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COMPOSIÇÃO
Pedro Flores Carlos UNIRITTER 2016/2 DESIGN GRÁFICO
SETEMBRO 2016
ANTIMATÉRIA UniRitter Laureate International Universities Faculdade de Design Projeto Gráfico 3 - Noite Professora Andréa Capra Adaptação do Projeto Gráfico: Pedro Flores Carlos Diagramação: Pedro Flores Carlos As matérias, reportagens e imagens aqui apresentadas são selecionadas de fontes diversas, indicadas abaixo: obvious: http://lounge.obviousmag.org/aleat oriedades/2013/05/david-bowie---aladdin-sane.html mdemulher: http://mdemulher.abril.com.br/cultur a/m-trends/musicas-feministas-pra-voce-curtir-alem-de-flawl ess O Globo: http://oglobo.globo.com/cultura/mu sica/entenda-caso-kesha-dr-luke-18730532 Galileu: http://revistagalileu.globo.com/Revis ta/Common/0,,EMI236584-17934,00-DISCO+DE+VINIL.html Rocknoize: http://rocknoize.com.br/warpaint-anuncia-novo-album-e-divulga-musica-inedita/ G1 Globo: http://g1.globo.com/musica/noticia/ 2016/09/sia-lanca-greatest-clipe-em-parceria-com-kendrick -lamar.html obvious mag: http://obviousmag.org/arthur_silva/ 2015/a-genialidade-de-iamamiwhoami.html ESTE TRABALHO É DE USO EXCLUSIVAMENTE ACADÊMICO E SEM FINS COMERCIAIS.
BOWIE NAS ESTRELAS
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ANTIMATÉRIA
OS LANÇAMENTOS DO ANO P.10
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YOUTUBE COMO PLATAFORMA
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SIA E PULSE O camaleão do rock se despediu de nós este ano: entenda os
MAJOR TOM NO ESPAÇO
MULHERES
últimos momentos de David Bowie em sua partida da Terra ao encontro de planetas distantes.
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E VERSOS
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ABUSO DENUNCIADO
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MALVADOS Pg.3
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ANTIMATÉRIA
MAJOR TOM NO ESPAÇO
O camaleão do rock se despediu de nós este ano: entenda os últimos momentos de David Bowie em sua partida da Terra ao encontro de planetas distantes.
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O EXP Nenhum artista do mainstream era tão moderno e surpreendente quanto David Bowie. O movimento mod já era passado longínquo, sendo relegado apenas a grupos nostálgicos isolados (que viriam a ganhar força alguns anos depois com o surgimento do The Jam), o idealismo hippie fora duramente desgastado e já não rendia grandes novidades. Nessa situação, dois artistas que havia tempos buscavam a fama sem conseguir êxito despontaram. Primeiro Marc Bolan, com seu T. Rex, depois Bowie (apelando para o clichê, “das
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cinzas fez-se glitter”). Como foi divulgado em uma matéria sobre Bowie publicada na revista Newsweek em 1972, era “uma época de confusão, um período de transição, um contexto apropriado para a soturna e satânica majestade da Inglaterra, David Bowie”. É bom lembrar que Bowie também era pintor, e até mesmo colaborador editorial de importantes revistas de arte. Em uma entrevista dos anos 80, ele disse que só entrou na música por acreditar que essa era a grande expressão artística do séc.XX. Do contrário, teria investido nas artes visuais. Enfim, apesar da sua escolha, creio que ele era um músico que continuava pensando como pintor. Seu interesse não era descobrir cores novas, mas sim experimentar com as paletas já existentes. Buscava texturas, cores compostas, panoramas, perspectivas. Não era um profeta, mas um visionário. Enquanto vários músicos produzem inovações objetivas (gente como Miles Davis ou Frank Zappa), Bowie vai por
PERIMENTO DE DAVID BOWIE uma outra direção, e talvez possamos chamá-lo de inovador subjetivo. Em Zappa ou Miles, podemos apontar objetivamente em quais aspectos suas músicas foram geniais. Mas o mesmo fica dif ícil para Bowie. Dizer que ele era um ótimo cantor, ou ator, ou compositor, diz mais sobre seu talento multifacetado do que sobre genialidade. David lançou seu último álbum, Blackstar, na última sexta, dia 8 seu aniversário de 69 anos. Assim como The Next Day (lançado em 2013), envolvido numa aura artística e inovadora, não decepcionou o público. Mas o que achei estranho foi o toque sombrio e misterioso que penetrava sutilmente todas as canções. Algo que eu nunca tinha sentido em sua música. Ares pesados e extremamente subjetivos não viriam à toa de alguém como ele. Se não fosse pela capacidade singular de Bowie se despedir do mundo f ísico com tamanha dis-
crição, aposto que não estaríamos tão chocados e tristes. Ele, que sempre orbitou seu próprio planeta construído com esmero, disse adeus ao nosso planeta sem que nós percebêssemos. Foi da mesma maneira que ele entrou em nossas vidas. Assim: chegando devagar, nas pontas dos pés, para não nos assustar com suas cores radiantes e sua luz própria. Mas entrou sem pedir licença, colonizou nossos corações e compartilhou seu universo conosco. Oito álbuns, seis filmes e um ataque do coração depois, em 2013, eis que, em uma enorme estrategia de marketing, David Bowie desafiou a si mesmo e a todas as crenças que não iria mais voltar, lançando o aclamado The Next Day. Sem um pio antes, sem ninguém ficar sabendo. Fazer o que Bowie fez então é coisa de gênio.
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Bowie e um último adeus: uma estrela negra no espaço.
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Especulações a parte, o álbum derradeiro de Bowie, Blackstar, é extremamente mórbido, enquanto perfeito e sólido em sua proposta. Bowie, um perfeccionista obsessivo, não cedeu a depressão típica de quem tem consciência de seus últimos dias na Terra, e criou uma primorosa obra de arte do POP rock, sem cair nos trejeitos afetados de Marilyn Manson ou nas poses teens bobajentas de bandas de NU metal e gótico, como Slipknot, Evanescense, Limp Biskit etc. Aliás, sofisticação tem sido sua marca desde os anos 80. O Bowie de roupas coloridas dos anos 70, mata a androginia de sua juventude, e se transmuta num elegante lorde inglês, de modos sutilmente femininos, mas com uma firmeza máscula inquestionável. Uma curiosidade sobre seu último álbum, Blackstar, na trilha Lazarus, pode estar na similaridade com o último trabalho de Johnny Cash, Hurt. Ambos soam como uma despedida fúnebre e sofisticada desse mundo, ambos têm elementos bíblicos advindos do cristianismo. Em Lazarus, Bowie não foca no arrependimento, mas aceita a morte, como se já estivesse no céu, como se suplicasse por uma boa morte, estando de rosto enfaixado (uma alusão ao personagem bíblico) e trajando um pijama típico de moribundos terminais. O seu outro clipe, Blackstar, tem um simbolismo mais intenso e muito mais sutil. Está cheio de referências ao gnosti-
cismo. Bowie, aparentemente, acreditava na teoria dos deuses astronautas de Erich von Däniken. No clipe, uma personagem tipicamente conhecida dos gnósticos, Sofia, consorte de Lucifer, encontra o astronauta morto e decomposto dentro de seu traje. Sabemos se tratar de Sofia, devido a cauda, elemento da cultura medieval típico do fenotípo dos demônios. Homens ignorantes dançam convulsivamente enquanto sofia leva o crânio do astronauta ungido para iluminar os seres humanos. Os ignorantes são crucificados. Seria uma alusão aos cristãos? Vindo de Bowie, tudo é possível. Talvez os ignorantes não sejam cristãos, talvez sejam pessoas idiotas que merecem um castigo extremo. Sofia ilumina o mundo, e a música muda de tonalidade para um tom mais alto e festivo, as vendas de Bowie caem e ele aparece resplandecente empunhando um Grimoire, uma coleção de liros e feitiços medievais atribuídos a egípcios e hebreus e do gosto dos gnósticos. O clipe é uma mistura entre sagrado e profano, que somente conhecedores de gnose podem entender. Voltando a Johnny Cash com Hurt, encontramos tudo, menos um homem profano. Cash estava a procura de redenção, assumindo a culpa pelos seus erros. Seu “império de sujeira”. Cash assume uma postura de submisso a morte. Em Hurt, Cash extremamente debilitado pela doença, procura redenção enquanto se desapega de um mundo em que causou muita dor à pessoas amadas e a si próprio.
“Olhe para cima, estou no paraíso, tenho cicatrizes escondidas, tenho drama, não pode ser roubado. Agora, todo mundo me conhece. Olhe para cima, cara, estou em perigo. Não tenho mais nada a perder. Sabe, vou ser livre, como aquele pássaro azul. Não é a minha cara?” “Lazarus”, faixa de Blackstar, lançado em 2016.
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LANÇAMENTOS DO ANO
Do underground ao mainstream, a eterna tentativa dos artistas de se manterem fiéis ao meio em que se encontram e, em alguns casos, até nem tanto.
Depois de oito anos como vocalista do Crystal Castles, conflitos com Ethan Kath fizeram com que Alice Glass deixasse o projeto em medos de 2014. Enquanto a cantora deu início a um novo trabalho em carreira solo, apresentando em setembro de 2015 a caótica Stillbirth, Kath decidiu seguir em frente com a banda. Em julho do mesmo ano, o produtor lançou a curiosa Deicide, um esboço para o material que seria entregue um ano mais tarde em Concrete, primeira canção em parceria com Edith Frances e a ponte para o quarto álbum de inéditas da (nova) dupla: Amnesty (I) (2016, Fiction / Casablanca).
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O quarteto Warpaint dá o primeiro sinal do álbum “Heads Up”, o sucessor do autointitulado Warpaint (2014), com o single “New Song”. A canção, com um baixo funk pop extremamente dançante e para desenhar uma relação romântica (“You’ve got the moves, you’ve got the moves…”), tem produção assinada por Jacob Bercovici, responsável pelo EP de estreia Exquisite Corpse (2008) das roqueiras. Depois da edição de vários trabalhos a solo, as Warpaint reuniram-se em Janeiro de 2015 e começaram a trabalhar num novo LP. “Heads Up” foi gravado entre o home studio da banda, House on The Hill em LA e o Papap’s Palace.
SIA em homenagem a vítimas da boate
Pulse Sia chegou com uma novidade bem especial neste mês de setembro. A cantora lançou, em parceria com Kendrick Lamar, o single “The Greatest”. No clipe, também já liberado, ela faz uma emocionante homenagem às vítimas do atentado à boate Pulse, em Miami, nos Estados Unidos, que em junho deste ano deixou 50 pessoas mortas. Assim como nos últimos clipes de Sia desde o hit “Chandelier”, quem também marca presença é a dançarina Maddie Ziegler, que dá mais um show na coreografia. Além dela, outras 49 crianças participaram da produção, o mesmo número de mortos do atentado. A canção faz parte do próximo álbum da cantora, “We Are Your Children” (“Nós Somos Suas Crianças”, em português), e foi composta pela australiana em parceria com Kendrick Lamar. O vídeo critica a situação política atual dos Estados Unidos.
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O YOUTUBE NA MIRA DA PRODUÇÃO MUSICAL: A ARTE TOMA UM CENÁRIO CIBERNÉTICO EM EXPANSÃO.
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Tudo começou em 2009, quando blogueiros de sites musicais e formadores de opinião no meio artístico receberam links de teasers do Youtube que mostravam imagens intrigantes de uma mulher loira em um ambiente natural com árvores antropomórficas e cenas que tentavam passar uma mensagem. Os títulos dos vídeos não eram compreensíveis no primeiro momento: eram formados por sequências numéricas. Foi só depois de algum tempo que descobriu-se ser a sueca Jonna Lee o rosto por trás dos vídeos que rapidamente ganharam visibilidade no meio artístico independente. Grande parte do público busca exatamente isso hoje em dia: não só o consumo imediato de uma música ou produto que fará parte do dia-a-dia, mas uma experiência que perdure nos momentos cotidianos. Algo que faça parte daquilo que somos, do que vivemos e do que vivenciamos, sobretudo daquilo que nos diferencia do outro. E é aí que a genialidade de iamamiwhoami se fixa: a criação de um mundo onde se pode contribuir através de interpretações e sentimentos que a arte desperta; onde é possível ser parte daquilo que se ouve e daquilo que se vê. O projeto convida o público a fazer parte de si ao passo que este estabeleça certa intimidade para partilhar ideais, sentimentos e conceitos. iamamiwhoami criou não só um mundo musical harmonioso onde tudo se encaixa: seus idealizadores assumiram a postura de verdadeiros artistas que querem conhecer, sentir o seu público e a energia vinda deles. E é essa energia, é essa relação entre o que se ouve e o que se vive, parte da fonte interna dentro de nós que evolui fazendo com que sejamos não só meros ouvintes, mas sujeitos úteis à arte e a cultura.
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ELEMENTAR
O CLÁSSICO BOLACHÃO Da fábrica ao toca-discos: ele está voltando.
Como um disco de vinil pode produzir som ao ser “arranhado” por uma agulha?
A
s faixas de música são cortadas, com furos microscópicos, em um disco mole de acetato de celulose, uma substância parecida com esmalte. Depois, o disco é metalizado e usado para prensar várias cópias em vinil derretido. A música está dentro daquelas faixas onde a agulha do toca-discos entra. Essas faixas têm irregularidades microscópicas, que fazem a agulha vibrar ao passar sobre elas. Essa vibração é captada e amplificada pelo toca-discos e, voilà: som na caixa! O LP de vinil como conhecemos hoje apareceu em 1948. O vinil dominou a segunda metade do século 20, até ser desbancado pelo CD, em 1982. Hoje, ele é mais usado por DJs e colecionadores, que juram de pés juntos que a qualidade do som dos bolachões dá de dez em qualquer CD ou arquivo de MP3!
CH
CL
PVC tico s plá 100% do não inário g ori óleo. r pet
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A INDÚSTRIA MUSICALr e i
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nventada
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M Ú S I CA P R A T O D O S O S GOSTOS
VIOLÊNCIA
ESTILOS
EXPLORAÇÃO GÊNEROS
ABUSO
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VERSOS QUE FICARAM e continuarão influenciando gerações
“
Mexo, remexo na inquisição só quem já morreu na fogueira sabe o que é ser carvão Rita Lee
“Uma garota pode fazer o que ela quer Ah, as vozes femininas. Grandes sopranos ou vozes pequenas, não importa. Canções sublimes, emocionantes, na voz de mulheres que cantam as cores, a vida, os amores, os dissabores, a política ou apenas as rosas. A arte que vem de suas melodias, letras ou interpretações é capaz de elevar a música ao status quo do sublime. Nunca do medíocre. Como não compartilhar da vontade absurda de sentir de Fiona Apple em Every Single Night? Como não ter olhos e coração marejados pela repetição de “I just want to feel everything”? Com uma vida complexa e uma alma genuinamente artística, nascida em família musical, a cantora americana carrega o peso da violência sexual sofrida, além de outros traumas, que se transformam em arte legítima. Em seu disco de estreia, uma canção, Sullen Girl, já mostrava a complexidade da alma de Fiona. Madonna, que reina absoluta em pistas de dança do mundo inteiro, controversa, comercial, tem uma vida que oscila entre a aclamação e a vaia, entre a adoração e o desprezo. Poucas artistas recebem defesas e ataques tão apaixonados como a eterna Material Girl. A música, inclusive, celebra a faceta provocadora de Madge, que faz uma arte afeita às volúpias, à luxúria, à carne, ao sexo e ao poder. Mesmo depois de sua conversão à Cabala, dos filhos e de ter se tornado escritora de livros infantis, Madonna continua fazendo da música um intrumento de choque. Um extraordinário instrumento.
fazer, e isso é o que vou fazer / E eu não estou nem aí para minha má reputação Joan Jett
“
Todas as minhas companheiras venham juntas e façam uma mudança / Façam um novo começo para nós - todas cantem / Isso é pra todas as minhas garotas ao redor do mundo / Que se depararam com um homem que não respeita o seu valor / Pensando que todas as mulheres são para serem vistas, não ouvidas Christina Aguilera
“
Me deixem cantar até o fim / Até o fim eu vou cantar / Eu vou cantar até o fim / Eu sou mulher do fim do mundo Elza Soares
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“Quando estreei como comp musicado a imprensa não sab A música sempre foi uma das principais manifestações culturais do Brasil. Temos grandes compositores, grandes músicos e ritmistas. Temos grandes cantoras, mas dentro da história da música brasileira, não é tão comum encontrar compositoras. Normalmente há intérpretes muito famosas desde a Carmem Miranda, passando pela tropicália com a Gal Costa e Maria Bethânia, emocionando-se com a bossa de Elis Regina até o Rock de Cassia Eller. Todas possuem (ou possuíram) um grande talento e são importantes para a história da música brasileira. Com a falência das gravadoras e a democratização da tecnologia, fazer música ficou mais fácil e (ironicamente) mais artesanal. Enquanto as gravadoras desistiram do processo de descobrir novos talentos e investiram apenas numa fórmula específica e rentável (o que foi o início de sua falência, pois essa é uma indústria baseada na criatividade e não no padrão) os músicos por sua vez ganharam espaço para produzir suas músicas de forma caseira com recursos tecnológicos relativamente baratos. A indústria perdeu, mas os músicos ampliaram seu espaço e uma nova gama de artistas aparecem todos os dias nessa geração pós-indústria-fonográfica. É importante ressaltar, que uma vez o processo criativo seja de autonomia
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feminina, o resultado acarretará numa linguagem, numa perspectiva e numa sonoridade feminina. E isso é vital como voz democrática num processo cultural. Mulheres oprimidas, verbal e fisicamente, são maioria no cancioneiro, um reflexo da realidade vivida no Congresso Federal (onde tramita projeto de lei que dificulta o acesso ao aborto em caso de estupro), no mercado de trabalho (homens ganham cerca de 25% a mais, de acordo com o IBGE) e nas ruas (vítimas de abordagens invasivas, um mote para a campanha online #PrimeiroAssédio, deflagrada para publicizar relatos de abusos). Na vida real e nas composições, as agressões interrompem vidas, como ressaltado no clipe Naija, da rapper Lurdez da Luz. Quase 5 mil mulheres são assassinadas no Brasil a cada ano e 179 relatam agressões através do telefone 180 por dia. Não à toa, a luta pelos direitos da mulher permeia a produção fonográfica e acompanha o fortalecimento do debate. Elza Soares tenta estimular a denúncia em Maria da Vila Matilde, faixa do primeiro disco de inéditas da carreira, enquanto Alcione disparou “Na cara que mamãe beijou, Zé Ruela nenhum bota a mão”, no samba Maria da Penha. Agressões e dificuldades enfrentadas cotidianamente pelas mulheres inspiram as músicas do pernambucano Poder Fem-
positora de teatro bia como me tratar. Chiquinha Gonzaga
inino Crew, formado por garotas de 17 a 24 anos. “Temos amigos que passam por isso. A violência não é só f ísica. Nossas músicas mostram a realidade nua e crua e que não vamos ficar caladas”, garante Bel Melo, de 19 anos. Cantoras e compositoras de todos os gêneros têm feito barulho, literalmente. Baiana criada no Recife, Karina Buhr instiga as mulheres a não agir como capachos em Selvática. “É tudo tão natural pra gente nessa seara no machismo e do racismo que a gente se assusta com um monte de coisa quando passa a prestar atenção de maneira mais intensiva. Tem coisas totalmente absurdas em músicas antigas. Mas refletem um tempo, as de hoje refletem outro, a gente vai evoluindo junto. Demora muito, mas vai”, acredita Karina. No disco homônimo recém-lançado, ela subverte a idealização de homem perfeito em Eu sou um monstro (“Hoje eu não quero falar de beleza/ Ouvir você me chamar de princesa”), estratégia já usada pela recifense Lulina, em Meu príncipe (“Meu príncipe arruma toda a casa/ Prepara minha comida/ Enquanto eu tô no botequim”), e por Karol Conká, em Que delícia (“Terminou? Agora lava a louça”).
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NÃO É SÓ MAIS UMA HISTÓR Kesha e Dr. Luke: o que a indústria musical revelou com uma das declarações mais polêmicas no meio pop norte-americano. Semana passada, uma juíza de Nova York negou a Kesha uma um mandado de segurança que permitira que ela gravasse música fora da gravadora dela, a Sony Music, sem trabalhar com o produtor Dr. Luke. Desde então, Taylor Swift doou US$ 250 mil para ajudar a cantora com necessidades financeiras e outras artistas – incluindo Lady Gaga, Lorde, Grimes, Lily Allen e Lena Dunham – apoiaram-na publicamente. Nativa de Nashville, nos Estados Unidos, Kesha Rose Sebert, conhecida apenas como Ke$ha, chegou primeiro às paradas de sucesso como uma parceira não creditada no single “Right Round”, de Flo Rida. O single festeiro de estreia dela, “Tik Tok”, chegou ao primeiro lugar por nove semanas e vendeu 610 mil unidades digitais durante a semana que terminou em 27 de dezembro de 2009. O primeiro disco dela, Animal – que foi relançado com o EP Cannibal – vendeu mais de 1 milhão de cópias, rendendo singles como “Your Love Is My Drug” e “We R Who We R”. Warrior, segundo álbum de Kesha, saiu em 2012. O single principal dele, “Die Young”, chegou ao segundo lugar nas paradas. Ela ainda contribuiu com “Timber”, canção de Pitbull que liderou as paradas em 2013. Então quem é Dr. Luke? Lukasz Sebastian Gottwald foi guitarrista na banda
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do Saturday Night Live e protegido do superprodutor Max Martin, que é creditado com composição e produção em alguns dos maiores hits do século 21: “Since U Been Gone” (Kelly Clarkson), “U + Ur Hand” (Pink), “I Kissed a Girl” (Katy Perry) e “Party in the U.S.A.” (Miley Cyrus). Desde novembro de 2011, Gottwald tem um contrato com a Sony Music, a partir do qual ele fica responsável por dirigir um selo, o Kemosabe Records, compor e produzir música exclusivamente para o conglomerado (ele, entretanto, trabalhou com Katy Perry no disco Prism, lançado por ela em 2013). Dr. Luke foi produtor executivo dos dois discos de Kesha (veja os dois juntos na foto abaixo), e ele também produziu “Timber”. Depois que “Die Young” foi retirada das rádios devido ao tiroteio na escola primária de Sandy Hook (EUA), em 2012, Kesha disse que foi “forçada” a cantar o refrão da faixa produzida por Dr. Luke – “let’s make the most of the night, ‘cause we’re gonna die young” – no Twitter. Ela depois esclareceu em uma postagem no site dela: “Forçada não é a palavra correta. Tive minhas reclamações sobre a expressão ‘morrer jovem’ no refrão, quando estávamos escrevendo a letra, especialmente porque muitos dos meus fãs são jovens e essa é uma razão pela qual eu
RIA DE SUCESSO ARTÍSTICO compus muitas versões dessa música.” No fim de 2013, um grupo de fãs de Kesha deu início a uma petição para romper as relações entre Kesha e Dr. Luke, dizendo que ele estava “controlando Ke$ha como uma marionete, fornecendo-lhe o que ela não quer e a criatividade dela está diminuindo”. Alguns meses depois, a mãe de Kesha, Pebe Sebert, disse ao People que Dr. Luke pressionou a filha dela a perder peso, comparando-a a uma geladeira. Agora, o movimento “Free Kesha” inclui fãs e apoiadores que protestam com cartazes e um deles recentemente criou uma campanha no GoFundMe para angariar dinheiro suficiente para conseguir romper o contrato de Kesha com a Sony. Arquivado na Califórnia em outubro de 2014, o processo visa invalidar os contratos de Kesha com Dr. Luke e os negócios a ele subsidiados, permitir que Kesha trabalhe com outras gravadoras, publique músicas e receba indenização. O documento clama que por mais de 10 anos, Dr. Luke “abusou sexualmente, fisicamente, verbalmente e emocionalmente da Sra. Sebert até o ponto no qual a Sra. Sebert quase perdeu a vida”, tudo para ele ser capaz de “manter completo controle sobre a vida e carreira dela.”
O processo ainda afirma que “a Sra. Sebert acredita absolutamente que Dr. Luke teve poder e dinheiro para ir em frente com as ameaças dele; ela, contudo, nunca se atreveu a falar sobre o que Dr. Luke fez a ela” (deve ser notado que, em 2011, Kesha testemunhou em um depoimento que Gottwald nunca tirou vantagem dela). Em Nova York, em outubro de 2014, Gottwald respondeu processando Kesha e Pebe Sebert e os representantes de Kesha da Vector Management por difamação e quebra de contrato, clamando que as “falsas e chocantes acusações” e a negação de Kesha a gravar equivaliam a extorsão. A juíza da Suprema Corte de Nova York, Shirley Kornreich, negou um mandado que permitira que Kesha gravasse novas músicas por selos que não o Kemosabe enquanto os detalhes de ambos os processos estão se desenvolvendo. “Não houve demonstração de dano irreparável. A ela está sendo dada a oportunidade de gravar”, disse Shirley quando tomou a decisão. Kesha esteve presente para a sentença junto à mãe e ao namorado, e depois ela se encontrou com cerca de 50 fãs que se reuniram do lado de fora do tribunal.
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L O L L A PA L O O Z A CO A história de um festival de música itinerante que está definindo uma geração e vem conquistando estilos para todos os públicos.
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pesar de estar entrando em sua quarta edição no Brasil, a história do Lollapalooza é bem antiga e começa no início dos anos 90. A ideia veio de Perry Farrell do Jane’s Addiction que se inspirou no festival A Gathering of the Tribes ocorrido em 1990. Esse evento foi criado por Ian Astbury do The Cult para aumentar a conscientização e arrecadar dinheiro para a população indígena norte-americana. O que chamou a atenção de Farrell foi o line up bastante eclético arregimentado por Astbury que tinha tanto a musa da música folk Joan Baez quanto o Soundgarden e astros do rap - numa época em que eles raramente eram aceitos em festivais para o público roqueiro. No ano seguinte Farrell colocou em prática sua ideia de festival. O primeiro Lollapalooza foi um evento itinerante que juntou o Jane’s Addiction a nomes como Siouxsie And The Banshees, Living Colour, Ice T, Nine Inch Nails e outros mais. A trupe rodou os Estados Unidos por mais de um mês e o sucesso foi grande - ainda mais numa época em que o tal “rock alternativo” começava a despontar no mainstream. Infelizmente, o primeiro Lolla também foi marcado pelas brigas cada
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vez mais constantes entre os integrantes do Jane’s Addiction, que culminaram com o fim da banda em seu auge artístico e comercial. Mas em 1996 o festival começou a dar pistas de que estava mudando, assim como a cena roqueira. Ainda assim a escolha do Metallica, uma das maiores bandas do mundo, para encabeçar um evento “alternativo”, causou estranheza. A edição de 1997 voltou às suas origens priorizando artistas menores e a cena de música eletrônica que começava a chegar ao mainstream com Prodigy (ao lado), The Orb e Orbital. Mas esse acabou sendo a derradeira edição do evento em sua encarnação original. Em 2003, o Jane’s Addicition retornou, e com eles, o Lolla em seu espírito original. Além deles bandas como Incubus, Audislave e Queens Of the Stone Age também se apresentaram. A alegria infelizmente durou pouco já que a edição de 2004 foi cancelada pela baixa venda de ingressos. O Lollapalooza finalmente retornou em 2005, agora em seu formato definitivo: um fim de semana em Chicago com cerca de cinco atrações por dia em cada um dos vários palcos montados no local, com a atrações das mais diversas origens, estilos e magnitudes.
ONQUISTANDO CONTINENTES As edições itinerantes do festival começaram em 2011 com a edição chilena do evento, que se mostrou um enorme sucesso. No ano seguinte o Lollapalooza finalmente chegou ao Brasil e no ano passado a Argentina também entrou no itinerário. O nome Lollapalooza vem de uma frase do século XIX, que significa uma extraordinária ou incomum coisa, pessoa, ou evento; um exemplo excepcional ou circunstância. Muito tempo depois, o termo passou também a ser o nome de um grande pirulito (em inglês lollipop). Farrel gostou do duplo sentido e batizou o festival assim. De 1991 a 1997, o festival percorreu várias cidades da América do Norte e ajudou a dar visibilidade a grandes bandas da época. Com seis edições realizadas, os organizadores resolveram encerrar as atividades do Lollapalooza. O declínio do Lollapalooza até o seu fim teve vários motivos. Um dos mais especulados seria o fato de não se encontrarem mais nomes que representassem o festival e sua ideia de paz e harmonia musical. A apresentação do Metallica na edição de 1996 teria sido o estopim da crise. A cultura pesada e machista do grupo de James Hetfield foi um contraste negativo para os fãs do festival, que diziam que o Lollapalooza estava perdendo suas características. Após isso, Perry Farrel deixou o festival.
Anos mais tarde, em 2003, Farrel e o Jane´s Addiction voltaram a se apresentar em uma turnê do Lolla. Passaram por 30 cidades entre julho e agosto daquele ano. O público era muito menor que nos áureos tempos. O provável afastamento da plateia era atribuído ao alto valor dos ingressos. Em 2010, os organizadores do evento anunciaram a estreia do festival na América do Sul. Nos dias 2 e 3 de abril, o Lolla foi montado em Santiago, capital do Chile, e teve a presença de Jane´s Addiction, 30 Seconds to Mars, The National, The Killers, Fatboy Slim, Deftones, Cypress Hill, The Flaming Lips, entre outros importantes nomes. No ano seguinte o Lollapalooza enfim desembarcou no Brasil. O local escolhido foi o Jokey Club, em São Paulo. A principal atração dessa edição, que aconteceu nos dias 7 e 8 de abril, foi o grupo Foo Fighters, liderado pelo ex-baterista do Nirvana, Dave Grohl. Outros nomes também fizeram a alegria do público: TV On The Radio, Joan Jett and The Blackhearts, O Rappa, Marcelo Nova, Arctic Monkeys, Plebe Rude, Cascadura, Gogol Bordello, Foster The People e Racionais MCs são alguns exemplos.
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PANORÂMICA FOTO CINDY SHERMAN
Nova York: 1977 à 1980. Cindy Sherman produzia a série fotográfica “Untitled Film Stills”, onde c
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capturava a si própria assumindo diversos papéis, como um portfólio de uma carreira de atriz.
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CURTO-CIRCUITO
POR PEDRO FLORES
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politicamente correto tem sido amplamente discutido nos últimos tempos. O que é engraçado? O que é ofensivo? O que pode e o que não pode ser dito? É dif ícil encontrar pessoas que trabalham com humor sem cair no lugar comum das ofensas às minorias. Legal mesmo é ler algo que nos faça rir sem se sentir mal por isso. Ou melhor, ler algo que nos faça rir e refletir sobre o que estamos rindo. Em suas pinturas e desenhos, o cartunista André Dahmer cria sátiras e críticas ao nosso cotidiano de amarras, regras, imposições sociais e falsas convicções. Suas tirinhas dão uns bons tapas na cara da sociedade e tiram a gente da mesmice do humor ofensivo. Carioca, desenhista, cartunista e poeta, André Dahmer tem 39 anos e é formado em Design pela Universidade Católica. Apaixonado por pintura - e claro, desenhos - é o criador das excelentes tiras de humor “Malvados” ,“Quadrinhos dos Anos 10”, “Apóstolos: a série”, “Cidade do Medo”e dos personagens Emir Saad e Terêncio Horto. As tirinhas, em princípio, eram apenas um hobby, mas hoje elas consagram Dahmer como um artista de humor ácido, inteligente e reflexivo.
O que começou no velho Orkut se transformou, meses depois, em um portal repleto de críticas à sociedade e seus costumes, entre outras questões que perfuram nosso cérebro nos fazendo pensar melhor a respeito do que nos rodeia. O Malvados reúne tirinhas com os personagens “Malvadão” (o que faz as críticas mais ácidas) e “Malvadinho” (o que mais sofre). No Quadrinhos dos Anos 10, temos o personagem Emir Saad, ditador sádico e egocêntrico do fictício reino Ziniguistão. Nas tiras “Apóstolos: a série” ele faz várias críticasao Cristianismo e a Igreja Católica. Por vezes, o prórpio Dahmer aparece em algumas tirinhas se auto-satirizando em situações pessoais mais impróprias. As criações de André Dahmer já apareceram no Jornal do Brasil, no portal de internet G1, na Folha de São Paulo, nas revistas Sexy Premium, Piauí e Caros Amigos.
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