fernando Vivas/ Ag. A TARDE
Sentimento natural Se todos têm o sentimento, por que tem gente que não mostra? “Porque não conseguiram desenvolvê-lo”, explicou o cientista social Geraldo Ramos, da Universidade Federal da Bahia (Ufba). A falta de exemplo em casa ou na escola pode contribuir para isso. Ser solidário com nós mesmos é uma forma de ampliar o sentimento e transformá-lo em gestos. É que só podemos dar o que temos, de acordo com Geraldo Ramos. “Se a
gente dá o que falta na gente, vamos querer cobrar do outro. Pedir algo em troca não é solidariedade”. Já reconhecer o que alguém sente é se colocar no lugar da pessoa, ensinou a professora de psicologia da Ufba Ilka Bichara. Ver alguém triste e dar um abraço, por exemplo. “O nome disso é empatia. Se preocupar com o outro”. Os exemplos ajudam, mas não existe manual. Cada um tem a sua forma de ser solidário. Francielle, 10, aproveita o tempo livre na escola para ensinar aos colegas como usar o computador para aprender
De dentro para fora Francielle Tude, 10, e Maicon Santana, 11, são monitores na Escola Municipal Amai Pro, em Campinas de Pirajá. Eles ajudam estudantes nos laboratórios de informática e rádio. Depois das aulas, os dois são voluntários. Eles orientam como mexer no computador e procurar exercícios de matemática, leituras e pesquisas escolares. Na aula de rádio, ensinam como apresentar um programa musical. “Sei que minha contribuição vai servir de alguma coisa para as crianças menores quando elas crescerem”, contou Maicon. Ele não prestava atenção e conversava durante as aulas. A professora perguntou se ele queria ser voluntário e ele
gostou da ideia. Há três meses, melhorou o comportamento e sente-se respeitado por ajudar. SOLIDARIEDADE SEM SABER
Os dois colegas não sabem o significado da palavra solidariedade, mas acreditam que tenha algo a ver com ajudar. “A gente troca conhecimentos aqui. Não é porque ensino que não posso aprender. Um ajuda o outro”, falou Francielle. A diretora da escola, Edneusa Cardoso, explicou que os voluntários primeiro ensinaram aos professores e, depois, aos próprios colegas. “A solidariedade é tão natural neles que não precisam saber o significado para fazê-la”, disse.
A DOAÇÃO PARA O PROJETO CHOCOLATE BAR PODE SER FEITA PELO SITE WWW.CHOCOLATEBARBOOK.COM/DONATE