Boletim Informativo da Cruz Vermelha de Moçambique

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BOLETIM

INFORMATIVO DA CRUZ VERMELHA DE MOÇAMBIQUE ­ SEDE CENTRAL

CVM e parceiros discutem lições aprendidas na resposta ao Idai e Kenneth

CVM procedeu à entrega de máscaras e produtos alimentares ao MISAU

A mesa­redonda realizada pela Cruz Vermelha de Moçambique (CVM), nos dias 24 e 25 de Agosto, serviu como um espaço para reforçar a colaboração e a comunicação entre os principais intervenientes no sistema de aviso prévio, onde foram também partilhadas as lições aprendidas durante as acções de resposta aos impactos dos ciclones Idai e Kenneth. Págna 3

Como parte da sua missão e apoio humanitário, a Cruz Vermelha de Moçambique – CVM entregou, em Agosto último, ao MISAU (Ministério da Saúde) máscaras e produtos alimentares. Os bens doados, em parceria com a Nestlé Moçambique, são destinados aos profissionais da saúde que estão na linha da frente no combate ao novo coronavírus. Págna 6

21 de Setembro de 2020 ­ Nº3

CRUZ VERMELHA DE MOÇAMBIQUE MISSÃO ­ VISÃO ­ VALORES Missão Contribuir para a melhoria das condições de vida das populações mais vulneráveis, prevenindo e aliviando o sofrimento humano em todos os lugares, através de mobilização de recursos para a promoção da cultura de paz e não­ violência, solidariedade e inclusão social. Visão Ser a organização humanitária mais eficaz, eficiente, sustentável e confiável na assistência às populações vulneráveis, a nível do país. Valores Promover em todas as actividades valores humanitários tais como a inclusão social, tolerância, solidariedade, respeito pela diferença, uma cultura de paz e não violência.


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Projecto criado para apoiar famílias que perderam sua fonte de renda devido a COVID­19 CORAÇÃO GENEROSO

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nze mil é o número de famílias propostas para beneficiarem de bens alimentares, no âmbito da campanha lançada em Junho último, pelo Conselho Nacional do Voluntariado (CNV) na qual a Cruz Vermelha de Moçambique (CVM) é membro e parceira. A campanha, denominada "Coração Generoso", foi estendida pelo território nacional e abrangiu mil famílias, mais necessitadas, de cada província do país. O projecto visava, dentre vários métodos de combate à COVID­19, reduzir a mobilidade

das famílias que perderam suas fontes de rendimento e se tem às ruas para procurar sustento. Para Osvaldo Mauaie, presidente do CNV, faz­se necessário atender as necessidades daqueles que perderam meios de sobrevivência por conta da COVID. “Estamos a dizer que alguns que eram funcionários de limpeza num ginásio que hoje (actualmente) encerrado e que não está a funcionar bem como os que trabalham como taxistas, mas que já não tem clientes”, afirmou Mauaie,

citando alguns exemplos A Cruz Vermelha de Moçambique juntou­se a iniciativa para dar apoio logístico ao CNV naquela campanha que previa uma arrecadação de 275 toneladas de produtos alimentares ao fim de um mês, o tempo que durou a actividade. A CVM, representada ao mais alto pela Secretária Geral, Maria Cristina Uamusse, tem apoiado a campanha na logística para assegurar que todos produtos canalizados cheguem às mãos das famílias necessitadas.

Empossado novo Secretário Provincial da CVM em Maputo A Delegação da Cruz Vermelha de Moçambique ­ CVM da Província de Maputo conta, a partir de 10 Agosto, com um novo Secretário Provincial. Trata­se de Carlitos Macuácua que antes da tomada de posse desempenhava a função de Chefe de Transportes e Protocolo na Sede Central. Na ocasião, o empossado assumiu a sua disponibilidade para trabalhar de forma a revigorar aquela Delegação. “Vou fazer tudo que estiver ao

meu alcance para o sucesso desta causa humanitária”, reiterou Macuácua, reconhecendo também os desafios da nova função. Abílio Campos, em representação da Secretária Geral da CVM, instou a actual liderança a zelar pelas actividades daquela parcela do país através da priorização da Doutrina e dos Princípios Fundamentais que regem o bom funcionamento da Cruz Vermelha de Moçambique.


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CVM e Instituições de Gestão de Desastre discutem lições aprendidas na resposta ao Idai e Kenneth

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mesa­redonda realizada pela Cruz Vermelha de Moçambique (CVM), nos dias 24 e 25 de Agosto, serviu como um espaço para reforçar a colaboração e a comunicação entre os principais intervenientes no sistema de aviso prévio, onde foram também partilhadas as lições aprendidas durante as acções de resposta aos impactos dos ciclones Idai e Kenneth. Segundo o Gestor do Projecto Financiamento baseado em Previsão da

Africa Austral, Jânio Dambo, depois da ocorrência dos ciclones Idai e Kenneth, o período de resposta às emergências foi longo e não houve uma concertação técnica, entre os diferentes actores humanitários, para que se avalie o impacto do trabalho em rede desenvolvido. “Neste momento de preparação para a época 2020/2021 a CVM reuniu com actores do governo, concretamente o Instituto Nacional Gestão de Calamidades (INGC) e o Instituto

Nacional de Meteorologia (INAM), para que estes partilhem as experiências do ciclone Idai e Kenneth e os desafios para responder às próximas situações de emergência”, disse Jânio Dambo. O Gestor do FbP disse ainda que um dos objectivos do projecto é incrementar a capacidade dos pontos focais nas instituições parceiras. Por isso, é necessário que os pontos focais sejam envolvidos desde a fase de pesquisa até a elaboração do PAA. O INAM partilhou a sua experiência sobre como as suas previsões ajudaram a responder antecipadamente a estes eventos. O Director Geral do INAM, Adérito Aramuge, disse que uma das lições importantes trazidas pelo Idai é a necessidade de reforçar a coordenação entre esta instituição e a Direcção Nacional de Gestão de Recursos Hídricos (DNGRH). Os participantes realçaram o papel dos voluntários como principais intervenientes e primeiros socorristas no terreno. Para eles, mesmo não sendo especializados na matéria, estão sempre predispostos a ajudar, devendo as instituições humanitárias dar a devida atenção a este grupo de extrema relevância em momentos de emergência. Em 2015 a CVM aderiu ao mecanismo de Financiamento Baseado em Previsão (FbP) e já implementou o Protocolo de Acções Antecipadas (PAA) para ciclones. Neste momento, prepara­se para evitar os impactos de um futuro desastre natural, como ciclones e chuvas extremas.


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José de Abreu, quatro décadas ao serviço da Cruz Vermelha de Moçambique

1. Quem é José Luís de Abreu? Sou natural da cidade de Tete. Caracterizo­ me como um homem sem religião, pois acredito que todos oramos pelo mesmo Deus. 2. Como se caracteriza como homem e trabalhador? É difícil me caracterizar, mas me considero um homem simples, respeitoso e honesto, devido a educação que recebi da minha família em especial dos meus pais. Sempre procurei alimentar os valores que me foram transmitidos. 3. Quais são as coisas que mais detestava no ambiente de trabalho? O que mais detestava no ambiente de trabalho é repreender alguém por um trabalho mal feito. Eu sinto que as pessoas são capazes de darem o melhor de si, o facto de eu saber que a pessoa não fez por questões ligadas a desleixo me irritava bastante. 4. Quando e como entra para a Cruz Vermelha de Moçambique? Entro na Cruz Vermelha de Moçambique de Forma acidental, posso assim dizer, Risos! Foi através do Decreto Presidencial nº43/78 em que o Governo criou o Comitê organizador da CVM, e desde então sou único que continuou até a data da sessão de actividades.

5. Como foi lidar com questões humanitárias? Difícil não é e nunca foi, mas é complicado. Um ser humano deve interiorizar que deve servir aos outros. Sabendo que muita gente depende de si, deve compreender a situação em que cada pessoa se encontra, sempre dando valor a vida humana mais que qualquer outra coisa. 6. Como é que chega a ser nomeado Secretário Provincial? Qual foi a sensação? Quando entrei na CVM, não entrei como secretário e nunca foi uma ambição. Pela educação que tivemos após a independência, tínhamos que fazer tudo pelo bem do País. Em 1981 quando se cria a CVM, nós não tínhamos ainda uma estrutura e, foi criado um embrião do Secretariado Nacional da CVM e me indicaram como Coordenador do Secretariado Nacional. Em 1982 passamos a ter o primeiro secretário geral e passei a exercer o cargo de chefe do Departamento de Planificação e Desenvolvimento Institucional e estava encarregado da planificação, desenhar e introduzir programas. Após várias crises internas que obrigaram a saída do Secretário Nacional, em 1985 passei a ocupar o cargo de Secretário Geral Interino durante dois anos. Com a nomeação da nova Secretária, a Janete Mondlane, passei a trabalhar como assessor para questões pontuais e

importantes. Fiquei até finais de 1987­1989. No ano de 1989 fui nomeado Secretário para a província de Sofala pois era a base logística onde permaneci até Sofala 1997. Em Dezembro do mesmo ano (1997) passei para a província de Manica e em 1999 assumi como Director interino do Centro de Formação da CVM até 2002. Em 2003, me tornei oficialmente Director do Centro ocupando desta forma dois cargos onde permaneci até 2008. Já em 2009, passo para o cargo de Secretário Provincial de Gaza, onde fiquei por dois anos e em 2011 retorno a Manica como Secretário novamente e permaneci até a data da reforma. 7. Como encarou todos esses desafios? Tive que encarar os desafios de maneira certa. Não posso dizer que não tive hesitações, principalmente na província de Sofala. Mas como o diálogo e a honestidade foram os guias do meu trabalho, consegui encarar os desafios sabendo as dificuldades que poderia encarar e já estava psicologicamente preparado. O que aprendi bastante na CVM e que irei levar comigo é o diálogo, pois muita coisa pode ser resolvida e aprendida dialogando. 8. Queremos acreditar que as condições de trabalho naquela época não eram das melhores, poderia nos contar como era o real cenário vivido? Naquela época, era difícil e desafiante,


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porque estávamos num ambiente de conflito e expostos a riscos. A CVM por ser uma organização humanitária, as pessoas olhavam­na de forma esperançosa. Por outro lado, existia um forte laço de solidariedade interno o que contribuía para o alcance do sucesso das actividades e foi graças a esse sentimento solidário que a Cruz Cruz Vermelha desenvolveu. 9. De Maputo para Sofala e de Manica para Gaza, como foi encarar essa mudança de ambiente? Nasci em Tete, cresci e casei em Maputo, então as mudanças de ambiente não me afectavam, me adaptei muito bem, porque tudo está assente na conversa e compreensão daquilo que as pessoas querem. E o que elas querem é respeito pela cultura, integração no grupo e acima de tudo fazê­las compreender que também pertences à equipa. 10. Enfrentou alguns constrangimentos durante esse percurso? No geral não! Sempre gostei de uma gestão participativa, onde todos eram responsáveis pelo trabalho e nesses moldes é difícil que definidos de servir a comunidade sem haja constrangimentos. distinção e tivemos que fazer muito trabalho de informação e esclarecimento. 11. Foram 42 anos de trabalho e 17 como Secretário da Província de Manica. Durante 13. Como foi conciliar a família e trabalho? este período o que mais o marcou? Risos! Nos primeiros anos, principalmente O que mais me marcou, é o facto de termos quando trabalhava na sede no Departamento conseguido nos adaptar aos diversos de Planificação e Desenvolvimento momentos. Lembro­me que inicialmente Institucional, viajava bastante e na época passamos por inúmeras dificuldades, não acabava de formar um lar, como tínhamos projectos. Contudo, essa luta está compreensível, minha esposa não entendia e ser ultrapassada e hoje a CVM em Manica tive que explicar como as coisas funcionavam ganhou maior intervenção social e conseguimos fazer com que os parceiros 14. Se fizermos uma retrospectiva da começassem a se integrar em diversas Organização, em que nível se encontra actividades. hoje a Delegação de Manica de 0­100%? É complicado fazer essa restrospectiva 12. Qual foi o desafio mais marcante que avaliativa, seria uma auto­avaliação, apenas teve de enfrentar enquanto Secretário pessoas exteriores podem fazer isso. Mas Provincial? posso dizer firmemente que fizemos o melhor. Em Sofala, enfrentei várias dificuldades, desde Contribuí da melhor forma possível dentro das a compreensão que as pessoas tinham sobre minhas capacidades e limitações. Fico feliz a CVM e sua actuação. Considerando que pelo facto de a organização estar a apostar na estávamos num período de conflito nem todos juventude pois estes irão dinamizar e conseguiam compreender que esta modernizar o trabalho. Existe espaço para organização era e é guiada por princípios bem que os outros dêem o seu melhor.

15.Como olha para a relação que tinha com os colaboradores e demais técnicos da Delegação? Não vejo as coisas de maneira dramática. Quem vai trabalhar com pessoas deve estar preparado e saber que um indivíduo é uma complexidade, dificilmente não haverá conflitos. Tive uma boa relação com os técnicos e alguns conflitos que felizmente não resultaram em inimizades. 16. No dia 15 de Agosto tomou posse o novo Secretário Provincial, como secretário Cessante, algum conselho a deixar? O novo Secretário Provincial é alguém que conheci há longos anos, é uma pessoa que cresceu na CVM, acredito que tem experiência necessária apesar de ser jovem. Contudo acredito que seja capaz se todos ao seu redor estiverem dispostos a ajudar, mas ele está em condições de levar o barco a bom porto. 17. Se pudesse mudar algo hoje dentro da CVM o que seria? E o que deveria ser mantido? É uma questão difícil de responder. De forma humilde, se tivesse oportunidade não mudaria nada, apenas poderei melhorar o papel da organização na sociedade, mas esse é um desafio de todos nós. O sofrimento alheio deve ser tomado por cada um de nós como seu, porque esta é a essência do trabalho da CVM. 18. Hoje está reformado, qual é o sentimento que carrega? Apesar de todas as dificuldades que tivemos de enfrentar, hoje deixo a CVM feliz e com ambiente saudável, pois conseguimos a estabilidade.


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APÓS A DEVASTAÇÃO DO KENNETH

Vítimas do ciclone Kenneth recebem material de construção para melhorar as condições de abrigo

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ciclone Kenneth devastou em Cabo Delgado inúmeras famílias e criou danos sem precedentes. Foi neste contexto que parceiros da CVM mobilizaram recursos para apoiar a reconstrução de abrigo. Entretanto, 187 agregados familiares, vítimas do Ciclone Kenneth que viram suas casas destruídas, receberam da CVM, semana passada, material de construção, numa acção coordenada com o CICV. O material é constituído essencialmente por chapas de zinco, pregos, arame, alicate e martelo. Este kit resulta de um donativo, que a CVM recebeu de uma empresa, cujo projecto, para além de contemplar material de construção para cerca de 900 famílias, destinava­se também a aquisição de material de pesca para 22 Associações de pescadores. NO ÂMBITO DO APOIO AO GOVERNO

CVM procedeu à entrega de máscaras e produtos alimentares ao MISAU

Como parte da sua missão e apoio humanitário, a Cruz Vermelha de Moçambique – CVM entregou, em Agosto último, ao MISAU (Ministério da Saúde) máscaras e produtos alimentares. Os bens doados, em parceria com a Nestlé Moçambique, são destinados aos profissionais da saúde que estão na linha da frente no combate ao novo coronavírus. O Ministro da Saúde, Armindo Tiago, enalteceu a iniciativa que a CVM e outras três

organizações presentes no evento estão a levar a cabo. “Esta doação de meios de protecção e de produtos alimentares e material de apoio médico destinada aos profissionais da saúde é grande e prestimoso reforço da nossa capacidade de resposta a condição da COVID­19 e outras doenças”, afirmou o Ministro. Por sua vez, Avelino Mondlhane, Presidente da CVM, disse que o acto está inserido nas diversas actividades que a instituição tem

vindo a operacionalizar no auxílio ao Governo na área da saúde, no contexto da COVID­19. Este apoio significativo, que foi entregue ao Ministério da Saúde surge num contexto em que os números de casos positivos tem se avolumado no país em todo mundo no geral. As 4.200 máscaras assim como os diversos produtos alimentares já estão a ser canalizados para os centros de tratamento da COVID­19 na cidade de Maputo.


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NUMA ALTURA QUE CRESCEM OS NÚMEROS DE DESLOCADOS

CICV ajuda a construir o maior centro de tratamento da COVID­19 em Moçambique

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s ataques se intensificaram nas cidades e distritos da província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique. A situação obrigou milhares de pessoas a fugir a pé, de barco ou pelas estradas até a capital da província, Pemba, um epicentro da COVID­19, onde o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) ajudou a construir o maior centro de tratamento do país.

As famílias chegaram a Pemba exaustas e traumatizadas após deixarem suas casas e praticamente todos os seus pertences para trás. Outras devem chegar nas próximas semanas, fugindo dos recentes ataques em Mocímboa da Praia e diversas partes da província. “As pessoas que fogem do conflito armado em Moçambique trocam o perigo do conflito pelo risco de infecção por COVID­19. O novo centro de tratamento ajudará a comunidade a responder à crise sanitária, mas essas famílias não poderão voltar enquanto houver combates próximos das casas dos civis”, afirmou Raoul Bittel, chefe de operações do CICV em Pemba. O risco de contrair COVID­19 em Pemba, um dos epicentros do vírus mais preocupantes de Moçambique, é muito real. A maioria das pessoas deslocadas encontra abrigo com familiares, o que representa uma carga adicional para eles e agrava as condições de superlotação que favorecem a propagação da doença, já que o distanciamento físico se

torna impossível. O Décimo Congresso é o maior centro de tratamento dos casos de COVID­19 no país”, afirma Basilio dos Mwelus, chefe do Departamento de Planejamento da Direção de Saúde da província. “Esperamos que não seja preciso fazer uso total da infraestrutura. Mas, se for o caso, temos todas as condições necessárias para responder. Isto é especialmente importante em Cabo Delgado, onde há alto número de deslocados e maior concentração de pessoas particularmente expostas ao risco de contaminação.” Os novos ataques em Mocímboa da Praia são o exemplo mais recente de uma tendência preocupante, em que o conflito armado aumenta enquanto o acesso humanitário diminui. Em Mocímboa da Praia, Macomia e outras cidades e povoados de Cabo Delgado, o conflito não poupou os civis nem os seus bens. Casas foram incendiadas, escolas e estabelecimentos de saúde saqueados e destruídos, e cultivos agrícolas arruinados. Centenas de pessoas morreram, ficaram feridas ou desapareceram, e centenas de milhares são deslocadas à força de suas casas, precisando se esconder na mata ou fugir. A violência recorrente atinge desde 2017 as comunidades de Cabo Delgado, uma província rica em recursos naturais, mas em 2020 sua frequência e a intensidade aumentaram. Cidades que antes permaneciam intactas e serviam de refúgio para quem fugia das zonas rurais ficaram sob

o fogo cruzado. A cidade de Macomia, onde o CICV trabalhava havia um ano para restabelecer os serviços de água e assistência à saúde, foi atacada no final de maio, obrigando toda a população a correr para a mata e a fugir em botes precários rumo ao sul. Durante os confrontos, foi destruída uma maternidade que o CICV havia reparado após a passagem do ciclone Kenneth, em 2019. Os recentes ataques em Mocímboa da Praia são o exemplo de uma tendência em que o conflito armado se intensifica enquanto o acesso humanitário diminui. Estamos extremamente preocupados com o bem­estar de famílias que vivem com medo de ataques e sem acesso a itens básicos de ajuda humanitária, como assistência à saúde, abrigo, alimentos e água potável, aos quais têm direito por lei. O ataque em Macomia obrigou o CICV a suspender seu trabalho por tempo indeterminado. Isto ocorre após meses de problemas de acesso causados pelas inundações, que destruíram estradas e pontes na região. Além disso, nosso trabalho para melhorar o fornecimento de água na cidade não havia sido finalizado. Uma maternidade que tínhamos rehabilitado após a passagem do ciclone Kenneth e reaberta em Dezembro de 2019 foi destruída pelos combates. Continua na página seguinte.


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O CICV, em parceria com a Cruz Vermelha de Moçambique, intensificará os programas em Cabo Delgado durante 2020 para atender às crescentes necessidades humanitárias geradas pelo conflito armado. Os centros de saúde, que agora enfrentam a pressão de ter que atender uma população maior e tratar ferimentos causados por ataques armados, receberão equipamentos e suprimentos médicos, enquanto o abastecimento de água e outros serviços serão reabilitados conforme necessário. Voluntários da Cruz Vermelha de Moçambique também realizarão campanhas

de conscientização nas comunidades sobre as doenças transmissíveis. O CICV e a Cruz Vermelha de Moçambique planeiam fornecer artigos de ajuda como colchões, redes mosquiteiras, lonas e sabão, além de instalações de água potável e saneamento para as famílias deslocadas, no próximo ano. Para ajudar Pemba a lidar com o aumento de casos de COVID­19, o CICV ajudou a construir o Décimo Congresso, o maior centro de tratamento da pandemia no país, em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e Unicef. O estabelecimento

tem capacidade imediata para 200 pacientes, podendo expandi­la para 400. O CICV e a Cruz Vermelha de Moçambique organizaram diversas distribuições de ajuda para famílias deslocadas que fugiram para Pemba. Este ano, entregamos utensílios de cozinha, lonas, produtos de higiene pessoal e outros artigos essenciais para mais de 12,5 mil pessoas, seguindo as regras de distanciamento físico para conter a propagação da COVID­19. Também fornecemos ajuda financeira a 150 famílias altamente vulneráveis para ajudá­las com as despesas.

A estratégia da Cruz Vermelha de Moçambique para responder a COVID­19 no país concentra­ se na prevenção e mitigação. Isso inclui comunicação de risco e envolvimento da comunidade ­ como informações para mudança de comportamento e combate à desinformação, além de notícias falsas, promoção da higiene, instalação de pontos de lavagem das mãos, desinfecção do transporte público, suporte direccionado a grupos de risco e informações essenciais de apoio psicossocial. As equipas de voluntários já estão promovendo activamente comportamentos de mitigação na maioria das províncias. Outras actividades cobertas durante esse período incluem o apoio às unidades de saúde e a distribuição de utensílios domésticos essenciais para as pessoas deslocadas internamente.


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Voluntários e técnicos de Dombe formados em práticas de higiene feminina e protecção dos beneficiários De 04 a 06 de Agosto, 20 Voluntários e 2 Técnicos de Saúde do Posto Administrativo de Dombe, Distrito de Sussundenga, na Província de Manica, receberam formação em Práticas de Higiene Feminina, bem como conceitos básicos de Protecção, Género e Inclusão dos beneficiários. Apoiada pela Federação Internacional da Cruz Vermelha e financiada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do Governo Alemão, através da Cruz Vermelha Alemã, a formação abordou questões como mitos e realidades da menstruação, práticas de limpeza e utilização adequada de kits de higiene, bem como a sensibilização de voluntários sobre como partilhar informação do projecto e vias de protecção dos beneficiários em caso de queixas e reclamações.

CVM apoia 121 voluntários em Dombe, Manica Através do projecto "Ajuda Humanitária em WASH e Áreas de Abrigo para pessoas afectadas pelo Ciclone Idai na Província de Manica", a Cruz Vermelha de Moçambique apoia 121 voluntários com máscaras reutilizáveis, detergentes de limpeza e ferramentas de visibilidade nos Distritos de Guro, Macate, Machaze, Macossa, Mossurize, Tambara, Manduzze. Os mesmos Distritos beneficiaram­se também de 33 estações de lavagem das mãos, no âmbito da estratégia de prevenção da COVID­19.

CVM forma docentes e funcionários do ESEG para o novo normal A Cruz Vermelha de Moçambique capacitou, no contexto da COVID­19, funcionários da ESEG (Escola Superior de Economia e Gestão). Trata­se de gestores, representantes das turmas, serventes de limpeza, guardas que estarão na linha da frente da gestão e implementação das medidas de prevenção naquela instituição de ensino. A iniciativa enquadra­se no âmbito do reforço das acções internas de prevenção da COVID­19 e preparação das instituições do ensino superior para o retorno ao sistema de aulas presenciais.

FICHA TÉCNICA COORDENAÇÁO GERAL, LAYOUT E MAQUETIZAÇÃO Pedro Fumo Texto: José Tomás, Pedro Fumo, Sebastiana Primeiro e Wanderleia Noa, CICV Fotos: José Tomás, Pedro Fumo, Sebastiana Primeiro e Wanderleia Noa, CICV

ENDEREÇO Cruz Vermelha de Moçambique Sede­Central Avenida Agostino Neto, 284 Moçambique, Maputo CONTACTOS Email wanderleia.noa@redcross.org.mz pedro.fumo@redcross.org.mz info@redcross.org.mz


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CPS celebra Dia Mundial dos Primeiros Socorros em transmissão ao vivo para televisão

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Dia Mundial dos Primeiros Socorros é uma data celebrada todos os anos e desta vez mereceu a sua comemoração no dia 8 de Setembro. Para assinalar a data, o Centro de Primeiros Socorros (CPS) realizou uma simulação como demostração do importante papel daquela unidade fulcral da CVM. O evento foi transmitido em directo no programa da TV Miramar, Belas Manhãs. De acordo com a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, define­se os primeiros socorros como a prestação e assistência médica imediata a uma pessoa ou uma ferida até à chegada de ajuda profissional. Centra­se não só no dano físico ou de doença, mas também no atendimento inicial, incluindo o apoio psicológico para pessoas que sofrem emocionalmente devido a vivência ou testemunho de um evento traumático.


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