Do caos ao pedal ed 19 maio 2014

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CIDADE

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Do caos ao Pedal Pedro Wolff

Brasília mal completou 54 anos (super jovem) e já carrega um sentimento saudosista: como era gostoso seu trânsito. Quando o criador desenhou seus traços modernos não imaginou previsões catastróficas para o tráfego da cidade em tão curto tempo. Sem saída, uma parcela dos brasilienses contorna os problemas de mobilidade com muita saúde e disposição.

A partir desse pontapé inicial, Phillip conta que começou a comprar bagageiros e demais equipamentos pela internet e foi se envolvendo com grupos e se engajando em discussões para implantação de sistemas cicloviários em diversas administrações regionais do DF. Arquivo pessoal Phillip Fiuza

Com o tempo, a necessidade foi aumentando e Phillip Fiuza, diante da dificuldade de carregar coisas maiores, comprou uma carreta onde ele consegue levar até outras cinco bicicletas, um isopor grande “ou até uma máquina de lavar roupas”, garante.

Na evolução natural da coisa, hoje o ciclista filma todo o seu trajeto após viver constrangimento com motoristas agressivos no trânsito. “Na primeira vez não tinha provas, mas já flagrei três infrações graves no trânsito contra a minha pessoa e levei o caso à delegacia”, diz. Entusiasta da ideia, ele conta que adversidades como essas, ou mais brandas, como a falta de locais seguros para deixar sua magrela e a incapacidade de levá-la dentro de um ônibus, não o impedem de ir e vir utilizando suas pernas como tração. Diante deste cenário, ele dá a sua dica: “Comece a andar de bike que você vai ver que sua vida será menos corrida. Ela te ajuda a gerenciar o seu tempo porque todo mundo acredita que indo de carro vai chegar rapidinho nos destinos”, diz.

Quem, onde e os porquês

A

Capital da Esperança hoje possui um carro

Diante de índices tão pessimistas, uma boa opção

para cada dois habitantes e, segundo um

é seguir aquela dica: vá de bike. O DF conta hoje com

levantamento feito pela própria Secretaria de

pessoas que seguem esse caminho, seja de maneira

Transportes, se nada for feito para melhorar o caos no

organizada ou não. Cidadãos como Phillip Fiuza, 36 anos,

trânsito, em 2020 as principais avenidas da cidade que

mesmo tendo condições de ter um veículo, abrem mão

desembocam no centro de Brasília estarão saturadas.

desse luxo. Sua forte relação com a magrela começou

Para agravar a situação, o direito constitucional de ir e vir

em 2011, “pois na partilha do divórcio a esposa ficou

é constantemente abalado por protestos por melhorias

com o carro”. Ele ainda tentou em vão utilizar o sistema

no transporte público. Hoje no DF, de Ferrari ou de Fusca,

de transporte público da cidade, até que, sobre rodas,

a velocidade média dentro do Plano Piloto é de 40

começou a utilizar a integração do Metrô de Samambaia,

Km/h. Reforçam esse número os dados do Instituto de

onde morava, até seu trabalho no Sudoeste. “Depois, já

Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA): entre 2009 e 2011,

morando no Sudoeste, comecei a levar meu filho para a

os moradores do DF gastaram em média 34,3 minutos

escola na bicicleta”, conta.

para ir ao trabalho. 6

Na visão do doutor em políticas de transporte da UnB, Joaquim Aragão, os problemas de Brasília são fruto do relaxamento, ao longo de sua história, da política de mobilidade e do próprio planejamento urbano. Ele diz que as políticas de transporte coletivo ficaram fora da pauta governamental por várias décadas. “Os governantes foram construindo rodovias cheias de erros técnicos, como, por exemplo, os afunilamentos nos finais da vias, que geram engarrafamentos, e os corredores de ônibus onde os passageiros deveriam descer de um lado onde inexistem portas”. Fora isso, o docente prossegue afirmando que, de forma geral, os governantes priorizaram apenas shows de apresentação de grandes obras. 7


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Professor Joaquim Aragão - Foto Roberto Fleury

Arquivo pessoal Phillip Fiuza

Sobre os ônibus, Joaquim Aragão diz que vivemos um cenário onde o sistema ficou concentrado na mão de poucos empresários. “Tudo sem fiscalização e em um regime de ilegalidade”, dispara o professor universitário. Diante desse panorama, este presente governo fez mudanças que permitem melhorias, como a licitações de novos ônibus, “que podem trazer a esperança de uma lenta organização”.

Bilhete único Joaquim Aragão citou empreendimentos oportunistas “como o projeto catastrófico do Metrô, cuja obra atravessou décadas e hoje o cidadão passa por várias estações inacabadas na Asa Sul”. Ele acrescenta que essa obra simplesmente não contemplou o lado norte do DF e agora a iniciativa dos Veículos Leve sobre Trilhos e Pneus (VLT e VLP) são obras imediatistas diante da situação caótica. “Irão trazer um alívio, mas tem menos capacidade que o Metrô e devem ser substituídos no futuro por um projeto de mais abrangente”.

Ainda sobre o transporte coletivo, Aragão diz que o bilhete único é uma tendência nacional ausente em Brasília. “Mas

um

projeto

destes

precisa

de

adaptações e de uma análise e gestão

Administrativas do Distrito Federal, acrescido de um

Piloto”. Outra solução, mais simples, seria flexibilizar as

complexa e conflituosa, principalmente na

plano diretor para os estacionamentos.

tarifas nos horários entre picos. “Como em Londres, onde,

distribuição da receita total dividida em várias linhas e empresas”, diz.

a partir das 9h, o preço das passagens fica mais barato Concluindo, o doutor em políticas de transporte acentua que o grande problema da mobilidade depende

Diante das perspectivas na cidade,

das cidades satélites: “elas precisam de vida própria para

Joaquim Aragão diz que em curto prazo o

reverter o fluxo de muita gente indo trabalhar no Plano

com objetivo de não sobrecarregar o trânsito em um único momento”, encerra.

que deve ser feito é melhorar os serviços, fazer adequações nas vias, ciclovias e nas calçadas principalmente das Regiões Arquivo pessoal Phillip Fiuza

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