Debates: comunicação, parlamento e sociedade

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DEBATES

COMUNICAÇÃO, PARLAMENTO e SOCIEDADE



Debates Comunicação Parlamento e Sociedade

Brasília, 2016 - 55a Legislatura Assessoria de Comunicação da Liderança do PCdoB na Câmara dos Deputados


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Esta publicação é uma coletânea de artigos dos participantes do 1º Encontro de Comunicação Parlamentar do PCdoB, realizado em março de 2015, na Câmara dos Deputados

Liderança do PCdoB - Assessoria de Comunicação Câmara dos Deputados - Anexo III - Sala 378 CEP 70160-900 - Brasília/DF (61) 3215-9738 ascompcdobcd@gmail.com


Sumário Apresentação

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Importância dos comunicadores do PCdoB no atual contexto político

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Como enfrentar a mídia golpista?

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Comunicação parlamentar como reafirmação da representação do povo e do Partido

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Assessoria de Comunicação do PCdoB na Câmara: Um breve relato da experiência

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A comunicação dos mandatos e a propaganda partidária contínua

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Fatores Fundamentais da Arte da Guerra nas Mídias Digitais

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Como “sobrevivemos” às eleições

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Maranhão 2014 - uma derrota dos coronéis da mídia

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Comunicação alternativa e redes sociais: a experiência da TV e da Rádio Vermelho

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Apresentação JANDIRA FEGHALI Médica, deputada federal pelo Rio de Janeiro e líder do PCdoB na Câmara dos Deputados em 2014 e 2015.

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Brasil enfrenta crises na política e na economia com importantes repercussões sociais. 2015 foi um ano complexo e difícil, exigindo posicionamento claro e difusão das opiniões, fazendo das ações dos comunicadores tarefa cada vez mais estratégica em todas as frentes. Mais do que nunca, é fundamental utilizar os instrumentos disponíveis para enfrentar a batalha da mídia, em todas as suas plataformas. Os últimos dias de 2015 nos reservaram uma importante vitória após árdua luta política da esquerda, que teve grande visibilidade graças a uma estratégia de comunicação do nosso campo. Ao julgar ação do PCdoB, o Supremo Tribunal Federal (STF) barrou o rito do impeachment encabeçado pelo presidente da Câmara, em razão das inúmeras ilegalidades. Apesar de conseguirmos frear esses intentos golpistas no ano passado, tivemos de intensificar a luta em 2016 em razão 7


do avanço do impeachment no Senado. A briga contra retrocessos e a defesa do mandato constitucional da presidenta Dilma Rousseff são mais intensas nas ruas, nas redes, no Congresso e no STF. Nesse contexto, o papel da comunicação será estratégico para impedir o avanço de ideias retrógradas na sociedade, assegurando a união contra qualquer ato antidemocrático. A pauta regressiva da Câmara exigiu embates. Como eram polêmicos, os temas demandavam permeabilidade social. Em pouco mais de uma década, houve uma revolução tecnológica na área da comunicação. A rapidez da divulgação das informações, dando fluidez a opiniões distintas, faz com que estejamos em uma batalha permanente. Os parlamentares do PCdoB são todos eleitos com votos de opinião e, por isso, devem estar cada vez mais preparados para ocupar espaços de defesa das ideias progressistas. Ao mesmo tempo, a nossa Bancada tem base nos movimentos sociais, que muitas vezes se expressam pelas plataformas digitais. É uma responsabilidade enorme, portanto, como força de esquerda consequente. Seria impossível cumprir essa missão se a nossa comunicação não estivesse politizada, antenada, articulada e integrada para multiplicar a nossa voz. A democracia pressupõe a pluralidade e esta se encontra limitada por barreiras ideológicas, políticas e de interesses do mercado de comunicação. Vão ficando cada vez mais claras as contradições entre as empresas de tecnologia digital, as de telecomunicação e de radiodifusão. 8


Conforma-se como um desafio político gigantesco, enfrentar os grandes veículos de comunicação que, no atual contexto, tentam desconstituir o projeto político construído desde 1989, com denúncias seletivas. Desde as eleições presidenciais de 2014, o país é vítima de uma polarização política insuflada pela oposição que prejudica a economia nacional, não havendo espaço de mediação. Nesse cenário adverso para a esquerda como um todo, um passo histórico no esforço pela democratização da comunicação foi dado recentemente. A presidenta Dilma Rousseff sancionou a Lei 13.188/15, que regulamenta o direito de resposta nos meios de comunicação, em novembro do ano passado. Era possível avançar mais, mas já é uma vitória importante da liberdade de expressão a ser comemorada pelos setores progressistas. A resposta para essa artilharia pesada da oposição e da mídia é conseguir chegar à sociedade por meio de distintos canais. Existem ainda muitos obstáculos a serem superados. Há uma fragmentação na esquerda, com experiências individuais bem-sucedidas na internet que devem ser mais articuladas e vinculadas à política. Há necessidade de integrar mais as ações, os discursos e os objetivos. Temos de reforçar uma agenda comum que ganhe força na sociedade, articulando cada vez mais com os meios alternativos. Garantir a liberdade e a pluralidade na internet é uma luta constante, como também a universalização da banda larga, um direito de acesso do povo brasileiro. 9


A ação unificada da comunicação do nosso campo é uma arma decisiva para vencer o bloqueio midiático de informações que é impulsionado pela falta de um marco regulatório do setor. A nossa Bancada defende a aprovação de medidas que regulem a atuação dos veículos de comunicação para assegurar maior circulação de ideias e reflexões, e também o incentivo financeiro da mídia alternativa. Regionalizar a produção local e independente, regulamentar o marco civil da internet. Além disso, a legislação do setor tem mais de 50 anos e não atende ao objetivo de ampliar a liberdade de expressão e não está em sintonia com os desafios atuais da convergência tecnológica. Assim, apoiamos a proposta da sociedade civil, que impede a posse de mais de cinco canais; a propriedade cruzada, ou seja, a obtenção de canais de TV, rádio e jornal impresso, ao mesmo tempo, em cidades com mais de 100 mil habitantes. Apesar do esforço, a pauta legislativa é difícil de avançar em razão dos interesses político-empresariais. Como estratégia para vencer as dificuldades no campo da comunicação, a Liderança do PCdoB na Câmara dos Deputados vem fortalecendo sua assessoria de comunicação e apostando cada vez mais na integração dessa estrutura com os deputados da Bancada e com os respectivos assessores dos mandatos, além de fortalecer a relação com os principais comunicadores dos partidos aliados, Secretaria de Comunicação da Presidência da República, blogueiros, mídia alternativa em geral e setores progressistas da sociedade. 10


O Encontro de Comunicação Parlamentar, realizado em 2015, foi uma oportunidade importante para aprofundar essas relações e discutir boas práticas. O objetivo é articular mais e ter uma atuação unitária que funcione no cotidiano em meio à velocidade do fluxo de informações. Essa comunicação unificada deve ter conteúdo, contundência e amplitude, sendo repercutida por todos aqueles que concordam conosco nas nossas redes. Esses aliados são fundamentais para espalharem nossas bandeiras. É estratégico, portanto, darmos um salto qualitativo na disputa de opinião na sociedade brasileira, potencializando a comunicação dos mandatos e do partido de forma ousada. Este conjunto de artigos contribui nesse debate tão caro para o PCdoB. Boa leitura!

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LUCIANA SANTOS Deputada federal por Pernambuco e presidente Nacional do PCdoB.

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momento complexo que vivemos em nosso país, pautado por intentos golpistas e por forte onda de ódio e intolerância contra a esquerda e as forças progressistas, além de ser um grande desafio para aqueles que querem um país mais justo e com igualdade de oportunidades para todas as pessoas, coloca em evidência o potencial estratégico da comunicação. O sistema de comunicação no Brasil é fortemente fundamentado no modelo privado e prioriza a gestão de lucros em detrimento do interesse público. Esse cenário monopolista, de concentração e exclusão, não retrata o que está previsto em nossa Constituição, nos artigos 220, 221 e 223, que tratam sobre a restrição aos monopólios e oligopólios, a regionalização da produção de conteúdos e a complementaridade dos sistemas de comunicação, por exemplo. 13


No Parlamento, temos o desafio de atualizar nossa legislação e adequá-la aos avanços promovidos pela tecnologia e, sobretudo, às necessidades da nossa sociedade. Discutir a regulamentação dos artigos da Constituição nunca foi fácil; e nesta 55ª Legislatura, que já entrou para a história por se tratar do Congresso mais conservador desde 1964, discutir a comunicação tem sido ainda mais difícil. Inclusive, esse é um dos motivos pelos quais temos de valorizar ainda mais a aprovação do Projeto de Lei do Direito de Resposta, que depois de tantos anos, finalmente foi aprovado nas duas Casas e possibilita que as pessoas tenham o direito de se defender em condições de igualdade a quem ofende, calunia e difama. É importante refletir que o exercício da democracia passa fundamentalmente pelo aperfeiçoamento das políticas de comunicação e a sociedade precisa estar consciente dessa importância e se apoderar dessas ferramentas como forma de garantir identidade com sua cultura e suas necessidades. Em suma: garantir acesso aos meios de comunicação está na ordem do dia e isso é primordial para a formação do nosso povo. A Bancada do PCdoB está consciente da urgência e da prioridade dessa temática, mas esse é um desafio que não se centra exclusivamente nas mãos dos parlamentares. Em outro front, tão importante e estratégico quanto o institucional, encontra-se o nosso aguerrido movimento social e, especificamente, o movimento em defesa de uma comunicação democrática. Fazer a denúncia, o enfrentamento, pautar o contraditório e estruturar outras plataformas de comunicação têm 14


sido apenas algumas das valorosas contribuições desse movimento. Do mesmo modo, e perfilados a esses ideais de uma comunicação que valorize o profissionalismo e a ética com o objetivo de transformar o mundo, os nossos comunicadores do PCdoB têm se empenhado em construir alternativas. Especificamente, é preciso saudar a iniciativa das assessorias da Bancada no Congresso e de cada parlamentar comunista, pelo esforço em construir o encontro que deu origem a essa coletânea. A união dos nossos comunicadores, a troca de experiências e a comunhão de ideias que surgem desse tipo de atividade são bons combustíveis para a luta cotidiana. Isso nos ajuda a compreender que se os desafios são grandes, é maior que eles a nossa disposição em dar voz ao nosso povo, às suas necessidades e sua infinita capacidade. Não tenho dúvidas que, neste momento político que vivemos, o debate de ideias e a mobilização popular são as principais propulsoras dessa necessária mudança no sistema de comunicação brasileiro e na sociedade como um todo, e nossos comunicadores têm lugar estratégico nessa arena. Uma comunicação democrática é um objetivo que se impõe a todas as pessoas que defendem a democracia e o direito de viver em um mundo mais justo e mais solidário. Lutar por ela é lutar pela soberania e pela democracia para esse país e sua gente. Vamos em frente, juntos, firmes na luta!

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ALTAMIRO BORGES Jornalista e presidente do Centro de Estudos de Mídia Barão do Itararé. Secretário nacional de mídia do PCdoB e integrante do Comitê Central do partido.

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ão foi só Aécio Neves, o cambaleante tucano, que até hoje não engoliu a surra nas urnas em outubro de 2014 – a quarta consecutiva da oposição neoliberal no país. A mídia monopolista, controlada por sete famílias feudais, também não se conforma com a derrota. Ela fez de tudo para desgastar o governo Dilma Rousseff e para blindar o senador mineiro-carioca, mesmo desconfiando do seu estilo playboy. A capa criminosa da “Veja”, a revista do esgoto, na véspera do segundo turno, foi o ápice desta cruzada para evitar a reeleição da petista, servindo de panfleto aos cabos eleitorais do presidenciável do PSDB. O nível das baixarias da campanha eleitoral já indicava que a guerra midiática era um caminho sem volta, que a partidarização da mídia chegara a um ponto de não-retorno. 17


A expressão de desalento de Willian Bonner ao confirmar a derrota de Aécio Neves na telinha da TV Globo foi a senha do que viria na sequência. Desde a sua posse para o segundo mandato, em janeiro de 2015, Dilma Rousseff não teve um segundo de paz e tranquilidade. A mídia partidarizada pautou as siglas da oposição, que se transformaram em meros apêndices – sem vida própria, sem rumo e sem projeto para o Brasil. A pirotécnica Operação Lava-Jato, com suas prisões arbitrárias, suas “delações premiadas e premeditadas” e seus vazamentos seletivos, virou o aríete dos moralistas sem moral. Não é para menos que o juiz-carrasco Sergio Moro ganhou as capas das revistonas e foi premiado como “o brasileiro do ano” pela imaculada famiglia Marinho. A mídia ressuscitou o moribundo Tribunal de Contas da União (TCU), que nunca teve espaço em seus veículos, como o intento de fustigar o governo reeleito. Ela também deu guarita aos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para questionar as contas da campanha vitoriosa. Além de utilizar os aparatos de hegemonia do Estado, ela instigou os recalcados com os avanços sociais a rosnarem pelo impeachment de Dilma e pela volta dos militares ao poder. Jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão convocaram escancaradamente as quatro marchas golpistas do ano passado. Após chocar o ovo da serpente durante vários anos, a mídia conseguiu tirar os fascistas do armário e lotar as ruas numa cruzada conservadora e de ódio sem precedentes na história recente do país.

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“Sangrar” Dilma e “matar” Lula

Essa cavalgada golpista, porém, não conseguiu depor o governo democraticamente eleito pela maioria dos brasileiros. No final do ano, a oposição midiática e partidária sofreu duros revezes. O herói dos fascistas mirins, o correntista suíço Eduardo Cunha, foi desmascarado na sua manobra diversionista para escapar da cassação e da prisão. A Procuradoria-Geral da República (PGR) finalmente pediu seu afastamento da presidência da Câmara Federal, o que foi determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Já havia atendido a uma solicitação da bancada do PCdoB, abortando a “comissão especial do impeachment”, idealizada por Cunha. Para fechar 2015 goleando a mídia e os “midiotas”, os movimentos sociais demonstraram maturidade e unidade e organizaram gigantescos atos contra o golpismo e em defesa da democracia. Mas, como já foi dito, a mídia monopolista chegou a um ponto de não-retorno. Quando houve o desgaste temporário da tese do impeachment, ela adota uma nova tática, que consiste em “sangrar” Dilma e “matar” Lula. Atuando como um partido coeso e centralizado, que lembra a rígida disciplina militar, ela agora pauta a sua linha editorial no esforço para desgastar diuturnamente o governo, inclusive jogando no pessimismo e na paralisação econômica do país, e para evitar o risco do retorno do carismático líder petista nas eleições presidenciais de 2018. Nesta cruzada insana, a imprensa nativa bate recordes mundiais de cretinice e imundices. Vale tudo: o tríplex que não é de Lula, a sítio do amigo, os pedalinhos, o “iate” de latão comprado por R$ 4 mil pela ex-primeira-dama. 19


Eduardo Cunha, o correntista suíço, é poupado pela mídia falsamente moralista. Aécio Neves, o “chato” que recebeu “um terço” do esquema de propina de Furnas, é tratado como santo. Geraldo Alckmin, o governador paulista que espanca estudantes e frauda merendas escolares, desaparece das páginas dos jornais e das telinhas da televisão. A forte blindagem aos tucanos confirma uma piada que circula pelas redes sociais: basta se filiar ao PSDB para não ser investigado, julgado, condenado e, muito menos, preso! Mas o contexto de adversidades não permite brincadeiras. A tática midiática de “sangrar” Dilma e “matar” Lula tem impacto no imaginário popular e terá reflexos das próximas contentas eleitorais.

As razões da partidarização da mídia

O que explica tamanha radicalização da mídia na sua partidarização direitista? Afinal, os governos Lula e Dilma não promoveram transformações estruturais no Brasil, não afetaram os interesses econômicos das elites dominantes. No máximo, eles realizaram um “reformismo brando”, com alguns avanços sociais e a ampliação da democracia. Apesar da neurose dos “midiotas”, o país não tem nada de “bolivariano” e, muito menos, de socialista. Os ricos seguem ganhando muito dinheiro – que o digam os três filhos de Roberto Marinho, que figuram no topo do ranking da revista Forbes como os maiores bilionários brasileiros. Eles também mantêm seus privilégios, suas contas secretas em paraísos fiscais e a sua sonegação criminosa de imposto – inclusive os barões da mídia. O ódio visceral dos barões da mídia têm razões políticas e 20


econômicas. Ele já se manifestou em outros momentos da história do Brasil – como na cruzada que levou ao suicídio do “trabalhista” Getúlio Vargas, na campanha contra o “desenvolvimentista” Juscelino Kubitschek ou no golpe militar que derrubou João Goulart em 1964. A chamada “grande imprensa” nunca aceitou governos comprometidos com os anseios populares e com o projeto de desenvolvimento da nação – mesmo os oriundos de dissidências na burguesia. Ela sempre se comportou com um instrumento partidário da oligarquia mais reacionária, egoísta e entreguista. Daí sua histórica defesa do receituário ultraliberal, sua satanização dos movimentos sociais e seu doentio complexo de vira-lata diante dos EUA. No caso do ex-presidente Lula, a este fator político é preciso acrescentar uma razão de classe. Os barões da mídia nunca toleraram a chegada ao Palácio do Planalto de um retirante nordestino, peão e líder grevista. Na sua mentalidade escravocrata, trabalhador é para trabalhar. Não é para pensar e muito menos para governar um país da dimensão do Brasil. Para eles, é natural – quase sagrado – que FHC frequente a mansão de um “amigo” em Paris e seja proprietário de um apartamento de luxo em Higienópolis; é justo que Aécio Neves utilize um jatinho oficial para dar carona para celebridades globais e que até construa um aeroporto na fazenda do seu tio-avô no interior mineiro. Já o peão não pode ter um apartamento na praia e nem um pedalinho ou canoa de mental. Já no caso da presidenta Dilma Rousseff, é preciso acrescentar a questão do machismo – tão presente na sociedade brasileira deformada pela mídia.

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O fator político, porém, não é o único motivo da imprensa para a sua radicalização partidária. Os barões da mídia não dão ponto sem nó. Eles seguem com as suas fortunas, alienando os brasileiros e explorando a mão-de-obra barata de seus jornalistas – inclusive daqueles que chamam patrão de companheiro. Mas eles percebem que seu modelo de negócios está em declínio, em decorrência da explosão da internet e da própria perda de credibilidade dos seus veículos. Muitos jornais já faliram ou tiveram quedas vertiginosas de tiragem. A Folha de S.Paulo, o maior diário do Brasil, despencou de um milhão para menos de 200 mil exemplares. As revistas estão em decadência, inclusive a asquerosa “Veja”. As audiências da tevê derretem a cada dia. No ano passado, por exemplo, a TV Globo perdeu 7% do seu faturamento em publicidade. Diante deste cenário dramático, a eleição de um governo-amigo seria vital para reerguer o setor!

O que fazer diante do golpismo da mídia?

Em função da crescente monopolização do setor, da sua perigosa fascistização e das próprias mutações em curso na área da comunicação, a questão do papel estratégico da mídia é hoje um dos temas mais debatidos em todo o planeta. Nos EUA, por exemplo, o presidente Barack Obama se recusou a dar entrevista à Fox, do “imperador” Rupert Murdoch, tratada como um “aparelho” do Partido Republicano. No Reino Unido, a “bolivariana” rainha Elizabeth aprovou uma lei duríssima contra as calúnias e difamações dos jornais privados. Já na América Latina, os governos progressistas tiveram que se defrontar com os barões da mídia, que substituíram os decadentes partidos conservadores 22


nas suas campanhas de desestabilização política e econômica. A lei Resort da Venezuela, a “Ley de Medios” da Argentina e as novas Constituições da Bolívia e do Equador representaram momentos decisivos desta batalha comunicacional. Já no Brasil, paraíso dos banqueiros, dos latifundiários e os barões da mídia, o debate sobre o tema está interditado. A legislação que rege o setor é de 1962, antes da existência do satélite, da tevê a cores ou da internet. Neste longo período, 19 projetos foram elaborados para regulamentar o setor, inclusive pelos generais e pelo servil FHC, mas nenhum saiu do papel. A ditadura da mídia se impôs, esbravejando cinicamente pela liberdade de expressão. Os governos Lula e Dilma também não enfrentaram as aberrações deste setor e pagam um alto preço pela falta de coragem política. Na atual correlação de forças do Congresso Nacional – dominando pelas bancadas da bala e da bíblia, filhas pródigas dos monopólios midiáticos –, o debate sobre o tema ficou ainda mais difícil. Mas o balanço da correlação de forças nunca deve servir para o acovardamento político, mas sim para a análise concreta da situação concreta e para definir as melhores estratégias de superação das adversidades. Com a mídia cada vez mais monopolizada e partidarizada não é apenas o governo Dilma que corre riscos; não é somente o ex-presidente Lula que sofre a desconstrução do seu legado. É a própria democracia que está em perigo; é o projeto de soberania e desenvolvimento que fica contido; é a luta dos trabalhadores pela superação da barbárie capitalista que esbarra em obstáculos intransponíveis. A batalha 23


pela democratização da comunicação é hoje estratégica e não pode ser subestimada. E ela se dá em duas frentes, que se articulam e se complementam. A primeira é por mudanças na legislação e nas políticas públicas que fragilizem os monopólios midiáticos e estimulem maior pluralidade e diversidades nos meios. A proposta da “lei da mídia democrática”, elaborada pelo Fórum Nacional de Democratização da Comunicação (FNDC), que congrega os principais movimentos sociais brasileiros, segue na ordem do dia. É uma bandeira de propaganda política que serve para pressionar o governo e o parlamento. Como fruto desta mobilização é possível conquistar, inclusive, algumas vitórias parciais. A lei do direito de resposta, aprovada pelo Senado e sancionada por Dilma, demonstra que isto é possível. Outras “pequenas” conquistas ajudam a reforçar a luta maior por um novo marco regulatório das comunicações no Brasil. Ao mesmo tempo, é urgente fortalecer todos os veículos da mídia contra-hegemônica. Das rádios e tevês comunitárias, que continuam sendo perseguidas pelos poderes públicos, ao sistema público de comunicação e às novas formas de comunicação da era da internet. A imprensa sindical, com seus milhões de exemplares, a assessoria dos mandatos parlamentares, com sua estrutura mais profissional, e as centenas de blogs, sites progressistas e redes sociais jogam papel decisivo na atualidade no enfrentamento da mídia golpista. Eles não podem ser encarados como gastos, mas sim como investimentos na batalha de ideias, na luta pela hegemonia na sociedade. Os desafios estão lançados e são urgentes! 24


PEDRO OLIVEIRA Jornalista, membro da assessoria da presidência nacional do PCdoB.

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s Bancadas Comunistas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal – após longo período de autoritarismo e ausência de liberdades democráticas – foram retomadas neste último período histórico a partir de 1985, com o fim do regime militar. Recuperaram, assim, pouco a pouco, sua dupla representação: a representação do povo que os elegeu deputados, deputadas, senadores, senadoras e a representação político-partidária propriamente dita, defensores do Programa Socialista do PCdoB. Por sua formação política e social, o país continental que é o Brasil não apresenta em sua estrutura os meios de comunicação necessários para a afirmação de forças progressistas e de 25


esquerda, que estão privados praticamente de formas de transmissão de suas ideias e de seus programas para a imensa maioria da população. Reina o monopólio de algumas poucas famílias donas dos principais instrumentos de comunicação brasileiros. No terreno da comunicação parlamentar, além dessa questão estrutural do perfil da comunicação no Brasil, exige-se cada vez mais da capacitação dos responsáveis por transmitir o ponto de vista dos comunistas no Congresso Nacional para o povo que os elegeu. O domínio da linha político-partidária é fundamental, mas também se torna vital saber manejar a linguagem que seja plenamente inteligível pela população, e a capacidade de lidar com os mais diversos meios e plataformas de comunicação as mais modernas. A Bancada Comunista, nestas mais de três décadas de legalidade contínua, é reconhecida por todas as forças políticas como sendo uma das mais aguerridas e extremamente competentes no exercício das lides parlamentares e na defesa de sua visão programática e política. Cada um de seus membros, Alice Portugal, Angela Albino, Chico Lopes, Daniel Almeida, Davidson Magalhães, Jandira Feghali, Jô Moraes, Luciana Santos, Orlando Silva, Professora Marcivânia e Rubens Pereira Jr na Câmara dos Deputados, e Vanessa Grazziotin, no Senado, destaca-se em suas funções nas Comissões e nos plenários das duas Casas e do Congresso Nacional. Vários desses parlamentares, todos os anos, são eleitos como os mais ativos e capazes no cenário político nacional por várias instituições da sociedade civil. 26


Entretanto, devemos investigar o porquê, dentre os dez considerados os melhores parlamentares da Câmara dos Deputados em 2015 pelo Congresso em Foco, está lá apenas uma mulher, a então líder da Bancada do PCdoB, Jandira Feghali. É bom lembrar que desses dez parlamentares, ela é a única da base política de apoio à presidenta Dilma Rousseff. Os outros ou são da oposição conservadora, e mesmo reacionária, ou são dos que se apresentam como “esquerda” anti-governista. Todos eles com espaço generoso na mídia monopolizada e comercial imperante no Brasil, envolvida numa gigantesca operação golpista e anticonstitucional. Pode-se dizer que um fator fundamental para este destaque é a capacidade política de Jandira e a linha que a Bancada e a direção partidária vêm adotando neste período. Mas certamente teremos que agregar, ao analisar o êxito do mandato, o trabalho realizado pela Assessoria de Comunicação da Bancada do Congresso. O time de profissionais de várias áreas tem feito uma divulgação multimídia do exercício parlamentar, não somente da líder, mas de todos os membros da Bancada comunista. Chegamos a este nível de qualidade da comunicação depois de muitas batalhas travadas de forma absolutamente desigual com o sistema da mídia comercial oposicionista que todos os dias se esmera em desqualificar o ciclo político inaugurado por Lula em 2003 e continuado por Dilma a partir de 2010. O segredo foi investir na comunicação da Bancada, combinando material impresso regular com trabalho permanente nas mídias sociais, com produção de programetes para o rádio e em vídeo, 27


releases e artigos para essa imprensa grande, potencializando desta forma nosso discurso e nossas ideias para um público cada vez mais exigente e sedento de argumentos para enfrentar a campanha de aliciamento e ódio protagonizado pela direita. Essa mudança de concepção de comunicação da Bancada teve início fruto de uma violenta e assimétrica guerra de comunicação que sofremos nos últimos anos – praticamente durante um mês inteiro o PCdoB e seu ministro do Esporte à época, Orlando Silva, foram alvos diários de uma sórdida campanha de mentiras e calúnias capitaneada pelo jornal O Estado de S.Paulo e pelo Sistema Globo de televisão e rádio. Ao fim e ao cabo, o “réu” foi absolvido pelas instituições jurídicas responsáveis pela ação do Executivo e nenhuma das acusações foi provada. Detalhe: o PCdoB e Orlando Silva não tiveram o direito de resposta e nem ao menos 1% do espaço utilizado para atacar o Partido e seu ministro durante mais de 30 dias seguidos. Na ocasião, o líder da Bancada era o então deputado do PCdoB do Piauí Osmar Junior, e medidas foram tomadas para se construir uma equipe de comunicação da Liderança que pudesse enfrentar o desafio de apresentar para a sociedade as ideias e ações dos parlamentares comunistas. A partir de então, foi se consolidando uma equipe que se fortaleceu mais ainda na gestão da líder Jandira. Vários desafios, no entanto, são colocados agora para a comunicação da Bancada: precisamos de uma integração maior entre a produção local em Brasília com os diversos instrumentos de comunicação nacionais do Partido. Um importante passo 28


foi dado recentemente com a integração maior com a Secretaria Nacional de Comunicação do Partido, dirigida por Júlio Vellozo. Assim, tudo o que a Bancada faz no Parlamento poderá ecoar mais fortemente pelo Brasil afora, em cada estado, em cada município, através dos materiais produzidos pela equipe de comunicação da Liderança. São materiais preciosos que poderão compor a pauta diária dos diversos sites, TVs regionais e TVs comunitárias, rádios locais e rádios comunitárias, enfim, teremos o que apresentar em todos os estados brasileiros. Para que tudo isso seja possível, é necessário que as informações cheguem à equipe de comunicação da Liderança imediatamente após serem coletadas e sistematizadas. É preciso também que se estabeleçam determinadas “campanhas” temáticas, em torno das quais se trabalhe de maneira mais aprofundada para dar corpo aos argumentos. Nesse último quesito, a assessoria da Liderança vem jogando papel fundamental e a assessoria dos gabinetes podem também contribuir. Esse tipo de planejamento deve ser dosado cuidadosamente no tempo e no volume de informações para que possamos atingir nossos objetivos e desmascarar o trabalho da oposição, apresentando nossa perspectiva e nossas alternativas políticas. Por fim, devemos ter em mente que a comunicação se torna, entre um processo eleitoral e outro, ou seja, a cada quatro anos, a reafirmação permanente da representação política e popular de nossos deputados e deputadas. Esta é a chave de nosso trabalho, pois o que não se comunica para a sociedade é como se não existisse, como se não houvesse acontecido. As pessoas 29


somente acreditam naquilo que elas tomam conhecimento, ou diretamente pela experiência pessoal ou através da comunicação.

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MARCIELE BRUM Jornalista formada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenadora da Assessoria de Comunicação do PCdoB na Câmara dos Deputados.

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comunicação parlamentar, na atualidade, funciona em lógica diversa, exigindo novas práticas e perfis profissionais para garantir espaço junto a distintos públicos no disputado mercado da informação. Para vencer a batalha, as assessorias de imprensa devem atuar como agências de notícias, produzindo conteúdos de qualidade, em diferentes canais e plataformas, informando a respeito de pautas que efetivamente interessem o grande público. A atuação dos comunicadores parlamentares do século XXI vai muito além do papel tradicional de ofertar notícias aos veículos de comunicação da mídia comercial e da mídia públi31


ca. É cada vez mais estratégico executar ações para se comunicar diretamente com os próprios públicos em nível horizontal. Neste contexto, as redes sociais têm importância fundamental. Em 1º de maio de 2015, completaram-se exatos 20 anos do uso comercial da internet no Brasil. Em julho de 2014, pelo menos 120 milhões de brasileiros conectados (60% da população), de acordo com levantamento do Instituto Nielsen Ibope. Nesse mesmo período, havia 202,8 milhões de habitantes, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estudos recentes indicam dados ainda mais substantivos. Mais conectados, 67% dos brasileiros consomem notícias hoje, prioritariamente, por meio do Facebook, liderando recente ranking mundial elaborado pela agência norte-americana Quartz. Antenada nesta nova realidade, a Liderança da Bancada do PCdoB na Câmara dos Deputados deu início a um processo de reestruturação de sua assessoria de comunicação em 2014. A necessidade de transformar o fazer jornalístico tornou-se ainda mais premente diante do cerco fechado por setores da mídia, que tentam acabar com o projeto político da esquerda construído desde 1989 e que teve sua implantação iniciada em 2003 em nível nacional. É cada vez mais estratégico investir numa assessoria qualificada para produção de conteúdos que disputem espaços de opinião na sociedade, onde existe um monopólio de comunicação hegemonizada por uma posição conservadora e neoliberal. A equipe de comunicação da Liderança do PCdoB hoje 32


é formada por sete profissionais: três jornalistas, um publicitário, um fotógrafo/cinegrafista, um radialista e um estagiário de jornalismo, que trabalham em redação integrada com funções multimídia. Atualmente, a divulgação da atuação dos 11 parlamentares da Bancada Comunista não se restringe a ferramentas tradicionais, sendo potencializada por meio da distribuição gratuita de programas jornalísticos de rádio e TV, gerando desafios e resultados positivos que serão apresentados ao longo deste artigo.

WebTV: Carro-chefe de atração de audiência

Apostar na produção de um volume maior de vídeos temáticos sobre as atividades dos deputados e deputadas no Congresso em atuação política nacional, utilizando a linguagem de redes sociais, é prioridade do PCdoB na Câmara, desde maio de 2015. Essa mudança de perfil da assessoria foi incentivada após reuniões com especialistas do Facebook que indicaram que esses conteúdos lideram o número dos acessos na rede social. Entre maio de 2015 e maio de 2016, houve quse 3 milhões de visualizações espontâneas de programas de WebTV na página oficial da Bancada: 2.709.199. O resultado obtido em um ano, por exemplo, é 2 mil vezes maior do que o alcançado anteriormente em um ano inteiro pelo PCdoB na Câmara. Entre maio de 2014 e maio de 2015, antes da priorização dos vídeos, foram contabilizadas apenas 1.406 visualizações desse tipo de material. No último ano, conseguiu-se uma média de 7.422 visualizações por dia. Os conteúdos também estão disponíveis no site da Bancada: www.pcdobnacamara/site/politicaempauta. 33


A expansão da TV PCdoB na Câmara deu impulso ao crescimento da audiência na página do Facebook, ajudando na ampliação do número de seguidores. O total de curtidas passou de 700 (setembro de 2014) para 33.038 (maio de 2016), representando um aumento de cerca de 5.000% no período. Desde então, postagens passaram a ter milhares de compartilhamentos espontâneos, resultado significativo, tendo em vista os antecedentes do espaço.

Radioagência: direto do Congresso para o Brasil

Com o objetivo de ampliar a vazão das opiniões e das ações dos parlamentares comunistas no país, a Bancada lançou a Radioagência PCdoB na Câmara, em setembro do ano passado. Para isso, um estúdio profissional foi estruturado no Anexo III da Câmara dos Deputados. Semanalmente, a assessoria de comunicação produz reportagens factuais, o programa Cena Política, com tema quente da semana, e o Opinião Parlamentar com a análise de um dos deputados sobre pauta relevante no Congresso. O material é distribuído por meio de boletim eletrônico para 5.997 rádios comerciais e comunitárias em todos os estados brasileiros, além de jornalistas. Os profissionais podem baixar os conteúdos diretamente da newsletter. É possível também obter os programas em www.pcdobnacamara.org.br/site/ radioagencia. Empiricamente, constatou-se que os áudios estão sendo amplamente utilizados pelas rádios muitas vezes carentes de estrutura para cobrir o Congresso. Muitos agradecimentos de radialistas chegam à assessoria. O desafio agora é quantificar 34


o número de downloads e mapear o perfil dos usuários para investir na melhoria ainda maior dos produtos. Neste momento, estão em estudo formas de viabilizar esses dados pelo site oficial da Bancada.

Considerações finais

A comunicação do PCdoB na Câmara teve avanços significativos nos últimos anos, mas ainda enfrenta desafios a serem vencidos para garantir uma expansão maior ao longo de 2016. Em 2014 e 2015, foram produzidos 37 jornais temáticos com a opinião da Bancada no Congresso. No ano passado, a Bancada assegurou mudanças importantes na estrutura da sua assessoria. Além de impulsionar a produção de rádio e TV, lançou um novo portal institucional com foco jornalístico, ajudando na conquista de uma audiência maior para os canais oficiais. O boletim eletrônico semanal – com notícias, rádio e TV do site PCdoB na Câmara – passou a ser enviado para 40 mil e-mails, mas ainda há potencial de crescimento maior, exigindo ações nessa direção. Enquanto a página no Facebook apresentou um desempenho extraordinário, é hora também de investir em estratégias específicas para o perfil oficial da Bancada no Twitter. Mesmo sem estar no foco central de atuação da assessoria, houve aumento no número de seguidores, passando de 1 mil para 3.863 (+386%), graças ao dinamismo na divulgação de conteúdos. Em todos os espaços, é fundamental também fortalecer ainda 35


mais a integração orgânica da Bancada com os mandatos, aliados e setores progressistas. Com o objetivo de atrair ainda mais audiência, novos projetos estão em desenvolvimento para este ano. Uma das apostas é criar um aplicativo de celular gratuito com todos os produtos do PCdoB na Câmara, como fotos (Flickr da Bancada possui álbum por parlamentar), vídeos e notícias. Outra meta é promover novo encontro de comunicação com os profissionais do partido e aliados, oferecendo oficinas para treinamento de pessoal em edição de rádio e TV, entre outros. Sendo assim, a Liderança do PCdoB na Câmara está dando passos importantes para responder aos desafios impostos pelos cenários político e econômico em meio a ataques cotidianos de setores da grande mídia. É uma caminhada longa, com ações permanentes e avanços gradativos, mas que já faz diferença e serve de referência no universo da comunicação parlamentar no país.

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ANA CRISTINA SANTOS Jornalista, mestranda em Comunicação pela Universidade de Brasília e coordenadora de comunicação da deputada federal Luciana Santos(PE), presidente nacional do PCdoB.

A

Frente Institucional tem sentido estratégico para o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Nesse aspecto, os mandatos parlamentares comunistas assumem posição de destaque no processo de acumulação de forças para a construção do socialismo. São os mandatos que expressam, institucionalmente, a opinião do Partido sobre as questões mais urgentes do cenário político, seja na esfera federal, estadual ou municipal. Assim, o desafio das pessoas que trabalham com a comunicação dos mandatos torna-se ainda maior e revestido de novo significado. São as assessorias de comunicação dos mandatos comunistas as responsáveis por traduzir para a sociedade as ideias e os objetivos do PCdoB expressos em cada opinião, 37


ação ou voto dos nossos parlamentares. E essa não é, amigos e amigas, uma tarefa fácil. Há, em qualquer assessoria, a despeito do dinamismo da nossa profissão, o risco de cair na rotina. Produzir releases, distribui-los, conversar com a imprensa, gerenciar redes, buscar o melhor título, a melhor foto, o post correto, adequar a estratégia de alcance… Cada assessor ou assessora tem seus métodos, suas técnicas, seus contatos. Naturalmente, a experiência dita a melhor forma de trabalho para cada indivíduo, mas em nosso caso, é imprescindível que uma coisa nos una enquanto prática: a consciência sobre o objetivo maior da nossa rotina. As assessorias devem ter clara a compreensão de que precisamos chegar às pessoas com a mensagem de que as ações dos nossos parlamentares são caminhos para a construção de um país democrático e soberano, indispensável à nossa caminhada rumo ao socialismo. Para isso, é preciso também estudo e dedicação para dominar o conteúdo dos principais documentos partidários – estatutos e Programa Socialista – além das resoluções dos congressos e conferências e as notas editadas pela Comissão Política Nacional (CPN) e pelo Comitê Central. Isso significa que os assessores de comunicação do PCdoB devem ser filiados ou militantes do partido? Não necessariamente. Significa que é preciso, além de certa afinidade de princípios, a convicção de que ler e dominar esses documentos é essencial para a qualidade do trabalho que é prestado. 38


Num país como o nosso, sem tradição de envolvimento das massas com a política fora dos períodos eleitorais, é através de seus parlamentares que o PCdoB tem oportunidade de dialogar cotidianamente com a população. A tribuna do Congresso Nacional tradicionalmente tem sido palco das mais brilhantes intervenções sobre a linha política e sobre como os ideais comunistas enriquecem e esclarecem as questões políticas das mais complexas às mais pragmáticas. A aguerrida Bancada Comunista de 1946 é um grande exemplo de combatividade e bom uso da tribuna. Os anais da Câmara dos Deputados possuem registros de grandes intervenções sobre os mais diversos temas, desde a falta de trigo ou o aumento do preço dos calçados, até a liberdade sindical, direito de greve e defesa da democracia e do desenvolvimento do país. “Lutando os comunistas pela reforma agrária, estão defendendo o direito da propriedade, mas esse direito da propriedade distribuída entre muitos, pois os latifúndios, como os trustes e os monopólios, são a propriedade nas mãos de reduzidíssimo grupo, que diminui cada vez mais, aumentando a miséria e o sofrimento do nosso povo”, para citar um discurso de João Amazonas, feito em agosto de 1946, e cravado de uma atualidade expressa na defesa das reformas estruturantes defendidas pelo Programa Socialista para o Brasil, no âmbito de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento (NPND). A combatividade comunista também se apresenta nos últimos embates desse complexo momento político nacional, onde os parlamentares do PCdoB na Câmara dos Deputados se desta39


caram em suas intervenções. Discursos firmes, claros, precisos, que contribuem para a elaboração de um posicionamento inclusive de outros partidos. Lembro dos discursos no âmbito federal, mas se buscarmos nas assembleias legislativas e câmaras de vereadores país afora certamente não nos faltarão exemplos de como a política acertada do PCdoB nos arma de conteúdos para o exercício das nossas funções. Nosso desafio se dá justamente em potencializar esse conteúdo, fazer com que ele chegue ao maior número de pessoas, que seja ouvido, assimilado e que encontre ressonância nos anseios de avanço e progresso que move nosso povo. Temos, grosso modo, a função de condutores e tradutores.

Alcançar as massas

Entre os maiores desafios que se apresentam em nosso trabalho certamente está massificar a mensagem dos nossos assessorados. Falar para as massas, atualmente, ainda implica em manter relação com a mídia comercial, ou grande mídia, como se convenciona chamar. Não pretendo aqui aprofundar a análise dos veículos de mídia comercial, mas considero indispensável destacar que seu objetivo, diferente do que romanticamente aprendemos nos bancos da faculdade, é vender notícias, e não informar a população. De acordo com a Pesquisa Brasileira de Mídia (PBM) 2015, encomendada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), a televisão é o meio de comunicação predominante, abarcando a preferência de 95% dos 40


entrevistados. Deste universo, 79% utilizam esse meio como principal fonte de informação. O rádio ocupa o segundo lugar com 55% dos entrevistados – destes 63% utilizam o rádio como principal forma de informação. A internet, ainda de acordo com a pesquisa, é utilizada por 48% dos brasileiros, sendo que 67% dos que a utilizam o fazem em busca de informação. É inegável, portanto, a importância desses veículos para a visibilidade de parlamentares e para a disputa de ideias, embora as linhas editoriais na maioria das vezes (na maioria mesmo!) não nos sejam favoráveis. Entretanto, é preciso manter o foco no que é nosso objetivo central. Nossas pautas são mais importantes do que querem fazer crer as grandes editorias, e é preciso evitar as armadilhas dos releases formatados, dos termos utilizados e até mesmo o enfoque que damos aos conteúdos divulgados. Na disputa entre busca de espaço e afirmação de identidade, a criatividade e a boa relação com os profissionais na redação podem fazer a diferença. Outra face desse prisma é a relação com a chamada mídia alternativa. Esse setor merece atenção especial em nossos mandatos. Sites, blogs, pequenas rádios e jornais, plataformas mais variadas na internet podem se tornar grandes aliados, sobretudo quando queremos falar para as pequenas cidades, para as periferias, para aquele “nicho de mercado” ignorado pelos veículos comerciais. Para além da luta política que busca valorizar e fomentar a mídia alternativa, precisamos enxergar nesses espaços um canal direto de diálogo com a população e estabelecer relação de respeito e credibilidade com esses comunicadores. Se 41


hoje eles ainda são pequenos e falam, em boa parte dos casos, para pequenos grupos, há no horizonte a perspectiva de crescimento desse setor que carrega em si a promessa de uma comunicação calcada no desejo de (in)formar a população sobre seus direitos e sobre o exercício pleno da cidadania. Por fim, vale ressaltar o investimento na comunicação direta, sem mediadores. A utilização da internet, através de redes sociais, tem sido um grande aliado na nossa batalha da comunicação. Embora tenham regras próprias e termos de uso restritivos, é possível grande aproveitamento desses espaços para difundir nossa mensagem, estreitar a relação dos nossos parlamentares com seu eleitorado e, principalmente, dialogar com as pessoas que estão fora da nossa rede mais estrita de contatos. Importante salientar que, embora seja um campo em evidência, há um grande número de pessoas em nosso país, que pelas razões mais diversas, não têm acesso à internet. De acordo com a PBM 2015, 51% dos brasileiros não utilizam internet. Desse modo, vale a pena investir nos meios tradicionais como jornais, panfletos e mala direta.

Estabelecer o diálogo

Outro ponto que gostaria de enfatizar para reflexão diz respeito à linguagem utilizada em nossa comunicação. É comum que o rito da política insira termos de difícil compreensão para as pessoas que não estão acostumadas aos corredores do Congresso Nacional ou às reuniões de movimentos sociais ou sindicais. É possível, inclusive, que este texto esteja recheado 42


de expressões ininteligíveis aos que estão fora dos nossos círculos, a despeito da cuidadosa revisão que busquei empreender. A questão é que alguns termos podem causar estranhamento e dificultar a identificação do leitor com o que fala nosso parlamentar. Assim, entra em cena nossa função imprescindível de tradutores. Neste caso, me refiro à sensibilidade que devemos ter quando trazemos uma aspa para diferentes contextos. Uma fala da deputada ou deputado, embora precise ter o mesmo conteúdo, não pode ter a mesma forma quando expressa em um jornal, em um post na internet ou em um release no jornal, e para além disso, não pode parecer extemporânea, fora de um contexto maior e mais rico que é a acumulação de forças para superação desse modelo e, acreditem colegas, cada uma das ações dos nossos parlamentares – da defesa do reconhecimento da profissão de uma categoria até a defesa da democracia e das reformas estruturantes – segue imbuída do sentido maior de perseguir o rumo programático do PCdoB. “O papel dos nossos mandatos é manter o diálogo com os movimentos sociais, que são a matriz das mudanças para o povo brasileiro. Devemos estar sintonizados com isso”, aponta a deputada Luciana Santos, presidente nacional do PCdoB, dando o tom da troca que deve existir no dia a dia. Mais que divulgar, o papel das assessorias de comunicação dos mandatos do PCdoB deve ser o de dialogar. Dialogar com outras instituições, com os movimentos sociais, com os eleitores e, principalmente, com a enorme parcela da população 43


que se afina com as ideias e propostas do partido. Para isso, além do esforço e talento individual de cada assessoria, é preciso que haja, também, um esforço de formação e um espaço permanente de troca de informações e experiências no âmbito da estrutura partidária. O encontro de assessores que atuam no Congresso Nacional foi um grande passo neste sentido. Ouvir os relatos das boas experiências, estudar, analisar coletivamente os processos de tentativa e erro certamente nos faz maiores e mais fortes diante desta gigantesca tarefa que nos é apresentada. Se hoje o centro da atuação dos mandatos comunistas está em construir o novo projeto nacional de desenvolvimento, como forma de progresso e avanço para o nosso país, é estratégica nossa missão de amplificar essa mensagem e fazê-la conquistar um número cada vez maior de mentes e corações neste país.

Referências:

Programa Socialista para o Brasil. PCdoB. Disponível em: <http://www.pcdob.org.br/documento.php?id_documento_arquivo=1. Acesso em 13/10/2015>. Pesquisa Brasileira de Mídia 2015: Hábitos de consumo de mídia pela população brasileira. Presidência da República – Secretaria de Comunicação Social. Disponível em: <http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de-contratos-atuais/ pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf Acesso em 13/10/2015>

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THALLIS CANTIZANI

Publicitário, assessor de Comunicação Digital do deputado federal Chico Lopes (PCdoB-CE).

N

ão é novidade para ninguém que trabalha com assessoria de comunicação o lugar destacado da internet e, por consequência, das redes sociais. A Pesquisa Brasileira de Mídia (PBM) realizada pela Presidência da República, divulgada em 2015, informa que 48% dos brasileiros usam a internet e ficam em média cinco horas conectados por dia, tempo superior ao gasto com a televisão que é o veículo mais popular do país com 95% de preferência. Entre esses, 92% estavam conectados por meio de redes sociais, principalmente o Facebook (83%), o WhatsApp (58%) e o Youtube (17%). A título de exemplo, desde fevereiro de 2011, quando começou oficialmente suas operações no Brasil, o Facebook alcançou a inacreditável marca de 92 milhões de usuários! No mundo, em 2015, já são mais de 1,49 bilhão de usuários. Um 45


espaço de atuação nada desprezível, concordam? A plataforma de internet é um espaço privilegiado para atuação dos mandatos parlamentares porque dispensa os tradicionais mediadores, ao mesmo tempo exige uma atenção específica, e é aí que entra a figura do “social media marketing”. Essa função é recente, e por isso ainda estigmatizada ou classificada como dispensável. São esses profissionais os responsáveis pelas ações, estratégias, relacionamento e produção de conteúdos que integram a comunicação de uma instituição ou, no nosso caso, de um mandato. O mandato do deputado Chico Lopes tem uma estrutura de assessoria de comunicação que privilegia a atuação nas redes sociais. Nosso formato conta com um assessor de comunicação digital e um assessor de imprensa/comunicação. Para atuar bem nas redes sociais é preciso conhecer o perfil do parlamentar, seus objetivos e o público a quem se destina sua comunicação, o público-alvo. Essa é a base de um bom trabalho, além de, naturalmente, um pouco de pimenta. O deputado Chico Lopes está presente no Facebook – onde concentramos 90% da nossa atuação nas redes – também no Twitter e YouTube, que se dividem nos outros 10% de nossas ações. Essa preferência acontece não por ignorarmos, ou darmos menor importância, para outras redes, mas pelo fato de que cada estratégia pede um nível de comprometimento e foco. Agora, nosso foco é o Facebook. 46


Iniciamos nossa atuação específica nesse segmento em 2009 e ao longo de sete anos chegamos a marca de quase 80 mil curtidores. Mas isso é só um detalhe. A média, no ano de 2015, de alcance da página bate 3 milhões por semana, chegando a alcançar, em um determinado período, mais de 15 milhões de pessoas em sete dias. Isso significa dizer, por exemplo, que alcançamos em torno de 70 vezes mais do que o número de pessoas que curtiam a página naquele período. O nosso público é composto por 47% de homens e 53% de mulheres; destes, 52% estão entre os 18 e 34 anos e detém maior presença na página. Somente na capital cearense, temos um número em torno de 42.872 pessoas, o que garante para a página um alcance médio, dentro de Fortaleza (e somente), de pelo menos 105.066 por semana.

Viva o amor e faça a guerra!

“O General que compreende a guerra é o ministro do povo e o protetor da nação” Sun Tzu Cada assessoria deve desenvolver sua própria metodologia de trabalho com as redes sociais. A experiência com o deputado Chico Lopes nos mostrou que é preciso disputar opinião e estar atento às possibilidades. Posicionamentos firmes acerca dos temas mais polêmicos em discussão rendem bons debates e ampliam a influência do parlamentar. Essa talvez seja a maior lição que extraímos do nosso trabalho nos últimos 3 anos. Um pequeno caso para ilustrar o que estamos falando:

#LoveWins (Facebook) 47


Com a aprovação do casamento gay em todos os 50 estados norte-americanos, as redes sociais se dividiram entre mensagens de amor e ódio. Mensagens positivas e negativas disputavam espaço a cada atualização. Foi quando entramos com a foto do perfil do deputado Chico Lopes coberta com um sutil, porém visível, arco-íris. Dezenas de mensagens questionaram, naquele momento, a sexualidade do deputado. Em questão de minutos – talvez segundos, já que o nervosismo era grande por conta da polêmica – criamos uma peça única para responder todos os questionamentos que provavelmente viriam a seguir, reforçando os ataques. Uma singela bandeira LGBT com os seguintes dizeres “eu não preciso ser gay para lutar contra a homofobia.” Em questão de minutos (aí sim, minutos mesmo), a peça já havia sido compartilhada mais de 5 mil vezes e em 24 horas bateu a marca de 169.289 curtidas, 2,2 mil comentários e 169.721 compartilhamentos. Para determinar a estratégia de atuação das redes, nos valemos de preciosos conselhos de alguém que não era social media, mas entendia muito das táticas de combate. Em A Arte da Guerra, Sun Tzu observa que é importante avaliar o terreno e utilizá-lo a seu favor, com suas vantagens e desvantagens; que é imprescindível conhecer a si mesmo, assim como ao seu exército, e os possíveis inimigos que enfrentas; que é preciso avaliar o momento oportuno de atacar e de recuar. Esses, entre outros aspectos citados nesse valioso livrinho, são pontos que observamos como primordiais na nossa rotina de convivência nos meios. A Arte da Guerra é um manual de estratégia para as redes sociais. 48


Eu costumo dividir a estratégia de Sun Tzu em cinco tópicos, que são claros como estratégia de guerra (ops!), de uso das redes sociais, tendo sempre em vista que guerra, para Sun Tzu, era a arte de se defender e atacar somente quando extremamente necessário, seguindo estratégias bem definidas.Vamos a elas: • Terreno: É extremamente importante definir em quais terrenos iremos combater. Sendo objetivo: qual rede social se adequa mais a nossa estratégia de comunicação direta com nosso exército e futuros soldados? Facebook, Twitter, Instagram, Youtube, Snapchat… Opções não faltam. É preciso analisar o melhor terreno e montar acampamento. Mas, lembre-se, as condições podem ser sazonais. Não é errado trocar o local quando necessário. Vença em todos! • Metodologia: Definido o terreno, é sempre importante explorar os métodos de utilização possíveis. Vídeos, textos, gifs, imagens, entre outros. A partir disso, trace um plano de atualizações adequado à sua realidade. • Doutrina: Disputar espaço na timeline do internauta não é uma tarefa fácil, é preciso ter disciplina! Estudar os melhores horários (que mais repercutem) é imprescindível. Sempre aposte e poste neste horário. • Influência moral: Atualizar o seu exército com informações para que eles travem suas próprias guerras. Ser o canal de informação relevante é influenciar e garantir as ferramentas necessárias para que sua rede de contatos tenha autono49


mia e iniciativa para debater dentro e fora da sua página. • Comando: Convoque-os para a guerra. Chame seu exército para enfrentar os inimigos, em seu terreno, através de seus métodos, utilizando sua influência moral sobre eles. É hora do ataque ou da defesa e seu poder de fogo é o número do seu exército. A palavra aqui é mobilização!

Clique aqui e ganhe muitos seguidores

Um ponto constante nas preocupações de quem lida com redes sociais diz respeito ao número de curtidores. Ter muitas curtidas ou muitos seguidores não significa, necessariamente, que uma página ou perfil tenha influência. São conhecidas as técnicas de agências ou profissionais de mídia que inflam o número de seguidores usando os recursos mais indecentes, desde a criação de perfis falsos até a utilização de robôs para alavancar, falsamente, os números. Embora não deva ser algo a ser perseguido a qualquer custo, o aumento de número de seguidores/curtidores é desejado, e deve ser consequência natural do trabalho com as redes. O número de seguidores pode determinar a influência de um mandato e o aumento gradual pode ser conquistado através de alguns caminhos. A evolução da página do deputado Chico Lopes foi gradual, sem divulgação paga. Os saltos em quantidade de curtidas obedecem uma certa métrica e momentos históricos (como o #LoveWins, quando ganhamos mais de 7 mil curtidores em um dia). 50


Atrair novos seguidores/curtidores faz parte de um processo de dinamização e renovação do conteúdo das páginas, que, por sua vez, reflete as ações do mandato e do próprio parlamentar.

O que vem por aí

As redes sociais não são passageiras. Há quem acredite que até 2020 elas poderão superar a TV tanto em verba publicitária, quanto em nível de importância e credibilidade nas informações. Elas podem servir como escudo ou espada. Uma postagem pode levar uma pessoa ao céu, mas também ao inferno. Por isso, é muito importante uma gestão profissional que trate com responsabilidade a geração de conteúdo, já que por elas (as redes sociais) você irá se conectar ao seu eleitor – passado, presente ou futuro – sem a intermediação da dita grande mídia. Nas redes, não se travam guerras apenas paras as redes. Se travam guerras para além dos bites e teras disponíveis. #VemPraRua que o diga! É difícil, devido à dinâmica, tentar falar sobre as tendências da internet. Mas certos movimentos clareiam esse horizonte, que por vezes é turvo. A internet no Brasil está em um processo de melhorias. Tecnologias como internet 4G colocam em nossas mãos poderosas ferramentas que hoje, sem o sofrimento de outrora, nos permitem, por exemplo, assistir a um vídeo sem travar. Não é à toa que estamos vivenciando o surgimento dos digital influencers (influenciadores digitais), que entram na sua casa através do seu celular, tablet ou TV e lhe dizem qual é o melhor jogo, a melhor roupa ou a melhor maquiagem. Os vlogs (vídeo logs) voltaram! 51


O próprio Facebook aposta no “vídeo ao vivo” para garantir a dinâmica na sua rede. Aliás, já percebeu que agora você não precisa nem dar play para o vídeo começar a rodar na sua timeline? O Youtube com “canais on demand”, onde você decide o que e a que horas irá assistir aos programas que você gosta, e que estão disponíveis. Não é possível prever o futuro da comunicação na internet, por isso, é importante se manter antenado, dialogando com as novidades e com as tendências, mas se tivesse duas fichas eu apostaria tranquilamente em TV sob demanda e criação de conteúdos em vídeo para internet – principalmente Youtube. Façam suas apostas!

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BRUNO TREZENA

Jornalista e coordenador de comunicação do mandato da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

N

ão há campo mais fascinante para se atuar do que a internet. É nela que a comunicação tradicional se choca com todo o dinamismo que a web impõe nos últimos 20 anos. Informações voam, notícias explodem em comentários e toda e qualquer ação por lá requer estratégias muito bem fundamentadas. Não se pode ser apenas um mero visitante das redes sociais quando se controla o perfil de uma liderança pública. E, em muitos casos, uma figura de exposição nacional constante. Você pode ser um “forasteiro” na internet – alguém chegando agora, devagarzinho, tentando entender toda essa bagunça que pulula por páginas de Facebook, Twitter e fotos do Instagram – mas jamais poderá ser um amador. É claro que não digo que é preciso ser um “expert” em técnicas de mídias sociais (a 53


eterna disputa entre jornalistas e publicitários), mas compreender que tipo de mensagem se quer levar à frente. Costumo dizer que a web fornece os melhores meios para entregar sua mensagem aos eleitores ou determinado público que se quer interagir. Você pode fazer isso de inúmeras formas, hoje contando com os famosos recursos de memes ou infindáveis vídeos off, ao vivo/mentions, textos, imagens e links de notícias. É importante abusar da criatividade para fazer a troca entre emissor e receptor dar certo. Senão, suas redes serão mais uma dentre milhares que todos os dias são criadas nessa imensa teia virtual. Este artigo fala mais da vivência prática com a comunicação digital da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) do que qualquer outra coisa. Acredito que relatar esta experiência com plataformas e os diferentes desafios da política nacional seja o mais bacana no momento.

Ponto de partida

Podemos começar essa prosa em 2014, quando as mídias sociais de Jandira ganharam certa musculatura entre o hall de perfis políticos brasileiros. O segundo turno da campanha presidencial definitivamente foi um divisor de águas para nossa equipe. Vivíamos a etapa mais polarizada das eleições e, de certa forma, inédita no país dentro das três décadas de democracia plena. Na televisão e nas rádios, a comunicação tradicional usa54


va de seu espaço para disseminar suas mensagens, mas foi na internet que o campo progressista mais precisava atuar. A quantidade de informação que podia circular na web era vasta, e isso acabou sendo decisivo para todos aqueles que disputavam a narrativa nacional. Nossas redes sociais foram usadas para, basicamente, retratar as ideias e opiniões de Jandira, mas com um tom de humor. É claro que não se pode transformar as redes sociais de uma figura pública, como um parlamentar, num espaço de puro escárnio, mas o leve toque do humor fazia com que nossas mensagens fossem mais longe, chegassem a mais pessoas e tivessem o impacto desejado. Sem agredir ou criar boatos, nossa ideia era fazer com que notícias e informações sobre o campo opositor fossem mais conhecidas do grande público. Para isso, nos apoiávamos em algumas e poucas notícias da grande mídia e em sites independentes também (muito importante o trabalho da mídia alternativa para romper com bloqueios midiáticos e repletos de conchavos financeiros) para a produção de nosso conteúdo diário. Eram mais de seis posts por dia – um número considerado pequeno hoje, mas influente naquele momento. O conteúdo, é claro, não podia ser qualquer coisa. Há uma série de modelos de posts na internet para Facebook, mas os “memes” sempre foram o carro-chefe dessa empreitada. Misturamos os elementos do “meme” com as notícias para propor o debate e, na grande maioria dos casos, o sucesso era certo. 55


Isso se mostrava no monitoramento diário de nossas redes sociais com o alcance orgânico de cada mensagem/post. Havíamos criado um modelo muito positivo e eficaz de trabalho. As páginas de Jandira não só disputavam o debate nacional, mas a tornavam mais conhecida. O resultado disso veio rápido: a cada post, uma média de 100 mil pessoas eram alcançadas sem nenhum esforço monetário – em muitos casos chegávamos a milhões de pessoas. Uma nota importante: os posts do Facebook não podem ser impulsionados durante o pleito. São regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e com punições aplicáveis a todos que tentem rompê-las. Daí o desafio maior de levar nossas mensagens a mais pessoas.

O pós-eleição

A vitória da presidenta Dilma Rousseff em 2014 abriu um período de intenso golpismo institucional em nosso país. A oposição buscou formas alternativas de invalidar a eleição, seja através dos sucessivos pedidos de impeachment sem embasamento técnico-jurídico, seja pelo TSE ou Tribunal de Contas da União (TCU). O ano de 2015 certamente pôs à prova todo o nosso conhecimento adquirido nas eleições de 2014. Se antes nos era exigido um modelo que desse certo para levar a mensagem de Jandira à frente, desta vez era preciso muito mais para impedir difamações e mentiras, além de incentivar a militância a disputar o debate de ideias com mensagens de alto nível e com muita verdade. 56


Hoje em dia, temos um trabalho quase dobrado em relação ao que foi feito nas eleições presidenciais, mas a lógica do conteúdo mudou bastante. Primeiro, porque as redes da parlamentar cresceram muito mais do que naqueles dois meses de eleição, e segundo, porque a conjuntura vem sendo modificada semanalmente. As pautas políticas da Câmara dos Deputados e de sua presidência têm ajudado neste processo, e as manifestações de grupos golpistas também. O ódio e o fascismo cresceram em setores da sociedade, motivados muito pela narrativa de crise construída “delicadamente” pela grande mídia e seus patrocinadores editoriais. A bola de neve dessa turma deu ao Brasil uma cara de “lugar incerto” para investidores. E isso tudo durante uma crise econômica internacional. Para lidar com este cenário é preciso mais criatividade e ousadia ainda. Existirão erros? É claro que sim, mas não ceda ao medo de errar, nem ao temor das críticas. Sempre haverá um “espírito de porco” por aí. Apenas saiba o que se quer fazer e fareje o ambiente da internet. Ela sempre está mudando.

O papel decisivo do político

É preciso dizer que essas plataformas adquiriram tamanho e influência na web pelo papel desempenhado por Jandira em cada embate político dentro do Congresso Nacional. O “material” gerado pela deputada sempre foi retumbante nas redes. Discursos históricos e ações memoráveis estão lá, bem próximos de qualquer um que acesse nossas redes. 57


Nossa equipe sempre atuou de forma muito azeitada com a parlamentar, mas quem “comandava o barco” era a política. Não existe comunicação estratégica sem uma política muito bem pautada. Essa certeza de ideias muito fundamentadas e mensagens bem estruturadas de sua figura nos ajudou bastante a construir redes sempre ousadas e bem divertidas. Por isso, se essas plataformas são o que são hoje, deve-se muito ao entendimento de Jandira sobre a importância estratégica da comunicação.

É isso, mas não só isso

Nosso papo foi rápido, mas tenho certeza que será útil para você em algum momento. Não sei exatamente quando você irá ler este artigo, mas espero que o país tenha superado este cenário de incertezas construído grosseiramente por uma série de atores públicos. Pessoas dispostas a fazer o “vale tudo” do “quanto pior, melhor” para disputar o poder. Mas se este período turbulento não tiver passado, pode estar certo de que nossa equipe estará atuando lá no meio da “bagunça”, disputando ideias e propondo novos debates com nossas plataformas digitais. A política requer de nós coragem, e a comunicação digital, ousadia de ser diferente. Sempre.

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DANIEL MERLI

Coordenador da campanha de Flávio Dino para redes sociais e internet. Atualmente, é assessor de comunicação na Representação do Maranhão em Brasília. GEORGE MARQUES

Trabalhou na campanha de Flávio Dino. Hoje, é assessor de comunicação do deputado federal Rubens Pereira Jr (PCdoB-MA).

E

m outubro de 2015, completou-se um ano da vitória de Flávio Dino na disputa pelo governo do Maranhão, encerrando 50 anos de domínio da família Sarney. Vitória de ampla coalizão contra o atraso, liderada por um comunista, fato inédito em eleições estaduais no país. Foi também o êxito do uso de novas formas de comunicação que abriram brechas no domínio dos coronéis da mídia local. O Maranhão pode ser considerado um estado-síntese do chamado “coronelismo eletrônico” – o controle de emissoras de 59


TV por políticos, retroalimentando seu poder local. No Maranhão, das quatro principais TVs, três são controladas por políticos. A TV Mirante, retransmissora local da TV Globo, é da própria família Sarney  – gerando a situação esdrúxula de, ao longo de quatro mandatos, a então governadora Roseana anunciar na emissora de sua própria família. Em 2006, nas eleições para o governo do Maranhão, a TV Mirante utilizou todo seu espaço no horário nobre para criar uma realidade que era bem diferente do que se via nas ruas. Naquela época usou como base pesquisas de opinião que não se concretizaram. Tanto os jornais de primeira edição e segunda, quanto a internet, jornais impressos e portais, revelaram dados que Roseana Sarney, que enfrentava naquela época o hoje falecido e ex-governador Jackson Lago, tinha mais de 70% de votos e que levaria o governo em primeiro turno. Até o último dia de campanha permitida para divulgação de pesquisas, os dados não mudaram de patamar. Só que o resultado foi diferente. Roseana não chegou a 50% no primeiro turno. Houve segundo turno e Roseana Sarney perdeu para Jackson Lago. A TV Difusora, retransmissora do SBT, é de propriedade da família Lobão, do senador e ex-ministro Edison e do candidato derrotado por Flávio Dino, Edinho. No dia do debate programado na Difusora, o clima era de apreensão. Na cúpula da campanha de Flávio Dino, esperava-se que o debate seria manipulado. A metáfora é que o cordeiro estava indo para a casa dos lobos. Estrategistas e marqueteiros tentaram convencer Dino a não participar desse debate, já que a ameaça de uma possível 60


manipulação do debate poderia fragilizar sua campanha. Flávio, porém, optou por aceitar o desafio, mesmo correndo o risco de participar de um debate com cartas marcadas. O debate ocorreu tranquilamente, apesar de que Flávio Dino teve pedidos de direitos de resposta negados, e o candidato derrotado, acionista e dono da emissora, concedidos, mas a preparação sólida de Dino era um diferencial visível. A TV Maranhense, retransmissora da Band, é de Manoel Ribeiro, até o ano passado deputado estadual pelo PTB e líder do governo Roseana na Assembleia. De cara, o quadro já colocou o candidato de oposição para participar de três debates televisivos organizados por empresas de seus adversários. Em todos os debates Flávio Dino saía à frente. Ex-juiz, já tendo participado de outros pleitos, ex-deputado federal, carregava nas costas a bagagem daquele que se sentia preparado para os desafios de governar o Maranhão, um estado pobre e arrasado pelas oligarquias políticas que vilipendiaram o estado o quanto puderam. Nesse quadro, a internet teve um papel essencial, mesmo no estado com os menores índices de acesso à rede do país, de acordo com a Pesquisa Brasileira de Mídia 2015, da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República. A conexão baixíssima, em sua maior parte via celular, transformou o WhatsApp no principal meio de comunicação. E criou canais de comunicação da militância que se espalharam pela sociedade, permitindo a criação de redes de apoio contra os ataques da família Sarney. 61


As empresas de comunicação logicamente também foram para a rede, onde há predomínio de audiência da iMirante – braço digital do Sistema Mirante. Mas a falta de legitimidade na cobertura  – e principalmente na não-cobertura –  de alguns temas, abriu caminho para muitas iniciativas autônomas. A transposição dos editores do jornal da família Sarney, O Estado do Maranhão, para serem blogueiros oficiais do “sarneysismo” na rede, não deu conta da concorrência de jornalistas independentes que atuam no estado. O Maranhão é um dos poucos estados do Brasil onde os blogs possuem um valor comunicacional e de repercussão enormes, semelhante aos grandes veículos. Pelo fato dos grandes veículos locais, como a Globo, nas mãos dos Sarney, e o SBT, nas da família Lobão, já serem conhecidos por suas linhas editoriais duvidosas, na política e também na comunicação não existem espaços vazios. Com certeza alguém vai preencher. E esse espaço comunicacional foi preenchido por muitos blogueiros, tanto da capital quanto do interior do estado, alguns mais profissionalizados, outros com viés unicamente mercadológico e para marcar posição. Um episódio marcante para a virada foi a crise do Presídio de Pedrinhas, que ganhou repercussão nacional e mundial, mas como tantas outras, não encontrava reverberação nos veículos locais. Acabou sendo difundida localmente principalmente por blogs como o Marrapá, o que potencializou a audiência dessa iniciativa do jornalista Leandro Miranda. 62


Para a campanha de Flávio Dino, a internet teve papel essencial na contestação de ataques ao candidato por veículos das famílias que controlavam politicamente o Maranhão. Foi o caso de um vídeo supostamente “vazado” na internet, que foi ao ar na TV Difusora, do então candidato Edinho Lobão, e apareceu no jornal da família Sarney. No vídeo, um presidiário em um suposto depoimento atribuía a Flávio Dino a organização de um assalto em São Luís. O vídeo foi “desconstruído” no mesmo dia e divulgado pelas redes. Em menos de 24 horas, o preso já havia sido identificado e admitiu que havia recebido uma promessa de pagamento para encená-lo. A vacina ajudou a inocular o episódio, que teve efeito reverso para a candidatura “sarneysista”, terminando por descredibilizá-la. Foi a edição de vídeos que permitiu à campanha difundir por WhatsApp para a rede de apoiadores as edições dos melhores momentos de Flávio Dino nos debates organizados pelas emissoras de TV de seus adversários. E dar visibilidade nacional aos abusos, como a famosa entrevista para a TV Mirante, em que o candidato é perguntado apenas sobre o comunismo e não sobre o estado. Ou seja, um fiasco que virou piada nacional. Por falar em absurdos, o candidato derrotado apresentava um despreparo político que em parte ajudou o comunista Flávio Dino. A cada entrevista do candidato e ex-senador Lobão Filho, – ressalta-se que nunca tinha enfrentado uma eleição sequer, mas ocupou o lugar no Senado em virtude do pai ter assumido o Ministério de Minas e Energia – era uma repercussão negativa 63


enorme. Em uma das primeiras entrevistas, Edinho, como era conhecido no estado, disse que acordava cedo para trabalhar, às 9h! Foi a munição que a campanha de Flávio Dino esperava para usar contra o candidato. Enquanto milhares de maranhenses acordavam pela madrugada para ganhar o pão de cada dia, Edinho diz que acordava às 9h. Esse fato gerou vários “memes” e repercutiu muito mal para a imagem do ex-senador. Um fator de constante preocupação no núcleo estratégico da campanha de Flávio Dino estava na divulgação de pesquisas de intenção de votos, que indicavam um possível empate técnico entre Flávio Dino e Lobão Filho, o resultado final para Dino foi em 64%, Edinho, 33%. Apesar disso, a cada semana surgia uma nova pesquisa que indicava até que Edinho teria ultrapassado Flávio Dino, algo que nenhuma pesquisa séria comprovou em nenhum cenário. No domingo que marcou o fim de seu domínio de 50 anos no estado, José Sarney usou a coluna na capa de seu jornal para criticar justamente a internet. Atribuía a ela a difusão da informação de que o Maranhão frequentava as piores posições em todos os índices de qualidade de vida, para ele uma mentira. “Cada vez mais, com o avanço das comunicações em tempo real, é mais fácil você ser enganado e não saber onde está a verdade.” Questionava: “calculem se Pilatos tivesse naquele tempo blogueiros, sites, Facebook, WhatsApp e essa parafernália toda.” Sarney, político que já não tem mais o Maranhão como 64


estado para se candidatar a algum cargo, mas o Amapá, questionava os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que colocava o estado com os piores indicadores do Brasil. Na visão do ex-presidente, o instituto não conhecia realmente a realidade do estado e construía uma imagem negativa do Maranhão apenas com fins políticos. Hoje no governo, Flávio Dino mantém a internet como seu principal canal de diálogo com a população. Por meio de seus perfis e do governo no Facebook e Twitter anunciou, por exemplo, os nomes do seu secretariado e as principais medidas de seu governo. Também investiu na Rádio Timbira, emissora pública que havia sido sucateada durante as décadas de governos Sarney. Dino, mesmo depois de eleito, usa diariamente as redes sociais como forma de contra agendamento para o debate local e nacional. Auditoria independente do governo do Maranhão identificou que na gestão anterior mais de 70% da verba de comunicação era destinada para o Sistema Mirante de Comunicação, mais precisamente dos R$ 15 milhões investidos em publicidade institucional em jornais pelo governo de Roseana Sarney, R$ 10 milhões (dois terços do total) foram destinados para O Estado do Maranhão, diário fundado por José Sarney e até hoje de propriedade da família. Flávio Dino se comprometeu a rever os critérios de distribuição da verba publicitária do estado buscando parâmetros técnicos que justificassem esse valor. 65


Mas a iniciativa mais importante foi o lançamento, ainda no primeiro ano de governo, de um Orçamento Participativo (OP) no Maranhão por meio de consultas pela internet. O modelo de OP havia se consagrado nas gestões municipais do PT nos anos 1990, marcando o “jeito petista de governar”, e foi implantado em nível estadual pelo então governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra. Teve menos destaque ou foi simplesmente deixado de lado em outras gestões de esquerda. Que a retomada, facilitada pela consulta eletrônica, seja a semente de mudança de modelos de gestão pelo país.

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JOANNE MOTA

Jornalista, pós-graduada em Globalização e Cultura pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e mestranda em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Sergipe. Ex-editora da TV e Rádio Vermelho. Coordenadora da assessoria de comunicação do deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP).

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s profundas mudanças porque passou a sociedade brasileira no final século XX e no início do século XXI sinalizam a predominância de um modelo de exploração dos serviços de comunicação voltados para a preservação dos interesses das velhas e novas oligarquias. A intensa circulação de informações que caracteriza nossa época é comandada por grupos que enfeixam a propriedade de várias empresas de ramos diversos. O melhor exemplo disso é o mercado de televisão. É nesse ambiente que a internet se desenvolve e, segundo Bolaño (2007), isso acaba classificando-a como incremento técnico-econômico do modelo capitalista, sobretudo no que se 67


refere ao seu capital político, econômico e simbólico. Ou seja, o que deveria ser uma forma de democratização alternativa, torna-se um objeto comandado por atores hegemônicos do campo econômico (BURKE, 2004). O desenvolvimento da internet está inserido nas grandes transformações porque passaram os diferentes setores das comunicações desde a reforma da radiodifusão europeia dos anos 1980 e a reestruturação global das telecomunicações nos anos 1980 e 1990. Isso corroborou para que a internet saísse de uma lógica estatal-militar-acadêmica, modelo clássico norte-americano de inovação puxada pelo complexo industrial militar, a partir de demandas do Departamento de Estado, para outro, acadêmico-mercantil, a partir da privatização geral em meados da década de 1990 (BOLAÑO, 2007). Desde que a internet surgiu o conceito de liberdade de expressão pôde se difundir através do planeta, sem depender, somente, da mídia de massa, uma vez que muitos interagiam com muitos irrestritamente (CASTELLS, 2003). Sem perder de vista sua lógica mercantil e sua atuação enquanto ferramenta de comunicação, a nova tecnologia impulsionou uma série de pré-condições técnicas, científicas, institucionais, econômicas e culturais. Como afirmou Castells, essas condições alimentam a espinha dorsal de seu desenvolvimento, mas não podemos deixar de acrescentar que junto a isso também se desenvolveu um instrumento pragmático e de natureza ideológica (BOLAÑO, 2007). Assim, a internet, como uma tecnologia, e a economia da 68


informação e da comunicação em rede, como um modelo organizacional e social da cultura, se constituem como mecanismos de promoção de uma nova ordem social, na qual o avanço social formal e informal são colocados à margem pelas forças internas a esse campo. Além disso, é preciso ter em mente que esse espaço também se constituiu como campo de disputa, de luta de hegemonias que não disputam outra coisa senão a consciência crítica. Para o teórico italiano Gramsci, a consciência crítica é obtida através de uma disputa de hegemonias contrastantes, primeiro no campo da ética, depois no âmbito político, culminando, finalmente, numa elaboração superior de uma concepção do real. Por isso, ele enfatiza a necessidade de se conceber o desenvolvimento político do conceito de hegemonia não apenas como progresso político-prático, mas também [...] um grande progresso filosófico, já que implica e supõe necessariamente uma unidade intelectual e uma ética adequadas a uma concepção do real que superou o senso comum e tornou-se crítica, mesmo que dentro de limites ainda restritos. (GRAMSCI, 1978, p. 21)

Em linha similar, ao problematizar o impacto cultural do mercado de comunicação no Brasil e a luta travada no interior desse campo, Bolaño (1888, p. 76) destacou que esse setor [...] não faz outra coisa senão permitir a comunicação, uma comunicação especificamente capitalista. Longe de criar incomunicabilidade, esses meios sobreinformam, sobrecomunicam, 69


numa ânsia imperialista de dominar o conjunto dos processos comunicativos que se exercem no nível do mundo da vida.

A citação acima revela os desafios postos no que se refere ao campo da comunicação no Brasil. O oligopólio midiático, construído nos últimos 65 anos, edificou mais que um sistema econômico, impôs uma ideia de sociedade. O enfrentamento desse sistema passa não só por um processo de esclarecimento do uso dos meios, mas, sobretudo, da participação social nesse processo, que reconfigure no interior desse campo as formas de produção da informação e da comunicação em nosso país. O presente texto objetiva apresentar a experiência da TV e Rádio Vermelho e elencar alguns pontos, sem exaurir o assunto, sobre o papel das redes sociais na luta pela chamada consciência crítica.

TV Vermelho

A luta pelo exercício da liberdade de expressão e de opinião avançou, consideravelmente, nas últimas décadas, e o advento da internet foi um forte combustível nesse processo. O Portal Vermelho cedo percebeu isso e investiu em ferramentas que, traduzissem na rede, a resistência ao conservadorismo pregado pela chamada mídia tradicional. Criada em 2009, a TV Vermelho nasce durante esse processo. O vídeo é mais que uma narrativa visual, ele consegue atingir os diversos públicos, ele chama a atenção da mais simples audiência e expõe claramente o que quer dizer com rápida expressão. 70


Ou seja, a máxima de que para fazer vídeo bastava apenas “uma ideia na cabeça e uma câmera na mão” estimulou o uso dessa ferramenta, que atinge milhares, especialmente a juventude atual. Com uma proposta inicial de uma equipe de seis pessoas, a TV entra no ar com dois profissionais, estrutura que se mantém até hoje. Desde sua origem, a TV Vermelho se propôs a produzir um vídeo próprio por semana e uma programação semanal que reproduz vídeos de outras entidades. É interessante dizer que mesmo contando com uma estrutura mínima de pessoal e de equipamentos, a equipe cumpre com a proposta e posiciona a TV Vermelho no campo da imprensa alternativa no Brasil. No que se refere à produção do espaço, de setembro de 2009 até julho de 2015, a TV Vermelho havia publicado 2.713 conteúdos, sendo que 2.400 reproduções e 313 produções autorais. Sobre a repercussão desses conteúdos, os relatórios da ferramenta do Portal Vermelho apontam que eles sempre aparecem entre os 10 conteúdos mais acessados, porém ainda distante dos objetivos esperados a cada produção. Uma ferramenta estratégica para a ampliação dos conteúdos é o uso das redes sociais, o que contribui em muito para a circulação e difusão. Uma questão fundamental e que precisa ser pensada são as condições técnicas que a TV possui. São as mesmas desde a sua criação, o que sinaliza a necessidade de se pensar em uma proposta de reestruturação. Esta necessidade não está embasada somente nas consequências de nossa realidade (a internet avança e junto com ela o público, que não é o mesmo, mas que ainda 71


é refém daqueles modelos conservadores), mas, sobretudo, pelo espírito vanguardista do próprio Portal Vermelho, que sempre esteve à frente de seu tempo e procurou investir nas melhores ferramentas para o debate. A TV nasce desse espírito e que cobra mais investimento nesta ferramenta tão essencial para a nossa narrativa na web.

Rádio Vermelho

O Portal Vermelho nasce como uma oficina de si próprio. Irá se fabricando no ar, abrindo seu caminho ao andar. Esta é em parte uma imposição das circunstâncias em que ele nasce com uma equipe central ainda pequena e poucos recursos. Mas é, sobretudo, uma escolha consciente: um portal militante confia seu êxito à contribuição militante. (Manifesto Vermelho).

Como no Portal Vermelho, esse é o espírito central que norteou os trabalhos da Rádio Vermelho desde a concepção de seu projeto, em janeiro de 2012. No dia 30 de maio deste mesmo ano a Rádio Vermelho inicia suas primeiras transmissões, com uma programação musical 24 horas que é alternada por debates, entrevistas, especiais e notícias diversas. Oficialmente, a Rádio Vermelho possui um funcionário que atua nas áreas de concepção da pauta, produção, edição e operação de sistema de transmissão. Atualmente, são produzidos: Palavra da Presidenta; Diálogos com Renato Rabelo; Resistência (foco nos movimentos sociais); Partido Vivo (ações do PCdoB); Destaques do Vermelho (política nacional, economia e cultura); Ideias e Debates (especiais); Colunas. Além dos especiais (em 2015, produzimos 4 especiais: maioridade penal, 72


reforma política, formação social e cultural no Brasil; mais mulher na política). Desde a sua criação, a Rádio Vermelho focou sua produção no aprofundamento dos conteúdos já tratados pelo Portal Vermelho, abrindo amplo espaço para a divulgação das ações do Partido Comunista do Brasil, debatendo questões da agenda política e social, abrindo espaço para ouvir os movimentos sociais, intelectuais, especialistas. Ou seja, de forma complementar, buscou contribuir para uma reflexão mais profunda dos assuntos mais candentes de nossa sociedade. Segundo dados da ferramenta do Portal Vermelho, de maio de 2012 até julho de 2015, foram contabilizados 1.274 programas (entre entrevistas e debates), 1.156 boletins de notícias e 271 especiais, ao todo foram produzidos 2.701 conteúdos de áudio, uma média de 69,25 conteúdos por mês. É bom pontuar que, além da produção destes conteúdos, outra atividade desenvolvida é a programação musical e a distribuição de programas ao longo da programação diária. Ao longo de seus funcionamentos, a TV e a Rádio Vermelho tiveram que enfrentar desafios, tanto do ponto de vista da estrutura (técnica e de pessoal), como conceitual, já que sua narrativa tentava equilibrar conceitos da luta política em curso. É importante lembrar que esses espaços definiram como norte a reflexão mais profunda sobre assuntos tratados pelo Portal Vermelho, de modo que suas pautas tinham como inspiração problematizar questões centrais em debate, ou seja, a proposta 73


desses espaços sempre foi de se colocar, por um lado, como caixa amplificadora de um determinado discurso, e, por outro, de se posicionar como voz alternativa aos meios de comunicação tradicionais.

Impressões e desafios

O exposto acima mostra os desafios de se produzir comunicação de forma geral. Por outro lado, fica claro a necessidade de se construir uma esfera pública de debate que tenha inspiração na diversidade e pluralidade de abordagens, de discursos ideológicos que permitam que as pessoas que consomem informação pelos meios de comunicação de forma geral possam formar, de maneira crítica e autônoma, a sua opinião. As novas plataformas digitais, em especial a internet, têm possibilitado um maior acesso à informação, não necessariamente jornalística, mas também produzida pela sociedade organizada. O problema é que o acesso à internet ainda é muito restrito no Brasil. Atinge esferas restritas da classe média, que tem poder aquisitivo para consumir esses produtos e para ter acesso à educação necessária para isso. É evidente que o Brasil, mesmo considerando sua escala, já tem um acúmulo excepcional de recursos financeiros para promover o acesso e uso diverso das chamadas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), como estratégia de desenvolvimento social e humano. No entanto, o modelo de negócio desenvolvido no país freia a importância da inclusão digital como ferramenta de desenvolvimento, promoção da cultura e 74


emancipação política. Ferramentas como a Rádio e TV Vermelho, nesse sentido, são fundamentais para denunciar essa concentração dos meios de comunicação e apresentar uma outra comunicação possível. Nessas condições, o caminho para uma perspectiva menos excludente de aparelhagem do sistema demandará políticas públicas funcionais de democratização do acesso tanto à rede quanto aos meios de comunicação em geral, o que abrange não apenas o abastecimento de acesso a custos mais baixos às infraestruturas universalizantes. Mas também, ensino formal e informal, com o objetivo de garantir a popularização do capital cultural imperativos à assimilação massiva das TIC, esta que é condição básica de concorrência na chamada sociedade da informação e o Portal Vermelho, cedo, percebeu isso.

Referências

BOLAÑO, César. Mercado Brasileiro de Televisão. 2ª Ed. São Cristovão: Editora UFS, 2004. BOLAÑO, César; HERCOSCOVICI, Alair; VASCONCELOS, Daniel; CASTAÑEDA, Marcos. Economia Política da Internet, São Cristovão: Edufs, 2007. BURKE, Peter e BRIGGS, Asa. Uma história Social da Mídia: de Gutemberg à Internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004. 75


CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003 CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. GRAMSCI, A. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978 LEMOS, Ronaldo. Internet brasileira precisa de marco regulatório civil, 2007. Especial para a Revista UOL. Disponível em: http://www.cgi. br/. Acessado em: 05/01/2015. MOTA, Joanne Santos. Mercado Sergipano de Televisão: 40 anos depois, onde está o conteúdo regional? Sergipe, 2013. Monografia (Curso de Jornalismo) – Universidade Federal de Sergipe.

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