RAUL CÓRDULA ségio milliet

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RAUL CÓRDULA GALERIA

SÉRGIO MILLIET Funarte - Instituto Nacional de Artes Plásticas 6-23 de julho de 1982


10 ANOS PROMOVENDO A CULTURA NO NORDESTE



TERRITÓRIO DA MITO-SIGNALIDADE “Não há de um lado imagens e do outro ideias, há apenas conceitos mais ou menos concretos.” Spaeir As histórias divinas foram as primeiras idéias hu­manas. Foi “dos raios de Júpiter que começou a pri­meira musa definida como “a Ciência do bem e do mal”(1), logo a primeiridade humana foi a “idade dos deuses”, ou idade do ícone, idade mental, antes da linguagem articulada. Foram as mitologias as lingua­gens das fábulas e as metáforas “fábulas minúsculas”. A primeira escritura foi ideográfica. “... Homero, em cujo tempo não se tinham inventado ainda as letras chamadas ‘vulgares’, diz que a carta de Preto a Eurias contra Belefronte foi escrita ‘por sémata’: ‘por sig­nos’. “(2) Nesta primeiridade (ideográfica) reside a face oculta da sabedoria arcana. A secundidade, a “idade dos heróis” corresponde ao universo imagéti- co/ metafórico e a terceiridade, “epistolar”, à idade do discurso. Estas três idades, observa Vico, estão sob um eterno retorno espiralado - os “ricorsi” que são o processo dialético da cultura, o eterno mergulho ad continuum no tempo e no espaço do SIGNO. A arte convive com este processo- e o artista caminha nesta perpétuo-espiral, entre o espaço hierático e o espaço do vulgus. Sem esta relação dialética a razão não pas­sará de um sonho que não consegue ultrapassar o seu interior. O território mítico, ou da MITO-SIGNALIDADE é o universo oculto da linguagem de Sumé, Júpi­ter e/ou Zeus do Território Desconhecido. DECODIFICAÇÃO CORDULIANA Alguns artistas brasileiros têm pesquisado signos geométricos e desenvolvido uma leitura criativa, mas como pesquisa semiótica pura, sem nenhuma ligação com uma história do simbolismo regional. Raul Cór- dula pesquisa no sentido do simbolismo regional, es­tando sua obra próxima das formas exercidas por Ru­bem Valentim em sua evocação da “simbologia mági­ca que se transmite com as tradições populares dos negros da Bahia.” (3) Dentro de uma infinita possibilidade de combi­ nações, Córdula chega


a resultados, onde aos planos composicionais, contornos de figuras, se associam di­ namicamente, idealizando uma revoada de pássa­ ros . É a revoada de pássaros gráficos foto-grafando a imagem da cena-memória, reconstrução do momento signico ancestral-em-hoje. O território mítico recupe­rado, refalado contemporaneamente. Os ícones/ideogramas (templo a céu aberto) da Pedra do Ingá são signos pictográficos de um momen­ to construtivo/conceitual proveniente do exercício figurativo. Este espaço imagético é invadido pelo simbólico já na obra BORBOREMA. Dos elemen­tos-signos de sua pintura, o triângulo é o índice de sua construção, as idades acham-se representadas nesse universo perceptivo/conceitual in ricorsi. O inconicamente/icônico e o simbolicamente/simbólico, a expe­riência, são norteados pelo conceito, “a Antítese é o próprio espetáculo do sentido.”(4) Esse mundo de enigmas construído no espaço de alguns anos, onde as formas contemporâneas mergu­lham nos mistérios bárbaros (e vice-versa), é a nature­za do exercício subliminar do pensar sob SIGNO & TEMPO... o raciocínio conceituai, produto de uma ordem de retornos peréeptivos que se articulam na construção da MONTAGEM. Ha que se observar seus direcionamentos for­mais. Dos esquematismos geométricos simples aos contrapontos. O círculo contido em/e contendo ou- mos signos. Relações cromáticas, vinculos palimpsés- Tcos (a arte visual entendida aqui como uma parti- cu ar forma de escrita) com a expressão idiomática, a mlação icônico-verbal em BORBOREMA. Por ve­zes. o sentido de seriação/estória quadrinizada de mo- mentos signi-ficantes. Em Raul, a estória que se conta é a da forma em sí, embora simbólica do imaginário, do sonho em determinado momento cultural da sociedade humana. Forma conflitando com outra forma ou se unindo para um RESULTADO/CONCEITUAL. Principalmente a ação do triângulo, um signo-mito religioso, o mito tríade, ou trindade (no Brahmanismo: Brahma, Siva, Vishnu; no Cristianismo: Pai, Filho, Espírito Santo; na Umbanda: Obatalá, Oxalá e Ifá)... em Semiótica:


Signo, Objeto, Interpretante. No estudo das formas simbólicas, o triângulo assume o significado da natureza humana (aliás, um signo con­creto, o sexo feminino - onde se introduz a semente de todas as gerações humanas - é representado sob a forma triangular). Utilizando o triângulo, Raul expiora-o em suas múltiplas potencialidades: formais, di­mensionais, sinaléticas. Estamos diante de um tradu­tor de culturas, um etno-hermeneuta das Artes Vi­suais. Para os índios Aimarás - primeira civilização estabelecida no continente sul-americano - a finali­dade do seu saber seria aprender a dualidade entre o bem e o mal. Utilizando a língua aimará, diríamos que a arte CORDULIANA amtena pukhachariphoka amu, ou numa “transcriação”, recordando o passado, cumpre o pleno botão de flor, num equilíbrio com a ancestralidade, restaurador de plena beleza isenta de maniqueismo: oposição bem/mal. J.Medeiros/Anchieta Fernandes

1. VICO, Giambattista - Princípios de uma Ciência Nova, in Os Pensadores, S. Paulo, Abril Cultural, 1974, trad. Antônio Lázaro de Almeida Prado, p. 82. 2. VICO, Giambattista - op. cit., p. 101. 3. ARGAN, Giulio Cario -- apud. Dicionário das Artes Plásticas no Brasil, de Roberto Pontual, RJ, Civilização Brasileira, 1969, p. 532. 4. BARTHES, Roland - A Antítese, in Roland Barthes por Roland Baathes, S. Paulo, Ed. Cul- trix, 1977, trad. Leyla Perrone Moysés, p. 148.




TERRIT0RY OF MYTHOLOGICAL SIGNALLING “Images do not exist by themselves separate from ideas, there are only fairly concrete concepts”. Spaeir The divine histories were the first human ‘deas. It was from the rays of Júpiter that the first muse appeared, defined as “the Science of good and eviI”(1), so the human firstness was the ‘age o~ gods’ or the age of icons, mental age, before ar: cu a:ed language. The mythologies were the a^guage of ~a- bles and the metaphors ‘tiny fables’ ~ne frst writings were ideographical.” In Homer’s time the so-called unrefined writings had been invented. He said that Prato’s letter to Eurias against Belefronte had been written by “semaphoric symbols”: “by signs’’(2) In this ideographic firstness ;ies the hidden face of the secret knowledge. The secondness “the age of little heroes” corresponding to the mysterious imagetic/metaphoric universe and “the epistolary thirdness, cor­responding to “the age of the discourse”. These three ages, Vico asserts, are always recurrent in a spiral form - the ‘ricorse’ which are the dialectic processes of culture and the eternal ad-continuum diving into time and into the space of sign. Art shares this pro- cess and the artist walks in this eternal spiral, between the sacred space and the vulgus space. Without this dialectic relationship, reason will not be more than an unfulfilled dream, unable to go beyond its boundaries. The mythological territory or the mythological signalling is the hidden universe of Sume’s language, Jupiter’s or Zeus’ Unknown Territory.; CORDULIAN DECODIFICATION Some Brazilian artists have researched geometric s gns and developed a Creative reading, but only as pure semiotics without any relation to the history cf regional symbolism. Raul Cordula has researched in the sense of regional symbolism, his work being similar to to the forms exercised by Ruben Valentim in his evocation of the “magicai symbology which are transmitted with the popular tradition of the negrões from Bahia”(3).


Within infinite possibility of combinations, Cordula gest the results, where the composition plans, contour of images, are associated dynamically, idealizing a flock of birds. It is the graphic of the flock of birds in flight photographing the scenic memory image, the reconstruction of the contemporaneous signalling moment. The mytholo­ gical territory recovered, spoken again contempora- neously. The icons/ideograms (temple and open sky) of the Pedra de Ingá (Ingá Stone) are pictographic signs of a constructive/conceptual momeqt originated from figurative exercise. This imagetic space is inva- ded by the symbolic BORBOREMA. From the sign elements in his paintings, the triangle is the index of his construction, the ages are represented in this perspective/conceptual universe in ricorsi. The icon- ographical/icon and the Symbolical/symbol, the ex- perience, is are guided by the concept, “the antithe- sis is the display of perception itself.”(4) This world of enigma built in short space, where the conternporary shapes dive into barbarian rnyste- ries (and vice-versa) is the quality of exercise of exal- ted thought under SIGN and TIME... the conceptual reasoning, product of an order of perspective return which is articulated in the building of the setting up. One should observe his formal directness. From the simple geometrical outlines to the polyphonies. The circle contained in/and containing other signs. Crono- metric relations. Palimpsestic bonds (the visual ar understood here as a particular fo.rm of writing) with the idiomatic expression the icongraphic verbal rela- tion in BORBOREMA. At times thesense of conden- sed story seriation of sign-ficant. In Raul, the story which is told is the story of form itself although Symbol of the imaginary and of dreams in a specific cultural moment in human society. Form in conflict with other form or reuniting for a CONCEPTUAL/ RESULT. Mainly, the action of the triangle, a religious my- thological sign, the myth of the tried or trinity (in Brahmanism; Brahma, Siva, Vishnu; in Christianity:


the Father, the Son and the Hly Ghost; in Umbanda: Obatalá; Oxala e Ifa) in Semiotics: Sign Object Inter- preter. Semiotically the triangle takes on the meaning of human nature (moreover a concrete sign, the fe- minine sex - where the seed of all human generations is introduced - is represented by a triangular shape) Raul, utilising the triangle, explores it in ist multiple potencialities: formal, dimensional, signalling. With Raul, wer are facing a translator of culture, an et- no-hermepeutic scholar of visual arts. For the Aimaré indians, the first established civilisation in South America, the target of his knowledge would be to learn the duality between good andevil. Utilising the Aimaré language one might say that Cordulian ar amtena pukhachariphoka amu or in a “transcreation” in his recording of the past he fulfills his prime, in a perfect balance with the line of ancestry, being the restorer of perfect beauty, free from manichaeism: oposition between good and evil. J.Medeiros/Anchieta Fernandes

1. VICO, Giambattista - Princípios de uma Ciência Nova, in Os Pensadores, S. Paulo, Abril Cultural, 1974, trad. Antônio Lázaro de Almeida Prado, p. 82. 2. VICO, Giambattista - op. cit., p. 101. 3. ARGAN, Giulio Cario -- apud. Dicionário das Artes Plásticas no Brasil, de Roberto Pontual, RJ, Civilização Brasileira, 1969, p. 532. 4. BARTHES, Roland - A Antítese, in Roland Barthes por Roland Baathes, S. Paulo, Ed. Cul- trix, 1977, trad. Leyla Perrone Moysés, p. 148.








RAUL CÓRDULA FILHO 1943 - Campina Grande - Paraíba

SALÕES:

Estudos de Técnica de Pintura no Museu de Arte Moderna - Rio - com Demênico Lazzarini e História da Arte, no Instituto de Belas Artes, com Carlos Cavalcanti - 1963.

1961- Salão Comemorativo das Festas Henriquinas, 1º Prêmio de Pintura, João Pessoa

EXPOSIÇÕES COLETIVAS: 1961 - Praça da Cultura, Natal/1965 - 6 Artistas Paraibanos em Olin- da 1966 - Opinião 66, MAM, Rio 1967 - Artistas Paraibanos na Inauguração do» Museu de Arte de Campina Grande “Happening” da Associação Paraibana de Artistas Plásticos, João Pessoa 1968 - “SCRASH” Processo, Mostra de Poesia Processo, Teatro Santa Roza, João Pessoa 1970 - Arte na Praia, serigrafias em barracas de praia, lpanema 1973 - Cinco Artistas Paraibanos, Galeria Pedro Américo, UFPB, João Pessoa 1975 - Exposição Inaugural da Galeria Tomaz Santa Roza, FUNCEP, João Pessoa - 1º Festival de Verão de Areia, Areia, PB 1976 - Coletiva, Galeria Três Galeras, Olinda 1978 - III Fes¬tival de Arte de Areia, Areia 1979 - OS ANOS 60, NAC, UFPB - Co¬letiva, Galeria Batik, João Pessoa 1980 - ARTEARQUITETURA, João Pessoa

1965 - XIX Salão Mineiro, 2º Prêmio de Desenho 1966 - XX Salão Mineiro, Mensão Honrosa de Pintura 1969 - Salão de Arte Jovem, Campinas, Medalha de bronze em desenho 1974 - 1º Salão de Arte Global de Pernambuco, Prémio MEC 1975 - Bienal Na¬cional de São Paulo - 2P Salão de Arte Global de Pernambuco, 1º Prêmio (viagem ao exterior) 1979 - Panorama de Arte Atual Brasileira, MAM, São Paulo 1980 - III Salão Nacional de Artes Plásticas 1981 - Sala Especial do VI Salão Nacional de Artes Plásticas - A PRESENÇA DAS REGIÕES Bienal de São Paulo, Seção de Arte Postal. ATIVIDADES DOCENTES: 1963 - Coordenou o Atelier de Desenho e de Pintura no Setor de Ar¬tes Plásticas do Dep. Cultural da UFPB/1968 - Ministrou o Curso livre de Desenho no Setor de Artes Plásticas do DC da UFPB. Lecionou His¬tória de Arte no Instituto Central de Arte da URNE - Campina Grande/Leciona desde 1979 Fundamentos de Linguagem Visual II no DAC/CCHLA/UFPB.

1981 - 1ª MOSTRA INTERNACIONAL DE ARTES DOOR, Recife - 1º Panoramadas Artes Plásticas na Paraíba, Festival de Areia - O Artista da Terra, João Pessoa, Guarabira, Campina Grande

1964 - Supervisionou o Setor de Artes Plásticas do Departamento Cul­tural da UFPB/1967 - Dirigiu o Museu de Arte de Campina Grande e o Departamento de Artes Plásticas do Instituto Central de Artes da URNE, Campina Grande — Presidiu a Associação Paraibana de Artistas Plásticos

1982 - Galeria Gamela, João Pessoa - II MOSTRA INTERNACIONAL DE ARTE DOOR, Recife - Iª Exposição de Arte Latina, Recife.

1977 - Montou e dirigiu para a FUNDARPE o Núcleo de Arte Popular e Artesanato de Pernambuco, NAP

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS:

1978 - Dirigiu a Casa da Cultura de Pernambuco/Coordena desde 1979 o Núcleo de Arte Con­temporânea da UFPB - É Delegado Chefe no Brasil do Conselho Mun­dial de Artesanato (WCC/UNESCO).

1960 - Biblioteca Pública, João Pessoa (em comemoração às Festas Heriquinas) 1963 - Xiko Arte Interior, Recife 1965 - Galeria VERSEAU, Rio 1968 - Hall da Reitoria da UFPB (exposição censurada e montada posteriormente no Teatro Santa Roza) - Oficina 154, Olinda - Clube Carnavalesco Amantes das Flores, Recife 1973 - Galeria Pedro Américo, UFPB - Galeria Curral, João Pessoa 1978 - Galeria Arte Global, São Paulo - Galeria Casa da Cultura, Recife - Abelardo Rodrigues Galeria de Arte, Recife - Show Room Polivox, Recife e Belo Horizonte - Centro de Turismo, UFRN - Galeria Batik, João Pessoa, 1980 - Banco Económico, João Pessoa 1981 - Galeria ARTEARQUI- TETURA, João Fbssoa 1982 - Galeria Sérgio Milliet, FUNARTE, Universidade de Caxias do Sul.


ATIVIDADES PROFISSIONAIS - EMPRESAS PRIVADAS: 1965 - Foi Cenógrafo da TV Tupi, Canal 6, Rio 1968 - Dirigiu “STAR” Programação Visual Ltda, João Pessoa 1970 - Foi Cenógra¬fo da TV Bandeirantes, Canal 13, SP, e Cenógrafo da TV Globo, Canal 4, Rio 1972 - Foi Diretor de Arte da ID- Projetos e Produções Gráficas Ltda, em João Pessoa 1973 - Realizou conjunto de obras para a Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba 1975 - Montou o Escritório de Programação Visual, João Pessoa 1976 - Programador Visual de Mercado Global, Rede Globo, São Paulo - Observador da Rede Globo de Televisão na VII Conferência Internacional do Conselho Mundial de Artesanato, México, e Secretário Geral e Programador do III Salão de Arte Global de Perrambuco - “O Artesanato e o Homem” - Recife 1982 - Painel em tubo de ferro no PARAIBAN, Banco do Estado da Paraíba. TRABALHOS EDITADOS: (1977/82) Conjunto de cartazes para a FUNDARPE e Casa da Cultura de Pernambuco Conjunto de cartazes para o Núcleo de Arte Contemporânea da UFPB Editoração de “Ele Não Acha Mais Graça No Público Das Próprias Graças”, de Antonio Dias - Editora Universitária da UFPB. Editoração, com Francisco Pereira Jr., de FAC-SIMILE, de Barrio, ALMANAC, Relatório das Atividades do Núcleo de Arte Contemporâ¬nea, em 1979; OS ANOS 60, Artes Plásticas na Paraíba. ENCONTROS E SEMINÁRIOS: 1979 - 1º Encontro Nacional de Artistas Plásticos Profissionais (3º secretário) 1981 — Iº Encontro Nordestino de Artistas Plásticos Profissio­nais, Salvador (VicePresidente) — Iº Seminário de Semiótica e arte, UFRN, (Conferencista) — Iª Semana de Arte e Semiótica, Universidade do Rio Grande, (Conferencista).

Fotografias: Gustavo Moura Versão para o Inglês: Nair Barlow Apoio: Equipe do NAC/UFPB Composição e Impressão: Recife Gráfica


projeto gráfico atual: Pedro Alb Xavier

Rua Araújo Porto Alegre, 80 - 20.030 - Rio de Janeiro - RJ


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