Sequestro relampago

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14l Domingo, 10 de outubro de 2010 l Jornal de Brasília

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SEQUESTRO RELÂMPAGO

Quando o crime fica normal l Pelo menos uma ocorrência é registrada por dia no Plano e em Taguatinga G Pedro Wolff pedro.wolff@jornaldebrasilia.com.br

odos os dias, o DF se torna cenário, pelo menos uma vez, de uma triste realidade. Isso porque, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública, foram registradas 261 ocorrências de sequestro relâmpago no primeiro semestre deste ano. E os principais pontos de atuação dos bandidos que cometem esse tipo de crime são o Plano Piloto e Taguatinga. Mesmo diante de alertas das autoridades competentes e campanhas chamando a atenção para o risco, ainda é possível ver cidadãos desatentos ao perigo. A reportagem do Jornal de Brasília percorreu anteontem os estacionamentos de faculdades dessas duas cidades e viu estudantes estudando ou dormindo dentro de seus carros, expostos para uma eventual situação de risco. Além da perda de dinheiro ou do carro, um dos traumas sofridos pelas vítimas é na própria saúde e convívio social. Como é o caso da empresária Cândida, que na época em que passou pelo martírio tinha 58 anos. Ela por pouco não perdeu o marido vítima de esfaqueamento e diz que até hoje, passado um ano, tem medo de ficar sozinha e andar pela cidade. E reconhece que ainda precisa de tratamento psicológico. Ela conta que, em janeiro do ano passado, seu marido estacionou o carro na residencial da 108 Norte para entregar um envelope ao porteiro. Eram por volta de 18h30, quan-

T

do seu marido ia retornar ao carro, foi abordado por dois bandidos, um com uma faca e outro com um revólver. "Eles entraram no banco de trás e ficaram me golpeando com força com a lâmina da faca que estava protegida por uma bainha", lembra. Cândida disse que seu marido ainda tentou oferecer o carro para eles lhes deixarem em paz, pedido que foi negado. "Em determinado momento, passou um idoso do lado do carro, que provavelmente não percebeu o assalto em andamento. A passagem do idoso assustou os assaltantes, que resolveram fugir", conta o homem. "Então eles gritaram ’vamos correr, dá uma furada nesse velho’", recorda. Cândida diz que a faca atravessou seu paletó, mas escorregou no cinto, que por sorte fez com que o corte sofrido no abdome, de baixo para cima, fosse superficial. Depois do ferimento à faca, seu marido caiu desfalecido. "Nessa hora, eu me desesperei", diz a mulher. Porém, ficou aliviada quando o marido se levantou e disse que fez aquilo para enganar os bandidos, que levaram sua bolsa com seu dinheiro e vale-transporte de seus empregados. DESCASO Mas o pior para Cândida foi o que ela considerou de descaso na delegacia. "Fui lá registrar ocorrência e eles disseram que não iriam fazer nada. Só se alguém tivesse morrido, me tratando mal, lamenta-se". Ela diz que se sentiu desprotegida. Agora, ela conta que tem medo até de ficar sozinha no seu escritório, e é capaz de perder um cliente, mas não abre a porta quando está sozinha. Ela relata que o seu medo hoje é tão grande que uma vez estava andando sozinha na rua e veio um homem em sua direção, que foi o bastante para ela entrar em ataque histérico.

Diretor-adjunto da Polícia Civil, Adval de Mattos: o melhor é se prevenir e seguir as dicas de segurança

CUIDE-SE Evite atrair a atenção usando joias, cartões de crédito, talões de cheques, relógios, etc.

do veículo fique vulnerável a abordagens;

Utilize somente locais de estacionamento permitido e de grande movimento de pessoas, variando dia a dia o local;

Na falta de passageiro, a porta do lado direito e traseiras (quando existirem) devem permanecer trancadas e com os vidros fechados.

Nos semáforos, reforce sua atenção, observando o movimento nas proximidades, através dos espelhos retrovisores;

Ao chegar em casa (a pé ou motorizado) observe a presença de suspeitos . Se eles existirem, procure um telefone e acione a polícia;

Evite encostar no carro da frente, quando parado em semáforos. Procure não permitir que o lado esquerdo

Evite andar por ruas ou praças mal iluminadas; Procure estar sempre

acompanhado; Fique atento a tudo que acontece ao seu redor; Quando sair do banco ou do caixa eletrônico, verifique se você não está sendo seguido; Não exponha grande quantidade de dinheiro. Ao sair de casa, prepare o dinheiro para pequenas despesas; Procure utilizar caixas eletrônicos em locais movimentados, tais como: postos de gasolina, shopping, farmácias e supermercados. FONTE: DISQUE DENÚNCIA

Medo maior que a razão O professor de Psiquiatria da UnB Raphael Boechat diz que esse quadro de Cândida, que chegou ao ponto de gritar à aproximação de um estranho, tem o termo técnico na psiquiatria de evitações – quando a vítima evita situações que ela associa ao trauma vivido. Boechat diz que esse é um dos sintomas do transtorno de estresse pós-traumático, que é o quadro que fica para quem sofreu uma violência urbana como Cândida. Ele diz que esse estudo se desenvolveu com soldados estadunidenses que voltaram da guerra do Vietnã e continuaram revivendo os traumas intensamente, o que pode evoluir para quadros depressivos, isolamento, crises de choro e tristeza.

’As vítimas têm que fazer tratamentos psiquiátrico ou psicológico de longo prazo", diz o psiquiatra. DICAS Para o diretor-adjunto da Polícia Civil, Adval de Mattos, a melhor coisa que a população tem a fazer é se prevenir e seguir as dicas de segurança. "É melhor levar uma pequena quantidade de dinheiro do que o cartão de crédito. Essa atitude pode salvar uma vida", recomenda. Ele diz que a queda nos índices do sequestro relâmpago é fruto das operações da polícia de cumprimento de mandados de prisão. Ele informa que há uma divisão na Polícia Civil dedicada apenas ao combate desse crime. E que a polícia faz um

trabalho preventivo baseado nas estatísticas, onde monitora os locais mais suscetíveis. O delegado Adval diz que após sofrer o sequestro relâmpago, antes de ir à delegacia, a vítima deve ligar para o 190, mesmo de um orelhão. "O imediatismo é fundamental. Acionado o telefone, é passado um rádio para todo o sistema e todas as saídas da cidade são fechadas", garante. Em relação à reclamação de Cândida, Adval diz que os plantões são reduzidos e infelizmente não é sempre que se pode abandonar uma delegacia para atender uma ocorrência. "Mas é dever do agente de polícia passar um rádio na hora para as viaturas que estão na rua seguirem em busca dos suspeitos", informa.


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