53 - Construindo um delírio coletivo

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53 CONSTRUINDO UM DELÍRIO COLETIVO PEDRO ALBAN ORIENTADOR NIVALDO ANDRADE FAUFBA 2017.2


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“Desde sus orígenes la vivienda siempre ha tenido un componente de celebración de la vida, de festejar un proyecto compartido. La arquitectura es, en cierto sentido, la configuración espacial de la vida celebrada. El hogar tiene la potestad de reunir a individuos en torno a un mismo objetivo, es el sustrato espacial de esta agrupación y portanto, un lugar de encuentro. Si consideramos que este encuentro es un acontecimiento privilegiado de la existencia del ser humano, entonces, habitar en comunidad será siempre un motivo para la fiesta.” Alvaro Galmes Cerezo

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CONSTRUTORES Pedro Alban Ivan Depasiri Davi Fernandes Iago Lobo Rodrigo Sena Jonas Ximenes Alan dos Anjos Victória Nizarala Flora Tavares André Lessa Leonardo Grogg Eric Cabussu Natália Lessa Bruna Cook Nathália Araújo Orlando Dantas Gabriela Rabelo Ana Julieta Fernando Gomes Letícia Grappi Rudá Perazzo Lara Guimarães Victória Zaconni Bruna Menezes Betina Abreu Gabriela Otremba Mariangela Bastos Marina Novaes 6

Lúrian Sodré

Karine Rocha

Pedro Teixeira

Luiza Zhenle

Maria Clara Bastos

Cláudio Cego

Samuel (vick)

Brandão

Jhonnes

João Vitor

Dário Junior

Amigo de Letícia

Thiago Matos

Rafael Oliveira

Julia Bittencourt

Keke

Peu Leoneli

Vanessa

Pedro Tourinho

Ian Aragão

Rod Bagum

Ciro Fico

Gabriel Burgos

Marcelo Bastos

Rodolfo Airbigod

(9/02/2018)

Sofia Saavedra

DOADORES

Maurício Porto Túlio Digão Tio Kike Sampa Daniel Figlioulo Felipe oliveira Chico Alessandro Chiara Rucks Clarice Machado Livia Nery Thiago Cavalcanti Xandinho Estele Thais Vivian Bianca

Gabriela Otremba Estação da Lapa Naia Alban Tiago Ferreira passos Adriano Guedes Flávia Foggel Ricardo Prado André Lessa Teatro Castro Alves Lilia Gramacho Bruno Sgrilo Lucas Rod Bagum João Luís Moacyr Gramacho Fernando Beckrath e Kátia Sta. Rosa


CONSULTORES

PEDREIROS E SERVENTES

Instalações Elétricas e Hidrosanitárias Maurício Felzemburgh

Ezaquias

Instalações Sanitárias (execução)

Paulo

Ivan

Ua

Estruturas

Alessandro

André Lessa, Emílio Bier, Ladislau, Nilson Sena e Chico Rosana Muñoz, José Minho

Nailton

Orientação de Obra

Tonho

Naia Alban

Roberto

Patologias da Edificação Silvia Pimenta

PROPRIETÁRIOS Cláudio Alban Marcus Alban Naia Alban

CARRETOS Dedeu Pisca

RANGOS

SERRALHERIA

Lucas André Santos Lessa

PIXO LVC Vandalismo

BANDAS Bagum Boogarins Livia Nery

Tozinho

FOTOS

CARPINTARIA Seu Antônio

ELÉTRICA Genilson

TURMAS DE ALUNOS

Dalila Gramacho

Técnicas construtivas II – 2017.1, 2017.2

Lilia Gramacho

Professor: Jardel Pereira Gonçalves

Rosilda

Atelier 1 - 2017

Naia Alban

Professor: Federico Calabrese, Raquel Neimann

Mona Alban

FERRAMENTAS

Fernando Gomes Letícia Grappi Pedro Teixera Alan dos Anjos ...

BANCA AVALIADORA Sergio Ekerman Federico Calabrese Marcos Nunez

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Este é um Trabalho Coletivo. Ao longo do dossiê o que é ‘nós’ e o que é ‘eu’ se confundem, presentes, futuros, passados e futuros de passados que nunca se concretizaram. Descrever essa experiência naturalmente me leva a uma confusão de pessoas e tempos verbais. Também me leva à necessidade de um agradecimento que excede a memória e a capacidade de articulação. Agradeço a todas as delirantes pessoas que de alguma maneira entraram em contato com o projeto no último ano e às que, em minha mente, depositaram as sementes do que ainda era inimaginável alguns anos antes.

A Nivaldo Andrade e Naia Alban, por uma rara densidade de conhecimento. A Lilia Gramacho e Marcus Alban, por me manterem em metamorfose. A Pascual Gangotena, David Barragan , Malu Borja e Esteban Benavides, pela possibilidade de prazer na vida de arquitetura. A Cláudio, Naia e Marcus Alban, pela colaboração com algo novo e pelo risco implicado nesse ato. A Teresa Stoppani e Austin Williams, por reconhecer valor em um ambiente livre de vícios familiares. A Ivan Depasiri, pela resistência em tempos de crise. Ao sanatório que é o 53 equipe A, por serem motor e motivo verdadeiro dessa experiência .

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SUMÁRIO

53 BASES

08-23

53 PRÁTICAS 24-93

53 PROJETO 94-113

BIBLIOGRAFIA 116-117

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O que me leva, um aluno sem nenhuma prática ou a materialidade da cozinha da Maison a Bordeaux… interesse prévio pela construção, a embarcar na anti- Na capacidade de desenvolver grandes conceitos em natural tarefa de organizar um canteiro experimental? pequenos projetos, percebi que o TFG não precisaria

BIOGRAFIA DO SONHO

Algo de masoquismo sem dúvida, a sede por buscar ser um ‘aeroporto’. conhecimento nos campos que a faculdade menos me preparara: o coletivo, a economia, a obra – em Em

intercâmbio

pelo

programa Ciência

Sem

termos da vida acadêmica, esse TFG é contraste, não Fronteiras na cidade de Leeds, norte da Inglaterra, sequência.

fui apresentado às novas correntes da arquitetura contemporânea britânica. Tomando espaço dos

Ainda assim, é possível pontuar momentos em arquitetos high-tech dos anos 80 – Rodgers, que me tornei consciente do canteiro de obras e Hadid, Foster – estava uma série de escritórios do experimento em arquitetura - tais momentos voltados à crafstsmanship, produção artesanal de são críticos para a construção de uma ideia do que arquitetura. Assemble Collective, OMMX, Amin poderia ser o 53.

Taha... estavam produzindo arquiteturas a partir de processos delicados, mas que consideravam o erro

O contato com a obra de Rem Koolhaas e de seu e a diferença como estética. O conhecimento da estruturalista Cecil Balmond me apresentam pela obra de Solano Benítez5 e Al Borde6 no mestrado da primeira vez à noção de experimento. As cortinas FAUFBA elevavam as possibilidades do artesanal à de Petra Blaisse (frequentemente feitas de materiais escala do possível. Não eram precisos materiais de para isolamento térmico de lajes e ‘infraestruturas’), alta qualidade, muito menos pedreiros italianos, nem

Kunsthal Rotterdam – OMA – materiais compondo uma única estrutura

The Cineroleum – Assemble – ‘fachada’ de manta térmica.

Gabinete de Arquitectura – Solano Benitez – paredes estruturais de tijolos vagabundos


sequer quantidades absurdas de dinheiro. O TFG se parecia fazer sentido. Al Borde também demonstra encontraria dentro do mundo real.

o poder de coletivamente atingir muito mais do que trabalhando só, mantendo um maior padrão de

Na observação da obra do Sete43, escritório exigência. O TCC seria coletivo e prático. composto por Naia Alban e Moacyr Gramacho, acho um precedente soteropolitano. A possibilidade de Mas como formar um coletivo? E como praticar contato com personagens e projetos ampliava o arquitetura? horizonte dentro de uma cidade cuja arquitetura em geral era decepcionante. O TFG seria em salvador. Uma crise de L.E.R. construída ao longo de 5 anos de Autocad. O TFG teria que ser não-digital, um chamado à realidade. Finalmente, a imersão de um mês no projeto Casa en Construcción, do coletivo Al Borde, me põe em contato com a possibilidade de uma obra que existisse a partir de relativamente poucos recursos. Provoca um olhar diferenciado em relação a um casarão abandonado de minha família. O que era crise familiar se transforma em solução pessoal. Tudo

No43, Mouraria – SETE43 – fachada térmica em caixas de leite, janelas reaproveitadas

Casa en Construccíon – Alborde – estética do mínimo necessário possível

Casa Naranja Limón – Daniel Moreno Flores – treliça de vergalhão


O Al Borde é um escritório que, como o nome sugere, Chego ao Al Borde por acaso e por influência opera no limite. O limite, a meu ver, se refere tanto ao de

Nivaldo.

Lá,

aprendi

algo

de

obra,

e

que se espera em termos estéticos quando se fala de da metodologia exigida por um projeto que tinha ‘arquitetura’, quanto ao alcance, em termos sociais, que considerar uma realidade de materiais existentes do trabalho de arquitetos em iniciativa privada. O Al – ainda que em um mês pouco se possa aprender Borde consegue projetar para outros ‘mercados’ no sobre qualquer coisa… momento em que entende que seu pagamento, e a construção, podem se dar através de recursos não- Volto vidrado pelo Al Borde e pela experiência. financeiros. Sendo assim, o Al Borde faz projetos para A curta duração não me permite um olhar crítico. feiras e é pago em frutas – um exemplo tosco porém Durante muito tempo, no 53, tento espelhar as real.

condições da experiência equatoriana – programa, pessoas, ritmo, estilo. Parte desse TFG é contado

O mais premiado projeto do escritório se chama Casa como um afastamento importante desse referência. A en Construcción. A casa é construída ao longo de um transformação em prática, de um delírio importado, longo período de tempo, se define como uma troca em algo real. entre os membros do escritório e os proprietários do imóvel: ao invés de um aluguel, o Al Borde paga

desenho e execução de um móvel de cozinha para ocupar vazio pré-existente da casa. o projeto incial muda incessantemente, passando por quase todos os sócios e estagiários, chegando a uma solução mais ecônomica, funcional e bela que a dos desenhos iniciais. o coletivo também implicava numa metodologia.

seu uso da casa em projeto e construção da reforma da própria casa. O projeto, também em constante construção, se beneficia de materiais de escritórios amigos, recursos de universidades estrangeiras, estagiários internacionais (que não são pagos, mas ganham moradia e alimentação na própria casa)… Uma grande rede que gira em torno da arquitetura e de suas instituições.

AL BORDE ORIGEM DO DELÍRIO

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13


Para começar, contrariamente ao que pensava, a decisões e ainda provocará a mudança de algumas ‘equipe’ que iria reformar o 53 não era uma, mas delas. sim um conjunto de equipes, amigos, individuos e, finalmente, redes muito mais amplas que qualquer A criação de um perfil no Instagram uniu ainda quem ideia inicial. A visão de que seriam arquitetos os estava disposto a ajudar pontualmente: amigos mais interessados por um trabalho de construção mais ocupados ou menos interessados, estudantes, ou de que seriam pessoas já próximas a mim que professores com turmas e indivíduos dos mais diversos tomariam frente do projeto estava errada. A obra tipos se dispuseram a alguns dias de trabalho na casa. (minha obsessão) não era a única maneira de a casa responder aos anseios de seus construtores.

A casa era capaz de polarizar núcleos distintos em um projeto minimamente linear e, em troca, fornecia

Assim, a equipe flutuou de um grupo de pessoas tempo com amigos, aprendizado, a adrenalina da unidas pela pura amizade para um unido pelo lazer demolição de uma parede, o contato com outras (neste especialmente amigos do curso direito que realidades... viram na obra um distanciamento da disciplina e um espaço social). Mais à frente, a equipe uniu pessoas que precisavam de espaços para realizar atividades práticas e ainda que estavam interessadas na obra como objeto de estudo. A flutuação dos membros torna o programa mutante, o que atrasou muitas alunos da turma de técnicas construtivas 2 cadastrando laje

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interações digitais


53 EM REDES

rede do 53 – 12/2017

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Para ser economicamente viável, levando em conta os A

experiência

do

escritório

belga

Rotor

36.000 reais disponíveis – que permitiriam construir Deconstruction informou a técnica e as complicações pouco mais de 25m2 em uma obra formal, o 53 teria de trabalhar com reuso. O custo envolvido no que recorrer ao que o Al Borde chamava de recursos transporte de materiais significava com que nem tudo oscuros. A mão de obra viria de nós, as ferramentas era viável. “uma divisória no térreo é mais valiosa seriam

emprestadas

por

amigos,

os

técnicos do que uma no terceiro andar”- carretos, ainda que

seriam professores e pessoas próximas... Mas toda facilitados pela caminhonete de meu avô, eram arquitetura tem uma dimensão (cara) material.

relevantes em termos de tempo e custo...

A ideia de construir barato é necessariamente Parte do superuso também se deu na própria casa. O conectada à de conseguir materiais de graça. Do depósito constituído nos anos de abandono garantia ponto de vista do projeto isso era uma incógnita na um acervo inicial, mas as obras foram realizadas equação, como não saberiamos que materiais seriam buscando demolir menos e aproveitar mais: paredes arrecadados, a materialidade da arquitetura não foram desmontadas, caibros que estruturavam o poderia ser decidida a priori, mas seria um resultado antigo forro de PVC viraram cobertura em um outro do que surgisse. Nos detalhamentos a expressão ponto da casa… ‘o que ocorrer’ passou a ser presente. Assumindo a

improbabilidade

de

acharmos

‘exatamente Salvador é uma cidade que recicla muito pouco. O

que buscávamos’ os materiais da obra seriam contato com uma rede de materiais não explorados ‘superutilizados’ (superuse). Janelas virariam pisos, era muito mais potente do que a nossa exploração pisos virariam tetos, tetos virariam paredes, paredes no 53.

Superuse, OIO publishers, 2007

virariam cubas – essa era a ideia. O trabalho do Al Borde, do Sete 43 e de escritórios focados no ’superuso’ traziam a possibilidade do ‘trabalhar com o que se tem’ e apontavam uma estética que aceitava o excesso de informação natural do método. Trabalhar com o excesso e com o inesperado buscando manter um conceito geral no trabalho se provou extremamente difícil, e por vezes a linha entre arquitetura e depósito foi ultrapassada. 16

‘SUPERUSO’


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tacos reaproveitados – casarão 28

tocos de cajazeira derrubada na vizinhança

chegada de tubos doados na casa

caixa de dsiju

ntores encontr

18

ada em estac

ionamento


s

ita

ro

s,

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em

lau

de

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ba

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janelas (brancas)

retiradas em ret rofit de fac

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r, desmontad

nte na casaco

r ambie ĂĄrio doado po

tubos tomando sol, laje em pirajĂĄ

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O acordo é simples: um ano de reforma, três anos de cenógrafia, onde não tinha que lidar com a 1- Dos três proprietários, nos ligamos (a nível de de uso, trinta e seis mil reais fornecidos pelos donos pretensão de durabilidade da arquitetura ‘formal’; discussão) a Naia que, por ser arquiteta, vizinha e - orçamento irreal para qualquer modelo tradicional Solano Benitez teve seus primeiros experimentos em experimentadora, esteve mais aberta aos sonhos; de construção - novos acordos seriam possíveis após projetos próprios (seu escritório e a casa de sua mãe, o primeiro período de troca. A carta, no entanto, não um clássico desde Venturi); Al Borde tem grandes 2-

Dois

projetos

(aluga-se

e

usa-se)

são

era branca. A ‘obra’ em seu período de ocupação problemas quando seus projetos são realizados por desenvolvidos em paralelo, entendendo que deveria melhorar as qualidades da casa segundo construtoras.

algumas mudanças seriam inevitáveis, mas sempre

um plano dos proprietários - espaços alugáveis para

que possível projetando em conjunto;

gerar renda.

Normalmente, países onde a arquitetura formal é mais arrojada se caracterizam por uma supervalorização 3- Prioriza-se, em ordem de construção, a execução

O programa de meus amigos era definido por sonhos, dos terrenos1 (a construção se torna efêmera) ou de uma infraestrutura comum pedida pelos donos e atividades e estéticas, o programa dos donos (como outros fatores que dificultam a construção para necessária ao funcionamento dos sonhos - Esgoto, se observa correndo os empreendimentos da rua) era aluguel…

Laje, Banheiros...

genérico e indefinido. Como conciliar uma arquitetura A solução para o dilema foi múltipla: (ou um pedido de arquitetura) banal ao desejo, meu inclusive, de executar sonhos e experimentos? A anedota reflete dilemas análogos aos de referências de arquitetura experimental: a arquitetura do sete43 foi frequentemente concebida antes em trabalhos

TROCA 1: SONHO DE 2 PROJETOS

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TROCA 2 PROJETAR OS SONHOS

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53 EQUIPE A

Alan dos Anjos Amigo do skate. De nós, o que mais tinha conhecimento de obra. Tem pai eletricista e cursou mecatrônica. Tem interesse no espaço para experimentaçõeseventos

Dário Jr. Sociólogo e estudante de arquitetura. Está realizando uma etnografia no 53 para sua tese de doutorado.

Ivan Interessado em marcenaria, toma o 53 pra si nos momentos de dificuldades, faz a coisa ir pra frente, único que se dedica integralmente à casa no primeiro ano.

Rod Arquiteto e amigo intenso, ajuda na obra ainda que com pouca crença em sua viabilidade. Se afasta para o tfg, mas mantendo interesse no processo.

Mariangela Estudante de arquitetura, amiga de faculdade, interessada nos processos de ‘aprender fazendo’. Se une à casa nos processos de troca com as turmas de alunos.

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Jonas Dos poucos estudantes de arquitetura interessados, em processos de construção. Especialista da equipe em bambu, o projeto se altera pra incluir o material. se une com ivan nos processos de marcenaria.

Júlia De Porto Alegre, vem para salvador com intenção de passar uma semana, passa a morar na Mouraria e ajudar nos eventos e na obra do 53. Pretende tocar cursos e outros eventos na casa.


Natália Lessa Estudante de arquitetura, terminou se aproximando mais que deco, irmão engenheiro e um dos amigos que eu esperava que fosse mais presente no projeto.

Flora Estudante mais jovem e amiga, aparece pontualmente.

Letícia Grappi Sempre presente, mas tomando certa distância do processo, talvez por estar ligada ao movimento da bioconstrução – a casa usa muito cimento e gera muito descarte no primeiro ano.

Fernando Gomes Fotógrafo, amigo do skate, morador do centro. A casa como espaço de exposição.

Vick Estudante de arquitetura, se aproxima da casa pela amizade. Em julho se afasta para seu próprio TFG e também pela grande quantidade de pessoas interagindo na casa.

Davi Estudante de direito e colega da escola, arranja uma namorada por conta da obra, começa a ir em menor frequência. PT Formado em direito e estudando para concurso, a obra se torna um local de lazer e espaço de sociabilidade em meio ao período de estudos.

Iago Lobo Psicólogo, se apróxima do 53 e logo após passa a morar na mouraria, permitindo uma conexão forte com o projeto, começa a enxergar a possibilidade de atender na casa.

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Em terra de cego, quem tem olho é rei. A nula experiência de obra minha e de boa parte de meus amigos elimina e inverte a hierarquia tradicional de

Modelo 1 – Empreitadas Pontuais – Seu Antônio, Paulo, Ezaquias, Tozinho

um canteiro. Pedreiros, marceneiros e até serventes

Inicialmente a ideia era contratar mão de obra não para acelerar o processo, mas apenas para aquilo que fosse impossível em nossa capacidade de execução. Chamariamos profissionais para diárias ou empreitadas muito pontuais, sem serventes, e com nossa ajuda na execução. O problema desse modelo esteve em 1: nós não eramos sequer bons serventes a ponto de possibilitar o rendimento do profissional; 2: os profissionais em geral não estavam disponíveis para trabalhar uma diária, o que atrasava o cronograma na busca por pessoas...

frequentemente sabiam mais do que todos nós, coordenando a execução e frequentemente mudando o projeto – meus amigos logicamente depositavam maior confiança neles. O que se estava contratando portanto, não era apenas trabalho braçal e técnico, mas ensino. Durante o ano, investigamos possibilidades de contratação diferentes para estes profissionais, tentando equacionar nosso aprendizado à capacidade produtiva deles – uma vez que nossa equipe distrai e desorganiza um trabalho tradicional. A organização da obra, limpeza das ferramentas, atenção com os horários… definem um canteiro tradicional, mas são

Modelo 2 – Acompanhamento Semanal – UA, tonho UA é servente, mas em nossa obra era rei, trocava o trabalho de carregar sacos de areia por uma escadaria enorme para abastecer as obras do morro da sereia para nos acompanhar dois dias por semana na construção, infinitamente mais leve. UA foi o mestre da obra em termos de ensino, ainda que só trabalhasse de havaianas. O problema de UA foi que, pelo desenvolvimento de uma amizade e pela a ausência de um servente, começou a adotar nosso ritmo de obra – chegar tarde, não cumprir as 8h de trabalho, faltar... UA era um professor, mas não era um pedreiro rentável. Na última semana, pediu 200 reais adiantados, nunca mais apareceu, a obra absorveu os custos.

também essenciais a uma obra experimental. Os custos de mão de obra no 53 são elevados na proporção do conjunto, isso se justifica pela absurda economia em todo o resto.

Modelo 3 – semanas de trabalho – alessandro, chico, nailton

MÃO DE OBRA COMO ENSINO 24

O mais formal dos 3 modelos e o menos eficiente em termos de ensino, chegamos à conclusão de que nós eramos o problema da obra. As risadas, piadas, histórias e os descaminhos de nossa construção prejudicavam o rendimento dos pedreiros que paravam para ajudar ou compartilhar o momento. Para que os pedreiros rendam, a obra formal e a informal tem que acontecer separadas. Desse modo, contratamos durante uma semana completa – pagando no fim – um pedreiro e um servente, profissionais, que chegam 7:00h e saem as 17:00h. Contratar assim implicou um maior planejamento dos cronogramas, para unir uma série de atividades em uma única semana.


Obra 05 Laje

Obra 06 Escada

Obra 02 Escavar

Obra 04 Banheiro

Obra 01 Demolir Obra 02 Piso do Fundo

OBRAS

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Convenci meus amigos a fazer uma obra, uma troca de construção por espaços de uso. O problema era que ninguém precisava daqueles espaços para nada! Meus amigos se dedicavam à obra por pura amizade. Trabalhávamos sem necessidade real. Como construir sem materiais e projetar sem programa? Da maneira formal (projeto-alvará-detalheobra...) não conseguiríamos nem mesmo começar a obra no primeiro ano, prejudicando o ‘TFG prático’, inviabilizando a troca com os donos, perdendo o momento de meus amigos. Era preciso iniciar, em paralelo, projeto e obra. Com ideias muito elementares começamos a limpar a casa – garrafas de urina jogadas pelo cortiço vizinho (obviamente a casa abandonada era um problema também para eles), cachimbos de crack, ratos, baratas e árvores crescendo nas alvenarias.

ANTES PROJETOS 26

dia 1: descrença total seguida de momentânea felicidade após a retirada de todo o mato


OBRA 1 DEMOLIR


Paralelamente, um cadastro era feito e pequenas Demolir vale a pena no 53. É divertido, é elementar ideias de um projeto sem programa eram rabiscadas. e relativamente seguro, mais a frente esse passou a Por não saber o que a casa deveria ser, adotamos um ser um serviço para visitantes pontuais de primeira misto da Casa en Construccíon com o desejo dos viagem. O entulho gerado, entretanto, é um donos – apartamentos, escritórios e uma loja que problema de escala considerável. Tijolos cheios pudesse ser alugada na frente.

geram mais entulhos que blocos furados, e o descarte de materiais não possibilita economia –

Nesse momento inicial surge, por exemplo, intenção sacos de entulho, transporte do material ao longo de mover a escada para o pátio, dividindo a casa da casa e especialmentoe o bota-fora. Começamos coberta em duas partes equivalentes nos dois níveis. a ‘desconstruir’ as paredes, aproveitando o máximo As primeiras investigações com mudança de pés- de material possível... direitos levam a necessidade de ampliar a largura de alguns espaços da casa – fugir da lógica do corredor que dominava a área descoberta no fundo. A partir dessas análises quase que imediatamente começamos a demolição.

estudo, descartado por questões estruturais e de ventilação, para um segundo andar no fundo da casa

desenho enviado por jaime quinga, pedreiro do equador, explicando a abertura de vãos e execução de vergas

estudo de abertura das perspectivas no fundo


estudos da casa com e sem a escada no pátio central

estudos da destruição do corredor nas áreas descobertas

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Pessoas confusas iam se somando à obra, o ritmo era esquemático a localização dos banheiros da casa ao banheiro. O nível intermediário ainda permite lento, mas ainda assim ficávamos frequentemente (pouco alterada ao longo do processo) e traçamos conectar a cozinha de um futuro apartamento à rede, sem ter o que fazer, atrasados pela falta de um mínimo uma linha. Com ajuda do professor Maurício mantendo uma caixa de gordura dentro do banheiro. projeto, um norte. Decidimos, ainda apoiados no Felzemburgh, dimensionamos a rede. Com o Pai de A rede conectaria ainda o banheiro existente dentro Al Borde, começar por uma célula do habitar – um um Amigo, dono de uma construtora, conseguimos da casa, os futuros banheiros e cozinhas... banheiro funcional e uma cozinha coletiva – que a tubulação – estava tomando sol em uma laje em permitisse usar a casa por maiores períodos de tempo. Pirajá e com o tempo perderia suas propriedades. A primeira ideia, simplesmente ativar o banheiro existente, é descartada ao descobrirmos que a Localizamos o banheiro no fundo do terreno para tubulação cerâmica existente estava completamente atender aos eventos, e isso significava escavar toda estilhaçada ou era inexistente (motivo pelo qual o a casa. Para economizar 1m de escavação ao longo primeiro cronograma foi atrasado em alguns meses).

do percurso, criando ainda um espaço onde descartar

Teríamos que executar uma obra infraestrutural, um entulhos da demolição, eleva-se o mesmo ao nível sistema de esgoto, que não resultaria em arquitetura interno da casa. Com isso, a planta do último espaço visível, mas que era essencial. Decidimos a nível se divide em dois níveis,

sistema de instalações sanitárias alterado no processo

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uma escada de acesso


lação sanitária elevada

corte explicativo da insta

CÉLULAS DO HABITAR

no fundo da casa

desenhos iniciais do ‘banheiro alto’ alterados quando o cadastro real foi finalizado, perspectiva do que se tornou o ‘apartamento em desnível’

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conferindo profundidade da caixa com desenho de projeto


OBRA 2 ESCAVAR sistema de esgoto

do à rua

finalmente chegan

escada de acesso removida por nós, preservando as pedras, escavada por ezaquias

durante a escavação do esgoto rebaixamos um trecho completo do corredor, acesso para a futura galeria

33


Escavar

nós

mesmos

não

valeu

a

pena,

as A demora nas escavações tornava a casa – que ficou qualquer escavação de projeto teria que ser seguida

necessidades de usar a casa, a princípio inexistentes, sem escada de acesso durante 4 meses – inviável por uma recomposição do trecho inexistente... surgiam. Tempo passou a ser um fator considerável. para uso, a terra que serviria ao reaterro preenchia Um servente - a mão de obra mais barata em um todo o térreo. Durante esses meses, a perspectiva de canteiro - conseguiria cavar muitas vezes mais que poderíamos devolver a casa em pior estado do rápido, e aguentar mais horas de atividade diária. que o recebido pareceu real. Nós terminávamos os dias destruídos e sem grandes progressos, mas, em parte por não ter saber do A conexão do sistema de tubos e junções, por outro quanto seria necessário economizar – a própria noção lado, era realizável. Um encanador indicado por do que significavam 36.000 reais em uma obra não Maurício Felzemburgh nos ensinou o básico, e a existia – realizamos a atividade de maneira quase que internet nos ensinou o que era mais complexo. completa, recorrendo apenas a duas diárias com o servente Ezaquias…

A escavação ensinou sobre a fundação da casa, que provavelmente foi a última a ser construída entre seus

Cavar nos economizou em torno de 800 reais, mas vizinhos, e portanto apoiava paredes finas sobre uma ganhar a tubulação e instalar a mesma cortou os fundação quase inexistente, em um aterro realizado gastos em praticamente 3000 reais.

esgoto executado esgoto a executar caixa de gordura caixa de passagem

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anteriormente. As paredes não chegavam ao chão –


detalhe da uniĂŁo entre a manilha do tubo de queda existente ao sistema em pvc


Se o telhado novo tinha de alguma forma preservado adequar ao esgoto e elevado para se proteger de um o interior da casa – a visita da especialista em possível alagamento da área descoberta, que não patologias Silvia Pimenta apontava apenas as vergas seria drenada para a rua. Consultamos Emílio Bier como ponto crítico – o fundo, onde as coberturas e André Lessa, amigos engenheiros, e iniciamos os haviam ruído, era um desastre total. Uma caixa de trabalhos. passagem quebrada pela raiz de uma árvore tinha

OBRA 3 PISO DO FUNDO

drenado o solo e ruído o piso de concreto existente. A ideia, elaborada em desenhos e maquete era criar um novo piso, separado em dois níveis para se

ré lessa

adas a emílio e and

inh perguntas encam

passagem para o outro espaço (banheiro) (1)

Entulho acumulado na demolição do reservatório + paredes de divisão dos banheiros (2) árvore irrigada pelo reservatório do vizinho que está vazando, provavelmente pelo crescimento da própria árvore

Caixa de passagem que estourou e drenou o solo, ponto de maior abatimento (5)

Perguntas: essênciais O que fazer com todo o entulho gerado? Mover-lo parece demasiado trabalhoso. Como resolver um banheiro sem ter que cavar ao nível da casa para executar o esgoto? Como recuperar o solo e refazer o contrapiso? Cobertura?

executar o banheiro ao nível da casa permite solucionar o esgoto sem escavação tão profunda, além de gerar um espaço para o acumulo de entulhos A caixa de Gordura da cozinha do apartamento fica no interior do piso do banheiro

5 1

2

possível escada 3

piso cedido

4

O esgoto da cozinha tem entrada alta, podendo se encontrar com o do banheiro


37


38


39


Os problemas da obra do piso eram erros de iniciante: 1. Não conseguíamos as cotas finais dos pisos, pois 3. A chuva tornava todo o trabalho impossível. não tinhamos dimensão da quantidade de entulho A chegada de UA à obra nos ensinou a nivelar, gerado para aterrar – querer que o projeto seguisse tivemos que comprar telas metálicas para resistir à as necessidades de descarte da obra levava a muito deformação da argila. Ainda assim, o trabalho de virar retrabalho;

o concreto magro para aquela área parecia inviável para nossa equipe. Em meio ao desespero e em uma

2. Vizinhos que cavavam uma garagem na rua de trás casa completamente caótica, entro em contato com o nos forneceram um metro cúbico de terra para subir professor de técnicas construtivas, Jardel Pereira, que a cota e nivelar os pisos. Depois descobrimos que não só tira minhas dúvidas como, encantado pelo a terra era argilosa, quando chovia (e estávamos no trabalho, decide ajudar. período de chuvas) ela inchava, perdendo a cota e se tornando impossível de compactar;

construção do muro delimitando os dois níveis do espaço

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Obras formais só podem receber alunos em momentos O acordo teve seguimento no semestre seguinte. muito específicos. Jardel, por exemplo, nunca pode Dessa vez, os alunos de Jardel ainda cadastraram a levar sua turma para assistir a uma concretagem. A laje e elaboraram projetos técnicos do contrapiso da tensão, os cuidados e cursos técnicos necessários mesma. afastam os alunos do aprendizado prático. No 53, Jardel poderia nos ajudar e também ensinar sua Ensinar arquitetura sem obra é incompleto, aprender turma. Jardel pagaria a diária de um pedreiro e levaria fazendo é infinitamente mais eficiente. A experiência sua turma para concretar o piso do fundo.

do 53 como uma série de catastrofes comprovava

isso. A incorporação das turmas em nosso processo

A ele se une Federico Calabrese, professor de Atelier de construção era mutuamente benéfica e ainda 1 na Faculdade de Arquitetura da UFBA. Ele levaria ampliava a rede. Depois das visitas, alguns alunos os calouros um dia antes, para executar as mestras. voltaram a trabalhar na casa. Como os alunos eram muitos, nós do 53 dividimos equipes e realizamos outras pendências da obra: demolições, tubulações… A turma de Federico ajudou a ensacar o experimento da laje.

TROCA 3 AULAS


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Em termos de expectativas de construção refletidas o esperado e o executado nos desesperou. O em planejamento de obra, o 53 é um desastre passo das coisas significava (significa?) que em 4 total. Todos os cronogramas foram pro espaço, com anos talvez alguns espaços não estivessem sequer vários meses de atraso. Parte dessa imprevisibilidade prontos. A conclusão era que a casa-uso não poderia do tempo era consciente desde o início, guiando, por esperar uma obra pronta. O canteiro tinha que ser exemplo, o modelo de troca com os donos de uma fruto antes de sua conclusão. proposta mais formal – construir X espaços, segundo Y orçamento e em Z meses – para algo mais incerto aos donos – construir 1 ano de obra, independente do que um ano fosse. Ainda assim, o abismo entre

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CRONOS


ANATOMIA DO DESASTRE

1. adesão – cronogramas dependem de uma expectativa de horas de trabalho por pessoa ao longo de um determinado período. Não só o 53 era uma obra de fim de semana como nunca houve uma quantidade de pessoas fixas se dedicando ao projeto. A expectativa do primeiro cronograma – 6 pessoas trabalhando dois dias por semana, só é alcançada nos últimos meses de obra. 2. produtividade – um servente cava 1m3 de terra em 3.5h, os valores de produtividade de mão de obra são relativamente conhecidos, mas quanto tempo leva uma pessoa que nunca construiu na vida para erguer 1m2 de parede? A produtividade de iniciantes é baixa e flutuante, com o tempo começamos a entender nossas possibilidades. 3. materiais – um box feito de reikes de varanda não é planejável em termos de outras atividades, tão pouco a retirada de isopores de uma laje, experimentar significava escapar de possibilidades conhecidas de planejamento.

4. revelações da casa – conectar um banheiro existente em termos de água fria levaria dias, a necessidade de refazer um sistema de esgoto tomou meses de trabalho, da ausência de fundações às vergas destroçadas dentro da parede, cada movimento na casa implicava em um novo trabalho – tempo. 5. projeto – recortar paredes estruturais para inserir uma cinta de concreto leva X dias, inserir as vigotas da laje diretamente nos muros levou Y, ter feito pilares externos, com fundações em uma nova estrutura teria levado Z. A incerteza da execução e dos projetos – os primeiros cronogramas são feitos com base em praticamente nada – levam a uma incapacidade de planejar. Nós excessivamente otimistas. 6. retrabalho – no 53, praticamente tudo teve que ser feito duas vezes para dar certo, o retrabalho implica tempo.

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A Bagum chegou até o 53 através de Ivan. Tinham cansada de cavar caminhos sem fim. Da mesma sido convidados pela Boogarins, banda de Goiânia maneira que a muralha da china, construída em reconhecida nacionalmente, para organizar um show pequenos trechos, para dar a sensação de finalização em conjunto. Ivan seria o produtor do evento. a aos operários no 53 a realização de eventos com possibilidade do 53 surge pelo baixo orçamento do objetivos claros passou a nortear uma obra em que o show e pela nossa vontade de realizar algo que fosse ritmo geral desestimulava, a celebração dos eventos mais sonho e menos concreto na casa. O problema era coroava o processo. que, no estado e ritmo que andavam as coisas, seria impossível tornar a casa habitável – minimamente A intervenção da Bagum também trouxe pela primeira segura – para um evento em 30 dias.

vez a noção de uma casa limpa, não destruída pelas intervenções, com escada de acesso e iluminação –

Proposta: o show aconteceria no 53, o lucro do evento serviços que, apesar de essênciais, não tinham sido iria para a Bagum, em troca a banda se comprometia incluídos nas prioridades de um cronograma focado a trabalhar na obra durante o mês, trazendo em fazer arquitetura. Habitar era tão importante também amigos para a empreitada. Aproveitando quanto construir. o movimento e unindo Chiara Rucks – museóloga que se aproximou ao projeto – realizaríamos uma O show eleva o 53 a uma outra escala de conhecimento pequena exposição da casa-processo, chamando na cidade, os processos destravam... novas pessoas e transformando o 53 em um endereço conhecido. O show da Bagum x Boogarins é essencial para o 53 marcando um novo momento do experimento. A existência de uma meta de curto prazo, objetiva, mobiliza não só os baguns, mas toda uma equipe

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TROCA 4 BAGUM



abertura de vão – fluxo de objetos na marcenaria e público do show

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verga de madeira onde havia escoras há alguns meses

cimentado fechando caminhos da tubulação de esgoto, alinhado ao piso existente. futuramente um piso poderá ser aplicado sobre o todo.


primeira lavagem da casa, autoestima recuperada

escada de alvenaria reutilizando pedras da escada antiga, se adiciona degrau intermediário por conta das fundações (expostas no nível da rua)

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50

A cobertura provisĂłria para o evento informa o desenho da cobertura no projeto da marcenaria, atravĂŠs do teste com o material e do sentido das ĂĄguas


A solução para o uso dos bambus, implicando certa irregularidade do material, viria da Casa Hamaca, do arquiteto Javier Corvalån, se utilizariam vergalhþes para o travamento da estrutura.

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casualidade: o desnĂ­vel de acesso ao banheiro funciona como um palco curioso, baterista ao lado do resto da banda, estilo beatles

projeto elĂŠtrico dimensionado de acordo com o uso da marcenaria, quadro de disjuntores executado para atender Ă s demandas do show

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EXPOSIÇÃO

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EVENTO

o bar do evento testa a ideia de uma cozinha coletiva

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O fluxo de pessoas - atendimento no bar + área de fumantes – informa o projeto. A horta inicial muda para o atual depósito, uma nova escada tira o funil de circulação

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Poucas semanas após o evento da Bagum x Boogarins, Livia Nery entra em contato com Ivan - queria realizar um evento de lançamento do seu clipe “Vulcanidades”. Mantemos o esquema de

`

TROCA 5 LIVIA NERY

troca, dessa vez com o objetivo principal de colocar o banheiro em funcionamento – por conta de atrasos, o show da Bagum teve que contratar banheiros químicos.

lista encaminhada via whatsapp para livia e para os grupos do 53, propondo dias e quantidade de pessoas esperadas para finalizar as tarefas da troca.

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Do ponto de vista das ambições originais, o banheiro Em muitos sentidos, é uma arquitetura iniciante, é a produção mais alinhada ao 53. Executado das poluída pelo fato de que tudo é um experimento. instalações aos acabamentos por nós – apenas Ainda assim, possui certa ambição incomum a rebocos e o piso do box foram feitos com a ajuda de banheiros, projetados com desatenção na maioria UA – experimental, reciclado, barato. Os problemas das arquiteturas… do 53, de maneira geral, também estão inseridos ali. O cronograma estendido e o retrabalho, especialmente – registros mal colados vazaram, houve problemas na ventilação do sistema de água fria, o piso de cimento queimado rachou. Erros eram simultaneamente crise e escola. Um dia, pressionados pelo lançamento do clipe de Lívia, inauguramos o banheiro.

OBRA 4 BANHEIRO

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Concebido antes em maquete e depois em obra, sem passar por desenhos, a cobertura do banheiro alto buscava explorar a textura da árvore vizinha a partir da transparência de duas placas de policarbonato e acrílico respectivamente. A estrutura se define através de uma laje que completa a área coberta e funciona como contrapeso, permitindo o balanço de 2.20m dos caibros – retirados da subestrutura forro pvc antigo da casa – que suportam as placas.

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COBRIR


os pré-fabricados de tijolo de Solano Benitez foram referência – somando uma vontade de experimentar a existência de tijolos antigos da casa. O segredo dos préfabricados é a união entre uma argamassa extremamente líquida com um tijolo extremamente poroso – uma qualidade inesperada da péssima indústria paraguaia.

bricada, utilizando tijolos detalhe e execução de peça pré-fa a. os vergalhões servem de líquid 1:2 assa argam com ntes existe de reike – também existentes apoio e travamento para os vidros na casa.

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BOX DE REIKES

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BANCADA

impermeabilização da peça de armário com resina epoxi - vidro líquido

desenho sobre foto para atualização de projeto com base no executado/disponível

A desmontagem de dois armários de um ambiente da casacor informa a materialidade da bancada do banheiro,

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adaptação da altura de uma torneira para usar cuba, originalmente de embutir, sobreposta.

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FINALIZAÇÃO

piso de cimento queimado. feito, quebrado, refeito, a sujeira da obra e a falta de controle na secagem prejudicam a textura. degrau que esconde caixa de gordura do apartamento.

união de porta e aduela para se adequar ao vão de entrada do banheiro.

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janela gilhotina em vĂŁo de porta existente


A galeria-loja, por ser o espaço de maior interesse A primeira pesquisa – estrutural – era desanimadora. dos donos, incorpora dois serviços extremamente A falta de conhecimento ligado à realidade de obra caros e incortornáveis em termos econômicos para me fez buscar ajuda em profissionais. Entretanto, na a realidade da obra: a escavação de 1.00m da área universidade, o experimental dá medo, e a realidade da loja e de parte do corredor, que implica, além de do 53 era incompreendida. grande descarte de material, a execução de um novo

A loja atual se encontra no nível +1.09. A ideia é descer o seu nível, para o nível da calçada (+0.00). O piso de madeira existente seria substituida por uma laje 1m acima do nível atual (+5.50), afim de gerar um pé direito duplo no interior da loja, preenchido por um futuro mezanino.

lastro e na recomposição de alvenarias e fundações; a Assim, foram indicadas respectivamente estruturas de execução de um piso, ao nível das janelas do primeiro argamassa armada (que exigiam uma industrialização pavimento, implicando a intervenção nas estruturas inviável) de aço (…) e o esquecimento completo das e a criação de algo que vencesse o vão completo da alvenarias existentes (implicando a execução de uma casa (em torno de 4.40m), aparentemente inviável estrutura do zero com fundações, pilares e vigas que com o material que possuíamos.

comeriam boa parte do orçamento), além, claro, dos professores que se recusaram a opinar, receosos

A partir daqui uma escada descendo 1m uniria a laje ao piso antigo

Na Casa en Construcción não existiam lajes, e o motivo de orientar uma experiência real – e seus riscos. As parece óbvio. Concretos unem alguns materiais que sondagens na casa ainda revelaram que a fundação não se encontram em restos de obra - ferragens, da loja era extremamente superficial - na cota do

Buraco teste escavado

região a escavar

areia, brita, cimento - a um trabalho extremamente aterro e não da rua – e que a espessura das paredes pesado. Em Salvador, ocupações inteiras estão sendo laterais – vão no qual se apoiaria à laje – era menor do construídas com a sobra das concretagens do metrô que a das paredes frente-fundo. – uso viabilizado através da amizade entre ocupantes

material levado em ‘consultas’ com estruturalistas

e os motoristas dos caminhões-betoneira – mas via de regra, concreto não é o material ideal para quem pretende trabalhar com o que há. Ainda assim, movidos por executar as grandes estruturas no primeiro ano, pelo medo de um dos proprietários com relação aos pisos de madeira e pela necessidade de mostrar resultado arquitetônico palpável, começamos a investigar a possibilidade de um piso em concreto. 70

OBRA 5 LAJE


+5.64 piso planejado

+4.63 piso original de madeira, daníficado no espaço da loja

+3.23 mezanino, alinhado à marcação da porta na fachada e invadindo corredor

+1.10 piso elevado original da casa +0.20 piso da galeria-loja após escavação

Maquete para consultas

opção 1 cortar alvenarias para inserir cinta de concreto

opção 2 perfil de aço, chumbado em alguns pontos da alvenaria ou parafusado em travesseiros. poderiamos usar algo de superuso no piso partindo de uma estrutura ‘seca’.

opção 3 uma nova estrutura inserida na casa, com vigas e fundações independentes.

opção 4 chumbar vigotas da laje eps diretamente na alvenaria, sem cinta ou perfil.

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A segunda parte da pesquisa – custo – indicava um problema para o conceito do 53. A laje composta de vigotas e blocos EPS era infinitamente mais barata que qualquer outra alternativa. Leve, de fácil execução, com menor número de escoras e fôrmas, passível de embutir instalações… Sua banalidade e feiura – em um processo que buscava ser experimental – não era suficiente para argumentar com os donos outra opção, ainda mais considerando a proporção que seu custo representaria na troca. Teríamos que aceitar aquela tecnologia. Por fim, saímos da academia para encontrar a prática. O engenheiro atuante Ladisláu Netto (que não é responsável técnico desta construção de maneira alguma), em uma conversa com fotos e maquete no seu escritório, nos convenceu de que não eram necessários pilares ou vigas, mas apenas o chumbamento das vigotas na alvenaria existente, aprendizado de algum modo relevante para qualquer intervenção no centro antigo. O engenheiro Nilson Sena aprovou nossa ideia para conseguir uma qualidade estética na tecnologia banal: seria possível ensacar os blocos EPS, prevenindo a penetração do concreto, e removê-los após a cura da laje, atingindo uma superfície nervurada de concreto aparente – Paulo Mendes low-cost.

estudos espaciais do mezanino, é incerto se a valorização da área compensa o trabalho para sua execução.


laje

lona

EPS

73


para encaixar as vigotas, uma das paredes deve ser rasgada verticalmente.

por questþes de tempo e tÊcnica, decidimos executar a laje de maneira formal, contratando chico e alessandro para chumbar as vigotas, durante uma semana de intervalo, ensacamos os blocos de isopor com a turma de federico. em vermelho, fissura mapeada, cuja origem foi o apodrecimento de uma cinta de madeira no piso antigo. Executamos previamente a remoção e o preenchimento.


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marca de espaça

dor nos blocos EPS

inesperados: pela falta de resistência do EPS à pressão do concreto bombeado, os espaçadores afundam na forma, pequenos quadrados que concentram as dobras do plástico, uma textura inesperada. A laje é espacialmente forte, mas sinto a falta de um elemento que declare a intencionalidade da mesma (consideramos botar folhas sobre os blocos mas desistimos no último minuto).


A comparação entre o orçamento de uma obra formal – SINAPI – e o 53 é complexa quando se trata da laje – cada decisão projetual implica em uma grande alteração das variáveis. Uma laje do mesmo sistema em uma construção nova custaria menos que a do 53. O trabalho de posicionar as vigotas e os blocos de isopor sobre vigas em um ambiente livre é radicalmente menor que o trabalho de içar em um espaço reduzido, rasgar as avenarias para, finalmente, chumbar as vigotas – o que eram dias viram semanas de contratação. Para não chumbar, entretanto, a execução de vigas sobre uma nova estrutura – fundações e pilares – implicaria um gasto astronômico. A Laje parece ser econômica em termos de projeto, por tomar uma decisão rara nas intervenções de preexistência em salvador, mas sua demonstração é complexa. Na comparação, utilizamos os dados de serviços e custos de nossa obra.

77


Em seu último mês, a casa começa a ganhar outros Mover a escada permite ainda funcionar um ‘fundo ares. Com laje, esgoto, e banheiro feito começamos a obra’ independente de uma casa já funcional (com o acreditar na possibilidade de um 53 que funcionasse. espaço da laje e a galeria). Ainda que com pouco dinheiro restante, a obra não estava desesperada. O estrutural tinha passado, Mover uma escada antiga é complexo ainda a nível poderíamos continuar a obra pontualmente, em um de projeto, difícil de abordar sem grande abstração. A ritmo que permitisse o funcionamento contínuo da diferença dos vãos entre o local original e a claraboia casa.

ainda

desencorajavam

o

movimento.

Nivaldo

acreditava que a escada, uma vez desmontada, não A decisão de mudar a escada no primeiro ano parte poderia recomposta. desse pensamento: com o funcionamento dos espaços do primeiro piso, ainda durante a obra, a mobilização se tornaria progressivamente complicada.

escada original e: 1/25

78

OBRA 6 ESCADA


leque original danificado pelo contato com a umidade das paredes

2.44

79


A escada se resolve antes em maquete, depois em sketchup, planta, e finalmente em obra. Para se encaixar no tamanho do vão, a escada se contorce em diagonais, perdendo o leque e entrando na norma. O leque é então substituído por um lance novo. A escada quase cabe, mas demanda ainda uma pequena invasão na alvenaria. Não me atrevo a desenhar os encaixes ou a forma do lance novo, não havia conhecimento o suficiente em meio às diagonais e às madeiras sem bitola que tínhamos na casa – resultado do completo descaso com que a faculdade tratava as estruturas de madeiras. Havia entretanto uma confiança de obra, adquirida ao longo do ano. Precisaríamos de um bom profissional – o risco e a técnica da operação estavam além de nós – mas com ele e poucas medidas poderíamos decidir todo o resto.

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esboço de escada em maquete, com leveza que não corresponde à realidade. barreira visual protege o apartamento.


escada com lance novo (em cinza) e arranque – que evitaria a invasão da alvenaria acima. O peso da escada original se mantém ao esconder o lance novo com um muro – que também o estrutura.

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Seu Antônio foi responsável por boa parte das construções em madeira do Sete43: escadas, coberturas, móveis… De maneira geral, a obra da casa é viabilizada pela ação pontual de uma equipe construída ao longo da carreira de Naia, profissionais e amigos que a respeitam extremamente e já entendem sua arquitetura. Val (carreto), Tozinho (serralheiro), Seu Antônio, Lobato (pedreiro). O 53 me permite aprender e reconhecer esses profissionais – reconhecer bons profissionais. Em seus 50 anos de prática, Seu Antônio montou currais, carrocerias de caminhão, arquiteturas. Ao olhar a escada, ao contrário de nós, não sentia o medo de destruir uma circulação que não poderia se recompor.

Seu antônio: maestro e domador de escadas.

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Desmontagem implica novo projeto. Arranque se transforma em um degrau a mais no novo lance, degraus de virada dos lances antigos se incorporam aos patamares. Um único pilar e uma peça apoiada no peitoril da janela estruturam a escada. O percuso se inverte para aproveitar melhor peças e corrimãos.


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A escada, espelhada nos primeiros desenhos, volta detalhe é uma aula para nós e é completamente a seu sentido original na obra e dessa maneira diferente dos outros. conseguimos manter todos os corrimões e ainda parte dos pisos do leque – integrados ao patamar. A escada encerra o primeiro ano (teórico) da obra. A ideia de um muro que sustentasse o novo lance e Limpamos a casa e deixamos o espaço preparado ‘escondesse’ o trecho novo é abolida pela pressa de para alguns eventos – entre eles a banca de avaliação Seu Antônio, que não queria esperar por pedreiros deste trabalho. Nas últimas semanas, começo a olhar ou por nós para começar sua montagem. O novo o processo com certa distância. lance tem um espelho a mais do que o antigo leque, pedindo a remoção do último espelho. Não compramos madeiras novas, apenas alguns parafusos e barras rosqueadas. Tudo vai se compensando, cada

içamento da escada com 7 pessoas

entalhes que

84

liga os lances

novo e antigo



Enquanto ensacávamos os isopores da laje, David O funcionamento da casa após o TFG (com pouco É bastante provavel que qualquer orçamento Barragan, um dos sócios do AlBorde chega a Salvador. dinheiro e menos tempo pessoal para se dedicar à da casa feito nos primeiros meses, estivesse tão Sua palestra no Arquimemória 5, "patrimônio para construção) começa a ser pensado nesse momento. distante da realidade quanto os cronogramas. Não gente comum", especificamente sobre a Casa en David questiona a metodologia de dividir toda casa havia conhecimento o suficiente, faltariam etapas Construcción, divide opiniões. O chamo para visitar em sonhos, sem espaços para uma sublocação que e materiais. Retrospectivamente analiso as contas o 53.

viabilizasse o resto da obra. Na sua visão, sublocar da casa (um grande excel onde se informa quanto um apartamento para um amigo que topasse viver na foi gasto por semana), tento discernir os gastos por

O 53 é diferente do AlBorde, ainda que parta de obra não só permitiria continuar a obra, mas mostraria espaço, fazer uma comparação com obras reais, uma ideia em comum. A sede por arquitetura, a aos donos a viabilidade da troca – algo essencial para aprender financeiramente a partir de uma experiência necessidade emergencial de uso da casa, o convívio continuar os processos.

concreta. Um 53 futuro é mais consciente de si

diário e a experiência prévia de construção dos sócios

mesmo. Se alimenta.

guiava modos de comunicação e obra muito distintos. David observa o projeto com outros olhos. Com ele, Nosso canteiro era organizado por whatsapp. A percebo que a diferença de aluguel entre uma loja, execução era coordenada e decidida verbalmente, com e sem mezanino, não viabiliza – em quatro anos sem muitos desenhos. A troca com os proprietários – um retorno que pague a escavação, a laje e o novo era feita de modo mais solto… David ficou encantado piso necessários ao projeto. Construíamos algo para com a escala e assustado com a loucura de toda os donos, mas que não nos era relevante, e ainda a situação. Como ainda não havia arquitetura, custava um terço do capital disponível. discutimos dinheiro. Paradoxalmente, por se propor a para ser tão Também entra em pauta o momento de devolução econômica, cortando mão de obra e materiais, a da casa, e a possibilidade de meus amigos seguirem obra nunca se importou explicitamente com dinheiro. alugando o espaço. Qual era o sentido de conectar Orçamentos prévios não foram feitos, tampouco uma varanda, um banheiro e um mezanino a uma estudos de viabilidade da casa uma vez pronta. A sala de atendimento que seria utilizada por Iago? Os ausência nunca incomodou Naia (que não orça as grandes espaços significavam maiores custos futuros obras de sua casa) ou Nivaldo, a faculdade como um – poderiam ‘gentrificar’ meus amigos. todo não considerava o fator custo. David apresentava uma inteligência nova, mas essencial ao trabalho de arquitetura no limite. 86

ECONOMIA DA UTOPIA


O acordo de troca com os proprietários, no caso do alborde, se baseava não em um projeto, mas em um plano de rentabilidade dos aluguéis. A troca se estrutura também de modo mais fechado – alborde ganha aluguel não só pela obra, mas por sua contribuição em projetos e materiais, contabilizada em tabelas complexas.

Casa en Construcción

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reabrir vรฃo de janela e acessar varanda sobre a cozinha coletiva (comer juntos)

SALA DE FALA + DUPLEX

banheirp duplex 3.60m2

varanda duplex e pequenos shows 7.80m2 rua+4.63

Base duplex 12.37m2 rua+4.63

lavabo 1.12m2

sala de fala 10.76m2 rua+4.63

Apรณs David, divisรณria (complicada por precisar ser leve e acusticamente isolada) permite operar sala de atendimento e apartamento separadamente.


Antes da visita de David, um Ăşnico apartamento/ sala de atendimento com varanda de 47.67m2

Base duplex 12.37m2 rua+4.63

89


mezanino duplex +7.10

hall +4.63

espera +4.63

corte BB

banheiro +4.62

90

corte AA

circulação +4.62

sala de fala +4.63


Dilema de escala: talvez a sala de fala fique muito pequena com a divisão (única maneira de acessar a varanda.

Estudo para reforço do piso de madeira sem o uso de peças inteira no intervão (não possumos as mesmas).

Estudo para piso do deck utilizando restos de madeira existentes.

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O 53, quando comparado a modelos tradicionais de em atividades que ou estavam além de nossas experimentação. O 53 começa a ser planejavel. O construção, inevitavelmente é barato. Ainda assim, possibilidades, ou envolveram gastos com materiais ano 1 não é um sucesso econômico, ainda que me na proporção de sua economia – aproximadamente e serviços – cimento, areia, brita, bota-fora – que não pareça difícil pensar o que o seria... R$10.000,00 economizados para os primeiros R$ sao economizáveis através do superuso. Com lajes e 25.000,00 gastos, desconsiderando o custo de lastros feitos, além de grande parte das demolições, projetos complementares e a aprovação de um um novo ano de obra viria com o aprendizado das projeto na prefeitura o sonho de completar a casa finalizações – a organização elétrica ainda será uma com R$36.000,00 (aos quais se desconta o gasto pedra no caminho – trabalho onde a economia se de 3.000,00 com IPTU dos três anos de uso) é uma torna mais palpável. realidade distante. Mesmo que outros investimentos – por nós, pelos donos, ou pela própria casa – Para os donos, qualquer expectativa de retorno aconteçam, uma obra ideal neste modelo teria de depende de uma continuidade ao processo da alcançar uma economia mais extrema.

obra nos quatro anos de uso – infelizmente, não conseguimos finalizar um espaço a ser locado por

Não alcançamos a meta do Alborde. Segundo o eles. A obra se espalhou excessivamente, intervindo pavilhão “Recursos Oscuros” na Bienal de Veneza, em todos os espaços sem finalização. Executar uma a obra da Casa en Construcción custa em média cinta de concreto na cozinha para o futuro deck 110,88 R$/m2. O padrão popular de construção no da varanda, agora me parece um erro no timing estado (SINDUSCON-BA), 12/2017) é de 1457,57R$/ da obra. Terminar o espaço da galeria-loja com os m2. Seguindo esses nortes, o custo total da obra R$36.000 e esperar sua locação para viabilizar o resto do 53 se encaixaria entre R$28.743,97 (ref. Al da obra – sugestão de um dos proprietários – teria Borde) e R$380.571.527 (ref. SINDUSCON-BA), ainda sido um erro ainda maior. Ter uma casa finalizada que ambos os valores sejam abstratos – o estado da infraestruturalmente, ainda que com pouco dinheiro Casa en Construcción anterior à intervenção parece, restante, me permite um otimismo lógico – há muito em fotos, melhor que o do 53. O Equador é um país o que fazer que não custa dinheiro. infinitamente mais barato que o Brasil, e o modelo CUB não se aplica a reformas.

Temos um orçamento futuro do que os próximos serviços 53 custariam, segundo uma obra formal,

Ao mesmo tempo, o prognóstico da casa é positivo. temos um projeto ‘final’ em sua maior parte. Temos Os grandes gastos do 53 – ano 1– estão locados uma experiência onde apoiar a nova onda de 92

CUSTOS


As áreas comuns podem ser rentáveis através de eventos

21/01/2018 Um total de 1509 horas de trabalho haviam acontecido na obra. Eu e Ivan passamos de 200 horas. Outros Membros do 53 equipe A giram entre 80 e 20 horas. Amigos pontuais geralmente ajudaram com 3 a 10 horas. A análise visual da tabela mostra a volatilidade dos membros. Em uma semana, pedreiros contratados cumprem 48h de obra – a maioria dos pedreiros e da mão de obra contrada é mais presente do que os membros da Equipe – explicitando que o problema dos cronogramas não se dá apenas em inexperiência, mas na quantidade de tempo bruto investido. Somos uma obra de fim de semana.

Em nossos anos de uso, poderíamos sublocar um ou mais espaços para viabilizar o resto da obra. A sala de fala poderia locar horários, ou outros tipos de locação não-mensais. Para os proprietários, uma vez pronta, a obra poderia gerar R$ 53.400 por ano, pagando o capital investido em pouco tempo.

Orçamento comparativo de serviços executados no 53 SINAPI (03/2017) x gasto efetivo de obra. Em azul serviços ainda não executados. Para o valor gasto em 21/01/2018 (R$ 23.167.93) seriam necessários R$ 34.457.35 (valor não inclui a execução de projetos de nenhum tipo).

21/01/2018 Custos de obra Ferramentas, um gasto expressivo, estão inclusas nos materiais

93


USA-SE duplex com varanda sublocar sala de movimento aulas, cursos...

galeria

94

sala de fala constultรณrio de psicologia

eventos, e em algum momento um coworking

marcenaria


duplex com varanda 35.59m2 apartamento frente 37.00m2

loja 39.63m2

sala de atendimento 10.76m2 (lavabo externo)

coworking 20.52m2 (lavabo externo)

apartamento fundo Area:38.76 m2

ALUGA-SE

95


USA-SE 1:100

D mezanino galeria 8.73m2 rua+3.23

A

B

banheiro galeria 3.69m2 rua+3.23

Planta baixa mezaninos

D

tĂŠrreo galeria 24.60m2 rua+0.20

A

acesso 6.22m2 rua+0.20

B

Planta baixa tĂŠrreo

96

claraboia 14.66m2 rua+1.09

corredor 14.66m2 rua+1.10

trabalhar juntos 11.94m2 rua+1.10

Comer juntos 11.94m2 rua+1.10

aulas, eventos e outras coisas cobertas 11.94m2 rua+1.10

aulas, eventos e outras coisas descobertas 27.07m2 rua+1.09


D

A

mezanino marcenaria 5.76m2 rua+3.07

depĂłsito que vira horta 8.68m2 rua+0.44

B

rua+0.86 banheiro alto 4.38m2 rua+1.26

D

A

tĂŠrreo marcenaria 28.33m2 rua+0.49

B

97


mezanino duplex 13.66m2 rua+7.10

A

A

B

B

Planta baixa mezanino duplex

Base duplex 15.95m2 rua+4.63 A

sala de movimento 37.00m2 rua+5.64

hall 5.71m2 rua+4.63

B

Planta baixa primeiro pavimento

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lavabo 1.10m2 sala de fala 14.35m2 rua+4.63


A

B

99


mezanino duplex +7.10

sala de movimento +5.64 Base duplex +4.63

sala de fala +4.63

mezanino galeria +3.23

trabalhar juntos +1.10

“carros� +0.00 Corte AA

100

tĂŠrreo galeria +0.20

aulas, eventos e outras coisas cobertas +1.10


estudos de clarabĂłia ainda nĂŁo resolvida

+3.07 banheiro alto marcenaria Comer juntos +1.10

+1.26 +0.49

101


reservatรณrios +8.68

mezanino duplex +7.10

sala de movimento +5.64 hall +4.63

sala de fala +4.63

banheiro galeria +3.23

corredor +1.10 acesso +0.20 Corte BB

102

aulas, eventos e outras coisas cobertas +1.10


+3.07

marcenaria

aulas, eventos e outras coisas descobertas +0.44

+0.49

103


SALA DE MOVIMENTO

restos de porcelanato em grande formato. trabalhar com tiras de 50cm tabuado antigo, L=200mm

bancada de alumínio ou o que ocorrer

piso em azulejo hidráulico, renovado com lixa e resina a bas d’água.

sala de movimento 37.00m2 rua+5.64

B

janela ilegal acima da fachada do burlesque planta baixa

104

1

2

3

4

5

B


telhado em bom estado, novo, executado nos últimos 7 anos pelos proprietários para preservar estado da casa

fechamento em grade, permitindo ventilação cruzada. abertura alta para clarabóia sobre escada (corte AA) permitindo ventilação chaminé

divisória de banheiro utilizando janelas reaproveitadas (referência casa 43 mouraria).

escada pivotante para permitir acesso de depósito no desvão entre laje e piso de madeira original

corte BB remoção de piso de madeira no espaço da galeria permite renovar piso do resto da casa com as melhores peças.

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GALERIA

D

D

térreo galeria 24.60m2 rua+0.20

acesso 6.22m2 rua+0.20

planta baixa térreo

Para não sobrecarregar alvenarias, mezanino se apoia em parede adjacente, construida por nós. Essa parede também facilita a nova instalção elétrica.

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corredor 14.66m2 rua+1.10


D

D

mezanino galeria 8.73m2 rua+3.23

banheiro galeria 3.69m2 rua+3.23

planta baixa mezanino

pendurar algo nesse vazio.

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aproveitar escada como vista a partir dessa porta, desistir da estante

mezanino galeria +3.23

claraboia +1.09 corte DD

tĂŠrreo galeria +0.20

corte CC

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‘carros’ +0.00


fachada original

fachada projeto

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MARCENARIA Caixa de gordura embutida em degráu de acesso ao box

cozinha do apartamento (aluga-se)

quadro dimensionado para marcenaria e apartamento.

rua+0.86 banheiro alto 4.38m2 rua+1.26

A

A térreo marcenaria 28.33m2 rua+0.49

térreo marcenaria

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A

A

mezanino marcenaria 5.76m2 rua+3.07

mezanino marcenaria

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treliรงa de pisos e caibros reaproveitados

desenho da cobertura antes de evento da bagum.

Box de reike de varanda existentes na casa, estruturado por peรงa de tijolos armados algo que funcione como estante e escada de acesso ao mezanino

corte AA

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tabuado de madeira, duplo, aproveitado da remocão do piso da laje.

bambus retirados da canalização do rio jaguaribe

caibros reaproveitados do antigo forro de pvc do 53

parafusos 5/16”

detalhe treliça de sustentação coberturas+mezanino 1:20

113


Ideia para uma estrutura de reforรงo da parede de adobe que sustenta a varanda do duplex

Estudo de corte (comer juntos)

estantes e bancadas sobre tubo, em parte exposta do sistema sanitรกrio.

trecho de alvenaria removido para aumentar uniรฃo entre espaรงos

Comer juntos 11.04m2 rua+0.49 Onde o piso havia cedido, um deck permite a trenagem da รกrea descoberta

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Grade separando cortiço da varanda do 53

FUNDO FESTA

Janelas que servem de balcĂŁo de atendimento com esquadrias reaproveitadas

Chegar a escada pra frente permite mais uma janela de atendimento e organizar melhor os fluxo dos eventos.

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O 53 para mim – e para alguns amigos arquitetos – exemplo, um cenário onde cada um exercesse sua adeque a qualidade de protótipo, modelo para foi a criação de uma faculdade onde ela não existia, profissão independente – advogados, arquitetos, uma futura carreira de arquitetura ou para um uma ideia que me permitiu extrair conhecimento, designers, psicólogos... – e investisse parte de seu centro histórico com diversos imóveis abandonados. existente, mais que não era passado pelos professores. rendimento na casa. Ainda que possível, a realidade Ainda que a casa trate de algumas questões gerais, Uma maneira de explorar a capacidade projetual de dificilmente se concretizaria, a distância entre sonhos, questionando especialmente um modelo de ensino Naia e Moacyr mesmo após o fechamento do sete43. a heterogeneidade da equipe… Não haveria ‘pra tradicional, com o tempo, parei gradualmente de A possibilidade de conseguir para mim uma obra que’. A obra é o ‘pra que’ do 53, o processo que une falar do 53 em termos dos problemas universais e real, que em um ambiente formal resultaria no total e viabiliza a si mesma em tempos de crise – para nós passei a tratar do que começou a me parecer mais desperdício de materiais, mão de obra e dinheiro, e para os donos. O 53 vale a pena porque existe, importante, eu, meus amigos, o processo de habitar mas que num casarão abandonado, sem capital nem frente à irrealidade de outras alternativas. vontade para ação – era a única esperança. Em termos da irrealidade das alternativas, um bom Talvez esse seja o maior valor do 53, criar esperança exemplo é a proposta formal. A aprovação de um dentro de um ambiente falido (de maneira capital projeto frente à prefeitura teria provavelmente e subjetiva). Em sua última visita ao casarão, Naia levado o quase mesmo tempo de nossa experiência. se propõe a financiar a finalização da reforma do Resultaria em um desencontro total entre programa apartamento das três janelas (sala de movimento, e reais necessidades, entre a realidade estrutural acima da laje) com seu próprio dinheiro, fora da da casa e as soluções propostas, entre um projeto troca com os donos – Alan, interessado em mudar-se fechado e uma possibilidade de economia com para o centro, também se dispôs a adiantar alguns materiais existentes. Mesmo nosso alvará de reparos aluguéis. Quando Seu Antônio veio nos ajudar com gerais – que não exigiu projeto ou responsável a escada, Iago se mostrou interessado em pagar as técnico– em sua duração de 6 meses exigiria um novas esquadrias de sua futura sala de atendimento gasto de aprovação contínua considerando o ritmo – com material da casa, mas com a velocidade de seu de construção – vinte reais na maioria da cidade, de Antônio. Por um lado, isso fala da lentidão da obra em quatrocentos a oitocentos reais para os imóveis no relação às expectativas, por outro, fala da existência centro antigo por conta do IPHAN. de expectativas onde elas nunca existiram. A experiência na casa é única, a improbabilidade A rigor, a obra não é a atividade mais produtiva de todas as parcelas – donos, amigos, materiais, para nenhum de nós. Poderíamos imaginar, por dinheiro, experiências – faz com que ela não se 116

um espaço.


53 Delírio coletivo, possibilidade na impossibilidade Ruína física, palácio subjetivo Formal e informal, acadêmico e antiacadêmico, certo e errado Certo através do errado Caixa de amigos antigos, onde conservam-se as amizades quando o contato da faculdade deixa de existir Laboratório de amigos novos, contato com outras experiências e inteligências Midas por coletividade, potencializando sonhos individuais em conquistas coletivas Físico, em época de vícios digitais Prático, em tempo de esforços teóricos Possibilidade de experimentação, aprender por troca, sentir-se aluno e professor A exploração máxima de uma rede – alunos, amigos, professores, arquitetos e parentes Criação de memórias, histórias para contar aos netos, paqueras, amizades, tragédias e arte Espaço onde a vida, de certa forma, acontece.

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