B-QUEER MAGAZINE #1

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B-Queer é uma revista online de contra-cultura para fortalecer e apoiar a cultura LGBTQIA+, tal qual informar e conscientizar a

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população à causa, que ainda é tão marginalizada num Brasil conservador e fundamenalista. Aqui você encontra CLOSE, BABADO, CONFUSÃO, GRITARIA e, principalmente, DESCONSTRUÇÃO!!!**_


SUMร RIO tรก, meu bem?!:

teoria queer........................04

segura esse bafo:

loca do c*:

Maddax........................................09

ahaza, bee:

borabalar:

MPBicha............................06

PREPARA TRANS...........................12

TXOMAH..........................................14


tá, meu bem? _A Teoria Queer começa a se consolidar por volta dos anos 90, com a publicação do livro “Problemas de Gênero” (Gender Troube) da Judith Butler. Fruto de uma trajetória que ela já vinha acompanhando desde um seminário, que carregava o nome “queer”, feito nos anos 80, por Teresa de Lauretis, que foi a primeira a pensar em “Tecnologias de Gênero”, aqui entendidas como as técnicas de ser homem ou ser mulher que aprendemos desde cedo. _Tal movimento é teórico e também social, a “Teoria Queer”, termo agora ressignificado como forma de empoderamento. É neste momento, a partir de uma associa-

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TEOR ção teórica com os estudos pós-estruturalistas de Deleuze, Derrida e Foucault, que se começa a pensar o próprio Gênero como “ficção política encarnada”, termo cunhado por Paul. B. Preciado em palestra dada no “Hay Festival”, em Cartagena. _É neste sentido que a vivência das mulheres trans, das travestis e das pessoas não-binárias que se identificam com a feminilidade podem ser compreendidas como vivências femininas, e que devem ser respeitadas como tal. Obviamente, há diferenças na vivência de uma mulher cisgênero e de uma mulher trans. Disso não há dúvidas, entretanto, ambas possuem vivências de suas feminilidades, das opressões diárias, dos


RIA QUEER enfrentamentos a partir de uma perspectiva do feminismo. _É importante notar que a Teoria Queer não propõe um modelo “queer” de mundo. O queer é justamente o estranho. É aquele que se narra ou é narrado fora das normas. A Teoria Queer propõe o questionamento às epistemes (pressupostos de saber), ao que entendemos como verdade, às noções de uma essência do masculino, de uma essência do feminino, de uma essência do desejo. Para a Teoria Queer é preciso olhar para esses conceitos e tentar perceber que não se tratam, de forma alguma de uma essência, ou mesmo,

que não há uma ontologia do todo, mas, no máximo, uma relação de mediação cultural dos marcadores biológicos. _QUEER pode ser usado para descrever a identidade sexual ou de gênero de alguém, ou servir como um posicionamento político. Sua definição tem muitas dimensões, de identidade de gênero à resistência aos valores tradicionais ou a uma sensação de não-pertencimento em padrões estabelecidos pela sociedade.

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segura esse bafo _No encontro das siglas MPB e LGBTQIA+ surge a novíssima Música Popular Brasileira do ponto de vista de quem transformou a questão da sexualidade e gênero numa militância artista. É nesta perspectiva que nasce a MPBicha, encabeçada pelos cachos soltos, raíz crespa, e a liberdade de ser quem você realmente é. Da trans, da mulher empoderada, da bicha preta, da periferia, do oprimido que invadem os ouvidos e o coração daqueles que os ouvem desconstruindo todas as regras impostas na sociedade. _É essa identificação que toma conta desta nova onda da música

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brasileira. Artistas que se sentem muito à vontade para falar sobre suas vivências, suas verdades e entendem muito bem a força e a importância que seus discursos carregam. Ao palco, levam a resposta aos impactos políticos, sociais e estéticos se contrapondo, em termos artísticos, dos discursos conservadores, reacionários e fundamentalistas religiosos à hegemonia política no país. _ Tal safra de artistas da nossa MPB tem relação umbilical com a internet e as redes sociais digitais (ou emergiram daí para abrir espaços nas mídias tradicionais ou trocaram escassos espaços nestas

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MPBICHA por lugares de destaque entre os internautas). A internet democratizou essa questão da política do corpo – apesar de ela ficar, muitas vezes, restrita a certos nichos – e deu visibilidade para esses movimentos, que antes ficavam numa posição marginal. Outra forte característica é que esses novos artistas são, em sua maioria, independentes, sem um esquema gigante de gravadora por trás dizendo como devem se comportar e o que devem dizer. São mais espontâneos e mais livres como artistas. _ A música é, em sua essência, liberdade. A música popular brasi-

leira sempre permitiu a emergência de artistas que cantam as liberdades individuais e a justiça social, sobretudo quando estas estão ameaçadas. Num momento em que as nuvens escuras do fundamentalismo religioso homofóbico e contrário aos direitos das mulheres se concentram no céu do Brasil e que a fascismo arrepia o corpo social, nada mais normal e esperado que um movimento musical, seja pelo soul, pelo tecnobrega, pelo axé, pelo frevo ou pelo funk, cante e dance em prol da aceitação das diferenças. Assim apresento a MPBicha: uma nova forma de fazer Música Popular Brasileira.

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_LINN DA QUEBRADA Linn da Quebrada é resistência da cabeça aos pés. Bicha, transviada e mais que isso: TERRORISTA DE GÊNERO, quebrando padrões e dando visibilidade para aqueles que ainda são estigmatizados: as trans, as sapatões e as bichas afeminadas. OUÇA: BIXA PRETA, MULHER e TALENTO. _LINIKER E OS CARAMELOWS “A gente fica mordido, não fica?” Depois de abalar a internet com o EP “Zero” a banda lança seu primeiro album, o visceral Remonta. Não se encaixando em nenhuma caixinha, Liniker é negro, pobre, gay e se define, simplesmente, como Liniker. OUÇA: ZERO, BOXOKÊ e CAEU. _LAY Moda, punk, rap, empoderamento feminino e muita atitude. Essas são apenas algumas palavras que podem ser utilizadas para tentar definir o som de Lay. A cantora brasileira lançou seu EP de estreia 129129 e ele chega poderoso: logo de cara a artista manda “saudações a todas as bucetas”. OUÇA: RESSALVA e GHETTO WOMAN. _PABLLO VITTAR Dona do hit do Carnaval deste ano, “Todo Dia”, a drag Pabllo Vittar estourou na internet e tem tido um 2017 maravilhoso – e olha que ele só está no começo! Além de lançar um álbum de inéditas, “Vai Passar Mal”, ela já está na sua segunda temporada do programa “Amor & Sexo” da Rede Globo. OUÇA: K.O, TODO DIA e CORPO SENSUAL.


loca do c*

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DAX

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MADDAX é mais um sím-

bolo de poder que reflete do atual boom da cultura drag na Paraíba, tal qual no Brasil. Drag há dois anos, a gata é dj, performer e se lançou recentemente como cantora com sua música Odalisca. Mas, acima de tudo, é DRAG! Para entender mais sobre o ser drag tomamos um chá de rivotril e batemos um papo nos intervalos da nossa sessão de fotos. _B-Queer: Quem é a Maddax? _Maddax: A Maddax é uma artista, uma drag. E Maddax é a junção de Mad As my Ass, ou Madass ou Maddax. Ou seja, em português, Louca do Cu. É essa essência que eu quero passar. Eu sou meio pirado, então tem tudo a ver comigo, a diferença está na maquiagem e peruca. _B-Queer: Como você conheceu o movimento drag e o que ele transformou em você? _Maddax: Em recife, ainda criança, existia a Kita Sempre Kita e Cinderella, já era algo conhecido por lá, algo

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visto na tv, sempre gostei das duas porém ainda havia a coisa do preconceito. A família dita que você pode ver, rir e achar legal mas só de longe, não se aproxime muito. E acho que RuPaul ajudou bastante a quebrar essa imagem, de aproximar mais o público das drag. Além disso sempre tive contato com o mundo da maquiagem, apesar do medo de ser pego brincando de me maquiar com minha prima quando criança. Tudo isso está conectado. _B-Queer: Qual o papel da drag na sociedade? _Maddax: Entreter e questionar papéis de gênero talvez. Porém acho que uma mulher que dirige um ônibus questiona tanto ou até mais os papéis de gênero, tendo em vista que é um lugar onde é socialmente lido para homens, entende? Mas [o drag] é bom, também provoca esse questionamento ver homens e mulheres de maquiagem, peruca e etc. _B-Queer: E o que é ser drag?


_Maddax:Não dá pra definir o que é drag num modo geral, dá pra definir o que é drag pra mim. É mais uma questão da pessoa se definir como ela preferir definir, do que uma definição alheia. Drag é uma arte que eu acho que as pessoas estão tentando impor limites e barreiras mas eu acho que drag é ir além, se libertar dessa questão. O bom é não ter limites. Drag é ir além _B-Queer: E você lançou recentemente a música Odalisca, quais os seguintes planos? Vai ter clipe? Tem mais músicas? _Maddax: Clipe, talvez. Mas tem mais materiais para sair, siiiiiiiiiiim! Aguardem… _B-Queer: Que mensagem você deixaria para aquelas pessoas que começaram a se montar há pouco tempo, ou até mesmo que ainda estão na vontade? _Maddax: Olha, paciência, porque o público da noite às vezes é um pouco complicado, coragem e acredite que você é capaz. O resto só o tempo, esforço e o treino mesmo.

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ahaza, bee *

PREPAR

_A evasão escolar ainda é um problema recorrente em nosso país, dados do Censo Escolar 2015 mostram que 1,6 milhão de jovens entre 15 e 17 anos estão fora da escola. Entre trans e travestis, este número é estimado em 82%, com informações do Conselho Municipal de LGBT de Cuiabá, sendo associada diretamente ao preconceito, à exclusão e à discriminação. Ainda há dados que 90% da população trans esteja inserida na prostituição forçadamente, por ser uma das únicas formas de conseguir dinheiro para sua subsistência. _Em abril de 2016 surge o cursinho Prepara Trans, parte integran-

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te do projeto de extensão Universidade, Diversidade Sexual e de Gênero da Universidade Federal de Goiás (UFG). A proposta vem oferecendo estudo às pessoas transexuais, transgêneras e travestis através de um espaço inclusivo e acolhedor, preparando-as para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e outros vestibulares e, consequentemente, para o mercado de trabalho. O projeto também atende lésbicas, gays, bissexuais e outros indivíduos que abandonaram os estudos por motivos socioeconômicos, de violência ou preconceito motivados por sexualidade e gênero em casos de vagas remanescentes. _O cursinho é gratuito e organizado de forma autôno-


RA TRANS ma, sem fins lucrativos, financiamento de empresas, instituições ou organizações políticas, sendo sustentado por meio de doações de materiais e financeiras, e arrecadação de dinheiro com eventos culturais. Além das aulas, os participantes também contam com monitorias, oficinas, rodas de conversa, mesas redondas, debates políticos e outras atividades. Também são ofertados materiais de papelaria (cadernos, canetas, lápis, borracha, xerox, etc.) sem qualquer custo. _Atuando há um ano, o Prepara Trans já colhe bons frutos e pouco a pouco ajuda a construir uma universidade inclu-

siva e com a cara do nosso povo. Em sua primeira turma, o cursinho contou, na primeira chamada do Sisu 2017, com seis aprovações, nos cursos de Farmácia (UFG), Administração (UFG), Eventos (FURG), Engenharia Mecânica Naval (FURG), Filosofia (UFG) e Geografia (UFAL).

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borabalar *** LIVRO: Nós duas _O livro “Nós duas: As representações LGBT na canção brasileira”, de Renato Gonçalves, apresenta as representações LGBT que permeiam a música brasileira desde pelo menos a década de 1970. Através de uma escuta orientada, o pesquisador passeia por canções selecionadas para discutir como a música até hoje tem um papel fundamental na formação de identidades coletivas. O livro é disponibilizado gratuitamente na internet. FILME: Laerte-se _ Laerte-se é o primeiro documentário brasileiro da Netflix, e conta a história da cartunista transexual Laerte Coutinho. “Pra quê eu preciso ser oficialmente mulher ou homem?” questiona a protagonista que causou furor no Brasil quando, em 2010, depois de três filhos e três casamentos e aos 60 anos, Laerte revelou-se mulher trans. O documentário acompanha uma investigação sobre o mundo feminino na intimidade do cotidiano desenrolando uma série de questionamento sobre o que é, afinal, ser mulher.

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TXOMAH

VIDEO: BlasFÊMEA/Mulher _BlasFÊMEA é uma obra de arte transfeminista dirigida e roteirizada por Linn da Quebraada. O “transclipe” apresenta três momentos narrativos: o prólogo, que materializa, e se rebela sobre a construção cultural do “culto ao falo”; a narrativa central, que mostra a formação de uma rede de proteção e ajuda entre mulheres; e um epílogo, que exibe cenas de uma vivência real de todas as mulheres do elenco no primeiro dia de gravação, num momento de pura conexão. ÁLBUM: LINEKER _ LINEKER é o terceiro álbum de Lineker. Distanciando-se das sonoridades de seus trabalhos anteriores (“eLe”, de 2012, e “Verão”, de 2016), o artista flerta de forma intensa com o pop experimental contemporâneo. Nos arranjos, a voz do cantor se desdobra em coros, contrapontos e ostinatos, que se somam a formações instrumentais. As letras das canções passeiam por temas diversos, como desejos, amores, desconstruções de gênero, sexualidade, LGBTfobia e não deixam de refletir as tensões políticas e sociais atuais do país.

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“Brasil é o país onde mais se matam travestis e transexuais no mundo.” - Transgender Europe

“em 2013, o brasil registrou 1.695 casos de homofobia, fora casos não registrados na ouvidoria do SUS.” - Secretaria de direitos humanos da presidência da república

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DE NUN CIE

NÃO SE CALE. DENUNCIE. RESISTA!


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