Terça-feira, 2 de novembro de 2010
Jornal de Brasília
SEGURANÇA
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ASA NORTE
Um corpo no corredor MINERVINO JUNIOR
l Mulher morre em prédio da 314 Norte e polícia suspeita de overdose G Pedro Wolff pedro.wolff@jornaldebrasilia.com.br
ma mulher foi encontrada morta na manhã de ontem na Asa Norte vítima possivelmente, segundo a polícia, de overdose de cocaína. O corpo da corretora de imóveis Caroline Guimarães de Azevedo, 32 anos, foi encontrado, às 10h30, de ontem no corredor interno do primeiro andar do bloco A da residencial da 314 Norte. Ela estava na casa de seu amigo, o professor de História licenciado Virgílio de Menezes Neto, 46 anos. O Corpo de Bombeiros foi ao local e atestou a morte. No início, levantou-se a hipótese de homicídio e o professor chegou a receber voz de prisão, pois a versão que apresentou para a morte foi confusa. Na delegacia, ele admitiu uma possível overdose, suspeita que bate com o laudo preliminar da perícia. A delegada Mônica Chimilievisk, da Asa Norte, disse que inicialmente trabalha-se com a possibilidade de overdose, mas se o laudo do Instituto Médico-Legal (IML) afirmar que houve agressão à vítima, Virgílio pode ser preso por homicídio. Em depoimento à polícia, Virgílio informou que Caroline tele-
U
fonou, às 23h do sábado, avisando que iria a uma festa e, depois, pretendia ir para sua casa para consumir a cocaína que havia comprado. Caroline apareceu em seu apartamento às 2h de domingo, quando teriam começado a fazer uso da droga. Por volta de 11h, ambos saíram para votar. Ela teria desistido para poder continuar fazendo uso do tóxico. SUSTO Por volta de 22h, Virgílio a teria deixado dormindo de bruços no sofá e também foi dormir. Às 6h, ele acordou e viu a amiga na mesma posição. "Ele viu o sangue saindo de suas narinas e tirou sua blusa para tentar reanimá-la", disse a delegada. Segundo a delegada, chegou-se a suspeitar de homicídio, mas depois verificou-se que a vítima estava com características de overdose, como travamento facial e sinais de taquicardia no peito, além do sangue expelido pelo nariz. Na versão de Virgílio, com medo de ser preso por consumir cocaína, ele arrastou o corpo da amiga para o corredor do prédio e disse ao vizinho que ela havia sofrido uma queda, quando ele saiu para comprar cerveja. De acordo com Mônica Chimilievisk, a vítima não apresenta marcas de violência e as possíveis lesões existentes podem ter outras motivações. A delegada conta que Virgílio e Caroline se conheceram em uma clínica, onde faziam tratamento psiquiátrico há cerca de cinco anos. Segundo ela, os dois são bipolares e frequentaram clínicas de desintoxicação. Eles chegaram a namorar seis meses, mas agora mantinham apenas a amizade.
O corpo será analisado para ser definida a real causa da morte. A vítima era corretora de imóveis
+ A cocaína aumenta a
SAIBA
frequência cardíaca e respiratória porque altera a produção de um neurotransmissor chamado noradrenalina. Esse neurotransmissor é acelerado e é liberado mais rapidamente em situações de estresse. Ela dilata os brônquios, a pupila e aumenta a
pressão sanguínea. O cérebro pode ser agredido pelo uso contínuo dessa droga. Seu uso pode provocar um AVC devido ao aumento da pressão arterial. Segundo especialistas, uma pessoa pode sofrer um infarto ou AVC sem necessariamente sofrer uma overdose.
Vizinhos irritados Os vizinhos de Virgílio de Menezes no prédio onde mora têm vários relatos de problemas. "Eu estava em casa e ele bate na porta com o corpo de uma mulher. O fato de ele arrastar a vítima morta não é atitude de uma pessoa direita", reclamou o aposentado Manoel Nunes de Souza. Seu filho, o motorista de caminhão Marcelo Nunes estava revoltado. Ele conta que passa muito tempo fora, mas no pouco tempo em que fica em casa já teria visto o professor gritando e xingando gratuitamente pelo menos umas quatro vezes. O policial militar que atendeu a ocorrência, o cabo Dalmar Metzner, por sua vez, não está certo da versão de overdose. Ele chegou a dar voz de prisão a Virgílio e acredita que a história tem muitos elementos estranhos. "Primeiro, ele me disse que foi comprar cerveja, só que não havia nenhuma", relata. O policial recolheu um lençol e um travesseiro sujos de sangue da lixeira comum do bloco, material que já foi encaminhado à perícia. "A vítima apresentava várias lesões pelo corpo, e sua traqueia estava deslocada, como se tivesse sido enforcada", relata o cabo. O policial militar destaca que a vítima estava seminua no corredor do prédio e não entende porque o corpo foi arrastado para lá. O corpo foi retirado pelo rabecão e lavado para análise no IML, que deverá apontar a causa da morte.