A Emigração dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo

Page 1

Escritos: Colaboração na imprensa local

A Emigração dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo na transição da

Notícias da Beira, Mangualde, n.º 2266, de 30-07-2004, p.9

Arqueologia * História Local * Património Cultural * Genealogia

Pedro Pina Nóbrega

centúria (1900-1902): uma breve síntese

Deve citar-se: NÓBREGA, Pedro Pina (2004) – A Emigração dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo na transição da centúria (19001902): uma breve síntese. Notícias da Beira. [em linha] Mangualde. 2266, de 30-07-2004, [consultado em ??-??-????] p. 9. Disponível em www.pedropinanobrega.net


A Emigração dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo na transição da centúria (1900-1902): uma breve síntese

A Emigração dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo na transição da centúria (1900-1902): uma breve síntese1

Pedro Pina Nóbrega

Quem não tem histórias de emigração na família ou na sua aldeia? A Emigração há muito que tem mobilizado os portugueses para outras paragens em busca de uma vida melhor. Neste artigo trataremos deste fenómeno nos anos1900-1902, na transição do século XIX para o XX, durante uma monarquia há muito decadente e num Portugal agonizante... Segundo os dados do Censo de 1º de Dezembro de 1900, os concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo tinham 22256 e 13750 habitantes, respectivamente, sendo a maioria do sexo feminino.

População de facto

Nacionalidade

Estado Civil

Portugueses TOT

M

F

Solteiros

Casados

Instrução

Divorciados

Viúvos

Não Sabe Ler

Sabe Ler

Estr. Conc.

Dist.

Out.

20853

754

632

17

M

F

M

F

M

F

M

F

M

F

M

6646

7464

3257

3544

3

4

345

993

7438

11246

2813

F MGL

22256

10251

12005

759

PCT

13750

6478

7272

12983

507

245

15

4193

4554

2041

2130

1

1

243

587

5134

6906

1344

366

TOT

36006

16729

19277

33836

1261

877

32

10839

12018

5298

5674

4

5

588

1580

12572

18152

4157

1125

População dos dois concelhos em 1900 segundo o sexo, nacionalidade, estado civil e instrução

As freguesias do concelho de Mangualde com mais habitantes (>1500) eram Mangualde, onde se situa a sede de concelho, Santiago de Cassurrães, Chãs de Tavares e Cunha Baixa, por outro lado as menos populosas (<500) eram Cunha Alta, Travanca de Tavares e Moimenta de Maceira Dão. Já no concelho de Penalva do Castelo regista-se um maior número de habitantes (>1500) nas freguesias de Pindo, Ínsua, onde se situa a sede de concelho, e Castelo de Penalva, registando-se apenas na freguesia de Mareco um número de habitantes inferior a 500. Texto reformulado da síntese do nosso trabalho académico “O movimento migratório dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo na transição da centúria (1900-1902), apresentado na disciplina Demografia Histórica, leccionada pelo Prof. Dr. João Cosme, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

1

1

www.pedropinanobrega.net


A Emigração dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo na transição da centúria (1900-1902): uma breve síntese A presença de habitantes naturais de outras partes do território português é insignificante, não ultrapassando os 6,2% da população total no concelho de Mangualde e os 5,5% no concelho de Penalva do Castelo. O número de estrangeiros que viviam nestes concelhos era vestígial, 15 no concelho de Penalva do Castelo e 17 no de Mangualde. Se neste último concelho o maior número de estrangeiros se regista na freguesia onde se situa a sede de concelho, no concelho de Penalva do Castelo esta freguesia apresenta o número mais baixo, registando-se o maior número na freguesia mais oriental do concelho, Antas. A maioria da população, nos dois concelhos, era solteira, sendo a diferença entre solteiros e casados de cerca 50%. Os viúvos não ultrapassavam os 6% nos dois concelhos, e os divorciados eram parcos registando-se apenas 7 casos no concelho de Mangualde e 2 no de Penalva do Castelo. Quanto à Instrução, a maioria da população dos dois concelhos não sabia ler, registando-se um maior número de pessoas sem saber ler no concelho de Mangualde, 16% da população total, contra os 12,4% da população total registados no concelho de Penalva do Castelo. A população era predominantemente jovem, mas notam-se já um elevado número de indivíduos com mais de 50 anos. Ao contrário da ideia feita de que na geração dos nossos antepassados as famílias eram numerosas, em 1900, o que corresponde no meu caso à geração dos meus bisavós, a maioria das famílias eram compostas por 1 a 4 pessoas. Em ambos os concelhos não podemos estabelecer uma relação directa entre o número de emigrantes e o número de habitantes, uma freguesia populosa pode não corresponder a uma freguesia com um elevado número de emigrantes. A localização geográfica também parece não ter influência no número de emigrantes, pois regista-se números elevados ou baixas tanto em zonas centrais dos dois concelhos, como em freguesias periféricas e longe das principais vias de circulação. O peso da população emigrante no cômputo da população total, registada em 1900, é de 15,3‰ no concelho de Mangualde e de12,5‰ no concelho de Penalva do Castelo.

2

www.pedropinanobrega.net


A Emigração dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo na transição da centúria (1900-1902): uma breve síntese

MGL

1900 (2º sem.)

1901

1902

55

135

152

TOT 342

PCT

25

84

62

171

TOT

80

219

214

513

Distribuição dos emigrantes segundo o concelho pelos três anos estudados

A maioria da população emigrante é do sexo masculino sendo 85% do número total de emigrantes. Era de entre aqueles que exerciam uma actividade no sector agro-pecuário que mais gentes saía em busca de uma vida melhor noutro continente. Já com uma idade adulta, certamente depois de cumprir os serviço militar, no caso dos homens, a maioria dos emigrantes decidia partir, tendo entre 20 e 30 anos. Se a maioria dos homens emigravam já depois de se casarem, e com certeza de cumprirem o serviço militar, a maioria das mulheres, por sua vez, emigravam ainda solteiras. Embora a maioria dos emigrantes fossem casados estes partiam quase sempre sozinhos, levando esporadicamente os filhos e/ou a esposa e num caso a criada. No geral regista-se um aumento da emigração no período em estudo, mas efectivamente este só se regista no concelho de Mangualde. Os meses escolhidos para emigrar são os meses próximos dos equinócios, sendo os meses estivais os que registam o menor número de emigrantes. As testemunhas que abonavam a favor dos requerentes deviam ser engajadas pelas agências de bilhetes ou por engajadores, pois identificamos “autênticos profissionais” de testemunhar, por outro lado os próprios alquiladores que transportavam as pessoas serviam de testemunhas. Recorria-se, igualmente, a pessoas com alguma instrução como comerciantes, sacerdotes e advogados, devendo ser estes últimos também quem trataria do processo de passagem do passaporte. A maioria das pessoas declaravam que compravam bilhetes ao agente Lemos, de Mangualde. regista-se também a existência de dois agentes em Viseu, Alberto Salles e Frederico Silva, os restantes bilhetes eram comprados em Lisboa e Porto.

3

www.pedropinanobrega.net


A Emigração dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo na transição da centúria (1900-1902): uma breve síntese A barra de Lisboa, para onde tinham ligação ferroviária, constituía a principal porta de saída, e o Brasil o principal país de destino, verificando-se também um número significativo de emigrantes com destino a São Tomé e Príncipe.

1900

1901

1902

Total

TOT%

BRA

54

142

163

359

70

STP

24

60

35

119

23,2

CBV

0

2

1

3

0,58

MOÇ

2

6

11

19

3,7

ANG

0

8

4

12

2,34

AFR

0

1

0

1

0,19

TOT

80

219

214

513

TOT%

15,6

42,7

41,7

100

Distribuição dos locais de destino pelos anos

Verificaram-se seis casos de reagrupamento familiar, e quatro casos de emigrantes menores2. A maioria dos emigrantes faziam-no para destinos onde conheciam alguém que iria servir de primeiro contacto e intermediário com o novo mundo. Assim, verificamos 37 casos de famílias de emigrantes, ou seja famílias em que emigraram mais do que um filho. Verificamos que a maioria dos irmãos emigravam para o mesmo destino e destes a maioria viaja em data diferente. São poucos os casos, 16, em que se verifica um regresso e uma nova partida, verificando-se em quatro casos a partida de mais uma pessoa. Aqui partilhamos alguns dados sobre este fenómeno que está relacionado com muitos leitores do Notícias da Beira, ou porque são/já foram emigrantes, ou porque têm/já tiveram familiares emigrantes.

Salientamos que neste caso emigrantes significa titulares de termos de identidade, pois um termo de identidade podia abranger o seu titular e familiares.

2

4

www.pedropinanobrega.net


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.