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4 Euros · 5 USD

angola-portugal

Trim | Abril•Maio•JUnho 2013 | Nº 94

Programa de deslocalização industrial Governo angolano dá luz verde Regresso do Atlântico sul Benguela, porta de entrada de África Novo Website A revista Angola Portugal Negócios está online

Embaixador José Marcos Barrica

Parceria Angola-Portugal

é estratégica


Oferecemos Conforto com qualidade

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Editorial A Balança Comercial entre Portugal e Angola apresentava no final de Fevereiro um saldo favorável a Angola em 25,5 milhões de Euros. Este dado não é um pormenor de somenos importância. Reflecte bem a dinâmica de crescimento dos fluxos de Angola para Portugal, em especial sabendo-se que as exportações portuguesas para aquele mercado também cresceram em relação ao período homólogo (14,1%). Todos sabemos que as exportações de petróleo bruto são as que mais pesam no total. E então? Ajuda, e muito, a que este equilíbrio se mantenha e reforce, assegurando a sustentabilidade da consolidação das relações entre os dois países. Os investimentos feitos em Portugal, nas refinarias da Galp Energia, são exemplo do contributo para este reforço. As relações entre os dois países podem melhorar? Sim, sempre. Há sempre mais e melhor a fazer para melhorar as relações comerciais e de investimento bilaterais. Ambos os países têm de reduzir burocracia que pende sobre as empresas importadoras e exportadoras, por forma a evitar custos desnecessários e facilitar o cumprimento dos prazos de entrega dos bens junto dos clientes. As inspecções, análises e outros controlos necessários, e tão importantes para a segurança e saúde pública, têm de ter custos razoáveis e, acima de tudo, têm de ser feitos em prazos adequados. Este tema, tão urgente para as empresas angolanas importadoras como para as empresas exportadoras do mundo inteiro, está no centro das atenções das autoridades do país, que procuram melhorar e acelerar os processos actualmente existentes. Portugal, sendo um dos principais parceiros comerciais, é também um dos principais interessados em que estes processos melhorem e se tornem mais céleres. A CCIPA continua a defender os investimentos portugueses em Angola e os investimentos angolanos em Portugal e, sobretudo, congratula-se por constatar que os empresários e empresas portuguesas consideram cada vez mais Angola no seu todo e não somente pela sua capital. As diversas províncias de Angola, de Norte a Sul, do Oeste ao Leste, vivem tempos de grande dinamismo, fruto dos investimentos públicos em infra-estruturas básicas, económicas e sociais essenciais à fixação dos investimentos privados e à criação de postos de trabalho. É a certeza de que existem muitos objectivos comuns a explorar e a desenvolver que está a dar origem a novas parcerias entre angolanos e portugueses. O sucesso nunca está garantido, mas o potencial está lá e com muito trabalho, um bom plano de negócios e suporte financeiro, inovação e qualidade, estará percorrido meio caminho para o sucesso.

Relações comerciais e de investimento

sólidas

“As relações entre os dois países podem melhorar? Sim, sempre. Há sempre mais e melhor a fazer para melhorar as relações comerciais e de investimento bilaterais.” # Carlos Bayan Ferreira, presidente da CCIPA revista angola-portugal negócios Abril • Maio • Junho 2013 • Nº 94

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Índice

CÂMARA DE COMÉRCIO E INDÚSTRIA PORTUGAL-ANGOLA

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Portugal Edíficio Luxor, Avenida da República, 101 - 3º, Sala D, 1050-204 Lisboa tel.: [+351] 213 940 133 fax: [+ 351] 213 950 847 ccipa@cciportugal-angola.pt Angola Edifício Monumental, Rua Major Kanhangulo, 290 - 1º Dto, Luanda tel.: [+ 244] 924 918 149 www.cciportugal-angola.pt

em destaque

Entrevista Embaixador José Marcos Barrica fala das relações entre

Angola e Portugal e da primeira cimeira bilateral que está a ser preparada e que irá ocorrer em Luanda. P06

Programa de Deslocalização de Empresas para Angola entrou na fase de arranque. Portugal, Espanha e Itália são os países abrangidos. P10

Regresso do Atlântico sul Benguela proporciona uma oportunidade estratégica para Angola desenvolver a sua influência regional e internacional, através de uma lógica integrada de acessibilidades e logística. P14

Tema de Capa 06 Entrevista ao Embaixador de Angola em Portugal 10 Programa de deslocalização em fase de arranque

Conjuntura 14 O regresso do Atlântico Sul 18 Estudo KPMG – Responsabilidade Social 22 Habitação com novas metas 26 Porque água é vida! Economia 28 Tempo de investir na diversificação 31 A resiliência africana 34 Opinião: Novo regime cambial para o sector petrolífero

Rua Joaquim Bonifácio, 21 - 5º 1150-195 Lisboa tel.: [+351] 213 584 460 fax: [+351] 213 584 461 editando@editando.pt | www.editando.pt

Revista ANGOLA-PORTUGAL NEGÓCIOS

deslocalização industrial Conjuntura

EDITANDO – Edição e Comunicação, Lda.

Vida Empresarial 36 Grupo Cabeto 38 Delta Cafés 40 SINFIC 42 Insizium 44 Breves empresariais Sociedade 47 O empoderamento da mulher angolana 50 Inspiração na Welwitschia Cultura 52 Notícias Dá que falar 54 Angola na rota dos grandes eventos desportivos Informação CCIPA 59 Novos associados, legislação, entre outros

Director Carlos Bayan Ferreira Director Executivo João Luís Traça Coordenação Editorial Cristina Casaleiro e Manuela Sousa Guerreiro Redacção Andreia Seguro Sanches, Manuela Sousa Guerreiro, Fátima Azevedo e Paula Girão Design e Paginação Filipa Andersen e Vasco Costa Directora Comercial Maria do Carmo Santos Publicidade Cristina Lopes e Isabel do Carmo Fotografia Editando; Bruno Barata; JáImagens; Embaixada da República de Angola; DR Impressão IDG - Imagem Digital Gráfica Periodicidade Trimestral Distribuição Gratuita aos sócios da CCIPA, entidades oficiais e empresariais em Angola e Portugal É interdita a reprodução total ou parcial por quaisquer meios de textos, fotos e ilustrações sem a expressa autorização do editor Registo 114257 > Tiragem 5000 NIPC 501910590 Depósito Legal 60018 ⁄ 93

Propriedade Edição, redacção, paginação e produção gráfica e publicidade Apoio institucional

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A abrir

Mudança no Executivo O Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, exonerou os ministros das Finanças, Carlos Alberto Lopes, e da Construção, Fernando Fonseca. Armando Manuel, até agora secretário do Presidente da República para o Assuntos Económicos, assumiu a pasta das Finanças. Por sua vez, Waldemar Pires Alexandre é o novo ministro da Construção de Angola. Sérgio de Sousa Mendes dos Santos assumiu a Secretaria do Presidente da República para os Assuntos Económicos. As mudanças do Executivo estenderam-se também aos Governos Provinciais. Nesse sentido, Eduardo dos Santos exonerou Armando da Cruz Neto do cargo de governador da província de Benguela, tendo sido nomeado Isaac Francisco Maria dos Anjos, até agora governador da província do Namibe. Rui Lopes Pinto de Andrade é o novo governador da província do Namibe. O Presidente da República nomeou, igualmente, Manuel da Cruz Neto para secretário-geral do Presidente da República; Domingos Manuel Eduardo para o cargo de vice–governador da província de Malanje para o Sector Económico; Gabriel Domingos António Pontes para o posto de vice-governador da província de Malanje para os Serviços Técnicos e de Infra-estruturas; e Manuel Campos para o cargo de vice-governador da província de Malanje para o Sector Político e Social. José Alberto Puna Zau é o novo director do Gabinete Técnico de Coordenação da Requalificação e Reconversão Urbana do Perímetro Costeiro Demarcado da cidade de Luanda e José Chinjamba assumiu o cargo de administrador do conselho de administração da Agência Nacional de Investimento Privado. Armando Manuel é o novo ministro das Finanças da Angola

AFIF 2013 com forte presença angolana A edição de 2013 do Africa Finance & Investement Fórum (AFIF) irá decorrer de 13 a 14 de Junho, na Suíça. O evento é organizado em estreita colaboração com o Banco Mundial – IFC, o Banco Afreximbank e com a Associação Industrial de Angola. Entre as organizações internacionais confirmadas, destaque ainda para o Ecobank, as Agências das Nações Unidas para a promoção do comércio UNCTAD (United Nations Conference for Trade & Development) e o ITC (International Trade Center). O AFIF 2013 incidirá sobre o tema “Promoção de Trocas Comerciais para o Crescimento e Desenvolvimento”. O fórum vai reunir centenas de empresários interessados na obtenção de financiamento para projectos e busca de parcerias, bem como decisores políticos, financiadores, investidores e banqueiros que procuram boas oportunidades de investimento. À semelhança de outros anos, Angola deverá ser um dos países africanos com maior delegação empresarial.

Mercado segurador em crescimento A subscrição de seguros quase duplicou em seis anos, sobretudo devido à aplicação da Lei Geral da Actividade Seguradora. Entre 2004 e 2010 o mercado cresceu 185 por cento, dando lugar, em 2011, a um volume de seguros não vida avaliado em aproxi-

madamente 90 mil milhões de kwanzas. A informação foi prestada pelo presidente do Conselho de Administração da Universal Seguros, Magalhães Correia. “As perspectivas continuam promissoras. Estima-se que o mercado de seguros cresça em média cerca

de 15 por cento entre 2012 e 2019 devido à retoma da economia, ao aumento da população e do poder de compra e à crescente sensibilidade das pessoas e das empresas sobre a necessidade de ter seguro”, referiu o responsável.

inflação 9,11%

importações 6,87%

Reservas 3,22 triliões AKZ

Taxa de inflação fixada em Março, em Angola. A maior variação verificou-se na classe de “Alimentação e Bebidas Não Alcoólicas”.

Aumento registado das importações de Angola no primeiro trimestre de 2013.

É o valor das reservas internacionais líquidas de Angola, em 2012.

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A ‘Negócios’ online A revista Angola Portugal Negócios está acessível online através do endereço www.angolaportugalnegocios. pt. O lançamento do website da revista da Câmara de Comércio e Indústria Portugal Angola enquadra-se na celebração do 25º aniversário da Instituição e visa ampliar o acesso do público aos conteúdos e informação de carácter económico, empresarial e cultural que a ‘Angola Portugal Negócios’ disponibiliza gratuita e trimestralmente a todos os associados e a milhares de leitores há mais de vinte anos. Isenção, rigor e informação são três das características que fizeram da revista ‘Angola Portugal Negócios’ aquilo que é hoje, uma publicação credível e respeitada por instituições e empresas em ambos os países.

Angola assume presidência do Conselho de Paz e Segurança da U.A. A República de Angola assume em Maio, em Addis Abeba (Etiópia), a Presidência do Conselho de Paz e Segurança da União Africana. Segundo o comunicado, os Trabalhos da Presidência angolana serão dirigidos pelo Embaixador Representante Permanente, Arcanjo Maria do Nascimento. Nesta altura, as atenções da União Africana estão voltadas para o Mali e para a República Centro Africana, na sequência das mudanças de governos operadas nestes países, bem como para a busca de soluções para o leste da República Democrática do Congo depois da assinatura dos acordos de Paz e para o respeito dos acordos entre o Sudão e Sudão do Sul.

24 milhões de euros para projectos do Fundo de Apoio Social O Governo de Angola e a União Europeia (UE) assinaram, em Abril, um novo acordo de cooperação financeira, que prevê a concessão, por parte da UE, de cerca de três biliões e 735 milhões de kwanzas (24 milhões de euros) para o suporte das acções previstas da quarta fase do Fundo de Apoio Social (FAS IV). Este valor deverá ser usado na construção de mais infra-estruturas sociais (escolas, clínicas, mercados e fontes de abastecimento de água potável) nas áreas rurais do país, na criação de oportunidades de negócios para os angolanos e na melhoria da qualidade de vida das populações nas 18 províncias do país. Esta doação do Fundo Europeu de Desenvolvimento da UE junta-se a um montante de um fundo comum, que inclui um empréstimo do Banco Mundial (BM) e uma contribuição do Governo de Angola, perfazendo um total de 17 biliões e 56 milhões e 500 mil kwanzas (136,2 milhões de euros), para os projectos do Fundo de Apoio Social.

Fitch classifica Angola com ‘BB –‘ A agência de notação de risco Fitch Ratings (Fitch) classificou o rating de Angola, como emissor de moeda (IDRs), em ‘BB -‘, mantendo a perspectiva positiva. Segundo a Fitch, o rating de Angola reflecte diversos factores, nomeadamente a redução da vulnerabilidade externa, decorrente de políticas económicas prudentes que ajudaram o país a reconstruir e a fortalecer as contas públicas e externas, tornando-o menos vulnerável a um choque adverso do preço do petróleo.

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“É preciso harmonizar as leis de investimento na CPLP. Só assim será um espaço comum”, Murade Murargy, Secretário Executivo da CPLP, in Lusa “O apoio ao empreendedor em termos de formação é importante, porque a classe empresarial não tem quadros, não tem bons gestores para darem seguimento aos negócios em matéria de contabilidade e plano de negócio. Os empreendedores não devem confiar apenas na sorte, mas naquilo que o mercado requer”, Abrahão Gourgel, ministro da Economia, in Jornal de Angola “Nós, no seio da organização (OPEP), temos vindo a defender um preço acima dos cem dólares, o que satisfaz os países consumidores”, Botelho de Vasconcelos, ministro dos Petróleos, in Angop “É chegada a altura de, com a estabilidade que o país tem, com os indicadores macroeconómicos bastante favoráveis, dar um salto. Devemos criar condições para que os finalistas dos cursos médio e superior do nosso sistema de ensino, quer público, quer privado, possam ter um espaço para aprender e desenvolver um negócio de modo sustentável”, Pitra Neto, ministro da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social, in Jornal de Angola 5N


Tema de Capa Entrevista a José Marcos Barrica, Embaixador de Angola em Portugal

Angola-Portugal

Relações estratégicas T Manuela Sousa Guerreiro F José Luís Espírito Santo/Embaixada da República de Angola em Portugal

No segundo semestre deste ano Angola e Portugal vão reunir-se ao mais alto nível, em Luanda. A agenda da primeira cimeira bilateral está em preparação e deverá ser dominada por questões económicas. Para José Marcos Barrica, Embaixador de Angola em Portugal, o encontro não podia ser mais oportuno. Na opinião do diplomata, este é também o momento certo para os dois países passarem em revista “o estado das relações político-diplomáticas e de perspectivarem novas áreas e mecanismos de cooperação”, referiu em entrevista à Negócios.

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Como analisa as relações entre Angola e Portugal? Continuo a julgar bastante positivas as relações entre Angola e Portugal nos mais variados domínios em que elas se estabelecem. É desejável que este nível seja mantido e melhorado cada vez mais, no interesse de ambos os países e povos. Como sabe, as relações de cooperação existentes entre Angola e Portugal são estratégicas. É por isso que as Autoridades angolanas entendem e advogam que todas as situações susceptíveis de criar um clima de desconforto e de crispação nestas relações devem ser evitadas ou desencorajadas, no âmbito das competências e responsabilidades dos Estados cooperantes. Portugal e Angola estão a preparar uma cimeira bilateral. Que importância atribui a este encontro, face ao contexto actual das relações entre os dois Estados? A iniciativa de realizar esta Cimeira bilateral merece realmente aplausos, atendendo ao grau e à intensidade de relações multifacetadas existentes entre ambos os países. O evento está em preparação mas posso considerar, desde logo, que vai ser um momento e um espaço soberanos, para que ambos passem em revista o estado das relações político-diplomáticas e de cooperação, bem como perspectivar novas áreas e mecanismos de cooperação, no contexto da nova realidade socio-ecónomica dos dois países. Já estão exactamente definidos o local e a data desta Cimeira bilateral? Vai ter lugar em Luanda e foi aprazada para o segundo semestre de 2013. Que papel podem e devem desempenhar entidades como a Câmara de Comércio e Indústria Portugal Angola (CCIPA) no reforço das relações bilaterais? É minha convicção de que, a par das institucionais ou governamentais, as relações existentes entre Portugal e Angola são também relações entre entidades particulares ou privadas; antes de mais são relações entre as suas gentes e povos. Deste ponto de vista, fazendo jus à sua experiência de cerca de 25 anos de existência, a CCIPA pode e deve continuar a incentivar as empresas e investidores a intervirem com audácia nos mercados de ambos os países, explorando melhor o quadro político, jurídico-institucional, assim como os conhecimentos,

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experiências, potencialidades e oportunidades disponíveis de um e do outro lado. Fazendo-o, estarão as associadas da CCIPA a participar no reforço das relações bilaterais, por via da intensificação dos negócios empresariais e consequente crescimento e desenvolvimento das economias dos dois países.

Importância de Portugal é inquestionável Qual é a importância de Portugal no contexto da internacionalização da economia angolana? É inquestionável. Portugal pertence a um bloco económico mundial muito importante e fundamental que é a União Europeia; tem lições estudadas e aprendidas no mundo empresarial e de negócios; tem um capital humano, técnico e cognitivo assina-

“são os portugueses que acreditam e investem naturalmente e com grande sucesso em Angola que eu gostaria de saudar aqui (...) Tal como os angolanos, esses portugueses sabem que para se atingir a plenitude há ainda um caminho longo a percorrer.” lável. Portanto, num quadro de cooperação, Portugal tem condições de ajudar a promover as empresas angolanas para se afirmarem no mundo. Por outro lado, atento às dinâmicas e à interdependência das economias nacionais, devido à sua posição geoestratégica e potencial económico, Angola pode servir de porta de entrada para Portugal continuar a “descobrir novos mundos” de expansão das suas empresas e negócios. Considera que os empresários portugueses têm presente um retrato actual da economia e da sociedade angolana? Não vejo, sinceramente, razões fundamentadas que justificariam ainda um tal desconhecimento. A realidade económica

e social angolana pode ser conhecida por qualquer um que o deseja, dado a presença, nos dias de hoje, de meios e mecanismos para obter informações e adquirir conhecimentos. Neste caso, quanto mais e melhor nos conhecermos, mais fáceis e menos hesitantes se tornarão os passos a dar. Exorcizam-se fantasmas, dirimem-se estigmas, desconfianças, receios e cria-se um clima propício para um investimento sustentado. Não posso deixar de referir alguns laivos de cepticismo sobre Angola, ainda reinantes nalguns círculos de interesses em Portugal... Mas são os portugueses que acreditam e investem naturalmente e com grande sucesso em Angola que eu gostaria de saudar aqui. Vivendo lado a lado com os angolanos as dificuldades e constrangimentos próprios de uma sociedade resgatada recentemente duma situação de prolongada guerra, esses portugueses estão, certamente, em boas condições para explicar como pode um país, a partir dos destroços, construir progressivamente uma vida nova; como da incerteza se faz germinar a esperança. Tal como os angolanos, esses portugueses sabem que para se atingir a plenitude há ainda um caminho longo a percorrer. Também sabem dos objectivos claros e do rumo apontado por Angola para o seu desenvolvimento até 2025; por isso, tal como os angolanos, eles estão revestidos de confiança e vão continuar a multiplicar os seus negócios e rendimentos, fruto do trabalho próprio abnegado. De notar que, por razões óbvias, estribadas na nossa História secular e outras afinidades como a linguística, os portugueses têm um lugar privilegiado em Angola, assim como os seus produtos e serviços são francamente apreciados. E mais, a sociedade angolana é plural, de gente pacífica, hospitaleira, que sabe cantar no momento de chorar, gente alegre que acredita no futuro. Que recomendações o Senhor Embaixador faria aos empresários portugueses que querem investir em Angola? Se algo mais se deve dizer aos empresários portugueses, seria tão só relembrar que o mercado angolano vasto e diversificado está aberto ao investimento estrangeiro. Estamos no processo da diversificação da base produtiva nacional, descartando a dependência ao petróleo. Há, por isso, a implementação de uma nova estratégia de desenvolvimento económico assente na priorização da economia não petrolífera,

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Tema de Capa conferindo um papel mais relevante a outras áreas de que o país, em toda a sua extensão territorial, dispõe de um grande potencial. Refiro-me à agricultura, pecuária, pescas e às indústrias transformadoras a elas associadas. Refiro-me também à construção e imobiliária, energia eléctrica e água; refiro-me aos transportes e redes de distribuição e circulação mercantil, prestação de serviços de qualidade, entre outras. Talvez valha também relembrar a existência de um quadro jurídico que não só promove ou incentiva o investimento estrangeiro directo, como defende e protege os investimentos e respectivos investidores. Para qualquer informação sobre como investir em Angola recomendo contactar, entre outras fontes, as instituições oficiais do Estado angolano, nomeadamente a Representação Comercial da Embaixada. A crise que se vive em Portugal aumentou a emissão do número de vistos junto dos Consulados? O ‘dossiê dos Vistos’ ficou ultrapassado com o Acordo de Facilitação assinado em 2011? Sim, nos últimos anos há um significativo aumento do número de solicitações de vistos junto dos nossos três Consulados implantados em território português. As emissões de vistos ocorrem na proporção directa das solicitações. Acho que os vistos de trabalho e os de curta duração têm sido os mais solicitados. O Protocolo Sobre Facilitação de Vistos rubricado em 2011 pelos respectivos Governos veio criar uma boa base no reforço da mobilidade dos cidadãos dos dois países, mormente aos destinatários deste Protocolo. A sua implementação está em curso. É natural haver este ou aquele constrangimento, mas nada que não possa ser ultrapassado. Existem pontos focais que ajudam, a todo o instante, a operacionalizar o instrumento jurídico.

Uma praça diplomática forte Qual o número de diplomatas/funcionários da Representação Diplomática de Angola em Portugal? Em que pontos do país estão presentes? A Representação Diplomática de Angola neste país tem o número de diplomatas e de funcionários compatível com a categoria e responsabilidades desta Missão. Todos os diplomatas, como é óbvio, e alguns funcionários são de nomeação central; sendo a maior parte dos funcionários de recrutamento local. Para além da Embaixada

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“a CCIPA pode e deve continuar a incentivar as empresas e investidores a intervirem com audácia nos mercados de ambos os países, explorando melhor o quadro político, jurídico-institucional, assim como os conhecimentos, experiências, potencialidades e oportunidades disponíveis de um e do outro lado.” instalada em Lisboa, existem Consulados-Gerais em Faro, Lisboa e Porto, com estruturas orgânicas próprias e missões específicas, mormente o trabalho com e para as comunidades angolanas. Que balanço faz da actividade e que perspectivas tem para 2013? Julgo que o balanço é positivo. Actuamos na estrita observância das convenções in-

ternacionais relativas à nossa actividade, no escrupuloso respeito das leis do Estado e das Autoridades do país que nos acolhe e no cumprimento das superiores orientações do Estado que representamos. Temos tentado cobrir todas as vertentes da nossa missão, desde a intervenção político-diplomática, diplomacia económica, cultural e até pública. Com o nosso trabalho queremos que os portugueses, e não só,

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Angola atenta à emigração ilegal O protocolo sobre facilitação de vistos assinado em 2011 pelos ministros dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Portas, e das Relações Externas de Angola, Jorge Chicoti, pôs fim ao dossiê mais mediático, e problemático, das relações entre os dois países. Contudo, alguns problemas continuam a subsistir, um deles está relacionado com a emissão dos vistos de trabalho. De acordo com o protocolo assinado entre os dois Estados, o visto de trabalho passou a ter a duração de 3 anos, com múltiplas entradas, devendo ser emitido em 30 dias. O pedido deve ser efectuado no país de origem e só depois deverá o trabalhador deslocar-se para Angola. Actualmente, verifica-se um aumento do número de emigrantes que se deslocam a Angola com um visto ordinário (válido por 30 dias e prorrogável por duas vezes) e que se encontram aí a trabalhar. Ou seja, só depois de estarem no país é que dão entrada com o pedido de visto de trabalho. Uma situação irregular à qual o Governo angolano está atento, devendo actuar em breve no sentido de a corrigir. “Estamos a estudar a situação, a perceber quais são os constrangimentos, para depois actuar no sentido de repor a legalidade”, referiu o Embaixador José Marcos Barrica.

conheçam e compreendam melhor Angola. Registamos com satisfação o feedback da nossa acção. Em cada ano o nosso objectivo é manter ou melhorar os níveis de prestação do ano anterior. Assim, o reforço das relações de cooperação e de amizade entre os nossos países e povos, através da partilha de informações, do diálogo e concertação permanentes entre instituições, associações e organizações oficiais do Estado ou da sociedade civil sobre assuntos de interesse comum, por um lado, e a promoção da real imagem de Angola como país bom para se trabalhar ou viver, como país do futuro, como terra de oportunidades, por outro lado, vão continuar a ser objectivos centrais da nossa actividade no presente ano.

Quantos são os angolanos em Portugal? Quantos são os angolanos residentes em Portugal e como se caracteriza esta comunidade? Na nossa perspectiva, vivem em Portugal entre quarenta e quarenta e cinco mil angolanos. Os nossos Consulados estão envolvidos num aturado trabalho de registo criterioso de cidadãos nacionais junto das comunidades. Precisamos construir um banco de dados, uma estatística capaz de proporcionar respostas fiáveis de quantos realmente somos, onde estamos, como estamos e o que fazemos neste país. Importa fazer notar que a comunidade angolana em Portugal é heterogénea, representando distintas gerações: alguns já cá vivem antes de 1975, outros emigraram nos primórdios

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da Independência Nacional, outros ainda com o eclodir da guerra civil, para além dos seus descendentes já nascidos em solo português. No geral, a diáspora angolana encontra-se organizada em associações de índole social, cultural e recreativa. De que forma a crise económica e financeira que se vive em Portugal os afectou? É certo que a crise não só afectou os nativos como todos aqueles que escolherem Portugal como destino das suas vidas. Sendo os angolanos membros inseridos nesta sociedade, é evidente que estarão sujeitos aos factores negativos ou positivos incidentes sobre esta mesma sociedade. No caso da actual crise, os cidadãos angolanos são igualmente afectados pela carestia de vida, pelo desemprego e pela diminuição do poder aquisitivo. O número de angolanos residentes que querem regressar a Angola aumentou? O que os motiva? De facto, o número de angolanos regressados ao país nos últimos dez anos aumentou exponencialmente. Consta que antes da conquista da paz, a diáspora angolana era estimada em mais de cem mil cidadãos. Tal como disse, hoje é calculada em cerca de quarenta/quarenta e cinco mil. O advento da paz definitiva, os benefícios políticos, sociais, económicos e culturais daí decorrentes, assim como o posterior fenómeno da crise económica e financeira em Portugal, terão sido, seguramente, a causa natural do retorno de milhares de angolanos à sua pátria-mãe. #

Angola Portugal em números Exportações de Portugal para Angola em 2012

ME 2 998 757 (mais 28,5% do que em 2011)

Exportações de Angola para Portugal em 2012

ME 1 781 471

(mais 51% do que no ano transacto)

Angola é o português

4º maior cliente

Portugal é o de Angola

1º fornecedor

7 893 empresas

portuguesas exportam regularmente para este mercado O IDE de Angola em Portugal em 2012 ultrapassou os

ME 341 000

No mesmo ano os turistas angolanos contribuíram com

ME 480 000

para as receitas da hotelaria portuguesa

O IDE de Portugal em Angola no mesmo período rondou os

ME 312 000 Fonte: aicep Portugal Global

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Tema de Capa

PORTUGAL

3, 2, 1...

ESPANHA

ITÁLIA

Programa de deslocalização em fase de arranque Anunciado em Janeiro de 2012, durante um jantar organizado pela CCIPA, o Programa de Deslocalização de Empresas para Angola entrou na fase de arranque. Portugal, Espanha e Itália são os países abrangidos pelo programa e as primeiras cinco empresas portuguesas já foram seleccionadas.

ANGOLA

T Manuela Sousa Guerreiro

N

o início de 2012, durante um jantar organizado pela CCIPA, Abrahão Gourgel, responsável pela pasta da Economia do Governo angolano anunciou a intenção de se criar um programa de deslocalização de empresas para Angola. A ideia, explicou então, era a de levar para Angola unidades industriais, tecnologicamente actualizadas mas que – face à conjuntura de crise que a Europa e, em particular, Portugal atravessam – estejam numa situação difícil. Um ano e meio depois o programa ganhou forma e impulso. As linhas mestras estão definidas e as primeiras empresas/ indústrias portuguesas a beneficiar do programa foram já seleccionadas, um processo que conta com o apoio do ministério da Economia e do Emprego de Portugal. O arranque oficial do programa de deslocalização foi anunciado em Lisboa durante a primeira visita da Ministra da Indústria de Angola, Bernarda Henriques da Silva, a Portugal. Para além de Portugal, o pro-

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grama abrange ainda Espanha e Itália. “Consideramos que este pode ser um bom programa para todos os países envolvidos. Se pensarmos que nestes países europeus existem unidades industriais tecnologicamente actualizadas mas que, no contexto económico actual, não têm mercado para os seus produtos, a alternativa de deslocalização para Angola pode ser uma boa solução”, considerou Bernarda Henriques da Silva. A ministra da Indústria deixou, no entanto, um recado: “não queremos equipamentos obsoletos, como aconteceu em alguns casos do passado recente, com o argumento de que Angola é um país subdesenvolvido. O empresário que pensar assim não tem futuro em Angola. Não que o Governo o vá penalizar, mas porque se trata de um empresário imprudente, que não conhece a realidade do país”, sublinhou Bernarda Henriques da Silva. O investimento na Indústria é um investimento a longo prazo, carente de reforços constantes na sua modernização para se manter

competitiva. Excepção feita à indústria petrolífera, não é este o retrato actual do sector em Angola. “Em termos efectivos e realistas a indústria angolana é ainda incipiente. Existem algumas fábricas a fechar, precisamente devido à falta de competitividade face às importações”, mas a solução não está no “aumento irracional das taxas alfandegárias ou a imposição de quotas de importação”, como alguns grupos internos advogam.

Procedimentos, incentivos e financiamento A modernização está interligada com competitividade e as parcerias com empresas estrangeiras detentoras de know-how e tecnologia permitem encurtar o ciclo de aprendizagem dos empresários angolanos. Em troca, o Governo angolano ‘oferece’ um mercado em crescimento e um quadro de incentivos. “Os factores que pesam na deslocalização são as infra-estruturas, o enquadramento legal, as burocracias, os

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no conjunto de vários pólos para atender incentivos fiscais e financeiros e a dispoàs exigências das empresas. As empresas nibilidade de mão-de-obra. O programa que o pretendam, também terão posside deslocalização que o ministério da Outros MINEC ministérios bilidade de adquirir o terreno a preEconomia concebeu, em conjunto • Min.Ec. coordena o programa a envolver • Preparação de comunicação ços especiais. Por exemplo, no pólo com a Agência Nacional para o • MINCO • Preparação dos road shows industrial de Lucala, província do Investimento Privado (ANIP) e • MINFIN • Definição de indústrias • MIN Interior (SME) Kwanza Norte, o m2 poderá ficar os ministérios da Indústria e prioritárias • MINADERP pelos três USD. da Justiça, procura responder Os projectos agrícolas não esàs questões mais prementes tão fora do programa e para que os empresários possam eles foi reservado o Perímetro colocar”, avançou Licínio Vaz ANIP • Articulação do programa MINGMI Agro-Pecuário de Capanda. Contreiras, assessor do miniscom a política de captação • Identificação de terrenos Para acelerar as burocracias tério da Economia de Angola. O de investimento infra-estruturados inerentes à aprovação dos propacote de incentivos divide-se • Contactos institucionais • Definição de indústrias com investidores nacionais prioritárias jectos de investimento, que terão em três grandes grupos: oferta e internacionais que passar pela ANIP, será criada de solo industrial, criação de uma uma espécie de ‘via expresso’, com ‘via verde’ para aprovação dos invesnormas e procedimentos internos prótimentos e facilidades de crédito. prios, que permitam aprovar propostas A Zona Económica Especial Luanda-Bende investimento no prazo de 30 dias, bem go e os pólos de desenvolvimento induscomo reduzir os prazos para a emissão da trial de Lucala, Fútila, Dondo, Soyo, Caála, decisão final em matéria de incentivos e Kunje e Saurimo são os locais escolhidos de benefícios fiscais e aduaneiros. para receber as novas indústrias. Licínio De acordo com o assessor do ministro da Contreiras sublinhou que está a ser feita a Economia de Angola, também os Serviços infra-estruturação de centenas de hectares de Migração e de Estrangeiros, em coordenação com as representações diplomáticas dos países abrangidos pelo programa, vão “não queremos equipamentos obsoletos com o agilizar os processos de concessão de visargumento de que Angola é um país subdesenvolvido. tos de residência para os empresários estrangeiros, bem como de vistos de trabalho O empresário que pensar assim não tem futuro em para os “recursos e quadros especializados Angola. Não que o Governo o vá penalizar, mas estrangeiros que sejam necessários”. Enporque se trata de um empresário imprudente, volvidos no processo de desburocratização administrativa estão os guichês únicos de que não conhece a realidade do país”, sublinhou empresa, cuja rede deverá crescer já este Bernarda Henriques da Silva, ministra da indústria ano, à razão de um por cada pólo indusde angola trial.

Instrumentos de facilitação do acesso ao crédito concedido pelos bancos (Previstos na Lei nº30/11 de 13 de Setembro 2011)

Disponíveis para as MPME que satisfaçam critérios de elegibilidade . Empresas certificadas pelo INAPEM . Projectos em sectores prioritários . Investimento em imobilizado corpóreo e/ou reforço de fundo de maneio Crédito concedido com recursos dos bancos Taxas de Juro acordadas entre os bancos e as MPME não podem superar tectos máximos: . LUIBOR 6m + 3,0% para médias empresas . LUIBOR 6m+ 4,5% para pequenas empresas . LUIBOR 6m+ 6,0% para micro empresas Prazo máximo de reembolso de 7 anos e carência de capital de pelo menos 6 meses

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Linhas de crédito bonificadas Estado bonifica juros pagos pelas MPME Valor máximo de taxa de juro anual efectivamento pago pelas MPME de 5% . Taxa de juros paga por MPME é 30% da taxa acordada com bancos, com tecto de 5%

Mecanismo de garantias públicas Garantias a ser concedidas por Fundo de Garantia de crédito, de 200 MUSD Taxa de cobertura de até 70% do capital Comissão de 2% paga pelo agente económico

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Tema de Capa Incentivos fiscais do programa e apoios institucionais Lei nº20/11, de 20 de Maio (Lei do IP) com alguns ajustos aos benefícios fiscais face à nº17/03

Sectores prioritários

Geografias contempladas

Província de Luanda Produção agro-pecuária Municípios sede das províncias Indústria transformadora* Benguela Huíla e Cabinda Indústria de derivados Município do Lobito Construção civil Restantes municípios das Saúde e educação províncias de Benguela, Cabinda Infra-estruturas rodoviárias e Huíla Províncias do Kwanza Sul, Bengo, ferroviárias, portuárias Uíge, Kwanza Norte, Namibe e aeroportuárias, telecomunicações, energia e Malanje Províncias do Huambo, Bié, e águas Moxico, Kuando Kubango, Equipamentos de grande porte de carga e passageiros Kunene, Zaire; Lunda Norte e Lunda Sul

Impostos aduaneiros 3 anos de isenção na importação de equipamentos, veículos pesados e tecnologia 4 anos de isenção na importação de equipamentos, veículos pesados e tecnologia

Imposto Imposto Industrial sobre lucros Isenção ou Até 3 anos redução de 1 de isenção a 5 anos

5 anos de isenção na importação de matérias-primas Isenção ou para a produção Até 6 anos redução de 1 de mercadorias, de isenção a 8 anos desde o começo da produção

6 anos de isenção na importação de equipamentos, veículos pesados e tecnologia

Isenção ou Até 15 anos redução de 1 de isenção a 10 anos

Sisa

As sociedades que promovam operações de investimento abrangidos pela presente lei estão isentas do pagamento de SISA na aquisição de terrenos e imóveis associadas ao projecto

Fonte: Ministério da Economia de Angola

No âmbito deste programa, o Estado angolano compromete-se a criar facilidades de crédito, designadamente juros bonificados, garantias públicas e de financiamento, cujo limite está dependente da dimensão do projecto, variando entre os 200 mil USD (equivalente em KZ), no caso de micro-empresas, até cinco milhões de USD (equivalente em KZ) para médias empresas. Ao contrário dos outros benefícios, as facilidades de financiamento estão reservadas para as empresas angolanas e/ou para as empresas cujo capital é detido até 75% por angolanos.

Uma indústria em fase latente O programa do governo para a legislatura de 2013-2017 atribui uma importância estratégica à indústria transformadora, vista como uma peça crucial na estratégia de diversificação da economia nacional e diminuição da dependência do petróleo. Nesse sentido, foi fixado o objectivo de crescimento médio do sector de 10% ao ano, durante os próximo cinco anos. Meta ambiciosa atendendo ao estado incipiente em que o sector se encontra e os vários constrangimentos que ainda enfrenta. Os números actuais reflectem a situação da indústria angolana. Nos últimos anos, o crescimento do sector ficou muito abaixo daquele que é o seu potencial. Entre 2008 e 2010 a contribuição do sector para o produto interno bruto passou de 4,9% para 6,5%. A incorporação nacional nos produtos fabricados em Angola está hoje abaixo dos 25%. O ‘programa de industrialização de Angola’ está ainda em fase de estudo mas o plano nacional para o período 2013-2017 prevê a realização de fortes investimentos neste domínio, entre os quais a construção de 19 pólos industriais em regime de parcerias público-privadas.

Parcerias na calha As primeiras cinco empresas portuguesas que deverão participar no programa já foram seleccionadas, estando as negociações das congéneres angolanas ainda a decorrer. À revista Negócios, Licínio Contreiras avançou que as seleccionadas portuguesas estão ligadas “às indústrias de revestimento cerâmico, embalagem de plástico, má-

quinas industriais e artefactos de betão”. “São empresas que estão interessadas em deslocalizar a sua produção para um mercado que está em crescimento e onde existe uma procura muito grande por este tipo de produtos”, sustentou. Mas mais do que a deslocalização de empresas e de indústrias

Volumes de financiamento disponíveis Micro empresas

>>>

até 200 mil USD (equivalente em KZ)

Pequenas empresas

>>>

até 1,5 milhões de USD (equivalente em KZ)

Médias empresas

>>>

até 5 milhões de USD (equivalente em KZ)

Empresas excluídas dos instrumentos de financiamento Empresas com mais de 25% de participação de estrangeiros no seu capital social. Não são consideradas MPME, nem apoiadas, as seguintes entidades: • Participada ou accionista de outra empresa pública ou que não MPME • Filial ou sucursal no país de uma empresa com sede no exterior • Exerça a actividade no sector financeiro bancário e não bancário • Não tenham a sua situaçãoo legal ou fiscal regularizada

N12

da Europa para Angola, o Governo angolano quer, sobretudo, incentivar parcerias. “Os empresários podem ir sozinhos mas incentivamos as parcerias. Neste caso, são parcerias win win porque ambos os lados ganham: os angolanos experiência e know- how e os estrangeiros um parceiro que domina as regras e que tem o conhecimento do mercado”, defendeu Licínio Vaz Contreiras. Nos próximos meses o assessor do ministro espera que o número de empresas interessadas em integrar o programa de deslocalização cresça. “As empresas interessadas deverão contactar o ministério da Economia em Portugal, entidade que nos está a assessorar no processo de identificação de potenciais interessados. Temos apenas cinco empresas, mas acredito que com a divulgação do programa este número aumente. Nos próximos meses o programa será apresentado em Espanha e em Itália”, referiu Licínio Vaz Contreiras. #

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Conjuntura

O regresso do Atlântico Sul Benguela proporciona uma oportunidade estratégica para Angola desenvolver a sua influência regional e internacional, através de uma lógica integrada de acessibilidades e logística que lhe conferem maior coesão no território nacional, potenciam as relações com a África Austral e favorecem a geoeconomia do Atlântico. T Fátima Azevedo | F EDITANDO

B

enguela é um dos pontos fortes da conectividade internacional de Angola e determinante para os ganhos de bem-estar colectivo associados ao desenvolvimento do cluster estratégico dos Transportes e Logística. A província, cuja capital Lobito tem sido alvo de significativos investimentos estruturantes, abre as portas ao primeiro mundo – Europa e EUA – além dos vizinhos República Democrática do Congo e Zâmbia, seja por via marítima, através do Porto, seja por via área, com a abertura do Aeroporto Internacional da Catumbela, seja, ainda, por via ferroviária e rodoviária, através de um dos maiores corredores ferroviários, os Caminhos-de-Ferro de Benguela, que conferem maior conectividade interna para as províncias do Huambo, Bié, Huila, Namibe e Kuanza Sul. Este conjunto de infra-estruturas de transporte, que reforça a segurança, rapidez e intermodalidade interna e internacional, é um ponto forte para a dinamização da acti-

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vidade económica, desde a agro-indústria, passando pelas pescas, indústria e serviços, como a construção ou o turismo. Sendo Benguela, a seguir a Luanda, a segunda maior plataforma do desenvolvimento de Angola, os investimentos da região incluem também uma estratégia de diversificação energética, através da capacidade de produção hidroeléctrica, com a reconstrução das barragens do Lomaun, no Cubal, e do Biópio. No plano industrial, a exploração do petróleo e alumínio, no segmento extractivo, e das cimenteiras, favorecem o potencial de crescimento.

No coração de um cluster estratégico Transportes e logística Projectos (nº) Investimento (valor, mil M Kz)

Projs. 123 2343,691

% clusters % prioritários total 43,93 31,54 50,95

Fonte: Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017

38,64

O Plano de Desenvolvimento Nacional 2013-2017 assenta num conjunto de clusters estratégicos – alimentação e agro-indústria, energia e água, habitação e transportes e logística – que deverão absorver os investimentos estruturantes nos próximos anos. A consolidação, via clusterização, das actividades de transportes e logística é um trunfo para a coesão territorial e para a integração regional, no seio da SADC, e internacional de Angola. Ao longo dos últimos anos, os projectos implementados centraram-se na disponibilização de infra-estruturas de transporte, desde estradas, pontes, aeroportos, caminhos-de-ferro, e no desenvolvimento de actividades conexas, como o comércio e a logística. Mas os índices de mobilidade nacional persistem baixos, apesar do impulso das infra-estruturas. É nesse sentido que a coordenação logística assume particular relevância na robustez do mercado interno, ao permitir eficiência e eficácia no transporte de produtos ao longo de todo o território.

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Conjuntura A rede nacional de plataformas logísticas foi concebida numa lógica de interfaces nas principais cidades (Luanda, Catumbela e Huambo/Caála), de interfaces nas cidades portuárias (Cabinda, Luanda, Lobito e Namibe) e plataformas regionais de pequena e média dimensão (Malange, Saurimo, Lubango e Menongue). A lógica integrada subjacente ao cluster é espelhada no interesse estratégico da ligação à Zâmbia como porta de entrada para o interior da África Austral. Essa ligação reforça a importância do Corredor de Desenvolvimento do Lobito, cujo porto marítimo é um pólo estruturante para quatro das principais cidades angolanas: Benguela, Huambo, Kuito e Luena. Acresce que a construção de grandes plataformas de logística naquelas cidades, bem como no Luau, junto à fronteira com a República Democrática do Congo, viabiliza a concentração e distribuição de cargas oriundas do interior e do exterior de Angola. É neste contexto estratégico que irão desenvolver-se 123 projectos estruturantes prioritários do cluster dos transportes e logística, que representam 45% do total do investimento nos quatro clusters prioritários, ou seja, cerca de 2 342 mil milhões de kwanzas. Mais de metade dos projectos diz respeito à reabilitação de estradas, nacionais ou provinciais, que possam funcionar como eixos de desenvolvimento; outra fatia considerável do investimento visa prosseguir a recuperação dos caminhos-de-ferro e reabilitação de aeroportos.

Angola, hub regional Angola está, em parceria com os vizinhos Zâmbia e República Democrática do Congo, a desenvolver um plano integrado para a operacionalização do Corredor do Lobito, com vista a oferecer transporte ferroviário de pessoas e de bens dos três países rápido e eficiente, bem como promover o transporte internacional multimodal. O Programa de Reabilitação, Expansão e Modernização do porto do Lobito envolve um investimento de 120 mil milhões de kwanzas e visa a aumentar a capacidade, segurança e competitividade de um activo essencial para a projecção de Angola no mundo. A extensão da rede ferroviária angolana até à fronteira zambiana permitirá a dinamização das trocas comerciais e o prolongamento da rede ferroviária nacional pelo

N16

Indicadores 1. Passageiros Transportados (Rede Pública) (mil) 2. Carga Manipulada/ Transportada (Rede Pública) (Mil Ton) 3. Emprego no sector 4. Profissionais do sector de transportes treinados 5. Novas escolas e centros de formação instaladas 6. Cidades beneficiadas com expansão da rede de táxis

Ano base 2012

Metas 2013

2014

2015

Variação 2016

2017 2017/2012

46 136 49 631 52 750 55 368 60 127 67 476

46,3

16 867 19 131 20 396 22 016 24 291 26 725

58,4

16 225 16 550 17 377 18 420 19 709 21 483

32,4

2 400 2 780

57,5

3 160 3 540 3 565 3 780

12

13

-

-

-

-

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-

-

-

-

Fonte Plano Nacional de Desenvovimento 2013-2017

Objectivo estratégico

Dotar o país de uma rede de trasnportes integrada e adequada ao desenvolvimento nacional e regional, facilitadors do preocesso de desenvolvimento econónmico e potenciador das políticas territorial e populacional

Prioridades

• Sistema de formação e capacitação de quadros • Profissionalização e transparência da gestão empresas públicas • Optimização dos equipamentos dsponibilzados para o sector • Consolidar a reestruturação do sector aéreo, concluir o processo de modernização dos aeroportos e consolidar a regulação aeronáutica ao nível dos melhores padrões internacionais • Concluir a reabilitação dos caminhos-de-ferro e efectuar a sua integração • Consolidar a rede de transportes públicos de passageiros • Concluir o relançamento sustentado da actividade marítima, a nível nacional e internacional e melhorar a segurança marítima e fiscalização ao longo da costa angolana

A rede nacional de plataformas logísticas foi concebida numa lógica de interfaces nas principais cidades (Luanda, Catumbela e Huambo/Caála), de interfaces nas cidades portuárias (Cabinda, Luanda, Lobito e Namibe) e plataformas regionais de pequena e média dimensão (Malange, Saurimo, Lubango e Menongue)

interior da região austral do continente africano. Quanto ao traçado, estão em estudo várias hipóteses, na certeza de que, para além dos critérios de custo, terá de atender à localização das Plataformas Logísticas do eixo Luena-Luau, valorizando a intermodalidade e a complementaridade entre a rede de transportes e a rede de logística. Como este empreendimento, Angola poderá funcionar como um hub regional, uma Plataforma Logística continental, potenciando a acessibilidade dos países do interior sem fronteiras marítimas aos portos marítimos do Atlântico, em especial do Porto do Lobito, e valorizando ainda mais a sua posição geoestratégica privilegiada. #

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Conjuntura

Estudo KPMG

Estado da Arte da Responsabilidade Social T Fátima Azevedo | F DR

Angola é das economias que mais cresce, mas permanece entre os países com baixo nível de desenvolvimento humano. A Educação e a Saúde são as áreas em que as empresas investem mais no âmbito das respectivas estratégias de responsabilidade social. Nestas, destacam-se iniciativas de alfabetização e escolaridade e formação e promoção da saúde dos colaboradores. N18

O

forte ritmo de crescimento de Angola não impede que o país continue a registar um baixo nível de desenvolvimento humano e, apesar da evolução positiva, o desafio permanece. Num mundo em que a incerteza toma de assalto algumas das regiões mais desenvolvidas do mundo, nomeadamente a Europa e os EUA, a análise de medidas de bem-estar como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) permite concluir que se vem verificando uma maior convergência entre os chamados países do Norte, mais desenvolvidos, e os do Sul, menos desenvolvidos. O IDH, em contraponto à mera análise do PIB, procura abarcar três dimensões: a longevidade das pessoas, o sucesso escolar, enquanto indicador do acesso à educação e valorização das competências individuais, e o controlo sobre os recursos neces-

sários para uma vida digna. Quando nos aproximamos rapidamente de 2015, data para cumprir os Objectivos do Milénio, o caminho a percorrer ainda é longo e difícil, porque as metas estão por alcançar, ainda que a tendência seja positiva. Constata-se que o IDH mostra um progresso mais célere nos países com um índice baixo e médio, corroborando a tendência para uma maior convergência global. Uma leitura mais profunda dos números evidencia, no entanto, heterogenidades intra-regiões e intra-países, confirmando que persistem enormes desafios. Um maior empenho das empresas no exercício da sua responsabilidade social é um factor crítico para o progresso colectivo. Por isso mesmo, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Agência Espanhola para a Cooperação e Desenvolvimento (AECID) solicitaram à

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KPMG que realizasse um estudo para diagnosticar o estado de arte da Responsabilidade Social Empresarial (RSE) em Angola.

Universo das Empresas Analisadas 1

12

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A importância global da RSE A integração da RSE entre os propulsores do desenvolvimento das sociedades assenta num conceito que se tem demarcado da mera ideia de filantropia social. Por exemplo, na Europa, a evolução do conceito, passa de uma integração das “preocupações sociais e ambientais nas suas actividades e operações de negócios e interacções com partes interessadas numa base voluntária” para a explicitação da “responsabilidade das empresas pelos seus impactos na sociedade”. Assim, a RSE extravasa a legislação e acordos para integrar preocupações sociais, ambientais, éticas, direitos humanos e com o consumidor, nas operações e estratégia das empresas, em articulação com todas as suas partes interessadas, procurando a criação de valor para si e para a sociedade em geral e a identificação, prevenção e mitigação dos impactos adversos. A mais-valia global implica diferenciar as dimensões interna e externa. Na primeira, as práticas socialmente responsáveis relacionam-se com a gestão dos recursos humanos, a saúde e segurança no trabalho, a adaptação à mudança e a gestão do impacto ambiental e dos recursos naturais, enquanto a dimensão externa se traduz na relação com as comunidades locais, com os clientes e fornecedores, com os accionistas e investidores, na observância dos direitos humanos consagrados e na gestão global do meio ambiente. Neste contexto, a KPMG partiu de um universo de 100 empresas de nove sectores para analisar três dimensões: económica, social e ambiental. Numa fase posterior foi realizado um inquérito junto de 75 empresas dos sectores mais representativos do mercado angolano, com uma taxa de resposta de 30%, com representatividade nos sectores de petróleo e gás, construção, banca e transportes, pelo que todas as outras actividades foram agregadas. A consultora conclui que há um “desfasamento de maturidade entre as práticas de responsabilidade social empresarial das empresas de diferentes sectores e também dentro de cada sector”. Assim, o sector do petróleo e gás apresenta uma elevada maturidade na gestão dos temas de responsabilidade social empresarial, com as

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8 8 3

31 9 8 Construção Telecomunicações Transporte Energia e Águas Mineração Indústria

4 Bebidas Retalho Financeiro Petróleo e Gás Diversos

empresas internacionais a evidenciar uma estratégia local, mas alinhada com a respectiva estratégia global. Como seria de esperar, a educação, com 43%, e a saúde são as áreas em que as empresas investem mais no âmbito da estratégia de responsabilidade social, “destacando-se iniciativas de alfabetização e

vem a “formação de profissionais de saúde, a capacitação informática, a promoção do acesso dos jovens à cultura, a literacia financeira, a promoção das línguas nacionais, a promoção da cultura nas mulheres, o apoio a programas de desminagem, o desenvolvimento de infra-estruturas (habitação e energia), a sensibilização ambiental de parceiros e o apoio aos ex-combatentes”.

Desbravar o caminho A falta de linhas de orientação estratégica e conhecimento e know-how para definição de projectos de RSE, bem como a identificação de parceiros de confiança para a realização das iniciativas, e de ferramentas para medir o impacto nas comunidades e o retorno dos investimentos sociais, estão entre os factores que justificam ainda o reduzido peso da RSE em Angola. O reforço da comunicação é encarado como meio de promoção e “partilha de boas práticas e experiências”, abrindo possibilidade para identificar sinergias e alargar “o espectro dos parceiros para realização dos projectos”. Procurando segmentar as estratégias das empresas angolanas com base em quatro critérios (existência de uma estratégia de responsabilidade social empresarial estruturada; existência de competências in-

A falta de linhas de orientação estratégica e conhecimento e know-how para definição de projectos de RSE, bem como a identificação de parceiros de confiança para a realização das iniciativas, de ferramentas para medir o impacto nas comunidades e o retorno dos investimentos sociais, estão entre os factores que justificam ainda o reduzido peso da RSE em Angola escolaridade, retenção e sucesso escolar, e formação e promoção da saúde dos colaboradores”, sublinha o relatório da KPMG. Em contraste, a promoção da igualdade entre géneros e as iniciativas direccionadas especificamente aos jovens, apenas com 3% do investimento total, são as áreas que recebem menor investimento das empresas, da mesma forma que os apoios na esfera ambiental (9%). Refira-se que outras áreas fulcrais, mas mencionadas por menos de 40% das empresas que participaram no inquérito, envol-

ternas específicas para gerir estes temas; número e relevância das áreas de actuação e alinhamento com princípios internacionais de referência), a KPMG identificou quatro grandes linhas de orientação: os “líderes”; os “conservadores”; os “oportunistas”; e os “seguidores”. Os “líderes”, que evidenciam uma comunicação sólida, com base nas boas práticas internacionais, e integram a RSE nos departamentos de comunicação, marketing e responsabilidade social, numa lógica de envolvimento e parceria com agências in-

19N


Conjuntura ternacionais e ONG, além de publicarem “relatórios específicos sobre as práticas de RSE para os diferentes stakeholders” e serem transparentes na comunicação ao nível do seu website. Os sectores do petróleo e gás e da construção angolanos estão neste patamar. Por sua vez, os “Conservadores” apresentam também uma maturidade assinalável mas fraca capacidade de comunicação e estão centrados em temas de impacto social, como é o caso das instituições bancárias a operar em Angola. Os “Oportunistas” enfatizam a comunicação como instrumento de aproveitamento de um estatuto que é contraproducente, na medida em que determina a desconfiança entre os stakeholders e apontam para um “green ou social washing”. Finalmente, os “Seguidores” caracterizam-se por uma atitude reactiva, em que a RSE não está integrada na estratégia global da empresa, mas antes trabalhada por estruturas autónomas, como fundações e associações não governamentais. É o caso do sector dos transportes em Angola. #

COMO SER SOCIALMENTE RESPONSÁVEL O Global Compact é uma iniciativa das Nações Unidas para a cidadania empresarial, que nasceu em 2000, com base numa proposta de Kofi Annan, então secretário-geral da organização. O programa está alicerçado em 10 princípios e abrange quatro grandes dimensões direitos humanos, práticas laborais, protecção ambiental e anticorrupção – procurando promover o compromisso público e voluntário das empresas. Este compromisso traduz-se na publicação anual de um relatório - Communication on Progress (COP) – de divulgação das actividades para fomentar a partilha e a identificação de boas práticas. Desde 2000, a iniciativa conta com mais de 10 mil participantes, dos quais mais de 7 mil empresas de 145 países. A crescente importância na aplicação destes princípios é espelhada na Estratégia da União Europeia para a Responsabilidade Social 2011-2014, para a qual a Comissão Europeia realizou um estudo, publicado em Março passado, para analisar as preferências das empresas em termos de instrumentos de adopção e comunicação de Políticas de Responsabilidade Social. A conclusão aponta para que o referencial UNGC seja um dos cinco instrumentos mais utilizados pelas 200 grandes empresas analisadas, nomeadamente as que actuam na Dinamarca, Espanha, Suécia e França.

O reforço da comunicação é encarado como meio de promoção e “partilha de boas práticas e experiências”, abrindo possibilidade para identificar sinergias e alargar “o espectro dos parceiros para realização dos projectos”.

ESTADO DA ARTE DAS ESTRATÉGIAS DE RSE EM ANGOLA Dados da KPMG

CRITÉRIOS

> Construção > Petróleo e Gás

Existência de uma estratégia de responsabilidade social empresarial estruturada

LÍDERES

OPORTUNISTAS

Existência de competências internas específicas para gerir estes temas

SEGUIDORES

CONSERVADORES

Número e relevância das áreas de actuação

COMUNICAÇÂO

> Banca > Outros

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> Transportes

Alinhamento com princípios internacionais de referência

MATURIDADE

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Conjuntura

Habitação com novas metas T Manuela Sousa Guerreiro | F Editando; Bruno Barata; Kora Angola

Reestruturado, mais abrangente e com uma nova dinâmica, o Programa Nacional de Urbanismo e Habitação está a dar um novo fôlego ao mercado imobiliário angolano. Em 2017, o parque habitacional do país terá muito mais do que um milhão de novas casas. N22

E

m 2009, o programa ‘Meu sonho minha casa’ assumia como meta a construção de um milhão de casas até 2012, para albergar quase seis milhões de habitantes. Um número ambicioso para combater o grande défice habitacional e melhorar as condições de vida da população angolana. Objectivos que a crise financeira internacional veio, no entanto, impedir de alcançar. Com a retoma económica do país, o Programa Nacional de Urbanismo e Habitação (PNUH) volta a estar no centro das atenções, tendo ganho um novo fôlego e novas metas, assentes numa nova filosofia. Para além do seu impacto na melhoria das condições de vida da popula-

ção, o mesmo é hoje considerado uma peça central também para o equilíbrio do mercado imobiliário do país. Depois do boom do mercado em 2008 e 2009, durante o qual os preços das habitações atingiram preços proibitivos, seguiu-se um período de estagnação, de que se tarda em sair. Hoje os desequilíbrios permanecem por resolver. Existe excesso de oferta para a segmento de alta renda, mas faltam habitações para os segmentos de baixa e média renda. Inclusive, o défice habitacional do país agravou-se nos últimos anos. “Quando o programa nacional foi lançado o défice habitacional estimado rondava um milhão e duzentas mil unida-

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des, pelo que definimos como meta de construção de um milhão de habitações. Desde então, estamos a construir, não parámos, apesar dos vários constrangimentos, tendo sido concluídos até agora 400 mil e 450 fogos. Quase metade do programa. Mas a demanda é muita, agravada nos últimos três anos pelo forte crescimento populacional”, sublinhou Adriano Silva, director Nacional de Habitação do Ministério do Urbanismo e Habitação de Angola. O número de um milhão de habitações volta a estar em ‘cima da mesa’, mas Adriano Silva acredita que, até 2017, esse número será ultrapassado. “Essa já não é a nossa meta. Vamos fazer muito mais”, constatou o mesmo responsável. A constituição de reservas fundiárias, o acesso a terra urbanizada, a regularização da propriedade rústica, a adopção de medidas que estimulem o empresariado, a criação de incentivos fiscais e aduaneiros e o fomento de políticas ambientais, como garantia do equilíbrio natural e da qualidade de vida das populações, foram algumas das medidas implementadas e defendidas pelo Governo angolano nos últimos dois anos, numa tentativa de ultrapassar os vários constrangimentos que dificultaram a implementação do PNUH. Mais recentemente foi definido um sub-programa de habitação – totalmente suportado por capitais públicos – que abrange a construção de 200 novas habitações, e sua infra-estruturação, por município, com excepção daqueles que são abrangidos pelo programa de parcerias publico-privadas. Este sub-programa abrange 126 municípios, de um total de 164, prevendo-se a construção de mais 25 mil novas habitações sociais, que irão beneficiar uma população de 150 mil habitantes. “De um modo geral, este sub-programa está em curso em todos os municípios abrangidos, estando numa fase mais avançada nas províncias do Huambo, Moxico e Kunene”, avançou o director nacional de Habitação.

“Estamos optimistas quanto à execução do pNUH. Foram criadas as condições jurídico-legais, há procura, uma vez que o défice habitacional continua elevado, e os investidores têm acautelado o retorno dos seus investimentos. Enquanto órgão executor do PNUH, compete-nos captar agentes para a implementação do programa”, Eugénio Alexandre Correia, Director-Geral do Instituto Nacional de Habitação

“O Estado, o sector privado e as cooperativas estão a construir novas cidades e novas centralidades, bem como a requalificar grandes aglomerados populacionais. Um dos maiores projectos do género é a cidade do Kilamba Kiaxi. quando este projecto estiver totalmente concluído irá albergar cerca de 500 mil pessoas”, Adriano Silva, Director Nacional de Habitação

Centralidade de Kilamba Kiaxi

Uma nova filosofia de habitação A ‘nova’ política de urbanismo e habitação passou a privilegiar sobretudo a construção de ‘novas centralidades’. A mais conhecida é a do Kilamba Kiaxi (500 mil fogos nos arredores de Luanda), mas há outras: a do Zamgo (35 mil fogos), Cacuaco (35 mil fogos), Musseque Capari ou Quilómetro 44. Só para referir as que se localizam nas províncias de Luanda e Bengo, as mais populo-

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Conjuntura

“A perspectiva é que em 2017 tenhamos mais de um milhão de novas habitações. Os pólos que estão a ser construídos são, essencialmente, urbanos e concentram-se em Luanda, Benguela, Huambo e Lubango. Cidades onde vive 44% da população urbana do país”, António Gameiro, Bastonário da Ordem dos Arquitectos de Angola

sas do país. No total o programa nacional prevê a construção de 14 novas centralidades nas várias províncias do país. “A filosofia de intervenção mudou. O PNUH tem uma base territorial mais alargada e um carácter mais humanizante. Estamos a planear as novas cidades como um espaço de intercâmbio social, não estamos a construir dormitórios. Desta forma, procuramos corrigir alguns erros iniciais”, reconheceu António Gameiro, Bastonário da Ordem dos Arquitectos de Angola. Esta nova filosofia está bem presente nas centralidades que a Kora Angola está a construir nas províncias do Huambo (12 mil habitações), Bié (7 mil), Uíge (7 mil), Moxico (3 mil) e Kwanza Sul (5 mil). Só esta empresa de capitais mistos, angolanos e israelitas, tem a seu cargo a construção de um total de 40 mil fogos. Para além

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das intervenções nas províncias assinaladas, foram-lhe atribuídas competências no âmbito projecto de requalificação do Cazenga e Sambizanga, onde a Kora está a construir seis mil novas unidades. De acordo com fonte da empresa, a construção abrange tipologias do tipo t3, destinadas ao segmento médio. “As cidades ‘Horizonte’ são um conceito inovador em Angola. O projecto urbanístico foi pensado segundo uma lógica de quadras integradas em polos educacionais, culturais e comerciais. Esta é uma fórmula que estimula o contacto e o convívio entre as pessoas. Trata-se de um projecto que revoluciona o conceito de habitar, pois promove uma nova comunidade urbana e a qualidade de vida”, refere a mesma fonte. Para além da construção, a Kora Angola é responsável pela construção, incorporação imobiliária e comercialização destes 40 mil fogos habitacionais. As primeiras habitações deverão estar concluídas até ao final deste ano, mas a sua comercialização deverá arrancar já no início do segundo semestre, prevendo-se uma elevada procura. À semelhança, aliás, do que aconteceu no início deste ano, quando foram colocadas à venda as primeiras 10 mil habitações integradas na centralidade do Kilamba Kiaxi, um projecto que, quando estiver totalmente edificado, irá albergar 500 mil pessoas. “Houve muita procura e em menos de 10 dias foram comercializadas oito mil habitações. Tivemos que interromper o processo, para fazer um balanço”, referiu Adriano Silva, director nacional de Habitação. Por essa altura, foi assinado o primeiro programa de crédito para compra de habitação que envolveu cinco bancos. A concessão de crédito teve por base um protocolo de garantia financeira acordado entre os bancos e o Fundo de Fomento Habitacional. Este fez a intermediação entre clientes e o banco, assegurando até 80% do montante, sendo também avalista no processo de aquisição. “É preciso acertar melhor esta parceria. Compreendemos que a lógica dos bancos não é a mesma que a do Estado, mas estou em crer que nesta segunda fase já teremos connosco os bancos no financiamento e comercialização das habitações”, garantiu o director nacional de Habitação. #

Novas Centralidades, habitação e progresso* No âmbito do Programa Nacional de Habitação, iniciado em 2009, têm vindo a aparecer por todas as províncias as ‘novas centralidades’. A ‘centralidade’ mais divulgada é a do Kilamba Kiaxi, em Luanda, estando esta numa fase bastante adiantada de execução. Em 2012 foram entregues cerca de 3 mil apartamentos e, no primeiro trimestre de 2013, foram já distribuídos outros oito mil apartamentos. No Huambo, uma ‘nova centralidade’ está a ser construída junto da cidade de Caála, estando prevista a sua conclusão para finais do corrente ano. Neste caso, também a construção em altura foi a privilegiada. O mesmo acontece, por exemplo, no Dundo, província da Lunda Norte e na ‘centralidade’ da Kilemba, no Lubango (Huíla). Outra solução que acompanha estas ‘novas centralidades’ é a auto-construção dirigida, em que os governos locais ajudam os proprietários com apoio técnico para a construção das moradias, em lotes previamente infraestruturados. Mas todo este esforço de construção tem outras vertentes positivas para além do fim último a que se destina – habitação condigna para a população. Diferentes municípios, e universidades, têm apostado na formação de quadros na área do Urbanismo e Ordenação do Território. Do ponto de vista legislativo é importante referir a Lei da Alienação Fiduciária que veio clarificar os procedimentos, o papel dos agentes, bem como as suas responsabilidades e direitos no que respeita à venda de propriedades. Mas, no caso das novas centralidades, e especificamente falando da Cidade do Kilamba, o Decreto Presidencial nº 107/12 de 7 de Junho, vem definir a modalidade de Renda Resolúvel. Este decreto define não só esta modalidade como também o seu regime de acesso, o qual foi posto em prática no início deste ano com a comercialização das unidades do Kilamba Kiaxi. Como qualquer projecto, e tendo em conta a sua dimensão, as ‘novas centralidades’ têm aspectos positivos e outros que têm vindo a ser consecutivamente melhorados. É um processo evolutivo. Certa, é a dinâmica que trouxeram ao mercado imobiliário, em todas as suas vertentes, e o progresso que representam. * Francisco Barros Virgolino Diretor Executivo Pro Prime

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Conjuntura

Porque água é vida! Capacitar as instituições para uma gestão integrada e sustentável dos recursos hídricos e reabilitar as infra-estruturas são os pilares estratégicos em que assenta o programa ‘Água para todos’, e que visa alargar o acesso da população ao abastecimento de água e ao saneamento básico, sem esquecer as externalidades positivas para as actividades energética, agrícola ou de turismo. T Fátima Azevedo | F EDITANDO

dante ­– com vista à produção de hidrogénio, enquanto fonte energética que não liberta CO2 – e que, no actual quadro tecnológico, é determinante para a produção e exportação de energia hidroeléctrica. Mas, acima de tudo, a água é determinante para a distribuição da população no território, consoante a respectiva disponibilidade e qualidade, e um factor crítico para promover o turismo e lazer.

Alcançar uma cobertura de 70% da população com acesso a saneamento e 55% a água potável 59,6

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Fonte: Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017 Valores em % da população total

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água integra, com a energia, um dos clusters prioritários para a estratégia de desenvolvimento angolana até 2017, que, no seu conjunto, irá absorver mais de 80% do valor dos projectos de âmbito nacional. Num contexto em que as alterações climáticas determinarão um crescendo das

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populações em situação de stress hídrico e uma necessidade de optimizar o uso dos solos para uma produção agrícola sustentável, a água é um recurso fundamental. Por outro lado, a transição para um novo paradigma energético, menos dependente dos combustíveis fósseis, envolverá zonas em que a disponibilidade de água é abun-

No âmbito do Plano Nacional de Desenvolvimento para o período 2013-2017, a água é considerada “o motor do cluster”, ainda que corresponda apenas a um quarto do investimento dos 65 projectos estruturantes, no valor de 1385,5 mil milhões de kwanzas, incluídos no cluster Energia e Água. A verdade é que a natureza transversal de programas como o “Água para Todos” permitirá, no final do período, que 70% da população tenha acesso ao saneamento básico e 55% à água potável, marcando um impulso positivo face aos actuais 59,6% e 42%, respectivamente. Em termos regionais, Luanda continua a ser o principal destino dos investimentos, mas o objectivo estratégico estabelece o abastecimento de água suficiente a todas as sedes de provín-

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cia e municípios mais populosos (ver caixa ‘Luanda e não só’). Assim, a estratégia nacional de desenvolvimento visa “promover, em bases sustentáveis, o abastecimento de água potável à população e de água para uso no sector produtivo, bem como serviços adequados de saneamento de águas residuais”. Para concretizar este objectivo são preconizadas cinco grandes linhas de orientação política: 1. melhorar a qualidade do serviço de abastecimento de água, tanto nas zonas urbanas como em áreas suburbanas e nas zonas rurais; 2. prosseguir a construção de pequenos sistemas e pontos de abastecimento de água e saneamento comunitário nas áreas suburbanas e rurais; 3. assegurar uma eficiente gestão na exploração dos sistema; 4. aplicar um sistema de tarifas adequadas que permita a cobertura dos custos de exploração e proteja os extractos populacionais mais vulneráveis garantindo a sustentabilidade do serviço público; e 5. assegurar a gestão integrada dos recursos hídricos, prosseguindo com a criação de entidades de gestão das bacias prioritárias e a elaboração dos respectivos planos directores. Depois de aprovada a estratégia nacional, o Conselho de Ministros aprovou o Programa Nacional Estratégico para a Água 2013/2017 (PNEA), inscrito no Decreto Presidencial n.º 9/13, de 31 de Janeiro, que se centra numa gestão sustentável dos recursos hídricos, superficiais e subterrâneos, na melhoria do saneamento básico e do abastecimento de água às populações. Paralelamente e promovendo as vantagens de outras actividades económicas, o plano para as águas ambiciona fomentar as pescas e a agricultura nas águas interiores, a oferta turística associada aos recursos hídricos e a hidroelectricidade. Estas várias frentes visam contribuir decisivamente para os “Objectivos do Milénio” e do “Protocolo de Quioto” de combate às alterações climáticas, tendo em conta a vantagem competitiva de reservas abundantes e as limitações associadas às vulnerabilidades.

Os pilares de investimento O programa de investimentos subjacente ao PNEA prevê um montante global de 23,3 mil milhões de dólares, dos quais 99% respeitam a projectos estruturantes e o restante ao reforço do conhecimento, nomeadamente na elaboração de estudos; a

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Luanda e não só O Plano Nacional de Desenvolvimento de Angola destina um terço dos projectos estruturantes, correspondentes a 26% do total, à província de Luanda. Desses 126 projectos a implementar na região da capital, 81 inserem-se nos clusters prioritários - nomeadamente Energia e Água, Habitação e Transportes e Logística -, traduzindo três quartos do investimento estimado para a província em projectos como a construção de cerca de 87 mil habitações sociais, evolutivas ou económicas, a criação de infra-estruturas de abastecimento de água, distribuição de electricidade, saneamento ou tratamento de águas residuais; a construção de vias de acessibilidade ou de infra-estruturas pesadas de transportes, como os novos aeroporto e porto de Luanda. Mas, como é assinalado quer no plano de desenvolvimento nacional, quer no plano estratégico para a água, há dois grandes projectos estruturantes. Por um lado, o “abastecimento de água às sedes de província e municípios mais populosos”, que visa “melhorar a qualidade de abastecimento de água tanto nas zonas urbanas como áreas suburbanas de maior densidade demográfica”, através da criação de “empresas municipais de abastecimento de água e saneamento”, uma “adequada política de tarifas” impulsionada pelos “Gabinetes de Gestão das Bacias Hidrográficas prioritárias”, além da actualização dos “planos directores de abastecimento de água e saneamento de águas residuais das cidades capitais de província e das sedes municipais “ e a reabilitação e “expansão dos centros de distribuição e estações de tratamento de água”. O segundo projecto estruturante envolve a continuidade do programa “Água para todos”, cuja missão é assegurar uma cobertura de abastecimento de água potável a 100% da população urbana e a 80% da população rural. As linhas de acção deste projecto priorizam ”a construção de pontos de água e de pequenos sistemas e pontos de abastecimento de água e saneamento comunitário nas áreas suburbanas e rurais” e a implementação de um “Programa Nacional de Monitorização da Qualidade da Água para Consumo Humano”, com capacidade de resposta para “70% nas zonas urbanas e 40% nas zonas rurais”.

1. Qualidade de abastecimento nas zonas urbanas e rurais

5. Gestão integrada dos recursos hídricos

Abastecimento e saneamento sustentáveis

4. Tarifas adequadas garantindo a sustentabilidade do serviço público

robustez do quadro institucional e regulatório; e a criação de mecanismos económico-financeiros que possam agilizar o investimento no sector. As infra-estruturas representam 95,1% do investimento estruturante total, cabendo à hidroelectricidade a principal fatia (55%), com o objectivo de reduzir o défice do mercado da electricidade. O PNEA prevê a construção das barragens de Cam-

2. Construção de pontos de abastecimento e saneamento nas áreas suburbanas e rurais

3. Desenvolvimento institucional

Fonte: Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017

bambe II, Laúca, Caculo Cabaça, Jamba la Oma, Jamba la Mina, Samuela, Luachimo, Chiumbe-Dala, Chicapa II, Capunda, Dala e Caculo Cafula; para o abastecimento de água e saneamento serão canalizados 5,5 mil milhões de dólares, estando quantificados alguns dos resultados previstos em termos de construção/reabilitação de equipamentos. #

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Economia

Tempo de investir na diversificação T Fátima Azevedo | F EDITANDO

As previsões para 2013 apontam para a estabilização do ritmo de crescimento económico e para uma política económica expansionista, catalisadora da diversificação da estrutura produtiva e do desenvolvimento do capital humano.

A

convergência de Angola para o grupo dos “países de rendimento médio” requer não apenas a acumulação de capital natural e construído, mas também de capital humano, pelo que a formação de quadros, com uma meta já avançada de 2,3 milhões, é um factor crítico para o sucesso do desenvolvimento angolano. Para 2013, governo e organizações internacionais antecipam uma ligeira desaceleração, depois dos 7,4% de crescimento estimado para 2012. Ao contrário do FMI, que previa uma expansão de 8,5% do sector petrolífero, o governo angolano aponta para o

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contributo de 4,3%, enquanto a actividade não petrolífera terá progredido 9,1%, sobretudo devido ao dinamismo da energia e agricultura, que avançaram 23,9% e 13,9%, respectivamente. Para este ano, o governo aponta para um aumento de 6,6% do sector petrolífero e de 7,3% para as actividades não petrolíferas, que se traduzirá num crescimento de 7,1% do PIB, um pouco acima das expectativas do FMI. A política orçamental expansionista traduzir-se-á num aumento de 27% da despesa, sobretudo devido ao forte impulso da componente de investimento (+58%) para os 17 mil milhões de dólares, atendendo aos

projectos estruturantes ambiciosos para a agricultura, indústria extractiva e transformadora.

Angola na crista da Africamania A “Africamania” que tem vindo a caracterizar os mercados internacionais beneficia Angola, que também é um dos principais protagonistas do optimismo em torno do continente africano. Quando, há uns meses, a Economist Intelligence Unit (EIU) estimava que Angola ultrapassaria a África do Sul em 2016 como a maior economia da África Subsaariana, muitos se surpreenderam, sobretudo pelo peso político dos sul-africanos, que já se associaram aos outros BRIC para transformar a sigla em BRICS, que junta as cinco economias emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Mas, além do peso político, a África do Sul tem o sistema financeiro mais desenvolvido de África, beneficiando, assim, de instrumentos de financiamento que outros países, como

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Angola, ainda não dispõem. Mas, segundo o FMI, Angola soube aproveitar uma conjuntura favorável em termos de preços das matérias-primas, nomeadamente do petróleo, para regressar a uma trajectória de crescimento, sem esquecer os esforços fundamentais para acelerar a diversificação das actividades e o programa de construção de infra-estruturas que agilizam a conectividade interna e internacional, e, por isso, decisivos para ganhar escala e competitividade. Se a produção de petróleo pode aumentar dos actuais 1,8 milhões de barris diários para 2,23 milhões em 2017, de acordo com as estimativas da EIU, o investimento não petrolífero tem crescido a dois dígitos nos últimos anos, muito por causa das infra-estruturas, mas a agricultura e a indústria transformadora têm um enorme potencial de expansão. Aliás, de acordo com a ODE, Angola está entre os 20 países com maior potencial agrícola do mundo, mas cultiva apenas 3% das suas terras aráveis; da mesma forma, as pescas são potenciadas pela longa costa, mas a produção corresponde apenas a metade dos stocks efectivos. Na área das utilities, as necessidades do

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PLANO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO 2013-2017 PROJECTOS ESTRUTURANTES ACIMA DOS 5 MIL MILHÕES DE KWANZAS Rede Nacional de Frio 3 - (o%) Reconstrução e construção de novas estradas secundárias e terciárias 414,6 - (8%) Educação 34,1 - (1%)

Rede Nacional de Plataformas Logísticas 400,21 - (7%) Energia 3. 555,70 (67%)

Saúde 61,6 - (1%) Ensino Superior 138,5 (3%) Defesa e Interior 83,9 - (2%) Águas 590,8 - (11%)

país envolvem um ritmo de investimento na casa dos dois mil milhões de dólares anuais durante a próxima década, segundo o Banco Mundial, conferindo um poder de atracção nos investidores internacionais. Entre os investidores internacionais, a China tem sobressaído, não apenas na di-

namização dos fluxos comerciais centrados na importação de petróleo angolano, mas também no financiamento aos projectos infra-estruturais. No entanto, o risco de uma excessiva dependência da China poderá dificultar a diversificação da própria estrutura produtiva. E, apesar de todos os

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Economia

segundo o FMI, Angola soube aproveitar uma conjuntura favorável em termos de preços das matérias-primas, nomeadamente do petróleo, para regressar a uma trajectória de crescimento, sem esquecer os esforços fundamentais para acelerar a diversificação das actividades e o programa de construção de infra-estruturas esforços de diversificação, o sector do petróleo e do gás continua a representar 45% do PIB, 70% das receitas fiscais e 90% das exportações. Em 2015, a China poder-se-á tornar no maior importador mundial de petróleo, destronando os EUA. No ano passado, os chineses importaram, em média, 5,4 milhões de barris por dia, menos 2,01 milhões do que os EUA, mas, em Dezembro, atingiram os 6 milhões, mais 200 mil barris/dia do que os americanos. Angola é o maior fornecedor de crude dos chineses, com 58% do total em 2012 e, este ano, a quota do petróleo angolano no abastecimento da China deverá subir para os 59,4%. Em contraste, os EUA têm reduzido as importações de crude, dado um forte aumento da produção doméstica. África é um activo estratégico para a China, sedenta de energia, sobretudo desde a chegada ao poder de Hu Jingtao. No próximo triénio, o gigante asiático planeia investir mais 20 mil milhões de dólares no continente africano, tornando-o na sua reserva estratégica de energia e no palco de internacionalização das suas empresas. Mas a elevada liquidez dos chineses tem sido aplicada na aquisição de activos estratégicos no mundo desenvolvido, como as eléctricas portuguesas EDP e REN, mas também da petrolífera canadiana Nexen, que permite à China National Offshore Oil Corporation aceder ao petróleo do Golfo do México e do Mar do Norte. #

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Portugal duplicou a importação de petróleo angolano As relações económicas de Angola com Portugal mantêm um forte dinamismo, com um ascendente em produtos como cerveja, vinho, mobiliário, medicamentos e materiais de construção. Em termos globais, as exportações portuguesas somaram cerca de 3 mil milhões de euros em 2012, um aumento de 28,6%, consolidando, assim, Angola como o primeiro mercado de exportação não comunitário (quarto, considerando os parceiros da União Europeia). E Angola exporta…petróleo. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, 99,7% das importações portuguesas oriundas de Angola envolvem combustíveis e, em 2012, o crescimento foi de 52%, num total de 1776 milhões de euros. Portugal mantém, assim, um excedente comercial, mas o coeficiente de cobertura das exportações tem registado uma tendência para diminuir, dos 554%, em 2008, para 163% em 2012. O aumento das importações de Angola, “inflacionadas” pela recuperação do preço do crude pós-2009, e o abrandamento das exportações de mercadorias – aumento médio de 8,8% entre 2008 e 2012 – justificam a tendência. Nos serviços, a balança bilateral também é favorável a Portugal e, segundo o Banco de Portugal, verifica-se uma duplicação do excedente (1183 milhões de euros em 2012) face a 2008 (557 milhões de euros), resultante de um crescimento médio anual de 18,8% nos últimos cinco anos. Em suma, como cliente, Angola passou de uma quota de 3,98%, em 2008, para 6,98%, em 2012, e, como fornecedor, tem mantido o 12.º lugar, com uma quota de 1,44% em 2012.

Coeficiente de cobertura das exportações portuguesas para Angola tem diminuido 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0

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Crash do petróleo

Recuperação do preço 338.2

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Crescimento estabiliza

Crescimento real do PIB, em % 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 EIU FMI Governo OCDE

2009 2,4 2,4 2,4 2,4

2010 3,4 3,4 3,4 3,4

2011 3,9 3,9 3,9 3,9

2012 7,9 8,0 7,4 8,2

2013 8,3 5,5 7,1 7,1

2014 5,8 5,4 8,0 -

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A resiliência africana Crescimento robusto, com o aproveitamento de recursos naturais estratégicos e um maior interesse nas relações regionais, alimenta o rendimento disponível de uma classe média ascendente, ao mesmo tempo que mantém a atractividade do investimento estrangeiro, num mundo incerto. T Fátima Azevedo

A

o longo de 2012, enquanto a incerteza continuava a deprimir expectativas europeias e americanas, os especialistas centraram atenções no novo papel do continente africano na globalização, face aos níveis significativos de crescimento económico, resultantes do capital natural (sobretudo no caso dos produtores e exportadores de petróleo), da diversificação das actividades e de um assinalável desenvolvimento das relações

comerciais com os emergentes asiáticos, nomeadamente a China. Além das organizações multilaterais, como o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional, outros centros de análise, como a Economist Intelligence Unit, a Arup, a McKinsey, a Brookings Institution ou o Boston Consulting Group convergiram num optimismo inédito relativamente ao futuro africano, sem esquecer os operadores de mercado que se empenham em

promover o desenvolvimento dos mercados de capitais, por forma a galvanizar o investimento de carteira. Para trás fica a ideia de um “continente condenado”, dada a resiliência que evidenciou face à crise económica global que estalou em 2007. Como sublinham os técnicos da Brookings, “hoje, África é uma terra de oportunidades tanto para africanos como para investidores internacionais”, cujas manifestações de interesse num horizonte

Um mundo a três velocidades Na verdade, os países emergentes e os países em vias de desenvolvimento, nomeadamente os africanos, têm de acautelar riscos que se concretizaram no mundo mais avançado e construir uma política orçamental sólida e desenvolver a regulação e supervisão bancária. Paralelamente, as economias mais avançadas, mas que estão a marcar passo, terão de encontrar formas de reparar os danos em termos da capacidade financeira.

A perspectiva de uma evolução da economia global com três andamentos diferenciados tende a concretizar-se. Por um lado, os países que continuam a crescer a um ritmo significativo (os emergentes e os países em desenvolvimento); por outro, os países que estão novamente a encarrilar, como é o caso dos Estados Unidos; e, finalmente, os países que ainda têm muito a fazer para voltar a uma trajectória sustentável, nomeadamente os europeus e Japão. Mas todos têm de estar atentos a este mundo incerto, como sublinhava, recentemente, a directora-geral do FMI, Christine Lagarde.

Países emergentes a puxar pelo Mundo Taxa de crescimento do PIB em% 20% Resilência dos países em desenvolvimento

15% 10% 5% 0% -5%

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Mundo Emergentes e países em desenvolvimento Economias avançadas

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Economia

ÁFRICA E ÁSIA LIDERAM CRESCIMENTO MUNDIAL

Mais de 6% Entre 4% e 6% Entre 2% e 4% Entre 1% e 2% Entre 0% e 1% Menos 0% Fonte: World Economic Outlook, FMI, Abril 2013

de cinco a dez anos está a aumentar. Então, o que mudou para esta alteração na percepção dos potenciais investidores? Em primeiro lugar, os investidores começam a afectar os investimentos numa lógica de médio e longo prazo, alterando um perfil de especulação que caracteriza economias muito dependentes de matérias-primas. Esta mudança deriva da volatilidade das economias mais avançadas, com vários países da OCDE em fases de recessão ou estagnação económica, mas também de um crescimento explosivo das classes médias dos países africanos, com o tendencial aumento do rendimento disponível e que sugere um crescimento acentuado do consumo e, logo, de atractivas oportunidades de investimento na produção. Mas os agregados macroeconómicos não espelham realidades e modelos de desenvolvimento muito díspares.

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Apesar do ritmo intenso de crescimento doa países mais ricos em recursos, alguns países, como a Etiópia, Ruanda ou Moçambique têm evidenciado índices de crescimento elevado, impulsionado pelos serviços e agricultura. Daí que haja uma maior volatilidade no padrão de crescimento dos países mais ricos em recursos, tornando-os mais vulneráveis à evolução dos preços subjacentes a esses activos naturais. Apesar da última revisão em baixa das previsões para África, o FMI continua a classificar o ritmo de criação de riqueza na África Subsaariana como “robusto” e em linha com a evolução dos emergentes BRIC (Brasil, Rússia, India e China). No ‘World Economic Outlook’, divulgado já na segunda quinzena de Abril, o Fundo reduz em 0,2 pontos percentuais a previsão para 2013, para 5,5%, mas eleva em 0,4 pontos percentuais, para 6,1%, a projecção

para 2014, o que impulsiona a região para a frente do Brasil (3% em 2013 e 4% em 2014) mas ainda aquém do ímpeto chinês (8% em 2013 e 8,2% em 2014). A resiliência do crescimento africano face às dificuldades globais assenta na retenção/atracção de investimento privado, cujos fluxos aumentaram 5,5% em 2012 para 37,7 biliões dólares, mercê da manutenção de preços relativamente elevados das commodities e da descoberta de novos recursos minerais, nomeadamente na costa leste do continente, em Moçambique, e das sucessivas descobertas de reservas de petróleo com viabilidade económica na África Ocidental. #

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Opinião

Novo regime cambial para o sector petrolífero em Angola

Os novos desafios Mafalda Oliveira Monteiro, Sócia da Miranda Correia Amendoeira & Associados – Sociedade de Advogados

F

oi recentemente publicada a Lei n.º 2/2012, de 13 de Janeiro, que veio estabelecer um novo regime cambial aplicável ao sector petrolífero em Angola. Como se sabe, Angola é ainda uma economia fortemente dolarizada, ao que não será alheio o regime cambial que até aqui era aplicável às empresas petrolíferas e que permitia a estas companhias pagar a entidades residentes cambiais em moeda nacional ou estrangeira. Muito se tem discutido e escrito sobre os méritos e os deméritos da dolarização de iure ou de facto das economias. Certo é que a dolarização de uma economia está fortemente associada à pressão inflacionista e à desvalorização da moeda local e condiciona as políticas monetárias e cambiais do país. O consenso relativamente à estabilidade monetária como trave mestra para o crescimento económico fez com que uma grande parte dos bancos centrais de países em vias de desenvolvimento procedesse à revisão dos seus estatutos e das leis que regem as suas actividades para incorporar a estabilidade de preços como seu objectivo primordial. Foi neste contexto que Angola aprovou um novo regime cambial para o sector petrolífero. No passado, as altas taxas de inflação e o elevado nível de depreciação da moeda nacional levaram as famílias e os investidores, nacionais e estrangeiros, a proteger a sua riqueza e rendimentos, utilizando a moeda estrangeira para efeitos de reserva

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de valores, intermediário de trocas e medida de valor. Mais recentemente, Angola registou uma redução acentuada da taxa de inflação anual e alcançou uma estabilidade da taxa média de câmbio. No ano de 2012, Angola registou a mais baixa taxa de inflação de sempre desde o fim da guerra civil em 2002. Estes resultados decorrem das políticas que foram implementadas no ano económico de 2012 e demonstram a consolidação do poder liberatório do Kwanza, moeda nacional, por contraposição às grandes depreciações dos anos anteriores. Espera-se, assim, que as novas regras cambiais impostas ao sector petrolífero irão contribuir para a redução dos níveis de dolarização da economia e, consequentemente, da dependência monetária do exterior, colocando novos desafios à prática da política monetária em Angola. Para o efeito, e por forma a assegurar uma transição suave do regime aplicável e evitar qualquer perturbação do mercado e, em particular, do sector petrolífero, foi estabelecido pelo Banco Nacional de Angola (BNA) um calendário faseado de implementação da nova lei. Neste sentido, um primeiro passo, em vigor desde 1 de Outubro de 2012, foi o da imposição às companhias petrolíferas da obrigação de pagarem os bens e serviços fornecidos por entidades residentes cambiais através de

contas bancárias domiciliadas em Angola. Um outro importante passo para o país será dado a partir de 1 de Outubro de 2013, data em que as empresas operadoras passarão também a estar obrigadas a efectuar os pagamentos relativos a bens e serviços prestados por não residentes cambiais a partir de contas bancárias locais. E, com maior importância para uma maior autonomia monetária e cambial, a partir de 1 de Julho de 2013, os pagamentos a residentes cambiais passarão a ter de ser liquidados na moeda nacional. Esta última medida deverá ser concomitantemente alargada a outros sectores. Os pagamentos no mercado interno deverão, assim, passar a ser feitos primariamente em moeda nacional, reservando-se a moeda estrangeira para as transacções com o exterior. É de esperar que o BNA, enquanto Autoridade Cambial, venha a restringir mais o acesso a divisas estrangeiras para liquidação de transacções puramente internas, assegurando, no entanto, o pleno acesso às mesmas no quadro das transacções internacionais. Compete agora aos agentes económicos e às famílias adoptar progressivamente, e de acordo com o calendário fixado, a moeda nacional nas suas operações de trocas internas, contribuindo para uma eficaz e responsável implementação da nova lei. #

“É de esperar que o BNA, enquanto Autoridade Cambial, venha a restringir mais o acesso a divisas estrangeiras para liquidação de transacções puramente internas, assegurando, no entanto, o pleno acesso às mesmas no quadro das transacções internacionais.”

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Vida Empresarial

Grupo Cabeto Sob o signo do crescimento e internacionalização A entrada em Portugal, em 2010, potenciou o crescimento do Grupo Cabeto, uma das maiores organizações empresariais privadas angolanas. A partir da Europa, o Grupo prepara agora a sua expansão para outros pontos do globo. T Manuela Sousa Guerreiro | F Bruno Barata

O

Grupo Cabeto está entre os maiores grupos privados de Angola, com actividade em vários sectores de actividade, desde a construção civil e obras públicas aos transportes, passando pela prestação de serviços de segurança privada, distribuição alimentar, turismo, exploração agrícola ou, mais recentemente, material hospitalar e dispositivos médicos. Nascido, oficialmente, em 2000, mas tendo iniciado a sua actividade anos antes, em 1996/1997 e liderado por Julião Domingos, o Grupo iniciou então uma estratégia de expansão e diversificação da sua actividade que culminou em 2010 com a abertura do escritório em Portugal, tendo sido um dos primeiros grupos angolanos a apostar numa presença directa neste país. “O grupo Cabeto é hoje constituído por seis empresas. A Cabeto, a Junel, a Patriciana & Irmãos, a Jufepa, a Gran Inês Investimentos e a WilliamPharma, que foi constituída muito recentemente. A Gran Inês está ligada à actividade de exploração agrícola e distribuição alimentar na província de Malange, onde o Grupo detém uma propriedade com mais de cinco mil hectares e seis quilómetros de frente de rio. É uma fazenda de grande dimensão mas que ainda não está completamente explorada. Está a ser feito um grande investimento na criação de infra-estruturas, desmatamento e desbravamento de terra, uma vez que aquela área é terreno virgem”, conta João Guerreiro, administrador da sucursal do Grupo Cabeto em Portugal.

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A par do potencial agrícola, é ali que está a nascer o primeiro projecto turístico do grupo angolano. Um investimento potenciado pela proximidade às Quedas de Água de Kalandulo, uma zona turística por excelência do país. A primeira fase do projecto está já em marcha e compreende a construção de 15 bungalows, seguindo-se a construção de uma unidade hoteleira com 30 a 40 quartos e um parque temático, entre outras infra-estruturas de apoio. A actividade turística faz crescer a já longa lista de actividades em que o grupo se movimenta. “Ao contrário do que acontece por exemplo em Portugal, onde as empresas têm um objecto social muito definido,

presença que fosse dinamizadora para as empresas portuguesas, ou outras, que quisessem entrar no mercado angolano e que privilegiassem nessa abordagem um parceiro local conhecedor do mercado. Simultaneamente, permitiu ao Grupo estar atento aos potenciais negócios deste lado do globo”, explica João Guerreiro. Hoje, dois anos volvidos, o investimento compensou. A sucursal facturou em 2012 mais de dois milhões de euros, mas, mais importante, foi o impulso que deu à actividade desenvolvida em Angola. “Muitas iniciativas que partiram deste escritório fizeram com que a actividade do grupo crescesse. Acredito que nos últimos dois anos

A sucursal facturou em 2012 mais de dois milhões de euros, mas, mais importante, foi o impulso que deu à actividade desenvolvida em Angola em Angola as empresas são obrigadas a satisfazer aquilo que são as necessidades da sua cadeia de funcionamento. Daí que muitas das vezes tenham um leque bastante diversificado de negócios”, justifica João Guerreiro.

Presença global via Lisboa Foi para potenciar os vários negócios e promover novas parcerias que o grupo apostou na abertura da sucursal em Portugal. “A estratégia passou por tentar criar uma

tenhamos contribuído para a duplicação da facturação”, sublinha João Guerreiro. Uma das áreas que mais cresceu fruto das parcerias firmadas em Portugal foi a da distribuição alimentar, graças ao investimento, com a portuguesa JC Coimbra, na criação de uma marca própria de óleo alimentar, a ‘Avó Inês’. O óleo é produzido e embalado em Portugal e depois distribuído em Angola. Depois do óleo seguiu-se o investimento numa marca de vinho a ‘Dikamba’ (que significa amigo). “É uma experiên-

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“Desde o início que queremos estar de ‘pedra e cal’ em Portugal. Não foi a crise que nos trouxe ao país mas ela abriu-nos novas perspectivas, uma vez que há mais empresas interessadas na sua expansão para outros mercados, incluindo o africano”, João Guerreiro, administrador da sucursal do Grupo em Portugal

grupo cabeto

Cabeto, lda.

Junel, lda.

cia que está ainda numa fase embrionária mas que está a correr muito bem. Temos um vinho de óptima qualidade, da região do Douro, que é aqui embalado com o nosso rótulo e que é posteriormente comercializado em Angola, sobretudo nas províncias do Bengo, Luanda e Malanje, mas queremos estender a distribuição a outras províncias”, refere o administrador. Em Portugal, o grupo firmou ainda várias parcerias com fornecedores de materiais de construção civil e também na indústria metalomecânica. Pela sucursal passou ainda a criação da mais recente empresa do grupo, a WilliamPharma, ligada à área da saúde, a qual já é responsável por cerca de 40% do seu volume de negócios. “Esta empresa dedica-se, sobretudo, à distribuição de dispositivos médicos hospitalares de categoria 1 e 2. Estamos a falar de seringas, cateteres, entre outros consumíveis, para

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patriciana e irmãos, lda.

jufepa, lda.

além dos equipamentos utilitários como bengalas, cadeiras de rodas, camas, material de ortopedia, entre outros. Aqui gerimos a aquisição deste material, em conjunto com os nossos colaborados no Brasil, no Médio Oriente e na Ásia”, explica João Guerreiro. Actualmente, o escritório localizado no Almada Business Center já se tornou pequeno face à dimensão que os negócios assumiram, pelo que em breve o Grupo deverá reforçar o seu investimento em Portugal. “Queremos concentrar em Lisboa o nosso staff, que actualmente está espalhado de Norte a Sul do país, e temos também em vista a aquisição de armazéns próprios. Desde o início que queremos estar de ‘pedra e cal’ em Portugal. Não foi a crise que nos trouxe ao país mas ela abriu-nos novas perspectivas, uma vez que há mais empresas interessadas em expandir para outros

Gran ines Investimentos, lda.

william farm, lda.

mercados, incluindo o africano”, reforça o responsável. Mas não é só em Portugal que o Grupo Cabeto está em expansão. Em conjunto com parceiros locais, vai investir na criação de uma indústria de engarrafamento de gás na Guiné Conacri. O investimento global na construção da unidade fabril ronda os 700 mil euros e a fábrica terá uma capacidade de enchimento de 1500 a 2000 garrafas por dia. O grupo tem também ‘antenas’, no Brasil e nos Estados Unidos da América. A estratégia de crescimento abrange de igual forma o mercado interno. Actualmente, grande parte da actividade do Grupo Cabeto está concentrada nas províncias de Luanda, Bengo e Malange mas existe intenção de levar os negócios para outras regiões mais a sul, como sejam o Lobito e Huambo. #

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Vida Empresarial *Entrevista Rui Miguel Nabeiro, presidente do Conselho de Administração

Delta Cafés

Café angolano à conquista do mundo

A marca Ginga e o ‘lote origens Angola’ têm em comum duas coisas: são ambos produzidos com café angolano e fazem parte do universo Nabeiro. A primeira é líder de mercado em Angola e o segundo irá chegar, em breve, aos 35 países onde o Grupo está presente, como contou Rui Miguel Nabeiro, presidente do Conselho de Administração da Delta Cafés, à revista da CCIPA. T Manuela Sousa Guerreiro | F DR

2012 foi um bom ano para o grupo Nabeiro. Nessa perspectiva foi também um bom ano para a actividade do grupo em Angola? 2012 foi um ano positivo, dentro e fora de Portugal. Embora a conjuntura sócio-económica nos dissesse o contrário, a verdade é que conseguimos alcançar os objectivos que tínhamos definido. Em Angola tivemos um crescimento na ordem dos 35%. Somos líderes neste mercado e queremos continuar a sê-lo. Neste sentido, estamos a reforçar a nossa posição no canal HORECA, no canal da moderna distribuição e na área institucional. Queremos também alargar a nossa presença nas províncias. Que áreas mais contribuíram para o crescimento da actividade da empresa em Angola? A DeltaQ foi determinante para o nosso crescimento, mas não foi o único factor, uma vez que tanto a Delta, como a marca Ginga tiveram excelentes resultados. Os nossos vinhos também têm alcançado números muito interessantes. Como tem evoluído a produção e comercialização do café Ginga? A marca Ginga tem evoluído muito favoravelmente, sendo a marca número 1, entre as produzidas em Angola. Podemos mesmo dizer que as vendas têm crescido todos os anos, nomeadamente no café moído, em

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que o lote Ginga Lobito apresenta uma performance muito interessante. Neste momento, já torramos mais de 300 toneladas por ano e esperamos continuar a crescer. A Angonabeiro emprega no total cerca de 110 colaboradores, sendo que mais de 60% estão na área operacional, desde a indústria, à logística e serviços. A comercialização é feita em todos os canais. No entanto, o retalho moderno é hoje o canal de eleição para as vendas da marca. Neste momento a produção destina-se só ao mercado angolano ou há planos de expansão? Actualmente a marca Ginga, produzida com café angolano, é comercializada apenas em Angola, mas estamos a fazer alguns contactos para tentar introduzir a marca em alguns países vizinhos. Exportar café, sob a sua forma de produto acabado, exige um conhecimento pormenorizado dos mercados e respectivos clientes. Só assim é possível ter soluções adequadas para cada uma das realidades e esse é um trabalho que demora tempo e que só há pouco iniciámos. Contudo, há já muitos anos que a Angonabeiro exporta café angolano para Portugal, o qual é depois integrado nos vários lotes de produto que a empresa trabalha. Este café é exportado após descasque e rebenefício, naquilo que nós chamamos café comercial. No último ano atingimos 300 toneladas de café exportado. Um número muito interessante, mas que queremos aumentar. Recentemente o Grupo começou a comercializar em Portugal o ‘lote origens Angola’. O lote origens ‘Angola’ é de facto um dos nossos últimos lançamentos e resulta da selecção dos melhores cafés de Angola. É um lote no qual apostamos muito, não só na perspectiva do mercado interno como também no externo. O café angolano é reconhecido em todo o mundo, pelo que este lote vai ser lançado nos 35 países onde a Delta Cafés já está presente.

Produção reduzida restringe crescimento A produção de café em Angola tem crescido? O crescimento tem sido, para já, pequeno. Na realidade, se houvesse mais café disponível, mesmo que de difícil acesso, estaríamos na linha da frente para comprar esse café e para o colocar nos mercados internacionais. A Angonabeiro tem uma rede

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Sabia que? A variedade Robusta é a predominante em Angola, sendo que esta é a variedade que atribui corpo e força ao blend final do café. Pode distinguir-se, entre os cafés originários de Angola, o Robusta “Amboím” - cujas características são próximas de uma variedade arábica, o que lhe dá características finais únicas e que levou, no passado, a que fosse considerado o melhor Robusta do mundo – e o robusta “Ambriz”, outra das variedades predominantes no país, que tem como característica específica o facto de atribuir ao blend final um aspecto mais cremoso.

de parceiros, que vai desde os pequenos agricultores aos operadores de descasque, que se encontram espalhados por várias províncias. Desta forma, estimulamos o desenvolvimento de uma verdadeira cadeia de abastecimento associada à fileira do café. Tanto a cadeia de abastecimento como a fileira do café necessitam de ser apoiadas e estimuladas pelas áreas de tutela, nomeadamente a Agricultura e a Indústria, face quer ao potencial agrícola do país para esta cultura, à tradição (Angola já foi um dos maiores produtores de café do mundo), como ao potencial exportador que a cultura apresenta. Só assim será possível estimular o cultivo dos campos e a fixação das populações, ao mesmo tempo que estaremos a trabalhar um produto com potencial, que pode ajudar a equilibrar a balança comercial do país.

Como vê hoje o desenvolvimento de Angola? E, nessa perspectiva, como poderá evoluir a vossa actividade no país? Angola continua a crescer a um ritmo acelerado e continuam a haver oportunidades de crescimento. A sofisticação dos hábitos dos consumidores e dos sectores da distribuição e comercialização dos produtos alimentares é determinante. O nosso Grupo quer crescer integrado nesta dinâmica, procurando estar presente de forma mais eficaz em todos os canais de distribuição, tentando encontrar as melhores soluções para crescer em canais onde ainda não estamos presentes ou ainda não somos tão fortes como gostaríamos e em que sabemos haver margem de progressão. Temos alguns investimentos previstos na área da logística e da distribuição e também na área da logística no tratamento do café. Queremos tornar-nos cada vez mais independentes e ter maior capacidade para responder aos desafios que nos são colocados diariamente. No final do ano passado o Grupo fez um rebranding da marca Delta. Quais os motivos? Somos uma marca cada vez mais global e sentimos a necessidade de ter uma identidade a este nível. O rebranding foi um momento de viragem na nossa marca, no que diz respeito à imagem. A qualidade que nos é reconhecida, desde sempre, contínua inalterável. Continuamos a ser a mesma marca. Mas mais moderna e cada vez mais ambiciosa. Em que mercados estão hoje presentes? E qual o peso de Angola? Estamos presentes em 35 países e Angola é responsável por cerca de 3% das vendas totais do grupo. Mas consideramos que este país tem um potencial muito interessante de crescimento, daí a razão desta operação directa através da empresa do grupo, a Angonabeiro. Angola tem hoje uma economia em crescimento, onde os hábitos de consumo estão mais sofisticados. A nossa estratégia passa, exactamente, por continuar a liderar o mercado e por estimular o crescimento desta categoria, quer no café expresso consumido fora de casa quer no segmento casa, através da DeltaQ, quer nas restantes apresentações de que dispomos e que se enquadram nos mais diversos momentos de consumo. #

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Vida Empresarial

SINFIC Colocar o conhecimento à distância de um clique A universidade de ensino à distância, ‘Pangeia’, é um sonho antigo da SINFIC que deverá em breve tornar-se realidade. T Manuela Sousa Guerreiro | F EDITANDO; DR

‘P

angeia’ é o nome por que é conhecido o supercontinente, a partir do qual se formaram depois todos os outros. A palavra vem do grego pan (todo) e exprime a noção de totalidade, universalidade. Em breve, em Angola, ‘Pangeia’ será também sinónimo de conhecimento.

O projecto do Instituto Superior Politécnico ‘Pangeia’, nasceu há seis anos pela mão da SINFIC, empresa portuguesa de tecnologias de informação (TI), e está a um passo de se tornar realidade. “Será uma universidade adaptada às necessidades de formação do país, designadamente no ensino à distância, através do recurso às novas tecnologias. Estamos a falar de um ensino interactivo, baseado na utilização de tablet PC, através dos quais serão veiculados os conteúdos e feito o acompanhamento do processo de aprendizagem”, explica Paulo Amaral, administrador da empresa. O projecto contempla ainda a construção de polos físicos na VI região académica, que abrange uma área geográfica repartida entre as quatro províncias do sul do país (Huíla, Namíbe, Kunene e Kuando Kubando).

A universidade terá capacidade para formar 10 mil alunos nas áreas de “administração pública, gestão das organizações, contabilidade, engenharia mecânica, engenharia informática, engenharia das redes, arquitectura, engenharia agrónoma, engenharia do território, engenharia dos recursos naturais e engenharia civil”. Os cursos contemplam ainda a realização de estágios curriculares em ambiente profissional. “A universidade de Pangeia manterá uma cooperação activa com o tecido empresarial local, o que favorecerá o empreendedorismo”, sublinha Paulo Amaral. O administrador da SINFIC acrescenta que o projecto assenta “num modelo de inclusão, sendo um símbolo de esperança para os mais desfavorecidos, a quem proporcionaremos sempre condições especiais de acesso”, defende.

A universidade terá capacidade para formar 10 mil alunos nas áreas de administração pública, gestão das organizações, contabilidade, engenharia (mecânica, informática, das redes, agrónoma, do território, dos recursos naturais e civil) e arquitectura

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Objectivos comuns, estratégias à parte Este é um sonho antigo da empresa que está presente em Angola desde 2003. “Constituímos a SINFIC Angola em 2003. Para além da SINFIC Portugal, o capital social da SINFIC Angola é participado por empresários locais. Desde o início que defendemos uma estratégia de independência entre as duas empresas. Nem a oferta da SINFIC Angola se limita aos produtos da SINFIC Portugal, nem esta está dependente da primeira na sua actuação no mercado. Cada uma das empresas tem uma estratégia própria, sendo o alinhamento estratégico entre as duas garantido pela partilha de decisores. Isto é, temos administradores da SINFIC Angola no Conselho de Administração da SINFIC Portugal e vice-versa. Acredito que este tem sido um dos factores responsáveis pelo nosso sucesso”, refere Paulo Amaral. Hoje a oferta da SINFIC em Angola é bastante alargada, mas há uma área que se destaca. O desenvolvimento de sistemas de identificação biométricos ganhou um impulso com a participação da empresa nas últimas eleições em Angola. “Fornecemos a tecnologia que permitiu a realização do registo eleitoral”. Um trabalho que começou em 2006. “Até hoje, no âmbito deste projecto, já formámos mais de seis mil operadores do sistema de registo eleitoral em todo o território nacional. Em média, anualmente, foram utilizadas 600 entidades registadoras, com mais de 2500 computadores portáteis, webcam, impressoras de cartões, etc.. Foram igualmente utilizados mais de 300 tablets PC numa solução de registo móvel com identificação do eleitor por comparação biométrica”, inúmera Paulo Amaral. A dimensão do projecto, igualável à dimensão do país, obrigou à criação de uma infra-estrutura de suporte de âmbito nacional, com pólos técnicos nas 18 províncias, operados por mais de duas centenas de técnicos, a construção de 18 escritórios, 18 armazéns e dois centros reparadores. “Montámos também um datacenter’de alta performance, com um blade de 64 servidores com capacidade para albergar os registos biométricos e ainda o reconhecimento biométrico por comparação dos registos”, acrescenta Paulo Amaral. Pela sua dimensão, pelo que “representou, e representa, em termos de desafio tecnológico, mas sobretudo pelo seu contributo para o fortalecimento da paz e da democracia, este projecto é um marco na história e

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“Fornecemos a tecnologia que permitiu a realização do registo eleitoral. Um trabalho que começou em 2006. Até hoje, no âmbito deste projecto, já formámos mais de seis mil operadores do sistema de registo eleitoral em todo o território nacional”, Paulo Amaral, administrador da Sinfic

na estratégia da SINFIC em Angola. Estamos a ajudar a construir o país!”, sublinha Paulo Amaral.

Oferta global à escala nacional A SINFIC Angola é também um centro autorizado para venda e apoio do sistema de mobilidade e tracking de viaturas, a solução Quatenus, que é utilizada por diversas empresas de construção civil e obras públicas, como sejam a Plansul, a Omatapalo ou a Tuamutunga, por empresas de aluguer de automóveis e por empresas financeiras. A SINFIC Angola disponibiliza ainda soluções de sistemas integrados de gestão (ERP), sistemas de informação geográfica, autodesk (CAD), etc. Entre a oferta disponibilizada pela empresa de direito angolano encontram-se as soluções desenvolvidas em conjunto com a empresa portuguesa, como o Eye Pick, lançado o ano passado, ou o Ágora – Business Process Management, “que nasceu em 2000 e que é fruto das oportunidades que encontrámos em Angola. Foi totalmente remodelado e está a ser lançado no mercado.

Ao longo dos últimos nove anos a maioria da linha de produtos da SINFIC tem sido desenvolvida a partir das necessidades do mercado angolano, o que dá à empresa um posicionamento diferente e facilita a sua entrada noutros mercados, designadamente africanos”, explica Paulo Amaral. A internacionalização da SINFIC Angola também está já em marcha e conta com o apoio da empresa portuguesa. Para a SINFIC Portugal, o mercado internacional reveste-se de uma “importância primordial”, uma vez que representa mais de 80% das receitas. Com presença forte em Angola, onde emprega mais de 350 pessoas, e em Moçambique, a empresa quer expandir a sua actividade para o Brasil, países do norte de África e Ásia. “Acredito que, tal como acontece hoje, o mercado internacional irá continuar a ter um forte peso nos nossos resultados. A experiência em Angola tem uma enorme importânciapela capacidade de criar valor noutras geografias”, reforça Paulo Amaral. #

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Vida Empresarial

Insizium Realidade virtual ao serviço de negócios reais Se no mundo do entretenimento a realidade virtual é quase banal, a sua utilização noutros sectores da economia é ainda praticamente ignorada. O potencial é real e pode mudar a forma como vemos e estamos no mundo. Angola poderá ser um dos países pioneiros na utilização destas novas tecnologias.

T Manuela Sousa Guerreiro | F bruno barata

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isitar oceanos e dar de comer a tubarões, percorrer uma refinaria, andar numa estrada no deserto ou mesmo participar numa partida de futebol. Tudo isto, e muito mais, é possível, quando visitamos a Insizium, uma empresa portuguesa que é líder mundial na área das tecnologias de realidade virtual imersiva. “A Insizium produz equipamento de visualização de grande formato de realidade virtual e 3D estereoscópicos e holográficos, bem como os respectivos conteúdos, de acordo com as especificidades de cada cliente”. O projecto nasceu oficialmente em 2004 pela mão e concepção de João Vieira, mas só em 2008, depois de muitas reuniões, algumas desilusões e muita insistência, se começou a tornar real. O apoio da norte-americana EON Reality e a sua entrada no capital social da empresa (33%) foi o factor decisivo que acelerou a

constituição da Insizium. “Costumo dizer que nós fazemos magia mas não milagres e montar um projecto desta natureza, que assenta na utilização de tecnologias de última geração, carece de um investimento inicial bastante elevado”, conta João Vieira. O montante não assustou a EON que recebeu a proposta, em português, numa sexta e a aprovou na segunda-feira a seguir. Mais do que capital, a empresa de software, trouxe relações, projectos e, com eles, clientes. “Neste processo aprendemos que um parceiro vale mais pelos seus contactos e pelas suas relações, do que pelo seu dinheiro. Esta percepção levou-nos a procurar outras parcerias junto de empresas tecnológicas mundiais, associações empresariais e, sobretudo, universidades. Temos protocolos firmados com instituições de ensino em Itália, França, Espanha e Portugal”. Uma dessas parcerias, desta feita com a

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Associação Empresarial de Portugal, levou à implementação da empresa no Centro de Congressos do Europarque. Foi aí que João Vieira reuniu uma equipa de 30 profissionais, “os melhores do mundo nas suas áreas”, sublinha o presidente da Insizium, que se divide entre dois pólos: o Interactive Digital Center (IDC), instalado no Europarque e o Experience and Discovery Center, que representam um investimento global de 8M Eur. Este último é um showroom de última geração com cerca de 1000 m2 e está instalado no Centro de Ciência ‘Visionarium’. Foi aqui que João Vieira construiu aquela que é a maior sala imersiva do mundo, um ‘equipamento’ que nos ‘transporta’ para experiências de realidade virtual interactiva muito próximas da realidade e que custou 1,8 milhões.

De Portugal para o mundo No arranque da empresa foram investidos 9 milhões de euros, mas o plano de investimentos inicial prevê um total de 10 milhões de euros, devendo estar concluído até ao final do ano. A empresa portuguesa fornece simuladores e configuradores com integração de realidade virtual imersiva e aplicação nas mais diversas áreas, como sejam ambientes industriais, forças de segurança e protecção civil. João Vieira é peremptório ao afirmar que nos próximos anos haverá um crescimento do uso intensivo de serviços de realidade virtual. Um uso que não será exclusivo das grandes empresas, antes se estenderá, de uma forma transversal, por toda a economia, sem esquecer os projectos onde o conhecimento e o entretenimento dão as mãos, de que são exemplo parques temáticos virtuais, museus, centros de entretenimento, oceanários, entre outros. A carteira de projectos actual da empresa reflecte já essa tendência. Nela coabitam grandes e médias empresas, grandes e pequenos projectos. Como a construção de uma refinaria virtual, que terá como destino o Qatar, o Pavilhão do Cazaquistão, que será construído na Rússia, ou o fornecimento de um conceito com tecnologia de realidade virtual imersiva para o Palácio do Planalto, em Brasília, passando por uma parceria com a indústria do mobiliário para incorporação de tecnologia ou mesmo a construção de uma aplicação virtual que permita sentir as texturas e visualizar o produto final e que está a ser testada na indústria têxtil. Quase tudo é pos-

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sível para estes fazedores de sonhos. “Em última análise, o que procuramos fazer é criar ferramentas que permitam às empresas e organizações melhorarem a sua performance, sem que isso represente um aumento extraordinário dos seus custos. A par da qualidade nós não excluímos nunca o factor preço, porque os projectos têm de ser exequíveis e viáveis”, sublinha João Vieira. Outra vantagem competitiva da Insizium é a capacidade de realização de projectos chave-na-mão, só possível devido à sua extensa rede de parcerias mundiais.

Angola na vanguarda Actualmente, a empresa portuguesa está já envolvida em projectos em quatro continentes: EUA (30%), Médio Oriente (15%), passando pela Europa (15%) e também por África (40%). Neste último continente, as atenções centram-se em Angola, onde a Insizium está já a trabalhar nas áreas da protecção civil e segurança. No início do ano João Vieira apresentou às autoridades angolanas um novo conceito de construção, envolvendo uma grande componente tecnológica, de esquadras de polícia e quartéis de bombeiros. Propostas que foram acolhidas com agrado neste país. “Visitei Luanda em 1992 e quando voltei, no início deste ano, o choque foi enorme pela positiva. A cidade está transformada. Não estou só a falar dos arranha-céus com os seus heliportos, é a vida e o ‘pulsar’ que se sente que é diferente. É uma cidade onde tudo se está a construir e onde existe vontade de mudança”, conta João Vieira. Na bagagem o presidente da Insizium levou propostas “não adaptadas a Angola, mas sim a qualquer outro país. Porque se Angola se quer modernizar então deve investir o seu dinheiro no uso de novas tecnologias e não utilizar técnicas e ideias de há 20

anos. Nesse sentido, o que propusemos ao governo angolano foi uma nova concepção de construção de esquadras de polícia e de quartéis de bombeiros de rápida execução, com qualidade, flexíveis às exigências actuais e futuras, próximas às populações e com incorporação de tecnologia de ponta, como sejam salas de tiro virtuais, simuladores de treino, simuladores de gestão de catástrofes e de planeamento logístico, peças fundamentais na formação dos elementos de protecção civil e segurança pública”, sublinha João Vieira. Estes são apenas dois dos projectos apresentados pelo presidente da Insizium, que aproveitou a sua visita ao país para se reunir também com representantes de algumas empresas petrolíferas para quem a utilização de ferramentas de realidade virtual imersiva na formação dos seus recursos humanos tem vantagens acrescidas, “isto porque possibilitam, como nunca, o treino de procedimentos em áreas críticas como a prevenção, manutenção e formação de competências a todos os níveis”. A comprovar o grande interesse das instituições privadas angolanas na empresa portuguesa está a possibilidade destas virem a entrar no capital social da Insizium. De acordo com João Vieira, a participação angolana poderá chegar aos 20%. A par de Angola, a Nigéria e a Guiné Conacri são outros países africanos que já manifestaram o seu interesse nos projectos desenvolvidos pela Insizium, sobretudo aqueles que foram criados para as áreas de segurança e protecção civil. “O que mostra a influência de Angola na região”, refere João Vieira. A concretizarem-se os projectos em carteira, o volume de negócios da empresa deverá disparar este ano para os 20 milhões de euros. #

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Breves empresariais

Carteira de Crédito do Banco BIC cresce

FIDELIDADE lança primeiro seguro por telefone

Entre Fevereiro e Março do corrente ano, a carteira de crédito do Banco BIC português registou um crescimento na ordem dos 500 milhões de euros (5,25 mil milhões de kwanzas), enquanto os depósitos atingiram 600 milhões de euros (seis mil milhões de kwanzas), em contra ciclo com a crise que afecta Portugal e após ter integrado o Banco Português de Negócios (BPN). Estes são resultados que ultrapassam as expectativas da administração, que já equaciona novas mudanças na gestão. Ao invés de encerrar 66 balcões das 231 agências do extinto BPN, o BIC acabou por fechar apenas 21. Também em relação aos colaboradores, acabou por garantir emprego a 1170, mais 450 trabalhadores do que o previsto. Em termos de resultado, o BIC Português apresentou em termos reais, em 2012, um prejuízo de cerca de dois milhões de euros, mas este ano, em função das projecções, espera sair do “vermelho” e ter resultados positivos.

A Fidelidade, através da sua participada Universal, lançou recentemente a primeira operação de seguro por telefone em Angola, o ‘UNiAUTO’. Esta oferta de seguro automóvel permite a cobertura total do território e, para o efeito, irá ser criada uma rede de centros de atendimento, a começar em Luanda. O novo seguro ‘UNiAUTO’ é comercializado exclusivamente por telefone. Para aderir, os interessados necessitam apenas de ligar para o número 226 434 555 e em poucos minutos subscrevem este seguro, sem ter de sair de casa ou do escritório.

UNITEL vence concurso A operadora angolana Unitel venceu o concurso para se tornar a segunda operadora de telecomunicações em São Tomé e Príncipe. A representante do Banco Mundial (BM) para o sector, Isabel Neto, considerou a candidatura como “tecnicamente competente”. Actualmente, o Governo são-tomense, através da Agência Geral de Regulação (Ager), e a Unitel estão a discutir os investimentos complementares, que incluem o acesso das telecomunicações a toda a população, particularmente a ligação à ilha do Príncipe e às zonas rurais.

N’gola investe mais de 7700 milhões de kwanzas A fábrica de cervejas N’gola, na cidade do Lubango, vai investir cerca de 7.725 milhões kwanzas, na montagem de uma nova linha de enchimento, com capacidade para 50 mil garrafas por hora, segundo a directora provincial da Indústria da Huíla, Paula Joaquim. A instalação desta linha de enchimento enquadra-se no programa de modernização da fábrica. Paula Joaquim informou que a fábrica prevê, igualmente, investir mais de nove mil milhões de kwanzas na criação de uma nova sala de xarope para o fabrico de refringentes e uma estação de tratamento de águas residuais. A N’gola pretende, ainda, instalar uma unidade de fabrico de embalagens com capacidade para 12 mil grades por semana. Apesar dos investimentos efectuados, a procura ainda é maior do que a oferta, uma vez que a fábrica abastece a totalidade da região sul do país, o que obriga a que sejam feitos novos investimentos para aumentar a capacidade de produção. A fábrica de cervejas N’gola tem três linhas de enchimento, que produzem um milhão de hectolitros por dia e onde trabalham 300 colaboradores. Desde 2000, após um concurso público realizado pelo Governo da Huíla, a fábrica passou a ser gerida pela empresa sul-africana S.A.B Miller.

Private Collection, o serviço de Concierge de Luxo.com “Private Collection é, essencialmente, um atelier privado que surge como complemento ao serviço informativo do portal Luxo.com. Trata-se de um selectivo serviço de Concierge que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, e que abarca todo o tipo de interesses e necessidades dos clientes, sejam estes do foro pessoal ou profissional e em qualquer ponto do mundo”, explica Raquel Faim, criadora e CEO do projecto que já conquistou clientes oriundos dos mais diferentes pontos do globo, Angola incluída. Da simples reserva e entrega de bilhetes para a ópera em Nova Iorque ou em Milão, ao aluguer do avião que leva as crianças de volta ao colégio na Suíça ou em Inglaterra, à prestação de

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serviços completamente taylormade em função das necessidades e desejo dos clientes, as possibilidades são inúmeras. “O objectivo é o de facilitar o mais possível a vida ao cliente, prestando-lhe todo o apoio que necessita para rentabilizar o tempo que tem disponível”, resume a gestora e criadora do projecto Luxo.com. A responsável pela equipa do Private Collection tem uma especialização em Alta Gestão Hoteleira pela Swiss Hotel Association Hotel Management School Les Roches, o que, acrescenta a CEO, assegura desde logo a prestação de um serviço personalizado de excelência.

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Vinhos de Setúbal apostam em Angola A região dos vinhos de Setúbal, onde pontificam marcas como a Bacalhôa, José Maria da Fonseca ou Casa Ermelinda Freitas, vai reforçar a aposta na exportação, que actualmente vale 28% dos 96 milhões de euros de vendas registados no ano passado. A estratégia de promoção irá centrar-se nos mercados de Angola, Brasil e Canadá, que são os que apresentam um volume de compras em crescimento. As vendas em volume dos vinhos registaram um aumento de 25%, sendo que as exportações foram responsáveis por 85% desse crescimento. A região dos vinhos de Setúbal compreende 109 empresas vinícolas da região, que empregam cerca de 2.500 pessoas e produziu no ano passado cerca de 51 milhões de litros.

Agenda Feiras Angola Feira Agro-Pecuária e Industrial de Cabinda

Data 24 a 28 de Maio 2013 Local Pavilhão Multiuso do TAFE | Cabinda

1ª edição do evento que se destina aos sectores Energético, Construção, Indústria Turismo, Educação e Formação, Transportes e Logística, Banca e Serviços Financeiros, Entidades Públicas, entre outros.

Ambiente Angola 2013

Data 31 de Maio a 2 de Junho 2013 Local FILDA, Estrada Catete - Luanda

MSC reforça serviços A MSC – Mediterranean Shipping Company SA, o segundo maior operador mundial de transporte marítimo de carga contentorizada e o primeiro em Portugal, vai reformular o serviço para a África do Sul, depois de ter reforçado no final do ano passado o seu serviço para Angola, com a introdução de escalas regulares semanais (todas as quarta-feiras) que têm como destino os portos de Luanda e Lobito. O novo serviço, directo e semanal a partir de Sines, destina-se aos portos de Cape Town, Coega e Durban e permitirá à MSC dar continuidade ao plano de expansão da empresa em Portugal, em particular no Terminal XXI de Sines. Com esta nova oferta, a MSC passa a dispor de 11 escalas semanais em Sines, ao ligar directamente este porto aos principais mercados de exportação de Portugal.

Nuviagro investe 500 milhões AKZ A empresa luso-angolana Nuviagro, especializada na produção e distribuição de produtos hortícolas e frutícolas e subsidiária da Refriango, vai investir 500 milhões de kwanzas num projecto que visa a produção de duas mil toneladas de culturas agrícola para abastecer a fábrica de refrigerantes do grupo, disse à Angop, Vasco Câmara, director-geral da empresa. O investimento, que prevê a criação de 400 postos de trabalho, inclui a aquisição de equipamentos, a instalação de um sistema de irrigação e a construção de um reservatório. O responsável referiu ainda que os terrenos estão preparados para a produção de frutas como mamão, manga, goiaba, uva de mesa, melão e melancia e produtos hortícolas como alface, repolho, brócolos, cebola, alho, cenoura, batata e tomate.

Cheyenne entra em Angola A Cheyenne inaugurou recentemente a sua primeira loja em Angola, num investimento de 540 mil euros, que poderá triplicar até ao final do ano. A marca portuguesa de jeans quer explorar o canal multimarca em Angola e abrir 10 lojas a curto prazo. Para o efeito, conta com uma parceria com a Friconde, já instalada no país há algum tempo. A empresa espera um volume de negócios de cinco milhões de euros este ano, contra os três milhões registados em 2012. De acordo com Nuno Santos, presidente da Iodo Jeans, o mercado externo representa, actualmente, 60% das vendas da empresa, sendo que Angola pode vir a absorver 30% a 40% das exportações.

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Feira Internacional de Ambiente, Serviços e Tecnologias Ambientais.

FILDA

Data 16 a 22 Julho 2013 Local FILDA, Estrada Catete - Luanda

30ª Edição - “Os Desafios da Atracção do Investimento: Estratégia, Legislação, Infra-estruturas e Recursos Humanos”.

Feira Internacional de Minas de Angola Data 3 a 6 de Outubro 2013 Local FILDA, Estrada Catete - Luanda

Projekta by Constrói Angola Data 24 a 27 de Outubro de 2013 Local FILDA, Estrada Catete - Luanda

O maior evento orientado para o sector da Construção e Materiais de Construção.

Feiras PORTUGAL Tektonica

Data 7 a 11 de Maio de 2013 Local FIL (Parque das Nações)

Construção, produtos, equipamentos e serviços.

LOGITRANS

Data 15 a 16 de Maio de 2013 Local: Centro de Congressos do Estoril

Logística, Transportes, Equipamentos e Armazém. Esta edição tem como tema internacionalização pela exportação e serão quatro os países convidados: Angola, Marrocos, Polónia e Turquia.

FIA (Feira Internacional de Artesanato) Data 6 a 14 de Julho de 2013 Local FIL (Parque das Nações)

A Feira Internacional de Artesanato de Lisboa apresenta uma ampla oferta em produtos artesanais de mais de 40 países.

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O empoderamento da

mulher angolana Na política, no meio empresarial, na moda ou na sociedade, as mulheres angolanas ganham cada vez mais destaque. Vê-se uma mudança de atitude que tem sido suportada pelo poder político mas também pela Organização da Mulher Angolana. T ANDREIA SEGURO SANCHES | F DR

A

s mulheres angolanas continuam firmes no desafio da conquista da igualdade quer seja na vida política, económica ou cultural. A experiência diz que quando as mulheres desempenham um papel importante nos processos de paz, a paz é mais sustentável. Também já vários estudos mostraram que a presença feminina nos conselhos de administração das empresas está associada a um melhor desempenho financeiro. Em Angola, a estabilidade política e social trouxe progressos no domínio do empoderamento da mulher. Cada vez mais a mulher angolana desempenha um papel activo no desenvolvimento da sociedade, projectando um futuro que se espera de paz e progresso. Para o efeito, foi necessário quebrar paradigmas, saltar barreiras e efectuar inúmeras mudanças. Hoje, a mulher está presente nas mais diversas esferas: profissional, social, política ou económica. Como explica Irina Alves, editora da revista angolana Chocolate, “contrariamente ao que se possa pensar lá fora, temos muitas mulheres em cargos de destaque em várias áreas da sociedade, incluindo cargos políticos, mais do que em Portugal e no resto da Europa. A população feminina tem demonstrado nos últimos tempos capacidades inequívocas de liderança”. Angola tem sido um bom exemplo para outros países no que a esta material diz respeito. Tem uma taxa de 35,9 por cento de mulheres com assento parlamentar (79 deputadas num universo de 220) e dos 35 ministros existentes, 8 são mulheres, o que corresponde a uma taxa 22,85 por

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cento. Isto significa que há um reconhecimento público da importância da inclusão feminina para a interpretação dos actos e dos processos políticos do país. “É bastante interessante e faz-nos acreditar, a nós mulheres, que temos espaço para liderar”, refere a editora, salientando que a “mulher angolana perante as contrariedades existentes, acaba por se distinguir com muita diplomacia”.

Meio século a lutar pela igualdade dos géneros Observam-se grandes progressos na emancipação da mulher. Progressos esses que têm tido vários rostos, ao longo dos últimos anos, mas um, em especial, destaca-se, a Organização da Mulher Angolana (OMA), que este ano comemora 51 anos. Mais de meio século a lutar pelo reconhecimento e empoderamento da mulher angolana, a desafiar o poder instituído e a mudar mentalidades. Criada a 2 de Março de 1962, no mesmo dia em que se comemora o Dia da Mulher Angolana, a OMA teve um papel importantíssimo na luta de libertação do país e no apoio às forças guerrilheiras do MPLA dentro e fora de Angola. Presidida por Luzia Sousa Pereira Inglês Van-Dúnem Inga, a OMA é uma Organização Social, de âmbito nacional, que associa todas as mulheres, independentemente das suas convicções políticas, filosóficas ou religiosas, que pretendem lutar pela sua completa emancipação e por uma participação mais activa em todos os aspectos. Entre as muitas contribuições de membros da OMA estão

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o estabelecimento de programas de alfabetização e de serviços em organizações de serviços de saúde e sociais. Constitui ainda objectivo principal da OMA lutar pela causa da emancipação da mulher contra todas as formas de discriminação e a sua plena participação na tomada de decisões em todos os sectores da vida política, económica e social de Angola. Segundo a secretária geral da OMA, actualmente a organização tem mantido relações privilegiadas com organizações femininas congéneres, nomeadamente no âmbito da África Austral e no domínio da SADC e da CPLP. Também se tem vindo a afirmar na Internacional Socialista das Mulheres, participando em conferências e reuniões mundiais. De igual forma, o ministro da Defesa Nacional, Cândido Van-Dúnem, reconheceu recentemente que a mulher angolana tem sido “uma agente activa e perseverante na educação da sociedade, designadamente na coesão da família, no resgate dos valores morais, cívicos e culturais, sempre na perspectiva de preservar o espírito de solidariedade e a honra da família, características próprias da nossa forma de viver e de estar”. Para a estilista Daniela Andrade, a mulher angolana está cada vez mais “empreendedora e exigente. É vaidosa, trabalhadora e sabe o que quer. Na verdade são elas o motor da sociedade angolana, são as matriarcas da família, são elas que gerem tudo”. Apesar das conquistas alcançadas, a mulher ainda encontra obstáculos à sua plena emancipação, como a falta de oportunidades, a desigualdade salarial, o analfabetismo ou a violência doméstica. Problemas para os quais a sociedade civil deve estar alerta. Segundo Irina Alves, “o papel da mulher angolana na sociedade é deveras importante e quase sagrado. É a mulher que carrega os alguidares com a água, ou com comida para vender e leva os filhos às costas com panos, trazendo ao final do dia dinheiro para casa, para alimentar o marido e os filhos; a mulher é mãe, é guerreira, é trabalhadora… acaba por ser o centro fulcral de todo o movimento da sociedade em que estamos inseridos. É valorizada claro, mas na minha opinião, aqui também, é possível fazer mais, começando pelo processo de mudança de atitudes e mentalidades já enraizadas.”

Modelos angolanas em ascensão Nos últimos tempos várias são as mulheres que têm dado cartas em Angola, mas

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“contrariamente ao que se possa pensar lá fora, temos muitas mulheres em cargos de destaque em várias áreas da sociedade, incluindo cargos políticos, mais do que em Portugal e no resto da Europa. A população feminina tem demonstrado nos últimos tempos capacidades inequívocas de liderança”, Irina Alves, editora da revista angolana Chocolate também pelo Mundo fora. A grande maioria na área da moda, onde a beleza angolana tem sido um marco universal. Nomes como Maria Borges, eleita a melhor modelo negra da semana de moda de Nova Iorque, Sharam Diniz, que desfilou para a Victoria Secret´s depois de ser eleita Super Model of the World” (2009), Leila Lopes, Miss Universo 2011, Karina Silva, considerada o Melhor Corpo da África Austral ou Nadir Tati estilista, consultora de moda e socióloga criminal, que recentemente vestiu uma das nomeadas dos Óscares, dão mais prestígio a Angola. “Cada vez mais a moda em Angola está a ganhar força e destaque a nível internacional, porque aparte a fisionomia da africana/angolana ser propícia a esta área de destaque (corpos esbeltos, pernas e braços longos, são magras em geral), também o nosso país apresenta um desenvolvimento sustentável, o que afecta as várias áreas positivamente, neste caso a moda, que tem apresentado um crescimento considerável no nosso país. No entanto, o mercado ainda é pequeno, comparativamente a mercados

que conheço muito bem, como o português e o espanhol. Mas penso que mais modelos de destaque irão dar cartas, como mais agências de moda terão espaço para aparecerem e vingarem. Só com concorrência e mais diversidade é que qualquer área pode dar o “salto” e ter a verdadeira expansão que se pretende, tornando-se um mercado internacional competitivo”, revelou Irina Alves. Para a editora da revista Chocolate, a estilista Nadir Tati é a mulher angolana que mais admira “pela determinação, profissionalismo, honestidade, pelo que é e o que pretende; tendo o dom de brincar e criar com tecidos africanos, magia pura em forma de arte, nos seus desfiles, e, ser a prova viva de que com muito trabalho, dedicação e persistência diária podemos concretizar os nossos sonhos! É uma fonte de inspiração para mim, uma Diva da Moda que eleva o nosso país, o seu trabalho e a moda a um patamar global, mostrando as suas raízes de africanidade. Um misto de tribal chic moderno, a um nível de alta-costura”. #

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Sociedade

Daniela Andrade

Inspiração na Welwitschia É jovem e fala do seu trabalho e da moda em Angola com um brilhozinho nos olhos. Extremamente detalhista, gosta de criar as suas peças através das tendências que pesquisa no mercado, às quais junta a sua própria criatividade, produzindo vestuário com um misto de urbano chique. As suas colecções têm sempre presença assegurada na Moda Luanda. T ANDREIA SEGURO SANCHES | F DR

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aniela Andrade, para muitos ainda uma ilustre desconhecida, é uma estilista angolana que vai dando os seus passos no mundo da moda. A sua simplicidade, inteligência e delicadeza são visíveis na maneira como gere a carreira e na forma como cria as suas colecções. O sonho vem desde criança. “Quando era pequena sempre gostei de desenhar trapos”, conta sorridente. Aconselhada e incentivada pela família a não desistir, Daniela Andrade acreditou sempre que tinha capacidades para seguir o seu sonho. Frequentou o curso de Design de Moda, na Faculdade de Arquitectura da UTL, em Lisboa (Portugal) e, apesar do choque inicial, persistiu na sua caminhada. “Foi uma fase de muita pressão e algum nervosismo. Temos aquela visão romanceada das passerelles, mas quando chegamos lá deparamo-nos com uma profissão que exige muito trabalho, rigor e disciplina. Quando aprendemos como se passa da ideia do papel para a tridimensionalidade tudo fica mais claro”, conta a jovem, que adorou a experiência de pôr em prática alguns métodos que aliam a criatividade à produção. Desde então, a estilista angolana tem desenvolvido o seu trabalho com estilo e glamour no seu ateliê em Lisboa, combinando tecidos europeus e africanos. Extremamente detalhista, costuma ter o controlo absoluto do processo produtivo. Ou seja, pesquisa, cria, desenha, escolhe os tecidos e os materiais e acompanha de perto a elaboração das peças, ao desenvolver o seu próprio estilo e marca. Daniela Andrade valoriza o original, o pessoal e o chique, criando uma linha para “uma mulher de espírito jovem”, mas sem perder o clima urbano da mulher que trabalha e que ao mesmo tempo é sofisticada.

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Colecção na Moda Luanda Na 16ª edição da Moda Luanda, o evento mais antigo e emblemático de moda que decorre em Angola, a estilista apresentou mais uma vez a sua colecção, preparada exclusivamente para o evento. Esta é a terceira vez que Daniela Andrade participa na

Moda Luanda, evento que este ano bateu todos os recordes ao apresentar a maior participação de sempre: 25 estilistas. Com uma colecção que lhe valeu o elogio da crítica, Daniela arriscou ao dar continuidade ao trabalho iniciado o ano passado, mantendo o tema da Welwitschia, umaplanta que só existe no deserto do Namibe. Focou-se nos brilhos e na luminosidade do deserto, utilizou alguns metálicos e usou tecido africano, mas de uma forma mais gráfica. Os tons pastel e os estampados a lembrar as flores também foram uma constante, bem como a criação de peças em separado. “Gosto de fazer peças que acompanham a mulher do dia para a noite e o facto de serem peças separadas ainda se torna mais prático e mais económico”, sublinha. Sobre a sua participação na Moda Luanda, diz que acaba por ser uma boa rampa de lançamento para os projectos que tem em mente. “As coisas têm de ser feitas de forma faseada. Agora estou a adquirir a experiência e a criar a minha marca, que espero daqui a uns tempos ver consolidada no mercado”. Para breve está a construção de um site onde estarão à venda as peças, uma vez que o mercado assim o exige. “Tenho sido muito solicitada e como ainda não tenho uma loja própria vou começar por criar um site”, revelou. Daniela Andrade apelou aos empresários e aos políticos para que invistam no sector têxtil em Angola, por forma a desenvolver a actividade no país. “Angola tem de começar a produzir, até porque tem todos os recursos à disposição. Não tínhamos necessidade desta dependência, sobretudo, ao nível dos tecidos”, remata a estilista que actualmente vive em Portugal. #

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Cultura

Primatas como protagonistas

Campo Pequeno recebe Team de Sonho

‘Eu sou a Chimba II’, a mais recente obra do escritor angolano Mário Carmo, foi lançada no Palácio Galveias, com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa. Prefaciado por Palmira Tjipilica e apadrinhado pelo embaixador de Angola em Portugal, José Marcos Barrica, o livro conta a história de vida de Chimba, bonobo fêmea, desde as florestas de Cabinda (Angola), passando pelos mercados de Luanda, até à vida em Portugal. A relação com a sua família humana e com o seu companheiro, o chimpanzé Bongo, também este resgatado num mercado informal em Angola por Mário Carmo, que acolheu os primatas no seu lar até conseguir enviá-los para um Santuário e um Jardim Zoológico. Um relato que todas as crianças e jovens devem conhecer para saber a importância de proteger estes seres inocentes que continuam a ser capturados para tráfico de animais. O livro “Eu sou a Chimba II” vai ser lançado também em Luanda no próximo mês de Julho.

O palco do Campo Pequeno vai ser pequeno para tanta vibração. A razão prende-se com o primeiro concerto do Team de Sonho em Portugal, agendado para o dia 11 de Maio, com base nas comemorações dos dez anos de paz em Angola. Team de Sonho junta alguns dos mais mediáticos nomes da música angolana num projecto único que leva Angola e a sua cultura mais longe. São eles: Anselmo Ralph, Zona 5, Pérola, Daniel Nascimento, Yola Araújo, Yuri da Cunha, Big Nelo, Puto Português, C4Pedro, Os Tuneza, DJ Callas, Cage One, Eddy Tussa, JD, Nagrelha e Rey Panda. Depois de no passado dia 15 de Dezembro ter esgotado o Estádio dos Coqueiros, em Angola, com um mega show, com mais de 50 mil pessoas na assistência, em Lisboa o Team de Sonho espera fazer vibrar os fãs angolanos e portugueses com duetos como o de Yuri da Cunha e Big Nelo ou de Nagrelha com Rey Panda. Uma noite que se espera memorável e onde o público poderá ouvir semba, zouk e house music, bem como a fusão do estilo angolano kuduru com o R&B.

‘O Velho do Rio Sem Nome’ “Ao longe uma silhueta descontraída, vestida de tarde, um homem subia a ladeira na calma amarelada do dia que suportava uma beleza silenciosa. Um velho com os seus noventa e um anos (a idade não serve só para envelhecer), magro, de mãos enrugadas, vestido de negro, rosto cansado pelos tantos anos já vividos sobre aquela face que, tantas tardes, como aquela já viu e viveu. Sobe com a energia possível, carregado de umas folhas verdes que apanhara nas margens do rio Kuanza, chega ao cimo transpirado. Não o percebo nem o entendo, mas confio no saber dos anos. A este, dei do meu comer, e dele a inspiração para este título: ‘O Velho do Rio Sem Nome’”, escreve Vítor Burity da Silva. O quarto livro deste escritor angolano faz-nos viajar por Angola, numa literatura apaixonante, de paisagens que ganham cores, sons e cheiros à medida que a linguagem simples constrói uma prosa linear. Histórias de vida que se cruzam, contadas por um homem, que deambula pelas margens do mítico rio Kuanza, e cuja idade se mede pelas experiências e aprendizagens da vida. Publicado pela Porto Editora, este livro faz parte da colecção Literatura Plural, dedicada a autores africanos e pode também ser adquirido em Angola e em Moçambique através da Plural Editores. ‘O Velho do Rio Sem Nome’ sucede assim a ‘Rua dos Anjos’ (2009), ‘Este Lago não Existe’ (2009) e ‘Novembro’ (2010).

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Colecção ‘Histórias de África’ A Porto Editora inaugurou recentemente uma nova colecção de livros, dedicada à promoção da criação literária angolana, denominada ´Histórias de África`. O pontapé de saída coube à jovem escritora angolana Cássia do Carmo, que lançou, em Lisboa, o seu primeiro livro intitulado ‘As duas amigas’. Actualmente a estudar em Londres, a escritora, de apenas 17 anos, retrata neste livro as vivências de duas jovens, Sara e Sandra, cuja amizade irá ser posta à prova por factores socio-económicos que as ultrapassam e as envolvem num turbilhão de ideias e sentimentos, acabando por prevalecer a força de uma verdadeira amizade. Fazendo uso de uma linguagem coloquial comum, a obra acaba por reflectir sobre algumas das temáticas que marcam a vida dos jovens de hoje. Na cerimónia de lançamento, que se realizou em Janeiro, na Livraria Bulhosa, e que contou com o apoio da Embaixada de Angola em Portugal, estiveram presentes o adido de Cultura, Estevão Alberto, em representação do Embaixador de Angola em Portugal, José Marcos Barrica, a primeira-secretária da Embaixada de Angola em Portugal, Joana Feijó, e o secretário-geral da UEA, Carmo Neto. Esta colecção será também publicada em Angola pela Plural Editores (Grupo Porto Editora) com o nome “Histórias para o meu caçula”. A colecção “Histórias de África” surge de um protocolo celebrado entre o Grupo Porto Editora, através da sua subsidiária Plural Editores Angola e a União de Escritores Angolanos, com o propósito de editar e divulgar obras de autores angolanos, contribuindo dessa forma para o enriquecimento cultural de Angola e, também, do próprio mundo lusófono.

Orquestra Sinfónica Kapossoka Criada a 10 de Outubro de 2008, a Orquestra Sinfónica angolana Kapossoka é um exemplo vivo de um projecto de integração e inclusão socio-educativa de crianças de sucesso. Ligada em termos institucionais ao município da Samba, a Orquestra, que reúne crianças e jovens das escolas públicas das cinco comunas da Samba, a grande maioria proveniente de famílias com poucos recursos financeiros, é constituída por 620 crianças, das quais 55 tocam regularmente em concertos dentro e fora do país. Um projecto que nasceu pelas mãos de Pedro Façony, antigo administrador do município da Samba e professor universitário na Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, com o objectivo de ocupar as crianças nos tempos livres, através de aulas de música clássica. Um projecto de sucesso que tem dado os seus frutos. A Orquestra Sinfónica angolana Kapossoka conseguiu um feito inédito ao conquistar o terceiro lugar, na categoria Esforço, Dedicação e Rapidez de Aprendizagem, no III Festival Internacional de Orquestras e coros infanto-juvenis de Iguazú, na Argentina, um evento que contou com a participação de 20 países. Apesar das dificuldades com que os adolescentes da Orquestra se debatem todos os dias, apenas foram superados pela Rússia e pela China, mais experientes nestas lides e com apoios mais relevantes, vencendo os prémios de Inovação e Atitude, Pontualidade e Disciplina. O mentor do projecto pretende agora alargá-lo a outras províncias do país, mas para o efeito necessita de garantir mais apoios públicos e privados. O exemplo de um país cheio de talentos escondidos, onde às vezes basta uma oportunidade para se construir algo de grandioso.

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Audiobook chega a Angola A partir do dia 14 de Maio, os angolanos já podem adquirir um livro produzido no formato audiobook, contendo histórias em suporte digital (CD). Este novo instrumento chega ao mercado angolano pelas mãos do gestor de empresas Manuel Sumbula e pelo técnico de informática Walter Paulo. A obra digital dá pelo nome de “Dez Razões Porque Perdemos os Valores Morais” e debruça-se sobre a busca e a necessidade de se recuperarem os valores morais da sociedade. Uma obra que pretende esclarecer os leitores sobre como diagnosticar as razões da perda de valores morais e as soluções para se eliminar o problema. A obra tem como parceira a Organização da Mulher Angolana (OMA).

Escocês escreve livro sobre África No dia 26 de Abril, a Bertrand lançou um livro intitulado Uma Breve História de África, assinada pelo escocês Gordon Kerr, que conta em 184 páginas a “história dos povos, ideias, instituições e acontecimentos que deram forma a África”. Gordon Kerr apresenta uma introdução abrangente à vasta história deste enorme continente, começando pelas origens da raça humana e pelo desenvolvimento da tecnologia na Idade da Pedra, passando pela presença árabe, pelos estados muçulmanos e pelo comércio transariano. Relata a ascensão e a queda de estados-nação e de reinos antes da chegada dos europeus; o Império do Gana, os reinos da Floresta e da Savana, Ioruba, Oyo, Benim, Ashanti, Luba, Luanda, Lozi, entre outros. Aborda a temática do comércio de escravos, das conquistas europeias e da colonização da África subsariana, bem como dos conflitos pela independência, culminando com uma análise ao continente africano do século XXI, como descreve a sinopse.

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Dá que falar

Angola na rota dos grandes

eventos desportivos Pela primeira vez, o país vai albergar o Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins. Daqui a cinco meses, a bola vai rolar nos sticks das maiores selecções do mundo da modalidade. Mais um grande evento desportivo que irá marcar a vida dos angolanos, depois do Afrobasket ou do CAN de futebol. T ANDREIA SEGURO SANCHES | F EDITANDO; DR

O

s eventos desportivos tornaram-se num dos maiores fenómenos de massa da modernidade. Daí que a escolha de um país como sede de um grande evento desportivo quase sempre significa um grande aporte de recursos financeiros e humanos, que permitirão impulsionar o desenvolvimento da região. Na verdade, qualquer megaevento desportivo provoca um alto impacto na economia das nações que o recebe, ao provocar um incremento imediato do investimento em infra-estruturas. Angola a pouco e pouco está a impor-se aos olhos do mundo como uma grande potência emergente no continente africano. O país tem vindo a assumir a realização de eventos desportivos de grande dimensão, numa demonstração do seu desenvolvimento, organização e vontade em aprender, crescer e concretizar. Desde 2006 que o país mostra que tem condições para o acolhimento de importantes provas. Futebol, basquetebol e andebol têm sido os pilares do desenvolvimento desportivo em Angola, quer em termos desportivos, com inúmeras conquistas, quer em

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termos económicos. Veja-se o exemplo do CAN 2010 que foi um sucesso para o país. A juntar a esse evento futebolístico, somam-se outros de peso: a organização do Campeonato do Mundo de Clubes de hóquei em patins, na capital angolana, o Afrobasket, em Agosto de 2007, a Taça de África dos Clubes, em Janeiro de 2008, os Campeonatos Africanos de andebol masculino e feminino. Todos estes eventos desportivos serviram de alavanca para acelerar a materialização de projectos importantes no sector da construção civil e do turismo. Para que um país receba das confederações internacionais a carta-branca para a organização destes campeonatos, é necessário que cumpra as normas e as regras estabelecidas, nomeadamente ao nível das condições de realização da prova. Para além da reabilitação de espaços e infra-estruturas desportivas, o país ganhou uma rede de transportes renovada, novas vias de comunicação e telecomunicações, uma rede hoteleira diversificada, serviços de maior qualidade e criou milhares de postos de trabalho. No entanto, mais do que servirem de

motor de desenvolvimento, estas competições despertam um forte senso de orgulho e dignidade na população angolana, a qual organiza um evento à escala global com visibilidade para todo o mundo. Angola dá a conhecer ao mundo o seu real valor, as virtudes do seu povo, as políticas de desenvolvimento em curso e as espectativas quanto ao seu futuro. Com este tipo de eventos Angola mostra que é um país onde há condições para se investir em diversas áreas e que está preparada para assumir outros desafios. Daí que não seja surpreendente que o país volte a receber este ano uma grande competição. Desta vez um Mundial!

Luanda e Namibe as cidades escolhidas Angola vai voltar a entrar na rota dos grandes eventos desportivos internacionais, ao receber pela primeira vez o Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins, de 20 a 28 de Setembro de 2013. A prova constitui o evento de maior prestígio que o país vai organizar e está orçada em nove mil milhões de kwanzas (cerca de 76 milhões de euros). O sucesso que se espera desta competição vai projectar o nome de Angola além-fronteiras e confirmar a popularidade da modalidade no país. Na estreia africana da competição (esta é a primeira vez também que o continente africano recebe uma prova desta envergadura) todos os caminhos vão dar a Luanda e ao Namibe, as cidades que irão ser palco deste megaevento. Na capital angolana está a ser construído de raiz, pela

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Dá que falar empresa Omatapalo (de direito angolano mas que conta com especialistas portugueses), um pavilhão (Pavilhão Arena) que terá capacidade para 12 mil pessoas. A grande mais-valia desta construção, levada a cabo por 250 funcionários, é que está a utilizar produção local, como cimento, inertes, aço, entre outros. O Pavilhão Arena conta com um parque de estacionamento exterior para 800 viaturas e outro interior para 42 viaturas “vips”. Já no Namibe está a ser erguido um pavilhão que terá capacidade para receber cerca de 3 mil pessoas.

jamento, segurança e assistência médica condignas, para que o 41º Campeonato do Mundo seja recordado por todos. Antes do grande evento é nas ruas de Luanda e do Namibe que a festa começa. Os participantes vão ser presenteados com visitas turísticas guiadas à região, numa iniciativa da comissão organizadora. O programa visa promover as potencialidades turísticas das províncias e proporcionar momentos de lazer aos visitantes, para que a experiência seja ainda mais agradável, enriquecedora e inesquecível.

Selecção angolana anfitriã

Andebol outra das prioridades

Ao longo de oito dias a selecção angolana de hóquei em patins irá procurar fazer história na prova rainha do circuito mundial da modalidade. A nata do Hóquei em Patins vai estar reunida em Angola, numa altura em que a modalidade continua a lutar por um lugar na maior montra do desporto planetário. Trata-se da estreia absoluta do evento por terras angolanas, facto que coloca na Selecção Nacional uma responsabilidade acrescida. “Angola tem capacidade para ir longe e atingir a fase seguinte do mundial. Agora é preciso que a população angolana esteja com a selecção para que este desiderato seja atingido”, referiu Necas Ferreira, antigo coordenador do programa de massificação do hóquei em patins em Angola. De recordar que Angola tem marcado presença regular em todos os mundiais da modalidade desde 1982, classificando-se entre o sexto e o nono lugar do ranking mundial. No Campeonato do mundo estarão presentes as melhores selecções do mundo, num total de 16 equipas divididas por quatro grupos: Espanha (campeã do Mundo), Argentina (vice-campeã), Áustria, Brasil, Colômbia, Inglaterra, Itália, Alemanha, Moçambique, Portugal, África do Sul, Suíça, Estados Unidos da América, França, Chile e Angola. Este é sem dúvida um evento onde as grandes promessas do hóquei mundial terão oportunidade de brilhar e onde alguns talentos precoces se dão a conhecer ao mundo. Segundo Gonçalves Muandumba, ministro dos Desportos de Angola, estão criadas todas as condições para que a prova seja mais um sucesso, apesar de existirem alguns atrasos na reabilitação e construção de algumas infra-estruturas. Os participantes terão à disposição equipamentos modernos, transportes, alimentação, alo-

Para além do mundial de hóquei em patins, o executivo angolano mantém desejo de garantir a realização do Mundial de Andebol em 2018. Mas enquanto os objectivos não são alcançados, o país garantiu para já a realização do Campeonato Africano em 2016, repetindo as organizações de 1986 e 2008. Mais um mega-evento que vem afirmar a pujança do país no continente africano ao nível desportivo. “O CAN está garantido, o Mundial um sonho. Mas estamos no caminho certo. Angola está preparada para receber uma prova planetária. É só uma questão de saber qual e quando”, disse Pedro Godinho, presidente da Federação Angolana de Andebol, ao jornal desportivo A BOLA. A certeza é a de que até ao final deste ano Angola apresentará a sua candidatura. #

N56

Mascote Kissarinha é o nome da mascote do 41º Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins. O nome foi escolhido pelo público na internet, obtendo 323 votos, ficando à frente de outros nomes como Charra Charra (designação atribuída a um tipo de patins usados nos primórdios da modalidade em Angola), e Cassendinha (referência ao bairro Cassenda onde o hóquei é muito popular). Kissarinha, homenageia assim o antigo jogador e agora vice-presidente da Federação Angolana de Patinagem, Kaissara, um dos primeiros jogadores angolanos a jogar na Europa a nível profissional. A mascote inspira-se na cultura Lunda “tchokwe” (usada para grandes celebrações), e conta com as cores da bandeira de Angola (amarela, vermelha e preta). O atleta com a máscara significa a celebração de um grande acontecimento e traz ao peito a inscrição “Angola 2013”.

Grupos Grupo A Espanha Brasil Suíça Áustria

Grupo C Portugal Angola Colômbia África do Sul

Grupo B Argentina França Alemanha Inglaterra

Grupo D Moçambique Itália Chile EUA

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LEGISLAÇÃO PUBLICADA EM ANGOLA EM 2013 ÁGUA E SANEAMENTO BÁSICO m Aprovação do Programa Nacional Estratégico para a Água 2013 – 2017 – Decreto Presidencial nº 9/13, de 31 de Janeiro. m Criação da Comissão Internacional para a Gestão da Bacia Hidrográfica do Cuvelai, abreviadamente designada por CUVECOM, coordenada pelo Secretário de Estado das Águas – Despacho Presidencial nº 19/13, de 25 de Fevereiro – Rectificação nº 2/13, de 22 de Março, D.R. nº 55, I Série. m Aprovação da minuta do Contrato de Prestação de Serviços para Elaboração do Plano Nacional das Águas, celebrado entre o Ministério da Energia e Águas e a empresa COBA – Consultores de Engenharia e Ambiente, Limitada, e autorização ao Ministro da Energia e Águas para celebração do referido contrato bem como para praticar os demais actos administrativos referentes à sua execução – Despacho Presidencial nº 20/13, de 25 de Fevereiro. m Aprovação do contrato para requalificação e ampliação da capacidade de reserva de água do centro de distribuição do Cazenga, na cidade de Luanda, e autorização ao Ministro da Energia e Águas para celebrar o referido contrato com o consórcio constituído pelas empresa Empreiteiros Casais Angola & Cª, Lda. e a Efacec Engenharia e Sistemas, S.A. – Despacho Presidencial nº 31/13, de 25 de Março. m Aprovação do contrato de empreitada para as obras de reabilitação e expansão do sistema municipal de abastecimento de água da sede do Calai, na Província do Cuando Cubango, e autorização ao Ministro da Energia e Águas para celebrar o referido contrato com a empresa FDO – ABB Engenharia, S.A. – Despacho Presidencial nº 32/13, de 25 de Março. m Aprovação do contrato de empreitada para as obras de reabilitação e expansão do sistema municipal de abastecimento de água da sede da Matala, na Província da Huíla, e autorização ao Ministro da Energia e Águas para celebrar o referido contrato com a empresa Tomás de Oliveira Empreiteiros, S.A., Angola – Despacho Presidencial nº 33/13, de 25 de Março.

COMÉRCIO m Aprovação do Plano Estratégico das Alfândegas para o período 2013 – 2017 – Decreto Executivo nº 19/13, de 29 de Janeiro.

GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA m Aprovação do regulamento interno do Instituto Nacional de Recursos Hídricos – Decreto Executivo nº 21/13, de 6 de Fevereiro. m Nomeação de Hermenegildo José Félix para o cargo de Secretário de Estado do Ministério do Interior – Decreto Presidencial nº 16/13, de 25 de Fevereiro. m Aprovação do regulamento interno das Direcções Nacionais de Acção Cultural, Formação Artística, Direitos Autorais e de Museus; dos Gabinetes de Estudos, Planeamento e Estatística, Jurídico e de Inspecção; da Secretaria Geral e do Centro de Documentação e Informação do Ministério da Cultura – Decretos Executivos nº 50 e nº 51/13, de 27 de Fevereiro, e nº 27 a nº 63/13, de 1 de Março. m Aprovação do regulamento interno dos Conselhos Consultivo e Directivo; das Direcções Nacionais de Petróleos e Biocombustíveis, de Comercialização e de Fomento da Angolanização; dos Gabinetes Jurídico, de Ambiente e Segurança e de Intercâmbio; da Secretaria Geral; do Centro de Documentação e Informação; do Gabinete de

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Acompanhamento à Actividade da OPEP; do Gabinete de Estudos, Planeamento e Estatística; do Conselho Técnico; do Departamento de Tecnologias de Informação e Comunicação; do Gabinete de Inspecção do Ministério dos Petróleos – Despachos nº 701 e nº 702/13, de 27 de Fevereiro; Decretos Executivos nº 65 a nº 70/13, de 5 e 6 de Março; Decretos Executivos nº 74 a nº 78/13, de 11 de Março; Decretos Executivos nº 114/13, de 3 de Abril, e nº 115/13, de 5 de Abril.

AGRICULTURA, PESCAS E MEIO AMBIENTE m Inclusão dos projetos do micro-sector de produção de sal nas prioridades para o acesso aos mecanismos das linhas de crédito bonificadas a que se refere a alínea a) do nº 2 dos art.º 12º e 15º dos Decretos Executivos Conjuntos nº 255 e nº 256/12, de 9 de Agosto (regulamentos do mecanismo de garantias públicas e das linhas de crédito bonificadas para micro, pequenas e médias empresas e empreendedores singulares) – Despacho Conjunto nº 425/13, de 7 de Fevereiro.

ORDENAMENTO ADMINISTRATIVO m Atualização da Comissão Ad-Hoc com a finalidade específica de estudar e monitorizar a aplicação das Regras de Comercialização dos Imóveis das Novas Centralidades, coordenada pelo Ministro do Urbanismo e Habitação – Despacho Presidencial nº 12/13, de 29 de Janeiro. m Criação da comissão de negociação para o projeto de construção da Nova Cidade de Luanda, coordenada por Edeltrudes Maurício Fernandes Gaspar da Costa, Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República – Despacho Presidencial nº 15/13, de 7 de Fevereiro. m Abertura do processo de seleção prévia de consultoria jurídica multidisciplinar sobre o processo de implementação das autarquias locais em Angola, através de estudos, diagnósticos, análises , elaboração, revisão e conceção de documentos e criação de uma comissão para o efeito – Despacho nº 535/13, de 14 de Fevereiro.

ORDENAMENTO JURÍDICO m Aprovação do regulamento interno da Comissão de Reforma da Justiça e do Direito – Decreto Executivo nº 22/13, de 8 de Fevereiro.

ATIVIDADES ECONÓMICAS E DESENVOLVIMENTO m Aprovação dos procedimentos para Avaliação do Estado de Execução dos Projectos do PIP 2013 em curso e provenientes de PIPs anteriores a 2009 – Decreto Executivo nº 56/13, de 1 de Março. m Criação de um grupo de trabalho com a finalidade específica de avaliar o estado de implementação dos Pólos de Desenvolvimento Industrial – Despacho nº 22/13, de 19 de Março. m Criação de um grupo de trabalho com a finalidade específica de avaliar o estado de implementação da estratégia de relançamento da indústria têxtil nacional e da fileira do algodão – Despacho nº 23/13, de 19 de Março. m Aprovação do contrato de empreitada para a construção do parque tecnológico da Camama e autorização ao Ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação para celebrar o referido contrato com a empresa Ecadi Angola, Lda. – Despacho Presidencial nº 34/13, de 25 de Março. m Aprovação do contrato de investimento privado no regime contratual Koabitar Construção Civil, Limitada e do respectivo contrato de investimento – Decreto Presidencial nº 17/13, de 9 de Abril.

CONSTRUÇÃO E OBRAS PÚBLICAS m Actualização da comissão para a elaboração de propostas de normas técnicas para edificação de infraestruturas nos domínios do ordenamento do território, urbanismo, construção, energia e águas, transportes, indústria, telecomunicações, ambiente e outros, coordenada pelo Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Edeltrude Maurício Fernandes Gaspar da Costa – Despacho Presidencial nº 24/13, de 4 de Março.

NOMEAÇÕES

SISTEMA FINANCEIRO E POLÍTICA ECONÓMICA

m Exoneração e nomeação dos novos membros do Conselho de Administração da Angola Telecom – E.P. – Decretos Presidenciais nº 11 e nº 12/13, de 1 de Fevereiro.

m Do Orçamento Geral do Estado para 2013 – Lei nº 2/13, de 7 de Março.

PETRÓLEO E GÁS Delegação de poderes no Ministro da Comunicação Social para conferir posse a Daniel Miguel Jorge, José Chimuco e Manuel Luzito André respectivamente como Presidente do Conselho de Administração, Administrador para a Área de Informação e Administrador para a Área Técnica e de Manutenção da ANGOP, e a Bidima Manteya Jorge como Administrador para a Área de Finanças da Televisão Pública de Angola – Despacho Presidencial nº 23/13, de 4 de Março.

GEOLOGIA E MINAS m Atualização da comissão multissectorial criada pelo Despacho Presidencial nº 33/12, de 5 de Março, para a negociação relativa ao contrato de investimento para a implementação do projeto integrado minero-siderúrgico de Kassinga e Kassala Kitungo, doravante designado por CMNK, coordenada pelo Secretário de Estado da Geologia e Minas – Despacho Presidencial nº 13/13, de 1 de Fevereiro (revoga o Despacho Presidencial nº 33/12, de 5 de Março). m Homologação do contrato de associação em participação para prospecção, pesquisa e reconhecimento de depósitos secundários de diamantes entre a Endiama – E.P.; a Prodikwa, Limitada, e a Sociedade Mineira do Catoca, Limitada, denominado Projecto Gango – Decreto Executivo nº 79/13, de 13 de Março.

m Criação de uma comissão encarregue de preparar as condições técnicas e materiais para a instalação e funcionamento do ISP – Instituto Superior de Petróleos, na Província do Kwanza Sul – Despacho Conjunto nº 713/13, de 28 de Fevereiro. m Prorrogação da segunda fase subsequente de pesquisa do contrato de partilha de produção do bloco sul da zona terrestre de Cabinda, por um período de dois anos – Decreto Executivo nº 81/13, de 14 de Março. m Divisão da Zona Terrestre da Bacia do Congo em dez blocos petrolíferos denominados Blocos COM 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, e 10 – Decreto Executivo nº 83/13, de 19 de Março. m Criação da comissão interministerial para a implementação da divisão da zona terrestre das Bacias do Kwanza e do Baixo Congo em blocos de concessão petrolífera, coordenada pelo Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República – Despacho Presidencial nº 28/13, de 22 de Março. m Prorrogação da fase inicial do período de pesquisa do contrato de partilha de produção do bloco norte da zona terrestre de Cabinda, por um período de dois anos, com efeitos a partir de 1 de Abril de 2013 – Decreto Executivo nº 112/13, de 1 de Abril.

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Informação Editorial CCIPA TROCAS COMERCIAIS PORTUGAL-ANGOLA por Grupo de Produto 2012* Assistiu-se, em 2012, ao reforço do crescimento das exportações entre Portugal e Angola. As exportações portuguesas para o mercado angolano atingiram € 2.998 milhões de euros, o que representou um acréscimo de 28,6% em relação ao ano anterior, mantendo Angola no 4º lugar de destino das exportações de Portugal. Os grupos de produtos que mais se destacaram foram as máquinas e aparelhos (€ 741,4 milhões), os produtos alimentares (€ 480,1 milhões, 301,2 dos quais bebidas) e os metais comuns (€ 440 milhões), perfazendo 55,4% do total das exportações portuguesas para Angola. As importações portuguesas com origem em Angola registaram, em 2012, um crescimento de 51,3% face a 2011, atingindo € 1.781,5 milhões. Os combustíveis minerais (com destaque para o petróleo) mantiveram-se como principal importação (€ 1.776,7 milhões), seguidos das máquinas e aparelhos (€ 1,42 milhões) e dos produtos de óptica e de precisão (€ 1,35 milhões), representando 99,9% do total das importações portuguesas provenientes de Angola.

Exportações GRUPOS DE PRODUTOS Agrícolas Alimentares Combustíveis Minerais Químicos Plásticos, Borracha Peles, Couros Madeira, Cortiça Pastas Celulósicas, Papel Matérias Têxteis Vestuário Calçado Minerais, Minérios Metais Comuns Máquinas, Aparelhos Veículos, O. M.Transporte Óptica e Precisão Outros Produtos (Mobiliário) TOTAL

IMportações Euros 194.221.073 480.118.848 34.768.109 207.060.087 144.484.906 6.710.459 28.267.113 94.578.363 36.290.249 42.379.438 14.746.082 110.075.051 439.968.901 741.368.509 147.398.903 62.508.960 213.027.281 2.997.972.332

GRUPOS DE PRODUTOS Agrícolas Alimentares Combustíveis Minerais Químicos Plásticos, Borracha Peles e Couros Madeira e Suas Obras Pastas Celulósicas, Papel Matérias Têxteis Vestuário Calçado Minerais, Minérios Metais Comuns Máquinas, Aparelhos Veículos, O. M.Transporte Óptica e Precisão Out. Prod. (Sal, Enxofre e Cimento) TOTAL

Euros 756.098 71.743 1.776.672.196 2.999 8.255 24.493 335.519 6.894 50.297 6.971 237 239.318 91.666 1.420.945 400.001 1.349.917 33.111 1.781.470.660

* dados preliminares de 2012, segunda revisão Elaborado pela CCIPA, com base em dados do INE - Instituto Nacional de Estatística, Portugal

TROCAS COMERCIAIS PORTUGAL - ANGOLA – Janeiro/Fevereiro 2012-2013 (mil euros e %)

Total do Comércio Extracomunitário Importações Portuguesas Exportações Portuguesas Saldo

2012 2 657 652 2 017 804 -639 848

2013 2 604 599 2 102 212 -502 387

Var. 13/ 12 -2,00 4,18 -21,48

Saldo

406 814 15,3% 501 669 24,9% 94 855

486 622 18,7% 543 204 25,8% 56 582

19,62 22,05 8,28 3,93 -40,35

Saldo

403 059 99,1% 15,2% 391 059 78,0% 19,4% -12 000

471 814 97,0% 18,1% 446 384 82,2% 21,2% -25 430

17,06 -2,14 19,44 14,15 5,42 9,56 111,92

PALOP Importações Portuguesas % do total Exportações Portuguesas % do total Angola Importações Portuguesas % nos PALOP % do total extracomunitário Exportações Portuguesas % nos PALOP % no total extracomunitário

Órgãos Sociais da CCIPA 2011/2013 Mesa da Assembleia presidente

PORTUGAL TELECOM SGPS vice-presidente SONANGOL – SOCIEDADE NACIONAL DE COMBUSTÍVEIS DE ANGOLA secretário

ADP – áGUAS DE PORTUGAL INTERNACIONAL Direcção presidente

GALP ENERGIA* vice–presidentes BANCO BIC BANCO BPI* ESCOM SECIL – COMPANHIA GERAL DE CAL E CIMENTO* vogais

AMORIM HOLDING II SGPS BES – BANCO ESPÍRITO SANTO CGD – CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS MILLENNIUM BCP* MIRANDA CORREIA AMENDOEIRA & ASSOC. – SOC. ADVOGADOS* MOTA-ENGIL, ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO RANGEL INVEST* SOCIEDADE DE CONSTRUÇÕES SOARES DA COSTA SPE – SOCIEDADE PORTUGUESA DE EMPREENDIMENTOS* UNICER BEBIDAS Conselho Fiscal presidente

DELOITTE CONSULTORES vogais

COSEC – COMPANHIA DE SEGUROS DE CRÉDITO TAAG – LINHAS AÉREAS DE ANGOLA suplentes

Elaborado pela CCIPA, com base em dados da página do INE Portugal

AMROP PORTUGAL WAYFIELD TRADING INTERNACIONAL

publicações da CCIPA • Distribuição e transporte em Angola

* Comissão Executiva

Loureiro, Lda. ...................................................................................... Benguela, Lobito Associação de Jovens Empresários ....................................................................... Huambo Intercal, Lda. .................................................................................................. Lubango Mabílio M. Albuquerque Comercial, S.A. ............................. Namibe, Sumbe / Cuando-Cubango

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