RAUL CÓRDULA exposição
21 de maio de 1961 XIKO arte interior
QUASE UM Não pergunto a você por uma antecipação do quadro, um esboço que neutralizasse os imprevistos da criação, pois todos sabemos as precárias tentativas de racionalização em arte, mas também pres¬sinto que você não teria a coragem de partir do nada, a fome do inicial ou último vazio. Ainda tem sentido indagar por uma “elaboração”, uma antevisão crítica, o antes e durante a realização da obra? — “Sempre parto do que vejo, o pictórico não com¬prometido pelo literário, o homem na paisagem, linha e plano, surgindo do jogar as tintas no quadro; começo a briga com o quadro.” Já sabia que não pode haver serenidade no impasse, que a tranquilidade é fatal assim como o desespero por sofisticação, e o terrível é dizer e escrever “a procura da beleza”. Procura-se mesmo a beleza? Você acredita nisto? Ficaria mais aproximado falar em impacto ou choque (com te, da a imediatez da palavra) entre a beleza e a fealdade, a estrutura e o informal? — “Concordo sim, acho que você tem razão”. Mas através da certeza, da resposto em quase convicção, vejo suor em seu rosto. Os cinzas e azuis. Agora o vermelho. Então continuamos a olhar, a descobrir, a inventar a partir do visto: onde a perduração do surrealismo,
M DIÁLOGO por que a necessidade de contrapor o grafismo e a numeração, você também está me falando em barroco? — Em verdade somos atraídos pelo instinto de “liberação” surrealista, o convívio com a “embriaguez” dionisíaca, o ímpeto de vio¬lentar a razão raciocinante. Assim vamos conquis¬tando uma “orquestração” de tons, de imagens, de gestos-imagens. A presença do barroco é a esperança de retornar à figura, não por meio das técnicas convencionais — contorno, proporção, volume, aparência de algo, fotografismo; porém a figura no significado inédito de imagem, oferecendo-se e fazendo-se como montagem, descoberta de novas formas. — “E a passagem do tom é problema que eu não desprezo, quanto menos cores, mais finura na superfície.” Dizendo isto, Raul faz um convite provocação para se ver os seus quadros como necessidades, que devem ser cumpridas também no Nordeste. Outros discutirão as influências e perigos de seus vinte e um anos em João Pessoa.
Jomard Muniz de Britto
trabalhos óleo - têmpera - gouache
projeto gráfico pedro alb xavier
display bernardo dimenstein
realização
XIKO
arte interior edf. tereza cristina - loja um praça machado de assis, 63 - boa vista, recife - pe