COMPORTAMENTO
Sou mulher, e o feminismo não me representa
A importância histórica é inegável, mas ainda se fazem necessários avanços em áreas sensíveis à condição das mulheres. Os meios utilizados e a ideologia pregada pelo feminismo não estão de acordo com todas as mulheres
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ma das mulheres que argumentam que as coisas não são bem assim como pregam as feministas é a comunicóloga K. M, 32 anos. Para esta brasiliense, a ideologia do feminismo vem ao encontro de uma tendência observada na década de 1960, quando a mulher realmente era oprimida. “Naquela época, o movimento fazia algum sentido e conquistou seus direitos. Então temos que separar o movimento que faz sentindo do radicalismo observado hoje em dia”. K. diz que hoje as mulheres trabalham, são independentes e têm seus ganhos, mas reconhece os frutos daquela geração, pois ela, na condição de mãe solteira, seria mal vista e teria inúmeras dificuldades. “Mas, quando vira aquela coisa de oprimir os homens, fica em situação equivalente ao machismo. Daí fica naquela guerrinha boba de meninas contra meninos”, complementa. Com opinião parecida, a jornalista C.R, 27 anos, diz que a convivência que teve com essas feministas consideradas “radicais” foi invasiva e nada agradável. “Não há democracia, é somente a opinião delas e você não pode discordar”, garante. Ela diz observar que a maioria das feministas com quem teve contato em Brasília são LGBT e rola um machismo enraizado quando surge um namoro entre elas, porque acontece de uma querer controlar a outra motivada por ciúmes. Ela menciona uma discussão acompanhada no Facebook sobre o fato de um garçom ter socado uma garota após a mesma jogar cerveja nele. “Elas acreditam cegamente em machismo, eu creio que foi mais uma reação, não podem ser confundidas as coisas”.
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A jornalista diz que o grupo fica muito no blá-blá-blá e pouca mão na massa. “Por exemplo, vamos focar na Lei Maria da Penha, que é uma lei maravilhosa, porque ficar mostrando perereca na rua não está funcionando”, disparou. Ela entende que o propósito da marcha é legal, mas ofender a religião dos outros “com imagens deploráveis de símbolos religiosos introduzidos na vagina [sic]” não faz sentido. E quer que esses movimentos procurem representação política, porque não adianta se filiar a partido pequeno sem chances de subir.
Contraponto... Para a professora universitária de História e feminista Tania Navarro Swain, uma das razões para que o feminismo não conquiste mais ganhos são mulheres que dizem não à ideologia. Para ela, as mesmas podem estar “assujeitadas ou dominadas”. Tania defende que o radicalismo é absolutamente necessário para que as situações vividas anteriormente não voltem. Ela avisa: “nós feministas vamos continuar nessa batalha de longa duração porque a resistência dos homens é imensa”. “Estas senhoras que não estão de acordo não sabem que graças ao movimento elas têm o direito de viajar sem a permissão do marido ou de poder votar”, disse. Sobre as críticas de atentado ao pudor, Tania Navarro concorda que até pode haver excessos da categoria, mas contra-argumenta que homens podem mostrar os mamilos e as mulheres não. E diz que a Marcha das Vadias é uma forma de protesto dessa necessidade de cobrir o corpo, porque ele é tratado como posse do homem.
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Ela acrescenta que foi o próprio machismo que criou essa visão pejorativa do feminismo, pois ele institui mitos como “então você é feminista, então não gosta de homem”. E diz que a maioria das feministas é casada e heterossexual. “Elas apenas têm o direito de não serem estupradas e surradas dentro ou fora do lar”. E avança dizendo que, “quando uma mulher tem razão, ou seja, quando não é esperado o conceito da mulher domesticada, ela é taxada de histérica ou feminista radical. Porque, quando as mulheres reagem, os homens ficam petrificados”. Em relação à questão polêmica defendida pelas feministas, a professora universitária diz que o aborto não pode ser criminalizado. Há dois tipos: o resultante de um estupro em casa ou na rua ou quando a mãe não tem condições psicológicas ou materiais para criar uma criança. “Porque nenhuma mulher vai querer abortar sem motivo”. E argumenta que “enquanto é feto não existe, o que existe é a mãe e ela é mais importante que o feto e ela não pode ser tratada como criminosa”. Quanto à crítica de C.R. sobre mais efetivação nas políticas públicas, Tania diz que a categoria tem seus avanços e que coisas como as Casas Abrigos são paliativos, porque o que deveria ser feito era o homem sair de casa. Mas a luta continua para que tenham salários iguais e representações partidárias. “Aquela lei eleitoral de gênero que dá 30% das vagas na candidatura política não elege mais representantes femininas, não funciona porque as mulheres que sobem em palanques não têm educação política; é uma tristeza porque só sabem falar ‘sou mulher, sou mãe’”.
O messias do antifeminismo Em uma ponta extrema da discussão está o funcionário público de Anastácio (MS), Christoffer Yuri Barbosa Greffe Rodrigues, 33 anos. Ele é responsável por manter quatro sites “dedicados a serem a antítese que visa destruir o feminismo”. O primeiro foi o antifeminismo.com.br, mas as feministas fizeram denúncias em massa e conseguiram tirá-lo do ar por 20 dias. Por essa razão, criou outros três para que, em caso de um cair, os outros permaneçam on-line. São eles feminismodiabolico com os respectivos domínios .org, .com e .com.br.
Seu ponto de vista é de que o principal problema do feminismo é que ele manipula as emoções dos homens e das mulheres. “Elas querem fazer as mulheres odiarem os homens ou então sentirem medo dos homens, porque o ódio e o medo afastam e repelem [sic]”. Ele garante que não existe a cultura do estupro e que o mesmo é um crime abominável que merece punição exemplar.
Histórico Seu “calvário” começou quando entrou em um curso de Especialização em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça sem saber que a professora e a turma eram feministas. “E no fórum que teve sobre a Marcha das Vadias, eu argumentei que lá é desrespeitada a lei do atentado ao pudor com objetivo de violar outra lei, a que proíbe o aborto”. Nesse momento, diz, toda a turma sem exceção se voltou contra ele, chegando a ameaçar denunciá-lo na polícia até com acusações absurdas de racismo. Sem saída, teve de abandonar o curso e começou sua pregação na internet. “Foi aí que eu percebi o quão maligno é o feminismo e a urgência em detê-lo”, disse. Quando questionado sobre o fato de um homem falando sobre antifeminismo poderia enfraquecer sua argumentação, o ativista virtual disse que o comando e a liderança do antifeminismo devem estar nas mãos de homens. “Elas argumentam de uma forma muito fraca. Eu já discuti e argumentei com centenas de mulheres desde o ano passado, tanto feministas, como antifeministas e todas elas, sem exceção, sempre tentavam me provar que eu como pessoa não prestava, que eu era uma pessoa ignorante, má e preconceituosa e, por ter todos esses defeitos, qualquer opinião minha sobre o feminismo não valeria nada. Eu sempre tentava trazer as mulheres de volta à discussão respondendo que não era eu que estava sendo objeto de discussão, mas sim o feminismo, e quando eu tentava trazêlas de volta ao assunto, todas elas ficavam bravas, me xingavam e me agrediam. Já os homens, até os feministas, argumentam de forma muito melhor, superior e educada do que as mulheres”, finalizou.
Ele, que recebeu o apelido de Mascus Chris, referente a masculinista, diz que as argumentações que ouve das feministas são como “tantas mulheres morrem em abortos clandestinos todos os anos, você não sente dó dessas mulheres?” e garante que chegou a receber ameaças de morte.
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