O ENCONTRO NACIONAL DAS FAPS E SECRETÁRIOS DEC&T PUBLICAÇÃO MENSAL DA FUNDAÇÃO DE AMPARO ÀPESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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SISTEMA PARA DIAGNOSTICAR DISTÚRBIOS EM PÉS DE DIABÉTICOS Pág.12
ouso DE RESÍDUOS NA PRODUÇÃO DE AUTOPEÇAS Pág.l4
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FINANCIAMENTO À PESQUISA
Do laboratório à fábrica L -
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Levantamento da FAPESP revela uma acentuada participação de pesquisas aplicadas nos projetas financiados pela instituição mas mostra, também, que em muitas áreas já não há limites entre ciência P~ básica etecnologia. São conclusões que motivam um debate mais amplo sobre os rumos do desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil
LIVRO
AGeolo ·a e os fósseis segundo Leibniz
O que pensava sobre a história geológica da Terra e os fósseis, no finaldoséculo 17 einíciodo 18, uma das maiores e mais ecléticas personalidades da filosofia e da ciência da civilização ocidental? Essa viagem nas idéiasdeGottfriedWilhelmLeibniz(l6461716) é o que oferece o livro "A 'Protogaea' de G. W. Leibniz (1749)", primeira tradução para o português diretamente do original em latim, feita por Nelson Papavero, Dante Martins Teixeira e Maurício de Carvalho Ramos. A "Protogaea" faz parte do projeto não finalizado de Leibniz de escrever uma história universal. Boa parte das informações que utilizou para escrevê-la obteve no período que trabalhou como engenheiro de minas na região de Harz, naAlemanha, de seu contato com Nicolaus Steno (1638-1686) -os dois são considerados os criadores da Geologia- e por observações feitas nas inúmeras viagens que empreendeu durante toda a vida, como jurista, historiador, emissário político e também como cientista. No livro, o pensador alemão sustenta a teoria de que a Terra estava originalmente em estado fluido e a crosta sólida era a escória de uma grande fusão. Sobre ela continuaram a ocorrer mudanças drásticas, como as descritas por Thomas Bumet (?16351715)na "Teoria Sacra da Terra", e os fósseis eram indícios disso. Abalos e inundações transformaram a superfície do Planeta, sendo possível que os peixes, dos quais restaram marcas em algumas rochas, tenham habitado lagos depois recobertos por sedimentos. Também deduz que a descoberta de restos de animais então desconhecidos tomavam possível a hipótese de uma mutação das espécies. Publicado pela primeira vez 33 anos depois da morte de Leibniz, o livro tem o subtítulo "Uma Teoria sobre a Evolução da Terra e a Origem dos Fósseis". A tradução recentemente
publicada em co-edição pela Editora Plêiade e FAPESP corresponde à chamada "Versão A" do trabalho (o texto original revisado pelo próprio Leibniz), organizada por Christian-Ludwig Scheidt, bibliotecário real de Hannover. A edição contém reproduções das doze pranchas originais previstas por Leibniz - com algumas das gravuras provenientes de obras deSteno e de outros autores do século 17 -, além de 83 figuras selecionadas pelos tradutores e cerca de 300 notas ecomentários. Em vida, Leibniz publicou apenas um resumo de suas idéias sobre o passado na Terra, em 1693, na "Acta Eruditorum", primeiro periódico científico alemão, cujo criação foi por ele sugerida, tendo como referência o "Joumal des Sçavans" francês e os "Proceedings ofthe Royal Society" da Inglaterra. Um exemplo das tentativas de Leibniz de apresentar uma explicação científica sobre os fósseis está no capitulo em que fala do unicórnio, onde considera que achados supostamente tidos como chifres do ser mitológico seriam provenientes de peixes do Atlântico Norte (possivelmente o nervai, chamado na época de "baleia-unicórnio"). Na verdade, se tratava de defesas de mamutes ou então chifres de rinocerontes, como no caso que descreve de um fóssil encontrado na Abissínia (Etiópia), como explicam os tradutores em nota. No capítulo "Onde estava a água que cobriu a Terra e o que aconteceu
SECRETARIA DA CIÊNCIA TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
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com ela? Também sobre as várias causas do dilúvio", Leibniz apresenta uma explicação sobre de onde teria vindo a água que teria coberto toda a superfície do planeta durante o dilúvio-"pois as conchas erram [sobre] as montanhas e, em nossa vizinhança, o âmbar, que é colhido nas praias marinhas, algumas vezes se encontra longe do pélago, enterrado no nosso próprio solo". Após descartar possíveis causas, inclusive externas, como apassagem próxima de umcometaouaproxirnaçãodeumalua, que teriam feito as águas subirem, considera "admissível é que, ao romper-se a cúpula da Terra onde esta oferecia menos resistência, massas enormes se arrojaram das próprias profundezas onde os mares já haviam sido recebidos até que, através de novas subsidências, acharam um acesso ao Tártaro, abandonando os espaços que hoje vemos a seco". Entretanto, é cético quanto à possível evolução das espécies a partir de seres marinhos: "Existem, não ignoro, os que levam a capacidades de conjecturar ao ponto de pensar que, quando o Oceano tudo cobria, os animais que hoje povoam a terra eram aquáticos, tomando-se anfíbios à medida que se retiravam as águas e que seus descendentes por fim abandonaram suas primitivas moradas. Todavia, essa opinião conflita coma dos Sagrados Escritores, o que significa afastarse da religião". Criador do cálculo infinitesimal Gunto com Newton), da teoria das mónadas e formulador de um modelo teórico precursor de alguns modernos sistemas de computação, Leibniz foi certamente um dos pensadores mais profícuos da humanidade. Esta edição da "Protogaea", além de apresentar suas teorias e interpretações geológicas e palentológicas, possibilita um panorama do desenvolvimento dessas idéias, através das notas e comentários, rastreando sua evolução desde a Antiguidade até pensadores contemporâneos do filósofo e cientista alemão.
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