Carlos bueso necrópolis

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Necropolis1 Por Carlos Bueso

A selva, úmida e quente, vibrava ao som de uma fauna caótica. Os odores fortes, as sensações que permeavam integralmente o ambiente misturavam-se ao efeito sedativo da lótus negra. Caminhando sob a alta copa das árvores, silenciado pela vibração natural e pulsante das selvas dos reinos negros, um homem, um bárbaro, recortado por raios de sol refratários de folhas e vapores, seguia um caminho incerto. Seus olhos, de um azul flamejante, sondavam a mata fechada; samambaias, altas árvores, o verde escuro inundava a terra encharcada por chuvas torrenciais a qual, salpicada por arbustos e flores de inúmeras cores, estendia-se indefinidamente ao sul onde homens, civilizados ou bárbaros, jamais haviam pisado. A pele escura do bárbaro, seu único escudo contra o sol meridional, era recoberta por cicatrizes as quais, ostentadas como troféus, cobriam o dorso descoberto do aventureiro que cruzava, numa velocidade desconhecida por homens civilizados, o coração das Terras Sem Retorno. Seguindo o fluxo do grande rio Styx, o bárbaro havia caminhado por semanas uma trilha indefinida. O alvoroço no qual se encontrava ao deixar os reinos negros havia abandonado o bárbaro; não mais a busca por uma lenda o fazia seguir adiante, apenas a certeza de que seu retorno era impossível. Impassível como todos os estranhos homens do norte, a busca por aventuras era o que embasava sua fugaz existência. O perigo, a morte e a privação, até daquilo mais básico para a sobrevivência humana, eram uma realidade que o bárbaro não tinha, ou teve, medo de enfrentar. Este bárbaro, de semblante impassível, com seu rosto talhado no bronze de um corpo de gigantes proporções, de cabelos negros, cortado em ângulos retos como o fio de sua espada, era Conan. Após jornadas intensas e aventuras incertas, Conan, o cimério, havia deixado os Reinos Negros. Enquanto chefe de guerra dentre as nações negras conquistou glória e respeito, talhou seu nome em lendas aborígenes, em selvas densas e desconhecidas. Cansado da glória, da dor e do fardo da liderança, seu espírito indomável clamava por novas aventuras. Enquanto Conan descobria cada vez mais segredos sobre a história daquela parte do mundo, crescia a sua vontade de delas vivenciar experiências. As perguntas sobre as razões de viver faziam parte de sua melancolia; a vida como 1

Embora o título tenha uma grafia incorreta "Necropolis", o título permanece fiel a música que inspirou a criação do conto. Apesar de ter este título, ao longo do texto optou-se pela grafia correta, Necrópole.


experiência era a resposta para os dias que giravam, como uma roda d'água, tornando-se semanas, meses, anos. Partindo a cavalo, levava consigo apenas sua espada, um odre de água, botas de couro, um cinturão adornado pelas tribos negras e sua vontade de descobrir os segredos que as ruínas da Valúsia haviam deixado para trás. Deu-se então uma jornada longa, tanto em tempo quanto em distância. Depois de abandonar seu cavalo e, castigado por tudo aquilo que a natureza implacável desta região do mundo era capaz de conceber, Conan, desprovido de quase tudo, agarrava-se à sua ânsia de vivenciar o desconhecido. De baixo de chuva, o taciturno bárbaro sentou-se sobre a mata e, descansando seu queixo sobre seus poderosos punhos, começou a relembrar as histórias xamânicas sobre reinos esquecidos pelo tempo, poderosos heróis e inimagináveis feiticeiros. Como a memória, a inspiração, a potência de vida de seres tão antigos quanto o tempo poderia ecoar tão distantemente? Como seria a vida, o seu segredo e seus tesouros visto por esses homens? Quando a noção entre deuses e homens tornou-se nebulosa, quando a glória do passado tornou-se quase tangível e a vida adquiria um sentido além da experiência por si só, tambores romperam o relativo silêncio. A revoada de pássaros e a agitação da vida selvagem jogaram Conan de volta ao turbilhão sensorial que a vida de fato era. Quando o bárbaro quase duvidou de suas razões mais íntimas, o mundo clamou por sua vontade interior, o seu espírito e a ânsia de viver voltaram a pulsar nas veias do gigante de bronze. As pernas exaustas carregavam o robusto corpo de Conan através de mata cada vez mais densa. A expectativa por respostas e, principalmente, de encontrar vida no meio da desolação da selva fez o coração do bárbaro galopar. Quanto mais próximo dos sons ele parecia chegar, mais sua curiosidade exacerbava o intuito aventureiro do imprevisível bárbaro. A noite estava chegando ao seu fim quando muralhas de pedras, altas como as torres de Zamora despontaram no horizonte. No meio de uma neblina escarlate, os raios de sol configuravam uma silhueta alienígena de arquitetura exótica e que, aos olhos do bárbaro, inspiravam um estranhamento sobrenatural. O chuviscado que perdurou durante toda a noite agora dissipava-se e o calor voltava ao emaranhado da selva. Os afluentes do grande rio Styx não eram mais visíveis e a imponente cidadela tomava seu lugar de domínio na paisagem. Em meio à vasta floresta, um platô de pedra negra erguia-se diante do bárbaro, cercado de escarpas entrecortadas de sílex e formações irregulares que mesclavam-se com a organicidade da selva; as rochas, com formas ameaçadoras, pareciam profanar a natureza frondosa da floresta. Coroando o platô, a cidadela continuava a emitir suas pulsações. O som grave e contínuo não


lembrava mais o rufar de tambores, mas sim a palpitação de algo consciente. Algo que não poderia estar vivo mas que, como reflexos do tempo, reverberava na mente de Conan. A cadência dos sons os quais faziam a terra e a selva vibrarem subitamente chegou a um fim. Quando os parapeitos da grande cidadela puderam ser identificados, Conan sabia que estava prestes a entrar numa aventura sem volta. Aguçando sua visão e tentando ignorar os raios solares, silhuetas com formas desconhecidas pareciam tomar posições à beira dos altos muros de mármore negro. Espreitando ao redor da neblina que se dissipava, sombras de seres - ou seriam estátuas? - inumanos não fizeram o bárbaro retroceder. A sua decisão estava feita e seu caminho seria inexorável. Aos pés da muralha, Conan percebeu que não somente a escalada seria difícil, como também que, apesar de sua aura milenar, a cidade não aparentava sinais de decadência. Seria esta ruína um reflexo da memória imortal que a originou? Conan, apesar de bárbaro, sabia que, não somente o mágico, mas também o inexplicável era lugar comum em seu mundo. A cura para o desconhecido, em sua visão, nunca foi a ciência ou a filosofia, mas sim o fio de sua espada; quando, afinal, o inexplicável tomava forma, de nada adiantam palavras ou pensamentos. Sepultada pelo tempo, porém intacta, a fortaleza que Conan escalava era revestida por mármore negro. As pilastras, grossas como o dorso de elefantes, sustentavam marquises folhadas com um bronze reluzente. Ainda mantendo seu tom dourado, as abóbadas de bronze rivalizavam as, já esverdeadas, cúpulas dos templos de Tarântia. Os enormes tijolos que compunham os muros eram encaixados de forma natural, e o contraste era atenuado quando a mente do cimério via o quão reduzido ele era perante aquela arquitetura ciclópica. A escalada, dificultada pela perfeição no encaixe dos grandes blocos de pedra, custou ao resoluto bárbaro quase toda a manhã. Quanto mais o mesmo escalava, mais longe o cume da fortaleza parecia estar. Olhando para baixo, após vencer inúmeras marquises e abrir os calos de ambas suas mãos, percebeu que a altura que o separava do solo era maior do que qualquer montanha de sua terra natal. A loucura surreal era não somente implícita ao lugar como um todo, mas também era sensível. Sensível a ponto de fazer o bárbaro, pela primeira vez em diversos anos, duvidar de seus sentidos. A volta não era - nunca tinha sido - uma opção. A escalada deveria continuar. A palpitação do coração do bárbaro arrebatava seus tímpanos, seu corpo estava exausto e o suor vertia por suas costas enquanto a busca por um cume invisível continuava. Mesmo com sua convicção inabalável, Conan conhecia


seus limites, sabia que falhar neste momento não era uma opção; suas mãos vertiam sangue e suas unhas começavam a rachar. A dor lancinante era eclipsada somente pela adrenalina que inundava sua mente, fazendo com que seu corpo trabalhasse como um autômato provido da energia mais primitiva conhecida pelo homem: o desespero. "Nunca imaginei que seria assim" falou Conan, rompendo um silêncio estóico que durara dias, finalmente admitindo a derrota. Logo após falar as palavras que não só denotavam fracasso, mas também uma tranquilidade incomum, o bárbaro alcançou o último patamar que mostrou ser um platô de bronze e - de fato - o fim dos grandes muros. A arquitetura monumental da grande cidadela fazia com que os jardins suspensos de Shem, ou as grandes pirâmides da Estígia parecessem frágeis esforços bárbaros. Ignorante de tal arquitetura, Conan podia apenas contemplar com estranheza as linhas traçadas em ângulos retos os quais demonstravam o afinco com que a cidade, por detrás de muros inexpugnáveis, fora construída. Erguendo-se em desafio sobre os grandes muros, o bárbaro sondava com movimentos felinos o topo da grande muralha; os parapeitos reluziam ao sol do meio dia, a parte interior dos muros parecia dividida em diversas seções, templos com cúpulas douradas estavam espalhados pelos oito cantos da fortaleza onde, no seu centro, erguiam-se obeliscos e estátuas esculpidas em rochas das mais diferentes e contrastantes cores. Sentindo o calor e a luz brilhante do sol sedar seus sentidos, Conan teve, por um rápido instante, a sensação de estar vivendo em um sonho, onde a perfeição utópica, salva entre os intransponíveis muros, era possível. Um lugar onde, apesar do mistério alienígena, a tranquilidade era plena, onde os contrastes com a selva eram postos de lado e a mente poderia desfrutar de descanso eterno. Embora a sensação injetasse tranquilidade na mente do bárbaro, a sede, a fome e o cansaço o lembravam que a vida não deveria parar. Rapidamente, Conan desceu degraus e pulou através de vãos, os quais pareciam não serem feitos para meros homens; a arquitetura era, apesar de delirante em sua magnitude, alienígena e confusa em seus detalhes, seções pareciam incompletas, enquanto alguns trechos pareciam remendos de um plano original de proporções ciclópicas. Quanto mais Conan adentrava os corredores vazios e prístinos, mais a sensação de estar vivendo em um sonho se aprofundava. Não era a mesma sensação que se apodera de um homem sob efeitos alucinógenos, Conan sabia disso, tudo o que sentia através de seu corpo parecia ressoar com sensações que emanavam de sua mente, como se ela, alimentada pela grande estrutura que o cercava, canalizasse a vida dos mais primitivos habitantes da terra de volta ao presente.


"Crom..." rosnou o bárbaro enquanto analisava as construções; talhados entre as diversas paredes negras, incrustados com gemas e cristais, alto-relevos pareciam contar histórias talhadas ao longo dos imensos edifícios. Embora parecessem gigantes, nenhuma das construções aparentava conter tesouros ou lugares de habitação cotidiana. O que seria esse lugar? A sensação de estar vivendo em um sonho começou a transformar-se na sensação de viver um pesadelo. Não havia nada que remetesse à vida nessa cidade edificada pela ignóbil vontade de algo há muito tempo esquecido. Um monumento dedicado à estúpida necessidade de crer no poder da vida sobre a morte. À medida que adentrava os túmulos leviatânicos, Conan começava a perceber que aquilo não era e nunca fora um reino, uma cidade ou uma fortaleza. Conan estava perdido em uma necrópole, perdido em um lugar adormecido no tempo. Um lugar que acorrentava seus pensamentos e convocava sua alma a participar do eterno torpor da morte. "Cidade dos mortos..." sussurrou Conan enquanto passava suas mãos calejadas sobre os alto-relevos dos imensos saguões. A história neles escrita era a de homens e, dentre os homens, serpentes. Reis absolutos rodeados de grandes heróis, todos eles regidos pelos grandes homens-serpente; sempre em segundo plano, o reino das sombras dos misteriosos répteis parecia desconhecido pelas figuras arrogantes que adornavam quilômetros de paredes de mármore negro. Por algum tempo Conan permaneceu inerte, sentindo o pulsar dos ecos do passado; a tranqüila, porém crescente melodia da história, do tempo, da morte a qual reclamava a vida de seu corpo. Como se entregue a um sonho submarino, sentiu as correntes da morte sedarem seus sentidos. Labirintos em seus pensamentos, loucura em sua mente, Conan agora sabia como era estar dentro da Cidade dos Mortos. A alucinação, que tomava forma real dentro dos pesadelos mortais concebidos na grande Necrópole, tornavam-se insuportáveis. Conan começava a perceber, apesar de sua agitação, a história do lugar com um novo sentido; a história do orgulho, do poder e da impotência que aquele lugar contava através de suas paredes, e da loucura que delas emanava. O som, em ondas graves, reverberava pelas câmaras vazias; o chão parecia tremer e as estátuas pareciam ganhar vida a cada batida da pulsante manifestação dos ecos do tempo. "Crom!" exclamou o bárbaro, sacando sua espada e enfrentando a loucura com a intransigente teimosia de um homem que não temia seu destino, mas que clamava por olhar nos olhos de seu algoz. Erguendo ambos seus braços, Conan gritava com toda sua força, o retumbar ensurdecedor de mil batalhas, choros, emoções, lamentações, cristalizados em torno da grande Necrópole fazia com que Conan não


pudesse escutar sua voz. A impotência, a insignificância de sua existência comparada à monumental história, esquecida, lembrada, distorcida, tornava a agonia a qual inundava sua mente cada vez mais aguda. O turbilhão de emoções e memórias esmagava a alma do bárbaro o qual, com um espírito inquebrantável, resistia com sua força de vontade instintiva o assalto mortal da memória dos esquecidos. De repente, silêncio. Não somente o silêncio sonoro, mas o silêncio elemental da não existência, o silêncio da morte; um silêncio que gritava não somente o fim da vida, mas o fim da existência como um todo. Conan, exausto, sentia o suor escorrer por suas têmporas. Ajoelhado, apoiava um de seus braços em sua espada, a qual usava como bengala. Se por um lado a vida mostrava o seu poder - a força absoluta que fazia o bárbaro sentir-se, como indivíduo, insignificante - o silêncio mostrava o quão insignificante a vida era perante o infinito universo. Vislumbrando com todos seus sentidos a não existência, o vazio, a entropia do cosmos, Conan, perdendo momentaneamente todos os referenciais de seu mundo, voltou, subitamente, a erguer-se. Trazendo de dentro de sua mente, de seu corpo, as emoções mais primitivas de um homem, o bárbaro entendeu, por alguns segundos, o que o infinito significava; O contraste exacerbado de forma quase carnal, pela breve experiência na Necrópole, fez com que o bárbaro entendesse que só pela sua própria humanidade ignóbil, porém determinada, poderia sobreviver ao horror que espreita tudo que ele podia ver, tocar, agarrar, matar. Conan era a força de vontade, a potência da raça humana condensada na mente de um único bárbaro. Um bárbaro capaz de sobreviver ao inexplicável, ao intangível: onde a razão civilizada falhara, o espírito genuíno de um bárbaro prevalecera. No silêncio que ocultava o sol, o calor e os próprios batimentos do coração do bárbaro, Conan começava a entender os feitiços que acorrentavam sua mente; a revelação da verdadeira inexistência abalava sua consciência. Com o vigor de seu corpo quase exaurido, o bárbaro sabia que o tempo agora era precioso. Levantando-se, observou que tudo à sua volta parecia ter sido modificado, os alto-relevos, a forma dos grandes pilares. Acelerando seus passos, Conan percebeu que a presença quase material da morte dissipava-se. A vida, de uma infinidade de anos, voltava a percorrer os corredores da Necrópole. Através do labirinto de pedra, mármore e bronze, Conan deparou-se com uma figura branca. O contraste com o céu estrelado cor de sangue fez com que o bárbaro aguçasse seus sentidos e buscasse o reconforto no cabo de sua espada. Após reconhecer que a figura à sua frente não era um novo tipo de terror


produzido pela aura alucinante da Necrópole, Conan afrouxou seus dedos e ergueu seu braço, não chamando pela figura, mas num instinto, tentando saber se ela era real ou mais uma armadilha de seus já debilitados sentidos. Com um olhar frio, a mulher que encarava Conan tinha em sua pele o tom do marfim e em seus cabelos o matiz do ouro. Os olhos fixos na figura imponente do bárbaro eram de um amarelo esbranquiçado como o cabelo que cobria o rosto com maçãs acentuadas e linhas fortes. Conan não via qualquer forma de ameaça, mas sentia severidade emanando da figura feminina que o encarava. "Mulher, o que - por Mitra - é esta cidade?" perguntou Conan. A pergunta estava engasgada em sua garganta desde que começou a escalar os grandes muros da Necrópole. O bárbaro tinha certeza de que aquilo em sua frente não poderia remeter ao mundo que conhecia, mas tinha que tentar, pela sua teimosia, entender aquilo que quase o matara alguns minutos antes. "Isto, guerreiro, não é uma cidade...". Antes que a mulher de cabelos dourados pudesse terminar sua resposta, o som de metal contra metal ressoou pelos corredores abandonados. Descendo as grandes rampas de pedra e bronze, homens cobertos com aço reluzente, envoltos em túnicas escarlates precipitaram-se sobre o casal que, inerte, assistia à carga dos matadores vermelhos. A energia primitiva, o instinto de sobrevivência, inundou o corpo do bárbaro que, feliz por encontrar inimigos de verdade sacou sua espada. "A espada e o machado são meu destino, cães! Dêem vida a esta alma que ainda não morreu." O júbilo era genuíno, a força vital que Crom soprava na alma de todo homem ardia de forma implacável dentro do bárbaro. Aço encontrou aço. As espadas cantavam sob as estrelas cor de sangue. Conan atacava os diversos soldados vermelhos enquanto corria e mantinha sua distância evitando ser encurralado. Dos cinco homens que o avistaram, dois foram mortos antes de tomarem conhecimento da raiva libertadora que ardia dentro do bárbaro. Não só o poder de ação embriagava o bárbaro como seu desprezo pela própria vida fazia com que cada golpe fosse desferido com a força instintiva de um leão acuado. A habilidade dos guerreiros escarlates era feroz, mas de nada adiantavam suas investidas quando a velocidade felina do bárbaro fazia de seus ataques tentativas fúteis de evitar o inevitável. Com golpes meteóricos, os lampejos azulados da lâmina selvagem de Conan arrancavam faíscas e sangue; um a um os guerreiros, orgulhosos, porém condenados, tombaram diante do bárbaro. O orgulho aniquilado jazia no chão, esmagado pela glória que, como uma aura, permeava o delirante bárbaro; gritos de


júbilo ecoaram pela grande Necrópole, gritos que nem o mais profundo horror poderiam silenciar. Conan voltara a viver. O sangue ainda queimava em suas veias, mas a fúria cega começava a arrefecer. Conan voltava agora sua atenção para a figura que, impassivelmente, assistira o feroz combate recém travado. "Onde estão os outros? Chame todos, a ilusão, o sonho, nesta tumba é apenas um fim inevitável. A minha espada pode um dia ser silenciada, mas hoje ela cantará pela morte de todos neste inferno!". A passos largos o gigante de bronze, coberto pelo sangue ainda quente de suas vítimas, caminhava em direção à mulher que, por nenhum momento, desviou seu olhar. As mãos do cimério fecharam-se com força em torno dos ombros brancos da figura misteriosa. Embora não tivesse medo, a imponente mulher estava surpresa. "Guerreiro, este lugar não deve, não pode ser habitado por vida. Esta Necrópole é um castigo, não um lar. O que nela dorme é a história de vidas apagadas." disse a mulher, com surpresa genuína. As emoções pareciam estar expressas em cada uma de suas palavras. Assim como o bárbaro, a mulher ardia com a vida que há muito abandonara aquela necrópole. Com suspeita, Conan suavizou suas mãos; a dúvida sobre a honestidade da mulher à sua frente havia sucumbido diante da sinceridade em suas palavras, a cautela do bárbaro fora diminuindo enquanto a empatia pela figura de cabelos dourados aumentava. A tensão tinha chegado ao fim e, embora o bárbaro ainda não soubesse se aquilo não passava de um pesadelo, a mulher em sua frente trazia a sólida esperança de que lutar contra a loucura da grande Necrópole era possível. "Então, guerreiro, qual o seu nome?" perguntou finalmente a mulher de olhos dourados. "Conan. Cimério e, até que consiga escapar desta cidade - por Crom! - um homem perdido." esbravejou o bárbaro por entre seus dentes fechados. "E o seu nome?" finalmente perguntou em um tom menos agressivo. Olhando para baixo, a tristeza emanando de seus gestos, a mulher perguntou a si mesma "O meu nome? Ele não importa mais. O tempo que corre por esta Necrópole há muito o apagou da memória dos vivos. Conan, este lugar não deveria ser. A vida não pode conviver aqui, apenas a história congelada no tempo. Só há duas saídas desta cidade: a morte ou o esquecimento." Conan, ainda confuso, tentava montar o quebra-cabeças que o turbilhão de emoções que vivera nas últimas horas havia marcado de forma brutal em sua mente. Olhando para o nada, o bárbaro agachou-se, recuperando seu fôlego. "Nada neste lugar é real, isto é apenas uma alegoria de nossas vidas, não?" perguntou o bárbaro novamente. Porém, antes que a misteriosa mulher pudesse responder à indagação, novos passos ecoaram pela Necrópole.


"Vamos, mulher, rápido, precisamos de abrigo!" falou Conan com urgência, a adrenalina começava a fluir novamente em seu corpo. "Enfrentar o tempo que se repete é inútil, ou o paradoxo de dentro destes muros é desfeito, ou a loucura triunfará sobre o mais resoluto dos espíritos." Conan sentiu a honestidade cintilar nas palavras da mulher sem nome. "Por Crom, mulher! Qual é a resposta para os paradoxos, qual é a chave para os segredos..." Mais uma vez o casal foi interrompido, mas desta vez pelo silvar de serpentes e o suave som de escamas deslizando pelo mármore gelado. Assumindo uma posição de ataque, Conan sondava os imensos blocos de pedra banhados pelo branco luar. Os sons continuavam como uma cacofonia silenciosa enquanto o casal, atento e acuado pela atmosfera de dúvida e medo, buscava patamares mais altos entre as diferentes câmaras, rampas e corredores da Necrópole. Observando os corredores, fantasmas, guerreiros, homens de diferentes estaturas, raças e indumentárias, cruzavam os corredores desolados da grande cidade dos mortos. O tempo, relativo e ao mesmo tempo singular, condensava séculos, milênios; experiências perdidas reencontravam-se num lugar onde as areias do tempo corriam em divergentes direções. Hipnotizado pela sensação de ver o tempo escorrer indomável dentro dos muros da Necrópole, Conan sentia a insanidade espreitar sua mente, assaltada pelo desconhecido delirante. Rompendo o imóvel momento que relativizou-se como os séculos que percorriam os corredores da grande cidadela, Conan viu um homem extremamente alto e magro. Suas feições aristocráticas fariam de qualquer nobre aquilônio um desprezível camponês. Suas roupas púrpuras esbanjavam detalhes exuberantes, o brilho de gemas refletia a luz branca da lua sob um prisma infinito de cores. Os olhos estavam travados na figura ameaçadora de Conan; com a espada em punho e os joelhos flexionados, o cimério estava pronto para derramar o sangue do homem - ou demônio - à sua frente. "Bárbaro!", exclamou o homem em púrpura com um largo sorriso em seu rosto. Seus olhos brilhavam com a intensidade de diamantes ao sol; o olhar do homem penetrava diretamente a alma de Conan. "Um homem, um mero mortal. Pó que, eventualmente, voltará ao seu estado natural.", zombou o homem. Sua arrogância corroia o orgulho do cimério que, franzindo suas sobrancelhas, começava a concentrar seu ódio na figura à sua frente. "O que é esta cidade?", vociferou com genuína curiosidade o bárbaro. "Cidade? Que tipo de pergunta é esta? Que tipo de mortal insignificante é esse?", falou aos risos novamente o homem em púrpura. A paciência de Conan começava a esgotar-se; olhando para o lado, o cimério percebeu que a misteriosa


mulher não estava mais ali, uma sensação de vazio começava a tomar conta dele novamente. "Escute cimério, a história que vive dentro desta grande Necrópole não é palatável; nem curta, nem longa, a história deste lugar é apenas a crônica de uma raça miserável." Chamas começavam a iluminar o lugar. Os grandes discos de bronze espalhados pela grande Necrópole começaram a arder com fogos os quais, a princípio, sustentavamse sem combustível. Conan estava cercado por figuras diversas, dos já conhecidos matadores vermelhos a nobres, de camponeses a gladiadores, um conglomerado de espíritos trafegava pela cidadela abandonada. O brilho amarelado começava a substituir o alvo reflexo da lua; os sons, as imagens e sentimentos começavam a reverberar pela Necrópole em ondas. Mais uma vez, Conan parecia estar sendo subjugado pelo poder místico dos ecos do tempo. Embora encurralado, o cimério mantinha seu olhar altivo; o desafio estava lançado, o homem à sua frente sentia a fricção entre a alma do bárbaro e a ação perturbadora da Necrópole. "Eu, bárbaro, vi suas cidades ardendo, vi o tempo passar de forma inexorável. As batalhas, o sofrimento monumental, a frivolidade da vida humana, a herança perdida dos homens.”. Recomeçando seu discurso, o homem vestindo a púrpura imperial deixou seu sarcasmo de lado e agora encarava Conan portando a sabedoria de seres imortais. "Vi as filhas e filhos deste mundo ansiando, clamando, por paz. Uma paz ilusória, pois a guerra e o sofrimento são o destino de todos." Abrindo seus braços, o homem parecia abarcar o cosmos; as figuras pálidas que viviam alheias pela Necrópole ganhavam vida ao entrarem em contato com a aura desprendida pelo homem à frente de Conan. As luzes, os sons, os seres que ganhavam vida e compunham mais uma vez um cenário surreal; a sensação de estar num sonho voltava a tomar posse da mente do bárbaro. Porém havia luz entre as trevas que o mantinham refém, a mulher de cabelos dourados dera-lhe a sólida sensação de esperança. O desafio faiscava de seus olhos azuis, Conan não havia se rendido. "Este olhar, bárbaro!" Falou de forma flagrante, o homem em púrpura. "Este olhar, o fogo que queima no desejo humano; Este desejo que arde como as piras funerárias de outrora, é o que guia os homens ao mais delirante triunfo, mas que também o leva ao mais vergonhoso desastre." O silvo de serpentes voltou a ecoar pelos corredores da cidadela, seu crescendo sonoro era quase tangível. Conan desviou sua atenção do homem à sua frente, desprendendo o foco de seu olhar notou, na sombra atrás do homem, a silhueta rastejante de uma víbora. Quando voltou a olhar para o homem, não vislumbrava mais o ser humano de imponência majestosa, mas sim um vil


corpo coberto de escamas; brilhando à luz do fogo, seus olhos refletiam o escarlate das estrelas cor de sangue, a monstruosidade erguia-se a uma altura que ultrapassava a do gigante cimério, seus músculos poderosos traziam relevo às escamas que cobriam um corpo humanóide que ostentava com orgulho a cabeça triangular de uma serpente. "Set!" Exclamou o bárbaro, buscando segurança em sua espada. O homem-serpente voltou a falar mais uma vez, pois algo genuíno fazia com que Conan não fosse apenas mais um fantoche suscetível aos seus feitiços; a criatura sentia algo, gravado no espírito milenar de sua raça, que trazia dúvidas à sua certeza primaveral a respeito da raça humana. "Este orgulho, cimério, a certeza da vida, é o que os fez escravos por tanto tempo.", disse apontando para os grandes alto-relevos e a história começava a fazer sentido para o bárbaro; serpentes guiando nações de homens, as máscaras humanas sempre os enganaram perfeitamente. Numa era pré-cataclísmica, os continentes civilizados, em toda sua decadência, eram nada menos que fantoches de uma raça mais antiga que a mente humana pode conceber. "Crom...", sussurrou o bárbaro. A história de uma nação inteira, orgulhosa em seu semblante, nada mais era que uma grande mentira. O sadismo brilhava entre os olhos do último representante de uma raça que, assim como a civilização que ela controlava, estava destroçada pelo caos incerto, inerente ao universo. "Bárbaro, esta Necrópole tem o poder de silenciar o mundo, libertar o universo da existência; acabar com a precariedade que até a mais grandiosa consciência representa." Conan sentia seu tempo esgotar-se; o que o homem-serpente tentava lhe explicar ainda não fazia sentido para o guerreiro cimério. "O tempo, bárbaro, é infinito; o infinito é o tesouro desta Necrópole; o horror de uns, para minha raça, é o exemplo da insignificância do homem, da existência como um todo." Gesticulando os poderosos braços cobertos de escamas reluzentes, a serpente em forma de homem fez com que espíritos de outras eras ganhassem mais uma vez consciência: bárbaros e mercenários, soldados e gladiadores precipitaram-se em direção ao bárbaro. Sorrindo, Conan mais uma vez ergueu-se em desafio; se para a luta ele havia nascido, lutando iria morrer. Mercenários de uma era esquecida ostentando capacetes de bronze com barbatanas de metal assaltaram o cimério, com lanças e espadas. Embora rápidos em seu ataque, a ferocidade de Conan não conhecia paralelos. Decepando a ponta da lança do primeiro, Conan, em sua furiosa carga, atravessou sua cota de malha numa estocada perpendicular; a vitalidade do guerreiro esvaiu-se junto com o sangue de seu corpo. O segundo combatente, possuído pela magia do homem-serpente, não tomou


conhecimento de seu colega caído e, numa troca violenta de estocadas e cortes altos e baixos, parecia não encontrar um ponto fraco na habilidade do cimério de olhos azuis. Conan, esquecendo de suas preocupações, voltava à origem primordial do homem guerreiro; gravado em seu sangue estava a memória de incontáveis guerras, batalhas, duelos. Conan era, naquele momento, o espírito guerreiro genuíno, seu adversário não lutava contra um soldado, mas contra uma força irresistível da natureza. Esquivando-se para trás, Conan desviou-se de um golpe quase certeiro em direção à sua barriga; aproveitando-se do desequilíbrio do homem coberto por escamas de bronze, o cimério girou sua lâmina em um arco que decepou a cabeça de seu oponente. Derrotando seus primeiros adversários, a vida voltava ao corpo do cimério. O homem-serpente tinha desaparecido e, em seu lugar, guerreiros brotavam de diferentes corredores e marquises; arqueiros com plumas coloridas em seus capacetes, guerreiros que lembravam Shemitas, com barbas encaracoladas e armaduras de placas; os guerreiros escarlates, imponentes e recobertos por pesadas couraças. A vida voltava, através da magia necromântica, às almas que habitavam a esquecida Necrópole. Conan sabia que todos aqueles guerreiros tinham apenas um objetivo: liquidá-lo. Saltando pelas paredes e muros, usando as sombras como subterfúgio, o cimério cobria a passos largos a distância entre os diferentes edifícios da grande Necrópole. O bárbaro sabia que estava perdido e que, nem mesmo o seu sobre-humano sentido de localização seria capaz de tirá-lo de dentro dos muros daquela cidade. Com movimentos felinos, Conan ganhava distância em relação a seus algozes; os labirintos sem fim da cidade de mármore negro ecoavam não só o pesadelo latente que já era um lugar comum na mente do bárbaro, mas também os pesados passos dos diferentes guerreiros, reflexos de um passado esquecido. Subindo rampas que levavam ao topo de uma das gigantes cúpulas que adornavam as colossais criptas da cidade, Conan ouviu o silvar de flechas. Girando sua cabeça, limpou o rosto de sua juba negra e vislumbrou os poucos adversários que ainda continuavam em seu encalço. Após despistar os menos ágeis, Conan era desafiado por três guerreiros; os rostos negros e os narizes achatados denunciavam a origem meridional dos soldados que, sem hesitar, lançaram-se ao encontro do cimério, com lanças em riste. Estocando com uma fúria primitiva, a qual igualava-se à de Conan, as três sombras do passado que agora ganhavam vida encontraram um homem capaz de enfrentá-las. Cortando a primeira das lanças com um giro de sua espada, Conan reutilizou o arco de sua espada e, no golpe seguinte, decepou a cabeça recoberta por penachos de um de seus brutais adversários. O


ritmo do combate era cadenciado pela brutalidade das tribos bárbaras, o tambor dos rituais profanos das terras negras parecia ecoar em cada golpe de espada, o eco dos escudos retumbava pela Necrópole; o transe ritual da batalha apoderava-se dos três guerreiros que ainda trocavam ataques e defendiam-se com a naturalidade instintiva de feras selvagens. A proficiência dos guerreiros com lanças não era párea para o bárbaro e sua espada de aço. Defendendo-se das estocadas intermitentes, Conan sabia que só avançando seria capaz de prevalecer; girando então sua espada, aproximou-se com a cabeça baixa de um de seus adversários, estocando a uma distância que fazia da lança uma arma tão letal quanto uma vassoura. Atravessando o aborígene com sua espada, girou seu corpo para que, ao mesmo tempo que livrasse sua lâmina do ventre inimigo, pudesse criar uma distância segura de seus último desafiante. Os corações de ambos guerreiros pareciam tambores de guerra; os gemidos guturais dos moribundos davam o toque final à cacofonia mortal que se tornara aquele pequeno campo de batalha. Com a respiração pesada e a boca seca por horas a fio sem água, Conan lançou-se uma última vez ao combate; desviando a lança inimiga com a lateral de sua lâmina, abriu espaço para, num arco ascendente, decepar o braço de ébano de seu adversário. Antes disso, porém, a lança inimiga rasgou sua coxa direita. A dor, anestesiada pela fúria cega do combate, não fez com que o cimério hesitasse e, com um derradeiro golpe, abrisse a garganta de seu inimigo que, já moribundo, ajoelhava-se à sua frente. Tremendo pelo frenético combate, os músculos de aço do bárbaro permaneciam retesados enquanto o cansaço começava a fazer do bárbaro sua vítima. A vitalidade de Conan, porém, não seria tão facilmente roubada. Procurando desesperadamente pela mulher cor de marfim, o bárbaro voltava a lutar, dessa vez com sua mente, para vencer não só o perigo mortal, mas também a ameaça mental que esse pesadelo lhe impunha. Os fogos brilhavam através dos labirintos imemoráveis da grande Necrópole, ardendo como a convicção de heróis de outrora. O homem-serpente admirava o tempo que se condensava em sua frente, a convergência de diversas eras dentro dos muros profanos da cidade dos mortos. A sensação que aquele bárbaro gravara em sua mente era, porém, algo estranho; uma sensação que aquele semi-deus não sabia descrever e que, dificilmente, conseguia recordar. Milênios haviam se passado desde que ele sentira sensação parecida, eras - como os humanos costumavam dizer - separavam os homens que o haviam desafiado e sobrevivido; este ímpeto, destrutível e que emanava de certos homens, havia talhado uma memória ancestral em sua raça e em sua mente. A ameaça dos homens nunca havia sido real, mas a convicção fútil, porém inquebrantável, não só


destilava o ódio mais irracional do coração frio da serpente, como também perfurava a mais consolidada racionalidade, criando um medo genuíno e doloroso. A cidadela começava a pulsar novamente, e uma língua profana saía modulada pelo silvar reptiliano do homem-serpente; os braços cobertos de escamas estavam erguidos e saudavam entidades que, pela sua magnitude inconcebível, representavam, em um plano extra-dimensional, aquilo que a Necrópole produzia na terra hiboriana: o silêncio entrópico da não existência. A filosofia por detrás das motivações do homemserpente eram incompreensíveis para qualquer homem hiboriano; nem mesmo os mais céticos nemédios podiam conceber o vazio existencial que o contato com as entidades caóticas e onipresentes haviam demonstrado ao único ser realmente vivo que habitava aquele monumento à efemeridade humana. Conan ouvia os ecos e cantigas; não somente o retumbar do coro profano produzido pelo homem-serpente, mas também a efervescência da vida sendo renovada, do tempo trazendo personagens de diferentes eras, um caos orgânico, o qual trazia em sua espreita o vazio da morte. Apoiado em uma parede, sua visão começava a ficar turva. Perdendo sangue e privado de alimentos a mais de um dia e de água há várias horas, o corpo imenso do cimério clamava por provisões. Trincando seus dentes, Conan ergueu seu olhar e, mais uma vez, encontrou sua única companheira nessa aventura que ao longo do tempo parecia corroer sua sanidade. "Conan!" exclamou a mulher de olhos áureos. Segurando o queixo do guerreiro, a mulher de pele pálida fitou o cimério antes de falar; seus olhos, assim como os do homem-serpente, penetravam a alma do bárbaro. "Você precisa sair daqui, a alma incandescente de um herói arde no seu corpo; a vida de um homem assim, não pode ser capturada ou domada, a única forma de cessar a existência deste lugar é apostar em sua força de vontade." A mulher falou com convicção e as palavras reverberavam na mente do bárbaro. Conan nunca duvidara de sua coragem, mas também conhecia seus limites e, embora estivesse disposto a morrer lutando, ao ver a morte furtar-lhe a vida vagarosamente, tinha consciência de que se não soubesse como enfrentar a Necrópole, não havia força interior que o fizesse sair de lá vivo. "Se algum de nós quiser acordar deste pesadelo vivo, eu preciso saber, antes de qualquer coisa, o que é este lugar, o porquê dele existir e, especialmente, entender a loucura, a magia destes corredores. O seguidor de Set, a serpente. Tudo." Conan foi direto, seu rosto inclinado para frente denotava o cansaço de seu corpo exaurido; seus olhos faiscavam apesar de sua mente atormentada. A mulher em sua frente manteve o olhar, mas a emoção que expressava


seu rosto mesclava a tristeza decorrente da impotência; incapaz de mudar seu destino, ela apenas conseguia enxergar para o cimério à sua frente algum tipo de futuro. O silêncio mantido por ambos colocava cada vez mais em evidência os sons perturbadores da noite, assim como fazia a tensão no ar aumentar a cada segundo. Depois de uma pausa extensa, a mulher de pele alva rompeu o silêncio "Este lugar é, foi e será um lugar onde o tempo não conhece as regras do nosso mundo, ou, pelo menos, do que foi o meu mundo" explicou a mulher, pausando para organizar seus pensamentos. "Não há como explicar de que forma, exatamente, os paradoxos do tempo surgem ou se mantêm; talvez tenha sido o homem-serpente, ou algo além do que podemos entender..." Conan a interrompeu rapidamente "Então por que tu, os homens que nos atacaram, o homem-serpente... Como todos vocês vivem aqui?" perguntou avidamente o bárbaro. "Como eu tentei dizer, as respostas que eu tenho não são todas, porém tenho as respostas necessárias." Conan começava a perder a sua breve paciência: "Necessárias para o quê? Há quantas horas eu ando em círculos, não há respostas aqui, só a morte; tudo neste lugar tenta nos matar." A mulher sentia a frustração do bárbaro e conseguia entendê-la, mas mais uma vez fora assaltada pela impotência. Embora tentasse, parecia tão difícil expressar o que era viver aquele tormento dia após dia. "O homem-serpente, o monstro que mantém este pesadelo, que talvez o tenha construído, é também um sábio, um necromante, um senhor das artes místicas, mestre do tempo; ele pode manter a memória dentro destes muros, a história esquecida de heróis e a infame trajetória de necromantes, de diferentes eras, raças, até de seres que não deveriam habitar este mundo." Conan sabia que a arte arcana existia e que deuses brincavam com a frivolidade da vida na terra, mas essa situação era algo que carregava um sadismo que o bárbaro até então desconhecia. Mantendo silêncio, o cimério convidava sua companheira a continuar a saga do necromante reptiliano. "Os soldados de diferentes eras, os matadores vermelhos, todos abominações trazidas através da magia negra para perambularem nestes corredores: almas sem vida, destinadas a vagar pela Necrópole; ecos do tempo, refratários da mente deturpada do homem-serpente. Eu, eu também faço parte disso." Assustado, o cimério não entendeu a parte que dizia respeito à mulher que detalhava a intrincada história da Cidade dos Mortos. "Como?" perguntou Conan. Encarando o bárbaro com uma frieza melancólica a mulher continuou sua história. "Alguns de nós, através de seus espíritos, de sua vivência, de seu poder como seres racionais, podem debelar a magia deste homem-serpente. A raça humana foi capaz de destronar estes habitantes durante eras já esquecidas; nenhum de nós, porém, foi capaz


de entender as maquinações por detrás desta serpente." Conan, compreendendo, pouco a pouco, a história dos ancestrais homens-serpentes, continuou com suas indagações: "Nós? Existe mais alguém aqui que não nos queira mortos? Afinal, qual é a saída deste lugar?". As perguntas eram muitas e o tempo de ambos era curto. Tentando sintetizar o máximo possível, a mulher de cabelos louros continuou seu relato: "A serpente dominou, há muito tempo, a arte do antigo Raama, a ciência do natural e o poder sobre o silêncio absoluto. Seus objetivos não são claros para mim ainda, mas a serpente nunca pôde dominar a convicção humana, a vitalidade de bárbaros como você." Apertando os braços cordados do cimério, a jovem de cabelos áureos sentia suas esperanças renovadas "Nas criptas dos reis atlantes descansa a memória de um herói. Imperturbável, sólida como o aço; é nela que reside a fraqueza da serpente, um singelo eco do passado que é capaz de fulminar o silêncio da morte." Conan, começando a entender os mecanismos pelos quais aquela cidadela era regida, começou a recobrar sua esperança. "Quando o silêncio imperar mais uma vez dentro dos muros, dentro deste pesadelo, a voz do herói atlante, mesmo fraca, poderá ser ouvida; é de lá que a redenção dos atormentados virá. Conan, as horas estão correndo, em pouco tempo, o ritual da serpente recomeçará. É preciso encontrar a cripta mais uma vez." Enquanto a mulher misteriosa afastava-se, o cimério sentia um vazio apoderar-se de si; a empatia que sentia pela mulher e o sentimento de ver sua beleza desaparecer tão rápido quanto a vivência de ambos acertaram o bárbaro onde ele não possuía defesas. Antes de desaparecer, a garota voltou-se e finalmente respondeu à pergunta sem resposta: "Meu nome é Delcardes!". A exaltação do homem-serpente aumentava a cada segundo, suas escamas brilhavam baixo à luz das estrelas, dando boas vindas aos primeiros raios solares e ao mesmo tempo aos deuses, às entidades, ou apenas às representações do que aquele ser reptiliano acreditava ser o vazio absoluto. A idéia do fim de tudo, da perda de todos os referenciais e da devastação do universo eram um alento para a mente perturbada daquele necromante enlouquecido pelo poder e infinidade do tempo. O som ensurdecedor dos ecos do tempo, da quebra da normalidade, do fluxo temporal e da história esquecida do universo, começavam a emanar novamente através da Necrópole. Os olhos da serpente brilhavam com um vermelho sanguinolento; o júbilo apocalíptico tomava conta da serpente; as escamas refletiam o laranja avermelhado da alvorada e vibravam em sintonia com a avalanche de experiências, emoções e trajetórias que voltavam ao presente desde tempo imemoráveis. E de repente, silêncio.


Conan voltou a sentir as mesmas sensações de quando foi assaltado pela primeira vez pelas memórias perturbadas do passado. Embora mais fragilizado do que no primeiro encontro, a resolução em seu espírito permanecia intacta; inexoravelmente o cimério atravessava os labirínticos corredores em busca da cripta atlante, até que de sua agitada agonia surgiu o silêncio. Macabro, opressor e incompreensível, o silêncio englobava tudo que o que Conan podia sentir, ver, tocar. Caindo de joelhos, mas mantendo seu queixo erguido, o cimério desafiava a morte que rastejava pelo seu corpo em busca de seu coração. O silêncio então foi quebrado. O som lânguido, inconstante mal podia ser percebido; erguendo-se Conan lançou-se mais uma vez à sua busca. Durante muito tempo o bárbaro não soube explicar se aquilo havia sido uma intervenção divina, um caso da sorte, ou só um trecho feliz em meio ao pior pesadelo de sua vida, mas a cada esquina que dobrava, a cada avenida que percorria, o som o qual buscava parecia se tornar mais intenso, mais constante. Os sentidos do bárbaro voltaram a se aguçar e o mesmo, em pouco tempo, finalmente encontrou a cripta atlante. Sob colunatas de um mármore branco, quase translúcido, fixado numa parede esverdeada, repousava um - soberano e incontestável - tridente. O brilho heróico refletia os sons de cânticos bélicos e os tambores de guerra que inundavam aquele aposento. Atrás do tridente, repousava um escudo, um gongo de um bronze dourado, polido a ponto de refletir o ofuscante brilho da majestosa arma. Aproximando-se vagarosamente, Conan recobrava suas energias, seus sentidos plenos e seu vigor; agarrando o tridente com seus punhos de bronze o bárbaro viu finalmente o reflexo no grande disco de metal. Um bárbaro o encarava, sua vitalidade primitiva fulminou Conan, seus olhos cinzas fitavam o cimério com a majestade de um tigre, aquele herói de espírito inquebrantável, era um reflexo de uma era passada, esquecida, mas que encontrava paralelos no presente. Antes que Conan conseguisse entender mais aquela artimanha, o escudo desprendeu-se e, estilhaçando-se no chão, desprendeu junto consigo o grito de infinitos guerreiros e a cacofonia de um milhão de campos de batalha. Gritando em sintonia, estava o cimério, seus poderosos braços alçados ao céu, seu peito amplo estufado e seus espírito pronto para reivindicar mais uma vez o lugar dos homens no cosmos. A explosão que desafiava o silêncio criado pelas maquinações da enorme serpente desorientou o grande necromante recoberto de escamas. Buscando entender o que acontecia, a sensação de não ter mais tudo sob seu controle, fez, mais uma vez, com que o medo assaltasse a mente da serpente humanoide. Invocando todos os demônios que sua magia e seus deuses lhe permitiam, ele sabia que, para que seus planos fossem


concretizados, o bárbaro deveria perecer. Após realizar seus rituais e dar inicio à caçada ao bárbaro, a grande serpente, descansando seus braços escamosos sobre o mármore negro, recobrava a habilidade guerreira milenar de sua já extinta raça; embora pudesse reaver sua maestria guerreira, o homem-serpente não podia competir com a tenacidade do bárbaro; não somente sabia disso, como sentia que o medo da derrota começava a arraigar-se em sua mente. Derrotar o bárbaro era uma questão de vida ou morte. Com o tridente da antiga Valúsia em seu braço esquerdo e empunhando sua espada no braço direito, Conan desbravava mais uma vez os corredores profanos da grande Necrópole. Apesar do silêncio mais uma vez imperar dentres os altos muros recobertos de bronze e mármore, os sons alienígenas agora espalhavam-se pela Cidade dos Mortos. Os raios perpendiculares do sol nascente lançavam sombras de criaturas monstruosas em diferentes ângulos. Olhando o topo dos altos muros, Conan agora entendia as silhuetas que guardavam o topo dos ciclópicos muros de pedra negra. Presas por encantos milenares, as formas alienígenas eram manifestações refratárias das cósmicas entidades que os homens serpente cultuavam, manifestações resultadas de milênios de práticas nefastas e sacrifícios profanos. As abominações agora ganhavam vida e tinham um só objetivo: acabar com a vida do cimério. Observando uma grande massa disforme que, com dificuldade, dobrava uma das infinitas esquinas da grande Necrópole, Conan preparou-se para um combate não usual. O horror cósmico de um ser que não tinha paralelos na realidade hiboriana iria enfrentar o aço cimério. Saltando à frente, o aço afiado da espada de Conan encontrou pouca resistência na substância alienígena da monstruosidade de inúmeros membros e formas assimétricas. Cortando em golpes selvagens, os lampejos do aço faziam as substâncias de cores vivas criarem chafarizes mortais; dançando entre os membros despedaçados, ao som de sua espada, o cimério cantava, mais uma vez, a canção da morte. A monstruosidade à sua frente finalmente sucumbia, seu corpo asqueroso fervilhava enquanto sua carne disforme espalhava-se pelos ladrilhos de mármores. Conan percebeu, finalmente, que não estava sozinho, mas sim rodeado de figuras indescritíveis pelos vocabulários hiboranos. O horror perfurava o mais instintivo ódio e semeava o desespero no coração do bárbaro; embora fosse um herói em meio a um campo de batalha, Conan ainda era um homem. A loucura espreitava a sua volta, assim como a ameaça das garras, mandíbulas e olhos cristalinos que o vigiavam. Entrando novamente em seu transe de batalha, Conan dava a seus inimigos mais uma amostra do sabor de seu aço.


O seu corpo ardia com o cansaço; a dor e o sangue vertiam por feridas abertas neste e nos outros diversos combates da noite; sua perna estava quase cedendo, mas seu coração indomável ainda batia e seus movimentos felinos faziam de Conan um alvo difícil de ser alcançado. Em meio ao frenesi, o tridente em seu braço esquerdo rugia, emanava uma magia arcana e primal; a aura de guerreiros antigos, nobres e selvagens, fazia com que os horrores da grande Necrópole recuassem, encolhessem como a água fervilhando que se evapora diante do calor das chamas. Como uma fagulha, Conan crescia e tornava sua passagem um incêndio caótico, desafiando a morte e o silêncio com sua determinação bárbara. Erguendo então o seu tridente, o cravou no chão, o som ensurdecedor gerou um silêncio subseqüente. A Necrópole mais uma vez tornara-se um vazio idílico; o arfar do peito do bárbaro pareceu a única manifestação de vida até que, banhado pelo sol crescente no horizonte, as sombras de seu nêmeses recoberto de escamas romperam a calma do momento. Preenchendo aquele instante estava a tensão que precedia os duelos de vida ou morte. Rodeando sua espada, limpando o sangue de sua juba negra, Conan fixou seus olhos inflamados no grande homem-serpente. Ambos guerreiros representavam o clímax da evolução de suas espécies. O homem-serpente tinha suas escamas moldadas no formato de poderosos músculos; sua mandíbula enorme e recoberta de dentes abriu-se em desafio e um silvar frio como as garras da morte precedeu o assalto do grande réptil. Com seu machado em punho, o homem-serpente não poupava esforços em sua tentativa de aniquilar seu adversário; o gigante de bronze com seus rápidos movimentos e últimos fios de energia esquivava-se como um tigre. O bárbaro não era um homem comum; o homem-serpente, embora cego pelo calor da batalha, sentia ecoar em seu espírito a memória ancestral dos grandes heróis do passado que humilharam sua altiva raça. Girando seu machado esverdeado, seus golpes eram velozes como o ataque dos répteis predadores do rio Styx, mas não conseguia alcançar o felino cimério o qual, em uma série de golpes rápidos e poderosos, talhava as escamas da grande serpente à sua frente e fazia verter o sangue frio de seu oponente. Sentindo sua energia vital esvair-se, o homem-serpente lançou seu grande machado em um último arco de cima a baixo; arrebentando o chão aos pés do cimério, Conan não teve tempo de levantar a guarda de sua espada. Investindo com o ódio renovado, o homem-serpente prendeu os ombros de Conan entre suas garras com uma pressão mortal. Neste momento, o bárbaro descobriu as verdadeiras intenções do imenso réptil à sua frente. Mesclando sua mente com a da grande serpente, Conan vislumbrou o grande silêncio sobre a memória da humanidade, vislumbrou também o


tempo como uma dimensão paralela. O homem-serpente seria capaz de por fim a existência, seu conhecimento não conhecia fronteiras; apenas o vazio - tão desejado eclipsava o poder arcano de sua mente; Raama - o nome ecoava na mete de Conan punha mais uma vez o cosmos em risco. Neste momento a ancestralidade bárbara voltou a pulsar nas veias do cimério. Como os guerreiros de outrora, os heróis majestosos faziam o bárbaro lembrar de sua herança, do âmago guerreiro, às vezes destruído pela civilização ou transmutado em algo que não representava a essência da humanidade. Com a força da memória destes antigos reis bárbaros, Conan agora reivindicava a vida: a sua e a de todos os reféns da grande Necrópole. "Ka nama kaa lajerama!" Gritou o bárbaro. A grande serpente hesitou: aquele bárbaro, a memória ancestral de sua raça, a potência de vida do homem subjugava mais uma vez os grandes répteis de outrora. Desprendendo-se dos punhos da grande serpente, seus ombros subiram e, com eles, a espada do cimério partiu de baixo a cima a criatura à sua frente. Agonizando, o monstro tombou destruído à frente do cimério; num grande tremor as paredes da Necrópole também começaram a tombar. Conan correu e ouviu Delcardes sussurrar em seu ouvido "Não olhe para trás". Correndo, carregado apenas pelo desespero, Conan desviava-se dos mármores caídos e vislumbrava mais uma vez a selva que o trouxera àquele lugar. Pulando entre as rochas de sílex, lembrou-se dos cabelos áureos e da pele alva de Delcardes e, desobedecendo sua efêmera companheira, olhou para trás em busca, mais uma vez, de sua beleza reconfortante. A Necrópole havia sumido e um silêncio ancestral retornou à selva, ao mundo, ao universo. A vida foi suspensa por um breve momento. O pesadelo havia terminado, e Conan sabia que jamais deveria voltar à Necrópole. O silêncio então foi quebrado uma última vez, e a vida voltou a pulsar ao longo do cosmos.


Notas

Este conto, ou melhor, esta homenagem a Howard, tentou buscar referências nos heróis bárbaros do autor, tanto Conan, o protagonista da aventura, quanto Kull. Embora de maneira mais sutil, os leitores do conto poderão facilmente identificar elementos de contos como The Shadow Kingdom, The Screaming Skull of Silence e The Cat and the Skull, todas obras sobre Kull. Os temas abordados têm certa ligação com a história e memória, assim como o esquecimento, o "silêncio", temas estes abordados por Howard tanto em seus contos quanto em sua correspondência com outros autores. A ideia de "lembranças ancestrais" está presente não só em contos como The Shadow Kingdom como também na relação de Howard (na verdade Howard nunca acreditou nesta ideia, mas gostava da mesma) e seus antepassados celtas. Geograficamente o conto se passa no extremo sul do continente hiboriano, um lugar pouco (ou nunca) visitado. A escolha se deu após análise do esplêndido mapa hiboriano de Vagner Silva. Embora nunca tenha lido nem o original, nem a adaptação aos quadrinhos, procurando informações sobre "As terras sem retorno", encontrei no conto Shadows in the Skull (de Sprague de Camp e Carter) diversos paralelos com o conto que já estava escrevendo, especialmente a aparição da antiga raça dos homensserpente, raça essa que, na cosmogonia howardiana, antecedia a era de Kull e é bem representada nos contos deste personagem. Há também inspirações lovecraftianas, sendo o conto The Nameless City uma influência clara, não só por explorar a idéia de uma raça reptiliana, como também por ser um exemplo clássico do uso de cidades abandonadas na ficção fantástica (coisa que Howard, diga-se de passagem, utilizava de forma quase abusiva). Pode-se notar também que muito do conto permaneceu sem uma explicação clara. Em parte proposital - uma forma de aguçar a criatividade do leitor - e em parte pelo curtíssimo número de páginas no qual ele foi escrito. A origem da Necrópole, o grande silêncio, o passado de Delcardes e o do grande homem-serpente não só ficam a mercê da criatividade de quem leu, como há também nos contos sobre Kull pistas importantes sobre estes elementos da história. Como já dito na nota de rodapé da primeira página, a música Necropolis, da banda Manilla Road, foi importante para a criação do conto; inspirado por temas howardianos, a história da música contém diversos elementos dos contos de Howard. Embora não sendo uma referência direto ao herói cimério, a música trata ao seu


decorrer com temas predominantes na ficção howardiana, quase todos eles representados neste conto. Também vale frisar que o Manilla Road também adaptou outros contos de Howard como Queen of the Black Coast e The Frost Giant's Daughter. Por fim devo mencionar as ilustrações, inspiradas na arte de Justin Sweet pra a compilação da Del Rey sobre os contos do rei Kull; as ilustrações tentam expressar um pouco do que, nas pouquíssimas vinte páginas no conto, não pôde ser dito. Embora elas tenham sido criadas como figuras de rodapé ou para a aparição ao lado das margens, por questões de regras ficaram restritas aos anexos do conto.

Agradecimentos

Agradeço primeiramente ao Felipe por ter acompanhado a gênese do conto desde sua forma embrionária, fornecendo sugestões sinceras. Agradeço à Naiara pela correção, não só ortográfica, mas em todos os âmbitos do conto. À minha mãe que pressionou a conclusão do conto pela sua ávida vontade em lê-lo. E por fim ao meu pai por me apresentar Conan e o universo hiboriano.


Ilustrações






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