Galeria Portfolio • 1989
RAUL CÓRDULA
Tetraktis, 1989 Acrílica sobre tela - 80X100cm Coleção Túlio Velho.
Projeto Gráfico Pedro Alb Xavier
Galeria Portfolio • 1989
RAUL CÓRDULA
linear
ENTRE pictórico
ENTRE O LINEAR E O PICTÓRICO Por volta de 1975, chegou às nossas mãos o livro “prosa do observatório”, de Júlio Cortazar. Um opúsculo preciosíssimo feito de divagações e verdades, ilustrado com fotos de observatórios do Marajá Jai Singh (Jaipur, Delhi). Como não eram fotos de boa qualidade (em preto e branco) parávamos, muitas vezes, para apreciar com maior rigor as formas geométricas e os traçados das escalas e nos perdíamos por entre a luz e a sombra, tentando adivinhar cada objeto. Quase catorze anos depois nos encontramos diante da obra de Raul Córdula e ela nos transmite a mesma sensação. Se nas fotos nos defrontávamos com uma grande batalha exercida pela luz e a sombra em meio a uma geometria sólida, na obra de Córdula somos tentados a mergulhar numa latitude bem mais ampla. Uma batalha que se dissipa na sutileza com que forças tão opostas se tocam (e não se agridem). Seja a geometria sagrada das formas exatas, seja a infinidade das retas interrompidas, seja a razão tão lúcida destas formas (geométricas) e a aparente oposição da gestualidade no emprego da cor, contrastes sóbrios se aproximam (em cada cor) sem que por um momento apenas se unam (ou se agridam). Ao contrário: a cor é colocada lado-a-lado, uma após outra, com grande leveza, dando-nos a impressão de que está solta na tela. Um efeito surpreendente, principalmente nas cores mais altas. É sobre este pano de fundo, marcado por pinceladas soltas, que reside todo o encanto da obra de Córdula. Sua gestualidade, seus efeitos, sua geometria sobreposta, cria-nos um aspecto puramente linear. É Neste ponto onde Córdula explora nossa capacidade de observador, brincando com a transparência obvia das linhas ou a repetição das formas geométricas em fundos extremamente opostos.
Benedito Nunes Maceió, abril de 1989
Galeria Portfolio BrasĂlia, julho de 1989