28 O Genoma Cana chega à reta final, com a identificação de 80 mil genes que, devidamente manipulados, podem resultar em uma cana ma1s produtiva, resistente e tolerante à seca e a solos pouco férteis
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18 Conheça mais sobre os 18 primeiros projetos do Programa de Políticas Públicas a passar para a segunda fase
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Pesquisadores desvendam as transformações químicas que ocorrem com os ovos de libélulas, que liberam um ácido capaz de corroer a pintura de veículos EDITORIAL MEMORIAS OPINIÃO
Projeto de mapeamento das algas do território paulista encontra 40 espécies inéditas no mundo e 500 não documentadas no Estado
POLíTICA CIENTÍFICA E TECNOLOGICA CIÊNCIA TECNOLOGIA HUMANIDADES LIVRO LANÇAMENTOS
Capa: Hélio de Almeida, sobre foto de Eduardo Cesar
ARTE FINAL
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Cateter de fibra óptica capaz de transportar feixes de laser poderá ser usado para diagnóstico e tratamento de doenças cardíacas e de câncer
66 Tese mostra como mulheres lidam com o cotidiano do matrimônio e as estratégias que usam para mantê-lo PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO OE 2000 • 3
Revista Devo o conhecimento da revista Pesquisa FAPESP à gentileza da Irmã Jacinta Turolo, da Universidade Sagrado Coração, de Bauru/SP. Tive a oportunidade de ler, pela primeira vez, os exemplares de junho e julho (números 54 e 55). Fiquei maravilhado pela forma clara e acessível de poder acompanhar os planos e projetos nas diferentes áreas de pesquisa em nosso país. Realizei uma leitura integral, da capa à contracapa, sem desperdício. Sou graduado em administração de empresas, com estudos em jornalismo na UFPR e atualmente estou desenvolvendo um projeto de pesquisa, "Na própria pele", sobre prisão e crime. EDUARDO I SAAC M. ISRAEL
Presidente Bernardes, SP Como consultor internacional em tecnologia química e afins, tive a oportunidade de ler um exemplar da publicação mensal Pesquisa FAPESP e achei sumamente interessante. Gostaria de recebê-la regularmente. ToMAS M.
WEJL
São Paulo, SP Sou professor em uma escola técnica estadual (Centro Paula Souza), em uma faculdade particular, bem como no Ensino Fundamental (Ciências) e Médio (Química). Gostaria de receber periodicamente a revista Pesquisa FAPESP, pois os assuntos são os mais diversos e interessantes e pretendo utilizá-los como material didático. )OAO ROBERTO DA SILVA
)aboticabal, SP Faço parte do corpo de assessores científicos da FAPESP, na área de Lingüística. Assim, recebo regularmente a revista Pesquisa FAPESP, que aprecio enormemente. Apesar de raramente haver notícia nessa área, 4 • NOVEMBRO DE 2000 • PESQUISA FAPESP
gosto muito da revista, pois fico inteirada das magníficas pesquisas feitas por nossos cientistas e do avanço da ciências no Brasil e particularmente em São Paulo. Gostaria de cumprimentar a equipe redatora pelo magnífico trabalho que vem fazendo. É digno da FAPESP e de São Paulo. A revista é muito apreciada também por meu filho que, embora trabalhe no setor financeiro, sempre teve fascinação pela ciência. Por isso, cada vez que vem a minha casa leva meu exemplar da revista e eu "fico a ver navios': MARIA TEREZA CAMARGO BIDERMAN
São Paulo, SP
Complementação Complementando a reportagem "Antibiótico extraído da aranha", publicada na revista Pesquisa FAPESP No 56, gostaria de reiterar que o estudo da gomesina fez parte da tese de doutoramento, sob minha orientação, de Pedro Ismael da Silva Júnior, pesquisador científico do Laboratório de Artrópodes do Instituto Butantan. Além disso, três outros pesquisadores participaram no desenvolvimento doo projeto, sem os quais alguns pontos importantes não poderiam ser elucidados: a Profa. Dra. Maria Teresa Miranda, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), e o Prof. Dr. Antonio de Miranda , da Universidade Federal de São Paulo, antiga Escola Paulista de Medicina, responsáveis pela síntese química de vários dos peptídeos da pesq ui sa, e a Dra. Françoise Vovelle, do Centro de Biofísica Molecular, CNRS, de Orléans, França, que estabeleceu a estrutura tridimensional da gomesina. Saliento a importância dessas interações interdisciplinares, nas quais pesquisadores de diferentes especializações visam a contribuir para o entendimento da relação entre estrutura e função desses peptídeos antimicro-
bianos. Gostaria também de esclarecer que a fotografia publicada não é da aranha Acanthoscurria gomesiana, mas de um outro gênero de aranha caranguejeira, a Vitalius sp. SIRLEI DAFFRE
Universidade de São Paulo São Paulo, SP
Correção Constatei uma incorreção na edição de número 58 desta revista, na seção "Laboratório", na nota que tem por título "Água de coco contra a malária". Onde se lê: "Pesquisadores do Peru descobriram uma forma nova de matar os mosquitos que causam a malária: o coco. Para matar as larvas do Plasmodium falciparum, ... ", não seria:" Pesquisadores do Peru descobriram uma nova forma de matar os mosquitos que causam a malária: o coco. Para matar as larvas de mosquitos transmissores do Plasmodium falciparum ... "?. NELSON S. CORDEIRO
Instituto de Biologia/Unicamp Campinas, SP
O leitor está certo. A água de coco evidentemente está sendo usada para matar larvas de mosquitos e não, como foi publicado, larvas do Plasmodium falciparum.
O pesquisador à esquerda na foto acima, publicada na página 29 da Pesquisa FAPESP No 58, é José Augusto Miotto, não Hans Ebert, como indicado. Ao centro, Yociteru Nasui e, à direita, Norberto Morales.
EDITORIAL
O novo ciclo da cana-de-açúcar
PESQUISA FAPESP É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL DA FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO PROF. DR. CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZ PRESIDENTE PROF. DR. PAULO EDUARDO DE ABREU MACHADO VICE-PRESIDENTE CONSELHO SUPERIOR ADILSON AVANSI DE ABREU ALAIN FLORENT STEMPFER CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZ FERNANDO VASCO LEÇA DO NASCIMENTO FLÃVIO FAVA DE MORAES JOSÉ JOBSON DE ANDRADE ARRUDA MAURÍCIO PRATES DE CAMPOS FILHO MOHAMED KHEDER ZEYN NILSON DIAS VIEIRA JUNIOR PAULO EDUARDO DE ABREU MACHADO RICARDO RENZO BRENTANI VAHAN AGOPYAN CONSELHO TÉCNICO-ADMINISTRATIVO PROF. DR FRANCISCO ROMEU LANDI DIRETOR PRESIDENTE PROF. DR. JOAQUIM J. DE CAMARGO ENG LER DIRETOR ADMINISTRATIVO PROF. DR. JOSÉ FERNANDO PEREZ DIRETOR CIENTÍFICO EQUIPE RESPONSÁVEL CONSELHO EDITORIAL PROF. DR. FRANCISCO ROMEU LANDI PROF. DR. JOAQUIM J. DE CAMARGO ENGLER PROF. DR. JOSÉ FERNANDO PEREZ EDITORA CHEFE MARILUCE MOURA EDITORES ADJUNTOS MARIA DA GRAÇA MASCARENHAS NELDSON MARCOLIN EDITOR DE ARTE HÉLIO DE ALMEIDA EDITORES CARLOS FIORAVANTI (CIÊNCIA) CLAUDIA IZIQUE (POLÍTICA C&T)
~1~g>~E~EE ~~~v~~~o'iiTE~~~~~~~~ EDITOR-ASSISTENTE ADILSON AUGUSTO REPÓRTER ESPECIAL MARCOS PIVETTA ARTE JOSÉ RO~ERTO MEDDA (DIAGRAMAÇÃO) TANIA MARIA DOS SANTOS (DIAGRAMAÇÃO E PRODUÇÃO GRÁFICA) COLABORADORES ANA MARIA FlORI CRISTINA DURAN EDUARDO STOPATO LÍGIA SANCHES MARIA APARECIDA MEDEIROS MAURO BELLESA MIGUEL GLUGOSKI OTTO FILGUEIRAS FOTOLITOS E IMPRESSÃO GRAPHBOX-CARAN TIRAGEM: 26.000 EXEMPLARES FAPESP RUA PIO XI. No I SOO, CEP OS468-90 I ALTO DA LAPA - SÃO PAULO - SP TE L. (O - I I) 3838-4000 - FAX: (O - I I) 3838-41 17 ESTE INFORMATIVO ESTÁ DISPONÍVEL NA HOME-PAGE DA FAPESP: http://www.fapesp.br e·mail: mariluce@fapesp.br
SECRETARIA DA CIÊNCIA TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
cana-de-açúcar atravessou cinco séculos como uma das principais fontes de riqueza do Brasil. Trazida pelos portugueses da Ilha da Madeira em 1502, adaptou-se perfeitamente ao solo e clima local. Agora, na virada do século, a ciência brasileira está preparada para tornar essa cultura ainda melhor. O Genoma Cana- primeiro seqüenciamento de um vegetal realizado no Brasil - está chegando ao seu término, graças, em grande parte, à experiência da equipe e da infra-estrutura instalada. Dos 32laboratórios que iniciaram o trabalho, 23 haviam participado do Genoma Xylella, o pioneiro projeto de seqüenciamento da bactéria Xylella fastidiosa, que chamou a atenção da comunidade científica internacional para a pesquisa brasileira. Os 240 pesquisadores, de 60 laboratórios, identificaram cerca de 80 mil genes da cana-de-açúcar. Hoje sabe-se exatamente como a planta vive, se reproduz e morre. Este mapeamento permitirá que, em dois anos, os laboratórios produzam as primeiras variedades do vegetal resistentes a duas pragas: a bactéria Leifsonia xyli e o fungo-do-carvão. O trabalho foi tão bom que o Genoma Cana deverá terminar quase um ano antes do previsto, com um custo 50% mais barato que os US$ 8 milhões aprovados pela FAPESP. A história de mais uma epopéia vivida pelos pesquisadores brasileiros é o tema de capa de Pesquisa FAPESP, contada em detalhes pelo editor de Ciência, Carlos Fioravanti. O mês de novembro foi pródigo em boas notícias. Na página 14 há uma reportagem sobre a revolução no pós-doutoramento colocada em curso pela FAPESP. A nova política amplia os prazos de duração das bolsas de pós-doutoramento no país e reformula o intercâmbio com centros
A
de pesquisa no exterior. O principal objetivo é dar condições de trabalho mais atraentes para os jovens doutores dentro do sistema paulista de pesquisa, vinculando-os aos grupos de excelência de São Paulo, ao mesmo tempo em que se garante seu treinamento no exterior, em estágios articulados com o desenvolvimento do projeto de pesquisa no Estado. Essa nova política poderá ter um significativo impacto contra a evasão de cérebros para centros no exterior. Há outras reportagens que trazem boas novas. Na seção de Tecnologia é apresentado um cateter de fibra óptica com luz laser, criado no Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento da Universidade do Vale do Paraíba (Univap). Ele terá importantes aplicações na identificação e restauração de artérias entupidas e para eliminar determinados tipos de tumor. Realizado com a empresa Tecnobio, o trabalho é resultado de mais uma boa parceria entre universidade e empresa. Na página 54, uma surpresa: por que os poderosos fabricantes de automóveis instalados na região do ABC ficam em polvorosa quando revoadas de inocentes libélulas sobrevoam os pátios lotados de carros? Uma pesquisa do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que esses insetos não são tão inocentes assim. Ao confundir o capô brilhante dos carros com lâmina de água límpida, as libélulas depositam ovos na !ataria, que reagem com o forte calor e produzem um ácido. Resultado: a pintura dos automóveis zero quilômetro, que ainda nem foram vendidos, fica irremediavelmente estragada. Não deixe de ler, na página 36, a entrevista com o físico José Leite Lopes. É uma boa oportunidade para conhecer o trabalho científico do veterano cientista, de 82 anos. PESQUISA FAPES P · NOVEMBRO DE 2000 • 5
MEMÓRIAS
Mesa de trabalho
Acervo Freud visita São Paulo e Rio A maior exposição montada sobre Sigmund Freud (1856-1939), organizada pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, chegou a São Paulo em outubro depois de passar por Washington, Nova York, Viena e Los Angeles. Ela fica no Museu de Arte de São Paulo até 17 de dezembro e no começo do ano segue para o Rio. Os organizadores brasileiros de Freud: Conflito e Cultura criaram uma segunda mostra para situar o país dentro do movimento psicanalítico, batizada de Brasil: Psicanálise e Modernismo. 6 • NOVEMBRO DE 1000 • PESQUISA FAPESP
O gabinete onde Freud lia e escrevia foi remontado com seus objetos pessoais, como estatuetas antigas, caneta e óculos
Foto rara
A exposição traz cerca de 200 documentos, livros, cartas, filmes e fotos sobre as teorias e a vida pessoal de Freud, como esta, dele com a mãe, Amália, tirada na década de 20
Identificação Placa do consultório em Londres, a partir de 1938
Vida em Londres Em 1938, Freud foi para a Inglaterra e remontou seu consultório. Na exposição, a poltrona ao lado é original, de 1900. O lendário divã é uma réplica, mas o tapete que o cobre é o mesmo sobre o qual Freud morreu.
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Referência brasileira
Psicanálise profissionalizada
Um caso histórico
Psicologia Mórbida na Obra de Machado de Assis,
A alemã Adelheid Kock, da Associação Psicanalítica Internacional, chegou ao Brasil em 1936 e psicanalisou analistas brasileiros. Seu trabalho legitimou a Sociedade de Psicanálise de São Paulo.
Foi a partir da análise do caso de Anna O . (Bertha Pappenheim, 1859-1936), que sofria de paralisia facial e alucinações, que Freud chegou ao conceito de associação livre.
do médico mineiro Luiz Ribeiro do Vale, de 1916, é o primeiro livro a tratar das idéias freudianas no Brasil.
PESQUISA FAPESP • NOVEMBRO OE 1000 • 7
OPINIÃO
MAURÍ C IO
N.
FROTA
Metrologia é Vida A ciência da medição é também a da competitividade cidadão do mundo contemporâneo tem Inúmeros são os benefícios para a sociedade gerados pelas sociedades científicas. A própria seu destino atrelado a números e medi"descrição factual" do hoje já incorporado condas. Exposto às exigências naturais das sociedades de consumo, talvez nem se aperceba ceito de physical quantity, formulado por James Clerk Maxwell (1873) em seu Treatise on electride que por trás do "peso correto e da medida exata" subjaz um trabalho notável das sociedades city and magnetism, surgiu para fundamentar a técnico-científicas, que desempenham um papel formulação axiomática de uma nova álgebra (quantity calculus) capaz de correlacionar "unifundamental no progresso das ciências e no amplo processo de desenvolvimento econômico e dades de medida" e "grandeza física", à época social que visam ao bem comum. conceito de impasse e polêmica no fórum das sociedades científicas. Esse cidadão talvez nem saiba que Foi esse fundamento básico, que o simples fato de aceitar ou quesinter-relaciona expressões matetionar resultados de medições no máticas e incorpora a regularidade curso de sua vida torna-o parceiro "As sociedades experimental das leis físicas, que natural dessas organizações técnitécnico-científicas permitiu a Helmholtz formular a co-científicas. Assim ocorre quanestão a serviço teoria das medições fundamentado do da necessidade de verificação da humanização em trabalhos anteriores de notáda febre do filho; da dosagem físida função veis físicos e matemáticos, permico-química de propriedades e cados números, racterísticas do sangue humano; tindo-lhe postular que as possibilidades de realização de medições do tempo de exposição à radioterapia; da indicação do fiel das baempíricas diretas são consideradas lanças mais rudimentares que viapropriedade essencial da própria bilizam o comércio; da tarifação grandeza física . do consumo de serviços básicos e No campo da ciência das mediessenciais, como os de fornecimenções, fortaleceram -se os fóruns científicos e tecnológicos interesto de água, energia, telefone; bem sados em, finalmente, criar um siscomo das inúmeras outras circunstema universal de unidades de medida, agretâncias em que a medição afeta direta ou indiregando não apenas os campos da mecânica e da tamente o bolso, o trabalho, a vida. eletricidade, mas incorporando os fenômenos Nesse contexto, pode-se afirmar que as sociedades técnico-científicas estão a serviço da hutérmicos, a termodinâmica, a fotometria, a radiomanização da função dos números, da discussão metria e a química. Essa pode ser considerada a conceituai sobre sua validação, o que se verifica estratégia mais decisiva que viabilizou a integração pela sua preocupação em quantificar para qualidas ciências, culminando com o entendimento ficar. Qualificar produtos e processos para a exisuniversal da metrologia como ciência das meditência do cidadão; para a vida, portanto. Utilizar ções ou como ciência da competitividade pela importância da technia como elemento de supea metrologia para medir a qualidade do ar, da ração de barreiras técnicas impeditivas ao desenágua, dos alimentos, dos medicamentos, dos volvimento do comércio internacional. produtos de consumo básicos, do meio ambiente citadino e rural e de tudo o que interfira direta ou indiretamente na vida do cidadão é consolidar a ciência e a tecnologia como instrumentos MA URICIO N. FROTA, da PUC-R], é Presidente da Sociepolíticos da reforma social segura e responsável. dade Brasileira de Metrologia
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8 • NOVEMBRO DE 2000 • PESQUISA FAPESP
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GOVERNO DO ESTADO DE
Sテグ PAULO
Secretaria da Ciテェncia, Tecnologia e Desenvolvim ento Econテエmico
Rua Pio XI, 1500 -Alto da Lapa 05468-90 1 -Sテ」o Paulo- SP Tel.: (11) 3838 4000 www.fapesp.br
POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
ESTRATÉGIAS Novos projetos genomas à vista
A bactéria Gluconacetobacter: produtividade
Depois de decifrado o código genético da bactéria Xylella fastidiosa por pesquisadores de São Paulo e de a FAPESP estar financiando cerca de dez outros projetas semelhantes, dois novos trabalhos de seqüenciamento de genes de microrganismos foram anunciados. O Ministério da Ciência e Tecnologia decidiu criar a Rede Nacional do Projeto Genoma Brasileiro. "O objetivo é ampliar a competência em todo o país em infra-estrutura e capacitação de recursos humanos na manipulação da biologia molecular e da engenharia genética", explica Kumiko Mizuta, coordenadora-geral de Programas de
Agropecuária e Biotecnologia, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O órgão está em fase de definição do microrganismo e de seleção de laboratórios. O prazo de execução do projeto é de um ano. Também a Fundação de Amparo à Pesquisa doEstado do Rio de Janeiro (Faperj) lançou o seu projeto genoma, o Riogene. O trabalho será decifrar o código genético da bactéria Gluconacetobacter diazotrophicus,
que atua como fertilizante natural do solo e é importante para algumas culturas. O custo do projeto está estimado em US$ 5 milhões e deve durar 36 meses. •
MEC cria portal de periódicos científicos O Ministério da Educação (MEC) criou um portal para que a comunidade acadêmica de 71 instituições de ensino superior (IES) de todo o Brasil tenha acesso integral ao conteúdo de periódicos internacionais por meio da Internet. Até agora, apenas universidades e institutos do Estado de São Paulo tinham acesso às principais revistas científiIO • NOYEHBRO OE 1000 • PESQUISA FAPESP
cas por meio do Programa Biblioteca Eletrônica (ProBE), criado pela FAPESP. O portal do MEC vai beneficiar 550 mil professores e alunos de graduação e pós-graduação, que poderão acessar 1.500 periódicos da Academic Press e Elsevier. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) vai liberar R$ 1,5 milhão para compra de equipamentos de informática para montagem de ilhas de acesso
ao portal nas instituições federais. Segundo o presidente da Capes, Abílio Baeta Neves, os repasses serão feitos assim que os convênios com as instituições forem aprovados. "As ilhas de acesso beneficiarão, sobretudo, os estudantes, porque a maioria dos professores já tem acesso à Internet", afirmou. Por meio do portal, será possível acessar edições desde 1995 de importantes revistas, como Journal of Econometrics, International ]ournal of Heat and Mass Transfer, Physics Letters, Tetrahedron e New England ]ournal of Medicin, entre ou-
tras. O site para mais informações é www. periodicos. capes.gov.br. •
Estudante premiada no exterior O congresso da Sociedade Americana de Crustáceo, realizado no México, premiou o trabalho de uma brasileira. Renata Biagi Garcia, doutoranda do curso de pós-graduação em Biologia Comparada da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, recebeu o The Best Student Award pelo
estudo sobre o crustáceo Ermitão ( Calcinus tibicen) da região de Ubatuba, litoral de São Paulo. A pesquisa foi integralmente financiada pela FAPESP. Entre os 50 trabalhos selecionados, o dela concorreu com o de outros alunos de instituições de vários países, inclusive Estados Unidos, e ficou em primeiro lugar na categoria Pôster. O estudo foi apresentado na forma de um pôster de 1 metro por 1 metro com informações sobre a pesquisa, fotos da região e do animal, além de gráficos e tabelas com resultados. O crustáceo Ermitão tem um importante papel no ecossistema marinho e ocorre da Flórida até a costa brasileira. "O prêmio reconheceu o mérito do trabalho científico desenvolvido no Brasil", comemora Renata, que ganhou um certificado, uma anuidade para 2001 da Sociedade Americana de Crustáceo e um cheque • deUS$ 50.
Sai nova edição de revista eletrônica Está disponível para assinatura The ]ournal of Venomous Animais and Toxins,
publicada pelo Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentas (Cevap), da Universidade Estadual Paulista (Unesp ), em Botucatu. O centro hoje está ligado à Faculdade de Medicina. Primeira revista eletrônica científica brasileira, The Journal of Venomous começou a ser feita totalmente em disquetes em 1995 e passou a CDROM em 1998, em edições Renata Garcia: mérito reconhecido
Laranjas com mais qualidade ~ ~
CD: todas as edições em uma bianuais, sempre em inglês, distribuída para pesquisadores da Sociedade Brasileira de Toxinologia e Sociedade Internacional de Toxinologia. "Desde o início optamos por traduzir todos os textos para o inglês para atingir os centros importantes que estão no exterior e não apenas os brasileiros", diz Heloisa Maria Pardini Toledo, editora de texto da revista. A e dição atual engloba as anteriores, de 1995 a 2000, e tem 131 documentos, entre papers originais, tese, e revisões. Para adquirir uma assinatura da revista basta acessar os sites www.cevap.org.br ou www.scielo.br/jvat. •
Em dois anos, o mercado externo só vai aceitar frutas produzidas sob um regime de produção com certificação de qualidade que garanta padrões mínimos exigidos mundialmente, como já vem ocorrendo há algum tempo com uva e manga. Agora chegou a vez da laranja. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) está iniciando o Projeto Estratégico de Produção Integrada de Citros do Brasil (PIFCitros), preparado com o objetivo de apoiar e revitalizar o negócio brasileiro de citros para exportação, que gira anualmente em torno de US$ 1,5 bilhão. Sua implantação vai beneficiar diretamente, numa primeira fase, 30 mil citricultores dos Estados de São Paulo, Sergipe e da Bahia, responsáveis por 70% da produção do país. O projeto abrangerá uma área equivalente a 10 mil hectares nos três Estados. A Embrapa avalia que, num futuro próximo, a ativi-
dade apresenta risco iminente de perda de mercado, em razão da crescente exigência do consumidor internacional por certificados que atestem a garantia de qualidade ambiental. O PIFCitros prevê uma aplicação total de R$ 6,7 milhões, sendo R$ 4,7 milhões oriundos do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, na forma de bolsas, e R$ 2 milhões de contrapartida da iniciativa privada. Aderaldo de
Plantação de laranjas é o pri ncipal alvo do projeto
Souza Silva, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e líder no projeto pela estatal, diz que o trabalho vai apoiar os produtores de laranja na obtenção de padrões de produção
O lucro do caro coquetel anti-Aids Enquanto as mais de 60 pesquisas em andamento realizadas com o objetivo de desenvolver uma vacina anti-Aids não surtem resultado, o melhor é apertar ainda mais o cinto e gastar com
a compra e distribuição dos medicamentos que compõem o coquetel para tratar a doença. No Fórum 2000, que reuniu em novembro especialistas da América Latina e do Caribe para discutir a epidemia, Pedro Chequer - ex-coordenador do Programa Nacional de Aids e atual supervisor do Cone Sul para Unaids, organismo das Nações Unidas - fez a seguinte conta: entre 1997 e 1999, foram
ambientalmente corretos. "O sistema de Manejo da Produção Integrada é garantia da produção de alimentos seguros à saúde do consumidor associada à elevação da competitividade das empresas", afirma. Além de equipes da Embrapa e da Universidade Estadual Paulista (Unesp ), o projeto tem participação da Coopercitrus, Fundecitrus e Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro, entre outros. •
evitadas 146 mil internações de pacientes com Aids, com uma economia de US$ 421 milhões. "A discussão não é apenas moral e ética, mas também econômica", diz Chequer. "No Brasil, o saldo do investimento no tratamento já é positivo economicamente." Segundo Badara Samb, consultor da Unaids, o gasto anual com o coquetel varia entre US$ 2,5 mil e US$ 9,1 mil por paciente. Entre os países da América Latina e do Caribe, só Brasil, Uruguai, Argentina e VeChequer: o negócio nezuela oferecem os remé• é prevenir dios gratuitamente.
Pesquisadores ganham menção Três projetas de pesquisa financiados pela FAPESP receberam menção homosa no Prêmio Governador do Estado deste ano. Josiane de Castro Dias, Fábio Santos da Silva e Evandro Luís Nohara estudaram aplicações de blindagem eletromagnética na área aeroespacial. Eles trabalharam nos Instituto de Aeronáutica e Espaço e no Centro Técnico Aeroespacial, de • São José dos Campos.
Jornalismo científico na Unicamp A inscrição para o curso de especialização em Jornalismo Científico do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp ) poderá ser feita até o dia 5 de janeiro. Mais informações no site www.uniemp.br/labjor. • PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 2000
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POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
A arte ajuda a ciência Na cerimônia de entrega do Nobel de 1980, o diretor Thomas Gover perguntou a seus colegas: "Vocês podem imaginar um exemplo em que um artista forneceu a peça que faltava para alguma compreensão do mundo físico?" A arte não ofereceu nada à ciência, disseram os participantes. Robert S. RootBernstein, do Departamento de Humanidades Médicas da Universidade Estadual de Michigan, nos Estados Unidos, mostrou em artigo na revista Nature que eles estavam errados. Para o pesquisador, as artes contribuem freqüentemente para a ciência moderna. Os artistas muitas vezes inventam estruturas novas que os cientistas descobrem posteriormente na natureza. Virologistas tentando compreender, nos anos 50, a estrutura das capas de proteínas que envolvem vírus esféricos, como os da pólio, foram guiados pelo conhecimento das estruturas geodésicas do arquiteto norte-americano Richard Buckminster Fuller. O artista Wallace Walker, quando estudante nos anos 60, foi solicitado a fazer um objeto tridimensional a partir de uma folha de papel, com dobraduras e cola. A matemática Doris Schattschneider determinou que a escultura de papel de Walker era a primeira de uma nova classe de objetos geométricos hoje chamados caleidociclos. Muitas técnicas científicas se originaram também da arte. A anamorfose - mudança de forma- derivou da descoberta do desenho de perspectiva 12 · NOVEMBRO DE 2000 • PESQUISA FAPESP
A perspectiva de quadros como Anunciação ( 1475), de Leonardo da Vinci, ajudou teorias científicas
na Renascença: a representação de um objeto tridimensional numa superfície plana. Essas transformações se tornaram centrais para D'Arcy Thompson e Julian Huxley - ambos descrevem processos evolutivos e embriológicos como distorções anamórficas. Mitchell Feingenbaum, um dos pioneiros da teoria do caos, acha que a compreensão de como um artista pinta poderá proporcionar os insights necessários para melhorar a ciência. "O que os artistas conseguiram foi perceber que só uma pequena parte do todo é importante, e só depois procuram ver qual é ela", diz Feingenbaum. "Por isso, eles podem fazer uma parte da minha pesquisa por mim." •
MIT terá complexo sobre cérebro O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, vai erguer um complexo de prédios para estudar exclusivamente o cérebro. O objetivo é se tornar líder mundial nas pesquisas sobre neurociências. Já estão disponíveis
para investimento US$ 350 milhões, embora o custo dos prédios deva ultrapassar este valor. O complexo abrigará o novo instituto, três departamentos já existentes e um novo centro de imagens. •
Aldeias viram reserva genética Algumas características especiais de moradores de dez aldeias do sul da Itália estão transformando a região numa reserva genética. Como os aldeões pouco se misturaram a populações de outras regiões e têm uma história genética que remonta diretamente aos
gregos, os cientistas querem saber se a análise do DNA desses habitantes poderá ajudar nas pesquisas sobre mal de Alzheimer, câncer, hipertensão e asma, entre outras. A idéia é tentar descobrir a origem de doenças herdadas por meio da identificação de diferenças genéticas em uma população homogênea. Os moradores das dez aldeias italianas concordaram em participar depois que os pesquisadores explicaram que o estudo poderá ajudar a desenvolver novos medicamentos. Os aldeões italianos não estão sozinhos. A empresa de biotecnologia australiana Autogen comprou do governo de Tonga, no Pacífico Sul, os direitos sobre a variedade genética dos 108 mil habitantes. Como eles vivem praticamente isolados, a corporação acha que os genes podem oferecer dados para as causas do câncer de mama, doenças do fígado e úlceras do estômago. •
França quer mais pesquisa na web A Academia de Ciências da França entregou um relatório ao presidente Jacques Chirac pedindo maior divulgação dos
Os doutores americanos de Cuba Em outubro, os Estados Unidos passaram a permitir a venda de medicamentos para Cuba, pondo fim a 40 anos de sanções econômicas. Em Havana, a medida foi recebida com desdém pelo governo de Fidel Castro, segundo informa a revista Economist. Durante todos estes anos, o embargo norte-americano não impediu que Cuba construísse um sistema de saúde modelo e passasse a exportar médicos para outros países pobres. Em 2000, estima-se que existam médicos cubanos trabalhando em mais de 50 países. Cuba também se orgulha de receber alunos de 19 países latino-ameri-
resultados de pesquisas públicas na Internet. "Se a Internet tem um papel a desempenhar para a economia e o comércio, tem também, desde sua origem, vocação para tornar-se plataforma universal de difusão da informação pública", enfatiza o documento. "As instituições sustentadas com dinheiro do contribuinte deveriam considerar que é parte integrante de sua missão colocar na rede os resultados que acumularem", recomenda o relatório. Gilles Kahn, diretor do Instituto Nacional de Pesqui-
canos, que estudam medicina de graça na nova escola instalada nos arredores de Havana, com até a alimentação paga pelo governo. Agora, Fidel decidiu oferecer SOO bolsas para estudantes de medicina das regiões mais pobres dos Estados Unidos. Bennie Thompson, congressista negro do Estado do Mississippi, aceitou a oferta: 250 norte-americanos negros e 250 latinos e indianos irão para Cuba. A oferta de Fidel parece algo extraordinário para um país com tantos problemas. Mas, lembra a Economist, é uma maneira espetacular de fazer boa propaganda da ilha. •
sa em Informática e Automação, um dos autores do relatório, diz que não há nada de mais na reivindicação. "Trata-se de incitar os organismos públicos a informar via Internet os resultados de suas pesquisas." •
quadrados em cinco blocos e está inserido no complexo cultural e educativo Cidade das Artes e das Ciências. O diretor da instituição, Manuel Toharia, explicou que a instalação parte de uma nova concepção de museu, em que não existem coleções próprias e permanentes, mas acervos que se renovam continuamente em períodos de seis meses a cinco anos. Estimase que o complexo cultural seja visitado por 3 milhões de pessoas quando estiver totalmente pronto. •
Ciência russa começa a se mover Depois de amargar uma década praticamente perdida, com orçamento reduzido a um quarto do que recebia nos áureos tempos do comunismo e perder para o exterior ou para a nascente iniciativa privada local 60% dos seus pesquisadores, a ciência russa dá sinais de que pode estar renascendo. Ainda não há motivos para grandes comemorações, mas o pior parece ter ficado para trás. Uma das primeiras medidas do presidente do país, o ex-espião da KGB Vladimir Putin, eleito em maio, foi extinguir o antigo Ministério da Ciência e Tecnologia e criar, em seu lu-
Valência ganha Museu de Ciências O Museu de Ciências Príncipe Felipe, uma das maiores instalações do mundo no gênero, foi aberto em novembro em Valência, na Espanha. O local tem 42 mil metros
Alfe rov: Nobel ani ma russos
gar, uma superpasta. Trata-se do renovado e fortalecido Ministério da Indústria, Ciência e Tecnologia, que abriga mais de 1.400 empresas, sobretudo as do complexo industrial militar. A economia nacional, depois de anos de encolhimento, voltou a crescer. Resultado nos laboratórios: pela primeira vez em quase uma década, o salário médio dos pesquisadores federais ultrapassou o dos trabalhadores em geral, batendo na casa dos US$ 80 - uma quantia ainda irrisória, mas crescente. Até o Prêmio Nobel de Física deste ano, dividido entre o russo Zhores Alferov, o alemão naturalizado americano Herbert Kroemer e o norte-americano Jack Kilby, serviu de estímulo para os ex-soviéticos espantarem o desânimo que imperava nas universidades. •
ESA escolhe novos projetos A Agência Espacial Européia (ESA) selecionou preliminarmente seis das 49 propostas de novos projetos de pesquisa. São eles: Telescópio Espacial de Próxima Geração, em cooperação com a Nasa, que deverá substituir o telescópio espacial Hubble em 2008; Storm, projeto de estudo das erupções solares; Solar Orbiter, sonda para pesquisa da superfície e da atmosfera do Sol; Eddington, satélite com telescópio para estudo das oscilações das estrelas e das passagens dos planetas; Master, adaptação da Mars Express para sobrevoar Marte e asteróides; Hyper, para testar novos giroscópios atômicos e detectores de movimento de altíssima precisão; e Casimir, projeto de estudo da natureza fundamental do vácuo espacial. • PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 2000
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POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
BOLSA
Uma revolução no pós-doe
APESP, que nos últimos anos tem procurado multiplicar e aperfeiçoar os mecanismos de inserção de recémdoutores no sistema paulista de pesquisa, soma agora um instrumento poderoso a seu arsenal de ataque ao velho problema da evasão de cérebros do país: uma nova política de pós-doutoramento. Na verdade, essa política " vem dar continuidade e sistematizar diretrizes adotadas ao longo do último ano", diz o diretor científico da FAPESP, José Fernando Perez. Um de seus elementos básicos é considerar prioritária a linha regular de bolsas de pós-doutoramento no país, que passa a ter seu prazo máximo de duração estendido de dois para três anos. E outro: foi ampliada para quatro anos a duração máxima dessas bolsas quando vincu14 • NOVEMBRO DE 1000 • PESQUISA FAPESP
ladas a Projetos Temáticos, a Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) e aos programas de Apoio aJovens Pesquisadores, Genoma e Biota. A nova política marca também uma reorientação no intercâmbio com centros de pesquisa no exterior, que, mais que o treinamento individual e de longa duração do jovem doutor, se dirige para os benefícios que esse intercâmbio possa trazer ao crescimento do grupo nacional de pesquisa a que o pós-doutorando es-
tiver integrado. Assim, possibilita-se a ele a realização de um ou mais estágios de pesquisa no exterior, com duração total de até um ano, desde que fique demonstrado que tais estágios podem trazer benefícios concretos aos projetos do pós-doutorando e de seu grupo de pesquisa. E os estágios serão permitidos sem que se subtraia o tempo neles consumido do prazo total de vigência da bolsa (em termos
Nova política dá prioridade a bolsas de pós-doutoramento no país, amplia seus prazos de duração e reformula intercâmbio com centros de pesquisa do exterior
de pesquisa. Mantê-los no país completa Perez - se apresenta hoje como o grande desafio para a expansão e a consolidação do sistema brasileiro de pesquisa." Dentro desse quadro, faz todo o sentido que deixem de ser consideradas prioritárias as solicitações de bolsas para pós-doutoramento no exterior encaminhadas por recém-doutores sem vínculo empregatício sólido com instituições de pesquisa do Estado ou sem bolsa de pós-doutoramento no país concedida pela FAPESP. E também que não mais se considere prioritária a concessão de bolsa de pesquisa no exterior a pesquisador firmemente vinculado a uma instituição de pesquisa paulista, por período superior a um ano. Dentro da competição internacional
práticos, um pós-doutorando com pesquisa ligada a um temático, por exemplo, além da bolsa de até quatro anos no país, pode ser apoiado pela FAPESP por até mais um ano em seus estágios externos). Mais um ponto a destacar: dentro da nova política de pós-doutoramento, a figura do supervisor, um pesquisador mais experiente que acompanha de perto e colabora com
o trabalho do jovem doutor, também ganha mais importância. Por essas vias, a FAPESP está dando forma a uma política que "alia o objetivo de assegurar aos jovens doutores processos de formação e aperfeiçoamento de alta qualidade à determinação de fortalecer os núcleos de excelência do Estado de São Paulo", diz Perez. E cria, nesse processo, opções novas e atraentes para a fixação dos jovens doutores no Estado. "Isso é fundamental, porque eles são, sem dúvida, o elemento mais precioso do nosso sistema
- As novas decisões da FAPESP em relação ao pós-doutoramento somam-se a uma série de iniciativas anteriores que já visavam à criação de um ambiente favorável à absorção dos jovens doutores no sistema paulista de pesquisa - e, em conseqüência, à multiplicação dos grupos de excelência no Estado, capaz de transformá-lo num centro avançado de pesquisas, com clara inserção no sistema internacional de produção do conhecimento científico e tecnológico. Uma das iniciativas mais evidentes nesse sentido é o Programa de Apoio a Jovens Pesquisadores, lançado em 1995 e que, até outubro deste ano, apoiou 250 projetos, com investimentos de cerca de R$ 64 milhões. Nesse programa, um recém-doutor com currículo excelente e disposto a criar um novo grupo de pesquisa num centro emergente pode receber auxílio de valor significativo para seu projeto e, caso não tenha vínculo empregatício com a instituição na qual desenvolve suas atividades, também uma bolsa com duração máxima de quatro anos, além de uma soma anual destinada ao financiamento de viagens para participação em eventos e atividades de intercâmbio com centros no exterior. PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 2000 • IS
Há que se considerar, no entanto, um contexto mais amplo no esforço da Fundação para evitar a evasão de cérebros do Estado para o exterior. E nele têm papel decisivo os projetas temáticos (hoje estão em andamento 250 desses projetos de pesquisa de grande porte, dos 520 aprovados desde 1990), grandes programas como o Genoma e o Biota e os primeiros dez Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão. Quando se soma isso às centenas de grupos de pesquisa apoiados nas linhas regulares de auxílios e bolsas da FAPESP, a conclusão obrigatória é que há, em São Paulo, "condições excelentes de treinamento e especialização para os recém-doutores, na grande maioria das áreas do conhecimento", como diz Perez. E condições, acrescenta ele, para que o sistema paulista de pesquisa possa absorver "cerca de mil doutores por ano': Registre-se que o Brasil forma anualmente cerca de 5 mil doutores, e São Paulo pouco mais de 60% deles- parte dos quais, depois de formados, volta a seus Estados de origem.
do seu pós-doe dentro do temático Problemas Decorrentes da Cristalização dos Vidros, no laboratório de Materiais Vítreos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), dirigido pelo professor Edgar Dutra Zanotto, que é também coordenador adjunto da diretoria científica da FAPESP. Sua área de pesquisa é a concorrência entre sinterização e cristalização de materiais vítreos, que queimam em alta temperatura. Doutorado no Instituto Balseiro da Universidade Nacional de Cuyo, Argentina, durante uma palestra em Buenos Aires Prado conheceu Zanotto, que o convidou para conhecer as pesquisas desenvolvidas em São Carlos. "Achei o trabalho de nível internacional e decidi pleitear uma bolsa para fazer o pós-doe no Brasil." Segundo ele, pesou em sua decisão a qualidade dos trabalhos científicos publicados pelo grupo de Zanotto, o nível de desenvolvimento das pesquisas, principalmente na área de cristalização, e o intenso contato do laboratório paulista com grupos na Alemanha, Rússia e Esta-
dos Unidos. Assim, ele chegou em outubro de 1998 com a mulher, três filhos e uma bolsa do Conselho Nacional de Ciência (Conicet) da Argentina, por um período de dois anos. A partir deste mês de novembro até outubro de 2001, ele tem uma bolsa da FAPESP e, em seguida, volta para a Argentina, por exigência do Conicet, por um período mínimo de dois anos. "Gostei do Brasil e gostaria de voltar. Pretendo continuar meu trabalho de pesquisa em conjunto com a equipe do laboratório da UFSCar", diz ele. Dirk Koedam, um holandês de 40 anos, está fazendo o pós-doutoramento dentro do temático Organização Colonial e Padrões de Reprodução em Abelhas Indígenas, coordenado pela professora Vera Lúcia Imperatriz Fonseca, no Departamento de Biociências do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP). Ali ele desenvolve uma pesquisa sobre abelhas sem ferrão e sua importância para o meio ambiente, tema que o interessa desde os tempos de graduação na Universidade de Utrecht e que o ocupou também durante o doutorado, quando estudou as abelhas jataí, valendo-se inclusive de um intercâmbio com a Costa Rica. "Decidi vir para o Brasil,
Centro atrativo de estrangeiros -
Que há boas condições de treinamento para recém-doutores em São Paulo, parecem confirmá-lo os estrangeiros de todos os quadrantes que fazem atualmente neste Estado seu pós-doutoramento. Quantos são eles? Mais de uma centena, com certeza, porque numa amostra de 104 temáticos, cujos coordenadores, em resposta a uma solicitação da FAPESP, informaram se contam ou não com pós-does estrangeiros, 42 deles confirmaram a participação de jovens doutores do exterior nos projetas sob sua responsabilidade, em numero variável de um a cinco. Os depoimentos desses estrangeiros são extremamente interessantes. Miguel Oscar Prado, por exemplo, um argentino de 42 anos, está fazen16 · NOVEMBRO DE 2000 • PESQUISA FAPESP
Aliados poderosos Os Estados Unidos andam preocupados com a situação de seus pós-doutorandos. Foi por isso que há cerca de dois meses a Academia Nacional de Ciências, a Academia Nacional de Engenharia e o Instituto de Medicina divulgaram diretrizes para melhorar a sorte dos jovens pesquisadores, que vinham reclamando com freqüência dos baixos salários, das longas jornadas e do parco reconhecimento ao seu trabalho. As diretrizes, segundo notícia publicada na Nature número 6801, de 14/09/2000, apareceram depois de uma extensa investigação do pro-
blema, ao longo do ano passado, de que resultou inclusive o relatório Enhancing the Posdoctoral Experience for Scientists and Engineers. Os pós-doutorandos nos Estados Unidos, segundo a revista britânica, situam-se num mundo nebuloso entre os estudantes de pós-graduação e os membros dos corpos docentes, geralmente sem nenhum status oficial. Em razão disso, raramente têm acesso aos benefícios concedidos a outros grupos e queixam-se de que sua condição indefinida os deixa vulneráveis à negligência e à exploração de chefes de laboratório.
primeiro, porque o tipo de abelha que era o meu alvo só se encontra aqui." Mas uma vez que "o Brasil está caminhando bem no sentido de desvendar o comportamento dessas abelhas", enquanto na Holanda a situação de pesquisa em etologia é difícil, ele faz planos de permanecer no país, onde já está há quatro anos, embora sua bolsa só vá durar mais um ano. Imagina que poderia ficar dando aulas em universidades. Até porque tem um estímulo adicional para a permanência: sua namorada é uma brasileira, professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp). No caso da russa Marina Vachkovskaia, 25 anos, pós-doutoranda ligada ao temático Fenômenos Críticos em Processos Evolutivos e Sistemas em Equilíbrio, no Instituto de Matemática da USP, as condições difíceis de trabalho para os pesquisadores depois da dissolução da União Soviética foram um impulso decisivo para aportar no Brasil. Ela chegou em março de 1998, acompanhando o marido, Serguei Popov, 28 anos, que conseguira bolsa da FAPESP para seu pós-doe também na área de matemática. Depois de um período, Marina obteve uma bolsa do CNPq e, mais recentemente, bolsa da FAPESP para se dedicar a um projeto
As diretrizes das influentes academias que resolveram se aliar aos pós-doutorandos estão distribuídas em dez pontos, que são os seguintes: conceder reconhecimento institucional, status e remuneração apropriada; desenvolver políticas e padrões distintos para jovens cientistas; desenvolver mecanismos para regularizar a comunicação com orientadores, instituições, organizações financiadoras e associações; monitorar e fornecer avaliações formais de desempenho; garantir o acesso ao seguro-saúde; estabelecer limites para o tempo total de trabalho na condição de pós-doutorando; convidar jovens cientistas a participar da criação de
de pesquisa no campo da Teoria da Probabilidade. Para o casal de matemáticos, a bolsa "representava bastante dinheiro", num momento em que na Rússia não tinham chances de ganhar qualquer coisa. Agora, numa situação que ambos consideram muito boa, em que não poupam elogios à qualidade do trabalho científico do Instituto de Matemática, inclusive pelo intercâmbio intenso com os nomes mais respeitados internacionalmente na área, o casal está disposto a permanecer no Brasil. Serguei Popov foi aprovado em concurso para dar aulas na USP e ela pretende seguir o mesmo caminho. "Queremos ter filhos brasileiros", planeja. Ambos apanharam um pouco para se adaptar e aprender o português. "Mas não tivemos maiores problemas porque no Instituto de Matemática todo mundo fala inglês:' A idéia de ficar no país é recorrente, como demonstra o exemplo de
normas, definições e condições de exercício de seu trabalho; fornecer orientação concreta de carreira; melhorar a qualidade dos dados sobre concições de trabalho; e melhorar o processo de transição dos jovens pesquisadores para empregos regulares. Resta saber se os empregadores dos jovens cientistas vão seguir as recomendações. De qualquer sorte, para eles as diretrizes trazem um novo alento. "Acho que o endosso de instituições respeitadas vai fazer uma enorme diferença a nosso favor", disse Pauline Wong, presidente da associação de pós-doutorandos.da Universidade John Hopkins, em Baltimore.
Olivier François Vilpoux, um francês de 32 anos, que está fazendo seu pós-doe dentro do projeto temático Prospecção de Novos Amidos para a Indústria de Alimentos, coordenado pela professora Marney Pascoli Cereda, no Centro de Raízes e Amidos Tropicais, da Unesp de Botucatu. Apoiado numa medida do governo francês que permite aos alunos de curso superior substituir o serviço militar por trabalho de cooperação técnica remunerado, na área de sua especialização, Vilpoux, um administrador de empresas com mestrado na Universidade de Nancy, decidiu vir para o Brasil em 1993, aproveitando uma oferta inédita de vagas. "Fazia doutorado na França, cursando matérias na USP", diz. Defendeu sua tese de doutorado lá e logo depois iniciou sua pesquisa de pósdoutoramento dentro do temático, na Unesp, em projeto financiado pela FAPESP. Casou-se e diz que fica no Brasil. O seu trabalho de pesquisa é desenvolvido junto a pequenos produtores de alimentos das regiões Sul e Sudeste e em algumas áreas do Maranhão. Esses são apenas alguns exemplos, entre muitos outros, da capacidade de atração do sistema paulista de pesquisa, mesmo antes da nova política de pós-doutoramento. Com a mudança das regras, a convicção na FAPESP é de que não somente São Paulo continuará a exercer essa atração para fora, que garante uma certa irrigação do sistema, como principalmente conseguirá manter seus jovens doutores dentro do Estado, formando e integrando grupos de excelência, com projetas de pesquisa próprios e inovadores, inseridos no sistema internacional de pro• dução científica e tecnológica. PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 2000
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POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO
Suporte às políticas públicas Projetas aprovados consolidam parceria . . . . e tntctam pesqutsas ssegurada a viabilidade dos A projetas e consolidadas as parcerias com as organizações que vão implementá-los, 18 das 61 propostas aprovadas na primeira etapa do Programa de Pesquisas em Políticas Públicas (PP) passaram para a segunda fase: a da pesquisa propriamente dita. O programa foi lançado em 1998, para estimular o desenvolvimento de pesquisas focadas nas demandas da comunidade. Todas as pesquisas que agora se iniciam têm, pelos próximos dois anos, que enfrentar o desafio de produzir e sistematizar conhecimentos, que contribuam para a definição e implementação de políticas públicas z relevantes e replicáveis, e de ~ articular o trabalho acadê- ~:> mico com as demandas das ~ comunidades. "Na primeira fase, o objetivo era consolidar o formato do programa e a relação com parceiros, de tal forma que eles participassem efetivamente do desenho da pesquisa", diz Paula Montero, coordenadora do Programa de Políticas Públicas. Segundo ela, um importante critério para a aprovação dos projetas para a segunda fase foi a definição de um plano de transferência e divulgação científica que, encerrada essa etapa, garantisse a capacitação dos técnicos das organizações parceiras e assegurasse a continuidade do projeto, traduzido em política pública. "Os prognósticos são positivos", avalia Paula Montero. A parceria com instituições, governamentais ou não, é um pressuposto 18 • NOVEMBRO DE 1000 • PESQUISA FAPESP
básico do Programa. Esse modelo de colaboração já se revelou bem-sucedido nos programas de Parceria para a Inovação Tecnológica, de melhoria do Ensino Público e de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas. Durante a primeira etapa do Programa de Políticas Públicas, os proponentes de cada um dos projetas pré-qualificados tiveram o apoio
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federal, transfere aos governos locais a gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), tarefa nem sempre realizada com sucesso pelas prefeituras municipais, já que exige capacitação para o acompanhamento de recursos repassados pela União, cálculos de gastos per capita e um planejamento rigoroso de investimentos. O modelo de monitoramento que o projeto preten-
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Guardani: projeto vai medir nível de poluição por ozônio em áreas como o lbirapuera
financeiro da FAPESP para consolidar suas propostas. "Foram seis meses de trabalho intenso", lembra Antonio Carlos Coelho Campino, da Faculdade de Administração da Universidade de São Paulo (USP) . Ele é responsável pelo projeto que tem por objetivo avaliar e criar um modelo de monitoramento do processo de municipalização dos serviços de saúde em São Paulo e que será desenvolvido em parceria com o Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde. A municipalização da saúde, em fase de implementação pelo governo
de formular será elaborado a partir de estudos da municipalização em 16 municípios selecionados na primeira fase, classificados por tamanho de população e condição de gestão do SUS, explica Campino. "Agora, vamos
Paula Montero: "Prognósticos positivos"
orientar o levantamento dos dados que serão coletados pelas prefeituras envolvidas no projetos e criar um modelo para apoiá-las no monitoramento deste processo", ele explica. Inquérito da saúde - Outro projeto aprovado na área da Saúde, coordenado por Chester Luiz Galvão Cesar, da Faculdade de Saúde Pública da USP, realizará um inquérito de saúde em cinco municípios da região da Grande São Paulo, Botucatu e Campinas, selecionados na primeira fase, em parceria com a Coordenação dos Institutos de Pesquisa da Secretaria
semelhante realizado há dez anos pela Secretaria de Saúde. O projeto coordenado por Lilia Blima Schraiber, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP, também desenvolvido em parceria com a Secretaria Estadual da Saúde, tem como foco a saúde da mulher. Por meio da avaliação de ocorrência de casos de violência doméstica e sexual entre usuários de 20 Unidades Básicas de Saúde nas cidades de Santo André, Diadema e Mogi das Cruzes, na região da Grande São Paulo, pretende desenvolver uma tecnologia de atendimento
de do atendimento e da assistência, talvez seja possível enfrentar esse fenômeno." No primeiro dos dois anos previstos para a pesquisa, os profissionais que integram o projeto serão treinados para a aplicação dos instrumentos e pré-teste da pesquisa. "No segundo ano, analisaremos o material coletado para propor tecnologias em nível de atendimento", afirma a coordenadora. Educação especial- Na área de Educação, já passaram para a segunda fase do Programa quatro projetos, entre eles o coordenado por Lisete Regina Gomes Arelaro, da USP, que vai avaliar o sistema público de educação especial em Campinas, em parceria com a Secretaria de Educação do município. "Campinas tem, proporcionalmente, o maior número de professores especialistas em educação especial, mas, contraditoriamente, a rede pública do município tem apenas 200 alunos especiais contra 2.500 alunos matriculados na rede privada", ela diz. A maioria dos professores, apesar de contratada pela prefeitura, está "emprestada" z às escolas particulares de ~ caráter filantrópico, proce~ dimento autorizado por por"~ taria do Ministério da Educação. "O nosso objetivo é desenvolver estratégias para ampliar o atendimento na rede pública, trazendo de volta alunos e professores", explica. A estratégia a ser adotada prevê o desenvolvimento de um conjunto de ações que resgatem a confiança das famílias na qualidade dos serviços prestados pela escola pública e, ao mesmo tempo, estimulem as escolas a ampliar o número de matrículas especiais. A proposta inclui até uma espécie de campanha de marketing, com a produção de outdoors e vídeos sobre os direitos dos portadores de deficiências, que serão exibidos em locais de fluxo intenso de população, como, por exemplo, terminais de ônibus urbanos.
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de Estado da Saúde. Os questionários serão aplicados também na região do Butantã, na capital, área de influência do Hospital Universitário e do Centro Saúde-Escola. Além da USP, também participam do projeto a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A pesquisa, que será realizada em domicílios com uma amostra de 6.400 entrevistados, vai levantar os problemas de saúde ocorridos nos 15 dias que antecederam a aplicação do questionário e as soluções encontradas pela população. "Trabalharemos com morbidade referida e não com diagnósticos clínicos", ressalva o coordenador. Esses resultados serão comparados com os de um inquérito
Gaivão Cesar: inquérito de saúde avaliará acesso da população aos serviços
para programas de saúde da mulher. "Já existem serviços de apoio às vítimas de violência na área da Justiça, como, por exemplo, as Delegacias da Mulher. Este será o primeiro serviço na área da Saúde em todo o Brasil", revela Lilia Schraiber. A violência doméstica, ela diz, tem forte impacto sobre a saúde da mulher, sendo responsável por casos de insônia, depressão, infecções urinárias e até por doenças sexualmente transmissíveis. Estudos realizados na Nicarágua em 1999 indicam que este problema se reflete também na saúde das crianças. "Se melhorar a qualida-
PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 2000 • 19
Políticas agrícolas - Dois dos projetos aprovados têm como foco o desenvolvimento de políticas públicas nas áreas de Agricultura e Pecuária. O primeiro, coordenado por Nelson Batista Martin, do Instituto de Economia Agrícola da Secretaria de Agricultu-
ra e Abastecimento do Estado de São Paulo, e que será implementado em parceria com a Prefeitura de Piraju, prevê a elaboração de um plano diretor para o município. A idéia é desenvolver um sistema informatizado de análise e organização de dados para a
realização de um censo de imóveis rurais, cuja validade será testada em Piraju, mas que poderá ser utilizado em qualquer município. Na primeira fase do projeto, constatou-se, por exemplo, a existência de um grande número de pro-
Os já aprovados para a segunda fase COORDENADOR
INST.PROP.
INSTITUIÇÃO PARCEIRA
TÍTULO
ANTONIO CARLOS COELHO CAMPINO
USP
Instituto da Saúde da Secretaria de Estado da Saúde
Avaliação do processo de municipalização dos serviços de saúde no Estado de São Paulo
CELIA REGINA DE GOUVEIA SOUZA
SEMASP/I.GEOL.
Secretaria do Meio-Ambiente do Estado de São Paulo
Sistema integrador de informações geoambientais para o litoral do estado de São Paulo com aplicação ao gerenciamento costeiro (SIIGAL)
CHESTER LUIZ GALVÃO CESAR
USP
Coordenação dos Institutos de Pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo
Inquérito de saúde no estado de São Paulo inquérito domiciliar de base populacional em municípios do estado de São Paulo, 1999-2000.
DILZA MARIA BASSI MANTOVANI
SAGRSP/ITAL
Coordenadoria da Defesa Agropecuária
Avaliação da qualidade na piscicultura paulista I - avaliação química e microbiológica
JENER FERNANDO LEITE DE MORAES
USP
Prefeitura do município de Jundiaí
Diagnóstico agroambiental para gestão e monitoramento da bacia hidrográfi ca do rio Jundiaí-Mirim
JOYCE MARY ADAM DE PAULA E SILVA
UNESP
Prefeitura Municipal de Rio Claro Secretaria de Educação
Subsídios para a implementação de um centro de aperfeiçoamento e inovações pedagógicas
LILIA BLIMA SCHRAIBER
PUCSP
Secretaria de Estado da Saúde
Ocorrência de casos de violência doméstica e sexual nos serviços de saúde em São Paulo e desenvolvimento de tecnologia de atendimento para programas de saúde da mulher
LISETE REGINA GOMES ARELARO
USP
Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura Municipal de Campinas
Diversidade e exclusão: conhecendo melhor quem as vivenda e construindo alternativas de inclusão
MARCOS SORRENTINO
USP
Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de São Paulo
Avaliação de processos participativos em programas de educação ambiental: subsídios para o delineamento de políticas públicas
MARIA ESTHER FERNANDES
PART/UNAERP
Secretaria Municipal do Bem-Estar Social de Ribeirão Preto
Bairros periféricos: integração ou marginalidade? tentativa de diagnóstico do Universo de vida das camadas populares
MARTA SILVA CAMPOS
PUCSP
Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania
Consolidação da política de atendimento às vítimas da violência urbana, baseada na demanda real e na ação articulada entre os diversos setores do Governo do Estado de São Paulo (Segurança, Justiça e Cidadania, Saúde e Assistência Social)
NELSON BATISTA MARTIN
SAGRSP/IEA
Prefeitura Municipal de Piraju - SP
Desenvolvimento de um sistema de suporte à elaboração de Plano Diretor Agrícola Municipal (PDAM).
NEWTON ANTONIO PACIULLI BRYAN
UNICAMP
Prefeitura Municipal de Vinhedo/ Secretaria Municipal de Educação e Cultura
Sistematização de experiências, diagnóstico local e formulação de modelo de gestão para viabilização das novas competências do Sistema Público de Ensino Municipal no Estado de São Paulo
RAQUEL ROLNIK
PUCC
Instituto Pólis - Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais
Programa de capacitação de agentes públicos e sociais para a formulação de políticas locais de regulação urbanística
ROBERTO GUARDANI
USP
CETESB - Cia. de Tecnologia e Saneamento Ambiental
Desenvolvimento de tecnologia para previsão de ozõn io na baixa atmosfera
SARAH FELDMAN
USP
Secretaria do Planejamento do Território e Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Franca
Programas de gestão integrada para o município de Franca
SERGIO LUIZ MONTEIRO SALLES-FILHO
UNICAMP
Secretaria de Agricultura e Abastecimento Conselho Superior da Pesquisa Agropecuária
Políticas Públicas para a inovação tecnológica na agricultura do Estado de São Paulo: métodos para avaliação de impactos e priorização da pesquisa
SIGISMUNDO BIALOSKORSKI NETO
USP
Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo - OCESP
Projeto de estabelecimento de uma política institucional de monitoramento da autogestão das cooperativas do Estado de São Paulo.
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priedades com até 5 hectares, localizadas ao longo da represa que circunda o município, um uso intenso de tecnologia de hortaliças exploradas em estufas e áreas onde prevalece o plantio do café. Informações como essas, consolidadas num banco de dados municipal, permitirá aos pesquisadores elaborar pelo menos três cenários de políticas de desenvolvimento agrícola que serão apresentados às lideranças e ao Conselho Agrícola Municipal. "Trata-se de um sistema genérico, que poderá se adotado por qualquer município", ele garante. O segundo projeto aprovado na área de Agricultura e Pecuária tem como meta estabelecer política institucional para o monitoramento da autogestão das cooperativas do Estado de São Paulo. Coordenado por Sigismundo Bialoskorski Neto, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, câmpus de Ribeirão Preto, o projeto tem como parceira a Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp). A proposta de trabalho é realizar um diagnóstico das 144 cooperativas agropecuárias z paulistas, avaliando o grau ~ de sucesso e a capacidade de ll::> arrecadação de cada uma de- ~ las, para quantificar o seu impacto na economia, conforme explica Bialoskorski Neto. "Os dados fornecidos pela Ocesp serão analisados por meio de Rede Neurais Artificiais (RNA), procedimento semelhante ao utilizado para medir risco de bancos e de países em desenvolvimento", explica o coordenador do projeto. Monitoramento ambiental - Na área de Ambiente, dois projetas iniciam, agora, a fase de pesquisa. O projeto coordenado por Jener Fernando Leite de Moraes, do Centro de Solos e Recursos Ambientais do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), realizará um diagnóstico agroambiental para a gestão e monitora-
menta da bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim, que fornece 97% da água consumida na cidade de Jundiaí. O parceiro, no caso, é a prefeitura do município. "Já realizamos uma avaliação das condições de solo, dos mananciais e da preservação das matas ciliares", afirma Leite de Moraes. Constatouse a prevalência de matas secundárias, poluição das águas por coliformes e uma forte pressão urbana que fragiliza o sistema hidrográfico, propiciando processos de erosão. Na segunda fase do projeto, a proposta é mapear culturas e associar, por exem-
avaliar casos de violência doméstica contra mulheres
plo, a variação dos índices de poluição às atividades agrícolas ou industriais desenvolvidas em áreas próximas aos mananciais, com o objetivo de subsidiar a formulação de políticas de proteção ambiental. Outro projeto na área de meio ambiente vai desenvolver um modelo que permitirá prever a formação de ozônio na baixa atmosfera em cidades densamente povoadas, como São Paulo. Coordenada por Roberto Guardani, do Departamento de Engenharia Química da Escola Politécnica da USP, a pesquisa será desenvolvida em parceria com
a Companhia Estadual de Tecnologia e Saneamento Ambiental (Cetesb). A poluição por ozônio é de difícil controle, já que não é emitida por veículos, mas é formada por substâncias como o óxido de nitrogênio e em determinadas condições meteorológicas. Em São Paulo, por exemplo, uma das áreas com maior índice desse tipo de poluição é o Parque do Ibirapuera. "A poluição é levada pelo vento", justifica Guardani. Além de conhecer melhor o fenômeno da formação do ozônio na atmosfera, o projeto vai criar uma espécie de serviço meteorológico,
com informações coletadas nas 30 estações de medição da Cetesb, que permitirá prever a ocorrência da poluição por ozônio com, pelo menos, um dia de antecedência. ''A população poderá se precaver e os riscos decorrentes da exposição, como problemas respiratórios e de pele, serão minimizados", afirma. A segunda fase do projeto prevê, ainda, a aquisição de uma estação móvel para a medição da poluição em áreas não cobertas pela Cetesb, com recursos financiados pela FAPESP. Ao final de dois anos, prazo previsto para a execução das pesquisas, aquelas bem sucedidas irão para a terceira fase do Programa, de implementação, de responsabilidade da instituição parceira. • PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 1000 • 21
POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
INTERCÂMBIO
ração científica com o Brasil é uma prioridade. Queremos estreitar laços científicos com poucos países, inicialmente em poucas áreas", disse, citando as de genômica, bioinformática, ciências ambientais, ciências dos materiais, ciências sociais e estudos multidisciplinares de problemas urbanos. Os diretores da FAPESP e a delegação francesa se comprometeram a, nos próximos meses, escolher duas ou três áreas de interesse comum para fomentar novos projetas binacionais. A FAPESP e a ComiEdelgarda Bulhmahn (acima) visitou sión de Investigaciones o Centro de Científicas (CIC) da ProEstudos do Génoma víncia de Buenos Aires, Humano; delegação Argentina, também esfrancesa negocia tão preparando convêintercâmbio nio de cooperação ciende pesquisadores tífica e tecnológica que (ao lado), deverá incluir o intere Bordón busca câmbio de grupos de parceria para pesquisadores, a realizaintegração (abaixo) . ção de projetas conjuntos de pesquisa e a vinculação da investigação científica e tecnológica aos setores produtivos dos dois governos. O convênio está previsto na Carta de Intenção firmada entre o secretário da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, José Aníbal, e o diretorgeral de Cultura e Educação da Província de Buenos Aires, dores dos dois países, com sede aqui Argentina, José Octavio Bordón, no ou na França. "Pode ser uma boa dia 9 de novembro. O acordo tem idéia", afirmou José Fernando Perez, caráter estratégico e, segundo Bordiretor-científico da FAPESP. dón, é fundamental na consolidaNo ano passado, o então ministro ção e fortalecimento do processo de da Educação, Claude Allegre, já havia integração dos países do Mercosul, estado em São Paulo com esse mesalém do Chile e da Bolívia. "Precimo intuito. "Houve algumas mudansamos fortalecer as relações com o ças de ordem estrutural nos ministéBrasil para, juntos, construirmos rios da França, mas continuamos uma América do Sul mais forte", com o mesmo discurso': disse Courtillot. "Para nós, incrementar a coopeafirmou. •
Acordos internacionais Alemanha, França e Argentina alinhavam parceria tecnológica rês delegações estrangeiras visitaram São Paulo com o objetivo de consolidar parceria e incrementar a cooperação com o Brasil. A ministra da Educação e Pesquisa da Alemanha, Edelgarda Bulmahn, que esteve no Brasil para firmar convênios na área educacional e de cooperação tecnológica entre a Capes e o DAAD (Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico), visitou o Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), no dia 3 de novembro, para conhecer o Centro de Estudos do Genoma Humano e o Projeto Genoma Xylella, patrocinado pela FAPESP e Fundecitrus. De acordo com o reitor Jacques Marcovitch, a visita teve como objetivo consolidar a colaboração internacional e avaliar a possibilidade de acordos de cooperação. No dia 7 de novembro, uma delegação chefiada pelo geofísico Vincent Courtillot, diretor de Pesquisa do recém-criado Ministério da Pesquisa da França - desmembrado do Ministério da Educação Nacional , Pesquisa e Ciência, em março deste ano- esteve na FAPESP. Os franceses vieram reafirmar seu interesse em promover o intercâmbio de pesquisadores ou docentes-pesquisadores entre os dois países. Também foi debatida a possibilidade da criação de laboratórios conjuntos, que seriam compartilhados por pesquisa-
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SÃO PAULO
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BIREME I OPAS I OMS
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POLÍTICA CIENTÍFICA ETECNOLÓGICA
COOPERAÇÃO
Parceiros na pesquisa da Xylella .
Pesquisadores vão decifrar código genético de mais duas bactérias s pesquisadores da rede ONSA (Organização para SeqüenciaO mento e Análise de Nucleotídeos) que participam do projeto Genomas Ambientais e Agronômicos mal tiveram tempo de se debruçar sobre seus dois empreendimentos atuais- decifrar o código genético de duas bactérias, da variante da Xylella fastidiosa que destrói as videiras e da Leifsonia xyli subsp.xyli, que ataca o talo da cana-deaçúcar- e já foram requisitados para mais duas missões. Os membros da rede virtual de laboratórios de pesquisa genômica criada pela FAPESP foram convidados pelo Joint Genome Institute (JGI), consórcio de laboratórios americanos com sede em Walnut Creek, na Califórnia, a auxiliá-lo na tarefa de desvendar o DNA de outras duas cepas da Xylella: a que acomete a amendoeira e a que se instala numa planta ornamental popularmente conhecida como espirradeira ou oleandro (Nerium oleander). Pelo acordo verbal, fechado no fim de outubro, caberá aos brasileiros o trabalho de realizar a anotação do genoma dessas duas variantes da Xylella, cujo seqüenciamento puro e simples está sendo feito pelos próprios pesquisadores do JGI. Ou seja, os cientistas da ONSA vão identificar, entre os milhões de "letras químicas" (os pares de base) que compõem o genoma, as receitas que regulam a produção de proteínas, interpretando e analisando os dados brutos fornecidos pelos seus colegas californianos. No início de novembro, o JGI anunciou que acabara de terminar "rascunhos de alta qualidade" con24 • NOVEMBRO DE 2000 • PESQUISA FAPESP
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a cumpnr nos nossos proJetas': afirma Marie-Anne Van Sluys, do Departamento de Botânica do Instituto de Biocências da Universidade de São Paulo (USP), uma das coordenadoras do projeto da Xylella da videira. "A cooperação é interessante porque teremos a chance de comparar diferentes linhagens dessa bactéria", diz Mariana Cabral de Oliveira, colega de departamento de Marie-Anne e também coordenadora do projeto da Xylella das parreiras. "Será um novo desafio. Com esse intercâmbio, poderemos fazer mapas comparando os genes de todas as variedades de Xylella seqüenciadas por nós e pelos americanos", afirma João Paulo Kitajima, da Universidade Estadual de CamDoença de Pie rce destrói videi ras da Califó rnia pinas (Unicamp ), coordenatendo 95% das seqüências genéticas dor de bioinformática da Xylella da dessas duas variedades da Xylella e uva. Em tempo: os pesquisadores paulistas foram os primeiros no de mais 13 bactérias. • m undo a decifrar o genoma compleEm meados de dezembro, os pesto de uma variedade da Xylella, a dos quisadores brasileiros vão aproveitar citros, causadora da praga do amareuma viagem a Davis, Califórnia, onlinho que ataca os laranjais, num já de participarão de um workshop com célebre trabalho que mereceu capa especialistas em Xylella, para discutir da Nature, uma das mais renomadas os detalhes finais dessa nova parceria. Falta definir sobretudo se, além da revistas científicas do mundo. O convite do JGI mostra que a reanotação, os pesquisadores brasileilação com a rede ONSA, que se iniros também se encarregarão da tarefa ciou com um caráter claramente de preencher as lacunas não cobertas competitivo, pode evoluir para um pelo seqüenciamento feito no JGI, os patamar mais cooperativo. Vale a 5% de material genético não mapeapena lembrar a recente disputa endo. O acordo de cooperação não envolve valores monetários, apenas a volvendo os dois centros. Numa batroca de conhecimentos e esforços. talha de palavras que extrapolou o âmbito dos laboratórios e ganhou as "O convite de cooperação é um recopáginas dos jornais brasileiros, o JGI nhecimento do nível de nosso trabase colocou, alguns meses atrás, como lho. Podemos fazer a anotação sem problemas, mas preencher esses buprincipal concorrente da rede Onsa racos é algo demorado. Temos prazos na disputa pelo projeto de seqüen-
ciamento da Xylella das parreiras - iniciativa de grande interesse e em parte financiada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que tenta deter o avanço da doença de Pierce, causada por essa bactéria, na Califórnia, principal região produtora de vinhos nobres nesse país. Na ocasião, diretores do instituto chegaram a afirmar que teriam Queimada de parreiral na Califórnia, atacado por Xylella condições de realizar a leitura do DNA da bactéria em muiPrimeiros resultados - O projeto de to menos tempo do que a rede da FAseqüenciamento da Xylella das videiPESP. Primeiro, disseram que preciras, um investimento de US$ 500 mil sariam apenas de duas semanas para bancado meio a meio pela FAPESP e tal tarefa. Depois, baixaram o prazo pelo USDA, já apresenta os primeiros para 24 horas. Como o JGI não se resultados. Até o dia 16 de novembro, comprometia a fornecer a anotação os cinco centros que coordenam o do material genético da bactéria da trabalho dos 20 laboratórios envolviuva, justamente a parte mais analítidos na iniciativa contabilizavam ca e refinada de qualquer esforço de 20.375 seqüências já depositadas no desvendamento do DNA de um ser banco de dados, quase 40% do núvivo, o USDA preferiu apostar suas mero total de seqüências previstas pafichas na ONSA. ras serem mapeadas durante o proje-
JGI, um gigante da genômica O Joint Genome Institute (JGI), apesar de operado pela Universidade da Califórnia, é um instituto do Departamento de Energia norte-americano (DOE). Ao lado dos Institutos Nacionais de Saúde (NIHs), o DOE é o segundo grande órgão americano envolvido no consórcio público internacional que toca o Projeto Genoma Humano. E o JGI é o braço do DOE que atua no Projeto Genoma e em outras iniciativas genômicas. Concebido em 1996 e formalmente criado no ano seguinte, o JGI nasceu com a missão de conjugar os esforços de três bem-sucedidos centros de pesquisa envolvidos há mais de uma década no Projeto
Genoma Humano: os laboratórios nacionais Lawrence Berkeley, Lawrence Livermore (ambos na Califórnia) e o de Los Alamos (no Novo México). Quando se diz bem-sucedidos, não há nenhum exagero na expressão. As contribuições dadas por essa trinca de laboratórios nas áreas de mapeamento físico e seqüenciamento de genomas, seus pontos fortes, fazem do JGI um consórcio de altíssimo pedigree científico. Apenas um exemplo basta para dar a dimensão desse gigante: em abril deste ano, o JGI divulgou o rascunho de três cromossomas humanos, os de número 5, 16 e 19. Genes desses cromossomas devem estar ligados à
to. Nesse tipo de iniciativa, os pesquisadores geram uma quantidade de seqüências muito maior do que o necessário para simplesmente mapear de forma superficial um genoma. Eles procedem dessa maneira para reduzir ao máximo, ou até mesmo eliminar, trechos do DNA não lidos pelas máquinas de seqüenciamento e obter dados mais confiáveis. Por isso, apesar de o genoma da Xylella ter cerca de 2,7 milhões de bases, os pesquisadores vão seqüenciar 24 milhões de bases. Na prática, isso equivale a dizer que cada base do DNA da bactéria vai ser lida oito vezes - e não apenas uma. Até o final de dezembro, 95% do genoma da Xylella deverá ter sido mapeado. Em fins de janeiro, todo o trabalho deverá ter sido concluído, abrindo espaço nos seqüenciadores para o DNA da Leifsonia, a próxima • missão da ONSA.
ocorrência de doenças nos rins, câncer de colo, reto e próstata, leucemia, hipertensão, diabetes e arteriosclerose. O JGI emprega 240 pessoas. Metade de seus funcionários fica na sede em Walnut Creek e metade nos três laboratórios do instituto. Para cobrir todas as etapas do processo de mapeamento de um DNA, além de contar com os serviços de seus três laboratórios membros, o instituto mantém parcerias com outros laboratórios nacionais: Oak Ridge (para anotação de genoma), Brookhaven (biologia molecular) e Pacific Northwest (estudos do proteoma, conjunto de genes responsáveis pela formação de proteínas). O Centro de Genoma de Stanford é outro parceiro do JGI.
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CIÊNCIA
Expedição à Pré-História PER CIO CAMPOS I AG ~ NCIA O GLOBO
Em janeiro e fevereiro de 200 1, 20 paleontólogos do Museu Natural do Rio de Janeiro, acompanhados de uma equipe de logística e outra de filmagem, visitarão a Pré-História no interior do Brasil. Eles vasculharão áreas ricas em fósseis de dinossauros em oito Estados brasileiros do Norte e Nordeste na maior operação montada no país para procurar vestígios desses animais, extintos há 65 milhões de anos. Dois meses é o tempo previsto para realizar as filmagens do documentário - as pesquisas já vêm ocorrendo há mais de dois anos e vão continuar por tempo indeterminado. Além do doeumentário, serão produzidos um livro de arte e uma coleção de livros infantis sobre dinossauros. O coorde-
Plantas têm ação comprovada Um pesquisador de Santa Catarina comprovou cientificamente o poder curativo de três plantas nativas: a rosado-campo (Mandevilla illustris), o sarandi negro (Sebastiania schottiana) e a amora branca (Rubus imperialis). A primeira é originária de Minas Gerais e as outras duas de Santa Catarina. ''A rosa-do campo já era indicada pela medicina popular contra processos inflamatórios e picada de cobra, o sarandi negro pode ser usado para eliminar cálculos renais e é eficaz nos processos 26 • NOVEMBRO DE 2000 • PESQUISA FAPESP
Sérgio Azevedo:"Os recursos virão da iniciativa privada" nador da expedição, Sérgio Azevedo, espera encontrar novas espécies. "A abundância de fósseis nas áreas selecionadas é notável e com uma equipe atenta podemos achar material desconhecido", diz Azevedo. "Agora, pode não aparecer nada de novo." O projeto Em Busca dos Dinossauros
dolorosos e a amora branca também funciona contra dor e diabetes", explica Rivaldo Niero, professor do curso de Farmácia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). Além da Univali, ele recebeu apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Programa Institucional de Capacitação Docente e Técnica (PICDT), ambos do Ministério da Educação (MEC) . O estudo levou quatro anos, custou cerca de R$ 50 mil e, segundo Niero, há uma empresa alemã interessada no trabalho. •
custará R$ 936 mil e é uma parceria do museu, da empresa Fogo-Fátuo Expedições, que cuidará da logística, do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério da Ciência e Tecnologia. Os paleontólogos são todos professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). •
Porcos maiores, macios e resistentes Uma equipe de veterinários da Universidade Federal de Viçosa (UFV) trabalha para conseguir porcos maiores, com carne mais macia e resistente a doenças. Simone Guimarães e Paulo Sávio Lo-
pes desenvolvem o Programa de Identificação Genômica em Suínos (Pigs) e devem, até 2001, achar os genes responsáveis por essas qualidades para ajudar a acelerar o melhoramento genético e a produtividade. Os pesquisadores cruzaram as duas linhagens comerciais- os suínos de pele branca, pouca gordura e crescimento rápido com as raças nativas, os porcos pintados, que crescem devagar, comem muito e acumulam gordura. Os suínos respondem por quase a metade da carne consumida no planeta e são muito estudados em todo o mundo. "Temos um material valioso nas mãos", diz Simone. •
Nova bactéria produz plástico O Brasil poderá ganhar um mercado promissor num futuro próximo: o de plástico biodegradável de cana-deaçúcar. O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), ligado ao governo do Estado de São Paulo, identificou uma nova bactéria, a Burkholderia sacchari, isolada em solo de plantação de cana, que produz esse tipo de plástico. "Agora estamos trabalhando para aumentar a produtividade da bactéria", diz a pesquisadora Luiziana Ferreira da Silva, do IPT, que coordenou as atividades de microbiologia do projeto. "Há nichos importantes que poderão usar o produto a curto prazo, como a área de medicina, por exemplo" afirmou Luiziana. •
ISS recebe a primeira tripulação Demorou dois anos, mas valeu a pena. Depois que a nave Soyuz entrou em órbita com os três tripulantes a bordo, rumo à Estação Espacial Internacional (ISS), americanos e russos se abraçaram, numa cena inusitada. O local da decolagem foi em Baikonur, no Casaquistão - o mesmo lugar onde a era espacial começou, há 42 anos, com o lançamento do primeiro satélite artificial, o soviético Sputnik. No dia 30 de outubro, o comandante americano Bill Shepherd e os russos Sergei Krikalev e Yuri Gidzenko partiram para a temporada inaugural da ISS, num projeto conjunto que está sendo considerado o início de uma nova época no conhecimento do espaço. "A partir de agora, estaremos sempre com pessoas orbitando a Terra", disse Daniel Goldin, diretor da Nasa, a agência espacial norte-americana. "Construiremos bases em Marte, na Lua e até em asteróides." O projeto internacional reúne 16 países, o Brasil entre eles, e custará US$ 60 bilhões no total, até sua montagem final prevista para 2005. Nas primeiras semanas, a tripulação trabalhou para colocar a casa em ordem: instalou cabos, monitores, ativou os sistemas de geração de energia e oxigênio. Eles ficam na estação até fevereiro, quando a equipe será trocada. A ISS substitui definitivamente a Mir, a estação russa que ficou 14 anos no espaço, embora fosse projetada para durar apenas três anos. Nesse período, ela recebeu 62 astronautas de 11 países, além dos cosmonautas russos, e abrigou 23 mil experiências científicas. Agora, o governo da
Quando pronta, a ISS terá o mesmo espaço de um Boeing 747. Sergei, Bill e Yuri serão substituídos em
Rússia já avisou que ela deverá cair a qualquer momento no Oceano Pacífico e se espalhar por uma área de 9.600 quilômetros por 200 quilômetros. A maior parte da Mir deve incendiar-se ao entrar na atmosfera. •
Estudo sobre morros do Recife A prefeitura do Recife encomendou um estudo que pode ajudar a evitar os previsíveis desmoronamentos em morros da capital pernambucana
O sono regulado pelo fígado peixe-zebra (Brachy- ~~ SSS! danio rerio), chamado no r' Brasil de paulistinha ou bandeira-paulista, pode Paulisti nha: esperança ajudar a humanidade a dormir melhor. Pesquiternância entre vigília e sadores da Universidade sono. Os resultados dos Louis Pasteur, em Strasexperimentos sugerem bourg, na França, verifique essas células poscaram que essa espécie, suem fotorreceptores, suoriginária da Índia, posjeitos à influência da luz. sui relógios biológicos O mecanismo de controperiféricos. Encontramle periférico pode permise principalmente nas tir a criação de terapias para os distúrbios de socélulas do fígado, coração e rins e ajudam a no que surgem quando o controlar o ciclo circarelógio circadiano está dediano, que regula a ai• sajustado.
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durante a temporada de chuvas. A professora Margareth Alheiras, do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), especialista em riscos geológicos urbanos, catalogou as áreas de risco. A maior incidência de deslizamentos ocorre nas áreas onde houve intervenções importantes na região, como aterro e obstrução do caminho das águas, fatores que comandam o processo de instabilidade. "As fortes chuvas são, então, o gatilho que deflagara os desmoronamentos", diz Margareth. A maior dificuldade dos técnicos é evitar o deslizamento sem tirar todas as pessoas do morro. "Como os morros já são áreas ocupadas (SOO mil pessoas no Recife, 900 mil na região metropolitana), ainda estamos buscando soluções para resolver o problema de modo mais adequado à realidade local'; explica a pesqui• sadora.
O alto vôo dos insetos O Institute of Arable Crops Research, em Rothamsted, na Grã-Bretanha, descobriu que os insetos voam bem mais alto do que se pensava, segundo revelou a revista New Scientist. Usando um radar de ondas verticais, a equipe do entomologista Jason Chapman achou insetos em altitudes de até 1.200 metros. O fato deverá mudar os conceitos sobre migração em massa. "Até agora, não se acreditava nesse tipo de movimento", disse Jason Chapman. Os pesquisadores suspeitam que os insetos voam alto para aproveitar os ventos mais fortes. O resultado do estudo ainda está sendo preparado pelos pesquisadores para publicação em revista especializada. • PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 2000
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CAPA
GENÔMICA
Os a uitetos da CARLOS FIORAVANTI
O conhecimento acumulado pelos pesquisadores do Genoma Cana complementa as técnicas de melhoramento genético tradicional e mostra como desenvolver variedades mais produtivas e resistentes a pragas
a-de-açúcar ideal é realizável. Mais produva, resistente a pragas e doenças, tolerante à eca e a herbicidas e eficiente na absorção de nutrientes a ponto de sobreviver mais facilmente em solos ácidos ou pouco férteis, poderá tomar forma a partir das descobertas do Genoma Cana, que está chegando ao fim, um ano e meio após ter sido anunciado publicamente. Os 240 pesquisadores que estão trabalhando nesse projeto - o primeiro seqüenciamento de um vegetal realizado no Brasil- identificaram cerca de 80 mil genes que dão um mapa completo de como a planta vive, se reproduz e morre - e, devidamente manipulados, podem viabilizar essas características tão sonhadas pelos fazendeiros e fabricantes de açúcar e álcool. A cana redesenhada já tem data para nascer. "Em dois anos, devem estar prontas, pelo menos em laboratório, as primeiras variedades de cana resistentes a duas pragas, a bactéria Leifsonia xyli e o fungo-do-carvão", anuncia Paulo Arruda, coordenador de DNA, que está à frente de uma rede de 60 laboratórios, 22 deles atentos ao seqüenciamento e outros 48 dedicados à mineração ou prospecção de dados, o chamado data mining. "Podemos sonhar ainda mais alto", diz Éder Giglioti, pesquisador da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Ainda não é a prioridade, mas, segundo ele, já se pode pensar em utilizar a cana-de-açúcar como biorreator, capaz de produzir não apenas açúcar e álcool, mas também compostos químicos
de interesse para a indústria farmacêutica, como já começa a ser feito em outros países. Em breve, o Genoma Cana ou Sucest, do inglês Sugarcane EST, deverá abrir-se em duas vertentes. De um lado, deve-se fortalecer a pesquisa aplicada, em busca de novas variedades de cana. De outro, prosseguem os estudos básicos, voltados para uma compreensão mais aprofundada dos mecanis~os biológicos da cana. Arruda imagina que essas duas linhas vão se cruzar e se beneficiar continuamente. "Vamos unir a fronteira do conhecimento científico com a busca de resultados': diz ele. A novidade é a participação dos produtores de açúcar e álcool, com quem ele tem conversado intensamente nos últimos meses. Seus objetivos: identificar os problemas específicos a serem trabalhados com as informações colhidas no Genoma Cana e conseguir novos parceiros que possam financiar uma parte das pesquisas nessa nova fase. "Queremos que esse trabalho ajude a resolver problemas concretos", diz. Com esse enfoque, devem ser ainda mais valorizadas as pesquisas de três laboratórios de melhoramento genético, que já participavam do Genoma e mantêm contatos freqüentes com os plantadores de cana. São eles: o Centro de Tecnologia da Cooperativa dos Produtores de Cana, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Copersucar), que nessa etapa inicial contribuiu com cerca deUS$ 400 mil para o projeto, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e o Centro de Ciências Agrárias da UFSCar, em Araras, construído a partir das instalações do Plano PESQUISA FAPESP • NOVEMBRO OE 2000 • 29
-pode residir aí a origem das características mais pecuNacional de Melhoramento da Cana-de-Açúcar (Planalliares da cana. É uma montanha de informações que os sucar), extinto no início dos anos 90. pesquisadores pretendem organizar, até dezembro, na forFeitas as contas, o Genoma Cana deverá terminar ma de um gene index, uma relação dos genes da cana agruquase um ano antes do prazo previsto e custando a mepados por função. Há 40 categorias estruturadas e 15 mil tade dos US$ 8 milhões aprovados pela FAPESP. A econogenes já classificados, entre eles de oito a dez associados à mia resulta, em parte, da infra-estrutura já instalada e da produção de sacarose, cuja ação pode a princípio ser faexperiência da equipe: dos 32 laboratórios iniciais, 15 do cilitada em busca de uma cana mais doce. grupo de seqüenciamento e oito do data mining haviam participado do Genoma Xylella, projeto pioneiro de seComparações - O trabalho de análise de dados, o data qüenciamento da bactéria Xylella fastidiosa, concluído no mining, implica passar horas diante do computador à início do ano, que pôs a comunidade científica nacional na procura de semelhanças genéticas entre a cana e outras linha de frente da genômica mundial. plantas e mesmo outras espécies, incluindo microrganisRéplicas dos clones da cana, da Xylella e, futuramenmos, animais e o homem. Uma autêntica garimpagem: te, de outras duas bactérias, a Xanthomonas citri e a Leifhá cerca de SOO projetos de seqüenciamento em andasonia, cujos mapeamentos se encontram em andamento, mento no mundo- da maçã ao gato doméstico. Foi assim vão ficar no Laboratório de Estocagem e Distribuição de que, na Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, Clones, que deve começar a funcionar no próximo mês em Botucatu, Eiko Eurya Kuramae encontrou 240 genes no campus da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Jaboticabal, e faz do Brasil um fornecedor de material genético para o mundo (ver box). Os pesquisadores superaram a meta inicial de 50 mil genes ativos Prestes a ser inaugurado, o Labotidos a 86 graus Celsius negativos, ou expressos, diretamente associaratório de Estocagem e Distribuição sob vigilância permanente. Quando dos ao metabolismo da planta. Já se de Clones ou Brazilian Clone Collecchegarem pedidos de clones, um sisconhece a função de dois terços destion Center (BCCC), em Jaboticabal, tema robotizado dotado de uma câse total, por causa da semelhança vai manter os clones gerados nos mera de vídeo vai coletar bactérias apresentada com os genes de outros projetos genoma a sete chaves, em na placa de petri e organizar as organismos, descritos em bancos de uma sala climatizada a 20 graus Celamostras em microplacas, com 96 dados internacionais. A outra parte sius, com parede dupla recheada de ou 384 orifícios, ou em membranas é ainda mais importante: um terço de alta densidade, a serem usadas isopor, dentro de oito freezers mandos genes encontrados é inédito, sem equivalente em outros organismos
Clones do Brasil para o mundo
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minado pela interação gene a gene", diz Eiko. "A resposta de resistência é induzida somente se o patógeno codifica um gene de avirulência específico, o avr, e a planta carrega um gene correspondente de resistência, o R." A doença ocorre somente se o gene R da planta e o avr dos invasores não existem ou são inativos.
O Brasil lidera O Genoma Cana está na frente entre os projetes de seqüenciamento de plantas no mundo* Genoma Cana (Sucest)
To mate
....... Soja
Arabidopsis thaliana
Milho ~
Sorgo ....... Cevada
Arroz
Batata
*os números indicam o total de seqüências (ESTs) realizadas
relacionados à produção de substâncias de defesa contra patógenos (fungos, vírus, bactérias) e insetos. Com eles, Eiko chegou a um modelo de como a planta age diante de um ataque externo - um conhecimento estratégico quando se pensa em desenvolver plantas mais resistentes a pragas. É uma luta difícil, de lado a lado. Quando atacada, a planta procura impedir a entrada dos microrganismos. Se não consegue, produz substâncias tóxicas que inibem o avanço dos invasores (ver ilustração na página 32). Segundo ela, as reações dependem dos sistemas de interação com o patógeno, da idade, do tecido atacado e das condições de nutrição da planta. "O controle genético de resistência a patógenos em plantas é deter-
nos experimentos de manipulação genética. É o primeiro laboratório do gênero na América Latina. Montado a um custo deUS$ 240 mil, vai funcionar em moldes semelhantes aos bancos da American Type Collection Clones (ATCC) ou do Image Consortium, dos Estados Unidos. Poderá atender a instituições públicas de pesquisa ao preço de custo, hoje entre US$ 30 e US$ 50, sob o
a dessas substânas, o ácido jasmôico, Vicente Eugênio de Rosa Jr., co-orientado por Eiko, dedica seu doutorado. Sobre outra, o ácido salicílico, trabalha Marleide de Andrade Lima em seu pósdoutoramento. Esses estudos nesse campo têm aplicações práticas: o sistema de defesa da planta pode ser ampliado Fonte: CBMEG/Unicamp pelo aumento da expressão dos genes associados à produção dessas substâncias de defesa. Quem também trabalhou com as substâncias de defesa, com um enfoque complementar, foi Suzelei de Castro França, na Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp ). Estudando os genes expressos da cana, ela descobriu que cada tecido da cana apresenta reações diferenciadas contra patógenos, predadores ou ferimentos em geral, valorizando ora Úm, ora outro composto químico, de acordo com a situação (ver ilustração na página 33). No momento, Suzelei concentra-se no estudo da sinalização celular, o mecanismo pelo qual os diferentes órgãos da cana secomunicam entre si, e aos poucos cria alternativas para a manipulação da produção das substâncias ligadas ao estresse.
compromisso escrito de que o material só será usado com finalidades acadêmicas, sem fins comerciais. "Dentro de três anos, o laboratório terá de ser auto-suficiente", afirma Jesus Aparecido Ferro, um dos coordenadores do Genoma Cana que vai cuidar do novo laboratório. Segundo ele, empresas e instituições particulares de pesquisa devem receber um tratamento diferenciado. "Um comitê supervisor
vai analisar se o clone poderá ou não ser vendido", diz. "Em um caso extremo, o pedido poderá ser recusado." E, acrescenta, como medida de segurança, vão seguir apenas o nome do gene e a indicação de homologia (semelhança) do gene solicitado com os de outros organismos. "A seqüência de bases, fundamental aos estudos de manipulação genética, permanecerá confidencial", afirma Jesus Ferro.
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Do ponto de vista agronômico, isso significa plantas mais sadias, resistentes a intempéries e, portanto, plantações mais rentáveis.
Dentro da célula Como os compostos químicos interagem em resposta ao s patógenos Prote ínas da membrana extern a atuam como sensores que detectam ~ Patógeno a aproximação do patógeno e \ acionam os mecanismos iniciais de defesa. A proteína GEBP se liga a glucanas As proteínas receptoras da planta (R) (açúcares) da parede celular detectam o contato físico do patógeno do patógeno. ou as proteínas liberadas por ele.
Funções essenciais - Pode-se ter a falsa impressão de que o interior da célula não exibe mais segredos, tal a familiaridade com que os pesquisado~~rM~~~~~~~~~TrrMõT~~ res falam das intimidades da cana e acrescentam novidades ao conhecimento já estabele\i '.i R cido. Um exemplo é a mitoo sinal químico que confirma a presença do patógeno côndria, um compartimento { aciona a produção de ácido da célula que tem uma tarefa A proteína R aciona a salicílico ou de ácido produção de peróxido de já atestada, a produção de jasmônico, de hidrogênio (H202). que energia. Mas Francisco GorO ácido salicílico efeitos antagônicos. age diretamente aciona os genes gônio da Nóbrega, da Universobre o patógeno. ligados à produção sidade do Vale do Paraíba de fitoalexinas H202 também induz O (Univap ), em São José dos (antifúngicos), O ácido jasmônico à produção de toxinas reações de Campos, verificou que a miaciona os genes de ação geral, como as hipe rsensibilidade que levam à produção tocôndria cumpre outras funfitoalexinas, e de lignina, e apoptose de inibidores de que serve de reforço ções essenciais. Uma delas é a (morte celular proteases, que à parede celular. progra mada). produção do chamado centro anulam as proteínas ferro-enxofre, associações de liberadas por insetos, e de átomos de ferro e enxofre que glucanases, O acú mu lo de H 20 2 , áci dos têm função de transporte de com ação jasmô nico e salicíli co e etileno elétrons dentro da célula. Forsobre fungos. funcion a como sina is de mam também, como ele comalarme para as cé lulas vizinhas. provou, uma espécie de caixa que dá estabilidade às proteínas elaboradas pela célula. A reprodução celular também se tornou razoavelmente clara. Foi estudada por Paulo (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), investiga Ferreira e Adriana Hemerly, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um dos primeiros grupos de data como os organismos consertam a molécula de DNA- por meio de outras moléculas. As proteínas de reparo recomining de fora de São Paulo a integrar o projeto, em abril do ano passado. Descobriram até agora 15 genes exclusinhecem a lesão, reúnem as enzimas que eliminam o trevos da cana, associados a pelo menos quatro formas difecho lesado e abrem caminho para outras enzimas que vão rentes de proteínas chamadas quinases, cuja função ago pôr no DNA o trecho que devia estar correto desd~ o iníra se conhece bem: são elas, segundo Ferreira, que ativam cio. Se o DNA permanecer danificado, ocorrem doenças ou desativam cada etapa do ciclo celular, da duplicação graves, como a síndrome de Cockayne, com problemas do DNA à separação das duas células. "As quinases são de desenvolvimento e retardo mental. proteínas de licenciamento, que disparam o processo de Menck comparou os genes de reparo de humanos, ledivisão celular e permitem a ação das proteínas do comvedura (organismo unicelular) e dois vegetais, cana e Araplexo de reconhecimento de origem, que se ligam ao bidopsis thaliana, uma planta da família da mostarda de apenas cinco pares de cromossomas usada como modeDNA", diz ele. Há também as proteínas chamadas complexo promotor de anáfase ou APC, acionadas pelas quilo nos estudos de biologia molecular. Encontrou 85 genes nases, que depois a célula destrói, de modo a permitir que em comum, uma semelhança de 73%. Análises mais refinadas indicaram a proximidade entre os grupos. "Nosso os cromossomas se separem. Nem tudo está compreendido, evidentemente. Carlos sistema de reparo se parece mais com o de uma planta do Martins Menck, no Instituto de Ciências Biomédicas que com o de uma levedura", diz ele. Desse total, um ter-
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Como a cana reage aos imprevistos Cada parte da planta produz compostos químicos diferentes, de acordo com a situação
Lesõe s físic a s ' - (ferimento s)
raios ultr<i'Vii:llet:a aciona a produ de antocianinas, flavonols e isoflavonas.
A sinalização (comunicação) celular se realiza por meio do ácido salicílico, ácido jasmônico e Príi,Pnroi 'II ' JI
A baixa concentração de nitrogênio induz a cana a produzir flavonóides e isoflavonóides.
' estimulam os processos de produção de cumestrol, cumarina, furanocumarinas, ésteres ferrúlicos,fenó licos aderidos à parede, ligninae suberina.
O ata que d e patógenos induz à liberação de isoflavonas, isoflavonóides prenilados, estilbenos, cumarinas e furanocumarinas.
Causa de mutações - Também não se entende direito, ainda, o comportamento dos transposons - os genes saltadores, que pulam de um cromossoma para outro, descobertos na década de 40 pela geneticista norte-americana Barbara McClintock (1902-1992, Nobel de Medicina de 1983) e aceitos a muito custo pela comunidade científica. Marie-Anne Van Sluys, no Instituto de Biociências da USP, não esperava encontrar muitos deles na cana, mas achou nada menos de 13 tipos diferentes de transposons. Pensava-se que os genes saltadores funcionassem em lugares muito específicos, do mesmo tecido. Mas não. Como ela descobriu, mais de um desses genes inquietos está ativo em células do mesmo tecido ao mesmo tempo. "Nunca antes foi avaliada a capacidade dos transposons se expressarem juntos no mesmo tecido'~ diz Marie-Anne, que deixa escapar duas perguntas. Por que há diferentes transposons no mesmo tecido? Será que têm outra função que ainda não se conhece? Em bactérias, estão associados à resistência a antibióticos. Em drosóflias, a mosca-de-frutas, garantem a estrutura dos telômeros, as pontas dos cromossomos. Por pularem muito, os transposons provocam mutações e a variabilidade genética das espécies, selecionadas ao longo do processo evolutivo. Por essa razão é que Marie-Anne os vê como candidatos a marcadores genéticos de variedades de cana a serem desenvolvidas.
om o arroz, outra planta do grupo das gramíneas, a cana tem pelo menos um gene homólogo (semelhante), o XA21, que confere resistência à bactéria Xanço dos genes encontrados em cana ainda não havia sido thomonas orizae. A partir daí, Luís Eduardo Aranha Camardescrito em plantas. As combinações são intrigantes- e indicam que, mais do go e a mestranda Mariana Sena Quirino, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, resolveque simples semelhanças, parece haver uma unidade entre ram trabalhar por aproximação: querem que o XA21 seja os seres vivos. Segundo Menck, há genes de reparo em bacainda mais eficiente contra uma bactéria que aparentemente não há em humatéria semelhante, típica da cana, a O PROJETO nos, mas estão presentes em plantas. Por Xanthomonas albilineans. Fizeram exoutro lado, genes importantes de reparo Genoma Cana perimentos valorizando a expressão do DNA, como o conhecido pela sigla MODALIDADE desse gene e agora examinam o DNA XPA, presentes em humanos e leveduras, Projeto de pesquisa no âmbito do das plantas-pais e das plantas-filhas. ainda não foram encontrados em ArabiPrograma Especial Genoma FAPESP dopsis e em cana. Menck tem uma hipóA pesquisa mostrou quatro variaCOORDENADOR tese: "É possível que as plantas tenham ções do mesmo gene (alelos), "talvez PAULO ARRUDA - Centro de mecanismos diferentes ou redundantes com funções diferentes'~ diz CamarBiologia Molecular e Engenharia de reparo do DNA': Mas ainda não há cogo. Nesse ponto, o trabalho ganha Genética da Unicamp outros contornos. "Podemos usar as mo entender o que pode estar fazendo INVESTIMENTO informações do genoma da cana na cana o gene BRCA1, cuja deficiência US$ 4.484.090,61 para buscar os genes ancestrais, rescausa o câncer de mama em humanos.
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ponsáveis pela cana moderna." Se der tudo certo, vão saber quais alelos vieram da Saccharum officinarum ou da Saccharum spontaneum, as duas espécies que deram origem à cana atual, um organismo considerado complexo. A cana hoje utilizada para produzir açúcar, álcool, aguardente e a prosaica rapadura tem um número variável de cromossomas - de 100 a 130. Uma das prováveis razões é que em cada célula se mantêm pelo menos em parte as cargas genéticas das espécies originais- a S. spontaneum tem de 36 a 128 cromossomas, e a S. officinarum, entre 70 e 140. A planta atual é um híbrido ou, do ponto de vista celular, um organismo poliplóide: cada cromossoma tem de seis a dez cópias- nem sempre iguais. Essa peculiaridade fez com que o seqüenciamento integral do genoma fosse descartado desde o início. Seria provavelmente caro, desgastante e demorado demais. Açúcares especiais - Como alternativa, a equipe do Ge-
nais, ainda que um pouco abaixo dos australianos ( 140 a 150 quilogramas por tonelada). statação de que há 162 genes ligados ao meholismo de açúcares em geral (44% dos genes já descritos em plantas e animais com a mesma função) estimula vôos mais altos, como a perspectiva de produzir açúcares especiais. É o caso da trealose, que, além de ter valores comerciais mais elevados, tem importância biológica: em outros organismos, confere resistência ao frio e à seca, uma característica pouco explorada na cana. Eugênio Ulian, pesquisador da Copersucar que encontrou dois genes que levam à síntese de trealose, não está olhando apenas para a frente. Em julho deste ano, lembra ele, ocorreu em São Paulo uma geada forte, que abateu as plantações de milho, café e, em menor escala, a de cana. Ulian acredita que as perdas poderiam ser menores se já estivessem mais claros os mecanismos de ativação da produção de trealose.
noma trabalhou por amostragem, valendo-se da técnica de Expressed Sequence Tags ou etiquetas de seqüências expressas (ESTs), que acelera as descobertas por identificar apenas os trechos de genes expressos, responsáveis pela formação de proteínas. As descobertas acumulavam-se num ritmo admirável. Em março de 1998, época das conversas preliminares sobre o projeto, as ESTs de plantas somavam 4,8% do total depositado no GenBank, no qual os ESTs humanos chegavam a 63,4%. Em dois anos, o número de ESTs de plantas aumentou mais de 15 vezes e hoje representa 18,2% do total (ver gráfico). Na cana imaginada a partir dos genes descobertos, o teor de açúcar não é um problema preocupante: Trazida pelos portugueses da Ilha desde os anos 70, a produtividade da Madeira, a cana-de-açúcar ganhou de açúcar tem crescido 1% ao ano, as terras brasileiras em 1502. Nunca por meio do melhoramento genémais deixou de ser uma fonte de ritico tradicional, com cruzamento e quezas para o país. A cultura ocupa 5 seleção de novas variedades. A cana milhões de hectares e, a cada safra, o brasileira produz de 120 a 130 quiBrasil produz 300 milhões de to nelalogramas de açúcar por tonelada, equiparável aos padrões internacio-
Antiga fonte de riquezas
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das de cana, o equivalente a 25% da produção mundial, convertidos em 14,5 milhões de toneladas de açúcar e 15,3 bilhões de litros de álcool. Mobiliza também 350 indústrias, cerca de 50 mil produtores e um contingente de 1,4 milhão de trabalhadores
Alcance nacional- Essas perspectivas se desenham a partir do trabalho integrado de laboratórios espalhados nas três universidades públicas estaduais (USP, Unicamp e Unesp), três particulares (em Ribeirão Preto, Mogi das Cruzes e São José dos Campos), no IAC e no Centro de Tecnologia da Copersucar. Fazem parte da rede ONSA (Organização de Análise e Seqüenciamento de Nucleotídeos), apoiada por dois pontos centrais, o Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) e o Laboratório de Bioinformática, ambos na Unicamp - o primeiro preparando o material a ser seqüenciado pelos laboratórios (fez cerca de 1 milhão de clones do genoma da cana) e o segundo organizando as informações no banco de dados, analisado pelos grupos de data mining. Desde a etapa de planejamento, as pesquisas contaram com o respaldo internacional do steering committe, o comitê externo avaliador, integrado por Jean Christophe Glaszmann, do Centro Internacional de Cooperação em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), da França, e Andrew Paterson, da Universidade
diretos e outros 3,6 milhões indiretos, segundo a Copersucar. São Paulo é o maior produtor nacional: no Estado, os negócios nesse campo movimentam cerca de US$ 8 bilhões e empregam, diretamente, 600 mil trabalhadores. O Genoma Cana foi concebido com um acentuado recorte econômico, com a finalidade de ampliar a
de Geórgia, Estados Unidos. Mesmo que o projeto seja paulista, os resultados são compartilhados cada vez mais por outros Estados. No final do ano passado integraram-se mais dois grupos, um da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e outro da Federal de Alagoas (UFAL), com o apoio das respectivas fundações estaduais de amparo à pesquisa. Em julho, outro avanço: aderiram mais 36 grupos de data mining, com grupos de institutos de pesquisa de Minas Gerais, Paraná, Bahia, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro. E tamanha é a quantidade de informações gerada que Paulo Arruda, o coordenador do projeto, anima-se com a possibilidade de dar espaço a novas equipes, a partir do próximo ano. "Precisamos de criatividade e de imaginação para aproveitar essas informações da melhor forma possível", lembra Menck, da USP. O esforço deve compensar. Ao romper os limites do melhoramento genético clássico, o que já se sabe sobre o genoma pode reduzir o tempo de desenvolvimento de novas variedades de cana, usualmente um processo demorado, que toma de 12 a 15 anos. "Se no início reduzir um ano de trabalho, já está ótimo", diz William Burnquist, gerente do Centro de Tecnologia da Copersucar. A modéstia é só aparente: cada ano implica investimentos da ordem deUS$ 8 milhões. Quando essa meta se viabilizar, por meio de marcadores genéticos que ajudem a selecionar as variedades de cana com as características desejadas já no início dessa maratona, a economia obtida será o dobro do que se gastou na pesquisa até agora. •
produtividade da indústria de açúcar e de álcool. Enfrenta também desafios iminentes. Um deles é o combate à bactéria Leifsonia xyli subsp. xyli, causadora de uma das mais graves doenças da cana em todo o mundo, o raquitismo-dasoqueira, que provocou perdas estimadas em US$ 2 bilhões no Brasil, nos últimos 30 anos.
E às vezes surgem novos problemas. Éder Giglioti, da UFSCar, caracterizou uma nova doença da cana-de-açúcar, a falsa estrias vermelhas, observada até o momento somente no Brasil. Segundo ele, há evidências de que se trata de uma nova espécie de Xanthomonas, a quinta do gênero a ser isolada da cana.
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CIÊNCIA
ENTREVISTA: JOSÉ LEITE LOPES
Um físico a toda prova professor José Leite Lopes, um pernambucano rijo de 82 anos completados em 28 de outubro deste ano 2000, é um venerável personagem da ciência brasileira. que continua muito perto de duas grandes paixões de sua vida: ''Acompanho o progresso das novas teorias da Física e os problemas políticos da ciência brasileira", diz. Esse exercício suave de fidelidade às suas vocações, mesmo estando aposentado e distante das pesquisas em Física de Partículas e em Teoria de Campos que o tornaram um cientista internacionalmente reconhecido, ele mantém principalmente no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, o CBPF, por cuja criação batalhou no fim da década de 40, depois dirigiu, de 1960 a 1964, e do qual se demitiu quando o golpe de Estado daquele ano espalhou arbitrariedades insuportáveis pelo país. Leite Lopes tem entre suas contribuições originais à Física a proposição dos w+ w- como bósons vetoriais ligados ao fóton, o que daria uma unificação das forças
O
• Comecemos explicando seu trabalho sobre a unificação das forças eletromagnéticas e forças fracas. - Na Física existem quatro tipos de forças fundamentais que se chamam interações. A gravitacional, que todos nós, toda a matéria, toda a energia, o que quer que exista sofre. Foi inventada por Isaac Newton e aperfeiçoada por Einstein. Existe a interação eletromagnética, carregada pelos fótons; a interação fraca, aquela que comanda a desintegração do nêutron em próton mais elétron mais neutrino; e existe a interação nuclear, a mais forte de todas e que dá estabilidade à matéria. Existimos porque existem as interações nucleares, que fazem com que nêutrons e prótons no núcleo atômico se reúnam, formando configurações estáveis. Já a gravitação, do ponto de vista da Física Atômica, é a mais fraca de todas, mas no universo é quem comanda soberana, porque uma estrela, por exemplo, é formada pela
eletromagnéticas e das forças fracas que foi o primeiro a apontar, e a predição de existência do bóson ZO, descoberto depois já na década de 80. São achados científicos de 1958. Entre as atribulações que viveu em decorrência dos problemas políticos do país, ele registra a ida para a França em 1964 e o retorno ao Brasil em 1967, em parte atendendo a apelos dos estudantes cariocas e confiante numa redemocratização que afinal não se materializou. Inclui também a cassação de seus direitos pelo AI-S em 1969, a ida para Pittsburgh e, em 1970, para Estrasburgo, na França, onde permaneceu até 1986. Professor emérito das universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)- onde trabalhou de 1946 a 1964 e de 1967 a 1969-, de Estrasburgo e do CBPF, Leite Lopes falou com carinho de seus três filhos - o antropólogo José Sérgio, o especialista em informática Sílvio Ricardo e a dramaturga Ângela - quando concedeu a Mariluce Moura a entrevista a seguir, que é uma verdadeira aula de Física e de vida.
atração gravitacional da matéria que começa a se contrair. Tudo o que é massa, tudo o que é energia, sofre essa atração mútua e começa a se contrair, mas à medida que se contrai vai aumentando a temperatura até chegat a um ponto tal em que se produzem reações nucleares entre essas partículas.
dependendo da massa da estrela ela pode dar uma parte, são as supernovas, e vê-se quando elas queimam, produzindo uma grande luminosidade. Mas existe entre as partículas uma repulsão fundamental, que provém do princípio de Pauli. Ele é o prêmio Nobel com quem trabalhei, Wolfgang Pauli.
• De quanto é essa temperatura?
• O senhor trabalhou com ele em 1945?
- Oooh ... bilhões de graus centígrados. Há o aquecimento e então reações nucleares que emitem luz, emitem ondas, e é por isso que as estrelas são visíveis. Mas a interação importante nas estrelas é a transformação de hidrogênio em hélio. O hidrogênio reage entre eles e produz o gás hélio. Existe sempre uma quantidade finita e quando essa quantidade queima toda não há mais material para reações nucleares. Não as havendo, a gravitação dá uma gargalhada e continua mandando e contraindo, aumentando a temperatura nessa contração, e
- Sim, em Princeton. Pauli diz que não pode haver mais de um elétron em cada estado. Ou existe zero ou um, se vier um outro elétron, ele passa para o estado superior. Quando a matéria se contrai é como se houvesse uma força de repulsão, os elétrons não podem ocupar todos a mesma posição. Essa força se contrapõe à atração gravitacional, e chega um momento em que se forma o buraco negro, porque a gravitação manda sempre e termina formando um campo de gravitação muito forte, que atrai tudo para dentro dela. A luz, por exemplo, sai PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO OE 2000 • 37
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normalmente, mas chega a um campo de gravitação tão forte que fica presa. Por isso temos o buraco negro, que só se sabe que existe pelo fato de ter uma massa grande e sem visibilidade alguma que atrapalha o movimento das outras partículas. Sempre me interessei por essas forças, trabalhei com Pauli sobre as forças nucleares, mas depois passei a estudar as interações fracas- aquelas que comandam a desintegração do nêutron em próton, elétron e neutrino, ou ainda o bóson Pi, que se desintegra em uma partícula chamada muon e um neutrino. Pauli inventou o neutrino em 1930, porque verificou-se que existem núcleos que se desintegram emitindo elétrons e esses elétrons que saem deveriam ter uma energia definida, resultado do núcleo filho menos o núcleo pai. Essa energia devia ir no elétron.
• Mas alguma coisa atrapalha isso. - Ah, é, mas o elétron você encontra de todas as energias possíveis, desde esse máximo até zero, e ninguém compreendia por quê. Até que Pauli mandou uma carta para uma reunião que houve na Alemanha, porque ele tinha
~ elétron ou isso que ele chamou de ~ nêutron, mas é neutrino - ain da
:>
~
• Quem descobriu o nêutron? - Chadwick. Houve uma reação, na qual bombardeando acho que berílio com partículas alfa produziram-se partículas que Joliot e Irene Curie verificaram que tinham a propriedade, quando absorvidas por uma região que tem próton, de mandar prótons para
uma dança, um encontro para ir, dizendo: "Prezados senhoras e senhores radioativos ...", e observava que o fato de o elétron ter todas as energias possíveis, até essa energia máxima, provém do fato de que um núcleo, quando se desintegra num outro núcleo, faz sair um elétron e uma partícula nova, de massa muito pequena, podendo ser zero, e a energia é distribuída entre as duas partículas: ou o
Turbulências no mundo das partículas De tempos em tempos, teorias aparentemente sólidas e brilhantes como diamantes são destruídas por outras teorias emergentes, que mostram as falhas da anterior e apontam novos caminhos. A situação é absolutamente natural. Os problemas começam quando uma velha lei da ciência é derrubada e não se sabe o que colocar no lugar. Em 1900, Max Planck publicou o primeiro trabalho com a primeira versão da teoria quântica e começou a construir um modelo de como o Universo funciona. Cem anos depois, o resultado dos traba-
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não havia o nêutron. Depois ele foi descoberto e Enrico Fermi, a quem Pauli contou essa teoria, disse les particelle di Pauli sono piu tosto, são antes neutrinos e não neutrones, são pequenos.
lhos dos físicos teóricos, de analisar os resultados dos experimentos saídos dos aceleradores de partículas de alta energia, está chegando ao fim com a descoberta da partícula chamada bóson de Higgs. O problema é que o modelo padrão, ao que parece, está definitivamente envelhecido, segundo relata a revista The Economist, de 7 de outubro. A situação remete ao século 19, antes de Max Planck anunciar suas idéias, quando os físicos tinham uma descrição pronta do Universo, uma espécie de "teoria de tudo". Os físicos de hoje são mais cautelosos e
fora. Joliot achava que eram fótons de muito alta energia. Daí Chadwick disse que se saem prótons é porque vem uma partícula com massa quase igual à do próton e emite um. Quando se tem duas partículas que se faz interagir, uma pode passar a outra toda para ela, e essa fica parada. Um problema de mecânica que acho que Joliot não entendeu bem. Então ele achou que havia essa partícula, devia
sabem que não é prudente afirmar ter uma teoria à prova de falhas. Eles também não têm noção de qual será o próximo passo, que mudará os paradigmas vigentes. A revista New Scientist, de 14 de outubro, revelou que o pesquisador britânico Humphrey Maris é quem mais contribui para o debate sobre o futuro da física. Maris, da Brown University, afirma que há 30 anos o impensável aconteceu em Minnesota: pesquisadores quebraram o "indivisível" elétron em fragmentos. E, até agora, ninguém conseguiu provar o contrário. "Esses fragmentos de elétrons se comportam, para todos os meios e fins, como partículas totalmente separadas", diz.
ser o nêutron, cuja massa é um pouquinho superior à do próton, e ele era o homem para descobrir porque, já desde 1919, o grande Rutherford havia predito que no hidrogênio você tem o elétron em torno do próton, isso terminaria caindo, e elétron mais próton, negativo com positivo, daria uma partícula neutra. Depois Chadwick começou a procurar e, quando viu essa reação que produzia próton, achou que era uma partícula neutra, era o nêutron. Então o nêutron se desintegra dando um próton mais um elétron, mais o neutrino. Esse neutrino então foi inventado por Pauli, tinha uma partícula de massa muito peque-
na, podendo ser zero, e passou-se muito tempo sem se descobri-lo. Depois descobriu-se, César Lattes com Occhialini e Powell descobriram o píon, que se desintegra dando múon mais uma partícula neutra, que se pensava que fosse o mesmo neutrino. Mas, invertendo a reação, bombardeando a matéria com esse neutrino que sai, verificou-se que se ele fosse o mesmo do nêutron produziria um
"Eu as chamo de eletrinos!' As afirmações sacudiram o mundo da física porque nestes 103 anos, desde que foi descoberto, não houve nenhuma evidência de que o elétron seja divisível. "Humphrey conseguiu expor uma falha na estrutura da Teoria Quântica", admitiu para a New Scientist Peter McClintock, da Universidade de Lancaster. Maris imaginou que um elétron em uma bolha de hélio líquido poderia ser colocado num estado instável em forma de halteres e pressionada de tal modo que fosse possível separá-la em duas. Antes de testar a idéia, o físico vasculhou a literatura existente para ver se alguém já havia feito o mesmo. Descobriu o
''Qual foi a minha maior contribuição à Física? Essa dos w+ wsendo bósons vetoriais ligados ao fóton. Isso dá uma unificação que fui o primeiro a apontar''
nêutron nessa reação inversa, o que não acontecia: essa partícula neutra saída dava lugar a píons, a múons, e então, além do neutrino de Pauli, que aparece na desintegração do nêutron, há um neutrino muônico que é ligado à desintegração do píon em múon mais esse neutrino.
• Então diferentes partículas têm o seu neutrino correspondente.
que procurava em artigos escritos no final dos anos 60, quando Jan Northby e Mike Sanders, na Universidade de Minnesota, estudaram a velocidade das bolhas de elétron se movendo no campo elétrico em hélio líquido. Em 1971 e 1984, outros pesquisadores fizeram trabalhos semelhantes. Ocorre que nenhum deles descreveu a divisão do elétron. O próprio Maris passou anos sem contar para ninguém o que pensava. Apenas em junho deste ano ele apresentou seu trabalho numa conferência em Minneapolis e o publicou no fournal of Low Temperature Physics (vol. 120, pg. 173). No final, mais de cem físicos questionaram cada aspecto da teoria.
-É, tem três tipos de neutrino: o eletrônico, o muônico e o tauônico, esse descoberto recentemente.
• Quando se descobriu o nêutron? - Em 32. O píon e o múon em 1946, 47 ... Já o o tau é bem recente, da década de 70.
• Há alguma relação entre a descoberta das partículas em 46, 47 com as pesquisas que estavam sendo feitas no projeto Manhattan? - Não. O Projeto Manhattan queria fabricar bomba atômica e o pessoal só pensava em fazê-lo antes que Hitler o conseguisse. Nessa época eu estava em Princeton trabalhando com Pauli. Passou-se muito tempo sem saber como se dava a desintegração do nêutron em próton mais elétron mais antineutrino. Então, finalmente, Feynman e Gell-Mann acharam que essa interação fraca do nêutron em próton, elétron e neutrino era do tipo vetorial. Quer dizer: há uma forma geométrica. Podia ser escalar, podia ser várias outras, eles achavam que devia ser vetorial. Aí eu imediatamente pensei que haveria bósons
Mas Maris tinha resposta para tudo e, apesar de ninguém ter descartado totalmente a possibilidade da divisão da partícula, os críticos não condescenderam. "A idéia de um elétron se separar em fragmentos é totalmente incompatível com a Teoria Quântica de Campos", diz Anthony Leggett, da Universidade de Illinois, embora até admita que possa haver algo errado com a teoria. A maioria dos físicos acha que a argumentação de Maris desmorona na primeira dificuldade, embora ainda não saibam precisar como. O temor é compreensível. Se a descoberta for verdadeira, a Teoria Quântica estará errada - e não há nada para se colocar no lugar.
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w+ w- que eram intermediários entre nêutron, próton, elétron e neutrino, e deviam ser vetoriais. Como o fóton da luz também é vetorial, achei que deviam ter um laço de família. • O nome "bóson" aparece aí.
-Não, antes. Os bósons são partículas cujo spin é inteiro, ou O ou 1 ou 2, etc. E há os férmions, como o nêutron, próton, elétron, neutrino, cujo spin é um meio, é fracionário. Fiz um trabalho em 1958 em que propus uma relação entre o bóson e o fóton, e a partir daí uma igualdade entre a interação fraca e a constante eletromagnética que é dada pela carga do elétron. Quando fiz essa hipótese, obtive o valor da massa dos bósons w+ e w-, na ordem de 60 massas do próton. Isso foi novidade, e o C. N. Yang não acreditou. Ele achava que a massa do bóson seria apenas um pouco superior à do próton. Propus no mesmo trabalho a existência de um bóson neutro, que hoje se chama Z0 (z-zero), que se devia buscar na interação de elétrons com nêutrons.
• Esse bóson neutro só foi descoberto na década de 80, não é? - Por aí, é. Mas pouca gente tinha lido meu trabalho, embora tivesse sido publicado na Nuclear Physics, uma publicação holandesa muito importante. O Yang depois publicou um artigo no qual dizia que o meu trabalho, embora não tivessem lido, era o mais ligado às pesquisas atuais.
• Depois de seu trabalho com os bósons, o que o senhor passou a pesquisar? - Passei a estudar a possibilidade de haver léptons com spin excitado. Léptons são partículas ultraleves, elétrons, neutrinos leves. E mantive os estudos com léptons até alguns anos atrás. • O que o senhor considera sua contri-
buição mais importante para a Física? 40 • NOVEMBRO OE 2000 • PESQUISA FAPESP
• Na época o senhor estava no Rio.
'' Vários cientistas brasileiros poderiam ter ganhado um Nobel. Carlos Chagas, Rocha Lima, César Lattes, Gilberto Freyre ... Mas a Academia tem lá seus critérios políticos''
- Essa dos ws sendo bósons veto riais ligados ao fóton. Isso dá uma unificação que fui o primeiro a apontar, porque propus que a força fraca tivesse uma constante g igual à força eletromagnética e. Hoje g não é igual a e, mas é multiplicado por um outro fator. Esse foi meu trabalho fundamental, eSteve Weinberg, em seu discurso quando recebeu o Nobel, o citou. Yang também citou e muita gente, mas ele não caiu no gosto popular. Não passou a ser obrigatoriamente citado, apesar de o Weinberg continuar citando, inclusive no livro que acaba de publicar, assim como o Yang.
• Como, em um ambiente com escassa compreensão sobre o papel da pesquisa científica, pôde se formar no Brasil uma geração de físicos de primeira linha? -Bom, essa Física fundou-se com a criação da Universidade de São Paulo (USP). Os que fizeram a USP mandaram um matemático da Politécnica, Teodoro Ramos, buscar professores lá fora. Ele foi ao Enrico Fermi, que indicou Gleb Wataghin, que veio para cá e fundou a Física moderna no Brasil. Ele formou o Mário Schenberg, o Marcelo Damy de Souza Santos e eu também vim para São Paulo.
- Sim. Eu fiz química no Recife, influenciado pelo professor Luiz Freire, que me fez ir para o Rio, onde fiz o curso na Faculdade Nacional de Filosofia. Daí, quando a Física moderna começou a ser feita em São Paulo, vim trabalhar com Mário Schenberg em São Paulo. Todo mundo vinha para esse ambiente criado por Gleb Wataghin. Veio o Lattes, fomos colegas, veio muita gente e foi-se produzindo essa coisa nova. Em 1948 fui à Argentina e lá encontrei um físico alemão, Richard Gans, que queria compreender por que havia sido feita essa escola brasileira, se na
Argentina, disse-me, ele tinha estado antes e não conseguira o mesmo.
• Bem, depois de seu tempo em São Paulo o senhor fez todo um esforço para implantar um núcleo no Rio e as coisas não pareciam muito fáceis nem muito simples. Como foi isso? - Quando terminei meu doutorado em Princeton fui nomeado professor da Faculdade Nacional de Filosofia. O diretor era o San Tiago Dantas. Eu queria que os professores ganhassem salário de tempo integral, como em São Paulo. Mas havia o Dasp (Departamento Administrativo de Serviço Publico), que proibia o tempo integral. Então eu comecei a lutar. Estávamos no governo Dutra (General Eurico Gaspar Dutra) e depois no segundo governo Vargas (Getúlio Vargas). Eu fazia discursos, escrevia artigos, porque achava que era importante criar um ambiente igual ao de São Paulo. Queria que o Lattes, quando voltasse da Inglaterra, viesse para o Rio e, quando ele descobriu o píon, propus que se criasse a cadeira de Física Nuclear na UFRJ, o que foi feito. O Lattes viajou até o Rio para ver qual era a situação, e eu lhe disse "está ruim, porque o reitor nem nos apóia':
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Acho que ele nem sabia que existia Física Nuclear e a bomba atômica... Aí um amigo chamado Nélson Lins de Barros me levou ao João Alberto de Barros, irmão dele e um político importante, que tinha feito parte da Coluna Prestes, do Tenentismo ... Era homem do Getúlio, que o fez ser interventor em São Paulo, e era então ministro do Itamaraty. Quando expliquei a ele que a Física Nuclear não podia ser feita porque os professores não ganhavam suficientemente e que a universidade não nos apoiava, ele disse "então vamos fazer fora da universidade". E criou-se o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).
• Em que ano? -Em 1940. Como uma instituição privada, financiada pelo próprio João Alberto, pelo presidente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), Euvaldo Lodi, que dava cem contos por mês ... Saíamos, pedíamos para os sindicatos, houve um banqueiro, Mário de Almeida, que também nos deu dinheiro e construímos o pavilhão onde se instalou o laboratório, perto de onde estamos, no campus da Praia Vermelha da UFRJ. Em 1951 criou-se o CNPq, e Álvaro Alberto, o presidente, prometeu nos dar dinheiro. O centro estava no apogeu quando Getúlio suicidou-se, houve uma crise geral, e arquivou-se o projeto de um ciclotron de alta energia. O centro entrou em crise, porque só conseguíamos a metade do que precisávamos. Depois veio a inflação enorme, já com Juscelino (o presidente Juscelino Kubitschek), com Jango (o presidente João Goulart). Quando houve o golpe de 1964, pedi demissão do cargo de diretor científico do CBPF.
• E aí o senhor saiu do Brasil. -Fui para a França a convite do físico Maurice Levi, e permaneci na Fa-
Silva), mas a chamada revolução :;~ foi implacável. Depois, o ministro ~ Veloso (João Paulo dos Reis Veloso, ministro do Planejamento) achou que era tudo uma besteira e trouxe gente como Sérgio Porto, o Rogério Cerqueira Leite, que voltou dos Estados Unidos para a Unicamp, fundada por Zeferino Vaz em 1970. Então, mesmo na ditadura, muita gente estava trabalhando, o grupo de Campinas, o pessoal de Recife, que começou a se desenvolver. Se houve um atraso real foi mais na formação de gente.
culdade de Ciência de Orsay, em Paris, de 1964 a 1967. Voltei em 1967 e reassumi na universidade e no CBPF. Mas em 1969 fui cassado pelo AI-5 (Ato Institucional número 5) e fui embora, primeiro para o Pittsburgh Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, mas não quis ficar, não gostei do ambiente, afinal lá estavam o Nixon e o Kissinger, que tinham apoiado o golpe no Brasil. Um ano depois recebi um convite e fui para Estrasburgo, na França, onde fiquei até 1986. ·
• Como o senhor vê os avanços mais recentes em sua especialidade física, que parecem tornar ultrapassado o modelo padrão das partículas e trazem notícias como a da divisão do elétron (ver box)? -Essas informações de que o modelo está ultrapassado são interessantes. Tenho simpatia pela supersimetria, mas até hoje não foram descobertas as partículas que a confirmem. A partição do elétron é uma novidade interessante. Na França estudei como pode se decompor, mas aqui há uma grande novidade da decomposição em uma partícula mais um elétron.
• Por que não há um Nobel brasileiro? • O senhor, como Schenberg, era mem-
bro do Partido Comunista? -Nunca fui. Eu apoiava as reformas de base e tudo, mas nunca pertenci a um partido que poderia fazer uma revolução de que eu não gostasse. Mas eles (os militares) consideraram que eu era.
• A situação política determinou um atraso na física brasileira? - Bem, eles tiraram o Schenberg, a mim, vários outros, houve muito protesto, cartas mandadas por físicos franceses, americanos, o Yang mandou uma carta para Costa e Silva (o presidente militar Arthur da Costa e
-O Carlos Chagas teria sido prêmio Nobel. Ele foi indicado, mas muitos médicos brasileiros foram contra. E houve outras pessoas também que mereciam. O Henrique Rocha Lima, do Biológico em São Paulo, o César Lattes, que descobriu o píon e não ganhou, porque quem ganhou foi o Powell, que era o chefe do laboratório, o Gilberto Freyre ... A Argentina tem prêmios Nobel, por que nós não? • O senhor mesmo, por exemplo?
-Não me coloco nessa lista. Quando perceberam a importância do meu trabalho já tinha passado muito tempo. • PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO OE 1000 • 41
CIÊNCIA
Novo microscópio de transmissão tem resolução de até O, 17 nanômetro: o mais potente do LME e da América do Sul
m 15 meses de operação, o Laboratório de Microscopia Eletrônica (LME) de Campinas, tornou-se um recurso precioso para 80 pesquisadores de 55 grupos em todo o país: os estudos ali desenvolvidos já resultaram na publicação de 36 artigos e cerca de 80 apresentações em conferências. Integrante da estrutura aberta a multiusuários do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) do Ministério da Ciência e Tecnologia, o LME foi recentemente avaliado por um comitê científico internacional a pedido da FAPESP. O comitê considerou excepcional a produtividade e qualificou os trabalhos ali feitos como "de máxima qualidade científica". Um desses trabalhos recebeu em outubro o prêmio de Melhor Tese de Doutoramento da Sociedade Brasileira de Física (SBF). Foi o de Daniela Zanchet, engenheira química pela Universidade Federal do Paraná e
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42 · NOVEMBRO DE 1000 • PESQUISA FAPESP
com doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que construiu e caracterizou novos tipos de cristais de ouro. Daniela, de 28 anos, seguiu para o pós-doutorctdo no Departamento de Química da Universidade da Califórnia em Berkeley, Estados Unidos. De primeira linha - Para equipar as cinco salas do laboratório, a FAPESP investiu US$ 1,9 milhão em equipamentos. O mais importante é o microscópio de transmissão por feixe de elétrons, cuja resolução chega até 0,17 nanômetro - o nanômetro é a milionésima parte do milímetro -, ou menos que a distância entre dois átomos vizinhos, na maioria dos materiais. Único da América do Sul, o potentíssimo aparelho amplia uma imagem até 1,5 milhão de vezes. Com ele, se conseguem imagens precisas da posição dos átomos, o que permite ver como eles estão ar-
ranjados. Na sala onde fica o equipamento, a temperatura é mantida sob controle rigoroso e as paredes são revestidas com material à prova de vibrações sonoras. Mais duas salas abrigam microscópios de varredura: com resolução de 1,5 ou 3,0 nanômetros, ampliam imagens até 300 mil vezes, o bastante para identificar a morfologia de grãos ou partes de um material. Na sala onde do laboratório de preparação de amostras ocorre uma parte básica da pesquisa: para a análise em microscópio, o material é submetido a técnicas específicas, conforme o estudo pretendido. Essa avançada infra-estrutura trouxe um grande benefício: já se pode tocar trabalhos de ponta em ciência dos materiais sem precisar ir ao exterior, o que dificultava ou até inviabilizava muitas pesquisas. "Atualmente, grande parte das pesquisas depende de análises m1-
croscópicas desse tipo. Para entender as propriedades físicas e químicas dos materiais, é preciso visualizar as estruturas no nível dos átomos", diz o coordenador do LME, Daniel Ugarte. Com as ferramentas do laboratório, pode-se acompanhar, em pé de igualdade com os centros mais avançados do mundo, a tendência geral de miniaturização gerada pela microeletrónica, que parece estender-se a toda a ciência de materiais. Montado em menos de um ano, "tempo recorde para um complexo desse porte", segundo Ugarte, o LME funciona como centro de apoio aberto a pesquisas acadêmicas ou empresariais. Só um quarto dos trabalhos já publicados é da própria equipe do LME. Gratuito para pesquisas acadêmicas, o uso do laboratório não envolve grandes formalidades basta submeter um projeto à coordenação do LME -, mas exige que o iniciante passe por treinamento, em geral de uma semana para o microscópio eletrónico de varredura e de dois meses para um microscópio de transmissão. Centro de formação- O LME, contudo, não foi criado para prestar serviços, como fazem outros laboratórios: "Oferecemos as ferramentas e ensinamos a manuseá-las, mas todo o resto fica por conta do pesquisador". Essa filosofia que Ugarte implantou permite ao laboratório funcione com equipe mínima - só quatro funcionários contratados, além de um estudante de doutorado e um pós-doutor-, mas seu principal objetivo é formar profissionais qualificados em microscopia eletrónica. Além do treinamento, Ugarte faz palestras em todo o país e ministra cursos na Unicamp - o LME já treinou, por exemplo, 40 alunos de pós-graduação. Juan Carlos Gonzalez Pérez, do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ficou um mês e meio no LME para obter imagens necessárias
a sua tese de doutorado, sobre multicamadas de pontos quânticos autoconstruídos com arsenetos de índio e de gálio. "O apoio do pessoal do LME foi fundamental", diz Wagner Nunes Rodrigues, orientador da tese de Pérez, cujo objetivo é produzir sistemas de objetos chamados "pontos quânticos", que medem algumas dezenas de nanómetros. Esses obje-
tos, que se comportam como "átomos gigantes", ou "átomos" compostos de átomos, poderão ser usados para construir lasers mais estáveis à temperatura ambiente, além de s~r vir como memórias. Contar com a estrutura do LME na preparação das amostras foi fundamental para concluir a pesquisa, salienta Rodrigues: "Preparar esse tipo de amostra para microscopia não é simples, pois exige equipamentos especiais, nem sempre disponíveis em outros laboratórios de microscopia do Brasil". As imagens obtidas ajudaram a compreender melhor o sistema de produção de pontos quânticos e deram subsídios à continuação dos estudos, o que envolveu também o uso da luz síncrotron disponível no LNLS. Outro usuário regular do LNLS é Marcelo Knobel, do Instituto de Física da Unicamp. Desde 1990 ele estuda o magnetismo Magnetismo de liga -
em nanocristais, partículas cristalinas que medem de 5 a 50 nanómetros. Recentemente, ele usou o microscópio de transmissão do LME para caracterizar a estrutura atómica de uma liga de ferro, zircónio, cobre e boro conhecida como Nanoperm. "Essa liga, que foi descoberta por pesquisadores japoneses, tem características magnéticas muito superiores às dos materiais comuns existentes no mercado", explica Knobel. Por ser facilmente magnetizável e desmagnetizável, poderia ser usada em núcleos de transformadores, cabeçotes de gravação magnética, sensores de campo magnético, transdutores e blindagem magnética. O estudo da estrutura das nanopartículas presentes na liga permitiu conhecer melhor os mecanismos responsáveis por suas propriedades magnéticas. Como essas propriedades se relacionavam ao aquecimento a que a liga era submetida no processo de fabricação, foi possível testar outros métodos de tratamento térmico. A novidade da pesquisa foi usar uma corrente elétrica para tratar o material, o que permitiu taxas de aquecimento maiores que as obtidas em fornos convencionais. Com isso, houve maior controle sobre a formação das nanoestruturas, o que possibilitou a otimização das propriedades magnéticas do material. A própria equipe do LME desenvolve uma pesquisa importante em física de materiais nanoestruturados: Ugarte investiga as propriedades estruturais e elétricas de nanoO PROJETO Centro de Microscopia Eletrônica de Alta Resolução MODALIDADE
Programa de infra-estrutura 3 COORDENADOR DANIEL MARIO UGARTE - Laboratório Nacional de Luz Síncrotron
INVESTIMENTO
R$ 38.300,00 e US$ 1.81 1.000,00
PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 2000 • 43
CIÊNCIA
fios (fios tão finos que podem ser constituídos de uma simples fileira de átomos), para aplicação em diminutos sistemas eletrônicos. Ele esclarece que propriedades como a condutividade e o isolamento de eletricidade podem ser substancialmente alteradas quando se reduz o material a um tamanho ou espessura de alguns átomos. Um material como o óxido de silício (similar a um vidro convencional), por exemplo, é um bom isolante elétrico, mas pode não apresentar a mesma propriedade isolante quando usado em filmes muito finos (1,5 nanômetro ou de 4 a 5 camadas atômicas). Esse fato impõe um limite inferior à miniaturização dos circuitos eletrônicos com a tecnologia atual baseada em silício. Expansão- Além de pesquisas de Física, a maioria, há muitos trabalhos de Química, Engenharia, Geologia e Odontologia no LME. Ugarte prevê o crescimento do número e da complexidade das pesquisas quando o laboratório tiver outro microscópio, conhecido pela sigla FEG-TEM (microscópio eletrônico de transmissão esquipado com um canhão de elétrons por efeito de campo), específico para análises químicas e espectroscópicas em regiões da ordem ou menores que um nanômetro. Esse equipamento, que faz parte do projeto de expansão do LME a ser apresentado este ano, exigirá um investimento em torno de US$ 2 milhões. A instalação do microscópio FEG-TEM, que constava do projeto inicial do LME, foi uma das principais recomendações do comitê internacional, que julgou necessária e oportuna a expansão do laboratório. De fato, o LME opera no limite da capacidade, com equipamentos que funcionam 12 horas por dia e uma fila de espera de dois meses para obter uma sessão de trabalho no microscópio eletrônico de transmissão. Embora o investimento seja grande, o comitê o considera fundamental para manter elevado o nível das atividades ali desenvolvidas. • 44 · NOVEMBRO DE 1000 • PESQUISA FAPESP
MEDICINA
Genes contra leucemia Hemocentro paulista desenvolve técnicas para melhorar o diagnóstico
fo-Mieloproliferativas: Emprego de Técnicas de Citogenética, Biologia Molecular e Imunofenotipagem. Financiado pela FAPESP, o projeto começou em dezembro de 1996 e terminou em março último. "Aperfeiçoamos técnicas reconhecidas e trouxemos novas técnicas de fora", diz o médico Israel Bendit, um dos responsáveis pelo projeto,
Llacer: contribuição ao sistema de saúde nacional
oença do sangue caracterizada pela presença de glóbulos brancos cancerosos na medula, ·a leucemia atinge uma pessoa a cada 100 mil por ano. É o tipo de câncer mais comum em crianças e costuma afetá-las de forma aguda e rápida: em poucos meses, elas podem ficar gravemente enfermas. Já nos adultos, a forma mais freqüente é crônica e leva anos para evoluir. Diagnosticar a doença com segurança e descobrir como evoluirá, para definir o tratamento, são objetivos permanentes da Fundação Pró-Sangue, o Hemocentro da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), onde uma equipe conduz o projeto temático, coordenado pelo médico Dalton Chamone, Estudo de Marcadores Biológicos com Possível Implicação Prognóstica em Doenças Lin-
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que envolveu o procedimento de translation research: "Esse conceito significa que aquilo que for detectado ou determinado na bancada do laboratório vai ser usado no cuidado do doente e vice-versa: se o doente apresentar algum aspecto novo, vamos tentar determinar o como e o porquê." Participaram 32 pesquisadores (médicos, biomédicos e farmacêuticos), 12 especialistas em leucemia e alunos de iniciação. As técnicas aprimoradas já são aplicadas nos 1.200 pacientes que Hemocentro, Hematologia da FMUSP e Serviço de Hematologia do Hospital das Clínicas atendem por mês, todos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). "Esse era um dos nossos objetivos", diz o médico Pedro Llacer, também responsável pelas pesquisas. Em aplicação-
"Com a divulgação desses métodos mais eficientes de diagnóstico e prognóstico, esperamos que o sistema de saúde nacional passe a incluir os procedimentos em suas tabelas", continua Llacer. A nova metodologia já é aplicada, por exemplo, nos exames de quantificação da carga virai do HIV em pacientes de Aids. Os pesquisadores buscaram marcadores biológicos que, presentes no corpo, confirmam o diagnós-
mornos gânglios) líquidos e sólidos. Entre os líquidos estão leucemias agudas e crónicas, síndromes mielodisplásicas (anomalias no desenvolvimento de uma ou mais linhagens de células do sangue) e mielomas múltiplos (que levam a lesões nos ossos e nos rins devido à produção exagerada de algum anticorpo). No início, podem estar só num gânglio, mas depois se espalham. Com o projeto, o Hemocentro, um dos principais centros de pesquisa e tratamento da leucemia no país, tornou-se um dos primeiros a desenvolver o uso em grande escala do teste de Fish, ou hi-
Bendit: técnicas melhoradas e introdução de inovações
tico inicial e, muitas vezes, mostram como a doença evoluirá. Um exemplo foi a descoberta de uma correlação entre a porcentagem de células da medula com leucemia que expressam CD71 (molécula que aparece na superfície das células leucêmicas) e a sobrevida do paciente. Quanto mais CD71 tem o paciente, maior a expectativa de vida. Também detectaram marcadores biológicos sem relação com a doença. "Resultados aparentemente negativos como esses também são muito importantes': diz Llacer. "É necessário publicar e divulgar o fato, para que outros laboratórios não percam tempo procurando marcadores sem utilidade para diagnosticar e dar o prognóstico." O campo de estudo abrange vários tipos de linfoma (tuTeste de Fish -
bridização com fluorescência in situ. Nesse teste, o pedaço de cromoss.omo a ser estudado, ou seqüênciaalvo, é posto num recipiente com sondas - cromossomas complementares, sintetizados em laboratório, coloridos de verde ou vermelho O PROJETO Estudo de Marcadores Biológicos com Possível Implicação Prognóstico em Doenças Unfo-Mieloproliferotivos: Emprego de Técnicos de Citogenético, Biologia Molecular e lmunofenotipogem MODALIDADE Projeto temático COORDENADOR DALTON DE ALENCAR FISCHER CHAMONE - Faculdade de Medicina da USP INVESTIMENTO
R$ 230. 165.47
por uma substância fluorescente. As sondas são seqüências de bases de DNA que complementam e se encaixam perfeitamente na seqüência de DNA a ser estudada. Quando o recipiente é aquecido, tanto a dupla fita de DNA do pedaço de cromossoma humano como a dupla fita da sonda se abrem e ocorre um andamento da sonda com a seqüência-alvo. O pedaço de cromossoma fica colorido e fluorescente, o que facilita a pesquisa. Esse método é muito útil no diagnóstico da leucemia mielóide crónica, em que normalmente aparece o cromossoma chamado Filadélfia, resultado da união entre pedaços dos cromossomas 9 e 22 e também ligado a alguns casos de leucemia aguda. Segundo Pedro Llacer, o cromossomo Filadélfia traduz um movimento pelo qual os genes BCR e ABL, inicialmente em cromossomas diferentes, acabam por se unir, formando o gene híbrido BCR/ABL. Na medula óssea, esse gene produz uma proteína que desregula a proliferação da célula onde está. Usando uma sonda com seqüência de bases complementar ao gene híbrido, o pesquisador determina rapidamente se a célula tem o BCR/ABL- e, portanto, se a doença está presente - e, em especial, se o cariótipo não mostrou a presença do cromossoma Filadélfia. Com a aplicação de métodos como esse, e tendo na mão um diagnóstico correto e também um prognóstico da evolução da doença, o médico poderá escolher entre um tratamento mais ou menos agressivo. Se o prognóstico é ruim, o tratamento mais agressivo começa imediatamente, sem esperar pelas piores conseqüências. Se o prognóstico é mais favorável, o paciente não precisará passar por tratamentos desnecessários. Bendit acrescenta que "um dos objetivos do projeto, o de formar pessoas, foi plenamente atingido': • Gene híbrido -
PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 2000
45
CIÊNCIA
OCEANOGRAFIA
De vento em popa Depois de dois anos no estaleiro para reparos, volta aos mares o nosso navio oceanográfico olta ao mar na segunda quinzena de novembro o navio oceanográfico Prof W Besnard, principal embarcação de pesquisa do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (Iousp) e único navio desse tipo no Brasil capaz de fazer longas expedições em alto-mar. "O instituto volta a respirar e a produzir ciência", diz o pesquisador Belmiro Mendes de Castro, que já chefiou várias expedições de pesquisa do Besnard. O navio, que leva o nome do fundador do Oceanográfico, professor Wladimir Besnard (1890-1960), estava parado desde 1998, quando foi recolhido à doca de Santos devido a problemas com o motor. A paralisação dificultou os trabalhos de pesquisa e ensino no instituto. "Não se faz oceanografia sem um bom navio", afirma o veterano Luiz Bruner de Miranda, pesquisador-chefe de muitas expedições do Besnard, e acrescenta: "Não se conhece o oceano pela tela de um computador".
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Batismo em 1967 -"Para fazer pes-
quisa oceanográfica é preciso um navio oceanográfico. Sem navio é melhor mudar o nome do Instituto Oceanográfico para Instituto de Estudos Costeiros", comenta bem-humorado o atual diretor, Rolf Roland Weber, sobre os apuros por que passou a instituição. Os maiores preju46 • NOVEMBRO DE 2000 • PESQUISA FAPESP
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O ProfW Besnard na última temporada de reparos em Santos: equipamento atualizado
dicados foram pesquisadores e alunos, impedidos de usar o barco para pesquisa de campo em alto-mar. Alguns projetos ficaram atrasados. Com o retorno do Besnard às águas, tudo tende a melhorar. Na reforma do navio, que custou perto de R$ 1 milhão e foi financiada em parte pela FAPESP, houve troca do motor e instalação de novos
equipamentos. O empenho do Iousp para manter o Besnard em boas condições de uso também é justificado pela história de suas conquistas. O desenvolvimento da navegação e da oceanografia estava intimamente relacionado no século 19, quando navios de pesquisa e exploração, a exemplo do HMS Challenger, ficaram famosos. O professor francês Wladi-
mir Besnard teve sempre presente a necessidade de um navio oceanográfico para o instituto que fundou e dirigiu desde 1946. Bruner assegura que essa era uma das principais motivações de Besnard. O sonho do fundador tomou impulso com a aprovação de uma contribuição federal para a aquisição do navio, no final de 1958, mas só se concretizaria quase dez anos depois, em 5 de maio de 1967. Nesse dia, em Bergen, Noruega onde o navio foi cons1984: o Besnard na inauguração da Estação Antártica Comandante Ferraz, na ilha Rei George truído por encomenda do governo paulista fez sua primeira e importante desUm experiente meteorologista e pelo estaleiro AIS Mjellem & Karsen coberta no Atlântico Norte: uma perito em telegrafia participou des-, houve a cerimônia de batismo da sa fase histórica do navio: Rubens montanha submarina de 3.500 meembarcação, cujo nome foi uma hotros de altura, com o topo a 194 meJunqueira Villela, pesquisador do menagem póstuma a Besnard. Numa tros de profundidade, situada na Instituto Astronômico e Geofísico cerimônia de troca de bandeiras, ele (IAG) da USP, primeiro brasileiro rota Dacar-Las Palmas, perto da Ilha foi transferido para a propriedade da do Sal. A montanha recebeu o nome a atingir o pólo Sul - em 1962, USP em 30 de maio. numa expedição norte-americana. de Besnard. No dia seguinte o Besnard leBruner lembra que seu doutoraBruner lembra que Villela teve parvantava âncora em Bergen e só do se deve em grande parte ao traticipação importante em várias exchegaria ao porto de Santos em 9 balho realizado no começo da décade setembro de 1967: é que essa viapedições do Besnard nas décadas da de 70 com o Besnard no projeto de 60 e 70, quando toda a transgem também foi sua primeira exCobraCorrente do Brasil na platamissão de dados meteorológicos pedição científica, chamada de Vida terra firme para o navio era feiforma continental sul -, com o qual kindio em alusão à parceria entre praticamente fundou a cadeira de ta por telégrafo. Assim que recebia cientistas noruegueses e brasileiros Oceanografia Física no instituto. os dados, Villela fazia rapidamente na construção dele. A expedição suas previsões de tempo, essenciais foi coordenada por Marta Vannucci, diretora do Iousp, e Thor Kwinnas missões. O PROJETO ge, do Instituto Geofísico da UniManutenção e Instrumentação do Avent ura na Antártica - O Besnard versidade de Bergen. Sua rota Navio Oceanográfico ProfW. Besnard já esteve em muitos grandes projeabrangeu as Ilhas Canárias, a costa e Substituição do Motor Principal do Navio Oceanográfico tas. Um deles, o Coroas - Circulanoroeste africana e a costa brasileição Oceânica da Região Oeste do ra de Recife a Santos. MODALIDADE Atlântico Sul-, consiste numa avaPrograma infra-estrutura 4 e auxílio a projeto de pesquisa liação da produtividade primária no Montanha descoberta - Luiz BruAtlântico. Financiado pela FAPESP ner, que participou da viagem, reCOORDENADOR e pelo Conselho Nacional do Devela que "no percurso foram coleRoLF ROLAND WEBER - Instituto Oceanográfico da USP senvolvimento Científico e Tecnolótadas amostras de água, dados gico (CNPq), o projeto se desenvolhidrográficos, amostras de plâncton INVESTIMENTO ve desde 1992 em parceria com o e feitas medições da Corrente do US$ 64.900,00 e US$ I50.000 Instituto Nacional de Pesquisas EsBrasil". Já nessa expedição o Besnard
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viam provocado o desalinhamento de Armação: navio oceanográfico alguns cilindros do Comprimento total: 49,35 m motor, o que, com Comprimento na linha o tempo, o impediu de flutuação: 42,60m de funcionar. Boca: 9,33 m Na reforma, foCalado: 3,73 m Pontal moldado: 5 m ram instalados ouTonelagem: 670 t tro motor e novos Velocidade: 13,5 nós equipamentos, o Autonomia: 14 a 21 dias que deve melhorar Tripulação: 23 o desempenho e Pesquisadores: 15 garantir uma boa sobrevida ao BesComunicação: nard. Entre esses equipamentos estão antena do o ADCP, um perfllador acústico de novo sist ema corrente destinado a medir automalmarsat-A ticamente a velocidade, a direção e a condutividade da água de uma corAs atividades do Besnard na Anpaciais de São José dos Campos (lirente marinha, sem que o navio pretártica encerraram-se devido ao desgado ao Ministério de Ciência e Teccise parar. Também se destacam o gaste de sua estrutura, provocado nologia) e a Fundação Universidade Ecointegrador, que detecta a biomasdo Rio Grande do Sul (Furg) . Pelo pelas condições adversas do mar na sa presente, e a Ecossonda EASOO, região, o que em 1988 ocasionou a Iousp, Belmiro de Castro participa que faz a batimetria - medição da quebra do eixo da hélice da embardo Coroas, cujas viagens já incluíprofundidade - e avalia a composiram os litorais de São Paulo, Paraná, cação ao atravessar a passagem de ção geológica do material de fundo. Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Drake. Esse desgaste estrutural foi a Além desses instrumentos de análise A grande aventura do Besnard, provável causa dos problemas mecâinstalados no casco, o Besnard foi contudo, foi a série de excursões ciennicos que passaram a prejudicar o equipado com o novo sistema de tíficas pela Antártica, como parte do desempenho do navio. transmissão de informação via satéProgramaAntártico Brasileiro (ProanAssim, depois de 150 cruzeiros lite Imarsat-A, conjugado a uma rede tar), que se desenvolveram desde oveoceanográficos, o Besnard passou por interna de computadores, integrada rão de 1982 até o de 1988. Foram seis uma ampla reforma de 1994 a 1997. a laboratórios e instrumentos. Em 1998, contudo, teve que voltar campanhas de pesquisa, com destaque Todos os novos instrumentos aos reparos depois de problemas coin para a 1a Expedição Brasileira à Antárpodem ser reaproveitados num fuo motor: os desgastes estruturais hatica e para a instalação da Estação Anturo novo navio oceanográfico. tártica Comandante Enquanto isso, o Ferraz na ilha Rei Besnard se prepaGeorge- que permira para retomar tiram ao Brasil ser sua função como diversidade admitido como um principal laboratóanima\ membro pleno do rio da oceanograConselho Consultifia brasileira. Já vo do Tratado da em dezembro, coAntártica e da Começa a participar missão Científica de de um estudo soPesquisa Antártica bre a dinâmica do (SCAR - Scientific ecossistema da plaCommittee on Antaforma do Atlântartic Research). Cotico Sul, único promo integrante desjeto oceanográfico sas missões, Rubens a fazer parte do Villela pôde então Programa Núcleos revisitar o contide Excelência do nente antártico. Ro lf W eber, diretor do O ceanográfico: nada como voltar à pesquisa em alto-mar CNPq (Pronex) . •
O navio
48 • NOVEMBRO DE 1000 • PESQUISA FAPESP
CIÊNCIA
Carlos Bicudo e Eduardo Barcelos no lago do Jardim Botânico: indicadores de poluição e acervo de 5 mil espécies de algas
Projeto encerra quatro décadas de mapeamento das espécies de São Paulo epois de quatro décadas de pesquisa e mais de 40 mil quilômetros de andanças coletando material de mar, rios, lagos e barragens, o biólogo Carlos Bicudo está perto de concluir o mapeamento das algas do território paulista. Esse feito começou a tornar-se realidade em julho do ano passado, com o início do projeto temático Flora Fico lógica do Estado de São Paulo, financiado pela FAPESP, coordenado por Bicudo e do qual participam 42 pesquisadores de 27 centros do Brasil e do exterior. Esse projeto de identificação de toda a flora ficológica (de algas) paulista, que faz parte do programa Biota-FAPESP de levantamento dos recursos biológicos do Estado, é inédito no Brasil. Ajudará no monitoramen-
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to preciso da qualidade da água nos mananciais, além de fornecer indicadores para a conservação ou a recuperação de ambientes aquáticos. É um projeto de taxonomia, a ciência da identificação e classificação das espécies. "Assim como não se pode ler sem conhecer o alfabeto, não se pode fazer ciência sem taxonomia", ressalta Bicudo, biólogo de 63 anos. Passado desconhecido - Por meio desse trabalho pode-se inclusive conhecer o que não existe mais: em todo o mundo se extinguem espécies da flora e da fauna e, muitas vezes, não se sabe que organismos existiram antes. O Estado de São Paulo já foi todo ocupado por florestas, que hoje cobrem menos de 10% do território. O que existia no rio Tietê, por exemplo, ninguém sabe. Bicudo já tinha isso em mente quando foi trabalhar no Instituto de Botânica (hoje ligado à Secretaria do Meio Ambiente) em 1960, ainda estudante. Então, começou a organizar
um herbário com as colegas Rosa Maria Teixeira Bicudo, Marilza Cordeiro Marino e Noemy Yamagushi Tomita. Hoje o herbário tem 15 mil amostras de algas marinhas secas esticadas em papel e outras 3 mil de água doce conservadas em frascos. No início, entretanto, quase tudo estava por ser feito. As primeiras 200 algas que foram para o herbário do instituto, por exemplo, eram duplicatas identificadas ainda no século 19 por naturalistas estrangeiros, como Von Martius (ver quadro). Elas constavam antes do acervo da antiga Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo (atual Instituto Geológico da Secretaria do Meio Ambiente). Todo o restante foi coletado nos últimos 40 anos pelos pesquisadores e estagiários do Instituto de Botânica. Calcula-se, contudo, que as 2.642 espécies de algas já reunidas representem só metade do que existe na natureza. Com a reunião de mais material em 400 municípios paulistas, o total PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 2000 • 49
de espécies classificadas deve chegar a 5 mil. Bicudo revela que desde o início do projeto foram encontradas cerca de SOO espécies ainda não documentadas no Estado, das quais 40 são inéditas no mundo. Desde o início da década de 60, Bicudo e seu grupo pesquisaram em todo o Estado e reuniram as 3 mil amostras de algas de água doce do herbário. Mas havia lacunas: "A análise das 47 publicações dedicadas à taxonomia de algas marinhas macroscópicas bentônicas do Estado de São Paulo, por exemplo, mostrou que essa flora está representada por 308 espécies, das quais 198 são Rhodophyceae, 68 Chlorophyceae e 42 Phaeophyceae". Faltava informação sobre essa flora porque não se pesquisou a área mais funda do chamado infralitoral, só acessível por mergulho. No caso das algas azuis ( Cyanophyceae) marinhas da faixa supralitoral, de águas mais rasas, a literatura só relacionava 108 espécies, pois a área coberta era muito restrita. Lacunas no mar-
Até o início do projeto, 2.226 espécies de água doce estavam identificadas, ou cerca de 40% da diversidade existente. É que ao longo dos últimos 40 anos muitos ambientes aquáticos desapareceram e houve a tendência de procurar material muito mais nos ambientes lênticos (lagos, lagoas, charcos) e semilênticos (reservatórios, açudes) do que nos lóticos (rios, córregos e riachos). Além de importantes para a preservação do ecossistema, pois for-
mam o primeiro elo da cadeia alimentar em lagos, barragens, rios e mares, a!> algas indicam a qualidade da água. As Charophyceae, por exemplo, habitam lugares excelentes para a piscicultura. Já as Cyanophyceae e as Euglenoplyceae indicam ambientes ricos em nitrogênio e fósforo - ou seja, poluídos por esgoto -, enquanto as Bacillariophyceae ou diatomáceas não toleram esses ambientes e sua presença é sinal de água em boas condições.
-
Desde Von Martius Foram naturalistas estrangeiros do século 19 os primeiros a identificar algas brasileiras. Destacou-se entre eles o bávaro Carl Friedrich Philip von Martius (1794-1868), componente da missão científica que pesquisou no país entre 1817 e 1820. Von Martius coletou e listou 80 espécies de algas no livro clássico Flora Brasiliensis, de 1833. Outros estrangeiros do século 19 identificaram algas brasileiras, em geral a partir de amostras mandadas para eles em seus países. Depois, quase nada foi feito no país até meados do século 20. Em 1960, Carlos Bicudo e suas colegas Rosa Maria Bicudo, Marilza Marino e Noemy Tomita coleta-
50 • NOVEMBRO DE lODO • PESQUISA FAPESP
. . espeoes man-·" ram as pnmetras nhas na baía de São Vicente e na região de Ubatuba. Na época, faziam o curso de História Natural (origem do atual Instituto de Biociências) na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP). E tinham aulas de taxonomia de algas marinhas com o professor Aylthon Brandão Joly, considerado o criador da ficologia brasileira. Em 1957, Joly publicou Contribuição ao Conhecimento da Flora Ficológica Marinha da Baía de Santos e Arredores, primeiro
inventário planejado das algas de uma certa região do Brasil. Com base no material coletado por seu grupo, Joly publicaria ainda em
1965 o importante estudo Flora Marinha do Litoral Norte do Estado de São Paulo e Regiões Circunvizinhas. Em 1961 e 1962, Bicudo e Rosa Maria fizeram as primeiras coletas de água doce na Reserva Biológica do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga e depois publicaram dois fascículos sobre o assunto. Entre 1963 e 1965, Bicudo fez residência e mestrado sobre algas na Universidade de Michigan (EUA), orientado por Gerald W. Prescott. Voltou ao país com dez caixas de cópias xerox de tudo o que se publicara sobre algas brasileiras nos Estados Unidos e começou a juntar material de água doce no Estado. Daí por diante, foi desenvolvendo o estudo que chegou ao ambicioso projeto atual de mapeamento.
Foi a partir das algas que se constatou a poluição por esgoto do lago das Garças, no Jardim Botânico paulistano: "Estamos estudando o material e as condições físicas e químicas do lago para, em seguida, definir o projeto para recuperá-lo". Até o final do projeto, o número de espécies de água doce conhecidas do Estado poderá chegar facilmente ao dobro. As Zygnemaphyceae, por exemplo, devem passar de 1.053 para 1.500 ou 1.600 e as 61 Bacillariophyceae devem chegar a 900. Para isso, intensificou-se a coleta. Até agosto, foram realizadas 18 das 50 viagens programadas. O grupo que estuda espécies de água doce, com quatro pesquisadores e seis estudantes, fez 15 viagens ao interior e pegou material de água corrente, pouco representado no herbário. O grupo de algas marinhas, com quatro pesquisadores do instituto, três professores da USP e cinco estudantes, fez três viagens de pesquisa ao litoral norte: como já havia muitas amostras de boa qualidade da área entre as marés baixa e alta, a coleta passou a ser feita nas águas mais profundas da faixa infralitoral abaixo da maré baixa - e nas ilhas. Equipamento- Os pesquisadores viajam munidos de rede, canivete, frascos e uma solução fixadora para preservar o material. Levam também três aparelhos: um GPS de localização por satélite, um medidor
O PROJETO Flora Ficológica do Estado de São Paulo MODALIDADE
Projeto temático COORDENADOR CARLOS EDUARDO DE MATTOS
e Argentina para identificar e classificar algumas espécies de água doce. Quando fazia a tese de doutorado, em 1969, Bicudo precisou de uma nova coleta em alguns ambientes da capital paulista. No Campo do Chá, onde é hoje o Vale do Anhangabaú, já cresceram espécies que não puderam ser coletadas novamente, pois o riacho do Anhangabaú foi inteiramente canalizado. "Temos até amostras de algas diatomáceas coletadas na avenida Paulista no fim do século 19, e que hoje não existem mais." O pesquisador diz que o trabalho do professor Aylthon Brandão Joly sobre as algas da baía de Santos é um marco no estudo das algas do Estado: "Ele identificou 100 espécies de algas que ocorriam ali e hoje, com certeza, não existem nem 50 daquelas espécies. O lugar cresceu, houve impactos no meio ambiente, perdemos diversidade, perdemos espécies".
BICUDO - Instituto de Botânica INVESTIMENTO
R$ 87.750,00 e US$ 83 .786,00
do PH (acidez ou basicidade) e outro da condutividade da água (que indica a quantidade de íons presentes). Baixa condutividade, por exemplo, é sinal de água de boa qualidf.de, enquanto alta condutividade indica água poluída. Já houve pesquisas nos maiores rios paulistas - Grande, Paraná, Tietê, Paranapanema e Turvo -, bem como nas barragens. O tamanho dos exemplares vai de 0,002 milímetro (caso das algas do gênero Diogenes, de água doce parada) até 2 metros (as caráceas, de água doce) e mesmo a 35 metros de comprimento (as Macrocystis marinhas, de águas profundas). O material é analisado pelos 43 pesquisadores brasileiros e estrangeiros envolvidos. Alguns dos estrangeiros trabalham aqui e outros recebem o material nos seus países. Bicudo revela que foi preciso recorrer a especialistas da República Checa, Japão, Estados Unidos, Austrália
Treze volumes - Bicudo revela que
mesmo nos Estados Unidos, país que investe US$ 1,5 milhão anuais por cinco anos na formação de taxonomistas, não se concebeu um projeto semelhante ao organizado em São Paulo. "Aqui estamos mapeando onde ocorre cada espécie." Algumas ocorrem em todo o Estado, outras só em certas regiões. Além de conservação e recuperação ambientais, o projeto visa à formação de recursos humanos: 70 pessoas do Brasil e de países vizinhos passaram pela Seção de Ficologia do Instituto de Botânica, para pesquisar algas de água doce e marinhas. O projeto resultará na publicação da Flora Ficológica do Estado de São Paulo, um conjunto de 13 volumes com a descrição das pesquisas desde o século passado até o ano 2000. O primeiro volume está pronto para publicação e refere-se a 31 espécies de algas Carofaceae que ocorrem no Estado. Também serão produzidos manuais de identificação de algas para ser usados em escolas de segundo grau e universidades de todo o Brasil. • PESQUISA FAPESP • NOVEMBRO DE 1000 • 51
para distinguir uma folha de sulfite em branco no chão': afirma Cavalli. Com esse equipamento, é possível, por exemplo, identificar com precisão a presença de pragas, ainda num estágio inicial, em áreas específicas da lavoura. O projeto recebe financiamento da Embrapa, de R$ 70 mil, com apoio do Banco Mundial. O primeiro protótipo fica pronto em janeiro. • Embrapa selecionou plantas de guaraná imunes à antracnose
Guaraná: clones para uma produção maior As plantações de guaraná ga-
nharam novos estímulos da ciência. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desenvolveu e coloca à disposição dos agricultores, neste mês, dez novos clones (estacas para plantio extraídas de matrizes pré-selecionadas). Produto típico da Amazônia, o guaraná tem grande importância econômica para a região como matéria-prima de refrigerantes e em forma de medicamento usado como energético ou para males do aparelho digestivo. Com os novos clones, a cultura ganha em produtividade. Cada planta poderá atingir a produção de 1,5 quilo contra os 200 gramas atuais. Outra vantagem dos clones é de serem imunes à praga antracnose, causada pelo fungo Colletrotrichum guaranicola, que pode resultar na perda total da produção. Os clones também apresentam precocidade para o plantio, em média dois anos contra quatro das plantas tradicionais. "O processo de melhoramento do guaranazeiro 52 • NOVEHBRO DE 1000 • PESQUISA FAPESP
começou em 1973 com o início da escolha de matrizes em campos da Embrapa e de produtores", informa André Atroch, pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental. •
Um novo olhar para a agricultura No próximo ano, os agricultores paulistas poderão contar com uma nova modalidade de sensoriamento remoto para monitorar em detalhes suas culturas sem depender das imagens de satélites estrangeiros. O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) está desenvolvendo o protótipo de um ultraleve, dotado de uma câmera de vídeo multiespectral (com várias faixas de ondas eletromagnéticas) e do Sistema de Posicionamento Global (GPS). Segundo Antônio Carlos Cavalli, engenheiro agrônomo do IAC envolvido no projeto, esse tipo de medição pode apresentar um grau de resolução maior do que a dos satélites. "O ultraleve pode voar numa faixa de altitude entre 250 e 4 mil metros e conseguir imagens com uma resolução de 15 centímetros a 2 metros. Dá
Testes industriais não-destrutivos Com base em dois princípios físicos - o ultra-som e o magnetismo -, a empresa Safe Metal, do Rio de Janeiro, desenvolveu uma série de equipamentos para testes industriais ainda não produzidos no Brasil. "Nossa vocação é desenvolver tecnologia para ensaios não-destrutivos", afirma Antônio Claudio Sant' Anna, sócio na empresa. Um dos aparelhos, chamado de T-Scafl, dotado de ultra-som, mede espessuras e verifica possíveis defeitos em chapas de aço. O aparelho emite um pulso como um radar que, ao percorrer o interior da chapa e voltar, tem seu tempo de viagem medido. Se o eco retornar antes do previsto, as chances de existirem corrosões internas na chapa ou trincas são grandes.
A Safe Metal também desenvolveu um equipamento que verifica a existência de trincas nos gargalos de cilindros metálicos. A empresa surgiu há seis anos na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Há quatro meses, a Safe Metal ganhou asas próprias e deixou a incubadora. •
Após o hambúrguer, o motor do caminhão Após tornar palatáveis hambúrgueres e batatas fritas, o óleo vegetal usado poderá ganhar o nome de biodiesel e servir de combustível para caminhões, ônibus e geradores de energia elétrica. A primeira fase do projeto que vai viabilizar esse uso foi concluída com sucesso na Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Testes realizados na Escola de Química da UFRJ comprovaram a similaridade entre as características dos óleos vegetais usados e do diesel. A segunda parte do projeto, já em andamento no Laboratório de Máquinas Térmicas da Coppe, se baseia em testes mecânicos que devem comprovar a viabilidade do biodiesel. A pesquisa é realizada com 25 mil litros de
T-Scan :Aparelho emite ultra-som e analisa chapas de aço
nharia de Estruturas e Fundações da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). "Foram implantadas estacas de concreto ao lado do prédio que atingem a profundidade de 56 metros. O peso transmitido pelos pilares originais está sendo transferido pelos macacos para as estacas por meio de vigas de transição que ocupam o andar térreo do edifício': explica Maffei. Como comparação, a profundidade de algumas estações de metrô paulistano como São Bento e República não passam dos 34 metros de profundidade. Com velocidade de cerca de 1 centímetro por dia, Maffei espera que o Nuncio Malzoni esteja no prumo dentro de dois meses. O custo da obra é de R$ 1,5 milhão, R$ 90 mil para cada apartamento. •
Prédio de Santos é colocado no prumo
Solo argiloso deix a 98 prédios fo ra do prumo na orla sant ista
óleo usado cedidos pela rede de fast food Me Donalds, que se tornou parceira da Coppe neste projeto. O uso do biodiesel reduzirá em 78% a emissão de dióxido de carbono e • em 100% a de enxofre.
CPqD: softwares inéditos no mercado Dois novos softwares destinados a empresas de telecomunicações e operadoras de Internet são as novidades da Fundação Centro de Pesquisas de Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD). O primeiro, chamado de Promus-Comunicação de Dados, tem a função de gerenciar o registro do faturamento das empresas em diversos segmentos da área de Internet. O sistema reconhece o tipo de serviço prestado, faz a tarifação, inclusive com impostos e taxas, e aplica aumentos, descontos ou qualquer outra oferta de acordo com o plano de negócio. Além disso, o sistema imprime e envia a conta para o cliente ou para débito automático em banco e faz a interface com o agente arrecadador do serviço prestado. O outro produto da CPqD é o Software de Armazenagem de Dados de Drive Test, desenvolvido para empresas operadoras de telefo-
nia celular. Ele viabiliza um cadastro do histórico do funcionamento das células, permitindo um maior controle e otimização da rede. O CPqD, ex-centro de pesquisa da Telebrás, é desde 1998, quando a holding estatal das telecomunicações foi privatizada, uma fundação de direito privado aberta ao mercado. •
Pela primeira vez no Brasil está sendo utilizada uma técnica de reaprumo de um edifício utilizando-se a transferência da carga dos pilares para estacas mais profundas por meio de macacos hidráulicos. A recuperação acontece em Santos, no edifício Nuncio Malzoni, com 17 andares, construído em 1967. Ele possui uma inclinação de 4% (a famosa Torre de Piza, na Itália, tem 8%) provocada por recalques (rebaixamento) da camada de argila marinha existente no solo da orla santista que já compromete 98 prédios. O projeto da obra é dos professores Carlos Eduardo Maffei, Heloísa Helena Gonçalves e Paulo Pimenta, do Departamento de Enge-
Unicamp tem o maior número de patentes Na década de 90, as universidades brasileiras depositaram 355 pedidos de patentes no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) foi a que teve mais registros, 125. Em seguida, aparecem a Universidade de São Paulo (USP), com 76 depósitos, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com 39, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 31, e Universidade Estadual Paulista (Unesp ), 13 pedidos. Essas cinco universidades detêm 80% do total de pedidos de patentes oriundas das universidades. A Unicamp e a USP apresentaram enfoque
Universidades Brasileiras nos Anos 90': Para ele, o registro de patentes teve uma maior procura a partir de 1997, quando entrou em vigor a nova lei de propriedade industrial 9279/96, que define novos parâmetros de patenteamento, e houve uma maior participação das fundações de amparo à pesquisa e outras entidades públicas na formulação dos pedidos. •
diferenciado em relação aos campos tecnológicos dos pedidos de patentes. A primeira concentrou-se na área química e a segunda apresentou um perfil diversificado, e a UFMG, por exemplo, apresentou a quase totalidade dos pedidos na área de biotecnologia. Esse levantamento de dados e as análises relativas a eles foram organizados pelo economista Eduardo Assumpção, do INPI, no estudo O Sistema de Patentes e as
AS PATENTES DOS ANOS 90 NAS UNIVERSIDADES INSTITUIÇÃO Unicamp USP UFMG UFRJ Outros Total
1990/93 37 41
1994/96 22 9 12 14 12 69
12 33 123
Fo nte: Ed uardo Assumpção/INPI
-=
1997/99 66 26 27 5 39 163
TOTAL 125 76 39 31 84 355
-=
PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 2000 • 53
menos circulares com cerca de 5 milímetros de diâmetro. E de nada adianta lavar ou polir o carro. Boa pergunta - Levantado pela General Motors, o problema foi levado à Renner DuPont, fabricante da resina acrilomelamínica que faz parte da tinta usada nos carros. Na época, a imprensa destacava uma pesquisa
Acasalamento - Uma pesquisa que
envolveu o Museu de Zoologia e o Instituto de Biociências da USP mostrou o que eles precisavam saber sobre o comportamento das libélulas. Aquáticas e predadoras, elas vivem em regiões de águas limpas, mas podem ser encontradas a alguns quilômetros de lagos, rios e represas - o tipo do lugar, aliás, onde ficam as montado-
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Brilho da lataria atrai as libélulas para a postura: depois de uma revoada, funcionários correm para esguichar água
de Bechara sobre a bioluminescência de vagalumes. Então, os técnicos da Renner procuraram o pesquisado.r com a pergunta óbvia que os atormentava: por que os ovos de libélula danificam a resina? Achar a resposta não era simples, alertou Bechara. Ele e Stevani nunca haviam trabalhado com libélulas e, aparentemente, o assunto nada tinha a ver com as pesquisas que faziam. Mas aceitaram o desafio: atacaram o problema com um estudo bem específico - Natureza Química de Danos Causados a Filmes de Resina por Ovos de Libélulas: um Problema da Indústria de Tintas Automotivas -, financiado pela FAPESP como projeto de pós-doutoramento de Stevani. Além de dois anos de trabalho, a pesquisa exigiu habilidade para transitar por várias áreas do conhecimento. "O primeiro passo': conta Bechara, "foi buscar informações sobre esses insetos:'
ras de carros da região paulista do ABC. Na fase larval, as libélulas alimentam-se de insetos aquáticos, girinos e até peixinhos - e servem de comida para peixes maiores. Adultas, comem abelhas e outros insetos alados, inclusive os da própria espécie. Também são um dos alimentos prediletos de pássaros. Para entender o que ocorre com a pintura dos carros, foi importante descobrir que as libélulas são atraídas pela luz refletida em espelhos d'água, onde depositam os ovos. Ou seja: tudo indica que confundem a !ataria brilhante dos carros com um laguinho. Outros detalhes curiosos vieram à tona. As libélulas copulam durante o vôo e, como a fecundação só ocorre na fase da postura, o macho persegue a fêmea até que ela ponha os ovos, para evitar o assédio de outros machos. A disputa pela reprodução é acirrada. O macho tem um aparato que usa como espátula para remover o esperma eventualmente já depositado por outro. Por isso, depois do coito, é comum que o macho segure a fêmea pelo pescoço com uma pinça abdominal, até que ela ponha os ovos. Pontos fracos - Outro caminho foi o estudo da composição da resina acrilomelamínica. Muito usada no revestimento das chapas de automóveis e também de eletrodomésticos, ela forma sobre a pintura uma camada protetora, como um verniz. Assim, conPESQUISA FAPESP • NOVEMBRO DE 2000 • 55
Miragens fatais Originada de uma indagação da indústria, a pesquisa também tem implicações ecológicas. Afinal, longe da água, os ovos de libélula não cumprem seu ciclo natural: eles se perdem, o que é um obstáculo à preservação da espécie. E, além dos automóveis, outras superfícies lisas, como o asfalto - principalmente quando molhado -, os pisos cerâmicos e os vidros, também produzem reflexos que atraem libélulas. Por isso, as descobertas de Bechara e Stevani chamaram a atenção do pesquisador húngaro Gábor Horváth, da Lorand Eotvos University, de Budapeste. Por estudar há vários anos esse fenômeno de atração, ele ajudou a esclarecer o que ocorre em centenas de lagoas de óleo formadas no deserto do Kuwait com a explosão de poços de petróleo na Guerra do Golfo, em 1991. Segundo um artigo de Horváth publicado pela revista Nature (25 de janeiro de 1996, vol. 379, pág. 303), essas lagoas brilhantes produzem um efeito ainda mais forte do que a superfície da água, atraindo grande quantidade de libélulas e outros insetos aquáticos, além de aves. No outono e na primavera, transformam-se em armadilhas devastadoras para espécies em migração. A visão é desoladora: grandes depósitos de carcaças, onde os que conseguem sobreviver perdem ali talvez sua última chance de procriar, o que põe certas espécies sob risco de extinção.
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fere à pintura mais durabilidade e dureza, bem como resistência ao calor e aos riscos. Uma análise da estrutura química desse polímero, contudo, mostrou seus principais pontos de fragilidade. "A resina poderia ser atacada por ácidos, luz, enzimas presentes nos ovos ou radicais livres': afirma Stevani. O levantamento desses dados levou os pesquisadores a formular três hipóteses para explicar o efeito dos ovos na resina. O dano poderia ser fotoquímico: alguma substância presente nos ovos sena capaz de absorver a luz solar, causando a degradação da resina. Outra possibilidade seria de dano microbiológico: o material orgânico que envolve os ovos um gel protéico que garante proteção e serve de alimento para o embrião quando o ovo eclode - poderia servir de substrato para o desenvolvimento de fungos, capazes de lesar o polímero. A terceira hipótese era de dano químico: alguma substância ácida presente nos ovos seria responsável pela transformação da resina, de modo que o ácido funcionaria como agente corrosivo da resina na área de contato com o ovo. Chuva ácida - Devido à sensibilidade
da resina a substâncias ácidas, a suspeita de dano químico foi a mais cogitada desde o início. E um acontecimento relativamente casual - uma chuva ácida ocorrida em Sumaré (SP) - os fez perseguir com mais convicção essa hipótese. "Mais uma vez fui procurado pela Renner DuPont, que nos convidou a ir até a fábrica da Honda em Sumaré, para analisar os danos que haviam ocorrido nos carros", conta Bechara. O pH da chuva coletada era 3 - grau de acidez bem superior ao das chuvas
da capital, que gira em torno de 4,5 e ela era rica em ácidos sulfúrico, nítrico e clorídrico, além de compostos orgânicos. O que mais chamou a atenção foi a semelhança entre os danos provocados pela chuva ácida e pelos ovos de libélula. A partir daí, os pesquisadores passaram a estudar os efeitos de vários ácidos sobre painéis recobertos com pintura automotiva, cedidos pela Renner DuPont, e a compará-los com os danos produzidos por ovos de libélula. Captura no Tietê
- Para obter os ovos necessários aos experimentos, Stevani partiu paNa chapa, a evidência do dano, que é maior em carros escuros
ra a caça às libélulas. Viajou para Novo Horizonte (SP) durante o período de oviposição (postura) da espécieentre março e maio- e planejou uma aventura de barco por entre a vegetação aquática do rio Tietê, sempre entre as 11 horas e as 3 da tarde, o horário mais propício. Stevani diz que não foi difícil coletar a matéria-prima para o estudo: "Segurava as libélulas pelas asas para identificar as fêmeas, fáceis de distinguir porque os machos têm uma protuberância no abdome. Com um toque suave dos dedos no abdome, as fêmeas liberavam os ovos, colhidos num tubo de ensaio com água destilada". Dos insetos capturados, só dois foram trazidos, para reconhecimento da espécie - os outros eram soltos imediatamente. Ovos inocentes? -Até então, pensa-
va-se que os ovos continham alguma substância ácida capaz de danificar a resina. Mas, depois de uma análise
química, descobriu-se que a ação dos ovos não era ácida, mas neutra. Essa constatação poderia ter derrubado a hipótese de hidrólise ácida da resina, mas acabou por ajudar a reforçá-la, graças à experiência multidisciplinar dos pesquisadores. Envolvido em estudos com vagalumes e radicais livres por mais de duas décadas, Bechara sabia de um processo que ocorre asstm que os ovos são postos: "O ovo absorve grande quantidade de oxigênio, numa atividade conhecida como explosão respiratória, para a produção de água oxigenada, e esta reage com uma proteí-
saria estar presente no ovo: ela poderia formar-se a partir de determinadas condições físico-químicas. Os pesquisadores atentaram então para o fato de que o processo de esclerotização dos ovos postos nos automóveis ocorria a alta temperatura - que, num carro ao sol, pode chegar a 50° C se ele for branco ou prateado e 92° C se for preto. Perceberam en-
Bechara (à esquerda) e Stevani: um feito multidisciplinar
na presente no ovo para formar um polímero que dá maior resistência". Nesse processo, chamado esclerotização, a superfície externa do ovo endurece e escurece - ou seja, forma-se a casca. Ainda acreditando na hipótese de dano ácido à resina, Bechara considerou que a substância ácida não preciO PROJETO Natureza Química de Danos Causados a Filmes de Resina por Ovos de Libélulas: um Problema da Indústria de Tintas Automotivas MODALIDADE
Auxílio a projeto de pesquisa COORDENADORES ET ELVINO JOSÉ HENRIQUES BECHARA
e
C ASSIUS YI N ICIUS STEVANI -
Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) INVESTIMENTO
R$ 12 mil mais US$ 8 mil
tão que a cisteína - um aminoácido do ovo -, quando em contato com água oxigenada, produzia ácido cistéico, semelhante ao ácido sulfúrico. Isso reforçou a hipótese de hidrólise ácida e justificou testes que, ~fi nal, comprovaram: em temperatura igual ou superior a 70° C e na presença de água oxigenada, os ovos produzem ácido cistéico, capaz de danificar a resina de forma ainda mais intensa do que o ácido sulfúrico. Pesquisadores - Os testes que comprovaram e consolidaram a hipótese de dano químico envolveram outros pesquisadores. Dalva Lúcia de Faria, do Instituto de Química da USP, cuidou da caracterização espectroscópica do dano por uma técnica que permitiu constatar, indiretamente, a presença de ácido cistéico nos ovos tratados com água oxigenada. Maria Teresa de Miranda e Cleber Liria, também do Instituto de Química, quantificaram o ácido cistéico formado nos
ovos. Marcelo Bariatto e Fábio Arraes, do Laboratório de Sistemas Integrados (LSI) da USP, fizeram exames de microscopia de varredura de elétron e perfilometria, que . permitiram a comparação visual dos danos causados à resina automotiva por diversos agentes químicos. Colaboraram também Jefferson Porto e Delson Trindade, da Renner DuPont, que forneceram os corpos-de-prova para os testes e tiraram eventuais dúvidas sobre a formulação de resinas automotivas. Ainda na USP, Cleide Costa, do Museu de Zoologia, e Francisco Cordeiro, do Instituto de Biociências, identificaram as libélulas. Para o público - Embora a pergunta da indústria tenha sido respondida, o trabalho de Bechara continua. Na seqüência do projeto, ele pretende desenvolver um produto que o consumidor possa usar para proteger o carro de danos provocados por insetos aquáticos. Por isso, algumas descobertas do estudo são mantidas em sigilo. Segundo o pesquisador, o produto deverá beneficiar principalmente os carros escuros, mais afetados porque absorvem mais luz e cuja !ataria atinge temperaturas superiores a 70° C ao sol. Já os brancos e prateados raramente são afetados. Segundo Bechara, algumas montadoras, como a Honda, adotaram uma solução paliativa: "Elas passaram a recobrir os carros com filmes de polietileno, para protegê-los enquanto permanecem nos pátios': Mas, além de pouco ecológica, a solução não resolve o problem a do consumidor. Na opinião de Bechara, a solução definitiva envolveria um empenho da indústria para m udar a composição da resina, tornando-a mais resistente à ação de ácidos, o que também red uziria os danos provocados por chuva ácida - mas n ão impediria que as inocentes libélulas contin uassem a perder a prole, ludibriadas por uma ilusão de ótica. • PESQUISA FAPESP · NOVEMBRODE 2000 • 57
TECNOLOGIA
APICULTURA
Um padrão nacional para o mel ~
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Pesquisa da Esalq pode ajudar no crescimento das vendas do produto
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produção de mel de abelha no Brasil poderia ser dez vezes maior do que as 40 mil toneladas colhidas anualmente e até ajudar o país a obter divisas com a exportação. Mas, para isso, o mel precisa de uma padronização nacional que ateste sua qualidade e permita aperfeiçoar as técnicas de produção .e profissionalizar mais a apicultura. Um grande passo nesse sentido foi dado com o projeto Análise Físico-Química de
A
Mel de Flores Silvestres Produzido por (Hymenoptera) no Estado de São Paulo, co-
58 • NOVEMBRO DE 1000 • PESQUISA FAPESP
Foi por isso que Marchini coletou 94 amostras de mel em apiários de 75 municípios do interior paulista, representativos da diversidade nas regiões do Estado. Cada amostra, de no mínimo 400 gramas, foi coletada diretamente nos alvéolos do favo das colméias. O trabalho durou três anos, incluindo as análises, e teve a colaboração de duas estudantes estagiárias e da engenheira agrônoma Augusta Carmello Moreti, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado. Foram feitas análises de condutividade elétrica, teores de proteínas, de cinzas e de minerais, porcentagem de umidade e cor. Os resultados permitirão estabelecer critérios de qualidade e identificar possíveis peculiaridades regionais ou de espécies florais. "No caso de São Paulo, que tem um número expressivo de apicultores e um grande mercado consumidor, a caracterização e a padronização do mel, levando em conta as condições ambientais em que é produzido, são fundamentais para melhorar a qualidade e dar garantias às pessoas que compram e consomem o produto", diz Marchini. Direto do favo -
Apis Mellifera L., 1758
ordenado pelo engenheiro agrônomo Luís Carlos Marchini, professor do Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba. Ele reuniu informações sobre o mel de flores silvestres da abelha africanizada (cruzamento da Apis mellifera de origens européia e africana) que contribuirão para normatizar a produção brasileira de mel e criar um padrão nacional que corresponda às peculiaridades de cada região. "Ainda faltam leis adequadas que regulem a produção do mel brasileiro, pois os parâmetros e especificações estabelecidos pela legislação em vigor são baseados nas referências e normas dos Estados Unidos, cuja realidade de flora, clima e solo é bem distinta da imensa diversidade existente no Brasil", diz
mas mais úmidos. Amostras de mel de eucalipto provenientes de lugares com solo tipo latossolo roxo, como na região de Ribeirão Preto, apresentam menores quantidades de ferro e manganês do que as amostras produzidas em regiões com solos formados por rochas ácidas e alcalinas, existentes no município paulista de Lavrinhas, quase na divisa do Estado do Rio de Janeiro".
características florais e regionais
Marchini, com a autoridade de quem estuda abelhas há 20 anos. A composição e o valor nutritivo do mel dependem fundamentalmente da origem floral. Como nossa flora apícola é muito diversificada e varia de um lugar para outro, é fundamental conhecer a composição e as qualidades dos produtos obtidos em cada região, para caracterizá -los e estabelecer padrões. Marchini explica como o tipo de clima e de solo influenciam as propriedades minerais do mel: "Em climas mais secos, por exemplo, são encontrados méis com menores quantidades de elementos químicos inorgânicos em relação àqueles produzidos em locais de diClima e solo -
Na análise, as ca~ qüentes os pólens de racterísticas de condu~ vários tipos de gramítividade elétrica e a i5 neas e de outras plantas I' presença de nitrogênio como m1mosas, vernoprotéico, cinzas, uminias e tibouchinas". dade e minerais variaram muito. Na média, Atestar a qualidade porém, a maioria das Marchini observa que, amostras estava dentro embora ainda não esteja prevista na legislação dos limites permitidos pela legislação brasileibrasileira, "a identificara. Isso, contudo, não ção de minerais e da significa que as amosorigem floral do mel é tras restantes devam fundamental para atesser rejeitadas. "As nortar a qualidade do promas vigentes baseiamduto e deve fazer parte se na padronização de uma futura normanorte-americana, cujos tização, inclusive para percentuais e especifi- Produção de mel sem agrotóxico tem bom mercado no exterior impedir falsificações': É cações não podem ser que, além da adulteranante - com mais de 90% desse tipo aplicados mecanicamente às condição deliberada, como a de misturar polínico, o que define um mel de euções do Brasil", diz Marchini. glicose com mel, ocorre freqüentecalipto. E só uma amostra foi consiNo caso da condutividade, que se mente uma adulteração inconscienderada mel de citros, porque tinha refere à concentração de íons numa te: por falta de informação técnica em média 66,36% de pólen cítrico. solução e tem relação com os elesobre o manejo correto, o apicultor Das 88 amostras restantes, 12 mentos presentes- se o mel contém acaba oferecendo um mel impróprio mostraram dominância de pólen de muitos minerais, por exemplo, a para o consumo. flores silvestres e as outras 76 uma condutividade é maior __:_, a análise O mel puro se cristaliza necessamistura de tipos polínicos, sem domostrou que 33% das amostras não riamente, mais cedo ou mais tarde: minância de nenhum, o que define estavam de acordo com a normaticonforme as condições de armazetipos poliflorais. De modo geral, rezação vigente. namento, origem florestal, composivela Marchini, "além dos tipos políNo teste das cinzas, que também ção físico-química, temperatura, muito frenicos dominantes, foram expressa a riqueza do mel em mineumidade e manejo. "Quando colhirais e é um bom indicador de qualidade, só 6% das amostras não atendiam aos padrões atuais. No caso da umidade, que verifica a quantidade gramas de mel por habitante/ano, de água existente e permite saber se o O brasileiro, de forma geral, segundo o professor Luís Carlos mel foi adulterado ou não, 16,2% das considera o mel apenas como um Marchini. Nesse dado é preciso amostras estavam fora dos padrões. medicamento natural útil para as considerar que na região Sul do Os valores encontrados na caractevias respiratórias. Mas esse propaís o consumo varia de 200 a 300 rização dos minerais variaram muito, duto das abelhas é na verdade um gramas per capita. Enquanto isso, mas comprovou-se uma correlação. alimento rico em nutrientes. Tem na Suíça, é consumido 1,5 quilo "O mel escuro contém mais minerais grande quantidade de vitaminas de mel por habitante/ano. Na Aledo que o mel claro': diz o pesquisador. e enzimas fundamentais à digesmanha, 960 gramas, e nos Estados tão. Também contém minerais, Unidos, 910. Origem polifloral - O pólen presente ácidos orgânicos, proteínas, amino material também variou bastante noácidos e açúcares que são ab, CONSUMO e ficou demonstrado que todas as sorvidos rapidamente, proporPAÍS HABITANTE/ANC amostras receberam a contribuição cionando calor e energia ao Suíça 1,5 quilo de diversas plantas- havia de 3 a 13 organismo. Pela falta de consciênAl emanha 0,960 quilo tipos de pólen por amostra. Embora cia dessa amplitude alimentar, o I Estados Unidos 0,9 10 quilo o eucalipto estivesse sempre bem reconsumo no Brasil é baixo. ConBrasil 0,06 quilo __j presentado, só em cinco amostras foi some-se apenas a média de 60 encontrado seu pólen como domi-
Mel também é alimento
PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 1000 • 59
do nas mesmas condições, o mel de eucalipto, por exemplo, que é mais escuro, cristaliza mais rapidamente que o mel de laranja, que é mais claro", exemplifica Marchini. Como há uma resistência dos consumidores ao produto cristalizado, os apicultores brasileiros costumam aquecer o mel que eventualmente já se cristalizou, para que retorne à forma líquida. Se aquecido a uma temperatura muito alta, no entanto, isso pode comprometer o valor nutritivo do mel e torná-lo impróprio ao consumo.
quando a abelha visita uma planta que recebeu aplicação de agrotóxicos contra pragas e traz a contaminação para a colméia. Como no país não há controle de doenças em abelhas, a possibilidade de contaminação fica restrita ao mel produzido a partir de plantas que receberam agrotóxicos. "Mas, com um manejo adequado", assegura Marchini, "pode-se fazer apicultura em matas e plantações que não recebem pesticidas." Ele revela que no mercado externo há uma procura muito grande pelo mel orgânico, por isso muitos apicultores das regiões Norte e Nordeste - onde existem boas extensões de terra com vegetação nativa - estão interessados em produzir para exportação. Marchini esclarece que este trabalho é uma continuação de pesquisas sobre padrões melíferos conduzidas em outros projetos realizados num período de oito anos. E avisa que o resultado da análise das 94 amostras ainda não serve para estabelecer os parâmetros do mel brasileiro. "Elas foram coletadas em São Paulo, que tem características diferentes de outras regiões do país". Para compensar isso, ele também está coordenando pesquisas feitas com méis da Bahia, do Mato Grosso do Sul e do Rio Grande do Sul. Só depois de agrupar amostragens de regiões representativas da diversidade de solo, clima e flora do território nacional, será possível estabelecer os padrões do mel brasileiro. "A normatização do mel nacional é fundamental para o desenvolvimento da apicultura, que se tornou uma atividade rentável': conclui. Antes, era uma atividade meramente extrativa, como nos tempos em que o pesquisador vivia com os pais numa propriedade média de canade-açúcar, ali mesmo em Piracicaba: na época, ele e dois irmãos retiravam mel das colméias das árvores para consumo da família. Hoje, Marchini retira mel para todo o país. •
Vegetação nativa-
Marchini : 94 amostras em 75 municípios paulistas O PROJETO
"Além de ser um instrumento para coibir adulterações e atestar a boa qualidade do produto, a normatização do mel brasileiro é fundamental para o apicultor saber a composição do material que está produzindo e ter subsídios para adotar práticas de manejo que ajudem no ciclo biológico do enxame", explica Marchini. Ocorre que a abelha se alimenta do mel e aumenta ou não a produção da colméia em função da quantidade e qualidade do alimento existente. Quando há alimento abundante e bom, a rainha aumenta o número de posturas. Como conseqüência, cresce o número de operárias, aumentam as coletas de pólen, néctar e também a produção de mel. Por isso, a existência ou a falta de certos componentes na dieta das abelhas interfere diretamente no desenvolvimento populacional da colméia. "Com o conhecimento da composição do mel, o apicultor pode fazer a suplementação da alimentação das abelhas com componentes que melhorem o ciclo biológico do enxame. Afinal, o grande segredo do manejo para garantir uma boa produção de Manejo eficiente -
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Análise Físico-Química de Mel de Flores Silvestres Produzido por Apis mellifera L., 1758 (Hymenoptera) no Estado de São Paulo MODALIDADE
Auxílio a projeto de pesquisa COORDENADOR
luis CARLOS MARCHINI - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) INVESTIMENTO
R$ 12.050,07 e US$ 12.600,00
mel é ter uma constância de população na colméia, sem oscilações para cima e para baixo- uma situação de instabilidade que pode até estressar a abelha-rainha': Marchini acrescenta. Mel orgânico - A normatização também é fundamental para abrir o mercado internacional ao produto brasileiro, já que o país tem um potencial muito grande para a produção de mel orgânico, aquele produzido a partir de plantas que não receberam aplicações de agrotóxicos. O mel pode ser contaminado com produtos químicos usados no controle de doença das abelhas, ou
O cateter é composto por sete fibras ópticas.A central emite o feixe de laser e as outras seis circundantes fazem a coleta dos dados
luz concentrada, conhecida A como feixe de laser, prepara-se para ganhar mais uma utilidade na medicina. Depois de ter conquistado, por exemplo, as cirurgias de olhos e de varizes, o avanço, agora, é no interior do corpo humano como auxiliar no diagnóstico e no tratamento de doenças cardíacas e até de câncer nas mucosas do trato digestivo e das vias respiratórias. Tecnologias para chegar a esses usos estão em desenvolvimento em todo o mundo, inclusive no Brasil, onde, em São José dos Campos, um cateter de fibra óptica que serve para transportar a luz laser dentro das artérias foi desenvolvido no Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento (IPD) da Universidade do Vale do Paraíba (Univap ), sob a coordenação do professor Renato Amaro Zângaro, diretor da Faculdade de Ciências da Saúde. O instrumento permite que a luz laser identifique e restaure possíveis entupimentos de artérias e elimine tumores em uma fração de segundo.
Pronto e testado em laboratório e em animais, o cateter aguarda o início dos testes em humanos. O projeto Cateter à Fibra Óptica para Diagnóstico de Placas Ateromatosas no Sistema Cardiovascular é realizado em parceria com a Tecnol:iio, empresa especializada na fabricação e distribuição de equipamentos médicos. A iniciativa faz parte do Programa Parceria para Inovação Tecnológica (PITE) da FAPESP. O financiamento da Fundação para a universidade foi de R$ 129 mil, e a contrapartida da Tecnobio, R$ 150 mil. A nova técnica foi concebida, em princípio, para substituir o tradicional cateterismo, exame para diagnóstico de obstruções nas artérias coronárias. Ela consiste em um cateter de fibra óptica com visão lateral acoplado a um espectroscópio, aparelho que emite a luz e permite ao médico avaliar minuciosamente as condições do tecido arterial. Com ele, identificam-se pequenas alterações celulares e a formação de ateromas - depósito
de material gorduroso dentro das artérias -, cuja evolução pode obstruir a passagem do sangue, causando um infarto do miocárdio. Facilitador de um diagnóstico precoce, o novo cateter também permite que, no mesmo procedimento, o laser seja acionado para tratar a área afetada, pulverizando o material ali acumulado. Ação Dupla - Além do cateter para
diagnóstico coronariano, Zângaro coordenou outro projeto que resultou em uma inovação tecnológica no cateter desenvolvido na Univap. Com uma pequena modificação na extremidade, o cateter foi adaptado para diagnosticar câncer no cólon retal. A emissão do laser e a coleta da resposta emitida pelos tecidos são feitas por um espectrofluorímetro, equipamento também gestado na Univap, com financiamento da FAPESP, no âmbito do programa de auxílio-pesquisa, por meio do projeto Espectrofluorímetro Multilinhas para Diagnóstico Precoce do Câncer. PESQUISA FAPESP • NOVEMBRO OE 2000 • 61
Com a colaboração do Hospital do Câncer, onde 30 pacientes passaram pelo novo exame, o equipamen_to apresentou ótimos resultados segundo Zângaro. A possível vantagem do novo sistema será a eliminação dos exames de biópsia, não sendo mais necessário retirar uma . nóstico também amostra do tecido do Este . d ragorno biopsia õptica conhecido c ·dentificação dos paciente para obter o base ia~se ni~~s de emiss~o das diferentes P ntes no tec1do. moléculas prese diagnóstico completo. O novo aparelho mostra o resultado na hora, por sP meio de gráficos que demonstram a presença de Zângaro: inovação tecnológica para diagnóstico de câncer no porfirinas (substâncias quisador, isso traz uma grande vanfluorescentes), normalmente presentagem para o médico, que poderá detes em tecidos cancerígenos. Se houterminar o tratamento de acordo ver um tumor, por exemplo, a difecom o material observado, inclusive rença das freqüências desse tecido com o disparo do laser para remover doente para um normal será mostrapossíveis obstruções. da em um gráfico. Esse procedimento de destruição dos ateromas, chamado ablação, Diagnóstico e tratamento- No exapromete ser mais eficiente que o usame cardíaco, o cateter também podo atualmente. Segundo o pesquisaderá analisar a natureza do material depositado·na parede arterial e idenOS PROJETOS tificar os vários estágios de desenvolvimento de um ateroma. Com o laCateter à Fibra Óptica ser será possível um diagnóstico que para Diagnóstico de localiza e analisa as obstruções, sem Placas Ateromatosas no Sistema Cardiovascular a necessidade da visualização das artérias por raios X, como se faz hoje, MODALIDADE mediante a injeção de uma substânPrograma Parceria para Inovação cia que apresente contraste na corTecnológica (PITE) rente sanguínea. COORDENADOR O equipamento usado no novo RENATO AMARO ZÃNGARO • Univap exame é o espectroscópio Raman, aparelho que coleta dados para anáINVESTIMENTO R$ 129.782,03 (FAPESP). lise bioquímica de tecidos in vitro. e R$ 150.000,00 (Tecnobio) "Quando acoplado ao cateter de fibra óptica, essa análise do tecido poEspearof1uorímetro Multilinhas para de ser feita diretamente no paciente, Diagnóstico Precoce do Câncer com resultado instantâneo", explica MODALIDADE Zângaro. Auxílio a projeto de pesquisa Os procedimentos médicos para o diagnóstico são semelhantes ao caCOORDENADOR RENATO AMARO ZÃNGARO • Univap teterismo, mas os resultados são bem mais precisos: o equipamento permiINVESTIMENTO te identificar quais as moléculas preR$ 47. 118,00 e US$ 84.156,51 sentes no ateroma. Segundo o pes-
lwoô\Jra~g~
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dor, a p ulverização com laser é capaz de reduzir o ateroma a partículas minúsculas, eliminando o risco de obstrução em algum ponto mais adiante na artéria, como pode ocorrer com o usual rotoablator, que funciona de forma semelhante a um triturador. Zângaro esclarece também que o diagnóstico a laser pode evitar outro tipo de acidente. "Durante o cateterismo, a simples introdução do cateter pode ser suficiencólon retal te para deslocar um trombo ou coágulo, provocando uma obstrução grave. Mas com o cateter à fibra óptica isso pode ser evitado, pois ele permite visualizar e pulverizar o coágulo antes da passagem do cateter", afirma. Um exame coronariano não é coisa simples. Os procedimentos geralmente envolvem muitos riscos, que precisam ser reduzidos ao máximo. Por isso, só o projeto de desenvolvimento do cateter esbarrou em algumas dificuldades. A primeira delas foi em relação à flexibilidade. Alto risco - "O cateter precisa ser
muito flexível para não ferir as paredes da artéria, o que poderia provocar uma inflamação no local", explica Zângaro. Ele é composto de sete fibras: uma central, que leva o laser até o tecido, e seis ao seu redor, que coletam a resposta luminosa emitida pelo tecido. A tecnologia de montagem - junção das fibras, colagem e cobertura em poliuretano- foi fruto da parceria com a Tecnobio. Outra dificuldade do projeto foi identificar, dentre os tipos de fibra existentes no mercado - geralmente usadas em telecomunicações -, aquele que apresentasse o maior grau de pureza. Produzidas em sílica, as fibras apresentavam impurezas que interferiam no sinal coletado pelo aparelho. Esses "ruídos"
poderiam mascarar a leitura do sinal emitido pelo tecido, prejudicando o diagnóstico. Embora essas dificuldades já estejam superadas e o projeto do cateter tenha sido concluído, ainda há algumas questões a serem resolvidas para que o equipamento possa cumprir sua finalidade nos centros médicos. Do ponto de vista operacional, o intervalo entre os procedimentos de diagnóstico e a ablação não pode passar de 0,5 segundo, tempo que o cateter é capaz de manter-se na mesma posição dentro da artéria. Acima de 0,5 segundo, o cateter pode se deslocar, impulsionado pela pressão sanguínea, fazendo com que o laser de ablação não atinja o ponto desejado. Além disso, o tratamento também requer um rigoroso controle no pulso de ablação. Para determinar a quantidade exata de energia a ser lançada no tecido, está sendo realizado um estudo paralelo no Laboratório de Ablação do IPD da Univap, também com apoio da FAPESP. São necessários vários testes para avaliar o efeito de diferentes intensidades de pulso do laser sobre tecidos biológicos e também para verificar o comportamento do material resultante da ablação.
porque a eficiência e ausência de riscos estão bem fundamentadas. Bastos acredita que o produto deva entrar no mercado em meados de 2001, e sua expectativa é de uma grande aceitação no Brasil e no exterior. "É um produto promissor, tanto pela atual demanda como pelo baixo custo, além de possibilitar a eliminação de gastos com análises laboratoriais e sistemas sofisticados de diagnóstico por imagem", afirma.
técnica que pode vir a substituir a quimioterapia. Nesse sistema, injetase uma droga na veia do paciente, que se espalha pelo corpo e termina por se concentrar em áreas tumorosas. A droga sozinha não elimina o câncer, mas, quando é irradiada por laser, ela produz radicais livres e oxigênio, que penetram nas células cancerosas, provocando uma necrose da região tumoral. Nesse caso, o espectrofluorímetro auxilia na verificação da distribuição da droga na região tumoral, indicando sua concentração de forma qualitativa. Grande vantagem - Por enquanto, a
-
Teste em humanos - Devido ao cus-
Espectrofluorímetro: auxílio à fotodinâmica, técnica que deve substituir a quimioterapia
to do cateter - em torno de US$ 1 mil-, foram necessários também vários testes para aumentar a vida útil do instrumento sem que isso implique qualquer risco de contaminação para os pacientes. Segundo Zângaro, a expectativa é que o cateter possa ser usado em até dez exames. A comercialização desse produto vai ficar por conta da Tecnobio, mas ainda depende da obtenção do registro junto ao Ministério da Saúde. Apesar da dificuldade em testar o equipamento em humanos- só foram feitos testes em animais -, José Maria Rodrigues Bastos, presidente da Tecnobio, acredita que a liberação do produto, pelo menos para diagnóstico, não deverá apresentar problemas,
Existem vantagens também no uso do cateter para diagnóstico de câncer do cólon retal. Por ser capaz de diagnosticar casos de hiperplasia e adenoma, estados que podem ser pré-cancerosos, a expectativa do pesquisador é que esse tipo de exame venha a se tornar rotina, integrando a lista dos exames preventivos. "É muito mais barato para o Estado trabalhar na prevenção do que no tratamento do câncer, que muitas vezes requer longas internações, medicamentos e procedimentos caros", afirma. Além de fazer diagnósticos, o espectrofluorímetro também pode auxiliar na terapia fotodinâmica, uma
técnica aguarda a aprovação da Comissão de Ética do Hospital do Câncer para ser utilizada em pacientes que se submeteram a diversos outros tipos de tratamento sem resultados positivos. Segundo o pesquisador, a terapia fotodinâmica traz uma grande vàntagem para os pacientes em relação à quimioterapia. Como tem efeito apenas em pontos localizados, a técnica não ataca o sistema imunológico de forma generalizada, reduzindo a incidência de infecções oportunistas. A técnica pode ainda, na opinião de Zângaro, evitar um grande número de cirurgias, que sempre implicam maiores riscos, inclusive o de provocar metástases. Ainda não há cálculos precisos sobre o custo de comercialização do espectrofluorímetro. Estima-se que chegue a US$ 70 mil, já que 70% dos componentes são importados. Ainda assim, na opinião de Zângaro, a relação custo-benefício pode ser altamente vantajosa. Ele estima que daqui a um ano o equipamento poderá estar disponível no mercado, mas isso ainda depende de negociações com empresas interessadas em estabelecer uma parceria comercial. O importante é que tanto as pesquisas como a perspectiva comercial do cateter e do espectrofluoríinetro estão num ritmo avançado. Eles vão proporcionar melhores técnicas de diagnóstico e tratamento de • doenças com o uso do laser. PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 2000
63
TECNOLOGIA
MEDICINA NUCLEAR
lpenlança iodo-123
ultrapuro Radiofármaco detecta a presença de tumores e alterações na tireóide Sciani: dom ínio da tecnologia permitiu criar novos sistemas e processos de produção
m recurso essencial da medicina nuclear para o diagnóstico de uma série de doenças já está disponível em São Paulo. O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnem), desenvolveu tecnologia própria e começou a produzir o iodo-123 ultrapuro, um radiofármaco que, usado em exames específicos, facilita a localização de tumores e alterações na tireóide, no coração e no ~érebro. Na forma de um líquido incolor, essa substância tem meia-vida (período em que a atividade radioativa cai pela metade) curta, de 13 horas. Isso representa uma vantagem para o paciente que é submetido a uma dose pequena desse tipo de produto, além de se beneficiar com a precisão e a rapidez dos diagnósticos. Até o início do próximo ano, o produto estará disponível para todos os hospitais e centros de diagnósticos que o desejarem. Falta pouco para isso. "Precisamos ainda sedimentar o processo. Só então poderemos produzir em escala totalmente comercial e estabelecer o preço final do produto", informa o físico Valdir Sciani, coordenador do Grupo de Irradiações no Ciclotron do Ipen. O ciclotron, modelo Cyclone 30, é um acelerador que custou cerca de US$ 5 milhões e produz feixes de prótons para a produ-
U
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ção de radiofármacos de interesse em diagnósticos médicos, como o gálio67, tálio-201, indio-1ll, iodo-123 e flúor-18. O desenvolvimento desse novo produto foi possível com o projeto de auxílio-pesquisa da FAPESP Desenvolvimento e Implantação do Método de Obtenção de Iodo-123 a Partir da Irradia{iio de Xenônio-124 no Ipen-Cnen, coordenado por Sciani. O apoio financeiro da Fundação foi de R$ 109 mil e US$ 50 mil. A Agência Internacional de Energia Atômica contribuiu com US$ 50 mil e a contrapartida do próprio instituto foi de R$ 70 mil. · A metodologia de produção do iodo-123 a partir da irradiação do gás xenônio não é nova e também é usada pelo Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), do Rio de Janeiro. Em O PROJETO Desenvolvimento e Implantação do Método de Obtenção de lodo-123 a Partir da Irradiação de Xenônio-124 no lpen/Cnen/SP MODALIDADE
Auxílio a projeto de pesquisa COORDENADOR
Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (lpen)
VALDIR SCIANI -
INVESTIMENTO
R$ I09.500,00 e US$ 50.000,00
São Paulo, o sistema foi inteiramente desenvolvido no Ipen. "O domínio da tecnologia tornou possível o desenvolvimento e a implantação de sistemas próprios para todas as fases do processo, num trabalho que durou dois anos", explica Sciani. O trabalho também teve a participação de equipes do Laboratório de Ciclotrons, do Centro de Radiofarmácia e do Centro de Tecnologia das Radiações do Ipen. Além dos investimentos diretos no projeto, contaram também aqueles para a infra-estrutura, como a aquisição de um distribuidor magnético com cinco saídas para uma das linhas de feixe de prótons do Cyclone 30. Com isso, agora podem ficar instaladas até cinco câmaras de irradiação, uma delas exclusiva para a produção do iodo-123. Antes, só se usava uma câmara, que tinha de ser montada e desmontada a cada novo radiofármaco produzido na linha. lodo no lncor - O Instituto do Coração (ln cor) da Universidade de São Paulo (USP) é um dos consumidores do iodo-123. Cláudio Meneghetti, diretor do Serviço de Radioisótopos do Incor, informa que a primeira utilização do iodo-123 será no estudo de prognóstico dos pacientes que estão na fila de transplantes de coração, para identificar os que têm maior ris-
co de morte, por meio do uso de uma substância- a metaiodobenzilguanidina- marcada com o iodo-123. Com essas substâncias no organismo, o paciente é submetido a um exame de cintilografia, em que uma máquina especial capta a radiação concentrada nos locais doentes de forma semelhante a um equipamento de raio X. De acordo com a farmacêutica Marycel Barboza, responsável no Ipen pela marcação de moléculas com radioisótopos, o iodo-123 é usado apenas em diagnóstico e na monitoração de tratamentos, diferente do uso do iodo-131, utilizado em diagnóstico e radioterapia. Com o 123, pode-se diagnosticar disfunções da tireóide, como hipo e hipertireoidismo. Inserido na metaiodobenzilguanidina, possibilita estudos precisos do miocárdio e a identificação de tumores endócrinas e da crista neural (onde há neurônios envolvidos, centrais ou periféricos), que são de baixa ocorrência, mas atingem crianças - neuroblastoma - e adultos jovens- feocromocitoma. A conjunção das duas substâncias também facilita o acompanhamento terapêutico, corrigindo e avaliando a necessidade de aumentar a dose de um medicamento, além de verificar a eficiência da linha terapêutica. O iodo-123 pode também ser usado para marcar outras moléculas, como as utilizadas no exame de fluxo neural ou cerebral e estudos de neurorreceptores. Fator vital - Na cardiologia, existem várias utilidades para o iodo-123 que ajudam o médico a entender o problema do paciente. "Por exemplo, se ele teve um infarto, o exame com a metaiodobenzilguanidina marcada pode constatar a área de arritimia. No caso dos transplantes cardíacos, muitas vezes é preciso escolher o re-
ceptor de um coração na fila de espera. Há um momento em que todos os fatores envolvidos, do ponto de vista clínico ou funcional, são similares, mas aquele que tiver menor concentração de noradrenalina no miocárdio é o caso mais grave e deverá, em termos estatísticos, morrer primeiro se não houver uma solução. O exame com a molécula marcada com o iodo-123 pode identificar quais são essas pessoas na fila de espera de um transplante de coração.
Meneghetti destaca ainda o caso de pessoas com arritmias ocasionais, motivadas por falhas na distribuição da rede neural do miocárdio e que poderão ter seu caso mais bem estudado. O uso do iodo-123 no diagnóstico da tireóide vai ser menor que o iodo-131, porque ele tem meia-vida maior, de oito dias. "Isso o torna mais facilmente disponível para as necessidades do dia-a-dia das clínicas", esclarece o químico Jair Mengatti, coordenador da produção de radiofármacos do Ipen. "Mas, mesmo que o iodo-131 continue a desempenhar papel significativo no diagnóstico da tireóide, o iodo-123 é inquestionável na marcação de moléculas para outros tipos de exame, pela excelência das imagens que propicia e a baixa radioatividade administrada ao paciente."
Sem impurezas - O iodo-123 era
produzido anteriormente pelo Ipen a partir do óxido de telúrio, mas essa substância possuía o contaminante iodo-124. O Incor já trabalhou no passado, de forma acadêmica, com esse iodo. Se administrado a um paciente, mesmo em dose pequena, o iodo-124 permanece no organismo. Mas esse iodo impuro era utilizado de forma esporádica, segundo Meneghetti: "Apenas quando o benefício de sua aplicação compensasse os riscos da radiação do 124, caso de pacientes à espera de um novo coração e com perspectiva de vida curta caso o transplante não acontecesse': Com o gás xenônio-124, o iodo-123 garante, além da alta qualidade de imagens, a ausência de impurezas como o iodo-124. Atualmente, cerca de 1,5 milhão de pessoas são beneficiadas com radiofármacos produzidos pelo Ipen. Mengatti informa que a utilização desses produtos no Brasil tem crescido em torno de 13% ao ano. Alguns, como o iodo-131 e o 123, apre1;;;,;1 sentam taxa de 15%. "Mas, mesmo com essa velocidade de crescimento, estamos utilizando a quantidade de radiofármacos próxima à da Argentina." Considerando-se que a Argentina tem 1/4 da população do Brasil, o consumo brasileiro precisaria crescer 300% para se igualar ao dos argentinos. Meneghetti, por sua vez, comenta que o crescimento da medicina nuclear tem sido grande: "Estávamos num patamar de aplicação muito baixo. A situação mudou quando a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear passou a divulgar, entre os médicos, os benefícios dos exames nucleares". Com a produção do iodo-123 ultrapuro, em São Paulo, consegue-se um novo avanço nessa área da medicina. • PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 1000 • 65
HUMANIDADES
PSICOLOGIA
Estratégias para manter o casamento Estudo mostra como mulheres lidam com o cotidiano do matrimônio ((
e, que a morte os separe."O efeito simbólico dessa frase, ouvida por milhões de casais em boa parte do mundo durante a cerimônia religiosa de casamento, costuma ecoar sobre o homem ou a mulher quando a união está ruindo ou quando o que resta da ilusão matrimonial é mantido a duras penas. É compreensível. Presume-se que a intenção da maioria ao . . assumtr um compromtsso como esse é ser feliz por longos anos. Embora já vá longe o tempo em que os casais mantinham o casamento mesmo que não restasse mais nada entre eles senão os hábitos, os filhos para criar, os netos para curtir ou contas a acertar, também é verdade que grande número de casais prefere continuar como está. Homem e mulher continuam utilizando recursos diversos para manter a casa em pé: são estratégias diretas, indiretas, um jeito particular de se esquivar ao diálogo, optar pelo silêncio, esperar pela melhor oportunidade de abordar certo assunto e, assim, atingir seu objetivo sem traumas. Para entender os estratagemas adotados por mulheres que se mantêm casadas durante 15 anos ou 66 • NOVEMBRO OE 2000 • PESQUISA FAPESP
mais, as pesquisadoras Maria Lúcia Teixeria Garcia e Eda Terezinha de Oliveira Tassara decidiram investir num projeto que interessa a todos que são casados. Por três anos, elas trabalharam no projeto Da Utopia do Amor Romântico ao Cotidiano do Casamento. Lúcia é assistente social e professora do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e Eda, co-autora e coordenadora científica do projeto, é doutora em Psicologia e docente do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de São Paulo (USP). Uma das conseqüências do trabalho das duas é a tese de doutorado de Lúcia, Problemas no Casamento: a Presença Utópica do Amor Romântico, que será defendida em fevereiro na USP. A pesquisa de Eda e da Lúcia Garcia começou em 1997 e terminou em junho deste ano. A FAPESP financiou computador, impressora, a transcrição do material e programas de computador. O trabalho foi desenvolvido a partir de entrevistas com mulheres das classes média e alta da região da Grande Vitória, Espírito Santo. "As histórias narradas
possuem um início, um meio e uma projeção de futuro - avaliada como potencialmente boa ou ruim - em função da aproximação ou distanciamento do projeto de convivência conjugal", diz Eda, casada há 40 anos. "Tais avaliações dizem respeito a expectativas e aspirações das entrevistadas que podem diferir ou não das análises feitas por seus cônjuges. Para algumas, a discrepância na avaliação da convivência conjugal foi um dado destacado por elas, o que fazia com que aquilo que indicavam como inadequado para elas não o fosse necessariamente para seus parceiros." Como avaliação geral pode-se dizer que, para as mulheres felizes e satisfeitas com o casamento, não há por que romper com um vínculo avaliado como adequado às suas expectativas. Entre as mulheres felizes, mas insatisfeitas com a relação conjugal, a separação se coloca como ameaça, embora, ao mesmo tempo, projetem alternativas de superação das dificuldades vividas. Entre as mulheres infelizes, a separação é vista como alternativa, mas evitada por elas ao avaliar os possíveis impactos sobre sua identidade. Caminhos e estratégias - Não foi a
primeira vez que o casamento despertou o interesse de Maria Lúcia. Casada há 14 anos, havia desenvolvido um trabalho de dissertação de mestrado na área de dependência química no Programa de Atendimento ao Alcoolista do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, em Vitória. Na ocasião, em 1995, pesquisou o significado do casamento entre mulheres que viviam uma relação de conflito em razão do consumo abusivo de álcool por seus parceiros. Conversou com mulheres de renda familiar baixa que evidenciaram dois problemas principais: o da questão material, de sobrevivência, e o de saúde, vivido pelo companheiro e cuja busca da solução podia contar com a ajuda da companheira. A pesquisadora con-
feriu que, embora o número de casos de divórcios fosse significativo nesse grupo, o uso do álcool não significava, a rigor, que essas pessoas ficassem sós. Portanto, a questão da premissa da separação existia anteriormente à relação e a pergunta não era respondida: o que se constituía realmente em problema no casamento para as mulheres? Era natural que Lúcia voltasse ao tema e buscasse um caminho para descobrir as estra-
tégias adotadas pelas mulheres para manter e lidar com o casamento. "Ao definir como temática de investigação ocasamento, uma das ramificações possíveis do assunto com o qual vinha trabalhando até então, tive um misto de alegria e surpresa com o interesse que minha escolha causava nas pessoas", conta a pesquisadora. Em todos os segmentos sociais nos quais ela transitava sempre aparecia alguém com informações sobre uma "história interessante" de algum casal amigo. "Evidenciava-se, com isso, a reflexividade do tema, na medida em que falar, pensar, viver ou planejar manter uma relação afetivo-sexual faz parte da biografia de uma boa parte da população."
Moradora de Vitória, ela preferiu se basear em exemplos extraídos daregião por dois motivos: o crescimento populacional acelerado a partir da década de 70, em razão da instalação de empresas do ramo siderúrgico, e a composição da população da Grande Vitória, integrada por gente vinda de Minas Gerais, São Paulo e do Rio
de Janeiro. O projeto Da Utopia do Amor Romântico ao Cotidiano do Casamento nasceu a partir de um universo multifacetado. Foram escolhidas 20 mulheres, com idade média de 48 anos (mínima de 35 e máxima de 56), tempo médio de casamento de 24 anos (mínimo de 15 e máximo de 34). Já nessa fase, elas foram inseridas nas categorias de "casamento feliz" ou "casamento infeliz", depois analisadas conforme a auto-avaliação de cada uma. A escolha do universo feminino obedeceu ao seguinte critério: o tempo de casamento mínimo (15 anos)
garante que o casal tenha ultrapassado os primeiros dez anos de vida conjugal, período caracterizado pelo delineamento da identidade do casal e que envolve o estabelecimento de regras que nortearão a vida conjugal. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para Vitória indicam que há maior probabilidade de separação no período compreendido entre quatro e nove anos de casadas. As mulheres, cujas identida-
des foram preservadas, passaram por uma média de três a quatro entrevistas semi-estruturadas, gravadas, abordando a história do casamento desde o namoro, o início da união, o momento atual e a projeção para o futuro. Depois, receberam cópias de suas entrevistas e, ao iniciar uma nova entrevista, o pesquisador pode verificar se os textos haviam sido lidos e qual impacto causaram à autora. Os dados obtidos foram importantes para a pesquisa e seu detalhamenta, mas chegar a eles significou superar barreiras básicas, como manter os encontros preestabelecidos com integrantes do grupo e garantir o número de mulheres inicialmente proposto para o estudo. "Das 30 muPESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 1000 • 67
lheres, conseguimos entrevistar 20. Por envolver entre três e quatro encontros, muitas alegavam falta de tempo para participar ou ainda falta de vontade de falar sobre seus casamentos", diz Lúcia Garcia. A metodologia envolvia uma seqüência de encontros intermediados pela leitura que essas mulheres faziam do texto produzido por elas no encontro anterior. As histórias foram obtidas paulatinamente. "Os vá-
nos encontros permitiram uma proximidade crescente entre entrevistada e entrevistadora", afirma a pesquisadora. "Também definiu-se um processo reflexivo no qual as contradições eram explicitadas pelas entrevistadas e se tornavam alvo de novas reflexões." Outra coisa: concluiu-se que as entrevistadas escolheram criteriosamente os fatos a serem narrados, de modo que a manutenção de seu casamento fosse justificada. À medida que o material fornecido pelo grupo foi estudado, chegouse a alguns indicadores importantes. Por exemplo, para oito entrevistadas prevalecia a estratégia direta como forma de tratar assuntos importan68 · NOVEMBRO OE 2000 • PESQUISA FAPESP
tes ou delicados no casamento; quatro mulheres usavam a estratégia indireta; oito lançavam mão do uso combinado de estratégias diretas e indiretas. Já os maridos, 13 deles utilizavam estratégias diretas e dois a dobradinha direta/indireta. E ainda, em cinco casos, revelou-se o uso da estratégia indireta - principalmente
o silêncio ou o adiamento da busca de solução para algo que perturba o relacionamento do casal. Lamúrias e problemas- Como nada é simples quando se fala em relações de amor/parceria/casamento, da correlação dos dados levantados chegou-se a diversos modos de agir. Por exemplo, mulheres que avaliam negativamente seu casamento demonstram que ocorreu uma quebra naquele almejado e romântico projeto inicial e usam estratégias indiretas de abordagem, muitas vezes evitando ou fugindo do diálogo. É
como se dissessem "não adianta, não vai mudar" ou "ele não vai se comportar como desejo". Uma das entrevistadas mostrou que havia entre o casal uma comunicação calcada em lamúrias, ao mesmo tempo em que um não informava ao outro, adequadamente, os problemas existentes. Outra vivia aparentemente bem, mas expressou da seguinte maneira sua insatisfação: "Estávamos sempre juntos, mas não com-
partilhávamos nada, a não ser a casa, até que em determinado momento eu falei: 'A gente não conversa, a gente não sai um com o outro'. E ele: 'Talvez por isso estejamos juntos há tanto tempo'". As mulheres que dizem ser felizes também se dividem em dois tipos. Há as que não identificam problemas de relação ou que associam os problemas apenas a pequenas questões do cotidiano ("o controle remoto", "o ronco", "o ar-condicionado", "o temperamento dele"). No outro grupo está a mulher que enxerga o problema, vive um conjunto deles e ainda assim afirma (ou acredita) que todos são gerenciáveis. "Eu acho que quando se co-
nhece as pessoas com quem está se relacionando, que você quer que dê certo aquilo que está construindo, vamos ajeitando as coisas", diz outra mulher. São vários os tipos de relacionamentos e formas de abordagem ou não-abordagem. Há quem se diga feliz com o casamento, porém insatisfeita com o relacionamento. Nesse caso, o hábito (ou a estratégia) pode ser abordar as questões sem dar a entender ao outro tal insatisfação. Uma conseqüência é que, quando a mulher atinge o alvo (mudar o comportamento do parceiro), atribui o crédito ao outro e não a si. Veja o de-
!amos sobre o assunto. Mas não falamos quando estamos no meio do conflito. Porque eu acho que quando você fala com a cabeça quente pode dizer coisas que depois se arrepende. E ele tem também esse mesmo procedimento". Ampliação dos papéis - O lar foi des-
crito como o espaço de expressão de todo afeto positivo que existe entre o casal. É o lugar ideal para a realização dos desejos de serem felizes, uma condição manifestada por todas as entrevistadas. Quanto a ter ou não problemas, isso foi associado ao tipo de vida e de situações pelas quais o
''As histórias narradas possuem um início, um meio e uma projeção de futuro'' Eda Tassara
poimento de mais uma mulher: "Eu gosto das coisas em pratos limpos logo, mas nem sempre a gente pode colocar as cartas na mesa e dizer... Nas horas boas, que a gente estava conversando, dava sempre uma charadinha, encaminhando para o assunto, mas sem demonstrar muito". Também é curioso saber como elas se referem ao comportamento do homem. Algumas delineiam expectativas quanto ao papel sexual do parceiro. Outras indicam que existe uma similaridade de comportamento entre os dois: "Depois que passa, que a gente já voltou ao normal, fa-
O PROJETO A Utopia do Amor Romântico no Cotidiano do Casamento: um estuda sobre estratégias para a manutenção do casamento MODALIDADE
Aux ílio a pr ojeto de pesquisa COORDENADORA
EDA TEREZINHA DE OLIVEIRA TASSARA- Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de São Paulo (USP) INVESTIMENTO
R$ 18 mil
casal passa: quanto mais perto do projeto de casamento idealizado, menor a possibilidade de haver problemas. Como, de maneira geral (e em razão de sua inserção socioeconômica), a sobrevivência material não aparece como problema, a questão do trabalho pode surgir em decorrência do momento, do ciclo de vida de cada uma. Por exemplo, com filhos era natural que elas ficassem em casa. Mas com o crescimento das crianças, não trabalhar fora tornouse um problema. O trinômio mulher-esposa-mãe não só é bem aceito como almejado por muitas mulheres. Muitas vezes esse trinômio foi acrescido do item trabalho- exercido fora do lar e cuja renda veio incorporar-se à vida familiar. Dessa forma a mulher passa a ser, também, provedora financeira junto com o marido. Nada errado para ela, a não ser quando sua remuneração supera a do marido afinal, entre contribuir e ser a provedora oficial, elas preferem a primeira situação. Também gostariam que os homens tivessem maior participação na organização doméstica, atitude que pode ser associada, assim, à de "provedor de afetos e cuidados". Contornando e/ou en~ frentando questões de v᧠rios tipos, as mulheres si0 nalizaram, por meio de " suas histórias, a idéia de manutenção do casamento como questão central. Seria a realidade da mulher da Grande Vitória igual ou similar à das moradoras de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e de outras localidades? "Por falarmos de um tema comum e alvo de tantas reflexões na mídia, o que se evidencia é que as questões sinalizadas pelas entrevistadas ilustram todo um processo de mudanças que vêm incidindo sobre os casais", diz Eda. "Para generalizar os dados, precisaríamos ampliar o estudo e englobar outras faixas etárias e localidades, projeto que pretendemos desenvolver no futuro." • PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 1000 • 69
HUMANIDADES
SOCIOLOGIA
Educação ambiental contra pobreza Projeto ajuda a melhorar condições de vida em comunidades uase todos os meses, algumas integrantes da Associação de Mulheres de Espírito Santo do Turvo percorrem os mais de 300 quilômetros que separam seu município da capital paulista. Elas viajam para exibir e vender o artesanato que produzem em sua cidade. Dessa maneira e com uma doação da Fundação Levy Straus, já garantiram a construção da sede de sua associação. Esse é apenas um dos diversos resultados práticos do projeto temático Educação Ambiental via Representações Sociais, Acadêmicas e Populares do Meio. Patrocinado pela FAPESP com uma verba de aproximadamente R$ 200 mil para três anos e coordenado por Myriam Krasilchik, diretora da Faculdade de Educação e ex-vice-reitora da Universidade de São Paulo (USP), o projeto reúne cerca de 20 pesquisadores de áreas científicas em torno de Espírito Santo do Turvo e de Vera Cruz - cidades respectivamente com 3 mil e 13 mil habitantes, situadas na região oeste do Estado de São Paulo. Apesar de terem em comum a pobreza e a degradação ambiental, com solos comprometidos, a realidade das duas cidades é bem diferente, o que amplia o resultado desse projeto. "No fim, essa diferença entre Espírito Santo e Vera Cruz foi importante para a diversidade de informações do banco de dados que estamos formando e sua análise comparativa", observa Nidia Nacib Pontuschka. Ela é coordenadoraadjunta da pesquisa, professora de Metodologia de Ensino de Geogra-
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fia da FE e realiza pesquisas em educação ambiental. Iniciado em março de 1998 e com término previsto para a segunda metade de 2001, além de membros da FE, o projeto está a cargo de pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e da Faculdade de Saúde Pública (PSP), ambas unidades da USP, e do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). O trabalho envolve engenhei-
rização completa dos solos, sua classificação e mapeamento, entre outras informações que levarão à produção de um atlas de cada um dos municípios. Foram feitos igualmente um mapeamento e o diagnóstico do estado de conservação nativa existente nos dois municípios e o acompanhamento das diferentes espécies de fauna e flora - só de aves foram identificadas 64 espécies, num trabalho coordenado pelo professor Álva-
Venda de artesanato em São Paulo ajuda associações populares do interior
ros agrônomos, civis e florestais, biólogos, historiadores, geógrafos, sociólogos, além de educadores. "Essa diversidade é uma riqueza para a equipe, porque exigiu a construção de uma linguagem comum e a compreensão das diferentes metodologias", explica Myriam. Diagnóstico da região - O trabalho desenvolvido no IAC, por exemplo, liderado pelo professor Pedro Donzeli, fez o diagnóstico do meio físico - dado relevante para o planejamento do uso agrícola das terras de forma sustentada. Além dos mapas planialtimétricos básicos, o estudo contém informações relativas ao uso atual das terras e sua vegetação natural, bem como sobre problemas de erosão em estradas rurais, a caracte-
ro Fernando de Almeida. A partir dos dados coletados e discussões com a população e autoridades municipais vêm sendo sugeridas modificações nas redes de infra-estrutura de saneamento, o asfaltamento das ruas, a localização de casos de doença e dados gerais dos municípios, como rede hidrográfica, estradas, área urbana, divisão por bairros e tamanho dos lotes urbanos. Esse estudo é decorrência do projeto UNIR, iniciado no começo dos anos 90 com financiamento da Fundação W. K. Kellogg. Dentro do UNIR, em 1995 foi feito um diagnóstico participativo para conhecer as relações dos moradores das áreas rurais e urbanas com os municípios. A base do UNIR foi rural, de intervenção na pop ulação das duas ci-
dades e de pesquisa. Os dados levantados na época subsidiam esse segundo projeto cujo caráter é de pesquisa para coleta de dados necessários às mudanças de representação das populações locais. O objetivo é criar condições para o aumento da renda e melhoria do atendimento dos serviços públicos aos habitantes de Espírito Santo do Turvo e Vera Cruz. Para avançar no processo é fundamental envolver os moradores da cidade. "O problema ambiental é grave, mas há questões cruciais que envolvem outras áreas, como educação, saúde e geração de empregos", afirma Myriam. Mais conscientes das suas necessidades, os próprios cidadãos desencadearão um processo de desenvolvimento econômico, social e político para a melhoria da qualidade de vida com a sustentabilidade do meio ambiente. "Quando o projeto chegar ao fim, eles mesmos já estarão agrupados, associados e conscientes de como devem continuar trabalhando", explica Nidia. Periodicamente, os pesquisadores promovem reuniões com associações de moradores, diretores e professores das escolas, representantes do executivo municipal e de organizações comunitárias. Foi em encontros do gênero, por exemplo, que os habitantes de Espírito Santo do Turvo conseguiram, com a prefeitura, a limpeza, o controle de erosão urbana e a drenagem do Córrego do Rangel para o qual estão sendo projetados o replantio de mata ciliar e a criação de áreas de lazer. A recuperação do córrego é um dos 14 itens que constam da lista de primeiras necessidades urbano-ambientais para a cidade, detalhadas no projeto. A prefeitura também acabou de adquirir uma casa do século 19. Nela, fundará uma casa de cultura, com a participação da universidade, para resgatar um acervo que possa registrar a história do município. Espírito Santo do Turvo é distrito de Santa Cruz do Rio Pardo e
tornou-se município em 1992. A população vive do trabalho rural e da usina de álcool local, a Sobar. Ela oferece emprego a grande parte da população e, na safra, atrai também trabalhadores rurais de outros municípios. Em Vera Cruz, a situação é diferente. O município vive basicamente da monocultura do café e do maracujá, como cultura alternativa, e é dez vezes mais populoso. Ao contrário de Espírito Santo, esse município, situado a 10 quilômetros de Marília, é muito mais antigo e foi próspero na era do café. "Com a queda do café, a economia local tornou-se deO PROJETO
dições sanitárias da moradia daquela população e seu entorno e da morbidade. Como o projeto envolve as escolas como ponte de aproximação e discussão com a população dos dois municípios, a rotatividade dos professores tornou-se um problema. Na Escola Estadual de Espírito Santo do Turvo, por exemplo, o corpo docente foi muito mudado como decorrência
Myriam: participação da população é essencial
TÍTULO
Educação Ambiental Via Representações Sociais, Acadêmicas e Populares do Meio MODALIDADE
Projeto temático COORDENADORA MYRIAM KRASILCHIK -
Faculdade de Educação da USP INVESTIMENTO
R$ 200 mil
cadente e partiu para a fruticultura", explica a professora Nidia. "O problema é que plantaram demais e, ainda por cima, apareceu uma doença que está sendo pesquisada por um grupo liderado pela Esalq." Contudo, com a colaboração dos próprios moradores, que entenderam o projeto, foi desencadeada uma série de ações, como o levantamento de representações para discutir os problemas ambientais da cidade com a intensa e ampla presença da equipe da Faculdade de Saúde Pública, coordenada pela professora Helena Ribeiro. Verificadas as carências de infra-estrutura de saneamento básico, fez-se uma seleção das ações prioritárias na área ambiental. Realizou-se o levantamento da qualidade da água distribuída, das con-
do concurso público, feito pela Secretaria do Estado de São Paulo, e da municipalização de 1a a 4a séries. "Isso demandou novos esforços para recomeçar a formação e o envolvimento deles", explica Myriam. O projeto Educação Ambiental tem sido divulgado nos meios científicos pelos vários encontros nacionais e internacionais. Trabalhos acadêmicos estão sendo desenvolvidos em nível de graduação e pós-graduação derivando em relatórios, dissertações de mestrado e teses de doutorado. Espera-se produzir um livro em que os dados do trabalho integrado de grupos tão variados permitam analisar problemas ambientais derivando regularidades para políticas públicas em municípios com características semelhantes. • PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 2000
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RICARDO AL EXINO FERREIRA
O ser negro em uma sociedade branca Obra mostra como o Brasil camufla sua identidade étnica Afro-descendente: esde o final do séidentidade culo 19, o Brasil em construção tenta camuflar a Ricardo sua identidade étnica. Para Franklin Ferreira tanto, vem negando contiEduc/Fapesp/Pallas nuamente o fato de ser um 186 páginas país negro. Esconde-se R$ 24,00 atrás dos ideários da mestiçagem, visando ao embranquecimento; criou a categoria "pardo" para designar negros de tez menos escura e se auto-intitulou o país da democracia racial. A construção ideológica desse tipo de pensamento passa necessariamente pelas elites e se expande por todos os demais segmentos sociais. Toda essa trajetória de negação dos últimos cem anos acabou por trazer graves ônus à população negra brasileira, que representa 44,3% da sociedade, o que equivale a 70 milhões de indivíduos. O Brasil é o segundo país mais negro do planeta, sendo superado apenas pela Nigéria. Foi procurando entender a construção da identidade negra em uma sociedade marcadamente eurocêntrica que o psicoterapeuta Ricardo Franklin Ferreira escreveu o livro Afro-descendente: identidade em construção, que é o desdobramento de sua tese de doutorado defendida ano passado no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). O autor tenta desvelar o que é ser negro no Brasil, a perda e a formação da sua auto-estima e a sua luta afirmativa. "Vivemos em uma sociedade na qual os valores determinados por uma cultura branca européia são vistos como superiores, ocasionando aos afrodescendentes o desenvolvimento de auto-imagem negativa, acompanhada de baixa auto-estima, o que muito contribui para gerar condições desumanas de existência e tende a perpetuar-se em um processo de exclusão, sustentado por complexo mecanismo social", explica. Franklin Ferreira elabora a construção da identidade do negro a partir do olhar do próprio
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negro e de como ele se autodesigna. Essa análise passa necessariamente pela linguagem. "Se a pessoa for chamada de negra sentir-seá valorizada ou ofendida? É consenso entre os afrodescendentes o uso da denominação negro ou é um termo usado somente na academia e em alguns movimentos negros?", questiona. Para obter respostas a essas questões, Franklin Ferreira utiliza-se do método qualitativo de pesquisa, que permite o desenvolvimento de entrevistas biográficas e até mesmo centrar toda a pesquisa em uma única fonte. No caso do seu trabalho, ele tem como referência um homem negro (cuja identidade ele preserva e passa a chamá-lo pelo codinome de João) que vai discorrer sobre o que é ser afrodescendente no Brasil de hoje. No livro, são apresentados trechos editados da fala do entrevistado. Talvez o ideal fosse o autor ter colócado a fala na íntegra para que o leitor pudesse compartilhar com o psicoterapeuta as confissões, as conquistas e frustrações de um homem negro que representa os mais de 70 milhões que vivem dia a dia Brasil afora. A principal característica do livro é o fato de ele trazer uma linha de pesquisa sobre questões étnicas que não se finca tão somente nas questões sociológicas e antropológicas, que são as áreas de estudos de etnia e cultura por excelência, mas busca uma interpretação do ponto de vista da psicologia, demonstrando que antes mesmo de se pensar em mudanças sociopolíticas é necessário algo anterior, como a busca da auto-estima ou de uma identidade positiva para o próprio exercício da cidadania.
é jornalista, professor de jornalismo Especializado da Unesp e doutorando em Ciências da Comunicação na USP.
RICARDO ALEXIN O F ERREIRA
LANCAMENTOS }
REVISTAS
O Desafio de Ensinar Ciências no Século XXI Edusp Ernst Hamburguer e Cauê Matos, organizadores 352 páginas I R$ 25,00
Este lançamento reúne alguns dos textos apresentados durante a Quarta Mostra de Material de Divulgação e Ensino das Ciências, realizada no ano passado. A razão principal do evento foi pensar formas de desenvolvimento da divulgação científica, considerada pelos organizadores como uma das principais alternativas para a melhoria do ensino em tempos de crise. Entre os vários artigos: "Internet para os Professores de Química e Ciência" e "Viajando com Dalí".
Revista USP Número 46
A edição de junho-julho-agosto da Revista USP traz um dossiê que encerra a trilogia sobre os SOO anos do Descobrimento do Brasil, desta vez com o título "Depois de Cabra l: Formação do Brasil", que reúne belos estudos sobre como se formou o que chamamos hoje de povo brasileiro. Os artigos passam pela Antropologia, Sociologia, História, revelando a fundo como se configuraram as grandes etnias nacionais e o universo multiétnico que compõe o país.
Wired
Ref lexões so0r:e a VI 0a e a morte
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Reflexões sobre a Vida e a Morte: Abordagem Interdisciplinar do Paciente Terminal Editora da Unicamp Vera Lúcia Rezende, organizadora 128 páginas I R$ 15,00
Um tema delicado com uma boa abordagem: a morte. Os vários artigos desta coletânea tentam refletir sobre o assunto de forma a mostrar como a morte não deve apenas ser vista pelo profissional da saúde como uma derrota, mas igualmente pode servir como forma de reflexão sobre a suposta onipotência da medicina, que pode, de outro lado, ser entendida como sinônimo de impotência.
Outubro
Uma das mais belas revistas internacionais dedicadas às novas tecnologias, a Wired traz como tema central um assunto que vem fascinando os jovens e irritando os donos de gravadoras de todo o mundo: o Napster, o processo de gravação e distribuição pela rede de músicas. Sem direitos, é claro. Além de discutir os rumos tomados pela pirataria on line, a Wired apresenta a úitima novidade no assunto, o Gn utella, um upgrade do Napster, ainda mais poderoso. Há uma entrevista com David Boies, o homem forte da Microsoft, que apresenta seus planos de defesa contra o Napster.
Desvendando o Arco-Íris: Ciência, Ilusão e Encantamento DESVENDANDO O ARCO·IRIS
Companhia das Letras Richard Dawkins 424 páginas I R$ 34,50
O celebrado professor da Universidade de Oxford discute o racionalismo científico, visto em geral em oposição direta à poesia e ao humanismo. Neste livro delicioso, Dawkins- a partir do poema de Keats, em que o poeta critica Newton por ter destruído o encanto etéreo do arco-íris com suas descobertas- diz que a ciência pode servir como fonte de inspiração para os humanistas. O professor condena as pseudociências e o obscurantismo daqueles que atacam as verdadeiras ciências, chamando-as de arrogantes e absolutas.
Cinemais Número 23
cinema i s
A última edição desta revista bimestral, que discute Vil/a-Lobos retrato os rumos do cinema e questões do artista audiovisuais, traz na capa quando uma entrevista co m o cineasta fervendo Zelito Viana sobre o maestro por dentro Villa-Lobos, tema de seu mais recente filme. Publicada pela Editorial Cinemais em parceria com a Odebrecht e com a Secretaria para o Desenvolvimento do Audiovisual do Ministério da Cultura, a revista tem também artigos sobre o Pagador de Promessas, Estorvo, O Resgate do Soldado Ryan e memória e cinema, entre outros. PESQUISA FAPESP • NOVEMBRO OE 2000 • 73
GLAUCO
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