MÍDIA LAB SEGUNDA - FEIRA 09/05/201 6 Preço $ 000
PRODUTO EXPERIMENTAL DOS JORNALISTAS-ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LAB NÚMERO 8 ANO II
Seca afecta campos de produção em Namaacha “Tínhamos semeado amendoim, milho e algumas hortícolas, mas tudo secou”. “Há dias que dormimos sem comer” Página 4 e 5
PATRÍCIO MANJATE
“ Consigo ver que este ano, se continuar sem chuva como agora, não terei uma boa colheita, não colhi nada, são cerca de 5 a 6 hectares de onde não saiu nada” - Ricardo Guidela
o último (a)deus do Faltam contetores no mercado de futsal nacional
Dino vai pendurar as chuteiras depois de 13 anos de carreira futebolística
Depois de 1 3 anos de jogo e considerado melhor jogador de futsal moçambicano, Ricardo Lénio Mendes Muendane, mais conhecido por Dino, acredita que agora chegou a hora de sair dos campos porque a idade exige, ao contrário dos anos anteriores que foi por querer dedicar-se a família. Hoje, sai com um sentimento de alegria pois a sua equipe foi apurada ao mundial a realizar-se em Setembro deste ano. A vida daquele que representou melhor o combinado nacional, na última década, vai terminar no Mundial da Colómbia. Página 1 9
Vendedores do mercado da Katembe reclamam a falta de contentores de lixo próximo ao mercado. Eles afirmaram que pagam as taxas referentes ao lixo diariamente e ao espaço de venda mas, continuam sem contentores no mercado e arredores, e que os fiscais do Conselho Municipal (CM) obrigam que eles mesmos contribuam e comprem os contentores de lixo. Disseram ainda que, pagam no mínimo 1 5 meticais de taxas mas não sabem para quê são canalizadas as receitas. Página 6
Alunos cultivam horta para mitigar a Escola Secundária da Namaacha cria horta para minimizar a fome causada pela seca. Os alunos vão à machamba em função dos seus horários de entrada e saída da escola. A satisfação destes em produzir seus próprios alimentos em tempos de seca é acompanhada pela oportunidade de aprender a produzir enquanto se aprende. Nesta escola, os educandos têm também uma criação de galinhas poedeiras, cujos ovos são servidos duas vezes por semana, ao pequenoalmoço. Página 7
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Eu repórter
Hélder Massinga
destaques Projecto para Vila Algarve carece de fundos PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LAB
Ministério dos Combatentes quer transformar Vila Algarve em Museu de Resistência, mas não tem fundos para reabilitar o edifício e depende de Portugal para ter arquivos e replicar materiais para expor no futuro Museu. MARIOLINA ULISSES
Hélder Massinga, jornalista-estagiário do Mídia Lab
Liberdade de imprensa longe de ser alcançada em Moçambique
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conhecimento do público. Este tipo nualmente, comemora-se no país a 03 de Maio, o Dia de interferências nos órgãos de Mundial da Liberdade de comunicação social acaba minando Imprensa. Em Moçambique a data é a qualidade dos conteúdos produzidos. No tocante às leis, elas existem, marcada por debates e reflexões em torno do jornalismo. Este ano, a apesar de não serem, na sua maioria efeméride foi celebrada sob o lema, observada, È inadmissível que um “O acesso à informação e às jornalista não conheça as leis que liberdades fundamentais: Este é seu regem a sua atividade, é fundamental direito”. As cerimónias centrais conhecê-las para ter domínio e melhor decorreram na cidade de Nampula, exercer a profissão. O jornalismo é norte do país. Apesar da liberdade uma profissão muito liberal, pessoas que por algum de imprensa em motivo fracassam Moçambique não ser nas suas áreas efectiva, alguns Nas redacções de formação vêm profissionais da área há uma forte para o jornalismo consideram que há interferência, por e muitas das melhorias significativas parte do governo vezes não têm em relação a alguns (questões nenhuma países da região, politicas) e dos formação na como por exemplo, patrocinadores área. Angola. (anunciantes) No sector da Como forma de mídia há celebrar a data, foi necessidade de lançado um relatório os profissionais sobre o Índice de Sustentabilidade da Mídia, o pensarem em modelos de negócio documento aponta cinco pilares sustentáveis sob o risco de depender fundamentais: liberdade de expressão, da mão externa. Muitos órgãos de jornalismo, pluralidade de notícias, comunicação social não conseguem gestão de negócios e instituições de comprar equipamentos, pagar os funcionários de forma condigna entre apoio. Nas redacções há uma forte outros benefícios. À medida que o interferência, do governo (questões setor público ou privado se vai politicas) e dos patrocinadores desenvolvendo, o crime organizado (anunciantes) eles é que ditam as também se sofistica, tendencialmente regras do jogo, funcionam como uma buscam capturar os órgãos de espécie de Gatekeeper determinam comunicação e desviá-lós da sua linha o que deve ou não ser levado a editorial.
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Redacção
Editora chefe - Sheila Mafuiane Editor executivo - Patrício Manjate Editor de fotografia - Sérgio Mossela Maquetização - Pedro Fumo e Minelda Maússe
Revisão: Gabriel Boque e Julieta Langa
Repórteres: Abdul Ibrahimo, Aida Nhavoto, Amina Nofre,
Bernadete Nhavene, Cofe Cumba, Celeste Macuácua, Ester Cumbane, Eta Matsinhe, Ernesta Missage, Hélder Massinga, Ilídia Alberto, José Maneira, Keite Branquinho, Letícia Constantino, Minelda Maússe, Magda Mendonça, Miranda Munhua, Mariolina Ulisses, Orbai Nobre, Pedro Fumo, Patrício Manjate Sumeia Cassimo, Sheila Mafuiane, Sheila Magumane, Sérgio Mossela e Vinódia Janete.
Entrada frontal da Vila Algarve, entre as avenidas Ahmed Sekou Toure e Mártires da Machava, em Maputo
Mariolina Ulisses e Vinódia Janete
O
Ministério dos combatentes não tem fundos para transformar a Vila Algarve em Museu Nacional da Resistência Colonial como pretende. A Assembleia da República aprovou em 201 2/1 3 o projecto do museu, mas até então não se sabe quanto vai custar a reabilitação, porque ainda não se fez uma avaliação do edifício. O Assessor de Imprensa do Ministério dos Combatentes, Lourenço Tchapo, disse que não sabe se será necessário partir ou remodelar o edifício. De acordo com o Director Nacional de História do Ministério dos Combatentes, Vicente Koveke, o objectivo de criar o museu é imortalizar a história da Vila Algarve. Porém, o Ministério depende de Portugal para ter acesso aos arquivos que vão permitir a reconstituição da história da Vila e fazer réplicas dos objectos que eram usados para tortura na época colonial. A reprodução dos objectos que serão expostos no futuro museu implica um orçamento adicional para o Ministério que espera ter ajuda externa para a reabilitação. A limpeza do recinto foi feita por uma empresa privada. Durante o processo de limpeza, as pessoas que viviam no edifício foram retiradas pela polícia. Koveke mostrou-se indiferente para com as pessoas retiradas do edifício. “Eles sabem de onde vieram e para onde vão. São pessoas de origem duvidosa, queremos garantir que elas não voltem à Vila”, disse Vicente Koveke. Para garantir que não voltem, a instituição instalou, na
Vila Algarve, uma guarnição no local.
Tentativas de reabilitação Em 2008, à Vila Algarve foi entregue a Ordem dos Advogados que pretendia reabilitá-la e transformá-la na sua sede, para restituir a credibilidade do órgão junto dos associados e da sociedade em geral. A reabilitação estava prevista para um período de cinco anos durante o mandato de Gilberto Correia que terminou em 201 3. Na altura, Correia deixou claro que a ordem não dispunha de verba suficiente para a reabilitação, mas garantiu que ia fazer um trabalho de mobilização junto aos seus parceiros para conseguir os fundos. Mas, todas a tentativas de arrecadação das verbas foram infelizes, facto que levou esta
entidade a desistir empreendimento.
do
Breve historial da Vila A Vila Algarve foi construída em 1 934 por ordem de José dos Santos Rufino, comerciante na antiga Lourenço Marques, em 1 936 sofreu alterações e, em 1 950 passou por uma ampliação. Durante anos serviu como quartelgeneral da PIDE (Policia Internacional e Defesa do Estado), onde nacionalistas moçambicanos e militantes da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), eram interrogados, torturados e oprimidos. Após a independência, o edifício foi abandonado e virou moradia de pessoas que não têm onde viver.
MMO
Sobram traços da exuberancia da arquitectura colonial no interior da Vila
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destaques
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MINELDA MAÚSSE
Noventa porcento das 37 crianças acolhidas no Dom Orione, com problemas de saúde, foram abandonadas pelos pais nas unidades sanitárias da província e cidade de Maputo
Crianças consideradas uma “maldição ou castigo” foram abandonadas pelos pais Pedro Fumo
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rianças abandonadas encontram abrigo no infantário Dom Orione, no Zimpeto. São 37 meninos e meninas que têm sequelas de doenças como poliomielite, meningite, microcefalia. Paulo Massango, psicólogo e assistente social, referiu que 90% das crianças é levada ao Orione depois de ser abandonada pelos pais nas unidades sanitárias. O Infantário Dom Orione protege crianças rejeitadas pelos pais, que, além de estar no mesmo espaço, comungam também histórias de vida. Há três anos Maria foi encontrada na Lixeira de Hulene. Sofre de microcefalia e desconhece-se a causa da doença. “Neste momento recebe fisioterapia para aliviar as dores nas articulações”, contou Basílio Bacassa, médico fisioterapeuta. O médico especialista referiu que Maria e outras crianças acolhidas pelo infantário não poderão andar ou segurar uma colher.! Codwel, de 1 0 anos, perdeu a mãe e depois foi abandonado pelo pai em Inhambane. Como os serviços de acção social daquele local, que zelava pelo menor, não reunia
condições para cuidar do rapaz, o infantário aceitou recebê-lo . Mas antes, contactaram o pai para saber se o menino poderia voltar para casa. A resposta foi dura: “Façam o que quiserem com o miúdo. Eu não vou cuidar de um demente”. Ao contrário de Maria, Codwel padece de hidrocefalia e por conta da indiferença do pai foi parar no infantário. O posicionamento do pai do menor viola o princípio da Convenção sobre os Direitos da Criança que estabelece, no seu artigo 1 8 que “as crianças têm o direito de serem criadas pelos seus pais, sempre que isso for possível e ambos têm obrigações comuns em relação à educação e desenvolvimento delas e de sempre terem em conta o que é melhor para cada criança”. A causa do abandono de menores, nas comunidades, de acordo com o Relatório sobre a Situação da Criança em Moçambique 201 4, produzido pelo Unicef, está associada à maldição, feitiçaria ou punição. “A deficiência é aceite somente como meio para prática de altruísmo das pessoas”, diz Edson Mugabe, antropólogo. No caso da
pessoa com deficiência, há um outro fenómeno que antropólogo diz ser um aproveitamento da mesma para apelar à caridade das pessoas. “As crianças com deficiência são abandonadas e acabam sendo levadas por pessoas pobres que as usam para pedir esmola”, refere. O antropólogo sublinhou “que a criação de políticas de inclusão acaba tendo um impacto não desejado. “Os orfanatos são espaços fechados que acabam por excluir pessoas com deficiência. Se estamos a criar uma política de inclusão como se explica a edificação de centros isolados”, questiona. “Então, a própria instituição dos desamparados já é um problema”. Para Socióloga Victória Muticane, “a sociedade ainda não está preparada para receber estas crianças”, disse. ”Os centros de acolhimento de crianças deficientes como Orione são vistos como refúgio”, acrescentou. Entretanto, Muticane adervtiu que a exclusão não é um problema circunscrito às famílias desfavorecidas. “Os pais economicamente estáveis têm mais preconceitos”, finalizou.
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Sarita e Vicente foram abandonados pelos pais e vivem num novo lar
destaques Fome afecta 6,1 mil pessoas em Namaacha 4
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Patrício Manjate
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distrito da Namaacha, um dos os seus próprios alimentos há mais celeiros da capital do país, de 30 anos. Ele refere que uma está a braços com a pior seca situação de fraca produção como esta das últimas três décadas, com mais nunca tinha acontecido ao longo da de seis mil pessoas a precisarem de sua vida. “Praticamente não colhi ajuda para sobreviverem, e outras 11 nada, são cerca de 5 a 6 hectares de mil a depositarem esperanças na onde não saiu nada”. A fraca produção da época passada traz dúvidas ao queda da chuva. As autoridades distritais e camponês, em relação à presente municipais assumem-se incapazes campanha agrícola. “ Consigo ver que de resolver ou minimizar o impacto este ano, se continuar sem chuva da crise alimentar que se abate sobre como agora, não terei uma boa a população. “Não existe capacidade colheita”, confessou. A escassez de interna para responder à seca”, disse alimentos originada pela seca obriga Suzete Dança, administradora daquele as populações a procurarem outras formas de sobrevivência, recorrendo distrito. A fome, segundo dados das às lojas para comprar de produtos de autoridades distritais, afecta 3200 primeira necessidade. Entretanto, o agregados familiares, naquela parcela desemprego que caracteriza do país. Aliado à escassez de Namaacha reduz as possibilidades alimentos, os habitantes daquela de a maioria poder se beneficiar desta circunscrição geográfica debatem-se alternativa. com uma crise no fornecimento de Atravessar a água, há quatro anos. fronteira Dança refere que tem feito apelos aos “Tínhamos Sem emprego agentes económicos, semeado formal, os parceiros do governo amendoim, milho e “biscates” nas distrital e singulares algumas hortícolas, plantações da para mitigar os efeitos mas tudo secou”, vizinha da crise alimentar. conta. “Há dias que Swazilândia têm Também reconhecem dormimos sem sido alternativa que a resposta tem comer” para vários jovens sido insuficiente, “namaachenses”, Dança afirma que se ganharem trata “de um sinal que dinheiro para damos às populações de que estamos juntos nesta situação que não foi sustentar suas famílias. São pessoas que deixam suas machambas em prevista”. A assistência alimentar a que a Namaacha por causa da seca e tentam Administradora se refere chegou à ganhar a vida no país vizinho. Mequelina Angélica Zove, de 57 anos de idade, vive no bairro de Kokomela, proprietária de cinco hectares, também faz Rogério Manave, de 34 anos, comunidade de Maelane, arredores da vila municipal da Namaacha. Elisa atravessou a fronteira para trabalhar que ajudam a minimizar a fome e a os 1 2 trabalhadores que tinha, porque está Marcos Nhune, 54 anos de idade, nas plantações de banana. “Faço aguentar”, disse. Albertina Rafael Nhancale e seu alta dos preços de produtos nas lojas. tudo seco, até ele passa fome. Em troca, os disse que recebeu apoio, mas foi biscates num branco, lá. O pouco que marido, ambos desempregados, “Na minha vida, nunca dependi de trabalhadores recebiam produtos alimentares insuficiente. “Deram uma porção de recebi deu para comprar farinha, óleo procuram saídas localmente. “Se loja para alimentar a minha família”, ou dinheiro para o sustento das suas famílias. milho e uma chávena de feijão a cada e patinhas de frango. Não é tudo, houvesse emprego era razoável, confessou. Perda de postos de No bairro de Kokomela, a seca, segundo porque as coisas estão caras”, família”, conta a idosa, responsável porque as coisas mesmo que caras, trabalho e cabeças de gado A seca, informa o régulo, resultou na perda de pouco declarou. Manave acrescentou que, por um agregado de nove membros. A fraca precipitação nos últimos em épocas agrícolas bem-sucedidas, íamos tentar aguentar até onde em Namaacha, tem consequências mais de 300 postos de trabalho nas machambas, 1 2 meses comprometeu a produção não compra alguns destes produtos conseguirmos”, confessou. Com a em cadeia, para a vida dos pequenos atirando para uma situação de emergência filha de 3 anos doente, Nhancale diz empregadores e seus empregados. alimentar há mais de 1 500 pessoas. agrícola de duas épocas consecutivas. porque tira da machamba. Florinda Alfredo Mutote, uma das exSe a falta de chuva compromete que todos os dias fica de olho no que Pessoas como Filimone Machavela, As temperaturas no distrito, que empregadas de Filimone Machava, diz que a o marido traz dos biscates que tem feito. régulo de Kokomela, despediu atingiram entre 35 e 45 graus o acesso à água e produção de Em Namaacha, a busca pela trabalhadores e ele também perdeu centígrados, não permitiram que as alimentos, a subida de preços dos sobrevivência implica o emprego. Em tempos de boa sementes brotassem da terra. produtos de primeira introdução de novos produção, lavra terras de outros necessidade agrava um Mequelina Angélica Zove, de 57 anos hábitos e adaptação a camponeses, com o seu tractor e era de idade, vive no bairro de Kokomela, problema que ameaça “Se houvesse uma realidade que pago por isso. proprietária de cinco hectares, também se tornar crónico. Os contraria a história de um A incerteza sobre a chuva e o emprego, era faz contas à vida. “Tínhamos semeado principais produtos amendoim, milho e algumas hortícolas, como pão, farinha, razoável porque as distrito que distribuía desconforto da fome fez com que as mas tudo secou e há dias que amendoim, arroz e coisas mesmo que produtos alimentares à solicitações de serviços de lavra açúcar são os mais dormimos sem comer”, disse. caras, íamos tentar cidade de Maputo. Dona parassem, atirando para a procurados e registam aguentar até aonde Albertina Maliba cultiva improdutividade pessoas como uma pequena horta Machavela, que viviam disso. “Com um agravamento médio Época agrícola rendeu conseguirmos”, dentro do seu quintal meu tractor, ajudava outros de 1 5 a 20%, em menos de 50 porcento para tentar minimizar os camponeses e por hora pagavam 800 relação aos preços efeitos da seca. “Podia meticais, mas agora não faço nada”, Em Namaacha, há uma época praticados na cidade de ser maior, mas a falta de água não desabafou o régulo. agrícola por ano. A sementeira coincide Maputo, por exemplo. Filimone Machavela é também Manave acusa os comerciantes permite mais”, lamentou Maliba. com o período chuvoso, de Setembro Na pequena plantação, dona agricultor, e nos seus campos a Dezembro. Na época passada, foram de especular preços para tirar proveito colhidas 45 mil toneladas de culturas, da procura que se regista nos produtos Albertina usa a pouca água que agrícolas, de aproximadamente 1 0 contra as 91 mil previstas. Este défice de primeira necessidade, “a farinha consegue tirar do poço para irrigação, hectares empregava pessoas para fez com que pessoas que se dedicavam de 1 2 kg ronda os 500, arroz de 25 “quando o poço seca, tiro uma caneca fazer a sacha depois da sementeira. à produção de seus próprios alimentos kg, nos 1 000 a 1 200 mt. Se você tem da água que compramos para beber”. Em quase duas épocas sem chuva uma família de verdade, como a minha No pequeno canteiro, plantou couve, as pessoas caíram no desemprego. ficassem expostas à fome. Ricardo Bernardo Guidela produz com 9 membros, não dá para alface, tomate, espinafre, produtos O régulo de Kokomela teve de despedir A administração distrital e municipail assume-s
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destaques
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PATRÍCIO MANJATE
Rogério Manave ganha a vida através de “biscates” que faz na Swazilândia
anunciou que o Governo vai disponibilizar 360 milhões de meticais para ajudar pessoas que passam fome. O valor anunciado, de acordo com João Machaine, Director-geral do INGC, representa metade do que o país precisa, 11 milhões de dólares, para ajudar pessoas afectadas pela crise alimentar. Quando foi declarado o alerta vermelho sobre os efeitos da seca, apenas 7% do valor estava garantido.
Crise no abastecimento de água longe de ser solucionada
z contas à vida. “Tínhamos semeado amendoim, milho e algumas hortícolas, mas tudo secou e dormimos sem comer”
vida tornou-se difícil para ela e sua família. “As coisas estão caras, pior agora que fiquei sem trabalho”. Sachar era o trabalho que Florinda e outras pessoas faziam, mas como os grandes agricultores não semearam nada, perdeu o trabalho. Para minimizar os efeitos da seca e da falta de trabalho, Florinda faz pequenos canteiros, onde planta hortícolas, numa zona proibida pelo Município. “Sei que proíbem, mas faço isto porque estamos a passar mal PATRÍCIO MANJATE
se incapaz de solucionar o problema da seca
de fome. Aqui, pelo menos conseguimos um pouco de água para regar”, disse. A seca em todo o distrito de Namaacha levou à perda de 600 cabeças de gado bovino, segundo informações disponibilizadas pela administração local. O posto administrativo de Changalane é o mais afectado, com 94 perdas até o primeiro trimestre de 201 6. Jaime Mbate, de 61 anos, agricultor e criador, perdeu cinco hectares de milho e feijão, e teve de despedir sete pessoas que trabalhavam para si. Em termos de cabeças perdidas, Mbate contabiliza nove de gado bovino e 1 0 caprinos que tombaram por falta de pasto e água. No meio do desespero e perante um olhar impávido das autoridades, o idoso conta que só lhe resta uma única salvação, “só Deus para ouvir nossos choros para que possa chover”, pediu Mbate. O fenomeno "El Niño", responsável pela seca no sul e centro do país, está a terminar, segundo informou o Directorgeral do Instituto Nacional de Gestão das Catástrofes, João Machatine, e espera-se que até ao final de ano comece a chover.
Crianças faltam à escola para ajudar os pais
A perda de colheitas obriga famílias a concentrar esforços na busca de comida e água em Namaacha, tal como noutros pontos afectados pela seca. Os impactos disso se fazen sentir nas escolas, onde crianças faltam à escola para ajudar os pais em algumas actividades tais como produção de carvão, percorrer quilómetros à procura de água, no comércio informal, entre outras actividades de subsistência. A nossa equipa de reportagem visitou duas escolas primarias de Kokomela e de Maelane A. Em ambas as instituições de ensino, as direcções confirmam o facto e dizem que muitas crianças faltam para ajudar em actividades de rendimento familiar, mas ainda não há desistências. “Neste momento a situação ainda não é crítica. Há crianças cujos pais às vezes levam para fazer carvão e carregar para vender na vila, mas sempre voltam à escola”, revelou Alberto Guambe, Director da Escola Primária de Matianine A. As províncias de Maputo, Gaza, Inhambane, Tete Manica, Sofala e Zambézia estão a atravessar um período de seca. Em todas elas, são mais de 1 .5 milhões de pessoas que precisam de assistência alimentar. Entretanto, o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC)
Namaacha enfrenta uma grave crise de abastecimento de água, que dura há mais de 4 anos. As autoridades distritais e municipais assumem o problema, mas tal como na crise alimentar, declaram incapacidade e se rendem perante o sofrimento das populações. Para minimizar a falta de água, a administradora Suzete Dança, diz precisar de aproximadamente 5 milhões de meticais para abertura de oito furos de água, valor que neste momento não existe. Na vila municipal, o Presidente, Jorge Tinga diz que só consegue fornecer água aos munícipes apenas uma vez por semana. O edíl sublinha que a situação pode piorar nos próximos meses, se não chover, “a nossa esperança é que venha a época chuvosa mais cedo que no ano passado”. Neste caso, enquanto não houver chuva, os moradores da Namaacha continuarão sem água e a contas com uma grave crise alimentar, dada a incapacidade declarada pelas autoridades. No bairro de Kokomela, no único fontanário que existe, não sai água com regularidade. Os moradores contam que, para ter um bidom de 20 litros, é preciso esperar um tempo de aproximadamente duas horas. A forte procura de água obriga os moradores a madrugarem para poder ter água para beber. Naquela comunidade existe apenas uma fonte de água. Amélia António Mapossa, residente de Kokomela, declarou que acorda às 3h para ter, pelo menos, um bidom de água por dia. “Temos de nos ceder para que cada família tenha no
mínimo 20 litros”. Amelia acrescentou que, para outros fins, os moradores daquele bairro minimizavam a demanda de água através de água da chuva, mas a seca obriga a todos dependerem daquele fontanário. A falta de água em Namaacha serviu de oportunidade de negócio para alguns operadores privados que se deslocam para o rio Umbeluzi para cartar água vender na vila. “O bidom de mil litros compramos a 500 meticais e o de 20 litros compramos a 1 0 meticais”, revela Elisa Nhume. Nhume acrescentou que o maior desafio tem sido ter água para saneamento, “somos obrigados a mudar as casas de banho de autoclismo pelas latrinas”. Esta realidade expõe inúmeras famílias ao risco de contrair doenças como cólera, mas, de acordo com as autoridades de Namaacha, a falta de água ainda não representa um problema de saúde pública.
Dois projectos de baragens no papel por falta de dinheiro O Presidente do Município da Namaacha, Jorge Tinga, disse que o actual sistema de abastecimento de água é insustentável e não há previsão para se resolver o problema. No sistema constituído por três represas está, neste momento, diz o Presidente, a funcionar uma, porque as restantes não têm água, devido à seca. Entretanto, há mais de três anos existe um plano de construção de uma outra represa, em Govuza, com uma capacidade seis vezes maior que a anterior. Esta represa custaria ao Município um valor de aproximadamente 72 mil milhões de meticais, dinheiro que o Município não tem, de acordo com o Presidente, Jorge Tinga. Por falta de fundos, o presidente informou que existe outro plano para a construção de uma represa na zona do Pide, com capacidade três vezes maior que as represas que o Município tem neste m. “A Direcção Nacional de Águas (DNA) ainda está à procura de financiamento, para se avançar com este projecto e a expectativa é que no próximo ano inicie a construção”, revelou o Presidente.
destaques Faltam contentores de lixo no mercado da Katembe 6
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PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LAB KEITE BRANQUINHO
Vendedores do mercado da Katembe e arredores reclamam contra a falta de contentores de lixo perto do mercado. Os vendedores afirmaram que pagam as taxas de lixo e de ocupação do espaço de venda mas, continuam sem contentores no mercado e arredores. E que os fiscais do Conselho Municipal obrigam que vendedores a contribuir para a compra de contentores de lixo. Keite Branquinho
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s vendedores do mercado e como a limpeza das ruas, não arredores da KaTembe melhoraram. “Não se justifica isso. queixam-seda falta de Pagamos as taxasde lixo, masnós contentores de lixo, no mercado, e mesmos é que limpamos o nosso afirmam que os fiscais do Conselho próprio espaço e tiramos o nosso Municipal obrigam, toda vez que se próprio lixo. Nada melhorou”, queixem, que eles mesmos contribuam enfatizou.Anete referiu que as taxas e adquiram oscontetores de lixo, que pagam não são iguais para todos. apesar de pagarem as taxas do “Nem todos pagam o mesmo valor. Há mercado e as taxas diárias de recolha barracas, aqui, que pagam preços elevados”, confidenciou. de lixo ao município. De acordo com a Resolução n° Laura Alberto, 36 anos, vendedora, afirmou que não hácontentor de lixo 41 /AMM/201 5, de 1 9 de Agosto, sobre no mercado, mas paga uma taxa diária taxas dos mercados municipais, da de lixo ao fiscal do Conselho Municipal, Direcção de Mercados e Feiras, do no valor de 1 5 meticais. “Toda a vez Conselho Municipal de Maputo, o valor que nos juntamos para falar sobre os referente às taxas diárias de mercado contentores, os fiscais do mercado varia entre três e 50 meticais por metro, valor que deve ser dizem que nós, os pago por vendedores do mercado e vendedores de ambulantes, é que “Nem todos pagam hortícolas, devemos contribuir e o mesmo valor. Têm ambulantes e outras comprar os contentores de barracas aqui que bancas de pequeno lixo”, desabafou.Disse pagam preços comércio. Quanto ainda que as pessoas elevados” ao valor mensal indicadas para fazer a pago pelos limpeza na vila e arredores vendedores, varia do mercado são apenas três senhorasque não conseguem dar de 60 meticais a 6 000 meticais, de conta do trabalho. “A vila continua acordo com o tipo de negócio e sempre cheia de lixo por recolher, tamanho das bancas. No entanto, cada contentor de lixo, principalmente na praia, perto da zona dos pescadores. As pessoas continuam plástico e com rodas, com capacidade a deitar lixo na rua e na praia por falta de 1 000 litros, se encomendado de contentores”, acrescentou Laura. através da internet, custa Anete Celestino, vendedora, disse aproximadamente 1 9 mil meticais. Um que tem uma barraca na vila contentor deste tipo poderia ser daKatembefaz quatro anose, de lá comprado com o fundo das taxas de para cá, o preço da taxa mensal do mercado e entregue à vila de KaTembe mercado, incluindo a taxa diária de para ser usado no mercado e arredores, lixo, subiu de 280 para 400 meticais, de forma a satisfazer as necessidades no entanto, as condições sanitárias, de deposição de lixo. Como exemplo,
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KEITE BRANQUINHO
O único contentor atrelado usado para deitar lixo no mercado da Katembe
Lixo depositado pelos vendedores, atrás de suas barracas, no mercado de Katembe, atinge o espaço da praia KEITE BRANQUINHO
multiplicando o valor das taxas de mercado mensais de 700 meticais, num prazo de 1 2 meses, com o número de dez estabelecimentos como barracas de mercearia, previsto na Resolução como sendo do tipo A, é possível obter-se um valor de 84 mil meticais, valor suficiente para adquirir pelo menos quatro contentores. Amélia Nhantemba, vendedora, explicou que a maioria dos vendedores do mercado daKatembe e arredores não sabe exactamente porque continua a pagaras taxas de mercado, uma vez que o dinheiro não está sendo canalizado para resolver a situação de higiene e limpeza de toda a vila. Acrescentouque pagava as taxas na Direcção de Mercados e Feiras do Conselho Municipal, na baixa da cidade de Maputo, mas, actualmente,paga aos fiscais do Cartão de vendedor, onde são marcados os dias úteis de trabalho mercado. Guilherme Tembe, Técnico Fiscal do Conselho Municipal e chefe do dias também”, explicou. recolha do lixo na praia, e já propôs mercado da Katembeconfirmou que Manuel Domingos, também ao Conselho Municipal que se adquira os vendedores pagam uma taxa vendedor, contou que paga contentores para uso do mercado e mensal e diária correspondente ao mensalmente,uma taxa de 700meticais barracas,de forma a impedir que os espaço que ocupam no mercado e pelo espaço, e confirmou que nem vendedores continuem a deitar lixo na arredores, à Direcção de Mercados todos os vendedores pagam o mesmo praia. Esta proposta, “não foi levada e Feiras do valor, e que háapenas um em consideração. Mas deve ser Conselho único contentor usado por obrigação do Conselho Municipal Municipal.Com todaa vila daKatembepara se garantir a limpeza da vila, começando "Se houvesse depositar o lixo. esse dinheiro, o por adquirir contentores para o mercado um contentor município limpa os Francisco Gomes, e barracas ao redor”, enfatizou Gomes. próximo ao espaços uma vez morador da Katembe, Quando questionadoa respeito da mercado, eles por semana, às declarou que o contentor não gestão das receitas fiscais municipais, deitariam o lixo lá" satisfaz as necessidades, Guilherme Tembe, Técnico Fiscal do quintas-feiras, mas explicou que os tanto dos vendedores quanto Conselho Municipal e Chefe do vendedores têm o dos moradores da vila, por mercado de Katembe,respondeu que dever de manter seus próprios espaços estar longe do mercado. “Se houvesse a Direcção de Mercados e Feiras é limpos, mesmo depois de pagar as um contentor próximo ao mercado, que faz a gestão. Porém, até o taxas ao município, porque não há eles deitariam o lixo momento de fecho funcionários de limpeza suficientes. lá.Por isso deveria ser desta edição, a "Deve ser Vanessa Cumbe, vendedora, obrigatório que todas as direcção não se obrigação do lamentou queos vendedores nos barracas tivessem um pronunciou em relação Conselho Municipal ao nosso pedido de arredores do mercado tenham de recipientede lixo. O garantir a limpeza entrevista sobre a pagar as taxas pelo dia de domingo, Conselho Municipaltem da vila, começando gestão das receitas o que não era suposto acontecer. fiscais que cobram taxas por adquirir “Entregam-nos um cartão para o aos vendedores, então fiscais municipais que contentores para o deveriam registo de pagamento, onde apenas devem comprar ser mercado e barracas canalizadas também deveríamos marcar e pagar pelos dias contentores de lixo para ao redor" úteis de trabalho. Em caso de doença o mercado e arredores”, para a compra de ou licença para ficar em casa, não opinou. novos contentores de deveríamos pagar. Todavia,os fiscais Gomes faz parte da Associação lixo para o mercado e arredores de dizem que devemos pagar por estes “Amigos da Katembe”, que faz a Katembe.
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7 destaques Furto "silencia" Rádio Comunitária Cascatas PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LAB
MÍDIA LAB SEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6
“Infelizmente, não sei quando voltaremos ao ar. Não temos dinheiro para comprar novo equipamento e a polícia não nos dá nenhuma esperança sobre a recuperação dos bens roubados”
Minelda Maússe PATRÍCIO MANJATE
A Rádio Comunitária Cascatas, pertencente ao distrito de Namaacha na província de Maputo, foi assaltada na noite de 1 0 para 11 de Janeiro de 201 6. Os ladrões levaram equipamentos de transmissão do sinal, de som e computadores. Os colaboradores da rádio dirigiramse ao comando da PRM do distrito de Namaacha, onde registaram a ocorrência. Listaram os bens e estimaram o valor do equipamento roubado. Segundo o professor Hortêncio Jeremias, colaborador da rádio, até ao momento, a polícia não os chamou para informar sobre o andamento da investigação do caso. Em conversa com o chefe das operações do Comando da PRM na Namaacha, a nossa equipa ficou a saber que o caso estava resolvido. “O caso do furto na rádio já foi solucionado, recuperamos os equipamentos e devolvemos aos representantes da rádio”, explicou Alberto Aficha Egimo. Questionado sobre a data da devolução dos bens, o chefe das operações afirmou que foram entregues à rádio em Dezembro de 201 5. Explicamos ao senhor Egimo que nos referíamos ao roubo ocorrido em As portas da rádio Cascatas encerraram e os programas foram interrompidos, depois do furto em Janeiro de 2016 Janeiro do presente ano. “Este ano, a polícia não recebeu nenhum caso vindo da rádio, não temos conhecimento do e aprendíamos como cuidar das nossas parceria com o comité da rádio, gratificante, mas é difícil manter as a trabalharem formado por membros da comunidade, pessoas facto”, respondeu o representante da crianças”, explicou. “Infelizmente, não para encontrarem voluntariamente”, afirmou o PRM. Tentamos contactar novamente possíveis soluções colaborador. o professor Jeremias, mas estava fora sei quando voltaremos ao ar. Não temos Os voluntários trabalham a tempo “O trabalho na rádio é para a rádio voltar do distrito. dinheiro para comprar parcial ou inteiro, de acordo com a a funcionar. Depois do furto, a emissão parou. gratificante, mas é novo equipamento e a sua disponibilidade, mas muitos, Jeremias “É com muita tristeza que vejo o fecho difícil manter as polícia não nos dá quando têm oportunidade de emprego assume que gosta da rádio, éramos o elo entre o Estado pessoas a trabalharem nenhuma esperança remunerável, abandonam a iniciativa de trabalhar na e a comunidade”, lamentou Hortêncio voluntariamente” de recuperação dos rádio, mas comunitária. “Cada colega que sai Jeremias. reconhece a cria um vazio, é muito trabalhoso Um ouvinte que não quis ser bens roubados”, existência de encontrar alguém para ocupar o lugar identificado disse que sente falta dos afirmou Jeremias. programas. “Nós ligávamos para a Hortêncio Jeremias contou que os dificuldades para a execução das vago”, concluiu Jeremias. As rádio, contávamos os nossos problemas colaboradores estão a trabalhar em actividades. “O trabalho na rádio é deslocações dos repórteres eram por
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custo próprio. Nem sempre os repórteres tinham o valor necessário para as deslocações e perdiam alguns acontecimentos da região. Mesmo com dificuldades, a emissão comunitária gerou mudanças de comportamento no distrito. Um dos maiores ganhos da rádio foi o aumento do número de adolescentes e jovens que frequentam a escola. “Em 2003, quando a emissão começou a taxa de frequência escolar era baixa, os adolescentes e jovens preferiam procurar trabalho na Suazilândia ou na África do Sul. Com os programas que veiculávamos, as famílias foram percebendo que estudar é o melhor para garantir o futuro”, explicou o professor. A rádio emitia programas de educação - comunicação para o desenvolvimento comunitário, saúde, ambiente, género, cuidados domésticos, empoderamento da mulher, entre outros. Os programas eram feitos em regime semanal, para maior alcance da comunidade. Os programas eram emitidos em duas línguas, Português e Changana. Os programas em Changana eram traduzidos para português e viceversa Inicialmente a rádio cobria um raio de 72km, mas em 201 5 recebeu do Ministério da Ciência e Tecnologia um transmissor com alcance de 1 00km. Apesar da incerteza, os colaboradores da rádio não se deixam abater e acreditam que voltarão a emitir. “Eu e os meus colegas temos esperança de que um dia voltaremos a trabalhar, e a ajudar a nossa comunidade através dos nossos programas”, concluiu Hortêncio Jeremias.
Escola cria horta para minimizar fome causada pela seca
Os alunos intercalam as actividades de produção com as aulas. Os produtos da machamba servem para auxiliar as refeições e melhorar a dieta alimentar dos alunos internados. Ilídia Alberto
A Escola Secundária da Namaacha, é canalizada para um tanque, podendo com um regime de internato, cuja depois ser reaproveitada. Porém, capacidade é de 200 alunos, adoptou apesar disso, culturas que exigem a criação de horta escolar, para fazer maior capacidade de irrigação, foram face à falta de alimentos que assola perdidas devido à estiagem. 1 600 pessoas do distrito. “Desde o ano passado, estamos Raimundo Cuava, a ser afectados pela director da escola, conta seca. A produção nas que, devido à seca, duas últimas épocas “Gosto de implementou um novo trabalhar na não foi satisfatória, e em modelo de trabalho, que disso horta porque resultado consiste em “um estudante, perdemos muito milho”, nos permite um canteiro”, para comer bem e disse o director. incrementar a produção Os alunos vão à variamos os agrícola, mas a prática da machamba em função alimentos” agricultura na escola dura há dos respectivos horários mais de oito anos. Neste da escola. Os que têm momento, segundo informa aulas no turno da o director, a escola conta com 4 hectares manhã, cuidam de seus canteiros de de produtos diversos. tarde e os de tarde, no período da Para regar a horta, utiliza-se a água manhã. As culturas produzidas são usada na lavagem de roupa, que, por usadas para melhorar as refeições e causa do tipo de construção da escola, a dieta dos internos.
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PATRÍCIO MANJATE “Gosto de trabalhar na horta porque permite-nos comer bem e variarmos os alimentos”, disse Luís, estudante de 1 7 anos. “Nós comemos bem, muitos colegas nossos, nativos daqui da Namaacha, reclamam de fome por causa da seca, mas nós não temos esse problema”, apontou Gerson, estudante, natural de Inhambane. A satisfação dos alunos em produzir os seus próprios alimentos em tempos de seca é acompanhada pela oportunidade de aprenderem a produzir enquanto estudam. Na Escola Secundária da Namaacha, os educandos têm, também, uma criação de galinhas poedeiras, graças ao incentivo do município local, que doou 200 galinhas. Os ovos produzidos são servidos ao pequeno-almoço dos internos, duas Os alimentosservem para melhorar a dieta alimentar dos alunos internos vezes por semana.
sociedade A realidade de uma mãe que tem de conviver com a pobreza e a deficiência 8
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História de uma mãe com deficiência física de 27 anos de idade vítima de abuso sexual, resultando em 5 filhos de pais diferentes. Sheila Mafuiane
não foram assumidas. Hoje, Quitissane é mãe de cinco filhos de 1 4, 11 , 8 ,7 lória Quitissane tem 27 anos e 5 anos, sendo que cada criança e é deficiente física. tem o seu pai. “Eles me usaram e Quitissane é natural de quando eu contava que estava grávida, Inhambane e vive na cidade da Matola fugiam”, contou. Quando a sua mãe há 2 anos. Adquiriu a deficiência nos morreu, a única pessoa que cuidava primeiros dias de vida. “O meu irmão de Glória, ela teve de vir a Maputo, trazia-me ao colo e estávamos perto pois as suas madrastas maltratavamdo lume, a capulana incendiou, apesar na e não a davam de comer. Em Maputo, ela esperava que a de graves queimaduras, eu sobrevivi mas meu irmão não teve a mesma vida fosse melhorar, mas nada de sorte, morreu”, conta Glória. As positivo aconteceu. Glória vive no terreno que pertencia consequências do à sua falecida mãe. acidente a privaram de No mesmo espaço, várias oportunidades, os irmãos a “Logo cedo os Glória não brincou, não estudou como todas as três mais velhos impediram de ocupar crianças da sua idade. fazem trabalhos as duas casas de material Pois, tinha de se arrastar domésticos na convencional, uma para se movimentar. vizinhança em Durante anos, lutou troca de 20 a 50 foi arrendada e a outra usada como para cicatrizar às meticais" armazém, por eles. queimaduras, o braço e a Glória Quitissane, perna do lado direito construiu com ajuda foram os mais afectados. As marcas no corpo denunciam à de vizinhos uma “barraca” de palha, quantidade de cirurgias por que caniço, papelão, sem portas e do lado passou. “A minha pele colava no osso. de fora é possível ver tudo o que Para minimizar os efeitos do acidente, acontece no interior. Crianças trabalhando em troca de os médicos tiveram de tirar parte da comida Para garantir que não falte pele da barriga para colocar na perna”, comida, todos contribuem para o revela Quitissane.. sustento da família. Glória depende Crianças sem pai No início da adolescência, Glória da boa vontade dos vizinhos, para teve o primeiro filho. Com apenas 1 3 quem lava roupa, loiça, em troca de anos a sua vida transformou-se, comida ou dinheiro. As crianças passou de criança a mãe. Tal como também trabalham, apesar de nenhum a primeira gravidez, as quatro restantes deles ter 1 5 anos. Idade em que se
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SHEILA MAFUIANE pode começar a trabalhar, de acordo com a lei moçambicana. “Logo cedo, os três mais velhos fazem trabalhos domésticos na vizinhança, em troca de 20 a 50 meticais, para garantir que não fiquemos sem comer”, revelou Quitissane. Questionada se estaria disposta a entregar os filhos a famílias que têm melhores condições financeiras, a fonte afirmou “os meus filhos estão bem comigo, ficarei com eles até morrer”, afirmou Quitissane. Por vezes, a família Quitissane recebe ajuda do Município da Matola, “uma vez por semana, à sexta-feira, recebo uma caneca de arroz e de açúcar para 6 pessoas”, acrescenta a fonte. Tia Joana é a única vizinha que ajuda Glória. “Eu partilho tudo, e até o nada com ela”, declarou Joana. A vizinha pediu que se construa uma casa para a Glória e seus filhos, pois a casa onde a família vive atualmente, não tem condições mínimas de ser habitada, não protege esta família da chuva, nem de outros perigos que possam surgir. O Inquérito Demográfico de Saúde, do ano 2007, revela que o número de deficientes físicos acima dos 1 4 anos de idade, em Moçambique, é de 1 5 546. Deste universo, 337 estão na cidade da Matola, sendo que 1 01 são do sexo masculino e 236 feminino. Portanto, estes dados indicam que muitas outras mulheres se encontram na mesma situação que a de Glória Quitissane. Glória afirma que está bem com os filhos e conta a ajuda dos vizinhos
Modjeiros burlam clientes no Mercado Grossista de Zimpeto
No Mercado, em Maputo, funciona um esquema ilegal de fixação de preços, denominado por "voto" . Os produtores são impedidos de marcar preço para seus prórios produtos. Quem manda são os "Modjeiros" sob olhar das autoridades do mercado.
Aida Nhavoto Está instalada uma rede de jovens que burlam clientes no Mercado Grossista do Zimpeto, em Maputo. Chamam-se Modjeiros e têm idades compreendidas entre 20 e 35 anos. Além angariar clientes para os produtores, cujos produtos são vendidos a grosso no Zimpeto, estes jovens acrescentam uma taxa que varia entre 1 0 e 200 meticais ao preço real do produto. O valor acrescentado denomina-se de “voto”. Os burladores actuam à luz do dia e as principais vítimas são as senhoras que têm na revenda desses produtos uma fonte de renda. “Não estamos satisfeitas com essa coisa do ‘voto’ porque, quando revendemos os produtos, os clientes não aceitam o preço que praticamos. Temos de vender a um baixo preço e assim não temos vantagem”, reclama a revendedora Rosa Manhiça, acrescentando que é obrigada a aumentar o preço quando faz a revenda em casa.
Os burladores actuam à luz do dia e as principais vítimas são as senhoras que têm na revenda desses produtos
Além de insultá-las ou revendêlas produtos de péssima qualidade, quando as senhoras se recusam a pagar o preço do “voto”, os “Modjeiros” agridem-nas. As pessoas, na sua maioria senhoras que recorrem aquele mercado para comprar produtos e revende'los, dizem não ter outra
alternativa de sobrevivencia. É isso que que explica a sua submissão ao “voto”. “Não estamos a acostumadas a ficar em casa sem fazem nada. Temos que correr de um lado para o outro. De qualquer modo, não estamos de acordo com o ‘voto’”, explica dona Rosa. Segundo depoimentos, o que
intriga às revendedoras é o facto de não saberem o destino da taxa que lhes é cobrada. “Estamos cansadas”, desabafou Fátima Munguambe afastando qualquer envolvimento dos produtores na burla: “O dono não sabe de nada, eles simplesmente o ignoram. Os
‘Modjeiros’ são quem marca o preço do ‘voto’. Quando o produtor se recusa ao sistema, eles proíbem-no de vender”. Os burladores que reconhecem a ilegalidade “voto”, explicandoa como uma espécie de imposto, afirmando que praticam essa actividade como condição para garantir a sua renda. “Sabemos que o que estamos a fazer não é legal. Mas não temos outra saída, porque somos desempregados e não queremos roubar”, afirmou um modjeiro”sem revelar o nome. Sob um olhar impávido das autoridades os “Modjeiros”dominam o comércio e prejudicam pessoas honestas que procuram ganhar a vida vendendo. Tentamos ouvir o vereador de mercados e feiras no Conselho Municipal de Maputo, mas até ao fecho da presente edição não tinha respondido o nosso pedido. Os agentes da Polícia Municipal que trabalha na área administrativa do Mercado Grossista de Zimpeto também recusou-se a prestar depoimentos sem autorização do comando da corporação.
9 sociedade Comerciantes ignoram a lei e vendem plástico nocivo à saúde e ao meio ambiete MÍDIA LAB SEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6
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BERNADETE NHAVENE
Vendedores dos mercados violam o Regulamento de Gestão e Controlo do Saco Plástico e comercializam plástico nocivo ao meio ambiente, oito meses depois da aprovação do decreto n° 1 6/201 5 e entrada em vigor a 5 de Fevereiro de 201 6. O plástico deve ter espessura superior a 30 micrómetros e não deve conter material reciclável acima de 40%. Bernadete Nhaveve e Sérgio Mossela
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endedores violam o Regulamento de Gestão e Controlo do Saco Plástico e comercializam plástico nocivo ao meio ambiente, oito meses depois da aprovação e entrada em vigor, a 5 de Fevereiro de 201 6 do decreto n° 1 6/201 5. Os comerciantes dos mercados de Xipamanine, Mandela e do Povo infringem os princípios estabelecidos e continuam a vender o plástico com espessura inferior a trinta micrómetros. Eduardo Mathe, vendedor no mercado Mandela, contou que o plástico que comercializava é do stock que adquiriu e desfazer-se da quantidade que tem seria um prejuízo. “Comprei a grosso os plásticos que estou a vender, antes da aprovação do decreto e não os posso, simplesmente, queimar, antes de reaver o valor gasto”, revelou Mathe. Dona Marta, nome fictício, revendedora de plástico no mercado do Xipamanine, contou que ainda compra o plástico proibido por lei, para obter uma margem de lucro razoável. Segundo Marta, o saco plástico recomendado é comercializado na fábrica a preços elevados. "Algumas pessoas têm aparecido a vender o plástico que deve ser banido. Eu compro-o, porque aquele que nos aconselharam a vender está muito caro e, se eu comprá-lo, não terei lucros". Questionada se estava ciente da irregularidade que cometia, dona Marta respondeu꞉ “Não tenho medo, nunca apareceu ninguém a fazer
inspecção. As únicas pessoas que vieram só nos apresentaram os novos plásticos e nunca mais apareceram”, reafirmando que continuará a comercializar o plástico proibido por lei. A comercialização do plástico nocivo ao meio ambiente prevê o pagamento de uma multa que varia de 25 a 80 salários mínimos, equivalente a 79.900 e 255.680 meticais, respectivamente. A multa será aplicada a todas entidades públicas e privadas, pessoas singulares e colectivas, envolvidas na produção, importação, comercialização e uso do plástico. Dona Marta acrescentou que os utentes do mercado continuam a ter preferência pelo plástico nocivo por causa do preço e afirmou que uma embalagem de 1 00 plásticos nocivos custa 250, enquanto o recomendado por lei, 350 meticais. Falando à nossa reportagem, Mouzinho Nicol´s, presidente da Associação de Defesa do Consumidor de Moçambique (ADECOM), disse que a comercialização do saco plástico é um assunto problemático. “Se o saco plástico não é benéfico ao meio ambiente, que se tire do circuito comercial. A venda do saco plástico encarece o poder de compra do consumidor e está a tornar-se num negócio lucrativo”, conclui Nicol´s. Questionado sobre as possíveis acções da ADECOM, tendo em conta a venda do plástico nocivo ao meio ambiente, Nicol´s disse que a tarefa
Revendedores preferem vender o saco plástico proibido por lei para term oretorno do investimento.
será denunciar, criar espaços de António Afonso Chirindza, gestor de reflexão, pois a ADECOM é um grupo Recursos Humanos da Indústria de de pressão e usará todos parâmetros Produção de Sacos Plásticos (IPED), localizada no bairro de Tsalala, no legais para fazer valer a lei. Gestores estão insatisfeitos com município da Matola. Chirindza acrescentou que hoje a o regulamento de gestão IPED tem um número de saco plástico reduzido de clientes, Depois da “Não tenho medo, comparado ao período implementação do nunca apareceu alguém anterior à Regulamento de Gestão a fazera inspecção" implementação do e Controlo do Saco decreto. Associado aos Plástico, gestores das elementos empresas fabricantes apresentados, a afirmam que a norma empresa também trouxe mais prejuízos enfrenta insuficiência de que ganhos. “Despedimos 50% dos equipamentos para a execução de trabalhadores por causa dos prejuízos actividades. Os revendedores de sacos plásticos de matéria-prima armazenada avaliadas em 70 mil dólares”, lamentou também se sentem lesados com a
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nova lei. Um comerciante que não quis se identificar afirmou que não é fácil vender os seus produtos. “Actualmente, levo três dias para acabar o stock que vendia num dia”, esclareceu. O revendedor também diz que reduziu a quantidade de sacos plásticos que comercializa, devido ao aumento do preço de compra. “O saco que comprávamos a 1 .500 meticais, actualmente, custa 2.200”. O regulamento obriga aos produtores a rotular o saco plástico, indicar o nome da empresa e⁄ou logótipo, inserir o endereço, as características do produto incluindo o volume, o material usado, símbolo do plástico e a espessura. Caso contenha material reciclado, o produtor deve indicar a sua percentagem.
Crianças serão registadas a partir de um sistema electrónico Ernesta Missage
O registo de nascimento de crianças será feito a partir de um sistema electrónico, onde serão armazenados todos os dados dos bebés. A informação foi partilhada no dia 04 de Maio de 201 6, pelo representante da UNICEF, Marcoluigi Corsi, aquando da assinatura do acordo que visa contribuir para o reforço do Sistema Nacional de Registo Civil e Estatísticas Vitais em Moçambique. O memorando foi assinado pelo representante da UNICEF, Marcoluigi Corsi e pelo alto-comissário do Canadá em Moçambique, Mhairi Piterson e foi testemunhado pelo ministro da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Isaque Chande. Desta contribuição será disponibilizado, o valor de 1 9.5 milhões de dólares canadianos para
um período de 5 anos. Na ocasião, Corsi disse que o financiamento é um donativo e não um empréstimo, pois o objectivo do UNICEF é priorizar todas as áreas que afectam as crianças. “As famílias terão a possibilidade de registar os seus bebés, através de um sistema electrónico. O valor foi doado e vai passar pela UNICEF, para ser usado pelo Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos” afirmou Corsi. O representante acrescentou que: “A iniciativa vai abranger também as zonas rurais, pois o direito civil, registo de nascimento é um direito para todas as crianças”. No país nascem em cada ano 950.000 crianças, das quais 83.000 morrem antes de completar os cinco
anos de idade. Do número de nascimento mais de 52% das crianças em Moçambique não foram registadas e só 1 2.1 % dos óbitos foram registados. Os dados foram trazidos em 201 4, pela Direção Nacional dos Registo e Notariado (DNRN). Foi por causa do baixo número de registos de nascimentos e de óbitos de crianças que o Governo aprovou em 2004, o Plano Nacional de Acção sobre o Registo de Nascimento visando acelerar as actividades de registo de nascimentos e reforçar o sistema de registo como rotina a nível nacional. O registo de nascimento é obrigatório e gratuito, mas passados 1 20 dias do nascimento da criança, os pais devem pagar uma taxa de 60 meticais.
COMUNIDADE SANT'EGIDIO
O registo electrónico vai abranger também crianças que vivem zonas rurais
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sociedade
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Funcionários públicos contestam salário baseado na competência técnica
O sistema Nacional de Carreiras e Remuneração vai passar a atribuir salários aos funcionários e agentes do Estado de acordo com as suas competências técnicas e não apenas pelo certificado de habilitações literárias.
NOTÍCIASMOÇAMBIQUE.COM
Miranda Munhua
(SIGEDAP), e não apenas a revisão do Sistema Nacional de Carreiras e Remuneração, contrariando os medida anunciada pelo Vice- pronunciamentos do Vice-Ministro da Ministro da Administração Administração Estatal, citado pelo Estatal, Roque Silva, a 3 de Jornal Notícias (04.04.1 6), “o Sistema Abril, sobre a atribuição do salário por Nacional de Carreiras e Remuneração competência técnica, gera insegurança está em revisão, num processo que e contestação nos funcionários visa passar a atribuir salários aos públicos em Moçambique. Elias funcionários e agentes do Estado de Matusse, funcionário do Estado, no acordo com as suas competências Conselho Municipal de Maputo, disse técnicas e não apenas pelo certificado que a medida privilegiará os de habilitações literárias”. Para Caixote, colaboradores mais antigos e as carreiras podem manter-se como discriminará os pouco "Não basta a estão, o que tem de mudar experientes. “Os são os termos de administração funcionários com mais pública dizer que referência de cada tempo de serviço terão funcionário. “Os termos quer mudar, as vantagens do que os escolas também de referência por outros. Deve-se olhar devem mudar e competência prevêem os para a competência”, e os resultados deixar de formar resultados, defendeu Matusse. estão no de as pessoas com competênciasquadro Outro funcionário do individuais base nas teorias" e no quadro das Estado, que não quis ser identificado, disse que a referências dos órgãos da Função Pública moçambicana não administração pública. Dependendo consegue gerir com eficiência o actual de cada área de actuação, os modelo de remuneração e optar pela indicadores para os resultados podem política seria burocratizar a função variar, sendo qualitativos ou pública. Contrariamente, Carlos quantitativos. O que determina os Caixote, especialista em gestão de qualificadores são os termos de recursos humanos e docente na referências de cada carreira e de cada Universidade Eduardo Mondlane, função, e fazer estas reformas afirmou que a política é bem-vinda, pressupõe mudar o SIGEDAP e todos mas é necessário conceber um quadro instrumentos de medição de de referências e competências a partir competências”, explicou o especialista. do nível central ao mais baixo. Os funcionários públicos são Caixote explica que a remunerados tendo em conta três implementação da política salarial por pilares: nível académico, tempo de competência técnica exige a revisão serviço e confiança. Os grupos salariais do Decreto n° 55/2009, de 1 2 de de uma ou mais carreiras com Outubro – Sistema de Gestão de categorias da mesma complexidade Desempenho na Administração Pública e responsabilidade correspondem à
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Os funcionários públicos são remunerados tendo em conta o nível académico, tempo de serviço e confiança.
mesma série de índices salariais, subdivididos em faixa, para cada classe da carreira. O Sistema de Carreiras e Remuneração estabelece 1 2 grupos salariais de 01 a 1 2, para as carreiras de regime geral, e outros 24 grupos salariais, salteados, de 1 3 a 99, para as carreiras de regime especial. Segundo Caixote, mudar seria um trabalho que parte do nível centrar ao posto administrativo e que poderia levar no mínimo três anos. A subjectividade do SIGEDAP e a imprecisão da ferramenta na avaliação do desempenho são questiões sobre a legitimidade da avaliação que pode conferir competência técnica para
Empresa Maputo Sul viola decreto no processo de reassentamento Cofe Cumba
A empresa Maputo Sul violou o decreto 31 /201 2, de 8 de Agosto, que aprova o Regulamento sobre o processo de Reassentamento, resultante de actividades económicas em Moçambique. De acordo com o artigo 1 6 do decreto, o processo de reassentamento é acompanhado pela implantação de vias de acesso, sistema de abastecimento de água, saneamento do meio, electrificação, posto sanitário, escola, centro infantil, mercado, lojas postos policias, locais de lazer, de prática de desporto, recriação, de culto e de reunião. Artimisa Julião, de 57 anos residente no bairro da Malanga desde 1 999, afirma que teve informação de que tinha de abandonar este local, depois de uma equipa da Empresa Maputo Sul ter informado que por aquele lugar, passará a ponte que liga Maputo a Katembe. “Depois de avaliarem a minha casa, trouxeram um documento
que indicava o valor da minha casa e disseram-me que tinha de assinar. Recusei de assinar, porque o lugar de reassentamento é mato e cheio de arvores, capim e não tem vias de acesso”, explicou Artemisa. “Perguntei como iríamos construir, neste lugar? O pior é que a zona não tem condições, não tem água, estradas, hospitais e nem energia elétrica. Eu tenho filhos onde e que os meus filhos vão estudar? E para eles virarem bandidos”, questionou. Por outro lado, dona Cacilda residente neste bairro desde 1 991 , apresenta um outro problema. “A empresa Maputo sul determinou um certo valor para minha casa. A minha casa não vale 350mil,” desabafou. De acordo com ela, a sua casa é tipo 3, com uma dependência e merecia mais do que isso. “Quando reclamei, dissera-me que não podiam fazer mais nada”. Cacilda afirma que o prazo dado pela empresa Maputo Sul, que são trinta dias a contar do dia
determinar salários. “O sistema de avaliação de desempenho não é objectivo. Quem vai fiscalizar a competência dos funcionários públicos?” Questionou Matusse. Para além dos problemas de carácter normativo, o académico Carlos Caixote diz que o novo sistema deve ter em conta o tempo de obtenção de resultados, em si, e o alinhamento com os objectivos da organização. O impacto das competências que o funcionário tem aumenta a eficiência organizacional, porém, existem condições para avançar para a remuneração por competências. “Temos de mudar o currículo dos
IFAPA, do ISAP e de algumas instituições”, advertiu Caixote. O académico defende que os currículos devem estar virados para as competências. “Precisamos de maior percentagem de competências técnicas e menor percentagem de teoria. Não basta a administração pública dizer que quer mudar, as escolas também devem mudar e deixar de formar as pessoas com base em teorias. Até ao fecho desta a edição, a Comissão de Revisão do Sistema Nacional de Carreiras e Remuneração do Ministério da Administração Estatal não tinha respondido ao pedido de entrevista.
COFE CUMBA
da assinatura do documento de retirada, não é suficiente. De acordo com o Sociólogo Marcelo Kantu, existem vários critérios que se deve obdecer antes de se retirar uma população de uma determinada zona: Primeiro, deve-se localizar o espaço onde vai se alocar as pessoas afectadas, para depois negociar com elas a sua retirada. “Depois de ambas partes concordarem com a negociação, deve-se começar a criar as mínimas condições habitabilidade, abrir vias de acesso, construir escolas, hospitais um posto policial, colocar água e energia”, explicou. O sociólogo afirma que muitas instituições têm ignorado este princípio. Para ele, o Governo devia rever as politícas públicas e aplicar sanções para quem viola este decreto. “Não tivemos uma boa relação, em algum momento estávamos a sentir os direitos daquelas famílias a serem violados, e tivemos de intervir”, afirmou. Uma das casas demolidas em Malanga no âmbito da construção da ponte
11 sociedade Trabalho doméstico infantil é considerado uma forma de tráfico humano MÍDIA LAB SEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6
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De acordo com Virginia Madeira, Juíza de Direito no Tribunal do distrito de Ka-Lhamankulo, o trabalho infantil doméstico enquadrase nos três elementos do tráfico humano: recrutamento, transporte e exploração SUMEIA CASSIMO
terra, em Namacura, não sabe ler e nem escrever, o mais agravante é que nem sabe a sua idade. Quando questionada qual o seu maior sonho, a miúda respondeu que gostaria de cuidar de casa. Neste momento, ela encontra-se no bairro do Alto Maé, em casa da senhora Noémia, a pessoa que a tirou de Namacura para Maputo, preparando-se para regressar à sua terra natal, juntamente com a irmã.
“Levo as crianças para ajudar a elas família”
Crianças dos 10 aos 17 anos de ambos sexos trabalham como empregados domésticos e vendedores ambulantes nos centros urbanos
Sheila Magumane e Sumeia Cassimo empregada". Esta menor trabalha há mais de envolvidos saírem impunes". A fonte um ano e neste período nunca teve nenhuma acrescentou ainda que tirou um valor de três mil meticais e entregou à patroa da menina recompensa da patroa. para a sua passagem, mas O mais grave é que não a isso não chegou a se deixa falar com os seus pais. realizar, pois a criança Com lágrimas escorrendo pelo ainda continua nas suas rosto, a adolescente diz que “Quando eu vim era mãos. sente muita falta do carinho dos só para cuidar da criança, seus pais. mas a tia levou-me para “Em vez de cuidar Quando vivia com os seus casa da mãe para ajudar de criança, pais, frequentava a segunda – lhe na machamba, trabalhava na classe, chegando aqui, foi trabalhávamos todo dia, machamba” obrigada a abandonar a escola, não me sobrando tempo porque tinha de cuidar de criança para fazer nada” Clara Arlindo, de 1 2 e da casa, "quando eu peço a tia anos, vive na capital do para estudar, ela sempre mente país há quase um ano. Tal "Sempre diz que não sou para mim, dizendo que já me como Esménia, saiu da família dela, mas sim matriculou, mas, não me leva à sua província para trabalhar como babá. empregada" escola". A fonte acrescentou que a roupa que tem e traz no corpo foi oferta das vizinhas, que Também chegou a Maputo, trazida por Noémia, que também levou a sua irmã mais velha, de Esménia Augusto, de 1 6 anos de idade, têm acompanhado a sua história de perto. natural da Zambézia, distrito de Devido aos maus 1 4 anos, para fazer o mesmo serviço. Clara diz que não queria sair de casa, mas Namacura, saiu da sua província tratos que sofria, com o consentimento dos seus Anatércia José, uma das os seus pais a obrigaram, pensando que era "Eu tive que pais, para trabalhar como vizinhas que acompanha uma oportunidade de continuar a estudar. interferir porque já "Babá" em Maputo. Chegou à a história da miúda, Chegada a Maputo, Clara foi levada pela não aguentava ver a cidade com ajuda da dona levou-a à Matola Gare, senhora prometida, e esta, por sua vez, entregou criança a sofrer de Noémia, uma mulher de 40 anos em casa dos seus tios, à sua mãe, que reside no bairro 25, no distrito maus tratos, então de idade, natural da mesma porque a adolescente de Boane. "Quando eu vim, era só para cuidar levei a ela para casa província e residente na capital chorava todo dia, da criança, mas a tia levou-me para casa da dos meus tios, já que dos pais, que frequentemente pedindo ajuda. "Eu tive mãe para ajudar-lhe na machamba". ela não tinha com Clara conta que ela e a idosa, diariamente, sai de Maputo para aquele ponto de interferir, porque já quem contar" do país, para visitar seus pais e, não aguentava ver a saiam de casa para machamba às 5 horas e por vezes, ao regressar, leva criança a sofrer de maus só voltavam às 1 8 horas, não lhe permitindo meninas cujas famílias têm tratos, então levei-a para frequentar a escola, "trabalhávamos todo dia, muitos filhos e sem condições casa dos meus tios, já não me sobrando tempo para fazer mais nada". para os sustentar. que não tinha com quem contar". Disse a nossa Declarou a fonte. No período em que Clara esteve a trabalhar A menor Esménia reside no bairro do entrevistada Aeroporto e diz estar a sofrer maus tratos por A fonte afirmou que, depois de levar a miúda em casa da idosa, não teve nenhum salário, parte da patroa, que a agride fisicamente. para a casa do seu tio, a patroa foi à polícia enquanto o combinado era que a senhora com Quando pede para voltar para a sua terra natal, denunciar, alegando que tinha sido raptada. quem iria viver, enviasse um valor, mensalmente, a senhora se recusa, "ela bate-me "Fomos até à esquadra daqui do bairro, e lá, para os seus pais, situação que deixou a dona frequentemente com pau de vassora e sempre a polícia aconselhou a menina a voltar para Noémia revoltada. Clara frequentava a segunda classe na sua diz que não sou família dela, mas sim sua terra, essa seria a condição de todos os Em Moçambique, nos últimos anos, crianças, na sua maioria do sexo feminino, com idade compreendida entre 1 3 e 1 7 anos, provenientes das zonas rurais, são contratadas ou entregues pelos seus pais, para trabalhar nas capitais provinciais como empregadas domésticas, cuidando de bebés ou de crianças. Muitas destas meninas pertencem a famílias carenciadas, por isso, os pais vêm a sua saída do campo para cidade como uma oportunidade para mudarem de vida, ajudando com o salário, nas despesas de casa. São casos de Esménia e Clara, que saíram da província da Zambézia, sua terra natal, para trabalhar na capital do país como babás.
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Noémia, a senhora que trouxe Esménia e Clara da Zambézia, admite trazer as crianças com o propósito de ajudá-las, uma vez que pertencem a famílias desfavorecidas economicamente. A fonte diz estar arrependida por ter entregue as duas crianças a pessoas que as maltratavam. Noémia mostra-se preocupada com o caso da Clara, por ser ainda mais nova, com apenas 1 2 anos de idade. Segundo a fonte, a menor estava a trabalhar para uma senhora que não é sua conhecida, que a contactou por via de uma amiga. "A minha amiga disse que tinha uma conhecida que precisava de uma criança para ficar com as suas duas filhas, mas que a miúda frequentaria a escola e daria uma recompensa à família". A história destas duas crianças é exemplo do sofrimento que muitas passam ao ser entregues pelos próprios pais, para trabalhar como empregadas domésticas nas capitais provinciais. No entanto, o que muitos não sabem é que este tipo de trabalho infantil para além de impedir a sua formação escolar e violar seus direitos, é uma forma de tráfico humano. De acordo com Virgínia Madeira, juíza de Direito, no tribunal do distrito de Xamanculo, falando num debate sobre tráfico humano, organizado pela Irex Moçambique, em Dezembro de 201 5, são três, os elementos que identificam o tráfico: recrutamento (através de aliciamento), transporte e exploração. Estes elementos também são envolvidos quando se tira uma criança duma província para outra ou do campo para a cidade, para servir como empregada doméstica. No processo de recrutamento, os pais entregam suas filhas, por vezes, convencidos de que estas vão continuar a estudar na cidade e também pelo valor que eles vão receber pelo trabalho que elas irão fazer. Estas crianças, além de cuidar de outras crianças, isto é, trabalhar como babás, fazem outros trabalhos domésticos e, muitas vezes, sem nenhum descanso. Assim, mesmo que os patrões tenham prometido aos pais que elas iriam continuar a estudar, quando chegam a Maputo, não são matriculadas. Esta também, segundo Madeira, é uma forma de exploração de menores, porque, muitas vezes, elas não respondem por si. Ter crianças como empregadas domésticas é uma prática muito comum, principalmente na cidade de Maputo. Apesar de ser uma forma de exploração de menores, tornou-se normal, já que muitas pessoas aderem a ela. E porque a lei do trabalho doméstico em Moçambique estabelece que, todos menores de 1 5 anos não podem ser empregados domésticos. Porém, se estes forem autorizados pelos pais, pode ser até ao mínimo de 1 2 anos. Esta lei, de certa forma, contribui para a continuidade desta prática, porque os pais das meninas, muitas vezes analfabetos, não priorizam a educação das filhas, mesmo sabendo que o salário é muito baixo.
saúde Contraceptivos perigam saúde de mulheres 12
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Ernesta Missage
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acientes do Centro de Saúde Rosa Tivane, de 29 anos de idade Dzowo, localizado no distrito e mãe de dois filhos, é paciente do de Marracuene, na província centro há mais de 6 anos e usa o de Maputo, queixam-se dos efeitos método contraceptivo Implante há 5 colaterais dos métodos contraceptivos, anos. A utente descobriu que é DIU (Dispositivo Intra Uterino) e seropositiva no ano passado, mas diz Implante, ambos invasivos na mulher, que os seus filhos são seronegativos. e da falta de um acompanhamento Rosa, assim como outras mulheres, clínico regular. Para elas, o que era quer remover o Implante. Conta que para ser um Planeamento Familiar está grávida há 2 semanas e não (PF) tornou-se prejudicial para a sua pretende ter mais filhos, daí que, para saúde. O PF tem como finalidade além de retirar o Implante a paciente prevenir a gravidez indesejada, permitir pretende abortar. “Só posso fazer ao casal escolher o número de filhos aborto, não tenho outra alternativa, e dar espaçamento entre o porque já não quero mais bebé e o nascimento de seus filhos. método não me caiu bem”, confessou No entanto, o cenário a paciente. encontrado no Centro de No mesmo Saúde Dzowo contradiz a centro, um outro finalidade do uso do PF. As “Só posso retirar caso foi detectado. mulheres que ali estavam a gravidez, não tenho É o da Edite queixam-se de vários Teixeira, de 30 outra alternativa efeitos causados pelos porque já não quero anos de idade é métodos contraceptivos. mais bebé e o método mãe de três filhos. Umas, pela ausência da A utente é usuária não me caiu bem” menstruação há mais de um do método ano, outras, pelas Implante há 11 hemorragias constantes há meses e revela mais de dez meses e que os resultados outras, ainda, que estavam grávidas não estão a ser satisfatórios. “Desde há semanas. Esta realidade fez com que coloquei o Implante, tenho sentido que as mulheres viessem interromper umas dores nas minhas mamas e não o PF, no centro de Saúde Dzowo, menstruo há 4 meses. Este método retirando os métodos DIU e Implante não me favorece, por isso venho retiráde seu corpo. Para as pacientes, não lo”, disse a utente. foi fácil decidirem remover os métodos, Assim como Rosa e Edite, Inês porque a consequência disto será uma Rungo é também paciente do centro gravidez indesejada. de Saúde Dzowo. Ela tem 25 anos
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Técnica de Saúde explicando o funcionamento do aparelho reprodutivo da mulher e sobre o uso de contraceptivos
de idade e é mãe pela primeira vez. O seu bebé tem 9 meses de vida. Inês usa o método contraceptivo DIU há um mês e conta que foi o marido quem a aconselhou a fazer o PF. A utente tem tido sangramentos constantes, facto que a levou a uma anemia. Tal como as outras utentes, Inês pretende retirar o aparelho, porque está a prejudicar a sua saúde e a do seu bebé. “O aparelho DIU caiu-me muito mal, tenho hemorragias que não páram e agora tenho anemia, por falta de sangue e o meu bebé já não pode mamar”, lamentou a paciente. Dados do Ministério da Saúde (MISAU) apontam que, em
Moçambique, o PF está a ser cada vez mais usado, principalmente com o aumento contínuo da população. Para a técnica de Saúde Materno Infantil do Centro de Saúde Dzowo, Felícia Boane, as queixas pelos efeitos colaterais dos métodos contraceptivos são constantes e preocupam os responsáveis do centro. Questionada se é possível testar a compatibilidade dos métodos na mulher, a técnica respondeu que era impossível fazer a testagem, mas, o que é feito no processo de abertura do PF é buscar a história clínica de cada utente. A técnica de saúde acrescentou, que a mulher tem direito
a um acompanhamento, após a inserção do DIU, bem como do Implante, mas esta afirmação contradiz os depoimentos das pacientes. A mesma fonte explica que está a ser feito um estudo, dentro do centro, em parceria com a DKT, uma empresa de marketing e publicidade do uso dos métodos DIU e Implante, para saber como as famílias encaram estes métodos. “O nosso centro tem recebido várias mulheres que vêm colocar o Implante e o DIU, mas ao mesmo tempo recebe mulheres que vêm remover os aparelhos. Esta situação deixa-nos preocupados”, lamentou a técnica.
Há fraca divulgação de palestras sobre desnutrição no distrito da Namaacha
Vinódia Janete
O maior centro de saúde da Namaacha registou, de 201 4 a 201 5, cerca de 1 99 casos de mau crescimento, 25 de internamento e um óbito. A falta de água para a produção de alimentos, a escassez de informação sobre como preparar papas enriquecidas, com os poucos produtos disponíveis são apontados pelas mães como os principais motivos para a desnutrição crónica das crianças no distrito de Namaacha, província de Maputo. Apesar de a técnica de nutriҫão Eva Sumindila garantir que são feitas palestras e demonstraҫões de culinária aos moradores daquele distrito, há mães que nunca ouviram falar destas palestras. Joana Coane vive no bairro Madlanine e não tem informações sobre palestras feitas pelo sector da Medicina Preventiva do Centro de Saúde de Namaacha. Residente no distrito há mais de 5 anos Joana Coane tem dois filhos. Ela conta que nunca participou em nenhuma apresentaҫão de técnicos de nutriҫão, no seu bairro. “Desde que
tive o meu primeiro bebé até hoje, recônditas. “É um desafio para nós, não vi demonstrações de como pois temos poucos centros de saúde melhorar a saúde alimentar dos meus no distrito, mas conseguimos fazer filhos”, disse Coane. A filha mais nova com que as comunidades mais da Joana tem cinco meses e pesa 6 recônditas tenham acesso aos nossos kilos. O peso recomendável neste serviços”, realçou. caso é 9, 3 kg. A nossa equipa de reportagem De acordo com a esteve no distrito da técnica de nutriҫão, as “Desde que Namaacha nos dias 5, 8 e palestras são feitas 1 2 de Abril. E nessas datas tive o meu diariamente e primeiro bebé não tivemos indícios de mensalmente nos centros sobre até hoje, não apresentações de saúde e nas desnutrição crónica. Dados vi escolas.“Sensibilizamos a demonstraçõe do Fundo das Nações populaҫão para melhorar Unidas para a Infância s de como a sua dieta alimentar. (UNICEF), de 201 4, citando melhorar a Ensinamos como fazer as á Sitan, indicam que, em saúde" papas dos bebés com os Moçambique, 44% das produtos que possuem”, crianças sofrem de disse Eva Sumindila. desnutrição crónica. Uma em cada Maria Albertina e Percina Carlos duas crianças menores de 5 anos de são mães e vivem no bairro A. Segundo idade não consegue atingir o seu elas, nem nos dias em que levam os potencial de crescimento físico. seus filhos ao peso tiveram a Existem vários factores que oportunidade de ver palestras. Todavia, influenciam a desnutrição crónica da a técnica de nutriҫão diz que o trabalho criança, dentre eles o estado de de sensibilizaҫão decorre em todos saúde e nutrição da mãe antes e os bairros até nas zonas mais durante a gravidez. Além disso, de
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acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a qualidade e a quantidade da alimentação da criança, os cuidados que ela recebe nos primeiros dois anos de vida são outros factores que influenciam. A desnutriҫão tem implicaҫões negativas na vida das crianҫas. Dados
da OMS, revelam que a crianҫa pode ter baixa estatura, chegando a não desenvolver sua capacidade física, sofrer reduҫão da sua funҫão cognitiva exercendo inpacto directo nos resultados escolares. As crianças desnutridas são mais propensas à doenças como diabetes e obesidades. FOLHA DE MAPUTO-201 5
Desnutrição infantil atrasa o crescimento físico e psicológico das crianças
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saúde
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Menor privada de apoio por falta de informação A falta de informação sobre o direito à assistência social, em caso de doença ou deficiência, coloca em causa a saúde de Albertina Rafael Nhancale, que faz parte de um universo não revelado de crianças com deficiência auditiva, no distrito de Namaacha. O Instituto Nacional de Estatística (INE) e a Acção Social não apresentam números actualizados de crianças com deficiência auditiva, naquele distrito. ABDUL REMANE
no trabalho são os factores que mais prejudicam o funcionamento da AS, principalmente nas zonas mais recônditas. Outro aspecto é o facto de a AS Palavio afirma que depois de quatro tentativas, não conseguiu ajuda no não ter uma Sede própria e de fácil hospital, optou em procurar alguém acesso. Apesar disso alguns moradores, do distrito de que pudesse tratar a filha Namaacha, foram unânimes tradicionalmente. Mas a em afirmar que ouvem falar falta de dinheiro é uma “Nunca ouvi da Acção Social quando dificuldade, pois a falar de Acção vão ao Centro de Saúde, pessoa está a cobrar Social, mesmo mas nunca souberam para 2.500 meticais. “Eu e o meu esposo das vezes que que fins ela existe porque não temos esse valor”, fui ao hospital" os seus serviços não se fazem sentir. frisou, tendo “Eles não podem dizer acrescentado que, “se que a falta de transporte ao menos eu conseguisse um trabalho, pelo menos lhes priva de trabalhar em lugares conseguiria esse valor e pagava o mais distantes porque indo de “chapa”, tratamento para a minha filha, mas pelo menos daqui onde estamos, está difícil porque nem mesmo o pai bairro de KalaKala até ao bairro trabalha. Vivemos na base de seus Kokomela, gasta-se, no mínimo,1 0 biscates. Vezes há em que passa até meticais”, contou um dos pacientes um mês sem que consiga algum”, que não quiz se identificar. Portanto, devido à fraca contou. Albertina Rafael Nhancale, menor com deficiência auditiva, não pode ir à escola por falta de tratamento A mãe insistiu afirmando que só disseminação dos serviços, a Acção depois de curar a epilepsia é que Social, em Namaacha, tem registado Celeste Macuácua levará sua filha à escola. “Ainda que um número reduzido de pessoas que lbertina tem actualmente cinco encaminhem-na ao Centro de Saúde”, Kokomela pois de uns tempos para seja para não aprender muita coisa, solicitam ajuda. “Nunca ouvi falar de cá, o casal não conseguia pagar a mas, pelo menos vai se ambientar Acção Social, mesmo das vezes em anos e vive com os pais explicou. renda da casa em que vivia, na vila com as outras crianças”, disse Celina. que fui ao hospital, ninguém me Albertina continuou internada por desempregados, no bairro de Namaacha. mais um período não específico encaminhou para lá”, afirmou a mãe Kokomela, no distrito de Namaacha. enquanto fazia o tratamento Falta de fundos dificulta o da Albertina. “Pelos menos pediramA menor nasceu sem deficiência fisioterapêutico, pois, um dos seus me que tratasse alguma documentação trabalho da Acção Social mas sua vida mudou quando aos braços e pé não se moviam. Quando Pais privam Educação a no Hospital Central de Maputo, dois anos ficou deficiente auditiva e começou a registar somente assim é que obteria filha por medo A Acção Social algum tempo depois melhorias, ela voltou à ajuda. Assim o fiz. Mas (AS), no distrito de epiléptica. “Eu quero que a casa mas sua mãe, nunca mais obtive retorno”, “Eu quero que a minha filha vá à Namaacha, não está a “Ainda que Tudo começou minha filha vá para Celina, devia dar escola, mas tenho medo que passe difundir de forma eficaz esclareceu. seja para não quando Nhancale, numa escola, mas o meu continuidade às De acordo com mal durante as aulas”, revelou a mãe. e inclusiva os seus manhã de sexta-feira, aprender muita medo é que ela recomendações Machava, a Acção Social Celina explica que o seu medo parte serviços o que põe em em 201 3, ao acordar coisa, mas, pelo chegue lá, passe médicas. não recebe fundos para do que vê a acontecer com a filha, causa a saúde de pediu que a mãe á menos vai se mal e desmaie”, Actualmente, a apoiar as pessoas que no dia-a-dia. “Mesmo quando ela está várias crianças cujo levasse ao colo. “Minha ambientar com as revelou a mãe" menor tem boa pedem ajuda, seu papel é a brincar sozinha, do nada desmaia. número náo foi filha não conseguia outras crianças” apresentação física, No mês passado, ela caíu e mordeu- revelado, pelo Instituto difundir a informação às mover algumas partes porém, não ouve, nem se o lábio de baixo. Tem vezes que Nacional de Estatística comunidades e, caso do seu corpo. Fiquei necessitem de ajuda, encaminhá-las assustada e corri para pedir ajuda à fala. No ano seguinte, ela e seus pais cai e quando não estamos atentos, (INE). De acordo com a técnica de Acção ao Instituto Nacional de Acção Social minha vizinha”, contou Celina Palavio, mudaram-se da cidade de Maputo o pior pode acontecer”, acrescentou. para arrendar na Vila de Namaacha. Outro aspecto que desencorajou Social, funcionária há dois anos no (INAS). O INAS recebe as pessoas e mãe da menor. Passado alguns meses, a família Celina de matricular Albertina foi a Centro de Saúde daquele distrito, dá o devido tratamento. Na altura, ela e sua família passou a viver de favor numa das Segundo a base de dados fornecida resposta que lhe foi dada pela direcção Maria Machava, a falta de fundos, moravam na cidade de Maputo por casas da esposa do régulo de á equipa de reportagem do Mídia Lab, de uma das escolas de Kokomela. transporte e meios demonstrativos isso foram para o Hospital Geral José pela Técnica de Acção Social, naquele ABDUL REMANE Macamo. “Quando chegamos ao Centro de Saúde, durante o primeiro hospital, minha filha já havia perdido trimestre deste ano, apenas duas os sentidos. Os médicos a internaram crianças foram encaminhada ao INAS e só saíu do coma uma semana no mês de Fevereiro, para receber depois”, explicou Celina. assistência. Depois que despertou, Albertina Durante os meses de Janeiro e foi transferida para o Hospital Central Março, nenhuma criança foi de Maputo (HCM) onde fizeram os encaminhada, mas, para o mês de Exames de Fisioterapia e Radiografia Abril, já existem duas crianças gêmeas (Raios X) em um dos pés e braço. que serão guiadas logo que a Acção Celina acrescenta que, sua filha não Social receber a sua Declaração de voltou a ser a mesma, “não falava, Bairro. AAcção Social do distrito de não ouvia e nem movia algumas Namaacha, não tem fundos para dar partes do seu corpo. Até hoje, ela apoio ás pessoas que remetem o não ouve nem fala”. pedido de ajuda. Por essa razão, ela Passado poucos meses a menor somente recebe as pessoas e as ficou epiléptica, doença que se encaminha para o INAS, este que tem caracteriza por crises convulsivas e fundos e oferece apoio em perda repentina dos sentidos. De alimentação, educação, saúde e acordo com a técnica de Acção Social assistência psicossocial. Apesar disso, do Centro de Saúde de Namaacha, Albertina não faz parte das crianças Maria Machava, “a epilpsia pode ser que se beneficiam pela assistência controlada, desde que os psicossocial. Celina Palavio, com Albertina no colo, não tem informação sobre seu direito de assistência social para a menor responsáveis pela criança “A directora da escola, disse que não a podia matricular por ser epiléptica”, revelou.
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educação Onze professores vão estagiar na Turquia 16
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AMINA NOFRE
O MINED pretende encorajar os professores a promoverem trabalhos de qualidade através da premiação com melhores resultados no fim de cada ano lectivo
Amina Nofre
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nze professores moçambicanos premiados pelo seu bom desempenho estão na Turquia desde o dia seis de Maio de 201 6. A cerimónia de premiação foi realizada no dia 4 de Maio do corrente ano e está prevista no estatuto do estado. Os professores homenageados pertencem a onze províncias do país. A assiduidade, engajamento, pontualidade, disciplina, cumprimento exemplar das actividades, bom desempenho, produção de material didático e a sensibilização dos encarregados de educação para
levar os educandos às escola são apontados como os elementos fundamentais para a premiação. A iniciativa do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, em parceria com a Embaixada da Turquia visa de incentivar os professores. O ministro de Educação e Desenvolvimento Humano, Jorge Ferrão disse que apesar das condições difíceis de trabalho, os professores são a solução para os problemas do país. “Apesar da falta de recursos e condições adversas de trabalho em
que os professores se encontram a trabalhar, eles fizeram a diferença e transmitiram o conhecimento às nossas crianças. Portanto, são dignos no nosso apreço, reconhecimento e estímulo. Como ministério, pretendemos com actos dessa natureza, instituir um movimento no qual o bom trabalho é premiado, os melhores professores também, mas o mau trabalho e os piores professores desencorajados”, declarou Ferrão. Bernardo José, um dos professores premiados, da província de Inhambane, disse que se sente feliz em ter sido
distinguido a nível de Moçambique. “ Estou feliz e satisfeito, e espero trazer o que vou colher na Turquia para melhorar o ensino em Moçambique”, declarou. Rachide Masive, professor em Gaza, espera aprender muita coisa na Turquia, comparar com o ensino em Moçambique e trazer experiências novas para melhorar o ensino no país. “ Pretendo continuar a coordenar acções de leitura e escrita, produção de material didáctico com materiais locais. Para Bibiana David, professora em Niassa, o prêmio é gratificante,
deixa-a satisfeita e incentiva a melhorar as lições. Ela acrescentou que os professores devem ensinar melhor às crianças a ler e escrever para o progresso da educação no país. David pretende trazer à Moçambique a interação que colher na Turquia e ensinar. Na Turquia, os professores vão visitar as cidades de Ancara e Istambul, onde irão aos locais históricos, fazer intercâmbio com professores daquele país. Os professores distinguidos são reconhecidos por serem dedicados na execução do plano da escola.
Triplica o número de mulheres que optam por cursos técnicos MAGDA MENDOÇA
Alunas da Escola São Francisco de Assis durante uma aula prática
Magda Mendoça
A Escola Técnica São Francisco de Assis, localizada na província do Maputo, distrito de Marracuene, localidade de Mumemo, começou a funcionar em 2005 com cerca de 80 alunas tendo triplicado para 250, em 201 6. O número de alunos também cresceu de 1 83 para 550. Actualmente, conta com cerca de 800 formandos, dentre os quais, 250 mulheres, contra cerca de 550 homens. Até esta parte, já formou cerca de 11 80 alunos. Segundo Francisco Augusto, director adjunto da escola desde 2008, apesar de a escola ministrar mais cursos que, aparentemente, são virados para homens, anualmente o número de mulheres tem crescido e elas optam
pelos cursos considerados "masculinos": "as meninas, hoje em dia, estão a fazer os cursos de mecânica, construção civil e carpintaria", disse. Glória Moisés Chaúque é aluna do 2º ano do curso de Pedreiros do limpo ou, simplesmente, construção civil. Segundo ela, optou pelo curso pelo facto de poucas mulhreres escolhemno. Tem tido dificuldades na disciplina de tecnologia, por causa dos cálculos. "Quando terminar, gostaria de entrar no instituto e continuar a fazer o curso de engenharia civil", referiu. Jenifa Castigo é aluna do 2º ano do curso de mecânica-auto. Tem tido dificuldades na montagem de motor,
mas, os colegas e o professor a têm apoiado nas aulas, sobretudo nas práticas. "Quero entrar para o instituto e fazer o curso de engenharia mecânica, porque gosto muito do curso". Carmen Estevão, estudante do 2º ano de seralharia, disse que faz o curso porque sempre quis entrar numa escola profissional, teve dificuldades no 1 º ano, por causa da soldadura, tinha muito medo, mas, com ajuda do professor, conseguiu superar e pretende dar continuidade ao curso no instituto superior. Os cursos ministrados naquela escola têm duração de dois anos e têm um estágio de três meses.
educação Mídia Lab: Nova geração de jornalistas PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LAB
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PATRÍCIO MANJATE
O estágio profissionalizante conta com 26 jornalistas-estagiários que ao longo de 10 meses aprenderam a fazer Jornalismo para diversas plataformas, com enfoque para as novas mídia
Keite Branquinnho O Mídia Lab é um programa de estágio profissionalizante, para jornalistas recém-formados, em que os participantes adquirem conhecimentos para produzir, editar e publicar conteúdos noticiosos que criem impacto positivo na sociedade moçambicana, como parte relevante da prática jornalística. Trinta e quatro estagiários foram
seleccionados num grupo de 240 candidatos elegíveis e de várias áreas de formação, para desenvolver produtos multimídia durante 1 0 meses (de Agosto de 201 5 a Junho de 201 6). Porém, no decorrer do estágio, apenas 26 permanecem no programa. Os participantes aprendem jornalismo impresso, televisivo e on-line, e desenvolvem produtos multimídia, design gráfico e empreendedorismo. Logo no início do programa, os seleccionados passaram por um “boot camp”, que durou um mês, e aprenderam fundamentos de jornalismo e a produção de um jornal
e telejornal. Enquanto passavam pelo “boot camp” aprenderam o ciclo de produção da notícia, rotinas e processos, introdução à ética jornalística, desenvolvimento de produtos, e tiveram a oportunidade de realizar trabalhos de campo, formando 11 grupos de três pessoas. Também aprenderam a preparar e editar reportagens e a publicar, no jornal do Mídia Lab e no telejornal, produtos experimentais do programa. O conceito que melhor caracteriza o Mídia Lab é o de aprender fazendo, como disse Ricardo Fontes Mendes, facilitador do programa, ao afirmar que uma das estratégias pedagógicas da formação é permitir que os
Letícia Constantino, licenciada em Comunicação
“O Mídia Lab significa para mim uma alavanca e uma maneira de conciliar a teoria e a prática em Jornalismo. Aprendi a lidar com as fontes, a contacta-las, a entrevistalas e a criar mais redes de contacto. Aprendi também a ser mais profissional na gestão de tarefas. O programa ajudou-me imenso a perceber quem eu era através das sessões de marketing pessoal, e percebi como os meus colegas me vêem, isso ajudou-me a desenvolver a minha capacidade de receber e dar feedbacks. E em relação a área técnica, posso dizer que agora sei realizar programas de televisão.
José Maneira, licenciado em Administração pública
“O Mídia Lab para mim significa transformação. Aprendi a ter postura profissional. Aprendi a desenvolver e configurar websites e a usar ferramentas digitais. Tenho aplicado estes conhecimentos em parceria com outros três colegas do Mídia Lab, e estamos a desenvolver uma empresa que cria aplicativos e softwares para o sector da mídia. Aprendi também a trabalhar com jornalismo de dados e jornalismo investigativo. Por fim, o Mídia Lab ajudou-me a identificar os meus objectivos a nível profissional”.
Mariolina Ulisses, finalista do curso de Jornalismo
“Aprendi muita coisa durante o estágio. Sei realizar programas de televisão, editar vídeos, criar websites, fotografar, e com essas habilidades me sinto uma jornalista completa para enfretar o mercado de trabalho. Sou uma jornalista multimídia. E aprendi também as técnicas de entrevista, isto é, a entrevistar as fontes sem confrontá-las de forma brusca mas, a lidar melhor com elas”.
outros jornalistas, porque os outros não fazem jornalismo multimídia. Não sabem paginar, pensar num boa fotografia, fazer jornalismo on-line. Entretanto, os participantes têm esse diferencial. E estão prontos para fazer comunicação neste país. Houve uma grande evolução. No geral, estamos num bom caminho”. Nas fases seguintes, fases 2 e 3 do programa Mídia Lab, os estagiários começaram a estabelecer ciclos regulares de produção jornalística, com um padrão de qualidade prédefinido, intercalando estes ciclos com cursos intensivos de curta duração sobre criação de websites, empreendedorismo, edição de vídeos e produção audiovisual para o desenvolvimento de produtos e aprimoramento de competências. Estão ainda a ser formados em preparação de conteúdos a serem exibidos e publicados pelas empresas de mídia moçambicanas, e na apresentação do seu potencial no mercado, para serem contratados por essas empresas. Ao longo das fases do programa, foram produzidas oito edições do jornal Mídia Lab, cinco edições do telejornal, disponíveis no canal do Youtube da IREX Mozambique e 1 43 artigos jornalísticos publicados no website do Pedro Fumo, licenciado em Mídia Lab (www.midialab.org/www2). Linguística Além dos produtos acima mencionados, os jornalistas-estagiários “No Mídia Lab pude aprender sobre produziram uma edição experimental marketing digital. E continuo a aprender do Mídia Lab Entrevista, organizaram muito. Minha auto-estima profissional 1 4 conferências de imprensa para está a crescer, estou sendo formado treinar habilidades de gestão de como profissional e tenho que me eventos de mídia e, até ao final do posicionar dessa forma no mercado estágio, vão continuar a desenvolver de trabalho. Tenho agora competências habilidades e competências na área técnicas em: operar câmara, editar da mídia. Por fim, para Ricardo Fontes vídeos, maquetizar e design gráfico”. Mendes, “o Mídia Lab é um processo em curso. participantes experimentem, para aprenderem de modo efectivo e necessário para a inserção no mercado de trabalho. Depois de aprenderem os fundamentos de jornalismo, os participantes passaram pela fase 1 do estágio, com três meses de duração. Nessa fase, eles adquiriram habilidades em jornalismo on-line, desenvolvendo produtos multimídia e conteúdos convergentes, como texto, imagem, som e vídeo, e a integração destes conteúdos. E desenvolveram, ainda, metahabilidades, como seguimento de normas e padrões, qualidade na entrega de resultados e fortalecimento do raciocínio analítico, como confirma Rui Lamarques, facilitador. “O grupo tem uma vantagem em relação a
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educação
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O último (a)deus do futsal nacional
Sumeia Cassimo Poucas vezes, uma qualificação ao Mundial criou tanta incerteza numa modalidade. A decisão de pendurar as chuteiras, depois da competição, de Ricardo Lénio Mendes, vai deixar o combinado nacional carente de referências para as próximas gerações.
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icardo Lénio Mendes Muendane - Dino conquistou por mérito próprio o título de melhor jogador moçambicano de futsal. Aos 35 anos, o pivô criado na ex-Liga Desportiva Muçulmana ergueu vários títulos colectivos e individuais, se contamos as duas vezes que se sagrou melhor marcador do africano de futsal, nos seus 1 3 anos de carreira. A sua história dá para um livro. A vida daquele que representou melhor o combinado nacional, na última década, vai terminar no Mundial da Colômbia. O terceiro lugar que valeu a classificação ao combinado nacional contou com três golos da sua autoria. Ao contrário da promessa de 201 2 o adeus, desta vez, é definitivo. Dino vai mesmo deixar a modalidade. Com 35 anos pensa que já atingiu a idade limite. “Parei de 2009 a 2011 por questões familiares, mas retornei em 201 2”, conta. “Este é o meu último ano”, acrescenta. Di-lo com nostalgia e ciente de que a melhor geração do futsal foi aquela liderada por Inácio Sambo, de 2004 a 2008, na qual jogava com os seu ídolo e amigo: Mauro Sales. Dino chegou ao futsal pelas mãos de Mauro Sales, em 2003. Volvidos três anos, foi considerado melhor jogador nacional. Feito repetido em 2007. Estes títulos foram
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conquistados ao serviço da Liga Desportiva Muçulmana (actual Liga Desportiva de Maputo). Apesar da classificação, Dino tece algumas críticas ao estágio da modalidade.
Qual foi a sua reacção quando recebeu o convite para jogar na ex-Liga Desportiva Muçulmana?
Natural, porque acreditava que era o mesmo desporto que praticava na Escola 1 6 de Junho mas, chegado ao terreno deparei-me com outra realidade. O jogo era mais táctico e o nível de exigência era bem maior. A participação em campeonatos e o facto de os atletas serem pagos aumentava a pressão.
Em entrevista concedida ao jornal @Verdade, em 201 2, afirmou que era o seu último ano. Estamos em 201 6 e continua a jogar...
Decidi voltar pelo convite de alguns colegas de outros clubes com os quais disputava os campeonatos nacionais. Decidimos unir esforços e formar uma equipa. É que o desporto vira um vício e, em algum momento, por mais que não queiras praticar surge uma vontade de entrar no campo e competir.
Dino, melhor jogador de futsal, vai pendurar as chuteiras depois de 13 anos de carreira futebolística
anos ainda continuar a ganhar o mesmo título nos dias de hoje.
Dentro deste pensamento, como avalia a qualidade do futsal actual?
Bom! Ainda há muito a ser feito, pois sinto um desinteresse por esse desporto por parte dos jovens, mas isso não é tudo, porque a falta de condições, como os espaços apropriados para o jogo também influenciam. Eu e os outros colegas O seu regresso, assim tivemos a sorte de ter pessoas de boa como de alguns dos seus colegas, não tira o espaço fé que nos apoiavam. Patrocinavam para emergência de novos os nossos campeonatos, mas isso hoje é raro. Não basta ter o talento é talentos? Ninguém tira o espaço de necessário investir. Recentemente, a vossa equipa ninguém. O que os novos talentos conquistou o terceiro lugar no CAN, devem fazer é conquistar o lugar realizado na vizinha África do Sul, deles. Eu já estive fora do campo por dois anos e pouco se falou do futsal. o que vos leva a participar no mundial Não se explica, portanto, eu que fui de futsal, a realizar-se em Setembro considerado o melhor jogador há oito deste ano na Colômbia. Qual é a sua
opinião em torno desta conquista?
É uma oportunidade única de representar o nosso país a nível mundial, uma vez que passamos a vida inteira tentando participar numa competição dessa dimensão. Isso só foi possível por termos a iniciativa de formar uma equipa com o pessoal que participava nos campeonatos nacionais.
Hoje, ainda pensa em desistir de jogar?
Sim, mas não só por opção, como nos anos anteriores em que pretendia dedicar-me à família, mas também pela idade, pois este ano faço 35 anos. Mas quero continuar nesta área como treinador, por essa razão já penso em ser treinador-adjunto de um dos clubes, para ter conhecimentos, uma vez que passei os 1 3 anos apenas jogando.
Porquê quer continuar ainda no mundo do desporto?
mim, e creio que tenho conhecimentos a partilhar com os novos talentos e só farei isso com o papel de treinador.
Em forma de conclus ão, o que deve mos esper ar do vosso lado em relação à participação no mundial?
É prematuro avançar uma resposta,
Porque é algo que faz parte de
porque tudo vai depender do nosso esforço e para tal estamos e continuaremos a treinar para colher bons resultados.
desporto A Selecção Nacional de Futsal vai participar de um estágio pré-competitivo 20
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Vinódia Janete
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Selecção Nacional de Futsal dirigida por Naymo Abdul já tem um programa de preparação para o Campeonato Mundial de Futsal que terá lugar na Colômbia, de 1 0 de Setembro a 1 de Outubro deste ano. O plano será submetido oficialmente à Federação Moçambicana de Futebol (FMF) para apreciação, ainda esta semana. A preparação vai cingir-se principalmente a jogos de controlo e
um estágio na Europa, depois de alguns jogos amigáveis com as selecções do Egipto, Marrocos e Líbia. Segundo o seleccionador nacional, o estágio deve ser feito fora para que se realizem treinos bidiários com os jogadores, uma vez que alguns são estudantes e trabalhadores e é muito difícil conciliar o futsal com outras actividades. A participação de Moçambique na Colômbia tem objectivos definidos.
De acordo com Naymo Abdul o grande desafio no campeonato é passar pelo menos a fase dos grupos e depois garantir uma boa prestação para chegar nos 1 6-avos do final. Todavia, a ambição do seleccionador é ir a Colômbia não para fazer turismo, mas para ganhar os jogos. Naymo e a sua equipa estão cientes das dificuldades que vão enfrentar no mundial. “Não esperamos facilidades de nenhum dos nossos adversários
durante o campeonato. Existem boas equipas e conhecedoras da modalidade, mas prometemos fazer o nosso melhor”. O seleccionador aponta a união do grupo e a ajuda entre os jogadores como o grande segredo para a vitória da equipa. “Do mesmo jeito que ganhamos em Joanesburgo, podemos sair vitoriosos na Colômbia, quando saimos de Maputo comprometemo-nos a vencer e saimos com a missão de exaltar o
Naymo e a sua equipa estão cientes das dificuldades que vão enfrentar no mundial. “Não esperamos facilidades de nenhum dos nossos adversários“
país. Entravámos no campo a pensar nos vinte e três milhões de moçambicanos”, disse Naymo. Por conhecer o potencial dos seus adversários, Abdul diz exigir muita organização defensiva dos seus jogadores. Para ele uma equipe que defende muito bem e comete pouco erros defensivos tem 50 porcento de caminho andado para a vitória. Nos jogos na África do Sul, a grande dificuldade de acordo com o técnico, foi o desconhecimento de algumas selecções. “A selecção Sulafricana evolui bastante. Tivemos o primeiro jogo com a equipe da Zâmbia e depois a Tunísia. Apesar de termos feito alguns jogos no passado com a Zâmbia não conhecíamos na totalidade as táticas desta selecção, isto até certo ponto colocava a nossa selecção em desvantagem”, comentou. Para Naymo, o actual estágio da modalidade é muito bom. Segundo o técnico não é facíl num continente de 55 países africanos estar entre os três melhores. “Muitas selecções queriam estar no nosso lugar, o que mostra que o nosso futsal evoluiu bastante. Há anos esta modalidade estava adormecida no país”, anotou. Apesar de reconhecer a evolução do futsal, Naymo Abdul diz que é necessário que os empresários abracem esta modalidade , porque vai dar muitos frutos no país. “É preciso que as empresas apoiem as associacções provincias de modo a desenvolverem os campeonatos para fortificar os clubes e depois a selecção. Moçambique tem jogadores talentosos nesta especialidade, então se não existe este apoio dificilmente o futsal vai evoluir”, afirmou Abdul.
A Federação Moçambicana de Mourinho "Special Futebol não vai ajudar os clubes One" até 201 9 da Segunda Divisão José Mourinho é oficialmente treinador do Abdul Remane
A Federação Moçambicana de Futebol (FMF) não vai contribuir nas despesas de alimentação, alojamento e transporte, tal como era o desejo das equipas que tomarão parte no Campeonato Nacional da Divisão de Honra. No capítulo III do regulamento da prova, artigo 1 6, a FMF indica que esses encargos serão da inteira responsabilidade dos clubes concorrentes. O Campeonato Nacional da Divisão de Honra arranca este fim-de-semana (1 4,1 5 de Maio de 201 6), apenas nas zonas sul e norte. Não se sabe ao certo quando é que irá arrancar na zona centro, devido à tensão políticomilitar. Numa decisão da FMF, os clubes viram fracassado, o desejo de a instituição comparticipar nas despesas de alimentação, alojamento e transporte, conforme o interesse
Manchester United por três épocas.
manifestado pelos participantes a quando da realização do sorteio da prova, uma vez considerarem que não estão em condições de arcar com essas despesas devido à crise financeira que muitos deles enfrentam. Pelo sim ou pelo não, a verdade é que este fim-de-semana a Divisão de Honra irá conhecer o seu pontapé de saída nas zonas sul e norte do país, não se sabendo quando é que a zona centro irá entrar em cena, devido á falta de segurança. O vencedor da Divisão de Honra nas três zonas do País terá como prémio 30.000 mt( trinta mil meticais), uma taça e medalhas, numa prova que será disputada no Sistema de todos contra todos em duas voltas, sendo que para participar nesta cada equipa tem de pagar uma taxa de 4.500.00 Simango Júnior, presidente Meticais á respectiva associação. da federação
Mourinho já é treinador do Manchester United. A informação foi avançada pelo clube de Old Trafford, que confirmou que o técnico português rubricou um contrato válido até 201 9 com opção por mais uma temporada. Mourinho chega ao Manchester United cerca de meio ano depois de ter sido demitido do Chelsea na sequência de maus resultados. "É uma honra tornar-me treinador do Manchester United. É um clube conhecido e admirado em todo o mundo. Tem mística e romance que nenhum outro clube consegue igualar", referiu o "Special One" em declarações reproduzidas pelo site do clube inglês. "Sempre senti uma afinidade com Old Trafford", disse, lembrando as boas memórias que construiu naquele estádio. "Estou ansioso por tornar-me treinador deles [adeptos] e desfrutar
do magnífico apoio nos próximos anos", acrescentou. José Mourinho sucede a Louis Van Gaal no comando técnico do Manchester United. WWW.PÚBLICO.PT
Novo selecionador do Manchester
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cultura
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Mingas e Chico António, a velha guarda da música ligeira da pérola do índico, clebrando os 25 anos de dueto na música Baila Maria, no Centro Cultural Franco Moçambicano
Chico António e Mingas cruzam gerações cantando a música “Baila Mariaˮ Hélder Massinga
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s cantores moçambicanos, Chico António e Mingas, celebraram 25 anos de dueto na música “Baila Mariaˮ, na noite de ontem, sexta-feira (06), no Centro Cultural Franco Moçambicano, na capital do país. O espetaculo contou com a presença do cantor sul africano Madala Kunene, foi o convidado especial que abriu o concerto. A música “Baila Maria” da autoria de Chico António e Mingas, ganhou maior relevância na decada 90 quando conquistou internacionalmente o Grande Prémio do Concurso Descobertas (Grand Prix Decouvertes
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90), organizado pela Rádio France possível graças ao parceria do Centro International (RFI). Na altura, o tema Cultural Franco-Moçambicano e a permitiu que a dupla se N´tchaila Produções tornassem mais notórios no e Entretenimento. panorama musical nacional Transcorridos 25 e internacional. Abriu anos, alguns dos “São 25 anos isso espaço para que o país nossos mostra maturidade fosse conhecido e entrevistados do artista, o reconhecido no que tange a intercâmbio com afirmam que “não descoberta de talentos. se pode negar que Madala Lunene Chico António vem composição surprendeu-me” a desde 201 5 a juntar musical continua energias em busca de sendo um dos patrocínio para realizar o grandes êxitos do concerto em celebração da música nosso tempo e atravessa geraçoes”. “Baila Maria”, porém o apoio só foi Para Nelson Jossias, “o espetaculo
foi bom, são 25 anos de “Baila Maria” isso é uma vida”. Já para Ivan Laranjeira, Chico António é um artista multefacitado, na primeira parte cantou marrabenta e já na segunda trouxe uma abordagem muito diferente estremamente inovadora. “São 25 anos isso mostra maturidade do artista, o intercâmbio com Madala Lunene surprendeu-me”, disse Laranjeira. O grupo que lhe acompanhou também foi fantástico, esteve acompanhado por uma banda de luxo e isso tudo só é possível quando temos um grande maestro, considerou Ivan. Todavia, Assiana Mabica observou que o
concerto poderia ter sido melhor “não gostei da sequência das músicas e o som estava muito alto não conseguia ouvir o artista”. concluiu. Mabica afirmou que o músico não cantou as suas canções de preferência. “Baila Maria” é uma obra incontornável no panorama musical moçambicano, serviu para alavancar valores e principios na arena cultural e ajudou a mulher a se inserir na cultura. A música resistiu e cruzou gerações, não se deixou levar pelo tempo, elevou o nome do país além-fronteiras e projectou os artistas.
Moçambique participa da 1 2ᵃ edição de arte contemporânea de África
ASIKO
Eurídice Kala apresenta a sua nova colentânia intitulada ” Imagina se a Verdade Fosse Uma Mulher, e porque não? A artista visual moçambicana, Eurídice Kala que participa na 1 2ᵃ edição de arte contemporânea de África intitulada “Dak'Art” revela as novas tendências artísticas africanas. Este evento bienal decorre de 3 Maio a 3 de Junho próximo, em Dakar, capital do Senegal. A artista leva uma colentânea intitulada "Imagina Se A Verdade Fosse Uma Mulherbe Porque Não?". Esta pesquisa é uma continuação de um estudo fotográfico que iniciou em 201 2 denominado "Entre-de-Lado". Um conceito que questiona a cor branca
usada no vestido de noiva nos elances matrimoniais na cultura Africana como é o caso de Moçambique. De acordo com Eurídice a investigacão causa tensões tendo em conta os hábitos culturais africanos e a desconstrução do discurso colonial. O trabalho convida os expositores e o público a reescrever a trajectória de África, focando a história de luta pelas independências do continente e expansão dos acervos, incluindo nomes e individualidades femininas que se encontram na periferia.
Euridice Kala, uma das caras mais sonantes da cultura contemporânea em artes visuais de Moçambique
cultura Timbila Muzimba educa jovens da Unidade 7 através da cultura “chope” 22
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Orbai Nobre
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grupo Timbila Muzimba está a capacitar jovens do bairro Unidade 7 através da cultura “chope”. A orquestra conta agora com dezasseis participantes. O objectivo da criação do grupo é mais do que ensinar a cultura, educar. Alfredo Zando, de 24 anos de idade, faz parte dos dezasseis jovens formados pelo grupo Timbila Muzima na Unidade 7. Entrou para o grupo com 11 anos e vê a sua vida transformada “antes eu fazia coisas más, mas ganhei responsabilidade e respeito pelas pessoas ao entrar para a orquestra. Ganhei uma família que me educa”. Alfredo, para além de dançar trabalha como bate-chapa de carros e tem sonhos no grupo “ quero crescer e aprender mais com eles, além de tocar”. O director musical do grupo, Matchume Zango que já trabalha com jovens dos bairros há sete anos, diz ser satisfatório “trabalhar com esses jovens é interessante porque estamos a construir a vida de alguém, no lugar de eles serem criminosos, tem algo por se divertir, a cultura é para eles um instrumento de educação”. No princípio de Abril os jovens da Unidade 7 tiveram a sua terceira apresentação acústica com o grupo Timbila Muzimba. O evento era alusivo aos jovens.
CASSIMANO
Segundo o director musical, Matchume Zango, o objectivo da formação dos jovens é mostrar que a sociedade pode fazer algo para os jovens e não somente criticar “a sociedade estará aqui para ver que esses jovens que criticam têm esperança, pode-se fazer algo por eles. E nós pelo menos estamos a contribuir. Não estamos a dar dinheiro mas estamos a dar educação”. Timbila Muzimba existe há 1 9 anos é um grupo formado por jovens, amantes de música tradicional-urbana, compositores dos seus próprios temas e intérpretes de músicas originais. A falta de financiamento e valorização interna, preocupa os membros do grupo. “Não está fácil mas fazer o quê, vamos trabalhar sem financiamento porque amamos a nossa cultura, não sou o único artista mas eu já não reclamo. É muita pena que dentro do país não se valoriza o que é nosso, mas o que vem de fora. Nós representamos uma parte da cultura. Existem muitas pessoas a estudarem a timbila mas no país quase ninguém se interessa pela área”, lamentou Matchume. Para o grupo conseguir se sustentar trabalha em outras áreas, fazem workshops em universidades internacionais quando convidados, são professores e comerciantes. Timbila Muzimba, um grupo perocupado com desenvolvimento cultural e moral dos jovens do bairro Unidade 7
ESTER CUMBANE
Secretário-geral adjunto da AMMO nega inoperância do organismo que dirige “Apoiamos artistas através de gravação de álbuns, disponibilização de estúdio de gravação e de ensaio, equipamento e técnico de som para a preparação dos concertos a um preço simbólico” Ester Cumbane O secretário-geral adjunto da “Sugiro que a Associação dos músicos Associação dos Músicos entre em contacto com a SOMAS para Moçambicanos (AMMO) recusa que se orientar melhor, de modo que as o organismo não funciona ou nada organizações envolvidas no apoio ao faz em prol à classe artística. A reação artista, estejam em sintonia” vem depois de a acrescentou. agremiação ter sofrido O secretário-geral da críticas por parte do Daygo “Sugiro que AMMO Douglas Baba Boy, cantor e apresentador Harris, diz que a a Associação de um programa televisivo associação faz o que pode dos músicos de promoção de música dentro das suas entre em moçambicana contacto com a capacidades. “Apoiamos “Atracções”. SOMAS para se artistas para gravarem O apresentador do orientar melhor" álbuns, disponibilização “Atracções” disse que a de estúdio de ensaio e de AMMO não se faz sentir gravação, equipamento e na interação e promoção dos músicos técnico de som para a preparação à nível do País. Para ele, a melhor dos concerto a um preço simbólico”, saída para a AMMO seria firmar apontou Harris. parcerias com outras organizações O secretário-geral adjunto falou que trabalham em prol dos artistas. também de um evento, Jam Session,
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Secretário-geral da AMMO, Douglas Baba Harris
que acontece às quintas e sextasfeiras, em que os aspirantes a músicos podem cantar ou tocar instrumentos que quiserem. Harris, disse que as sessões surgem para dar oportunidade aos que não tem espaço de actuar em grandes palcos, “estes artistas podem começar aqui”, frisou. Douglas apontou a falta de associativismo e o não cumprimentos de obrigações por parte da maioria dos músicos, facto que contribui para o fraco desenvolvimento da AMMO. “Para que a associação desenvolva rapidamente é necessários que os membros honrem os seus compromissos pagando as cotas, 50mt por mês, participem nos seminários e em actividades, debates e contribuam através de trabalhos voluntários” acrescentou Douglas.
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23 ambiente Jovens criam empresa para reaproveitar pneus MÍDIA LAB SEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6
ETA MATSINHE
Jovens empreendedores reciclam pneus para fazer móveis como pufes, mesinhas de centro e carteiras escolares. O projecto existe há 5 anos e pretende contribuir na conservação do meio ambiente. Eta Matsinhe
O
Jovens inovadores e amigos do ambiente ganham o sustento diário através do reaproveitamento de pneus.
Novas espécies de rã são descobertas em Moçambique Minelda Maússe Hairth Farooq, biólogo moçambicano, revelou que foram descobertas em Moçambique quatro novas espécies de rã. Os resultados do estudo de uma equipa de cientistas provenientes de vários países foram publicados na revista Molecular Phylogenetics and Evolution, em Março e dão conta da descoberta de quatro novas espécies de anfíbios em sistemas montanhosos no centro e norte do país. Uma das descobertas foi na área de conservação de Taratibu, em Cabo Delgado, por Harith Farooq, director da Faculdade de Ciências Naturais da Universidade Lúrio, e um dos autores do estudo. "A análise molecular do ADN foi feita na Suíça, na Universidade de Basileia, onde se confirmou efectivamente tratar-se de uma espécie nova", referiu o biólogo. O passo seguinte, segundo Farooq, é descrever as espécies, pertencentes ao género Nothophryne, e atribuir-
lhes um nome, que, no caso da descoberta feita pelo docente da Universidade Lúrio, deverá ser Nothophryne uniluriensis. As restantes descobertas, documentadas no estudo por investigadores da África do Sul, Reino Unido, Irlanda, Suíça e Itália, ocorreram nas províncias da Zambézia e Nampula. No estudo, os autores alertam para a necessidade de mais investigação sobre a distribuição do género Nothophryne e também para a degradação dos habitats, nomeadamente a desflorestação para a prática da agricultura, o que leva a que aquelas espécies "enfrentem uma séria ameaça de desaparecimento". O investigador moçambicano avançou que um outro anfíbio e um camaleão foram encontrados no mesmo local e que decorrem os testes genéticos para se confirmar que são igualmente novos para a ciência.
reramo é o nome da primeira dizem ter sido bem aceites, mesmo empresa moçambicana se tratando de produtos novos no dedicada à reciclagem de mercado. Criaram um protótipo de pneus, criada pelos jovens Luís carteira escolar feita com pneus usados Fernando Júnior e Cláudio Ferrão. e estão a preparar-se para oferecer O material que antes ia artigos produzidos com "Ideia de ao lixo ou acumulado outros tipos de materiais em locais abandonados reutilizar as recicláveis, como ou até em residências, tambores metálicos. rodas usadas agora é transformado O pneu tem em surgiu como em móveis como pufes, forma de ajudar média 5 anos de vida mesinhas de centro e na conservação útil, caso não apresente carteiras escolares. A danos como bolhas, do ambiente" Oreramo também furos ou desgaste. Este produz brinquedos e material não se animais decorativos para jardins decompõe facilmente, levando mais infantis e orfanatos, com pneus de 600 anos para desaparecer velhos. totalmente. O primeiro pneu foi O projecto está a ser produzido em 1 888, e até hoje não se desenvolvido há cinco meses e neste decompôs. período já foram transformados 50 Os pneus velhos quando são pneus velhos em mobiliário. largados em locais abertos acumulam Luís conta que a ideia de reutilizar água, durante a época chuvosa, onde os pneus usados surgiu como forma os mosquitos põem os seus ovos. de ajudar na conservação do A queima do pneu por sua vez ambiente e, aos poucos, foi-se emite uma fumaça tóxica e pode transformando num negócio rentável. representar riscos de mortalidade Neste momento a empresa está em prematura, deterioração das funções processo de formalização e o atelier pulmonares, problemas do coração já está a ser montado. e depressão do sistema nervoso Os proprietários da Oreramo central.
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NOTÍCIAS ONLINE
A descoberta feita pelo Biólogo Hairth Farooq poderá receber o nome de Nothophryne uniluriensis
mundo Moçambique regista baixo aproveitamento de águas partilhadas na região 24
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“Se há cheias nós não temos como controlar o curso das águas no nosso território, mesmo quando há seca como agora, ficamos sem água para irrigação porque o caudal de Incomati por exemplo, baixou do nosso lado” - Sérgio Sitoe DNA
O país enfrenta desafios em termos infraestruturas de armazenamento de água. Este factor aumenta a vulnerabilidade e a dependência dos países à montante
Patrício Manjate
M
oçambique possui o menor índice de aproveitamento de água dos rios partilhados com os países da região austral de áfrica, segundo Sérgio Sitoe, chefe da repartição de rios internacionais, na Direcção Nacional de Águas (DNA). Moçambique partilha nove das 1 4 bacias hidrográficas da região da (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC). Relativamente a todos eles, o país situa-se à jusante, com excepção do rio Rovuma situado na região norte, fazendo fronteira com Tanzania. De acordo com o chefe da repartição dos rios internacionais na DNA, o país enfrenta desafios em termos infraestruturas de armazenamento de água. Este factor aumenta a vulnerabilidade e a dependência dos países à montante. “Se há cheias, nós não temos como controlar o curso das águas no nosso território, mesmo quando há seca como agora, ficamos sem água para irrigação porque o caudal de Incomati por exemplo, baixou do nosso lado”, analisou. A situação mais grave vive-se no sul do país, devido à seca que assola esta região há quase um ano. “este ano prevê-se dificuldades de acesso à água para abastecimento das populações e animais ao longo do rio Incomati”, confessou Sitoe, acrescentando que há negociações constantes com a parte sul-africana e da SADC, onde se discute a partilha de rios da região. No mesmo rio Incomati, a África do Sul construiu diques de armazenamento de água suficiente para abastecer água para beber, agricultura e pastagem, durante 4 anos sem chuva. Em Moçambique, o rio Incomati entra pela vila de Ressano Garcia, com uma áres de 46.200km2, dos quais, somente 32% situamse no território moçambicano, 6% na Swazilandia e os restantes 62% na África do Sul. Sobre o Incomati, o país beneficia-se da barragem de Corrumane, construída na década de 80, com o principal objectivo de garantir água para as regiões de médio e baixo Incomati. Entretanto, devido à baixa capacidade de armazenamento (456m2), a barragem depende em larga escala do curso de água libertado a partir da barragem
de Incomati, na África do Sul. O abastecimento de água para alimentação nas zonas urbanas e rurais constitui ainda um desafio longe de ser satisfeito, considerando as necessidades actuais do país. A agricultura, também se ressente da indisponibilidade de água, apesar de o país possuir cerca de 40 milhões de hectares de terra arável.
Abastecimento de água e saneamento De acordo com a política de distribuição de água vigente até 201 5, o governo só conseguiu abastecer 6 milhões de habitantes, de um total de 9 milhões nas zonas urbanas. Nas zonas rurais, onde reside a maior parte da população moçambicana, de um total de 1 7 milhões de habitantes, o governo só conseguiu abastecer água para 5 milhões, o que corresponde a uma cobertura de 29%. O estudo realizado pelo UNICEF revela que, desde 1 990, a cobertura total do saneamento aumentou para 21 %, mas a
disparidade entre a cobertura nas zonas urbanas e rurais continua grande: 44% nas zonas urbanas contra 11 % nas zonas rurais. 40% das pessoas ainda praticam a defecação a céu aberto, tendo diminuído de 66% em 1 990. A falta de saneamento melhorado custa a Moçambique cerca de 4 biliões de Meticais por ano devido às mortes prematuras, custos médicos e perdas de produtividade.
Agricultura De acordo com Adelson Rafael, docente e investigador, é triste constatar que a produção alimentar em Moçambique depende mais das chuvas do que da irrigação, apesar de todo potencial existente. “Infelizmente a pobreza no nosso país está ligada à dependência da agricultura do sequeiro de subsistência”, analisou, frisando enquanto não chove a população passa fome, ou se de contrário são cheias. Para o académico, a irrigação pode constituir um factor determinante para aumentar a produtividade agrícola e segurança alimentar,
pois ajuda a diversificar os rendimentos de pequenos agricultores e reduzir os riscos relacionados com a precipitação. Entretanto, a política nacional de irrigação indica que o potencial de irrigação em Moçambique é estimado em 3 072 000 hectares, mas dos 11 8 1 20 hectares equipados para o efeito, apenas, aproximadamente, 40 000 hectares são actualmente irrigados. Estes resultados, de acordo com Rafael, apontam para o fraco aproveitamento dos rios que atravessam ou desaguam no país. Indo mais a fundo, o académico afirma que, se esta situação prevalecer, o país poderá entrar em “water stress” que resulta da falta de fontes alternativas de água devido ao aumento de infraestruturas de armazenamento nos países à montante dos rios que entram em Moçambique. Moçambique partilha as Bacias dos Rios Maputo, Umbeluzi, Incomati, Limpopo, Save, Búzi, Púnguè, Zambeze e Rovuma, com África do Sul, Swazilândia, Zimbabwe, Zâmbia, Botswana, Malawi, Angola e Tanzânia. DNA
O abastecimento de água para alimentação nas zonas urbanas e rurais constitui ainda um desafio longe de ser satisfeito