Necropolis1 Por Carlos Bueso
A selva, úmida e quente, vibrava ao som de uma fauna caótica. Os odores fortes, as sensações que permeavam integralmente o ambiente misturavam-se ao efeito sedativo da lótus negra. Caminhando sob a alta copa das árvores, silenciado pela vibração natural e pulsante das selvas dos reinos negros, um homem, um bárbaro, recortado por raios de sol refratários de folhas e vapores, seguia um caminho incerto. Seus olhos, de um azul flamejante, sondavam a mata fechada; samambaias, altas árvores, o verde escuro inundava a terra encharcada por chuvas torrenciais a qual, salpicada por arbustos e flores de inúmeras cores, estendia-se indefinidamente ao sul onde homens, civilizados ou bárbaros, jamais haviam pisado. A pele escura do bárbaro, seu único escudo contra o sol meridional, era recoberta por cicatrizes as quais, ostentadas como troféus, cobriam o dorso descoberto do aventureiro que cruzava, numa velocidade desconhecida por homens civilizados, o coração das Terras Sem Retorno. Seguindo o fluxo do grande rio Styx, o bárbaro havia caminhado por semanas uma trilha indefinida. O alvoroço no qual se encontrava ao deixar os reinos negros havia abandonado o bárbaro; não mais a busca por uma lenda o fazia seguir adiante, apenas a certeza de que seu retorno era impossível. Impassível como todos os estranhos homens do norte, a busca por aventuras era o que embasava sua fugaz existência. O perigo, a morte e a privação, até daquilo mais básico para a sobrevivência humana, eram uma realidade que o bárbaro não tinha, ou teve, medo de enfrentar. Este bárbaro, de semblante impassível, com seu rosto talhado no bronze de um corpo de gigantes proporções, de cabelos negros, cortado em ângulos retos como o fio de sua espada, era Conan. Após jornadas intensas e aventuras incertas, Conan, o cimério, havia deixado os Reinos Negros. Enquanto chefe de guerra dentre as nações negras conquistou glória e respeito, talhou seu nome em lendas aborígenes, em selvas densas e desconhecidas. Cansado da glória, da dor e do fardo da liderança, seu espírito indomável clamava por novas aventuras. Enquanto Conan descobria cada vez mais segredos sobre a história daquela parte do mundo, crescia a sua vontade de delas vivenciar experiências. As perguntas sobre as razões de viver faziam parte de sua melancolia; a vida como 1
Embora o título tenha uma grafia incorreta "Necropolis", o título permanece fiel a música que inspirou a criação do conto. Apesar de ter este título, ao longo do texto optou-se pela grafia correta, Necrópole.