Sepultura Medieval do Alto da Quintinha guardava ossos com mil anos

Page 1

Escritos: Colaboração na imprensa local

Sepultura medieval do Alto da Quintinha

Notícias da Beira, Mangualde, n.º 2450, de 20-05-2009, p. 11 Arqueologia * História Local * Património Cultural * Genealogia

Pedro Pina Nóbrega

guardava ossos com mil anos

Deve citar-se: NÓBREGA, Pedro Pina; NETO, Filipa; TENTE, Catarina (2009) – Sepultura medieval do Alto da Quintinha guardava ossos com mil anos. Notícias da Beira. [em linha] Mangualde. 2450, de 20-05-2009, [consultado em ??-??-????] p. 11. Disponível em www.pedropinanobrega.net


Sepultura medieval do Alto da Quintinha guardava ossos com mil anos

Sepultura medieval do Alto da Quintinha: guardava ossos com mil anos

Pedro Pina Nóbrega Filipa Neto Catarina Tente

Em Julho de 2005 durante os trabalhos de construção da linha de electricidade de ligação à Sub-estação de Mangualde, foi descoberta a sepultura medieval do Alto da Quintinha. A mesma foi identificada pelos trabalhadores que aí procediam à escavação de uma vala para implantação de um dos apoios desta infra-estrutra. A sepultura, que se localiza na periferia da actual cidade de Mangualde, junto ao cruzamento da Estrada Nacional 16 com a Estrada Nacional 234 (freguesia e concelho de Mangualde), foi parcialmente destruída pela maquinaria que laborava então, facto que motivou uma intervenção arqueológica de emergência levada a cabo pelo signatário. A sepultura foi escavada no granito deteriorado que constitui a rocha de base, tendo os seus construtores destacado a área da

cabeça,

definindo

antropomorfismo

na

claramente

arquitectura

o

deste

sepulcro. A cobertura dos defuntos aí inumados era feita com lajes de granito e os espaços entre estas lajes e entre estas e a sepultura foram preenchidos por terra, telha grosseira e calços de granito. Na zona da cabeceira, a uma cota superior à das lajes de cobertura, foram identificadas outras lajes que, cremos, poderão corresponder a uma cobertura anterior. A sepultura tinha ossos humanos conservados, contudo, encontravam-se em fraco estado de preservação, em particular as extremidades e esqueleto axial, muito provavelmente devido à acidez característica dos solos graníticos. Não obstante o estado de conservação dos ossos, foi possível identificar dois indivíduos adultos do sexo masculino. A estatura que foi possível de calcular a partir da análise desses ossos aponta para que um dos inumados tivesse 170 cm de altura, valor comum entre

1

www.pedropinanobrega.net


Sepultura medieval do Alto da Quintinha guardava ossos com mil anos

as populações de características latinas. O estudo dos ossos permitiu ainda reconhecer que os indivíduos inumados nesta sepultura padrões tinham actividades físicas de reduzido esforço, coerentes com sociedades de características sedentárias. A análise de paleopatologias ou lesões degenerativas nos esqueletos, apenas determinou evidências que indicam o contacto de um dos indivíduos com um foco de infecção a determinada altura da sua vida, porém, não foi possível identificar a bactéria específica por essa infecção. Dado a raridade do achado e a escassez de dados cronológicos precisos para o mundo funerário rupestre realizou-se uma datação de radiocarbono por método convencional. A calibração do resultado obtido forneceu um intervalo de tempo entre 890-1020, isto é o enterramento de um dos indivíduo aí identificados ocorreu num momento entre estas duas datas, sendo probabilisticamente mais provável que esse acontecimento se tenha dado durante o século X. Todavia esta datação apenas data o evento da morte deste defunto, sendo a sepultura certamente mais antiga, já que, tal como hoje, as sepulturas eram sistematicamente reutilizadas. A identificação de dois indivíduos não significa, aliás, que estes tivessem sido os únicos a ser aí inumados, uma vez que a deficiente

conservação do

material

ósseo poderá

ter

determinado a decomposição total de restos osteológicos de outras eventuais inumações. A singularidade da sepultura do Alto da Quintinha deve-se ao facto de nela se terem conservado restos ósseos. A conservação de ossos em terrenos graníticos é rara e ocorre normalmente em cemitérios com longa e continuada utilização. Pode ser essa a situação já que há referências orais sobre o aparecimento de mais ossadas nas imediações, o que sugere estarmos perante uma necrópole cuja dimensão é, por agora, impossível de determinar. O estudo da sepultura e a datação de um dos enterramentos nela efectuados constitui, actualmente, o elemento cronológico absoluto mais antigo para a construção de sepulturas escavadas na rocha antropomórficas na área das Beiras, tendo este tipo de sepulcros perdurado pelo menos até ao século XV.

2

www.pedropinanobrega.net


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.