RETRATOS

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edro Palma nasceu em Serpa (Baixo Alentejo) no pico do Verão de 1959, a 13 de Agosto, quando o Sol estava na posição do meio-dia. Filho de um entusiasta da fotografia, já aos dezasseis anos captava imagens com máquinas “furtadas” ao pai que possuía várias, mas a sua própria máquina só a conseguiu quando tinha dezassete anos, uma das mais baratas que utilizava filme de 8mm. Aos vinte anos comprou uma melhor já de formato 35mm e que emprestou, no tempo em que trabalhava para a RTP, ao jornalista Carlos Fino que a perdeu numa viagem. “O Fino foi gentil e substituiu a máquina perdida por uma Minolta mais sofisticada!” As primeiras fotos, de carácter profissional, foram publicadas na Notícias Magazine, em 1994, e ilustravam a sua reportagem “O Feitiço do Bengo”. Uma máquina analógica semi-profissional NikonF601 foi a câmara utilizada. No final dos anos 90 foi um dos primeiros a experimentar a fotografia digital com a famosa Sony Mavica que funcionava com disquetes de PC e tinha uma resolução pré-histórica comparada com a máquina fotográfica de resolução mais baixa dos telemóveis da actualidade. O contacto com a fotografia digital foi tipo “amor à primeira vista” e depois da primeira Sony Mavica seguiram-se várias marcas: Nikon; Olympus; Canon, Leica mas as Sony estiveram sempre presentes. Actualmente a 700 é a sua companhia preferida para além de mais quatro câmaras que utiliza. De 1980 a 1999, Pedro Palma registou em papel mais de 12.000 fotografias e nos últimos 17 anos coleccionou mais de 30.000 imagens, grande parte delas de carácter profissional pois é jornalista desde 1990 e faz questão de ilustrar as suas reportagens com fotos próprias.


COM O APOIO DA SONY PORTUGAL


Autor: Pedro Palma Design e paginação: Pedro Palma - Design e Produções, Soc. Unipessoal, Lda. pp@pedropalma.net www.pedropalma.net Impressão: Tipografia Peres, Maio de 2008 ISBN: 978-989-619-137-5 Nº de depósito legal: 275693/08 © Pedro Palma / Público, 2008 PÚBLICO - Comunicação Social, SA Rua Viriato, 13 1069-315 LISBOA Telefone: 210 111 000 Rua João de Barros, 265 4150-414 PORTO Telefone: 226 151 000 publico@publico.pt www.publico.pt


PREFÁCIO

Confesso que foi com alguma perplexidade que recebi o convite de Pedro Palma para escrever um texto para o seu belo livro de retratos. A que título se lembrou ele de escriba tão obscuro? De facto, desde o já remoto ano de 1983, quando Manuel Costa e Silva publicou um livro intitulado Os Meus Amigos, não escrevo sobre matéria fotográfica (significando que, neste tema, fiquei, por assim dizer, sequestrado na época do Reverendo C. L. Dodgson), e, non sequitur, estou muito longe de Borges e dos seus brilhantes e judiciosos prólogos. Feito este esclarecimento (que é uma espécie de desculpa aos leitores pela minha mais do que provável inépcia na abordagem de trabalhos tão fulgurantes), passemos de imediato à acção: na arte do retrato, inscreva-se ela no campo da fotografia ou no da pintura e do desenho, há dois olhares que se interceptam: o de quem é retratado (digamos que está em campo) e o de quem retrata (digamos que está em contra-campo). É nesse tenso espaço de ar rarefeito que pode exercer-se um outro olhar, que tanto pode ser cínico como ingénuo: o do observador. Nele me quero situar. Da esplanada de Pedro Palma vê-se o mundo. Perdidamente ou não a câmara fotográfica, implacável no seu rastreio figurativo, capta com rara sensibilidade fisionomias e atitudes transversais aos mais díspares universos humanos, aí se sublimando a vocação do artista para o registo do instante privilegiado – o ínfimo movimento da vida de que fala num dos seus textos. E embora nada menos do que quinze anos separem as fotografias mais antigas das mais recentes, em todas se detecta a mesma apetência pelas vibrações inusitadas que se desprendem de rostos incautos, alheios à observação de que são alvo (à distância?), e vêm plasmar-se em retratos abertos à interpretação livre que conduz a por vezes inesperadas conclusões, estranhas à curiosidade do voyeur. Entra-se então no puro domínio da Arte, quando o desconforto e a ansiedade conspiram para inquietar o destinatário tranquilo, obrigandoo a pensar em realidades agrestes através da emoção estética e da mensagem subliminar de contestação a fenómenos de exclusão bem contemporâneos. A fotografia de Pedro Palma, ao incorporar no livro estes registos e outros que se prendem com temas menos escaldantes – figuras públicas, amigos, cúmplices – fornece uma panóplia de tipos, sem olhar a raças, credos ou condição social, que dá a medida justa do seu empenho em fazer da fotografia um espelho completo da condição humana. Talvez possamos concluir dizendo que o olhar do fotógrafo, ao ser capaz de captar com grande intensidade emocional as múltiplas nuances (mais ou menos dolorosas) do olhar dos fotografados, nos estimula a desvendar segredos que nem vagamente imaginávamos poderem existir.

Salvato Telles de Menezes


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G

osto de me sentar numa esplanada e ficar a observar, perdidamente, as pessoas que passam ou que estão sentadas à minha volta. Esta rapariga, fotografada em Londres, em 2003, nem sonha que fiz mais de trinta fotos dela e muito provavelmente nunca irá ver estas duas aqui publicadas. É incrível como as pessoas se comportam quando sabem que estão a ser observadas pela objectiva de uma máquina fotográfica. Ficam como que incomodadas e não sabem muito bem o que fazer. Estas duas fotos, só possíveis com uma objectiva de 300 mm, foram tiradas a uma distância de mais de dez metros, com a câmara pousada na mesa onde eu me encontrava. Já não me recordo que acontecimento provocou a expressão da segunda imagem mas não acredito que tivesse sido algo de tão invulgar. Só pelo facto da expressão estar fora de contexto lhe dá uma força que não teria se integrada num filme. A máquina fotográfica é mais fascinante por nos permitir ver o que a nossa visão não nos faculta: ínfimos momentos da vida. Neste livro podem ser vistos, lado a lado, ciganos, semabrigo, curdos turcos e iraquianos, gente da televisão, da música, pintura, políticos, enfim... são pessoas de todas as raças e idades que foram fotografadas em três continentes e ainda na fronteira entre a Europa, África e a Ásia: no Médio Oriente. Muitas das fotos aqui publicadas foram feitas em Cascais e Nova Iorque. Praticamente quinze anos separam as mais antigas das mais recentes.


AGRADECIMENTOS Um abraço ao repórter fotográfico iemenita, Mehmet Demirci que com indicações de repórteres da TVE, me desmascarou e fez publicar no seu jornal, Zaman, uma reportagem sobre o cartoonista Pedro Palma. Os meus agradecimentos especiais para a Teresa Godina, grande amiga, sem a qual este livro não teria sido possível. Uma grande senhora que me levou ao contacto com ciganos, no Algarve, em 2003 e que nesse mesmo ano me conseguiu documentação especial junto das autoridades de Ancara, já eu estava na fronteira com o Iraque, para cobertura da guerra, sem credenciais e na eminência de ser preso.


DEDICATÓRIA Dedico este livro à memória de Raul Indipwo (Ouro Negro), grande amigo, com o qual tive o privilégio de partilhar agradáveis momentos de conversa sobre pintura, sobre a vida e também momentos únicos de músicas e cantigas Não o posso afirmar, com segurança, mas creio que esta foi a última fotografia da sua vida. Imagem captada na Fundação Ouro Negro, entre Cascais e Sintra, na Zarzuela . Para ti, meu amigo, estejas onde estiveres, um abraço do tamanho da tua alma!


8

JERRY ROBINSON - Criador do Joker em Batman Nova Iorque, 2002



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CRISTINA CARAS LINDAS - Apresentadora de Televis達o TVI, Queluz de Baixo - Portugal, 2000



12

MULHER JOVEM NUA Cascais - Portugal, 2002



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“A SUPLENTE” DE RUI ZINK - Professor, Escritor Cascais - Portugal, 2002



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TI FINA (Tia Josefina) - Mulher idosa com a cara queimada Minas de S. Domingos, Alentejo - Portugal, 2000



18

SR. GIL - Velho Mineiro Minas de S. Domingos, Alentejo - Portugal, 2000



20

VENDEDOR NUMA FEIRA DE LIVROS Londres - Reino Unido, 2003



22

CIGANO - Vendedor ambulante Cascais - Portugal, 2003



24

GIGI - Sem-abrigo Cascais - Portugal, 2004



26

ANTĂ“NIO INVERNO - Pintor Serpa, Alentejo - Portugal, 2001



28

MARTA PLANTIER - Cantora Cascais - Portugal, 2002



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HOMEM NEGRO A PASSEAR NUM MERCADO Londres - Reino Unido, 2003



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MULHER CIGANA DE OLHOS AZUIS Monte Gordo, Algarve - Portugal, 2003



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RAPARIGA CIGANA Monte Gordo, Algarve - Portugal, 2003



36

MULHER CIGANA COM BARBA Monte Gordo, Algarve - Portugal, 2003



38

MIĂšDOS CIGANOS Monte Gordo, Algarve - Portugal, 2003



40

MENINA CIGANA COM BEBÉ AO COLO Monte Gordo, Algarve - Portugal, 2003



42

RAPARIGA CIGANA DE OLHOS AZUIS Monte Gordo, Algarve - Portugal, 2003



44

PATRIARCA CIGANO Monte Gordo, Algarve - Portugal, 2003



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MENINO CIGANO NU Monte Gordo, Algarve - Portugal, 2003



48

SR. DOMINGOS Luanda - Angola, 1994



50

MENINA NEGRA CARREGANDO MADEIRA Luanda - Angola, 1994



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VIÚVA DE GUERRA Luanda - Angola, 1994



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MENINO DA RUA - Órfão de guerra Luanda - Angola, 1994



56

AFONSO - Moรงambicano sem-abrigo Cascais - Portugal, 2005



58

HOMEM JOVEM CURDO TURCO Fronteira turco-iraquiana, 2003



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HOMEM CURDO IRAQUIANO Zaho - Iraque, 2003



62

HOMEM JOVEM CURDO TURCO Silopi - Turquia, 2003



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RAPAZINHO IRAQUIANO Zaho - Iraque, 2003



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HOMEM CURDO DE MARDIN Mardin - Turquia, 2003



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RAPAZINHOS IRAQUIANOS Zaho - Iraque, 2003



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MULHER IDOSA DE MARDIN Mardin - Turquia, 2003



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CURDO IRAQUIANO - Motorista e intĂŠrprete Fronteira turco-iraquiana, 2003



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ANCIテグ CURDO Mardin - Turquia, 2003



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VELHA MULHER CEGA Mardin - Turquia, 2003



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IDOSO CURDO DE MARDIN Mardin - Turquia, 2003



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VELHO HOMEM CURDO Mardin - Turquia, 2003



82

SOLDADO TURCO DESTACADO NA FRONTEIRA COM O IRAQUE Silopi - Turquia, 20 de Março de 2003. Início da Guerra do Iraque.



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CURDO TURCO Fronteira turco-iraquiana, 2003



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O POLÍCIA FERBER Nova Iorque, 2002





90

MULHER DE MANHATTAN Nova Iorque, 2002



92

RITA BARROS - Fot贸grafa Hotel Chelsea - Nova Iorque, 2002



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EXPRESS MAN Nova Iorque, 2002



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O FIEL JARDINEIRO DE CENTRAL PARK Nova Iorque, 2002



98

MULHER NEGRA À ESPERA DO AUTOCARRO Nova Iorque, 2002



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VETERANO DE JOGGING DE CENTRAL PARK Nova Iorque, 2002



102

POLÍCIA NA GRAND CENTRAL STATION Nova Iorque, 2002



104

PLAYING IN THE STREET Nova Iorque, 2002



106

O ESCRITOR WILLIAM B. STYPLE NUMA SESSÃO DE AUTÓGRAFOS Nova Iorque, 2002



108

A SRA. DA IGREJA Nova Iorque, 2002



110

LIEUTENANT Nova Iorque, 2002



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HOMEM DE CHINATOWN Nova Iorque, 2002



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HOMEM FILIPINO EM MANHATTAN Nova Iorque, 2002



116

JOVEM NEGRO DO BRONX Nova Iorque, 2002



118

NEGRO PANAMIANO NO PIER 17 Nova Iorque, 2002



120

GUIA TURÍSTICO MARROQUINO Agadir - Marrocos, 2007



122

ROMANO Roma - Itรกlia, 2003



124

“CARICATURA DESNUDADA” - OSVALDO DE SOUSA - Historiador de Arte Caricatural Cascais - Portugal, 2002



126

CARLOS PINTO COELHO - Jornalista Évora, Alentejo - Portugal, 2004



128

PEDRO CALDEIRA - Ex-corretor da Bolsa de Lisboa Cascais - Portugal, 2008



130

YOLANDA - Imagem e Marketing Empresarial, Designer, Actriz Cascais - Portugal, 2008



132

Nテ.IA CAN - Paciente de Lentiginose Generalizada Lisboa - Portugal, 2005



134

MARIA DULCE GUERREIRO - Escritora, Artista Plรกstica Serpa, Alentejo - Portugal, 2004



136

BIBÁ PITTA E A FILHA MADALENA Cascais - Portugal, 2006



138

Sテグ VEIGA - Paciente de Esclerose Lateral Amiotrテウfica Sintra - Portugal, 2007



140

RAUL INDIPWO (Ouro Negro) Cascais - Portugal, 2006



142

LILI CANEÇAS Cascais - Portugal, 2002



144

IRENE CRUZ - Actriz Cascais - Portugal, 2007



146

JOSÉ CASTELO BRANCO Sintra - Portugal, 2006



148

NUNO DA CÂMARA PEREIRA - Deputado, Cantor Évora - Portugal, 2000



150

MARGARIDA MARTINS - Presidente da ABRAÇO Lisboa - Portugal, 2008



152

ANA DRAGO - Deputada pelo BE Lisboa - Portugal, 2008



154

ANTÓNIO D’OREY CAPUCHO - Presidente da Câmara de Cascais Cascais - Portugal, 2002



156

ILDA LUĂ?S - Advogada Cascais - Portugal, 2007



158

ROSA LOBATO DE FARIA - Escritora, Actriz Lisboa - Portugal, 2008



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De Pedro Palma há que esperar sempre o... inesperado. É disso que se trata, subjacente à mestria com que domina a luz e distribui a cor: o inesperado. Ou seja, aquilo que transforma o objecto/sujeito, que "está ali", numa fotografia assinada de modo único e irrepetível. Vejam-se os seus retratos de velhos, graníticos marcos do tempo... O que domina é aquela “outra forma" de sintetizar, de reescrever o que está. E isso chama-se Arte, pois claro.

Carlos Pinto Coelho (jornalista)


PEDRO PALMA fotografado por Margarida Martins Š 2008


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