É Pela Vida das Mulheres
Boletim do Fórum de Mulheres de Pernambuco FMPE / Recife Primeiro semestre de 2016
Companheiras,
SOBRE O FMPE
Este boletim do Fórum de Mulheres de Pernambuco (FMPE) vem compartilhar a nossa ação feminista no estado. Nesta edição, discutiremos sobre a conjuntura política, fundamental para enfrentarmos o cenário de violência sexista e de perda de direitos no campo da agenda feminista. Convidamos você a refletir sobre a epidemia das arboviroses Dengue, Zika e Chikungunya e as consequências para a vida das mulheres. Fique por dentro também de filmes, de música e de poesia que retratam a vida e as lutas das mulheres.
O FMPE é uma articulação feminista autônoma, que teve sua origem no período da Constituinte, em 1988. Encontra-se presente em todas as regiões de Pernambuco, da Região Metropolitana ao Sertão. Nacionalmente, está vinculado à Articulação de Mulheres Brasileiras. Hoje, fazem parte cerca de 250 mulheres populares, universitárias, autônomas, militantes de partido, ativistas, de grupos e organizações feministas que vêm enfrentando as desigualdades de gênero, o crescimento da violência contra mulher, a precariedade dos serviços de saúde, a falta de estrutura urbana para o acesso à moradia, água e saneamento. Estas situações têm demandado do movimento uma ação ativa nos municípios para fortalecer as mulheres na luta por direitos e por autonomia.
É um momento também de apresentar como nos organizamos e como você pode chegar junto e participar do FMPE. É fundamental que estejamos fortes, unidas e organizadas! O FMPE se organiza através de uma coordenação colegiada, descentralizada nas cinco regiões do estado. Sua ação é realizada através de coletivas e frentes de luta, como: Formação, Enfrentamento à Violência contra a Mulher; Justiça Socioambiental; Saúde, Direitos Sexuais e Reprodutivos e Aborto; Enfrentamento ao Racismo e Comunicação e Cultura.
Fórum de Mulheres do Araripe
Fórum de Mulheres do Pajeú
Fórum de Mulheres do Agreste
FMPE - RMR
Articulação de Mulheres da Mata Sul
Um convite PRA VOCÊ:
pertença ao Fórum de Mulheres de Pernambuco! Ediclea Santos1 e SILVIA CAMURCA2
Cada uma de nós, quando quer fazer política, deveria escolher bem que movimento de mulheres quer integrar e saber por quê. Há muitas formas de fazer movimento de mulheres, mais independentes ou mais atreladas, mais participativas e mais fechadas. Descobrir seu próprio movimento é muito importante. É preciso se perguntar: qual é a forma como o movimento se organiza? Como são tomadas as decisões? Como acolhe quem chega? Eu aprovo as lutas que este movimento faz? Eu me identifico com as causas e as lutas que este movimento defende? Quando nos fazemos estas perguntas e encontramos mais respostas positivas do que negativas, isto é sinal de que nos identificamos com ele. Conhecer seu movimento vai fazer você ficar em situação melhor para criticar, propor e participar das decisões sobre os seus rumos. Isso é bom porque você estará atuando politicamente e a participação das mulheres é que faz as coisas mudarem dentro de nós, nas nossas casas, na comunidade e no mundo. Daí, passamos a nos engajar na construção do movimento que escolhemos integrar e podemos a cada passo chegar mais 1 Faz parte do Grupo Espaço Mulher, do bairro Passarinho, 2 socióloga e educadora no sos corpo. Integra o fórum de
perto, assumindo responsabilidades, nos engajando nas ações, participando das tomadas de decisão, cuidando de sua continuidade, de sua organização e ampliação. E, acima de tudo, renovamos este movimento, pois cada mulher que chega traz novas visões e ideias. Como mulheres, vamos nos descobrindo a cada dia, entendemos as situações comuns e particulares que vivenciamos. Percebemos como o racismo, o machismo e a exploração do trabalho das mulheres nos limita a vida, cria situações opressivas e injustas. É também no movimento que nos fortalecemos em várias identidades de mulher negra, indígena, de periferia, nordestinas, rurais e quilombolas. Todas são identidades políticas que se concretizam no EU de cada uma de nós. Ser parte de um movimento é fortalecer o coletivo e a si mesma, pois a força política das mulheres nasce de sua organização. Venha conhecer o Fórum de Mulheres de Pernambuco! Converse com as companheiras que já integram o Fórum, leia a carta de princípios e participe das reuniões. Pertença! no Recife, e é coordenadora do Fórum de Mulheres de Pernambuco. mulheres de pernambuco.
AGRESTE
ARARIPE
PAJEÚ
RMR
ZONA DA MATA SUL
A luta feminista segue em frente carmen silva 1
Estamos vivendo um momento de grandes angústias, mas também de muitas mudanças. Vamos pensar sobre elas a partir dos desafios do nosso movimento. O FMPE é um movimento feminista antirracista, anticapitalista e antipatriarcal. Por isso, o nosso ponto de vista é a partir das mulheres que lutam contra este sistema. Para analisar a situação do país, temos que considerar os fatos políticos que aconteceram recentemente, mas também a relação entre as forças da sociedade. Seguramente, podemos garantir que os movimentos sociais estão hoje em um novo patamar, com muito mais força do que tinham há uns anos e isso inclui o movimento feminista. A crise política foi produzida pela elite brasileira articulada ao capital internacional. Eles querem o controle do petróleo, dos minérios e das águas. Pretendem manter o país como construtor da infraestrutura e financiador de suas empresas na cidade e no campo, com liberação de agrotóxicos e transgênicos que destroem a nossa alimentação. Ao mesmo tempo, querem a redução dos direitos trabalhistas, o fim das políticas sociais, a privatização da saúde e da educação. Com isso, o capital pode aprofundar a sua força
sem ter empecilhos. As consequências dessas medidas cairão nas costas de nós, mulheres, que ficaremos com mais sobrecarga de trabalho, de cuidados e sem serviços públicos que garantam o mínimo de atendimento às necessidades. Na crise, as manifestações da direita na internet e nas ruas foram tomadas pelo ódio machista, o racismo e a humilhação dos pobres. A classe dominante não suporta o lugar que as mulheres, o povo negro e a classe trabalhadora estão tomando na política brasileira. Por isso, eles usam todo tipo de propaganda de ódio contra Dilma como mulher e não apenas como presidenta. No Congresso Nacional, a direita fundamentalista se volta contra os direitos que já conquistamos no sentido de reduzi-los. Eles querem aprofundar o controle sobre nosso corpo e nossa sexualidade. O movimento feminista denunciou isso em todas as manifestações e com muita força. E isso fez com que outros movimentos sociais tivessem que incluir a questão das mulheres no seu discurso público, o que aumenta a nossa força.
Reconhecemos que nos governos de Lula e Dilma tivemos conquistas que alteram a vida das mulheres brasileiras e do povo negro e trabalhador, mas exigimos muito mais. O modelo desenvolvimentista adotado é predatório do meio ambiente e socialmente injusto. O fato do governo não ter tentado fazer uma reforma radical do sistema político, que incluísse a democratização do Judiciário e do sistema de comunicação, manteve a classe dominante no controle da política, situação da qual agora o próprio governo é vítima. Embora estes governos tenham ampliado os canais de participação, os conselhos e conferências de políticas públicas estão longe de ser o lugar onde realmente se decide. Seguimos em luta pela democracia direta e participativa, que tenha poder real de decisão. Seguimos construindo nas mobilizações a força política das mulheres. Alimentamos os nossos sonhos no cotidiano de nossos encontros e fortalecemos a nossa luta pela transformação da vida de todas nós mulheres.
1
É educadora do SOS Corpo e integrante do Fórum de Mulheres de Pernambuco.
A epidemia da Dengue, Chikungunya e Zika na vida das mulheres!! Sueli Valongueiro (sula) 2
O Brasil tem vivenciado, desde abril de 2015, uma epidemia das arboviroses (Dengue, Chikungunya e Zika), que tem representado um grave problema de saúde pública. Pernambuco e Bahia são os estados mais afetados. Dentre as pessoas mais atingidas, estão as mulheres pobres e negras. Vários fatores colocam as mulheres em um entrelaçado de vulnerabilidades, uma vez que são moradoras de áreas com pouco ou nenhum acesso às políticas públicas de promoção da saúde, ao saneamento, água potável e às informações quanto a seus direitos. Um cenário que reafirma a
desigualdade de acesso a direitos e na distribuição de renda em que estão submetidas as mulheres. Isso representa um descaso com seus direitos humanos, especialmente no Norte e Nordeste. As mulheres têm sido responsáveis pelo trabalho reprodutivo, o que as colocam mais tempo no domicilio, local de maior incidência do agente transmissor dos vírus. Algumas, mesmo no trabalho produtivo, permanecem em domicílios, como as costureiras, cozinheiras, lavadeiras, dentre outras profissões.
É importante que as mulheres tenham acesso às informações que falem sobre as consequências destas viroses em sua saúde integral e reprodutiva. Por exemplo, se elas engravidarem e tiverem estas viroses, têm direito ao atendimento preferencial no serviço de saúde. Se não querem engravidar, têm o direito sexual e reprodutivo de receber os métodos anticoncepcionais. Se a mulher não tiver estes direitos garantidos, precisamos denunciar! 2 Educadora
e da coordenação colegiada do Grupo Curumim. integrante do fmpe.
A ciranda da vida 1 A ciranda vai, vai, vai
A ciranda vem, vem, vem A vida só tem sentido quando a gente se quer bem (Refrão)
3 Estava na praça,
a colega me acolheu Sem saber de onde eu vim Eu não a conhecia Falou assim: Vamos embora mais eu Conversaremos até amanhecer o dia
5 A gente se organizava
para a Constituição Foi em 88, mobilizava o povão As domésticas ali estavam para serem reconhecidas Fazer valer os direitos sem preconceito na mídia
7 Doméstica hoje
não é como antigamente Trabalhava no privado, nem parecia ser gente Privado continua e ela sai no jornal é por causa dos direitos que mexeu no capital
9 Desce daí, companheira, conosco vem conversar do valor do seu trabalho e servidora deste lar Já cuidamos de pessoas que hoje estão no poder Mas, nem a tecnologia pode dispensar você
Carmelita Oliveira1
Vim pra cidade 2 do Recife trabalhar Na casa de dona Rosa, esperava ficar, Mas, foi ilusão. Logo, ela me dispensou de noite, fique na rua Agora, para onde vou? Rita Maria 4 conversava e convencia Despertava o desejo a ter a nossa moradia Ter sindicato é preciso pra essa categoria Escravidão é passado O presente é cidadania 70 anos de luta 6 vem até os nossos dias Sem jornada de trabalho, nem fundo de garantia opcional não vale, deposita se quiser Direito por igualdade, esse é o que a gente quer Nossas patroas também 8 trabalham demais em casa só dá as ordens, a empregada é quem faz A casa fica comigo, liga o carro e vai embora A jornada é diferente, para retornar não tem hora Obrigado, senhor, 10 e às pessoas também Feliz é quem acredita na força que o povo tem Companheiras, venham aqui começar a construir um mundo novo, e a paz haverá de ressurgir 1 Poetisa
e trabalhadora doméstica.
Indicações de filmes
Cinema Feminista “QUE HORAS ELA VOLTA?” (Anna Muylaert, Brasil, 2015, Drama/Comédia)
O filme fala sobre uma pernambucana que foi ser babá em São Paulo na busca de conseguir melhores condições financeiras. A história nos faz refletir sobre as contradições que permeiam as relações entre o patronato e as trabalhadoras domésticas.
“AS SEMENTES”
(Beto Novaes, Brasil, 2015, Documentário) É um registro das trajetórias de vida de mulheres agricultoras que participam ativamente dos movimentos agroecológicos no Brasil e que se tornaram referências e/ou lideranças sociais e políticas em seus territórios. Nele, percebe-se o quanto agroecologia e feminismo estão ligados.
“MEMÓRIAS FEMINISTAS SOBRE A DITADURA MILITAR” (Projeto Marcas da Memória UFRJ, Brasil, 2015, Documentário)
Aborda a trajetória de mulheres que atuaram na resistência à ditadura militar brasileira e mostra o quanto o regime as atingiu de diversas formas, principalmente, na atuação das mulheres em tempos de democracia.
Coco
Somos todas as mulheres 2
A mulher está na luta, na força e no poder A mulher está nas ruas com vontade de vencer A mulher que não depende Mulher que corre atrás Mulher que não se abate Mulher querendo mais Tem mulher dona de casa, mulher de competência Mulher unindo forças também na presidência Somos todas as mulheres Somos todas as mulheres 2 A música é de autoria coletiva das militantes do FMPE e foi escrita no
dia 27/02/16 durante a oficina preparatória para o Ato Unificado do 8 de Março
Realização Coordenação colegiada (2016-2017): REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE: Aline Fagundes, Ediclea Santos, Maria Dolores Fastoso, Mércia Alves AGRESTE: Maria Patricia Gomes Bezerra, Rosiane Bernardo ZONA DA MATA SUL: Eliane Nascimento, Rosie Christiann Dornélas Silva SERTÃO DO PAJEÚ: Maria de Fátima Silva, Risoneide Lima Bezerra SERTÃO DO ARARIPE: Lucineide Soares, Poliana Maria de Souza
Apoio
Textos: Ediclea Santos, Carmen Silva, Mércia Alves, Sueli Valongueiro (Sula) e Silvia Camurça Poesia: Carmelita Oliveira Editorial: Mércia Alves Edição: Emanuela Castro, Gabriela Falcão e Sueli Valongueiro (Sula) Fotos: Acervo do Fórum de Mulheres de PE Projeto gráfico e diagramação: Pétalla Menezes Tiragem: 6 mil exemplares Gráfica: Provisual