PEDRO PINA NÓBREGA
Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos
Trabalho monográfico apresentado no Seminário de Património Arqueológico do Mestrado em Estudos do Património leccionado pelo Prof. Doutor João Luís Cardoso
Lisboa 2005
O homem que conhece a história do seu torrão natal afeiçoa-se mais a este porque em cada momento evoca uma recordação: ora é de sentimentos que se compõe uma grande parte da nossa vida. José Leite de Vasconcellos
Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
Índice Introdução ............................................................................................................................
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1. – Os Correspondentes........................................................................................................................... 6 1.1. – Alberto Osório de Castro .................................................................................................................... 6 1.2. – Francisco Martins Sarmento............................................................................................................... 6 1.3. – José Leite de Vasconcellos ................................................................................................................ 7 1.4. – Diogo Augusto de Lemos ................................................................................................................... 7 1.5. – António Nunes de Almeida ................................................................................................................. 8 1.6. – Bernardo Rodrigues do Amaral .......................................................................................................... 8 1.7. – Cândida Florinda Ferreira................................................................................................................... 9 1.8. – Francisco Tavares.............................................................................................................................. 9 1.9. – Augusto Queiróz ................................................................................................................................ 9 1.9. – João Patrício de Albuquerque e Castro .............................................................................................. 9 1.10. – Maximiliano Apolinário.....................................................................................................................10 1.11. – José Cabral.....................................................................................................................................10 2. – Os Sítios .............................................................................................................................................11 2.1. – Concelho de Mangualde....................................................................................................................11 2.1.1. – Raposeira.......................................................................................................................................11 2.1.2 – Serra de Torre de Tavares ..............................................................................................................17 2.1.3. – Campas .........................................................................................................................................18 2.1.4. – Medorno.........................................................................................................................................18 2.1.5. – Monte da Sr.ª do Bom Sucesso......................................................................................................18 2.1.6. – Monte da Sr.ª da Castelo................................................................................................................21 2.1.7. – Rechã ............................................................................................................................................24 2.1.8. – Mangualde .....................................................................................................................................24 2.1.9. – Casa da Orca da Cunha Baixa .......................................................................................................25 2.1.10. – Orca dos Padrões ........................................................................................................................27 2.1.11. – Lajinha .........................................................................................................................................28 2.1.12 – Santiago de Cassurrães ................................................................................................................29 2.1.13. – Quintela de Azurara......................................................................................................................30 2.1.14. – Laja da Víbora..............................................................................................................................31 2.1.15. – Moirelas .......................................................................................................................................31 2.1.16. –Qt.ª da Ponte/Torre de Gandufe/Ponte do Tinto.............................................................................31 2.1.17. – Orcas do Braçais..........................................................................................................................34 2.1.18. – Outeiro de Espinho.......................................................................................................................34 2.2.19. – S. Cosmado. ................................................................................................................................34 2.2.20. –Valongo.........................................................................................................................................34 2.2.21. – St.º André.....................................................................................................................................35 2.2.22. – Cumieira.......................................................................................................................................35 2.2.23. – Lameiro dos Chões ......................................................................................................................35 _____________________________________________________________________________________________________________________________________
Índice
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2.2.24. –Moiteira ou Campas ......................................................................................................................35 2.2.25. – A Cerca de Água Levada..............................................................................................................35 2.1.26. – Chão do Concelho........................................................................................................................37 2.1.27. – Castro de Fornos do Dão .............................................................................................................37 2.1.28. –Outeiro de Fornos do Dão .............................................................................................................37 2.1.29. – Cunha Baixa e arredores..............................................................................................................37 2.2. – Concelho de Penalva do Castelo.......................................................................................................37 2.2.1. – Antas .............................................................................................................................................37 2.2.2. – Pedra Vigia ....................................................................................................................................38 2.2.3. – S. Martinho.....................................................................................................................................39 2.2.4. – Orca do Penedo do Com................................................................................................................41 2.2.5. – Castro da Paramuna ......................................................................................................................41 2.2.6. – Quinta da Villa dos Albuquerques...................................................................................................41 Conclusão .................................................................................................................................................42 Bibliografia................................................................................................................................................45 Apêndice Documental ..............................................................................................................................47
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Índice
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Introdução O trabalho que agora apresentamos é fruto da investigação levada a cabo antes de iniciarmos o mestrado. Entre Agosto de 2003 e Julho de 2004 desenvolvemos os projectos “A Presença romana dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: revisão dos conhecimentos”, “Os concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo no Epistolário do Dr. José Leite de Vasconcellos” e “A Arqueologia mangualdense e 1 penalvense na imprensa local extinta” no âmbito da Associação Cultural Azurara da Beira o que nos
permitiu obter dados importantes em documentação até aqui não estudada ou nem se quer localizada. Alguns dados foram já por nós divulgados (Nóbrega, 2004, no prelo a) encontrando-se na fase final a elaboração do estudo global de cada um dos projectos. Aqui apresentamos as informações inéditas constantes na documentação consultada: as cartas de Alberto Osório de Castro para Francisco Martins Sarmento, as cartas de Francisco Martins Sarmento e de José Leite de Vasconcellos para Alberto Osório de Castro e ainda as cartas recebidas por José Leite de Vasconcellos e remetidas a partir dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo.
Queremos aqui agradecer: À ACAB – Associação Cultural Azurara da Beira por ter aceite os projectos em que se enquadrou a investigação referida; À Casa de Sarmento-Centro de Estudos do Património e à Sociedade Martins Sarmento pelo apoio e facilidades concedidas no estudo da documentação e fotografia dos materiais que se encontram em Guimarães. Destaque para o Dr. António Amaro das Neves, por todo o apoio que nos tem dispensado e pela localização da correspondência de Alberto Osório de Castro no Arquivo da Sociedade Martins Sarmento; À Dr.ª Celeste Bernardo, por nos ter colocado em contacto com os descendentes de Alberto Osório de Castro; Aos descendentes de Aberto Osório de Castro, Dr.ª Isabel Taborda de Oliveira, bisneta e detentora da correspondência recebida por Osório de Castro, e o Sr. António Osório de Castro, sobrinho neto, em casa do qual pudemos ter acesso à referida documentação; Ao Museu Nacional de Arqueologia, nomeadamente à Dr. Lívia Cristina Coito e restante pessoal da Biblioteca por todo o apoio prestado durante a consulta do Epistolário do Dr. José Leite de Vasconcelos; À Dr.ª Clara Portas Matias, responsável pelo Campo Arqueológico da Raposeira, por nos ter autorizado a utilizar documentação gráfica constante do relatório da campanha de 1995 e pelas animadas e elucidativas conversas sobre a Raposeira. Devido a dificuldades de leitura o texto das cartas não plenamente transcrito, assim, o símbolo “[...]” corresponde a partes da correspondência que não conseguimos transcrever e o símbolo “[?]” a partes que transcrevemos com dúvida.
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Cf. http://acab.no.sapo.pt/inve.html
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Introdução
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1. – Os Correspondentes 1.1. – Alberto Osório de Castro Alberto Osório de Castro nasceu em Coimbra a 1868, tendo passado a juventude em Mangualde, onde o seu pai era conservador do registo predial. Cursou Direito e foi magistrado em Portugal e no Ultramar. Aqui exerceu uma intensa actividade paralela de investigação etnológica, linguística e antropológica, tendo publicado alguns estudos e deixado outros em manuscrito. Em Portugal chegou a pertencer ao Governo com a pasta da Justiça, no tempo de Sidónio Pais, e foi juiz do Supremo Tribunal de Justiça, onde os seus pareceres fizeram jurisprudência. Desde cedo se iniciou na poesia, tendo sido fundador da revista Boémia Nova em Coimbra. A sua poesia situou-se entre o decandentismo e o simbolismo, evoluindo para um formalismo de sabor parnasiano. Era grande amigo de Camilo Pessanha, e conviveu com outros poetas da época. Veio a morrer em Lisboa a 1946, sem nunca esquecer a cidade onde viveu a juventude imortalizando-a na sua poesia.
Fig. 1: Alberto Osório de Castro poucos anos antes de falecer. (Bernardo, 1971a)
1.2. – Francisco Martins Sarmento Francisco Martins Sarmento era um abastado proprietário de Guimarães que tinha uma enorme curiosidade pela arqueologia. Cursou Direito em Coimbra, tendo-se depois radicado de vez na sua terra natal. Foi o escavador da Citânia de Briteiros e do Castro de Sabroso, que se tornaram dois dos mais importantes sítios arqueológicos de Portugal. Desta sua actividade nasceu uma Sociedade que tomou o seu nome e à qual Francisco Martins Sarmento dispensava a sua atenção, sem contudo ter sido seu presidente ou fundador. Além de Alberto Osório de Castro, Francisco Martins Sarmento apadrinhou vários jovens investigadores, dando todo o seu apoio, como o grupo da Portugália. Com as suas actividades em Briteiros e Sabroso e as suas surpreendentes descobertas e teses, foi reconhecido nacional e internacionalmente pelo seu mérito. Participou com uma comunicação no IX Congresso Internacional de Antropologia e de _____________________________________________________________________________________________________________________________________
1. – Os Correspondentes
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Arqueologia Pré-históricas, cujos congressistas visitaram a Citânia. A sua actividade cientifica tinha como i
único fim o conhecimento das origens etnológicas do povo português (Sampaio et alli, 1999, p. 21). Foi o verdadeiro mestre de Alberto Osório de Castro, tendo falecido em 1899.
Fig. 2: Francisco Martins Sarmento. (In www.esec-martins-sarmento.rcts.pt/ martins.htm)
1.3. – José Leite de Vasconcellos José Leite de Vasconcellos, que era familiar de Alberto Osório de Castro, formou-se em Medicina e mais tarde doutorou-se em Filologia. Depois de ter exercido medicina por breve tempo, foi nomeado conservador da Biblioteca Nacional, tendo a partir daí se dedicado ao estudo da Cultura Portuguesa e do Homem Português. Posteriormente torna-se professor na Faculdade de Letras de Lisboa. Desde cedo se interessou pela arqueologia, tendo fundado uma colecção de antiguidades na Biblioteca Nacional, que depois viriam a ser integradas no Museu Etnológico Português, que fundou. Criou O Archeologo Português, órgão do museu e importante veículo de pequenas notícias sobre vestígios arqueológicos de todo o país; ainda hoje de consulta indispensável para qualquer arqueólogo. Apoiou Alberto Osório de Castro na defesa da Raposeira, tendo visitado esta em 1892 e com ele explorado inúmeros sítios arqueológicos. O interesse de José Leite de Vasconcellos era principalmente obter informações para as suas investigações e materiais para o seu museu, naquele tempo ainda uma simples colecção na Biblioteca Nacional.
Fig. 3: José Leite de Vasconcellos. (In www.mnarqueologia-ipmuseus.pt)
1.4. – Diogo Augusto de Lemos Apenas sabemos que era morador nas Antas, freguesia do mesmo nome e concelho de Penalva do Castelo. A ele se deve o envio da Ara votiva das Antas que se encontra depositada no Museu Nacional de Arqueologia.
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1. – Os Correspondentes
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1.5. – António Nunes de Almeida Era na altura escrivão da Câmara Municipal de Mangualde. Leite de Vasconcellos deve-o ter conhecido na visita que efectuou a convite de Osório de Castro em 1892.
1.6. – Bernardo Rodrigues do Amaral Leite de Vasconcellos na nota necrológica publicada no “Archeologo Português” (Vasconcellos, 1922, pp. 224-6) refere-se nestes termos a este correspondente, também conhecido como Morgado do Outeiro: “O Sr. Bernardo Rodrigues do Amaral nasceu em 3 de Março de 1839, no lugar do Outeiro de Espinho, concelho de Mangualde. Os vizinhos e amigos conheciam-no simplesmente pelo nome de Morgado do Outeiro, título que lhe viera dos seus antepassados. O que não sei, é se o titulo tinha cunho oficial, ou não passava apenas de afectuosa designação popular, pois muitas vezes nas aldeias costumam chamar morgado a um filho único. O mesmo acontece quanto ao sexo feminino. Dotado de índole bondosa e franca nenhum necessitado se lhe aproximava com uma súplica, que não voltasse servido. Por isso todos lhe queriam muito. Nas horas vagas, que o cuidado das suas propriedades e o gosto da caça lhe deixavam livres, aplicava-se um pouco a ler, para se instruir. Foi assim, que, estando eu no concelho de Mangualde, em Setembro de or 1892, a explorar um dólmen no sítio da Cunha Baixa, por convite do meu ilustre amigo o D. Alberto Osório
de Castro, então residente naquele concelho, me relacionei com o S.or Bernardo Rodrigues, que do Outeiro, que fica or perto, acorreu ao local da exploração, logo que, por indicação do D. Osório, lhe constou o que ali se passava.
Ainda me lembro muito bem. Achava-me eu entretido com os trabalhadores a reparar na excavação, quando surgiu ao longe, de casaco, chapéu mole, e espingarda ao ombro, um indivíduo de barba intonsa, o qual falava muito alto, e entusiasticamente, com outros, ouvindo-lhe eu, avulsa na conversa, a palavra Celtas. Ora esta! disse eu de mim para mim. Quem é que conhece os Celtas por estes campos tão afastados do mundo, onde só pompeiam lendários e volumosos penedos de granito, e se cria louro milho? Não havia dúvida. AIguem os conhecia. Pouco depois o D.or Osório, que andava comigo, e, se aproximou do ruidoso visitante, que não era outro senão o S.or Bernardo Rodrigues do Amaral, punha-me em relações com ele, e em tão boa hora, que até à data do falecimento d'este, ocorrido na terra da sua naturalidade em 18 de Agosto de 1926, as mantivemos inalteráveis e cordialíssimas. A ideia de Celtas teria advindo à mente do S.or Morgado, .porque ao tempo em que os investigadores de Arqueologia começaram a dar atenção aos dolmens, atribuíram-nos aos povos célticos, como ele leria algures; hoje está demonstrado que serviam de sepulturas, ainda mais velhas que os Celtas. Por mais de uma vez o S.or Bernardo Rodrigues me hospedou em sua casa a mim e a outros funcionários do Museu, por ocasião de idas nossas ao concelho de Mangualde, Ou a concelhos vizinhos, em pesquisas e estudos arqueológicos. De uma das vezes em que impaciente me esperava havia dias, sem eu chegar, porque precisei de fazer por ali perto outras visitas, antes da que lhe prometera, não se reprimiu, que, ao ver-me entrar na sua casa uma manhã, não exclamasse com a maior satisfação e abraçando-me: «Ora cá o tenho !», Os serviços que se prestam à sciencia nem sempre o público os aprecia devidamente. Uns comentam: para que servem pobres pedras com tanto afan arrancadas de minas antigas? Outros: que nos importam pedaços de vasilhas, despidos de arte, e sem graça? O que tais importunos ignoram é que as pedras falam instrutiva linguagem, quando tocadas de certa vara mágica, e que do exame da forma, pasta e côr de muitos cacos jorra luz que rompe as trevas do passado. O S.or Morgado do Outeiro, apesar de viver entregue à lavoura, tinha o pressentimento de que a terra, que os seus criados lavravam, não fazia somente germinar as sementes espargidas nela, mas escondia em si mesma, não raro, preciosidades arqueológicas, que se deviam apanhar e guardar. Por isso a mim, que andava pela Beira à procura de cerâmica antiga e lápides de aspecto estranho, me recebeu com tanto afecto, e ao encontrar, nas lavouras, ou _____________________________________________________________________________________________________________________________________
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andando à caça, por exemplo, um machado de pedra polida, uma mó que destoava das actuais, um sílex facetado, aproveitava tudo, e m'o enviava para o Museu Etnologico. Este Museu tem-se assim, na maior parte, formado 4e dadivas de pessoas bem intencionadas, -minhas conhecidas, ou minhas amigas -; nem,- se assim não acontecesse, ele possuiria tantos objectos como possue, visto que os Governos não o dotam suficientemente: e já cousas de ouro muito valiosas foram parar a cadinhos de ourives, ou a museus estrangeiros, por lhe faltarem recursos para as comprar!”
Fig. 4: Bernardo Rodrigues do Amaral. (Vasconcellos, 1922, p. 225)
1.7. – Cândida Florinda Ferreira Pela correspondência trocada com Leite de Vasconcellos2 parece-nos que foi aluna dele na Faculdade de Letras e que posteriormente fazia traduções para ele. Na altura da troca de correspondência estava prestes a defender a tese de doutoramento. Fornece indicações sobre o Castro do Bom Sucesso por estar de férias na vizinha aldeia de Abrunhosa-a-Velha e num passeio deslocou-se ao referido monte.
1.8. – Francisco Tavares Proprietário da Casa de Quintela de Azurara, freguesia do mesmo nome e concelho de Mangualde, era também primo de Leite de Vasconcellos. Dele apenas temos uma carta que não nos dá 3
qualquer informação de índole arqueológica . As informações que possuímos são dados por seu primo Augusto Queirós.
1.9. – Augusto Queiróz Primo de Leite de Vasconcellos e do correspondente anterior, era proprietário da Casa de Fornos do Dão, freguesia de Fornos de Maceira Dão e concelho de Mangualde. Nesta casa pernoitou Leite de Vasconcellos que percorreu os campos de Fornos na companhia de seu primo
1.9. – João Patrício de Albuquerque e Castro Grande proprietário da freguesia de Esmolfe, concelho de Penalva do Castelo, em casa do qual passou Leite de Vasconcellos a quando da sua passagem por este concelho (Vasconcellos, 1927, pp. 127-
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Arq. JLV, CoR 1209. Arq. JLV, CoR 3385/21825.
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1. – Os Correspondentes
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9). Esta Quinta era rica em vestígios arqueológicos e o seu proprietário um coleccionar de recortes de tudo o que fosse noticia sobre a região e um grande interessado pelos vestígios do passado.
1.10. – Maximiliano Apolinário Colaborador de Leite de Vasconcellos no Museu de Belém, tendo explorado diversos sítios arqueológicos de Portugal. Mais tarde foi estudar ciências exactas para o estrangeiro.
1.11. – José Cabral Não conseguimos colher nenhuma informação sobre este correspondente. As suas cartas foram remetidas com o local de Mangualde.
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2. – Os Sítios 2.1. – Concelho de Mangualde 2.1.1. – Raposeira4 Campos da Raposeira, Mangualde.
A Raposeira foi pela primeira vez intervencionada em 1889 por Alberto Osório de Castro. Para a primeira intervenção arqueológica conhecida na Raposeira apenas dispomos dos artigos publicados pelo próprio Osório de Castro no seu jornal, “O Novo Tempo”, em 1891/2 e a correspondência trocada entre este e Francisco Martins Sarmento. Esta primeira intervenção levada a cabo por Alberto Osório de Castro foi financiada pela Sociedade Martins Sarmento, através de Francisco Martins Sarmento, a quem Osório de Castro escreveu a contar a descoberta da Raposeira. Alberto Osório já tinha indagado as populações de Mangualde sobre coisas antigas. E em 02 de Setembro de 1882 soube por um dos proprietários da Raposeira que a cada passo na sua terra e terras vizinhas ele tem encontrado grandes tijolos, pichéis de bronze, moedas, e, o que é mais notável, troços de 5 colunas toscanas, e grande quantidade de pedra escudada . Para além de outros vestígios de estruturas e
materiais de construção que o proprietário lhe narra. A primeira noticia sobre a Raposeira surge-nos na carta de 3 de Setembro de 1882 nos seguintes termos: Pois ontem numa propriedade vizinha dessa soube eu do lavrador que a possui algumas notícias curiosíssimas de ruínas soterradas de uma povoação importante. A cada passo na sua terra e terras vizinhas ele tem encontrado grandes tijolos, pichéis de bronze, moedas, e, o que é mais notável, troços de colunas toscanas, e grande quantidade de pedra bem escudada. A base de uma coluna toscana vou eu mandá-la vir, assim como grandes tijolos moldados de que o camponês tem feito a parede da propriedade. Falou-me também em mármores, revestimento talvez da coluna, que é correcta mas grosseiramente escudada. Fazendo arroteamentos, no Inverno creio eu encontrou uma casa quadrada de pedra muito lisa, o telhado de grandes tijolos assentes sobre varões de ferro de que ele me mostrou uma barra de um metro arrancada por ele. Não se atreveu a descer, e tornou a alagar tudo. Segundo Osório esta propriedade era safara, sem água, boa apenas para os centeios. Numa pequena vinha que fica ao alto da propriedade, e no sitio onde se desenterraram os entablamentos, e o 6
capitel toscano não dá quasi nenhum vinho, e já esteve mesmo para ser arrancada o ano passado.
Era uma porção enorme a que se estende por todo aquele vale, ao poente do Monte da Senhora do Castelo, desde o Medorno à Raposeira, passando pela Soeima, Vale d’Anta, Vale do Moiro e Castelo. Coisa ... [?], e que só agora aprendi: A Raposeira é um nome geral de metade desse vale para o Norte [?]. 7
E a tal fazenda da Raposeira onde se fizeram as escavações chama-se: O Castelo.
Para o auxiliar na intervenção, ou mesmo para a fazer, Alberto Osório de Castro contratou primeiro homens e um capataz, Bernardo José da Costa, que era “remediado de ali, com uma certa ciência do Panorama, Archivo Pittoresco, Século, etc., antigo juiz de paz, coleccionador de coisas antigas e o 4
Este texto corresponde na íntegra ao capítulo da intervenção do séc. XIX da monografia do Campo Arqueológico da Raposeira que estamos a preparar em conjunto com a Dr.ª Clara Portas. 5 Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, de 3 de Setembro de 1882, fs. 4 e 4v. 6 Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, de 3 de Setembro de 1889, f. 3. 7 Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, de 27 de Setembro de 1890, f. 3v. _____________________________________________________________________________________________________________________________________
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homem mais respeitado entre o povo” 8, posteriormente recorreu a mulheres para o transporte das terras levantadas.
Quanto aos espaços identificados por Osório são em número de 8 existindo dúvidas sobre a localização exacta de alguns. Até nós apenas nos chegou um pequeno esboço laborado pela esposa de Alberto Osório de Castro logo no inicio dos trabalhos (Nóbrega, 2004a).
Fig. 5: Esboço da área escavada elaborado pela esposa de Osório de Castro logo no inicio dos 9 trabalhos.
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Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, de 28 de Setembro de 1889, fs. 5v, 6 e 6v. Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro.
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Tratemos agora os vários espaços identificados por Osório de Castro:
Fig. 6: Localização da área escavada por Osório de Castro (a traço negro) sobre planta da área escavada por Clara Portas Matias (a traço ponteado).
A1 – Fornalha Segundo aquele “escavador” conservava ainda a cinza e os carvões. A2 – Compartimento Este espaço é localizado em frente à fornalha “tendo-se encontrado muita pedra polida que parece ágata.”
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Esta pedra deve ser botões de pasta vítrea com perfuração em “V” que foram também
encontrados nas intervenções do séc. XX. O próprio Osório de Castro refere num artigo publicado n’O Novo Tempo que “em frente da fornalha foram encontrados alguns ossos humanos do antebraço, e ao lado deles uma pedra azulada, do tamanho de um botão, com sinais de engaste, ornato, naturalmente, dalgum bracelete” (Castro, 1890e, p. 3).
B – Caldarium Este espaço teria o chão coberto por grandes tijolos sobre barras de ferro, que por sua vez, estavam sobre pilares. As suas paredes seriam estucadas tendo o estuque sido danificado e alguns pilares tombados pelas pessoas que invadiram a Raposeira depois da descoberta do pote com moedas. C – Tepidarium 10
Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, de 28 de Setembro de 1889, f. 2, 2v e 3.
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Este espaço era “ladrilhado com grandes tijolos triangulares num desenho talvez policromo com paredes caiadas e riscadas desta forma”
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. À semelhança do Caldarium tinha o chão coberto de tijolos
triangulares, que formavam losângulos, assentes em pilares, que foram, igualmente, arrancados depois do achamento do pote das moedas imperiais. Uma das paredes era coberta de pequenos desenhos geométricos e estuque. Por baixo do chão existia um vão por onde circulava o calor e que tinha um pavimento calcetado, sobre o qual assentavam os pilares. D – Pequeno compartimento Sobre este pequeno compartimento apenas sabemos que estava meio entulhado e que se encontrou ossos e botões azuis. E – Edifício Este espaço foi identificado a Nordeste do edifício das termas através de um muro com mais de 10 metros ao qual adoçavam diversos compartimentos separados por paredes e que fazia ângulo recto com a parede Norte das termas.. F – Canalizações Osório de Castro apenas refere que “dois canos de pedra correm na direcção nascente-poente ao 12 longo da parede do hypocause, um por cima do outro” . Na canalização superior foi encontrado um cano
de chumbo. G – Fonte Numa propriedade do outro lado do caminho foi identificada uma fonte enterrada por um dos proprietários.
Por fim Osório de Castro (1890e, p. 2) identificou um segmento de grande muro circular cujo localização precisa desconhecemos.
Esta descoberta despertou a atenção da população de Mangualde como refere Alberto Osório de Castro numa carta a Francisco Martins Sarmento: “E o que tem graça é que um verdadeiro movimento de simpatia e interesse se tem operado a respeito da nova Citânia Martins Sarmento. De manhã à tarde enchese a fazenda. Amanhã, domingo, tem o proprietário que ver. Pois ao principio tive de lutar com a indiferença e com a risota dos ... [?] idiotas da terra. Acabou-se. Está dado o entrain, despertado o interesse, uns levados pela vaidade, outros pela imaginação. Estou formando um Comité honorário, para a fiscalização das contas, e principalmente para a protecção e para a importância dos trabalhos. Daqui a pouco todos os jornais darão noticia da nova citânia. As pessoas que já fazem parte do Comité são o Dr. Francisco d’Albuquerque e Couto, rico proprietário, e antigo deputado cabralista; J. P. de Freitas Castel Branco,
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Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, de 3 de Setembro de 1889, fs. 4 e 4v. Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, de 3 de Setembro de 1889, fs. 6 e 6v.
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agrónomo desta região; Oliveira Baptista, recebedor, Dr. Almeida, médico do partido, homem inteligente, o Dr. Alberto de Menezes, administrador do concelho.
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A intervenção acabou repentinamente após a descoberta de um pote com moedas imperiais, o que provocou a invasão do campo por populares que o destruíram à procura de tesouros, e a oposição dos proprietários dos terrenos à intervenção arqueológica sem qualquer contrapartida pecuniária. Assim ficou a Raposeira adormecida até à década de 80 do século XX, quase cem anos depois, sendo apenas acordada por visitas de este ou aquele investigador que limitava-se a recolher materiais de superfície.
Fig.s 7, 8 e 9: Cossoiros e disco. Colecção do Museu da Sociedade Martins Sarmento. Foto Casa de Sarmento – Centro de Estudos do Património.
Fig.s 10 e 11: Fundos de ânfora. Colecção do Museu da Sociedade Martins Sarmento. Foto Casa de Sarmento – Centro de Estudos do Património.
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Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, de 28 de Setembro de 1889, fs. 4, 4v e 5.
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2. – Os Sítios
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Fig. 12: Asa de ânfora ou “teta” de uma “tegula mamatae”. Colecção do Museu da Sociedade Martins Sarmento. Foto Casa de Sarmento – Centro de Estudos do Património.
Fig. 13: Frag. de uma taça de “terra sigillata”. Colecção do Museu da Sociedade Martins Sarmento. Foto Casa de Sarmento – Centro de Estudos do Património.
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2. – Os Sítios
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
Fig.s 14 e 15: Bordo de ânfora ou “dolium” e frag. de cerâmica comum. Colecção do Museu da Sociedade Martins Sarmento. Foto Casa de Sarmento – Centro de Estudos do Património.
Fig. 16: Frag. cerâmico decorado. Colecção do Museu Nacional de Arqueologia. (Vasconcellos, 1917, p. 115)
2.1.2 – Serra de Torre de Tavares Torre de Tavares, Várzea de Tavares Segundo a informação de um popular das Antas
14
todas as pedras desta serra têm sinais
15
fundamente entalhados e ainda as tais ferraduras, mãos, etc.
Esta mesma informação foi publicada no Novo Tempo por Osório de Castro, em 01-10-1890: (...) toda a montanha em volta do povoado [de Torres de Tavares], está cheia de cruzes, sois, e estrelas, de covinhas, de forquilhas, esculpidas em cada rochedo. Leite de Vasconcellos, num artigo publicado n’O Archeologo Portugues, refere a existência de muitos restos cerâmicos antigos e conta a tradição que existiu lá uma cidade (1917, p. 113). 14
Não se deve confundir com as Antas, do concelho de Penalva do Castelo. Trata-se aqui de um microtopónimo da área de Torre de Tavares. Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, de 3 de Setembro de 1882, f. 3v.
15
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2.1.3. – Campas Qt.ª das Campas, Mangualde. Desgraçadamente só tenho visto por aqui sepulturas cavadas na rocha, de forma idêntica todas, mostrando que os cadáveres ficam deitados de lado. Numa fazenda ao sopé da Senhora do Castelo abundavam ainda há poucos anos. Chama-se mesmo a fazenda das Campas. Era uma verdadeira necrópole. Vi eu numa mesma rocha duas sepulturas grandes unidas, e em volta sepulturas pequeninas. No 16 arroteamento dessa propriedade achou-se muito pez (?) e bastante tijolo , assim narra Osório de Castro a
Martins Sarmento o que encontrou no local. Num artigo publicado no Novo Tempo em 15-11-1890, Osório de Castro refere a existência, no local das Campas, de sepulturas escavadas na rocha com lugar para os ombros, lugar para o occipital pronunciado, para o nariz, para a maxila, lugar para um cadáver invariavelmente de lado, ora uma campa solitária, ora todo um cemitério de família de adultos e meninos. Leite de Vasconcellos, num artigo de 11-08-1892 publicado n’A Reacção, também refere estas campas.
2.1.4. – Medorno Modorno, Mangualde. Noutro afloramento granítico chamado Modorno (o nome é significativo), e que fica a sudeste da vila, apareceram há anos moedas de bronze, creio eu, com uma águia de asas meio abertas, e umas 17
arrecadas de ouro que um tipo de Viseu disse moiriscas; estão hoje em poder de El-Rei.
Osório de Castro, num artigo de 01-10-1890, refere apenas a existência desta elevação a sudeste de Mangualde. Noutro artigo de 08-10-1890, refere que falou-se em tempo numas arrecadas de ouro, hoje no Museu da Ajuda, achadas em Mangualde no Monte do Medorno (...).
2.1.5. – Monte da Sr.ª do Bom Sucesso Monte do Bom Sucesso, Chãs de Tavares. Pelo tio, Joaquim Osório de Albuquerque, de Algodres, Alberto Osório de Castro soube da existência de importantes ruínas no alto do Monte da Sr.ª do Bom Sucesso.
18
Este local foi escavado por
19
José Leite de Vasconcellos tendo aparecido cerâmica decorada romana.
20 Pelas notas que José Leite de Vasconcellos tomou no seu caderno de campo , encontrado no
Arquivo José Leite de Vasconcellos do Museu Nacional de Arqueologia, podemos elaborar o seguinte esboço do monte:
16
Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, de 3 de Setembro de 1882, fs. 3v e 4. Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, de 3 de Setembro de 1882, f. 6v. 18 cf. Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, de 14 de Novembro de 1889, fs. 3 e 3v. 19 Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, Carta de 27 de Setembro de 1892, f. 4v. 20 Arq. JLV, Apontamentos, documento avulso. Encontra-se transcrito no apendice documental. 17
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Fig. 17: Esboço do Castro do Bom Sucesso segundo o caderno de campo de José Leite de Vasconcellos (Elaborado pelo signatário com base no levantamento topográfico constante do processo de classificação)
Leite de Vasconcellos, num artigo de 18-08-1892 publicado n’A Reacção, diz que explorou este castro juntamente com Osório de Castro. A cerâmica encontrada era análoga à do monte da Senhora do Castelo. No mesmo artigo este autor refere que “O Castello das Chãs é muito curioso; descobrem-se nele vestígios de muralhas e portas, e no alto as ruínas de uma povoação de certa extensão: casas e ruas. Este Castelo, como todos os mais está povoado de lendas: assim um penedo, e que afecta uma forma especial, e à varanda da Inacinha (Ignacinha). As escavações que por ora fiz neste monte não me revelaram nada romano: nas suas faldas encontrei telhas de rebordo, dessa procedência.” Nos apontamentos referidos encontramos desenhos e descrição das casas, segundo os trabalhadores estas seriam cem ou mais. _____________________________________________________________________________________________________________________________________
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
Fig. 18: Desenho das casas encontradas. Elaborado por nós a partir de um desenho de José Leite de Vasconcellos.
Mais tarde, já em 1938, Leite de Vasconcellos recebe uma carta de Cândida Florinda Ferreira, 21 datada de 21 de Setembro , onde diz que “(...) quando subindo ao monte de S. Caetano, pude ver muitos
vestígios de vida longínqua que uns trabalhadores trouxeram à superfície. (...) No referido monte há vestígios de construções, grandes rochas com covinhas, e apareceram há dias ossos humanos, uma caveira com dois dentes compridos, facas de metal, etc. deve tratar-se de um castro, com certeza. Creio que os ossos foram guardados numa capelinha e alguns objectos foram guardados pelo proprietário de um hotel em Lisboa, que se encontra aqui acidentalmente. Hoje ainda são visíveis vestígios de estruturas habitacionais e defensivas, um troço de via romana e apanha-se cerâmica à superfície.
Fig. 19: Vista de Este do Castro do Bom Sucesso, vendo-se vestígios da muralha.
21
Arq. JLV, CoR, 1209/7732.
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Fig.s 20, 21 e 22: Frag. de “Terra Sigillata”. Colecção do Museu da Sociedade Martins Sarmento. Foto Casa de Sarmento – Centro de Estudos do Património.
2.1.6. – Monte da Sr.ª da Castelo Monte da Sr.ª do Castelo, Mangualde. Na Sr.ª do Castelo encontrei o caminho pré-histórico, o que levaria à Citânia do alto do monte, cujas ruínas a codificação no principio do século da ermida desapareceram. Algures atrás da ermida, pregado ao muro do adro, observei há dias, no Natal, ruínas do que o povo chama o castelo. Tinham-me passado despercebidas, ouvi falar nelas, mas não as notara. São em rectângulo, pedras alinhadas e esquadradas formando ainda um metro de altura, e em cada pedra um entalhe figurativo qualquer. Há estes desenhos 22
[...] e estes [...] que lembram uma forquilha.
Fig. 23: Desenhos encontrados por Alberto Osório de Castro no Monte da Sr.ª do Castelo.23
Fizemos escavações por trás da capela da Senhora do Castelo, num resto de castelo que lá está ainda. N’uma carta falei a V. Ex.ª nas pedras molduradas desse resto de fortificação, talvez romana. Dizia eu que uma tinha insculpido um gadanho. Afinal, o Dr. Leite de Vasconcellos, tanto rapou o musgo que em vez do gadanho saiu um phallus! No entulho do Castelo apareceu alguma loiça grosseira, como a do Castro da Senhora do Bom Sucesso, naturalmente para ali removida quando foi a terraplanagem do adro, oriunda 24
das habitações do castro da Senhora do Castelo.
Estas mesmas informações foram publicadas por Osório de Castro, num artigo de 01-10-1890, onde refere a existência de lajes com fossetes de vários tamanhos e que ainda há poucos anos os pastores e
22 23 24
Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, de 01 de Fevereiro de 1890, fs. 4 e 4v. Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, de 01 de Fevereiro de 1890, fs. 4 . Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, 12 de 27 de Setembro de 1892, fs. 4 e 4v.
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
lavradores de pedreiras mostravam um grande granito onde se via profundamente gravada uma forquilha de três dentes. O mesmo autor refere, num artigo de 08-10-1890, que existiram até ao fim do primeiro quartel do século ruínas de grandes fortificações, e escombros de moradas, que foram destruídas com a construção da ermida e com o nivelamento da esplanada. Neste artigo, refere também da última capela à casa do ermitão (...) uma calçada de pedra rolada, e a nascente da esplanada (...) uma saliência rectangular de fortificação exterior com pedras almofadadas. Leite de Vasconcellos, num artigo de 11-08-1892 publicado n’A Reacção, diz que a cerâmica encontrada é análoga à do Bom Sucesso. A calçada referida por Osório de Castro, foi por nós identificada, juntamente com o Eng. Lúcio Balula e o Dr. António Marques Marcelino, membros da direcção da ACAB-Associação Cultural Azurara da Beira, em Setembro de 2003, depois de o Monte da Senhora do Castelo ter sido devastado por um incêndio.
Fig. 24: Calçada de acesso ao Monte da Sr.ª do Castelo identificada depois de um incêndio no Verão de 2003.
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
Fig. 25: Raspador. Colecção do Museu da Sociedade Martins Sarmento. Foto Casa de Sarmento – Centro de Estudos do Património.
Fig. 26: Punção. Colecção do Museu da Sociedade Martins Sarmento. Foto Casa de Sarmento – Centro de Estudos do Património.
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
Fig.s 27 e 28: Pendente e escória. Colecção do Museu da Sociedade Martins Sarmento. Foto Casa de Sarmento – Centro de Estudos do Património.
2.1.7. – Rechã Rechã, Contenças de Baixo, Santiago de Caçurrães Veio-me um homenzinho dar parte que em propriedades das Contenças de Baixo muitas telhas e ruínas aparecem
25
comunica Osório de Castro a Martins Sarmento.
No Novo Tempo de 27-10-1889 Osório de Castro refere ter recebido uma carta de Henrique Gomes, das Contenças de Baixo, onde este referia que no termo das Contenças, no sítio da Rechã, em propriedades suas e vizinhas, se encontram também muitos vestígios de uma antiga povoação, a telha de rebordo, grandes muros de habitações, etc. Num outro artigo de 15-10-1890, Osório de Castro refere, com certeza por lapso, este sítio como sendo na Cunha Alta.
2.1.8. – Mangualde Mangualde, Mangualde. Encontrei em Mangualde uma autentica arma de sílex, lascada, duma forma amigloide. Exactamente como a representada na Prehistória de Mortillet como tipo Cheleano, ou de Saint Acheul.
26
Martins Sarmento numa sua carta refere que este objecto é obra da natureza.
25 26
Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, Carta de 23 de Outubro de 1890, f.4. Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, Carta de 07 de Novembro de 1890, fs. 2v e 3.
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2.1.9. – Casa da Orca da Cunha Baixa Casa da Orca, Cunha Baixa. Osório de Castro descreve nos seguintes termos a visita que fez ao Dólmen da Cunha Baixa: Nos últimos dias de férias grandes fui visitar um dólmen na Cunha Baixa, lugarejo ao Sul de Mangualde, distante meia légua. Nunca tinha visto nenhuma. Está conservadíssimo. Apenas uma pedra lateral tombada, ou duas. E o mais curioso é que para o Sul, em direcção perpendicular a um ribeiro, tem um corredor de pequenos dolmens, intacto, suponho, porque estão cheio de pedra miúda, como nos fieis de Deus o que não tenho encontrado são as tais mamoas, apesar de V. Ex.ª dizer no Panorama Contemporanea, que junto das 27
citânias se encontram a rodo. Será porque nunca vi nenhuma, nem ao menos desenhada.
No Novo Tempo de 19-12-1889 é publicada uma carta de Bernardo Rodrigues do Amaral, de Outeiro de Espinho, onde se referem vários sítios, entre eles a Casa da Orca, um dólmen muito bem conservado, junto do rio. Leite de Vasconcellos, no seu artigo publicado em 18-09-1892 n’A Reacção, diz: Das diversas antas ou casas d’Orca que vi no concelho explorei duas: uma nos Padrões, outra ao pé da Cunha Baixa; na exploração de ambas me acompanhou o sr. Amaral, do Outeiro, (...). As escavações que fizemos nas antas deram o seguinte: machadas polidas, facas de sílex e ainda outro objecto, de que depois falarei mais circunstanciadamente, pois agora quero limitar-me, como disse, a uma ligeira indicação. Devo dizer que a exploração destas antas foi feita a expensas minhas, pois eu não vim ganhar nada, como muitas pessoas pensaram. A anta da Cunha Baixa, pertence ao sr. dr. J. Paes da Cunha, que da melhor vontade deixou proceder a todos os estudos. Da ilustração de s. ex.ª pode esperar-se toda a protecção para esse admirável monumento dos nossos maiores de há muitos milhares de anos. Algum do material exumado por Leite de Vasconcellos, encontra-se no Museu Nacional de Arqueologia, mas parte do material que lá foi depositado encontra-se em parte incerta. O outro objecto de que Leite de Vasconcellos promete falar mais em pormenor depois, é a pedra com sulcos referida por 28 Alberto Osório de Castro , e da qual Valentim da Silva publicou uma fotografia na sua monografia (Silva,
1945, p.19).
27 28
Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, Carta de 07 de Novembro de 1890, fs. 3 e 3v. Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, Carta de 27 de Setembro de 1892.
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
Fig. 29: Planta e a “pedra” com 15 sulcos que foi depositado no actual Museu Nacional de Arqueologia (Vasconcellos, 1904, p. 305)
Fig. 30: Geométricos que foram depositados no actual Museu Nacional de Arqueologia (Vasconcellos, 1904, p. 307)
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
Fig. 31: Instrumentos de pedra polida e uma lâmina que foram depositados no actual Museu Nacional de Arqueologia (Vasconcellos, 1904, p. 306)
2.1.10. – Orca dos Padrões Padrões, Cunha Baixa. Leite de Vasconcellos, no seu artigo publicado em 18-09-1892 n’A Reacção, diz: Das diversas antas ou casas d’Orca que vi no concelho explorei duas: uma nos Padrões, outra ao pé da Cunha Baixa; na exploração de ambas me acompanhou o sr. Amaral, do Outeiro, à exploração da última assistiram mais os seguintes cavalheiros da vila: os exm.
os
srs. Dr. Alberto Osório, José Cabral, Emílio Coelho, Lino Ferreira e
Armando Sacadura. As escavações que fizemos nas antas deram o seguinte: machadas polidas, facas de sílex e ainda outro objecto, de que depois falarei mais circunstanciadamente, pois agora quero limitar-me, como disse, a uma ligeira indicação. Algum do material exumado por Leite de Vasconcellos, encontra-se no Museu Nacional de Arqueologia, mas parte do material que lá foi depositado encontrava-se em Maio de 2003 em parte incerta.
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Fig. 32: Planta do monumento e frag. cerâmico que foi depositado no actual Museu Nacional de Arqueologia. (Vasconcellos, 1905, p. 29)
Fig. 33: Lâmina e Instrumentos de pedra polida que foram depositados no actual Museu Nacional de Arqueologia. (Vasconcellos, 1905, p. 30)
2.1.11. – Lajinha Lajinha, Vila Nova de Espinho, Espinho. _____________________________________________________________________________________________________________________________________
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
Viu também muitas sepulturas na pedra, numa de dois metros a mais, ao pé de uma anta, e ... [?] terreno cheio de telha de rebordo, à flor deu logo um peso romano. E pedregulhos com entalhes entrecruzados, e outros cheios de fossetes, orientados [?], etc, etc, etc.
29
Leite de Vasconcellos, no seu artigo de 18-09-1892 publicado n’A Reacção, refere que nos dias 13 e 14 percorri todo o território que vai de Outeiro até o Castelo de Senhorim, já no concelho de Nelas. É ocasião de agradecer ao Exm.º Sr. Bernardo Rodrigues do Amaral, morgado do Outeiro, as inteligentes indicações que me deu e a companhia que me fez. Aí vi um penedo cheio de covinhas, e que é de certo um dos mais notáveis monumentos do nosso país neste género; vi numerosas sepulturas abertas na rocha, e junto delas muitas telhas de rebordo, um peso romano, e numerosas cavidades em rochedos, feitas intencionalmente, mas diversas das covinhas; vi algumas antas, chamadas orcas aqui na localidade (...). Trata-se do sítio da Lajinha a que Leite de Vasconcellos se voltou a referir
n’O Archeologo
Portugues (1917, pp. 113-114).
Fig. 34: Peso de barro e desenhos dos sulcos e covinhas. (Vasconcellos, 1917, pp. 113-4)
2.1.12 – Santiago de Cassurrães Santiago de Cassurrães.
Com uma carta de 20 de Junho de 1897
30
António Nunes de Almeida envia a Leite de
Vasconcellos o desenho de uma peça encontrada em Santiago de Cassurrães, trata-se de um machado de pedra polida.
29 30
Arq. SMS, Cartas de Alberto Osório de Castro, de 27 de Setembro de 1892, f. 4. Arq. JLV, CoR, 62/345.
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2.1.13. – Quintela de Azurara Quintela de Azurara. 31 Segundo uma carta, datada de 31 de Março de 1898 , Augusto Queiróz, familiar de Leite de
Vasconcellos e residente em Fornos do Dão, diz a este que seu primo Francisco Tavares, de Quintela de Azurara, guardava “uns pesos de barro, não sei que mais”. 32
Na carta seguinte , de 7 de Maio do mesmo ano, Augusto Queirós esclarece que os materiais encontrados em Quintela de Azurara são “pesos de barro, uma mó, em muito bom estado e uma pedras ou hedras, com umas cavidades”. Estes pesos de barro encontram-se hoje no Museu Nacional de Arqueologia (Vasconcellos, 1910, pp. 325-6) o restante material desconhecemos o seu paradeiro.
Fig. 35: Peso de barro grafitado de Quintela de Azurara. (Vaz, 1997)
31 32
Arq. JLV, CoR, 2192/19340. Arq. JLV, CoR, 2192/19341.
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2.1.14. – Laja da Víbora Gandufe, Espinho. 33 É referida a existência de uma anta neste local de Gandufe por Bernardo Rodrigues do Amaral .
Será a Orca que Leite de Vasconcellos (1913, pp. 80-81) diz ter explorado em 1912 no local da Laje da Ribeira?
2.1.15. – Moirelas Gandufe, Espinho. 34 Bernardo Rodrigues do Amaral na mesma carta refere ter “uma mó vai vem (...) semelhante à fig.
149 do Archeologo Portugues de Outubro a Dezembro.”
2.1.16. –Qt.ª da Ponte/Torre de Gandufe/Ponte do Tinto35 Abadia de Espinho, Espinho.
Não sabemos como Leite de Vasconcellos teve conhecimento deste marco, apenas temos registo da insistente tentativa de obtenção deste marco miliário para o seu museu através de Bernardo Rodrigues 36
do Amaral, de Outeiro de Espinho.
Segundo este amigo de Leite de Vasconcellos “O local onde existe é uma casa que serve de palheira denominada das talhas junto à igreja de Espinho. – Esta casa segundo eu penso foi construída com pedra do Castelo de Gandufe, mas há séculos o seu senhor foi o Gandufão, o marco também dali saiu 37
na mesma ocasião.”
José Coelho inclui este marco na via romana de Viseu - Seia, a qual seguia de Alcafache ao Pêso, de Casal Mendo, dalí à ponte do Cavagaio, e desta a Senhorim, transpondo o Mondego junto à Ponte do Carvalhal. Sendo as milhas desta via contadas a partir de Viseu e com tal o marco estava deslocado do local original. (Coelho, 1945, pp. 256-7) Mário Saa, por sua vez, coloca-o na via de Viseu a Manteigas passando o percurso dentro da Civitas por Ranhados, Coimbrões, Banho de Alcafache, Lobelhe, Moimenta de Maceira-dão, Gandufe, Espinho, Porto de Senhorim (Mondego) (Saa, 1957, p. 320). Aceitando a proposta de Jorge de Alarcão (1989, p. 305), da contagem da milhas a partir do extremo da civitas, João Luís da Inês Vaz propõe a contagem a partir da Caldas da Felgueira, sendo a diferença mínima entre as sete milhas do marco e os 11,5 km entre Caldas da Felgueira e Abadia de Espinho.
33
Arq. JLV, CoR, 103/587. Arq. JLV, CoR, 103/587. O texto referente a este sítio foi extraído na íntegra do texto que apresentamos para publicação nas actas do IV Congresso de Arqueologia Peninsular (Nóbrega, no prelo a). 36 Arq. JLV, CoR, 103/599, 600, 602, 603, 604, 605, 605A, 606, 607, 608, 609, 610, 613 37 Arq. JLV, CoR, 103/613 34 35
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Mas com esta nova hipótese do marco ter estado em Gandufe esta diferença não ocorre. Se medirmos a distância das Caldas da Felgueira até Gandufe temos exactamente 10,5 km, passando a via por Folhadal, Póvoa da Roçada, Senhorim, Ponte “romana” do Tinto, Gandufe. Outro dado de que dispomos e que nunca foi tido em conta em anteriores estudos é a possível existência de uma ponte de fundação romana sobre o rio Tinto, entre Gandufe e Senhorim. Ao contrário do que já afirmámos (Nóbrega, no prelo a), com base em informações de populares, esta ponte não foi destruída encontrando-se apenas colada a uma recente.
Fig. 36: Marco Miliário da Quinta da Ponte (Vaz, 1997)
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Fig. 37: Possível ponte romana sobre o Rio Tinto, Gandufe. Foto: Pedro Pina Nóbrega, 16-06-2005.
Fig. 38: Possível ponte romana sobre o Rio Tinto, Gandufe. Foto: Pedro Pina Nóbrega, 16-06-2005.
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2.1.17. – Orcas do Braçais Outeiro de Espinho, Espinho.
Numa carta de 28 de Fevereiro de 1918 Bernardo Rodrigues do Amaral refere a existência de vestígios de outra orca no Outeiro, junto aos Braçais, onde Maximiliano Apolinário já tinha feito explorações e recolhido material que se encontra hoje depositado no Museu Nacional de Arqueologia (Vasconcellos, 1895, p. 326). Segundo Maximiliano Apolinário, a anta que explorou “estava em parte destruída e que apenas deu um fragmento de cerâmica ornamentada internamente. – fiz desenhos da planta e perspectiva, 38
este bastante infeliz, atenta a falta de recursos artísticos.”
No entanto no bilhete postal de 10 de Setembro
de 1893 refere que explorou um anta nos Braçais no dia 9 e que “deu apenas uns cacos”.
39
Tratar-se-á da
mesma anta ou da outra anta dos Braçais que Bernardo Rodrigues do Amaral referiu na sua carta.
2.1.18. – Outeiro de Espinho Gandufe, Espinho. 40
Bernardo Rodrigues do Amaral refere na sua carta de 18 de Abril de 1925
que apareceu “na
surriba de uma plantação de videiras os alicerces de uma habitação romana onde se encontra tégula, pedaços de telha, a base de duas pilastras (uma escodada) mais um peso de tear de pedra. Próximo deste sítio noutro tempo encontrei uma francela e outras pedras polidas que desconheci e que desapareceram. (...) noutra parte existem dois abrigos naturais”.
2.2.19. – S. Cosmado. S. Cosmado, Mangualde.
Nada de novo encontramos sobre esta epígrafe, apenas ficámos a saber que em 1931 Leite de Vasconcellos tentou obtê-la através de José Cabral mas sem sucesso, pois encontra-se actualmente na Assembleia Distrital de Viseu aguardando a sua transferência para a Biblioteca Municipal Dr. Alexandre Alves, em Mangualde. Na altura encontrava-se efectivamente em S. Cosmado a servir de suporte à 41
cumieira do telhado de uma palheira.
2.2.20. –Valongo Valongo, Espinho. Maximiliano Apolinário refere apenas ter visto sepulturas nesta localidade sem precisar a sua 42
localização ou número.
Numa carta posterior refere que aqui também apareceram restos de cerâmica
romana e um penedo com covinhas.
43
38
Arq. JLV, CoR, 157/15885. Arq. JLV, CoR, 157/15890. Arq. JLV, CoR, 103/611. 41 Arq. JLV, COR 810. 42 Arq. JLV, CoR, 157/15885. 43 Arq. JLV, CoR, 157/15890. 39 40
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
2.2.21. – St.º André St.º André, Mangualde
Maximiliano Apolinário refere apenas ter visto sepulturas nesta localidade sem precisar a sua 44
localização ou número.
2.2.22. – Cumieira Água Levada, Espinho. 45
Maximiliano Apolinário refere ter visto três sepulturas neste local.
Leite de Vasconcellos publica
esta informação no “Archeologo Português” (Vasconcellos, 1917, p. 136).
2.2.23. – Lameiro dos Chões Valongo, Espinho (?)
Maximiliano Apolinário refere apenas ter visto sepulturas neste local que ficava próximo das sepulturas de Valongo.
46
2.2.24. –Moiteira ou Campas Moiteira ou Campas, Moimenta de Maceira Dão. Maximiliano Apolinário refere que “no sitio da Moiteira, junto à Ribeira de Moimenta vi outra sepultura dum tipo que não conhecia o que difere de todas as outras e cujo contorno indico. A linha a b está orientada no sentido E. W., estando o estremo a, o de menor abertura ou vão, 47
voltado p.ª o nascente, correspondendo aos pés das do tipo antecedente.
Pela descrição deve tratar-se da sepultura publicada por Luís Filipe Gomes e Pedro Sobral Carvalho (Gomes, Carvalho, 1992, p.110) de forma rectangular com demarcação dos ombros e pés.
2.2.25. – A Cerca de Água Levada48 Água Levada, Espinho.
Em Setembro de 1893 este sítio foi explorado por Maximiliano Apolinário, ao tempo funcionário do Museu Etnológico. Num bilhete postal enviado a Leite de Vasconcellos, infelizmente sem data, dizia fui hoje atacar a Cêrca de Água Levada – abriram-se duas sanjas que apenas manifestaram a presença de telhas de rebordo e fragmentos de cerâmica um tanto grosseira. – chamou-me a atenção uma extensa facha de 44
Arq. JLV, CoR, 157/15885. Arq. JLV, CoR, 157/15885. Arq. JLV, CoR, 157/15885. 47 Arq. JLV, CoR, 157/15885. 48 O texto referente a este sítio foi extraído na íntegra do texto que apresentamos para publicação nas actas do IV Congresso de Arqueologia Peninsular (Nóbrega, no prelo a). 45 46
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2. – Os Sítios
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
pedra, seguindo uma linha irregular ao longo do terreno, a qual se afigurava ter sido uma parede agora destruída. – Fez-se uma pesquisa e encontrou-se a pedra amontoada em desordem de mistura com os fragmentos de cerâmica. É pois posterior à existência ali de habitações romanas revelada pela presença das telhas de rebordo. – Pela pobreza da colheita foi considerada desprezível esta estação, e por isso desprezada.
49
Fig. 39: Desenho da Cerca publicado por J. L. de Vasconcellos (1917)
Pelo relato de Maximiliano Apolinário parece estarmos perante um sitio que foi ocupado em época romana e que posteriormente já em época medieval viu implantado uma estrutura defensiva. Que função terá tido esta estrutura defensiva? Pelo pouco destaque que tem a paisagem, pela sua configuração e pelo parco espólio podemos estar perante ao que Carlos Ferreira de Almeida (1978) denominou recinto de guardar gado na época medieval. Ficando assim em dúvida a hipótese colocada anteriormente por nós próprios (Nóbrega, 2003, p. 25) e por outros autores (Vasconcellos, 1917, p. 135-6; Gomes e Carvalho, 1992, p. 61; Vaz, 1997, p. 40-41) de se tratar de um castro romanizado.
Fig. 40: Aspecto actual de A Cerca, Água Levada, vendo-se a plataforma onde se implantaria o sitio arqueológico. 49
Arq. JLV, CoR, 157/15885.
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
2.1.26. – Chão do Concelho Chão do Concelho, Mangualde.
Maximiliano Apolinário refere que neste sitio, cuja localização exacta não refere, existe um penedo com covinhas sem qualquer outra indicação.
2.1.27. – Castro de Fornos do Dão Castro, Fornos do Dão, Fornos de Maceira Dão.
Nos Apontamentos de Leite de Vasconcellos encontramos a seguinte nota, que infelizmente não conseguimos transcrever na totalidade: “Fui lá a 9.IX.1892, não achei vestígios de construção (casa), apenas na base, as [...] a N.E-SO, vi uma muralha de pedra irregular. O Crasto é um outeiro alto, de um [...], 50
talvez, [...] na base. ”
2.1.28. –Outeiro de Fornos do Dão Outeiro de Fornos do Dão, Fornos de Maceira Dão. No apontamentos referidos Leite de Vasconcellos refere que: “No sítio do Outeiro, f. de Fornos do Dão e limite apareceu muito frag. de tijolo grosseiro, que me dizem ser tégulas, mosinha de pedra, e os 2 pesos de pedra, que levo (análogos aos pondus de barro), há um 6 ou mais anos. [...] 22.11.903.”
2.1.29. – Cunha Baixa e arredores Cunha Baixa. Nos mesmos apontamentos referidos no ponto anterior José Leite de Vasconcellos refere a existência de muitas sepulturas escavadas na rocha na Mata da Moita, de uma no sítio do Pedrão, outras juntamente com lagares no sítio da cunha Baixa e o aparecimento de telha e muito tijolo no sítio do Pessegueiro.
51
2.2. – Concelho de Penalva do Castelo 2.2.1. – Antas Antas. 52
A 9 de Junho de 1903 Diogo Augusto de Lemos escrevia a José Leite de Vasconcellos
dando
conta da existência de uma pedra com letras que tinha sido encontrada “Numa capela desmoronada e já antiga” e pedindo-lhe explicação para as letras encontradas nessa pedra. 50 51 52
Arq. JLV, Apontamentos, documento avulso. Encontra-se transcrito no apêndice documental. Arq. JLV, Apontamentos, documento avulso. Encontra-se transcrito no apêndice documental. Arq. JLV, CoR, 1765/11386.
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
Esta pedra com letras trata-se, como já referimos anteriormente (Nóbrega, no prelo a), da ara dedicada a Júpiter Óptimo Máximo por “Procilia”, depositada no Museu Nacional de Arqueologia sob o n.º E6160, e publicada pelo fundador deste Museu como “tendo sido encontrada numa capela de Fornos de Algodres (Vasconcellos, 1913, p. 225, nota e p. 231, fig. 102), e a partir daí sempre foi dada por outros autores como tendo esta proveniência. Na verdade como já referimos ela foi encontrada em Antas, concelho de Penalva do Castelo, e a par de outra ara recentemente dada a conhecer (Nóbrega, no prelo), constituem os únicos vestígios do período romano desta freguesia.” Esta confusão de Leite de Vasconcellos relativamente ao local deveu-se ao facto de na altura o correio para as Antas ir de Fornos de Algodres e o remetente ter carimbado a sua carta com o seu nome e o local de “Fornos de Algodres”, apesar de ter 53 esclarecido na terceira carta que Antas pertencia ao concelho de Penalva do Castelo.
Fig. 41: Ara das Antas. Foto de In www.matriz.ipmuseus.pt Na Carta de 17 de Junho do mesmo ano refere ter achado dois machados de pedra polida na plantação de uma vinha.
2.2.2. – Pedra Vigia Antas. Na Carta de 27 de Julho de 1903
54
Diogo Augusto de Lemos comunica que “há aqui no cimo de
uma serra de penedos um mais alto, que chama o povo Pedra Vigia, junto a esta pedra há vestígios de ali em tempos remotos terem feito um muro largo, espécie de castelo, e há rapazes, que têm entrado debaixo da tal pedra (donde se Vêem 7 vilas acasteladas) que há lá (diz o povo) manjedoiras dos cavalos, e não sei que mais uma pedra, que anda em volta, tudo isto afirmo, o que sei é q/ em tempo de pilhagem dos recrutas iam refugiar-se p/ lá.” Na bibliografia não encontramos referência a nenhum sítio arqueológico nesta zona com estas características. 53 54
Arq. JLV, CoR, 1765/11388. Arq. JLV, CoR, 1765/11389.
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2.2.3. – S. Martinho55 S. Martinho, Esmolfe.
João Patrício de Albuquerque e Castro, de Esmolfe, publica em 1991 um noticia no jornal “O 56
Século” onde refere que “Junto à povoação de Esmolfe existe um sítio denominado S. Martinho e contíguo a este existe outro a que chamam a Capela. Quer n’um quer n’outro, encontram-se muitas sepulturas antigas, abertas em rocha, não se sabendo a data a que pertencem, supondo-se que sejam prehistoricas, assim como fragmentos de telha curva e de rebordo, telha romana ou tegulas, o que tudo indica que, em épocas remotas, houve ali edificações. Agora, andando no mesmo sítio, João Ferreira Antunes com trabalhadores a plantar vinha, descobriu a pouca profundidade do solo, umas pedras escudadas com diferentes lavoures, que indicam a existência de uma igreja ou capela, por quanto as pedras apareceram muito perto do local da Capela, o que justifica denominação.” Leite de Vasconcellos ao ler a noticia, que no final recomendava a este arqueólogo aquelas antiguidades, escreve ao seu autor pedindo mais esclarecimentos, ao que João Patrício respondeu dizendo que “(...)apareceu aqui um empregado do Museu Antropológico de Coimbra, chamado José António Domingos dos Santos, acompanhado do administrador, deste concelho, para quem trouxe um oficio do Governador Civil, de Coimbra, pedindo-lhe o auxilio dele e para vir falar comigo a fim de também auxiliar a exploração dumas campas, duma orca (dólmen) e dum castro, cuja notícia tinha visto n’”O Século”. As sepulturas eram de dois tipos umas tinham ombros e outras não. Umas abertas em granito e 57
outras em xisto. De cada tipo foi cortada uma a pico (...).
Na Base de Dados Endovélico do Instituto Português de Arqueologia consta a referência a duas lagaretas de grandes dimensões (314x30/60 e 225x45). Nas recentes intervenções levadas a cabo pela “Arqueohoje” foi adiantada a possibilidade de estas lagaretas estarem relacionadas com a produção do vinho ou rituais funerários (Monteiro, 2000, p. 31-32). Não serão estas lagaretas o resultado da extracção das duas sepulturas?
55
Os três últimos parágrafos do texto referente a este sítio correspondem a parte do texto que apresentamos para publicação nas actas do IV Congresso de Arqueologia Peninsular (Nóbrega, no prelo a). 56 Arq. JLV, CoR 664/4335A 57 Arq. JLV, CoR 664/4335 _____________________________________________________________________________________________________________________________________
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
Fig. 42: Possível lugar de onde foi extraída uma sepultura em S. Martinho, Esmolfe.
Fig. 43: Sepulturas escavadas na rocha de S. Martinho, Esmolfe.
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
2.2.4. – Orca do Penedo do Com Penedo do Com, Esmolfe.
Na mesma carta referida no ponto anterior, João Patrício, e pelas mesmas razões, dá conta que com o mesmo empregado do Museu Antropológico de Coimbra explorou esta anta tendo encontrado “14 to
to
pontas de seta, sendo duas de cristal, todas m. lindas = 1 machado de pedra polida, também m. lindo = alguns ossos, fragmentos de vasos de barro, sendo alguns lavrados, e bastante carvão.
2.2.5. – Castro da Paramuna Paramuna, Esmolfe. Ainda na mesma carta João Patrício dá conta de um terceiro sitio referido na citada noticia d”O Século” dizendo que “apareceram [nas explorações do tal empregado do Museu Antropológico de Coimbra] fragmentos de vasos de barro, e foi admirado o bonito sitio e as muralhas em ruínas.”
Fig. 44: Castro da Paramuna vendo-se parte de um pano de muralha.
2.2.6. – Quinta da Villa dos Albuquerques Esmolfe. Na noticia referida nos pontos anteriores o autor refere existirem na sua quinta “Vestígios bem claros da dominação romana, taes como fragmentos, em abundância, de tegulas, mós pequenas e sepulturas em rocha, etc.” _____________________________________________________________________________________________________________________________________
2. – Os Sítios
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
Conclusão Deste trabalho apenas queremos uma conclusão: A necessidade de se estudar os espólios documentais de investigadores já falecidos. Cada vez mais estes espólios são estudados, no entanto existe ainda um caminho longo a percorrer no estudo deste material. Nas faculdades não se cria o gosto por “escavar papeis”, apenas por “escavar terra” e estudar peças. Cada vez mais há necessidade de se fazer cripto-arqueologia. Por um lado é premente validar muitos dos dados que investigadores nos foram deixando e por outro cada vez mais as verbas de financiamento de projectos que impliquem intervenções arqueológicas ou estudo de materiais é menor. Como exemplo deixamos o quadro dos sítios por nós referenciados nesta documentação e para os quais obtivemos dados inéditos.
Sítio, Localidade 01
Raposeira, Mangualde
02
Serra de Torre de Tavares
Descrição
Id.
Villa Romana com Termas
Int.
Esp.
3
3
Loc. Reloc.
3 3
Gravuras rupestres Sepulturas escavadas
03
S. Martinho/Capela, Esmolfe
na rocha;
3
Achados isolados
3
romanos e medievais; Estruturas medievais.
03
Campas
04
Medorno, Mangualde
05
06
07
09 10
Castro do Bom Sucesso, Chãs de Tavares Monte de N.ª Sr.ª do Castelo, Mangualde Rechã Casa da Orca da Cunha Baixa Orca dos Padrões
Sepulturas escavadas
3
na rocha
3
Xorcas de Ouro Castro romanizado
3
3
Castro romanizado
3
3
Castro (?), Habitat
3
3
romano Monumento megalítico
3
3
Monumento megalítico
3
3
Lagareta; 11
Lajinha
Achados dispersos
3
3
romanos e medievais _____________________________________________________________________________________________________________________________________
Conclusão
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Achado isolado 12
Santiago de Cassurrães
(machado de pedra
3
3
polida) 13
Quintela de Azurara
14
Laja da Víbora, Gandufe
15
Moirelas
16
Quinta da Ponte
16
Torre de Gandufe
17
17
Orca 2 dos Braçais, Outeiro de Espinho Orca 1 dos Braçais, Outeiro de Espinho
Achados dispersos
Monumento Megalítico Achados dispersos romanos
Torre senhorial medieval Monumento Megalítico
Alicerces romanos
19
S. Cosmado, Mangualde
Placa Honorífica
20
Valongo
21
Santo André
22
Cumieira, Água Levada
23
Lameiro dos Chões
24
Moiteira
25
Cerca de Água Levada
Mangualde
3
Sepulturas escavadas na rocha Sepulturas escavadas na rocha Sepulturas escavadas na rocha Sepulturas escavadas na rocha Sepulturas escavadas na rocha
3 3
3
3
3
3
3 3
Monumento Megalítico
Outeiro de Espinho
Chão do Concelho,
3
Miliário
18
26
3
romanos e medievais
3
3
3 3
3 3
3 3
3 3 3 3 3
Recinto fortificado Arte rupestre
3
3
27
Castro de Fornos do Dão
Estruturas
3
28
Outeiro de Fornos do Dão
Vestígios diversos
3
3
29
Cunha Baixa
Vestígios diversos
3
3
31
Antas
Vestígios diversos
3
3
3
_____________________________________________________________________________________________________________________________________
Conclusão
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
34
35
36
Orca do Penedo do Com, Esmolfe
Monumento Megalítico
Castro da Paramuna,
Castro da Idade do
Esmolfe
Ferro
Quinta da Villa dos Albuquerques, Esmolfe
Vestígios diversos
3
3
3
3
3 3
3
Quadro 1: Sítios referidos na documentação e respectivo tipo de informação obtida (Id.: Identificação, Int.: Intervenção, Esp.: Espólio recolhido, Loc.: Localização precisa, Reloc.: Relocalização)
_____________________________________________________________________________________________________________________________________
Conclusão
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
Bibliografia ALARCÃO, J. de (1989) – Geografia política e religiosa da civitas de Viseu. Actas do I Colóquio Arqueológico de Viseu. Viseu: Governo Civil de Viseu (Ser e Estar-2), p. 305-314. ALMEIDA, C. A. F. de (1978) – Castelologia Medieval entre Douro e Minho. Desde as origens a 1220. [s.l.:s.n.]. [Dissertação complementar de Doutoramento apresentada à Universidade de Lisboa]. BERNARDO, M. C. da S. (1971a) – Alberto Osório de Castro: O Homem, o Escritor, a Obra. [s.l.: s.n.]. [Dissertação de Licenciatura em Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa]. BERNARDO, M. C. da S. (1971b) – Alberto Osório de Castro: Dois inéditos. [s.l.: s.n.]. [Aditamento ao trabalho Alberto Osório de Castro: O Homem, O Escritor, a Obra, Dissertação de Licenciatura em Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa]. CARDOZO, M. (1950) – Os monumentos arqueológicos da Sociedade Martins Sarmento. Revista de Guimarães. Guimarães. 60 (3-4), p. 411; CASTRO, A. O. de (1889a) – Archeologia beirã: Mangualde – A Citânia Martins Sarmento. O Novo Tempo. Mangualde. 1 (10 de Outubro de 1889), pp. 3-4; CASTRO, A. O. de (1889b) – Novas ruínas romanas. O Novo Tempo. Mangualde. 2 (27 de Outubro de 1889), p.3; CASTRO, A. O. de (1889c) – Archeologia beirã. O Novo Tempo. Mangualde. 7 (30 de Outubro de 1889), p.3; CASTRO, A. O. de (1889d) – Pré-história Beirã. O Novo Tempo. Mangualde. 10 (19 de Dezembro de 1889), p. 3; CASTRO, A. O. de (1890a) – Citânia Martins Sarmento. O Novo Tempo. Mangualde. 40 (07 de Agosto de 1890), p. 2; CASTRO, A. O. de (1890b) – Citânia Martins Sarmento. Noticia. O Novo Tempo. Mangualde. 46 (01 de Outubro de 1890), pp. 2-3; CASTRO, A. O. de (1890c) – Citânia Martins Sarmento. Noticia. O Novo Tempo. Mangualde. 47 (08 de Outubro de 1890), p. 4; CASTRO, A. O. de (1890d) – Citânia Martins Sarmento. Noticia. O Novo Tempo. Mangualde. 48 (15 de Outubro de 1890), pp. 2-3; CASTRO, A. O. de (1890e) – Citânia Martins Sarmento. Noticia. O Novo Tempo. Mangualde. 51 (15 de Novembro de 1890), pp. 2-3; COELHO, J. (1945) – Notas Arqueológicas, 4ª série, II – Nótulas epigráficas. Beira Alta. Viseu. 4(4). MONTEIRO, P. C. F. (2000) – Recuperação e reabilitação das sepulturas antropomórficas de Esmolfe. Penalva Hoje. Penalva do Castelo. 3 NÓBREGA, P. P. (2003) – O Povoamento romano dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo. [s.l.:s.n.] (Trabalho apresentado à disciplina Arqueologia do Mundo Provincial Romano da Licenciatura em Arqueologia e História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa). NÓBREGA, P. P. (no prelo) – “Árula Votiva de Antas, Penalva do Castelo”. Ficheiro Epigráfico. Coimbra. Apud Nóbrega, no prelo a. NÓBREGA, P. P. (no prelo a) – “Novas achegas de velhos tempos para a arqueologia dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo (Viseu-Portugal). Actas do IV Congresso de Arqueologia Peninsular. _____________________________________________________________________________________________________________________________________
Referências Bibliográficas
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
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Referências Bibliográficas
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
Apêndice Documental Museu Nacional de Arqueologia, Arquivo de José Leite de Vasconcellos, Apontamentos, documento não catalogado.
[Caderno de campo] Outeiro do Crasto Fornos do Dão (Mangualde) Fui lá a 9.IX.1892, não achei vestígios de construção (casa), apenas na base, as [...] a N.E-SO, vi uma muralha de pedra irregular. O Crasto é um outeiro alto, de um [...], talvez, [...] na base. Castelo de N.ª Sr.ª do Bom Sucesso (Mangualde) É um outeiro, em cujas faldas a S.O. fica as Chãs de Tavares, e ao N. fica uma ribeira e Vila Seca. Na direcção de S., O. E N. pelo menos, vêem-se duas ordens de muralhas (e talvez haja mais). Mas as casas que vi ficam só a cima da última ordem, isto é, do meio do outeiro para cima. As casas são quadrangulares e pequenas. As paredes são constituídas por pedras assentes [...] umas sobre as outras. As pedras estão desbastadas, mais ou menos lisas em todo o caso bárbaras. Algumas das pedras são mesmo volumosas (todas elas irregulares) = eis as dimensões de uma: m Comp. __________ 1 ,06 m Larg. ___________ 0 ,44 do meio dela m Alt. ____________ 0 ,39 a cima o chão
Doutra m Alt. Total ______ 1 , 17 m Parte que estava enterrada: 0 , 39 m Espessos ______ 0 , 50 m Compr. ________ 1 , 07
Esta pedra constitui um [...] alicerce O n.º das casas não se pode dizer. Os trabalhadores calcularam em cem ou mais. As pedras foram ficadas, só desbastado.
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Apêndice Documental
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
Dia 10-IX-92 (cont.) Castelo de N.ª Sr.ª do Bom Sucesso [Chãs de Tavares] (Continuação) Algumas das pedras porém estão lisas. Eis as dimensões de uma casa rectangular: m
Comprido ---------- 15 , 5 por fora m
Largua ________ 10
Dimensão aproximada, mais decim., menos decim. m Largura do penedo ------------ 0 , 61
É claro que das casas só restam alicerces, ou qdº mt o principio de base do penedo. Muitas vezes os cunhais das casas são grandes pedras e mesmo lages, lisas em algumas faces e brutas noutras. O outeiro não é muito alto. Dele desfruta-se um [...] horizonte, fechado ao S. pela Serra da Estrela, ao O.N.O. pelo Caramulo, no N. pela Serra de Aguiar da Beira, ao E. pela Serra do Pisco. Na encosta, S.E. do monte está a ermida da S.ª, [...] mais abaixo, na mesma encosta está a fonte cuja água, bebida, é milagrosa nas doenças. A fonte é um poço, tendo frontal em arco [...] Aqui e além pelo monte destaca-se, sobretudo pelo N-NO, N-E, pedras a prumo como marcas. São as cunhas das casas, e pedra das paredes. Aparece escumalha fora das muralhas. Não achei telha de rebordo, nem moedas, nem mós. Só loiça lisa e ornada, telhas curvas. Na parede aparece cavidades, uma curva, e uma quadrada. Num penedo há uma covinha pequena como as do Minho. Voltando-se eu para S.E., encontro-as assim dispostas: [desenho] m m m Dimensões de uma = diâmetro na abertura 0 ,07; da outra 0 ,5. Altura = uns 2 cent. Distância: 1-2=0 ,04; m m m m m 2-3=0 ,11; 3-4=0 ,10; 4-5=0 ,06; 5-6=0 ,025; 5-7=0 ,24.
Todas as pedras são granito. Uma das pedras destacadas do solo da parede tem esta forma: a
b
c m
ab = 0 , 71 m bc = 0 ,81
Na direcção de N e E há, na coroa do monte um lanço de muralhas d’estes largura mede 1,92 tomei em vários [...]. A pedra assenta horizontalmente. _____________________________________________________________________________________________________________________________________
Apêndice Documental
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
Na direcção S. e NE há muitas rochas naturais = pr aqui a muralha [...] roqueira, ao que parece. Havia casas pegadas, de paredes meias. Distinguem-se ruas entre as casas. Há muitas pedras assim
Dimensões da casa escavada m
Grande parede: 0 ,67 m Largura interna: 3 ,52 m Comprimento interno: 8 ,50 m O rectângulo não é rigoroso, o lado do N tem uma leve curvatura interna. Altura 0 ,53 achou-se funda.
A NO há umas rochas dispostas de modo que podia representar a entrada do castro. Sobranceiras à capela. [desenho] há umas casas em pouco menos que a explorada constituída por penedos informes. Altura de uma delas: m m 0 ,99; largura 0 ,91.
Os fragmentos de carvão, poucos, apareceram no canto esquerdo, a S e no lado de O. No rumo S.
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O. há uma muralha de pedras grandes, tendo uma porta a O. formada por pedra igualmente
m grande. É a 1ª ordem, contada de cima. Largura da parte 1 ,53.
Depois da 1ª ordem de muralha, para o Sul, aparece mais casas, uma laje 3 covinhas como as de cima. Noutra laje ao pé: SO
NO
É esta lage nas outras pegada, o que tudo constitui as varandas da Inacinha; a pouca distância há uma cova, chamada a Casa da Inacinha. Aqui há 2 minas, uma de alcatrão, outra de ouro. Quem achar a de alcatrão, arde, e incendeia-a tudo. Campa na rocha ao pé da Sr.ª do Castelo [desenho] No c. de Mangualde há muitas: - Mata da Moita, ao pé da Cunha Baixa. Muitas - Sítio do Pedrão, ao pé do mesmo povo, há uma. - No sítio da Raposeira, ao pé do = lugar, há uma. - No lugar da Cunha Baixa há lá campas e lagares. - No sítio do Pessegueiro, ao pé da Cunha Baixa, aparecem telha e muito tijolo.
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Apêndice Documental
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Património arqueológico dos concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo: “Novas achegas” de velhos tempos Pedro Pina Nóbrega
No sítio do Outeiro, f. de Fornos do Dão e limite apareceu muito frag. de tijolo grosseiro, que me dizem ser tégulas, mosinha de pedra, e os 2 pesos de pedra, que levo (análogos aos pondus de barro), há um 6 ou mais anos. [...] 22.11.903 [desenho do peso] Na Senhora do Castelo apareceram 2 moedas romanas imperiais de cobre, em 1829 e 1837.
Foto 1 e 2: Estruturas pétreas referidas nos apontamentos de José Leite de Vasconcellos, colocadas a descoberto depois de um recente incêndio. Foto: Pedro Pina Nóbrega, 11-06-2005.
Foto 3 e 4: Estruturas pétreas referidas nos apontamentos de José Leite de Vasconcellos, colocadas a descoberto depois de um recente incêndio. Foto: Pedro Pina Nóbrega, 11-06-2005.
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