Faça a sua paz interior Vista roupas confortáveis, pegue sua esteira e venha praticar yoga ao ar livre. Em Brasília, há vários grupos que se dedicam à prática milenar de forma gratuita e em conjunto
Por Pedro Wolff Fotos: Projeto Yoga em Brasília
A yoga urbana, ou seja, aquela praticada gratuitamente e em grupo, é uma tendência crescente em várias cidades do mundo. A yoga, uma palavra oriunda do sânscrito, traz um conceito referente às tradicionais disciplinas físicas e mentais originárias da Índia, que pode significar união em meio a um mar de definições e interpretações que vão de arte, ciência, filosofia e religião a crescimento pessoal por meio do autoconhecimento. Entre tantas definições, cada um pode incorporar a prática ao seu dia visando puramente à qualidade de vida. A cidade de Brasília, que comporta grandes áreas verdes em um elaborado paisagismo, um infinito céu azul, linhas perfeitas e seus imponentes monumentos, parece ser muito confortável para essas práticas ao ar livre, tanto que, hoje, o brasiliense consegue praticar yoga de graça com um dos vários grupos que se reúnem na cidade.
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O projeto “Yoga em Brasília” é uma dessas iniciativas dessa geração que gosta de fazer bom uso do espaço público. O projeto, que em sua primeira edição, há dois anos, contou com 11 pessoas em frente ao Palácio do Itamaraty, hoje reúne mensalmente uma média de 250 pessoas. O pensamento que rege essa iniciativa é que Brasília tem tanto espaço bonito e maravilhoso que as pessoas só passam de carro e nunca aproveitam, como a própria Esplanada dos Ministérios. O grupo também “frequenta”, entre outros lugares, a arena do Memorial dos Povos Indígenas, na área do café da Torre de TV, CCBB ou Ermida Dom Bosco. Para Andrea Hughes, idealizadora do projeto, realizar atividades nesses ambientes permite às pessoas se conectarem à beleza dos locais, ao contrário do trabalho realizado entre quatro paredes, que leva a prática a ser mais interna diante de poucos atrativos disponíveis.
Mas não basta ser um local bonito e agradável, o calor conta muito na hora de escolher o ponto do encontro seguinte. “Nunca consegui [reunir o grupo] na região da Catedral porque não tem sombra”, comenta Andrea. Ainda nessa linha de dificuldades, ela conta que já tentou sem sucesso realizar edições do projeto dentro da LBV, no SMU e no Salão Verde do Congresso. Este último local é um dos seus maiores sonhos, mas foi barrada sob o principal argumento de que “yoga é religião”. Entretanto, seu maior sonho mesmo é reunir 14 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios. Parece utopia? Não, porque uma das inspirações do projeto é que esse contingente se reúne para praticar yoga na Times Square, em Nova Iorque. “Lá eles conseguem reunir esse tanto de pessoas em um espaço menor, porque não aqui?”, questiona a professora de yoga. Reunido o público, Andrea diz que não tem fórmula pronta para conduzir cada edição do “Yoga em Brasília”. Mas diz começar geralmente com uma saudação ao sol, por ser uma maneira de aquecer o corpo, e vai aos poucos partindo para as posições de flexibilização e posturas para ao final formar um grande caracol onde as pessoas ficam conectadas. E o melhor, costuma conduzir uma média de 250 pessoas “no
gogó”. Ela comenta que o projeto ainda não tem uma estrutura necessária e que com “muito suor” conseguiu comprou um microfone que utiliza nos lugares onde dispõe de caixa de som. O trabalho realizado com a força de vontade de todos os participantes e da própria condutora de compartilhar o que mais gosta de fazer cresceu ao ponto de Andrea estar empenhada, nesse início de ano, a buscar por um patrocínio que possa arcar com uma infraestrutura mínima necessária. O que nasceu como uma prática prazerosa cada vez mais se torna trabalho, além do fato de ela viver como professora de yoga.
Oriente e ocidente Com 14 anos de estudos, Andrea Hughes tem como base de sua prática a Hatha Yoga, mas agrega estilos e conhecimentos das diversas modalidades dessa arte milenar, as quais vem pesquisando ao longo do tempo. Andrea diz que essa é uma das características da yoga praticada no ocidente, pois enquanto no oriente as práticas são mais rígidas, neste lado do mundo é bem vindo flexibilizar e agregar novos elementos.
harmonização, fortalecimento, relaxamento e conexão do corpo e da mente. Não é religião, mas pode ser utilizada dessa forma por causa de algumas modalidades existentes. “Alguns acham que é simplesmente colocar o pé atrás da cabeça ou dobrar o corpo, mas conectar mente e espírito é muito mais que isso. É ter mais consciência da respiração e do funcionamento e limites do próprio corpo”. Andrea comenta que muitos têm uma visão errônea de que o objetivo da meditação é meramente esvaziar a mente “e isso acaba se tornando um impeditivo porque muitos ficam com medo de nunca conseguir”. Ela, durante a condução do projeto, orienta que, durante a concentração, devem-se observar os pensamentos e não se apegar a eles. “Porque não se pode se deixar abalar pelo que invariavelmente vem a nossa cabeça, principalmente as coisas ruins. Ao invés de combatê-los, devemos conviver com eles sem deixar que eles nos afetem”. Ao invés disso, a professora orienta seus alunos a estarem mais “presentes a si mesmo”, Ou seja, estarem mais focados nas atividades do dia a dia, a maneira de realiza-las com mais qualidade, sem se deixar perder em pensamentos que desviem sua atenção.
Para ela, o conceito de yoga é união e trabalho do corpo e da mente. Quanto mais se pratica, melhor se sente e mais “presente se fica”. Trabalhar com flexibilidade,
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