ATUALIDADE
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Poema Cru na Sua Pele Nua
Literato dos novos tempos Por Pedro Wolff Fotos: Arquivo Pessoal
Engajado, Fábio Chap vive em um coletivo onde propõe a concepção de novos aplicativos e se sustenta como escritor, nas páginas da internet ou em tatuagens no corpo das apreciadoras do seu trabalho
O
paulistano de 27 anos abre sua entrevista falando que as pessoas têm medo de serem chamadas de escritores, inclusive ele próprio tinha. Atuando em diversas plataformas do ciberespaço desde os 15 anos, ele diz que ter escolhido o curso de Comunicação Mercadológica, apesar de sua verdadeira vocação ser a arte, o ajudou a desenvolver meios para sobreviver produzindo literatura na internet. Fabio Chap cita que o próprio Monteiro Lobato teve que se virar na sua época criando pontos de distribuição de livros em açougues. “Esse tipo de coisa que nós fazemos hoje em dia na rede”, explica. Sua primeira recomendação para quem quer ingressar nesse meio é ter a postura de sempre trocar ideias com quem está lendo seu trabalho. “Sempre ia jogando palavras nos posts e questionando e respondendo tudo, das mensagens públicas às fechadas”. Isto é, em suas palavras, para humanizar pelo fato de que, por mais que a internet aproxime as pessoas, ela as mantém distantes.
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A segunda dica do interneteiro é ser natural naquilo que está escrevendo, seja política, amor ou até mesmo uma putaria visceral. Outra coisa é a autogestão do seu tempo. Por mais paradoxal que possa parecer, Fábio Chap não tem nem carrega no bolso nenhum smartphone e garante que nunca terá um Instagram ou WhatApp. A explicação é que precisa reservar seus horários para não atropelar o processo de criação. “Longe do computador estou no meu processo mais criativo”, define. Dessa premissa de autogestão, suas prioridades são criar uma filha de três anos, trabalhar no “Coletivo Aquário”, onde mora com sete pessoas, e redigir. O trabalho que desenvolve nesse grupo é “mais que uma escrita poética”. “Quero conceber aplicativos para gerar facilidades no mundo, como por exemplo, saber onde tem um posto de saúde mais próximo ou onde você pode matricular seu filho”, diz. A missão do coletivo é mais longa. Entre os projetos, Fabio diz pensar em conjunto qual seria a evolução do e-book, pois considera o mesmo uma mera transferência de caracteres do papel para o meio digital.
Homem das letras, uma de suas fontes de renda é o projeto que desenvolveu, com suas leitoras, de vender poesias personalizadas. Entre essas e outras, ele se define como um escritor de intensidades. Seu livro Tive um sonho pornô (2013) teve uma tiragem de mil exemplares, esgotados em menos de um ano. De contos eróticos, Fabio diz que nessa obra elevou para 1.500 os 50 tons de cinza. Esse livro não se encerra por aí. É um projeto que já tem seu primeiro canal no Youtube e está sendo preparado e com muita coisa por vir. Chap atribui o sucesso na sua carreira à intensidade com que pega na veia amor. “Quero que as pessoas chorem, sintam saudades, inclusive no erótico. Falo de putaria de maneiras que as mulheres consigam enxergam o sentimento por trás dos contos, mas de maneira brutal, e trabalhar esse jogo de dominação e submissão. E por meio da escrita sempre deixar as
pessoas com uma pulga atrás da orelha, seja em um conto erótico ou mesmo em uma crônica de amor”. Seus temas seguem ainda com sentimentos não correspondidos, saudade, dor coletiva e agonia. “Eu vejo muita arte nessas questões. Descobri que escrevendo sobre a dor eu consigo externar, fazer as pessoas pensarem sobre a dor e a saudade. Essa coisa da dor é bela”, filosofou. E acrescentou que o principal ponto da sua escrita é tocar as pessoas e começar a mudar o comportamento e o pensamento delas. Cita a reverberação do seu trabalho na poesia erótica: por meio de um grupo na internet, uma mulher disse que mudou o casamento com esse tipo de sexualidade aberta. “O casal começou a dialogar sobre as fantasias”, explica. Outro exemplo foi o de uma menina que acabara de assumir a homoafetividade com seus pais e que sempre gostou de sexo pesado e, graças à escrita de Fabio, se sentiu à vontade para falar palavras pesadas a sua parceira, a bater nela e fazer esse jogo de dominação e submissão. F i c o u curioso? A propaganda é que, se você entrar em contato, ele vai te responder. Basta buscar por seu nome na internet.
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