NATUREZAS TÉCNICAS: REESTRUTURANDO A ENSEADA DO CABRITO Salvador é uma cidade em crise. A mais densa do país, com aproximadamente 9000 hab/km², atualmente possui a maior taxa de desemprego do Brasil - que quase dobra a média nacional. Caracterizada primariamente por assentamentos de alta densidade, carentes de infraestrutura básica e em topografia acidentada, a metrópole se encontra ambientalmente frágil e desestruturada. Em sua região costeira, na Baía de Todos os Santos, a relação com o mar, base econômica para muitas famílias, está gravemente prejudicada. A Enseada do Cabrito é exemplar dessa situação. Caraterizada por seu passado industrial têxtil, com diversas fábricas e vilas operárias ocupando o seu litoral, a região se encontra atualmente degradada em seus aspectos econômicos, ecológicos e espaciais. O manguezal, peça chave para a manutenção da mariscagem, atividade econômica extremamente importante para a área, está ausente em grande parte da costa. Uma recuperação da área deve ser orquestrada de maneira múltipla. A proposta apresentada, portanto, se posiciona como maestro, organizando em suas diretrizes o futuro desenvolvimento e a aplicação de conhecimentos mais específicos. Associada à requalificação e ao replantio do mangue há a limpeza das águas da baía, através de processos naturais, utilizando-se da alimentação das ostras. Na orla da baía propõe-se a criação de espaços de lazer e cultura, cujo desenho fundamentase na reestruturação do bioma. Antigas fábricas se transformam em pólos para uma reestruturação de trabalho e meio-ambiente. As habitações existentes no local também sofrem intervenções delicadas, que procuram fornecer uma qualidade acima de tudo urbana, redesenhando ruas, lotes vagos e praças. As remoções necessárias são reorganizadas em três grandes pátios, que ainda permitem um aumento de densidade desejável. Repensar espaços urbanos abandonados e planejar cidades compactas são oportunidades para transformar áreas improdutivas em centros de desenvolvimento. Reestruturar o ecossistema, oferecer trabalho e habitação de qualidade, e requalificar as infraestruturas existentes é o objetivo deste projeto.
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RECUPERAÇÃO DA PENÍNSULA POLIGONAL COMO PROTÓTIPO A poligonal do projeto está definida na conexão entre os bairros de Alto do Cabrito e Plataforma, localidades da Península de Itapagipe que definem a entrada da Enseada do Cabrito, na Baía de Todos os Santos. A região, dotada de uma infraestrutura de seu passado textil, adquiriu, com a queda da produção fabril, um tom residencial, devido à sua excelente localização relativa ao centro da cidade. As conexões rodoviárias e ferroviárias não adaptadas à nova realidade do local caracterizam uma potencial, porém ainda precária situação de transporte. Com a redução da indústria, o vácuo de trabalho gerado foi preenchido pela mariscagem. Entretanto, a atual condição da atividade é ruim em termos qualitativos e quantitativos. Além de uma degradação social dos trabalhadores, carentes de profissionalização, o assentamento humano desenfreado, aliado a técnicas urbanísticas sempre pautadas em aterros da orla e à, também herdada, poluição industrial, acabaram por destruir a vegetação costeira de mangues, matéria prima essencial para a manutenção de mariscos - e portanto de humanos. O projeto da área vem, neste sentido, restaurar dois ecossistemas interdependentes: o ambiental e o social. Uma poligonal irregular pretende alcançar pontoschave de conexão, interesse histórico-industrial e possibilidades projetuais, além de uma regularidade topográfica - que unifica e facilita desenhos de drenagem e esgoto.
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Bahia
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Salvador
Península de Itapagipe
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A escolha da área ainda pretende, para além do projeto da poligonal em si, ser um estudo de desenho urbano como protótipo para a futura reabilitação da enseada como um todo. Um salto de escala em que a infraestrutura instalada na primeira fase é simultaneamente pesquisa e motor para a reestruturação - ecológica e humana, da região.
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Fábricas e trem - infraestrutura industrial Mangue implantado em poligonal protótipo Mangue a ser implantado em expansão` Sistema de transporte náutico
1.Viveiro e centro de reimplantação de mangues 2. Ponte: filtro da enseada 3. Mercado, áreas espotivas e restaurante-escola 4. Habitação introduzida 5. Nova relação costeira 6. Avenida Suburbana
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Área da poligonal: 22,75 ha Densidade de Salvador (RMS): 38,59 hab/ha Densidade anterior : 75 hab/ha Densidade do Projeto: 118 hab/ha
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RECUPERAÇÃO DO MANGUE
2015
2018
2021
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2015 2018 2021 2024
recuperação do ecossistema
reabilitação ecológica
reabilitação econômica
tratamento de águas pluviais
proposta
análise
análise
Subtrair o não planejado e o planejado incorretamente é o ponto de partida desta proposta. Não de maneira total, tábula-rasa, mas na medida em que se possa gerar uma qualidade urbana e ambiental. As desapropriações necessárias são compensadas por uma verticalização que ainda permite o retorno de parte da população. Grandes galpões subutilizados dão lugar a essas novas habitações. A reabilitação urbana da poligonal constrói um lugar onde fauna, flora, e trabalho possam florescer.
plano de recuperação do mandgue
O adensamento não planejado da penísula, durante a decada de 50, através de palafitas suspensas acima do manguezal, carecia de qualquer tipo de saneamento. A implantação, apesar de manter a vegetação existente, resultava em um derramamento constante de lixo na enseada, sobre a qual a população vivia. A intervenção, entretanto, de construir uma pista de borda aterrada margeando toda a península, foi duplamente desastrosa. Ecologicamente, destruiu não apenas o manguezal, mas reduziu a região entre-marés, onde a vegetação poderia crescer; socialmente, a intervenção deslocou grande parte da população para regiões periféricas e desconexas da cidade.
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acúmulo de poluição urbana
filtragem de residuos sólidos
assentamento de matéria orgânica
filtragem de partículas
proposta
precipitação em cumeada
Demolições:108 casas Residências consolidadas Faixa de mangue a restaurar Maré baixa Maré alta
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EQUIPANDO O SUBÚRBIO FERROVIÁRIO
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O plano, desenvolvido mediante uma operação urbana consorciada, prevê soluções que respondam não só problemas da poligonal, mas de toda a cidade. O diálogo com demandas do entorno é feito através de áreas públicas margeando a Avenida - quadras e uma pista de skate - da criação de um Mercado e um Restaurante-escola - espaços de comércio e ensino ausentes na região - e da reorganização do sistema viário.
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situação atual
CONECTANDO À CIDADE A região possui uma infraestrutura consolidada de trem, ônibus e transportes marítimos. A obsolescência e a desarticulação dos modais, entretanto, dificultam a mobilidade local. O projeto propõe a requalificação das vias locais existentes, através de pavimentação, pisos compartilhados, sistema de drenagem e alargamento de vias. Uma estação multimodal pretende unificar os diferentes modais além de bicicletas e pedestres. Há também a criação de ciclofaixas, potencializando transportes alternativos.
Sistema viário
Esquema genérico para requalificação de vias existentes 2 A Transição entre habitação e Avenida Suburbana 3
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PROPOSTA HABITACIONAL O projeto alia a permanência de habitações existentes - em condição urbana requalificada iluminação, sistemas de drenagem e pavimentação adequados - à construção de novas habitações. Os pátios das habitações são implantados como conexões transversais entre a Suburbana e a orla. Ocupam a área correspondente a galpões, cujo uso é incompatível à centralidade do local, além de uma zona de casas, demolida devido à condição sub-humanas das habitações. As novas habitações, promovem um aumento na densidade e um respiro de áreas públicas por meio da verticalização. A construção de 19 edifícios garante lar não só para famílias realocadas da poligonal mas para novos moradores, atraídos pelo potencial de trabalho, lazer e transporte da região. Dos prédios, 6 abrigam, um comércio de escala local – mercadinhos, padarias, salões de beleza – e diversificam os usos na região.
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B Via de grande porte
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variável
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variável
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VLT Ônibus Bicicleta
Barco Pedestre Carro
A C Via de pequeno porte 8 C
variável
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Esquema genérico para ocupação de áreas vazias
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Sistema de drenagem de vias
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variável
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1. Habitação proposta + pátios 2. Restaurante-escola 3. Estação de tratamento de água 4. Mercado popular 5. Quadras + pistas de skate 6. Centro comunitário 7. Estação intermodal 8. Creche 9. Áreas verdes / espaços públicos 0 10
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O PROJETO DA ORLA CONSONÂNCIA COM O MANGUEZAL
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O novo desenho da orla é determinado pelo mangue, como uma promenade pela copa de suas árvores. O bioma se torna carro-chefe em uma paisagem que anteriormente o havia desprezado. Passarelas, avanços e recuos criam uma pista-parque em simbiose com a vegetação existente. A demolição das casas e de parte da pista que margeavam o mar fornece um respiro à região densamente ocupada, que regenera meio-ambiente e urbanidade. Contrariando o plano, exclusivamente rodoviarista, da pista de borda, a nova orla integra diferentes modais e infraestruturas. Uma ciclofaixa perimetral (com ampliação prevista para o restante da enseada) e articulada com a ponte leva os moradores a uma estação intermodal onde um VLT e um barco os conectam ao centro da cidade e à região da Ribeira respectivamente. Um centro de tratamento de águas, implantado na cota mais baixa do terreno, promove a limpeza inicial das águas, que posteriormente são filtradas pelas raízes do manguezal. Além de áreas de lazer, dispostas em decks e praças, um centro comunitário abriga reuniões de moradores e pretende resgatar o uso do espaço público pela população. sa apiscid uciusdandam con eos estiae. Ecti ad que mos dolor sed ut repti dendeliquia cus, sinis et quiant veribust
C 3
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C
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Ciclovia Piso compartilhado Estação intermodal Calçada Linha do trem - proposta de VLT Pista de rolamento Maré alta Maré baixa 100
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OCUPAR ESPAÇOS EXTERNOS: O PÁTIO COMO EXTENSÃO DA CASA
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Os prédios foram posicionados a fim de formar grandes pátios que respondam às demandas espaciais da quantidade de habitantes alocada, bem como oferecer estrutura adequada para lazer, práticas esportivas e comerciais. Escadarias e arquibancadas que tomam partido da implantação em níveis se abrem para zonas que dão liberdade a atividades eventuais que reúnam grande público ou atividades do dia-a-dia. A implantação dos edifícios recepciona estas grandes alamedas e fortalece o relacionamento habitação-zona pública. O gabarito dos prédios respeita a escala do pedestre e configura pátios não enclausurados, além de estabelecer relações de altura com o existente. Ao funcionar como espaço para interações sociais e práticas comerciais, os pátios e zonas entre prédios garantem a movimentação diurna e noturna nestas áreas. A fim de afastar apartamentos térreos das zonas de movimentação social nos pátios, foram implantadas áreas verdes perimetrais compostas por grama baixa, arbustos e árvores de pequeno porte, que além de garantir privacidade aos moradores, compõem visuais para os pedestres.
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A 11
Na zona de transição entre as habitações mantidas e as novas foram implantados equipamentos que pudessem responder às duas faixas de habitação e acolher aquelas mantidas. Áreas verdes e pátios, além de equipamentos públicos, como creche, conectam as duas regiões.
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210 apartamentos + 15 comércios
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32 vagas para bicicletas 27 vagas para carros 75 árvores plantadas 1. Lazer 2. Bicicletário 3. Térreo comercial 4. Sala de estudos 5. Creche 6. Área verde preservada/requalificada
A
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NOVAS HABITAÇÕES PROPOSTAS
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As habitações propostas pretendem aumentar a quantidade de famílias que vão ocupar a região. São 122 famílias desabrigadas para 320 novos apartamentos. Com o excedente de unidades habitacionais, é possível aumentar a densidade na área da poligonal, ainda baixa e pouco aproveitada. A fim de adequar-se a diferentes tipos de família, os novos edifícios possuem apartamentos com 55m², 60m² e 70m². As plantas dos pavimentos tipo foram geradas a partir de um miolo com três unidades habitacionais (cada uma com 60m²). Estas plantas se diferenciam apenas pelos apartamentos das extremidades - no menor pavimento tipo possuem 55m² enquanto no maior 70m². Essa configuração gera dois edifícios diferentes, um com 43 metros de comprimento e outro com 47 metros. CONFORTO AMBIENTAL NO EDIFÍCIO As fachadas mais extensas dos prédios foram orientadas paralelas ao poente de verão e de equinócio. A incidência solar mais severa atinge as menores fachadas, desta maneira, é possível reduzir o custo com refrigeração nas habitações. A circulação do ar é garantida em cada zona habitacional. A orientação dos prédios permite a livre movimentação dos ventos Nordeste e Sudeste, predominantes na cidade. O conforto ambiental é potencializado pela circulação vertical dos prédios. Por ser vazado, o bloco de circulação permite a fluidez do ar, bem como a livre movimentação de ciclistas e pedestres.
Fachada voltada para o pátio + pavimento de comércio
Fachada voltada para a rua + pavimento de comércio
Sala (17,50 a 18,10m²) Áreas molhadas (2,70 a 8,17m²) Quartos (8,88m² a 12,19m²) Circulação (0,76m² a 3,64m²)
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E HIDRÁULICA Na cobertura dos edifícios foram instaladas 76 placas solares que garantem, aproximadamente, 134kWh mensalmente para cada apartamento. O sistema de aproveitamento de energia solar utilizado, Grid Tie, garante ainda, a devolução da energia não utilizada à concessionária. A rede hidráulica do edifício foi projetada para incluir captação de águas pluviais, utilizando dois reservatórios para cada tipo de água, a captada nas calhas e a recebida pela concessionária. Os reservatórios superiores comportam 32.000 litros e os inferiores 48.000 litros.
Incidência solar
Captação de águas pluviais
Comércio e circulação
Aproveitamento de energia solar
Ventilação
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Ciclovia Linha do trem - proposta de VLT Maricultura - Cultivo de ostras Calçadas Estação intermodal 0 10
CONEXÕES ATIVAS: A PONTE COMO FILTRO DA BAÍA Reforçar o eixo de mobilidade e adaptar a estrutura existente a outras funções que não o transporte foram as diretrizes para a requalificação da linha do trem e da ponte. A estrutura foi construída em 1860, configurando-se como um dos principais eixos de transporte em Salvador. Embora com estrutura precária e obsoleta, o trem ainda tem um papel fundamental na conexão do subúrbio ao centro da cidade. A requalificação da ponte prevê a substituição do antigo trem por um VLT, reduzindo o custo de manutenção a longo prazo, e diminuindo seu impacto ambiental. O desenho consiste na ampliação da mesma, para que esta possa ser utilizada, como transporte por pedestres e ciclistas, fonte de renda por marisqueiros, e filtro natural, pelas águas da enseada. A estrutura é utilizada como apoio à produção de ostras, com a inserção de caixas-viveiros, que geram renda e favorecem economia local. A matéria orgânica despejada pela região é filtrada pelas ostras e então inserida na cadeia trófica da enseada. A iniciativa ainda promove um aumento da quantidade de ostras na enseada como um todo, ampliando a mariscagem na mesma. Desta forma, a ponte se transforma em um percurso de lazer e uma infraestrutura ativa em si, valorizando as vistas da península, e limpando as águas da região.
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FILTRAGEM E LIMPEZA DA ÁGUA DA ENSEADA PELAS OSTRAS
Fase I
Fase II
Fase III
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A água da Enseada está poluída por descargas de esgoto não tratado e lixo proveniente dos bairros próximos à região.
Durante o processo de alimentação, a ostra filtra a água do mar, retendo compostos químicos e orgânicos. A partir desse processo, a maricultura é implantada como um meio de auxiliar na limpeza da água da baía.
A implantação dos viveiros tem capacidade para abrigar a produção de 23.000 ostras. Em idade adulta cada ostra filtra 2,5l de água por hora, resultando em um volume total de 3,500.000 l de água filtrada por dia.
NOVOS ESPAÇOS DE TRABALHO
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O tratamento das fábricas abandonadas como pontos nodais de trabalho parte de um entendimento conceitual e técnico da região, abrangendo desde a vocação inicial do sítio até as infraestruturas de conexão, como o trem e Avenida Suburbana. Estas estruturas, já estabelecidas, dariam lastro aos novos programas. Em seus novos usos, as fábricas, além de empregarem, se posicionam como potências capacitadoras na geração e manutenção de uma nova estrutura de trabalho.
centro de monitoramento
A antiga fábrica São Brás, por sua localização chave em relação à orla, se transforma em um pólo para a reimplantação do manguezal. Dividida entre uma grande área dedicada a um viveiro de mangue e um corpo menor onde se desenvolve um centro de pesquisa voltado para o tratamento das águas da baía. que poderá associar-se à empresas e centros de ensino para o desenvolvimento de estudos científicos. A atual ruína é ocupada por intervenções pontuais, mantendo seu desenho exterior original, que agora se insere em uma orla requalificada. A fábrica Toster, juntamente com o galpão vizinho, ganham um novo foco de articulação comercial e produtiva da baía, tornando-se respectivamente um restaurante-escola/centro profissionalizante e um mercado popular. A localização intermediária entre baía e Suburbana garante o funcionamento preciso, unindo a qualidade de um produto fresco a uma demanda necessariamente externa à poligonal. Espaços esportivos e de lazer ocupam a frente das fábricas, trazendo uma conexão com as zonas residenciais.
viveiro de mangue
Se a produção industrial, no início do século, de mandou dos donos das fábricas a criação de sistemas onde seus trabalhadores pudessem habitar de maneira completa - o que reflete em uma dezena de vilas operárias - atualmente é o vácuo de produção que deve ser preenchido para um equilíbrio da vida urbana. Uma vez que Salvador é uma das cidades onde o desemprego é mais crítico no país, a recuperação de estruturas de trabalho - além da própria baía - é essencial ao desenvolvimento urbano.
A
centro de monitoramento
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linha do trem
viveiro de mangue
A B
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mercado restaurante-escola
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NATUREZAS TÉCNICAS: O DESENHO URBANO COMO QUALIDADE DE VIDA O projeto de um desenho urbano multidisciplinar volta a olhar para a Baía de Todos os Santos a partir da sua vocação original: polo de produção de grande valor ambiental e paisagístico. O trabalho com vazios urbanos e infraestruturas industriais sub-utilizadadas permite reabilitar um bioma degradado, de potencial urbano e ecológico. A natureza é interpretada não apenas como algo a se preservar, mas como elemento central no funcionamento da região e da cidade, além de peça-chave de seu próprio restauro. Através de iniciativas que excedem o urbanismo tradicional - qualificação profissional dos habitantes, técnicas naturais de limpeza de águas - mas também de um desenho atento aos princípios elementares da arquitetura - uma implantação que preza pelo conforto ambiental e pela acessibilidade dos apartamentos - se elabora uma condição de urbanidade digna para uma cidade e sua população. A união, por meio de uma operação urbana consorciada, entre os setores público e privado permite reabilitar a área em concordância com a disponibilidade de recursos estatais. Compactar a cidade, tirando o máximo do que sua geografia tem a oferecer, é o contraponto propositivo a uma cidade excessivamente espraiada e desconectada, onde o meio ambiente é prejudicado por sucessivos aterros, ampliações, e expansões, enquanto a pobreza é maximizada pela falta de articulação.
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